DO ENSINO DE FILOSOFIA
Poderíamos dizer, então, que pensar não implica ser um erudito ou ser
um profundo conhecedor de toda a história do pensamento. Assim, para
Kant, o ensino de filosofia deveria se concentrar no exercício e no
exercitar o uso da razão. Exercício este que possibilitaria ao homem
fazer o uso correto de sua razão com autonomia para a liberdade.
A discussão kantiana não está focada no aspecto formativo ou na
discussão sobre a educação, a não ser, especificamente, em Sobre a
pedagogia. Notamos, assim, que a preocupação kantiana com a
formação do sujeito não se limita ao preparo para o convívio social e
para a obediência às leis, mas no preparo para a autonomia no uso de
sua razão. A preocupação kantiana reside no preparo de fundamentos
filosóficos para que seja possível a utilização da razão, por isso se
dedica em toda a Critica da razão pura a problematizar quais seriam os
limites da razão, ou seja, determinar até que ponto a razão seria um
instrumento para se encontrar a verdade.
Não obstante, como pudemos notar, os escritos kantianos dão margem
para que possamos pensar juntamente com ele os problemas que
buscava enfrentar em seu cotidiano e que nos auxiliam a pensar os
nossos próprios problemas. Se atualizarmos o pensamento kantiano e o
utilizarmos para problematizar a nossa sociedade, notaremos que a
crítica feita por ele é plenamente possível de ser aplicada aos problemas
que enfrentamos contemporaneamente.
A filosofia, apesar de todo esforço de Kant no sentido de torná-la algo
importante para a sociedade, continua no mesmo lugar, para não dizer
em um lugar ainda mais inferior. A preguiça filosófica que encontramos
atualmente é de constatação inegável. Hoje podemos dizer que as
Faculdades superiores são, além daquelas já apontadas por Kant e que
não perderam seu Status, a de informática, a de comunicação social
(jornalismo televisivo), a de economia e a de administração de
negócios. A sociedade tornou-se cada vez mais tecnicizada e doutrinada
pelos saberes instituidores de uma racionalidade técnica (para utilizar
uma expressão adorniana).
A função crítica está cada vez mais encarcerada dentro das
universidades que, ao invés de problematizar a sociedade, o poder
instituído, de fazer uma crítica ao mercado, colocam-se ornadamente
sentadas diante do Olimpo, esperando que aqueles que se interessarem
por aprender a utilizar a Faculdade do pensamento se aproximem e
recebam as bênçãos sacerdotais que os doutos filósofos podem oferecer.
Bênçãos que, ao invés de serem um preparo para o uso da autonomia
do pensamento, funcionam como uma doutrinação filosófica, produzindo
igrejas, cujos missais são as obras filosóficas. Talvez com isso tenhamos
conseguido fazer da filosofia uma Faculdade superior aos moldes das
Faculdades superiores do período em que Kant viveu.
Referências