Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1º§
Seguiremos por partes. Assim, a priori, o pai de uma criança retira uma árvore, ainda
pequena, do solo que lhe provê a vida, e esta mesma árvore, fornece sombra a uma flor.
Neste intercurso temporal, o menino vê um coprófago, um besouro que se alimenta de
excrementos, o toma em suas pequenas mãos e o coloca em uma caixa com furos na
tampa, percebemos que a intenção do garoto é torná-lo um animal de estimação; e, quanto
a árvore, o genitor a coloca no carro e então seguem rumo a sua casa, na aldeia.
Alcançado esse objetivo, cessa a perseguição ao se deparar com uma floresta rica
em sua flora, e continuamente andando, sempre atento a diversidade ao seu redor, passa
por um amplo vale de belas flores, chegando a ser um cenário idílico, com borboletas por
aqui e ali. O garoto, sempre se mantendo admirado em sua exploração da natureza, chega
ao sopé de uma montanha, onde visualiza, no cume, uma flor. Sobe até lá e se depara com
ela, murcha, a vida se esvaindo, predominando a tristeza, soturna, bacenta. A analisa.
Notemos que é a mesma flor que no início da trama, foi-lhe tirada a árvore de seu
perímetro.
Diante disso, o menino sem nome corre em disparada em direção ao rio, e, com
suas mãos em concha, enche-as com a água corrente e parte novamente na sua jornada
até a flor. Quando finalmente chega até ela, derrama-lhe não somente a água, mas
também, a inunda com sua esperança inocente de criança, sua força de vontade em vê-la
crescer e repetindo várias vezes sua ida até o rio, vê a flor adquirir vida e proporções
extraordinárias.
Após admirar a maior flor do mundo e contente por seu trabalho, o garoto, já
cansado, se deita ali mesmo, e, neste momento, a flor olha para ele e lhe dá uma de suas
pétalas como cobertor, para cobri-lo e protegê-lo, como agradecimento e retribuição pelos
cuidados prestados. Simultaneamente, os pais, que estão em casa, veem ao longe a
enorme flor imponente em seu tamanho, quase tocando o céu, e ambos seguem o mesmo
caminho percorrido pelo filho, e ao encontrá-lo, os genitores da criança admiraram a bela
flor, como que reconhecendo o ato da pequena criança, voltaram para casa, onde todos na
aldeia olhavam para o grande feito.
De veras, impactante, o menino poderia ser qualquer um de nós. O fato de ele ter
feito algo além do que todos pensavam se aplica a todos, crianças, jovens e adultos. Seu
gesto foi humanitário, de viés ecológico, reconhecido pela pequena população representada
na narrativa fílmica. Clarividente está o objetivo do autor, em enfatizar a necessidade de
manter o meio ambiente equilibrado, sob nossa responsabilidade, pois a flor se encontrava
em situação de quase morte devido ao pai da criança ter arrancado a árvore que lhe provia
sombra, para enfeitar seu jardim em casa, não pensando no efeito que isso causaria nos
ecossistemas ao redor; contudo, este erro foi corrigido por seu filho, quando este, ao se
deparar com a indefesa flor, cuidou, a amou e a respeitou.
A ilustração, apesar de fictícia, pode ser facilmente traduzida para nós mesmos. Pois
trata de humildade e respeito, quando o garoto reconhece a importância da flor, tanto para
ele, como para o meio ambiente; esperança, quando o pequeno menino acredita com
veemência que a flor vai sobreviver e crescer; amor e amizade, quando ao invés de
arrancar-lhe do solo, entender que seu lugar na natureza tem papel fundamental e é ali que
deve permanecer; perseverança, foco e esforço, pois como visto, ao fazer o percurso da
descida ao rio tantas vezes quanto suas pernas em desenvolvimento aguentaram, até a flor
estar desenvolvida, mesmo ele estando cansado, não desistiu.
Fica então o recado dado pelo autor, José Saramago, ao finalizar a narrativa com um
apelo, um chamado, dizendo: “E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura
obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto
tempo tem andado a ensinar? ”. Assim, fecha o enredo, deixando uma profunda reflexão.
Nós mesmos ensinamos – ou pelo menos tentamos ensinar - as crianças e jovens a
respeitar e cuidar do meio ambiente, mas será que nós mesmos o fazemos?