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DIREITO E ETICIDADE

Discursos éticos, morais e jurídicos - o bom e o justo


A razão prática, compreende a moral como o âmbito de atribuição de normas universais. Nos
termos de uma filosofia da consciência (que tomava o sujeito cognoscente como ponto de partida
e referencial epistémico) mas de uma filosofia da linguagem (que se baseia no carácter
intersubjectivo de validação de todo saber). Discursos pragmáticos, éticos e morais são distintos
usos para uma mesma forma de racionalidade: a razão prática.

A distinção entre questões morais de justiça e questões éticas do auto entendimento


Se pergunta sobre qual a regulamentação mais adequada ao interesse equânime de todos os
atingidos (sobre ‘o que é bom em igual medida para todos’); no outro caso, as alternativas de
acção a partir da perspectiva de indivíduos ou de colectividades que querem se assegurar de sua
identidade, bem como saber que vida devem levar, a luz do que são e do que gostariam de ser
(ou seja, querem saber ‘o que é bom para mim, ou para nós, no todo e a longo prazo’).”
Os discursos jurídicos, incorporam argumentos das mais variadas ordens. Há uma espécie de
subordinação entre moral e direito, sendo este um mero “caso especial” da argumentação moral.
Enquanto argumentação pratica, a argumentação jurídica se vale, no plano da justificação das
normas – que se da, de maneira central, nas arenas parlamentares –, tanto de discursos
pragmáticos quanto éticos e morais, alem das negociações reguladas por procedimentos.

Uma vez integrados na norma jurídica, entretanto, tais argumentos morais (que dizem respeito ao
que e justo), ético-políticos (referentes a auto-compreensão valorativa dos cidadãos e aos
projectos de vida colectivos que pretendem empreender), bem como pragmáticos (de adequação
de meios a fins) passam a obedecer a lógica deontológica dos discursos jurídicos, com seu
código binário de validade.
O direito (com seu código jurídico/não-jurídico) e deontológico como a moral (cujo código
binário implica na distinção justo/injusto), mas dessa se diferencia, para além de seu espectro
argumentativo, por ser um sistema de acção, alem de um sistema de conhecimento. Dizendo
assim que, o direito se compromete com resultados e necessita de um aparato coercitivo que lhe
empreste efectividade.

DIREITO E ETICIDADE REFLEXIVA


As formas de vida de uma comunidade, o que se considera bem viver, seus valores
compartilhados, enfim, seu ethos, constituem um componente central para a formação da
identidade comum, da auto-compreensão compartilhada intersubjectivamente. A pergunta “quem
somos nós” passa, primeiramente, por um discurso ético de definição e assentamento de valores,
ou seja, do que e “bom para nós”, no todo e a longo prazo.

Entretanto, em sociedades modernas, descentralizadas, pluralistas e multiculturais, o


compartilhamento de valores e a identidade de formas de vida não são suficientes para o
asseguramento da coesão social. “O que é bom para nós” torna-se, cada vez mais, uma questão
no mínimo polémica. Se não podemos mais recorrer a um modelo de vida autêntica calcado na
visão religiosa predominante - que, agora, ao invés de norma impositiva colectivamente exigível,
se configura como simples direito individual – em qualquer discussão política há a concorrência
de diversas posições.

O PROBLEMA DA VALIDADE DA NORMA


As teorias da validade
O conceito de validade tem a ver com a noção de VALOR, cuja origem é económica, não
filosófica. Na filosofia ela entra por meio da chamada filosofia dos valores, para a qual estes são
entidades (objectos) diferentes dos objectos reais, dos quais se dizem que são (no sentido de
forma essencial e existência), ao passo que os valores VALEM (sua forma essencial não é um
ser, mas um dever-ser, e sua existência se expressa por sua validade). O ser é, o valor vale.
Trouxe para a filosofia o problema da afirmação de valores absolutos, noção em si contraditória
e cuja busca gera a angústia que encontrados ao falar do direito natural.
Desta relatividade segue o carácter relacional da validade: valer é sempre valer – para algo
(medidas valem para, padrões valem para, os próprios valores valem para algum outro. Em
consequência, se dizemos de uma norma que ela vale, isto significa que ela existe EM
RELAÇÃO A. A questão é saber em relação a que.
Segundo Alf Ross:
“a validade das normas jurídicas está relacionada com o comportamento da autoridade
aplicadora” (os Tribunais). Validade é pois um conceito relacional que manifesta a
experiência social de uma conduta como obrigatória: dizer que uma norma vale é dizer
que ela é aplicada pelos tribunais com a consciência de sua obrigatoriedade.
Kelsen discorda essa concepção, diz que:
“se a validade de uma norma só pode ser verificada pelo confronto do seu enunciado com
a experiência de sua aplicação, então só poderíamos saber se uma norma vale DEPOIS de
ocorrida a experiência.” Uma norma vale em relação a outra norma, que a antecede
hierarquicamente. Pode-se dizer que sua concepção é sintáctica: a norma é um signo,
meio para outro signo, e a relação signo/signo, norma/norma, é uma relação de validade.
Identificar a validade de uma norma significa pois verificar sua relação de subordinação
em face de outra norma.
Para a dogmática jurídica, para que se reconheça a validade de uma norma é preciso, em
princípio e de início, que a norma esteja INTEGRADA no ordenamento. Exige-se, pois, que seja
cumprido o processo de formação ou produção normativa, em conformidade com os requisitos
do próprio ordenamento. Cumprido esse processo, temos uma norma válida. Terminada a fase
constitutiva do processo produtivo de normas legais, que ocorre com a sua sanção, temos uma lei
válida. Sancionada a norma legal, para que se inicie o TEMPO de sua validade, ela deve ser
publicada. Publicada a norma diz-se, então, que a norma é vigente. VIGÊNCIA é, pois, um
termo com o qual se demarca o tempo de validade de uma norma. Vigente, portanto, é a norma
válida (pertencente ao ordenamento) cuja autoridade JÁ pode ser considerada imunizada, sendo
exigíveis os comportamentos prescritos. Vigência exprime, pois, a exigibilidade de um
comportamento, a qual ocorre a partir de um dado momento e até que norma seja revogada.
O atributo de validade da norma jurídica estará intimamente ligado à existência de um comando
de natureza superior que confira autoridade para que seu emissor a crie. Por isto é que, falar em
validade de uma norma é o mesmo que questionar acerca da competência de seu criador. É um
critério estritamente formal, ao passo que leva em consideração apenas a capacidade jurídica de
se produzir a norma, e não seu conteúdo propriamente dito.

Embora tenha início a partir de um ato de vontade de sentido subjectivo, a norma só poderá ser
vigente, ou existir de maneira positiva, quando este tal ato de vontade emitido por determinado
agente competente não mais existir ou, mais precisamente, quando já tiver sido exaurido. Isto faz
com que a prescrição normativa deixe de ser uma descrição de fatos naturais e ganhe existência
jurídica específica, como “vigência”.

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