Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
GUARULHOS
2022
PAULA LEOCATA BERRINGER
GUARULHOS
2022
Na qualidade de titular dos direitos autorais, em consonância com a Lei de direitos autorais nº
9610/98, autorizo a publicação livre e gratuita desse trabalho no Repositório Institucional da
UNIFESP ou em outro meio eletrônico da instituição, sem qualquer ressarcimento dos direitos
autorais para leitura, impressão e/ou download em meio eletrônico para fins de divulgação
intelectual, desde que citada a fonte.
Aprovação: 01/08/2022
Aos meus pais, Rosemeire e Artur, pelo amor e apoio que me deram durante a vida
toda. Obrigada por me incentivarem e acreditarem em mim, não medirem esforços para me
ajudar a realizar cada uma das minhas vontades, desde os menores desejos até o maior sonho
da minha vida, de ser professora.
Aos meus irmãos, Júlia e Lucas, maiores amores da minha vida. Obrigada por
acompanharem cada passo da minha vida, pelo suporte em cada um dos momentos de
dificuldade que passei e por serem as melhores companhias possíveis, donos das minhas
melhores risadas. Vocês são pessoas essenciais na minha vida, e sempre serão. Aproveito para
agradecer à Mila, nossa princesinha canina, que não vai ler isso, mas que sempre sente meu
amor – junto com os meus abraços apertados.
Aos meus avós, Sônia e Santo Leocata e Wilma e Roberto Berringer, que nesse ou em
outro plano espiritual, me sustentaram com todo o carinho possível. Eu sinto o amor de vocês
todos os dias e os amarei de volta por todos os meus dias. Aos meus padrinhos Jordina e
Joaquim, que são, sem sombra de dúvidas, os melhores padrinhos do mundo – obrigada por me
mimarem tanto, mesmo depois de adulta. Aos meus primos Diana, Beatriz e Anderson, que
fazem da minha vida mais leve e divertida em cada almoço de família.
Ao LAPHA devo ainda mais agradecimentos, pois a vivência dentro desse laboratório
que me deu amizades maravilhosas: Aline, José Alberto, Larissa e Leticia, obrigada por me
acompanharem e me encherem de coragem – vocês são pesquisadores excepcionais, mas, de
maneira impressionante, conseguem ser amigos ainda melhores.
Por fim, ao professor Marcos Paulo Amorim dos Santos, doutorando em História pela
Unicamp, mas que quando eu conheci, não era doutorando, nem mestre. Era meu professor de
História da 7ª série. Marcos, eu já te escrevi centenas de vezes, nada que eu pudesse escrever
aqui seria novidade – e nem chegaria perto do tanto que você representa para mim. Foi te vendo
ser professor que eu quis ser professora. E eu quis isso, persistentemente, desde os 12 anos.
Obrigada por me inspirar de uma maneira tão forte e poderosa, que fez com que essa inspiração
durasse todos esses anos, ainda que tenha sido difícil e exaustivo. Exatos 10 anos depois, cá
estamos – e eu, finalmente, sou professora, como você. Nunca me cansaria de te agradecer.
Obrigada, professor.
A educação é um ato de amor, por isso, um ato de
coragem. Não pode temer o debate. A análise da
realidade. Não pode fugir à discussão criadora,
sob pena de ser uma farsa.
Paulo Freire
RESUMO
A presente monografia tem por objetivo analisar o conteúdo sobre a Revolução Cubana
identificado em livros didáticos publicados entre 2002 e 2010, tendo em vista reconhecer de
quais maneiras esse fenômeno é apresentado pelas fontes. Os livros didáticos selecionados
como fontes dessa pesquisa são: Pelos caminhos da História: Ensino Médio, de Adhemar
Marques (2006), História Geral e do Brasil: Ensino Médio, de João Geraldo Vinci de Moraes
(2009), História Moderna e Contemporânea, de Alceu Pazzinato e Maria Helena Senise (2002)
e História: volume único, de Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Ferreira e Georgina
dos Santos (2010). Esse trabalho está inserido na área de História da América e busca dialogar
com a História da Educação, tendo como foco principal a relação entre a historiografia
produzida na academia e a produção dos livros didáticos a partir do conhecimento adquirido
pelos autores dos livros selecionados como fontes da pesquisa.
ABSTRACT
This work aims to analyze the content on the Cuban Revolution identified in textbooks
published between 2002 and 2010, with the purpose of recognizing in which ways this
phenomenon is presented by the sources. The textbooks selected as sources of this research are:
Pelos caminhos da História: Ensino Médio, by Adhemar Marques (2006), História Geral e do
Brasil: Ensino Médio, by João Geraldo Vinci de Moraes (2009), História Moderna e
Contemporânea, by Alceu Pazzinato, Maria Helena Senise (2002), História: volume único, by
Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Ferreira, Georgina dos Santos (2010). This work
is inserted in the area of American History and seeks to dialogue with the History of Education,
having as main focus the relationship between the historiography produced in Academia and
the production of textbooks through the knowledge acquired by authors of the books selected
as research sources.
Key words: History of the Americas, Teaching History, Cuban Revolution, Teaching American
History, Textbooks
LISTA DE IMAGENS
Imagem I – Capa do livro de Pazzinato e Senise ..................................................................... 10
Introdução 10
Capítulo 1 17
A Revolução Cubana pela historiografia
Capítulo 2 30
A Revolução Cubana pelos livros didáticos
Capítulo 3 49
Entre o livro didático e a historiografia: a formação do professor de História
Referências bibliográficas 53
Anexos 57
10
Introdução
Trata-se de uma pesquisa inserida na área de História da América, e busca dialogar com
a História da Educação, tendo como foco principal a relação entre a historiografia produzida na
academia e a produção dos livros didáticos a partir do conhecimento adquirido pelos autores
das nossas fontes. Antes de discorrer sobre os objetivos, justificativa e metodologia empregada
na pesquisa, consideramos importante apresentar os livros elencados como fontes dessa
monografia. São eles:
1
PAZZINATO, Alceu L. e SENISE, Maria Helena V. História Moderna e Contemporânea. 14ª ed. São Paulo:
Editora Ática, 2002.
11
rede pública e privada e atuam como pesquisadores. A edição analisada é a 14ª, publicada em
2002 pela Editora Ática em São Paulo, contendo 424 páginas (excluindo o Manual do
Professor). A obra tem como ponto de partida a modernidade e a crise do século XVII,
terminando no contexto da globalização, com a preocupação, segundo os autores, de produzir
um livro “inserindo conteúdos e sugestões de atividades destinados a promover pesquisas,
debates e reflexões a cada tópico estudado” (PAZZINATO e SENISE, 2002, n.p.).
2
MARQUES, Adhemar. Pelos caminhos da História: Ensino Médio. Curitiba: Editora Positivo, 2006.
12
(MARQUES, 2006, n.p.), além de apresentar, ao final de cada capítulo a seção Estudo de textos
e documentos.
A nossa terceira fonte é o livro História Geral e do Brasil de José Geraldo Vinci de
Moraes, professor de Metodologia da História na Universidade de São Paulo e doutor pela
mesma instituição. Utilizamos a terceira edição do livro, publicada em 2009 pela Editora Atual
de São Paulo. As primeiras unidades do livro se debruçam sobre a “Pré-História” e as primeiras
civilizações e a obra termina com “O século XXI em construção”, contendo 767 páginas.
Segundo o autor, o livro “pode ser trabalhado individualmente pelo estudante, mas revela-se
proveitoso se acompanhado de forma sistemática pelo professor” (MORAES, 2009, n. p.),
ressaltando a importância da relação que se constrói entre o professor e o livro didático.
Para encontrar a Revolução Cubana no livro faz-se o trajeto: Unidade 11: O período da
Guerra Fria > Capítulo 57: América Latina: das oligarquias ao ciclo militar > A Revolução
3
MORAES, José Geraldo Vinci de. História Geral e Brasil: Ensino Médio. 3ª ed. São Paulo: Atual Editora, 2009.
13
Cubana. O livro dedica à Revolução Cubana por volta de uma página e meia, trazendo uma
fotografia de 1959.
Por fim, o livro História: Volume único é uma publicação dos historiadores Ronaldo
Vainfas (doutor pela Universidade de São Paulo), Sheila de Castro Faria (doutora pela
Universidade Federal Fluminense), Jorge Ferreira (doutor pela Universidade de São Paulo) e
Georgina dos Santos (doutora pela Universidade de São Paulo) – todos professores do
Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. A primeira edição do livro foi
publicada em 2010 pela Editora Saraiva em São Paulo. O livro mais extenso entre os
selecionados, com 896 páginas, reafirma, em sua apresentação, a importância de acessar o
conhecimento a respeito do passado para além dos seus impactos no presente.
O livro tem uma divisão clássica das unidades desde as sociedades anteriores à escrita
até o início do milênio, sendo assim, o percurso para alcançar a Revolução Cubana é: Unidade
12: Guerra Fria, guerras quentes > Capítulo 49: Construindo rivalidades: o mundo pós-guerra
4
VAINFAS, Ronaldo, FARIA, Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge e SANTOS, Georgina dos. História: volume
único. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
14
A escolha desse tipo documental como fonte da pesquisa foi motivada, inicialmente pelo
nosso interesse na área de ensino de História, bem como o desejo de atuar em sala de aula, e
em seguida pela leitura das produções de Circe Bittencourt que se dedica ao estudo do livro
didático. Segundo a historiadora da educação, os livros didáticos tornaram-se interessantes para
diversos estudiosos, uma vez que são materiais complexos e foram predominantes em sala de
aula até bem pouco tempo 6. No livro Ensino de História: fundamentos e métodos, Circe afirma
que
5
A opção pelos livros didáticos voltados ao público do Ensino Médio se deu pela possibilidade de visualizar de
uma forma mais aprofundada a explicação histórica do fenômeno revolucionário, em contrapartida dos livros
didáticos do Ensino Fundamental, que abordam o processo de maneira mais sucinta e superficial em seu conteúdo.
6
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2008.
15
Para atingir esses objetivos, foi necessário, em termos metodológicos, realizar a leitura
e fichamento das fontes, bem como dos livros indicados como bibliografia dessas obras, a fim
de cotejar os conteúdos. Além disso, durante a pesquisa de Iniciação Científica, realizamos uma
análise das fotografias apresentadas em cada fonte, uma vez que pretendíamos entender,
também, o papel dos ícones no livro didático – aspecto esse que aparecerá ainda nessa
monografia, porém, de forma mais suscinta, em virtude de uma readequação do foco da
pesquisa, direcionando-a mais estritamente à relação entre a produção historiográfica e o
produto dos livros didáticos.
Deve-se levar em consideração, todavia, que esse conceito carrega algumas polemicas,
uma vez que na visão de alguns especialistas em História da Educação, como André Chervel 8,
por parte de Chevallard, uma visão que supervaloriza essa dinâmica – a transposição –,
relegando a segundo plano o papel da cultura escolar, igualmente relevante para se compreender
as formas de apropriação e adaptação que o conteúdo acadêmico adquire no ambiente escolar.
7
Cf. CHEVALLARD, Yves. La transpoción didáctica: Del saber sábio al saber enseñado. 3ª ed. Aique Grupo
Editor: Buenos Aires, 2000.
8
Cf, CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria &
Educação, n. 2, p. 177-229, 1990
16
Posto isso, esclarecemos que optamos por esse conceito, pois segundo a nossa hipótese
inicial – que não se confirmou durante a pesquisa de IC, como discutiremos no segundo capítulo
dessa monografia –, os autores dos livros didáticos seriam responsáveis por uma reformulação
na linguagem acadêmica para uma linguagem apropriada aos estudantes – e, ainda que essa
hipótese não tenha se confirmado, consideramos esse um conceito válido para a análise do
conteúdo dos livros didáticos aqui apresentados.
Essa monografia foi estruturada em três capítulos, sendo o primeiro deles dedicado a
realizar uma breve contextualização sobre a Revolução Cubana, bem como um debate
historiográfico acerca da área de pesquisa. Nesse capítulo, também apresentamos as principais
obras referenciadas pelos autores dos livros didáticos. O segundo capítulo se dedica, em um
primeiro momento a indicar qual o lugar da Revolução Cubana dentro dos livros didáticos e em
seguida apresenta brevemente a análise das fotografias selecionadas pelos autores e,
consequentemente, o discurso dos ícones. Ainda nesse capítulo, pretende-se realizar o cotejo,
de maneira mais específica, entre o conteúdo do livro didático e das obras referenciadas pelos
autores, ressaltando a forte presença dos livros paradidáticos dentro dessa bibliografia.
Capítulo 1
Posto isso, em linhas gerais, o conjunto bibliográfico aqui apresentado é formado por
obras publicadas entre as décadas de 1980 e 2000 – o que não necessariamente reflete a escolha
bibliográfica dos autores dos livros didáticos analisados pela pesquisa, como veremos adiante
no Capítulo 2 – e que se diferem entre si, principalmente, pela escolha do público-alvo que
almejam alcançar e pelo momento no qual foram produzidas.
9
LOPEZ, Luiz Roberto. História da América Latina. 2ª ed, revista e ampliada. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1989, p. 168.
18
processo revolucionário e dos seus resultados10 – é essencialmente com algumas dessas obras
que trabalhamos neste capítulo.
Posto isso, ao longo desse capítulo, buscaremos mostrar de que maneira os autores –
não apenas supracitados, mas também outros que aparecem na bibliografia dos livros didáticos,
como Hector Bruit (1988) e Voltaire Schilling (1989) – apresentam, narram, analisam e
problematizam a Revolução Cubana em suas obras, portanto, nesse primeiro capítulo busca-se
dominar, ainda que suscintamente, a narrativa da Revolução Cubana produzida no período das
décadas de 1980 a 2000 – período que majoritariamente aparece nas bibliografias dos livros
didáticos11. Já no capítulo seguinte dessa monografia, perceberemos como essas produções são
apropriadas pelos livros didáticos no que diz respeito a esse fenômeno da História da América
10
A respeito de um balanço dos estudos sobre História da América no Brasil, cf:
BEIRED, J. L. B. A pesquisa de História da América: sua trajetória nas universidades paulistas (1942-
2004). Revista de História, [S. l.], n. 153, p. 35-52, 2005.
_______. A pesquisa de História da América no Brasil durante as últimas décadas. Revista Eletrônica da
ANPHLAC, [S. l.], p. 50–72, 2013.
11 É importante pontuar que o debate apresentado aqui não contempla toda a produção bibliográfica sobre a
história de Cuba no Brasil, mas sim as obras mencionadas nos livros didáticos. Entre os estudos relevantes não
apresentados aqui, destacamos as teses A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963) de José Rodrigues
Mao Júnior (2005), Os intelectuais cubanos e a política cultural da revolução (1961-1975), de Silvia Miskulin
(2005) e O Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC) e a política cultural em Cuba (1959-
1991) de Mariana Villaça (2006).
19
Latina, de forma que possamos apontar de que forma esses dois tipos de produções – a
historiografia e o livro didático – se relacionam.
Lopez (1989), Sader (1992), Ayerbe (2004) e Gott (2006) concordam que a dominação
dos Estados Unidos sobre a ilha de Cuba ao longo da primeira metade do século XX é o
principal precedente que desencadeou o processo da Revolução Cubana. Após dar apoio à Cuba
na Guerra de Independência Cubana contra a Espanha, na última década do século XIX, tropas
estadunidenses passam a ocupar o sob país e instauram a Emenda Platt (1902) que, segundo
Louis Perez,
A tardia emancipação de Cuba fez com que sua evolução histórica fosse
atropelada e o país não passou por aquele estágio intermediário de dominação
de uma elite criolla entre a emancipação e a entrada do capital monopolista.
Pelo contrário, o capital monopolista foi que patrocinou a “emancipação”.
(LOPEZ, 1989, p. 156)
12
SADER, Emir. Cuba, Chile e Nicarágua: Socialismo na América Latina. São Paulo: Atual, 1992, p. 8.
13
Cf. GOTT, Richard. Capítulo 4: A República cubana. In: ____. Cuba: Uma Nova História. Rio de Janeiro:
Zahar, 2006.
14
Cf. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Capítulo VI. In: ____. De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a
América Latina. 2a ed., revista e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
20
Fulgencio Batista, militar responsável pelo golpe de Estado de 1952, evento esse que
desencadeou as primeiras ações políticas de grandes proporções dos irmãos Fidel e Raúl Castro.
O resultado do ataque, além das dezenas de homens mortos, foi a prisão e condenação
de 26 cubanos, entre eles os próprios irmãos Castro – Raúl sentenciado a 13 anos de prisão e
Fidel, a 1520. Foi nessa ocasião que Fidel Castro pronunciou discurso de autodefesa que se
converteu no icônico documento A história me absolverá, “no qual expõe detalhadamente os
objetivos da ação insurrecional, considerada como legítimo direito garantido pela Constituição
de 1940 contra a usurpação do poder por um governo ilegítimo”21. Em maio de 1955, Fidel,
beneficiado por uma anistia, foi libertado e partiu, com outros companheiros do movimento,
15
AYERBE, Luís Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: EDUNESP, 2004, p. 29.
16
Furiati (2003, p. 190 apud AYERBE, 2004, p. 30) apresenta a composição social do grupo da seguinte maneira:
“Quarenta e quatro eram operários (estivadores, pedreiros, caminhoneiros) ou aprendizes; 33 eram empregados
administrativos, incluindo os garçons; havia 13 estudantes, 11 agricultores, quatro profissionais liberais, seis do
pequeno comércio (...) dez trabalhadores autônomos e caixeiros-viajantes, um taxista, um professor e um soldado”.
17
AYERBE, op. cit., 2004, p. 30.
18
GOTT, op. cit., 2006, p. 174.
19
AYERBE, 2004, op. cit., p. 30.
20
GOTT, 2006, op. cit., p. 174.
21
AYERBE, 2004, op. cit., p. 30.
21
em julho do mesmo ano, para o México, país que, segundo o historiador Richard Gott, “tinha
dado refúgio às gerações anteriores de cubanos, e a exilados da Guerra Civil espanhola, e ainda
estava imbuído da mística da sua própria revolução”22.
Foi durante esse período no México que os irmãos Castro conheceram o médico
argentino Ernesto Guevara, outra figura que se tornaria liderança no processo revolucionário
cubano. De acordo com Gott, simpatizantes estadunidenses, venezuelanos e cubanos
contribuíram financeiramente para o aluguel de uma fazenda nos arredores da Cidade do
México que pode acolher revolucionários de Cuba, que vinham em pequenos grupos, para o
treinamento da guerra de guerrilha23. A respeito desse financiamento, Hector Bruit apresenta
que
22
GOTT, 2006, op. cit., p. 176.
23
Idem, p. 178.
24
AYERBE, op. cit., 2004, p. 34.
25
Idem, p. 35.
26
Gott (2006) aponta o mau tempo como a principal causa do atraso, enquanto Sader (1992) afirma que, além da
superlotação da embarcação, “[dentro do Granma também] havia o armamento e outros equipamentos, o que fez
com que o iate tivesse uma marcha muito mais lenta do que se esperava. Outro inconveniente foi a queda de uma
das pessoas ao mar, fazendo com que a viagem se atrasasse ainda mais” (p. 11)
27
GOTT. op. cit., 2006, p. 180.
22
combate. Esse segundo episódio falho marca o começo de um dos principais momentos do
processo revolucionário: a experiência na Sierra Maestra, que, de acordo com Sader deu
início então à terceira etapa da luta pelo poder, depois da tentativa de assalto
ao quartel Moncada e do fracassado desembarque: começaram uma guerra de
guerrilhas rural. Buscaram apoio direto nos camponeses da região oriental de
Cuba, especialmente na Sierra Maestra, o sistema de montanhas mais alto do
país. (...). (SADER, 1992, p. 12).
Durante cerca de dois anos – entre dezembro de 1956 e o final de 1958 –, a Sierra
Maestra foi o campo de treinamento dos guerrilheiros, que contaram com o apoio de
camponeses pequenos proprietários locais, bem como de organizações estudantis de Havana.
Para além de promover a sobrevivência do grupo, essas lideranças locais foram importantes
para contribuir com a construção de um exército combatente para a tomada do poder
futuramente. A respeito do treinamento da guerra de guerrilha nas montanhas, Gott apresenta
que os homens
(...) atacavam guarnições militares isoladas perto da costa para obter armas e
munições, e se retiravam para as alturas impenetráveis das montanhas. Logo
eles conseguiram estabelecer contato com a rede urbana do Movimento 26 de
Julho (...). Planos foram elaborados para garantir que um suprimento constante
de homens e armas fosse encaminhado para as montanhas e para que a guerra
de propaganda não fosse negligenciada. (GOTT, 2006, p. 181)
Bruit salienta, também, que durante esse período foram instalados na Sierra Maestra
hospitais de campanha para atender aos guerrilheiros, bem como a população local, e trinta
escolas improvisadas responsáveis pela alfabetização de crianças e adultos28.
Quanto à organização militar dos guerrilheiros, Perez afirma que, entre 1957 e o início
de 1958, o exército aumentou, sendo dividido em frentes, da seguinte maneira:
Justamente em abril de 1958, é organizada, pelo Partido Comunista, uma greve com o
intuito de fomentar a insurreição urbana contra o governo de Batista. Todavia, esse levante não
é bem-sucedido e, como reação do governo, tropas militares cubanas passam a executar
tentativas de tomar a Sierra Maestra e capturar os guerrilheiros 29. Segundo Gott, esse combate
durou mais de dois meses, no entanto, os revolucionários resistiram, e, fortalecidos por essa
vitória, seguiram o plano de “organizar a invasão da parte ocidental de Cuba”30.
28
BRUIT, Héctor C. Revoluções na América Latina: o que são revoluções?: México e Bolívia, Cuba e Nicarágua.
São Paulo: Atual, 1988, p. 68.
29
GOTT, Richard. op. cit., 2006, p. 188-189.
30
Idem, p. 189.
31
Lopez (1989) afirma que “O governo norte-americano estava comprometido com Batista, mas a corrupção e a
tirania imperantes em seu regime levavam a opinião pública dos Estados Unidos a simpatizar com os rebeldes” (p.
160). É relevante perceber que o Programa de Moncada, lançado por ocasião da autodefesa de Fidel, era um
24
A principal medida do governo nesse primeiro momento foi a lei da reforma agrária,
que, segundo Sader “se tornou (...) a que mais consequências teve. Se o apoio popular foi
maciço, ela tocou num ponto nevrálgico dos vínculos de Cuba com os Estados Unidos”35, tendo
em vista o grande comércio de açúcar entre os dois países. A reforma agrária do governo
revolucionário determinava que:
Além da reforma agrária, outras medidas que faziam parte do projeto revolucionário
foram executadas, tais como “a redução das tarifas telefônicas e elétricas, redução no preço de
medicamentos e de impostos no geral, combate a corrupção e ao jogo”36,
programa reformista – ou seja, não se falava, nesse momento em socialismo, e a agenda do M-26 não parecia
muito ameaçadora, à primeira vista, aos olhos do governo dos Estados Unidos.
32
GOTT. op. cit., 2006, p. 189-190.
33
Idem, p. 192.
34
Ibidem, p. 193.
35
SADER, op. cit., 1992, p. 16.
36
BRUIT, op. cit. 1988, p. 75
25
37
Idem.
38
LOPEZ. op. cit, 1989, p. 161.
39
Idem, p. 162.
40
SCHILLING, Voltaire. Estados Unidos x América Latina: as etapas da dominação. 3ª ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1989, p. 47.
41
GOTT. op. cit., 2006, p. 218.
42
AYERBE, op. cit., 2004, p. 49.
43
LOPEZ, op. cit., 1989, p. 162.
26
modelo e a buscar seguir a via cubana, na crença de que era possível derrotar
o imperialismo norte-americano. (GOTT, 2006, p. 219).
Sob a efervescência da Guerra Fria, Cuba se viu no meio de uma grande disputa política
e bélica entre os EUA e a URSS. Ainda em 1962, o país caribenho vivenciou o episódio que
convencionou-se chamar de Crise dos Mísseis. O governo soviético planejou instalar mísseis
em território cubano, a cerca de 100km de Miami, preparando-se para um grande conflito, de
“proporções imprevisíveis”, para todo o mundo. Os estadunidenses, enquanto isso, advertiram
que, por consequência, tentariam invadir a ilha. Após poucos, mas amedrontadores, meses de
ameaças e negociações, a URSS garantiu que não instalaria os mísseis e os EUA se
comprometeram a abandonar os planos de invadir Cuba, bem como retirar os mísseis instalados
n Turquia.46 Castro, naquele meio-tempo, segundo Gott,
44
Idem, p. 162.
45
É interessante destacar que a maioria dos países da América Latina apoiou essa decisão dos Estados Unidos, ou
optaram, de maneira estratégica, se abster, como o caso do Brasil. A exceção coube ao México, que se posicionou
contra a exclusão de Cuba da OEA – cabe lembrar que o país mantinha vívida ainda a memória da Revolução
Mexicana iniciada em 1910.
46
LOPEZ, op.cit., p. 163.
27
O acordo entre soviéticos e estadunidenses foi cumprido – ainda que Castro não tivesse
tido sucesso com as exigências supracitadas. Segundo Gott, 1963 foi o ano da “lua de mel” de
Cuba e URSS – incluindo uma visita de Fidel à Moscou, e outra no ano seguinte. Essa
aproximação vinha acompanhada, porém, de uma certa tensão herdada dessa pouca participação
cubana nas negociações empreendidas pelos soviéticos. Apesar da dependência cada vez maior
de Cuba em relação à URSS, Fidel tentaria, em outros momentos, como nos esforços
empreendidos para Safra dos Dez Milhões (1969-1970) e na participação cubana nas guerras
de liberação na África (ao longo dos anos 1970), mostrar a força de seu país. Dessa forma, os
governos soviético e cubano seguiram em uma grande parceria comercial, incluindo também a
China, enquanto Kennedy percebia que havia se tornado impossível uma reaproximação dos
estadunidenses com Cuba.47
Cuba segue ao lado dos soviéticos pelas décadas seguintes, mantendo fortes relações
comerciais, apoiando as “revoluções do Terceiro Mundo”50 e afastada dos Estados Unidos. Em
1971, Fidel visitou o Chile, governado pelo presidente socialista, democraticamente eleito,
Salvador Allende – a quem chamou de teimoso por acreditar que os militares respeitariam e
defenderiam seu governo51. Dois anos depois, o Chile foi tomado pelo general Pinochet, dando
início a uma das ditaduras militares mais violentas da história do continente.
52
Ibidem, p. 283.
53
Ibidem, p. 286-287.
54
Ibidem, p. 325.
55
Ibidem, p. 327.
56
Ibidem, p. 355-356.
29
57
Cf. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Capítulo XVII. In: ____. De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a
América Latina. 2a ed., revista e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
30
Capítulo 2
58
BITTENCOURT, Circe. O Percurso Acidentado da História. In: BITTENCOURT e IOKOI (Org..), Educação
na América Latina, 1996, p. 217.
59
As datas de publicação dos livros didáticos apresentadas se referem às edições utilizadas na pesquisa – ver, na
introdução do trabalho, mais detalhes sobre as reedições das fontes.
31
Posto isso, é notável que o livro didático se caracteriza como um objeto de disputas, em
especial o da disciplina histórica. Bittencourt afirma nesse mesmo texto que as discussões sobre
temas da América Latina em sala de aula, a depender do professor, poderiam ser perigosas61,
ou seja, a História da América Latina se torna um tema ainda mais cercado por controles e
receios políticos62. Ainda que não tenhamos por objetivo observar as conjunturas políticas63
que cercaram as nossas fontes no momento de suas publicações, é importante perceber o
tratamento dado, historicamente, à História da América Latina e, em especial, à Revolução
Cubana, nos livros didáticos e nos currículos escolares.
60
O acordo Mec-Usaid foi constituído de uma série de convênios realizados entre o Ministério da Educação e o
United States Agency for International Development, a partir de 1964.
61
BITTENCOURT, op. cit., 1996, p. 208.
62
Para uma discussão mais profunda sobre as mudanças na historiografia da História da América Latina, ver:
PRADO, Maria Ligia Coelho. Desafios do historiador brasileiro face às utopias latino-americanas do século XX.
Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, julho/2011
63
Vale assinalar que em quase todo o período abarcado pela pesquisa esteve vigente no Brasil o governo Lula,
fator que pode interessar em uma pesquisa mais direcionada aos impactos das políticas educacionais no país.
64
As porcentagens de cobertura da Revolução Cubana com relação à totalidade do livro em cada uma das nossas
fontes é de: Pazzinato e Senise – 0,35%; Marques – 0,40%; Moraes – 0,19%, e Vainfas, et. al. – 0,55% – variando
entre 1 e 5 páginas, ver anexo 1. A título de comparação, a Revolução Russa, por exemplo, ocupa, em cada uma
das fontes, respectivamente, 2,35%; 2,30%; 1,17% e 1,78% das páginas do livro – entre 9 e 17 páginas.
65
Ver mais detalhes sobre a divisão dos livros didáticos com relação à Revolução Cubana no anexo 1.
32
Celeste Maria Pacheco de Andrade e Lina Maria Brandão de Aras, no capítulo O Ensino
de História no 1º e 2º Graus, publicado no mesmo livro organizado por Bittencourt e Iokoi,
apontam que “a História da América é estruturada de forma fragmentada, como desdobramento
da História Geral europeia (...), evidenciando (...) que de uma forma ou de outra [esses
processos históricos] estiveram vinculados com a História da Europa”66. Ao longo da pesquisa,
constatamos que, em três das nossas quatro fontes, a Revolução Cubana está inserida na unidade
que se dedica à Guerra Fria, todavia, ainda que esta inserção esteja correta, uma vez que a
América Latina participou ativamente – e não apenas como um “palco” o de disputas – da
Guerra Fria, nos chamou a atenção o fato destes enfoques não contemplarem, quase sempre, de
foram satisfatória, o processo histórico que antecede a Guerra Fria e é vital para a compreensão
do fenômeno da Revolução Cubana – ou seja, apresentado e interpretado como um processo
singular e expressivo da experiência latino-americana – conforme demonstraremos a seguir.
No livro de Pazzinato e Senise, a Revolução Cubana está inserida na unidade da Guerra
Fria, em um capítulo que se refere aos socialismos ao redor do mundo, enquanto há um outro
capítulo, posterior, que trata da Revolução Chilena e do populismo argentino. Percebe-se aqui
que a Revolução Cubana se conecta mais ao contexto da Guerra Fria e do mundo polarizado do
que aos outros temas e processos latino-americanos. Essa ideia é fundamentada por Moniz
Bandeira, que constrói a hipótese de que, nessa perspectiva
A Revolução Cubana não foi uma operação da União Soviética na Guerra Fria,
uma consequência da confrontação Leste-Oeste, mas uma das primeiras — e
a mais poderosa — manifestações do conflito Norte-Sul, principalmente das
contradições não resolvidas entre os Estados Unidos e os países da América
Latina.” (BANDEIRA, 2009, p. 37).
66
ANDRADE e ARAS. O Ensino de História no 1º e 2º Graus. In: BITTENCOURT e IOKOI (Org..), Educação
na América Latina. 1996, p. 271.
33
subcapítulo da Crise dos Mísseis – o que reforça, ainda mais, a ideia que interpreta a Revolução
Cubana como um episódio da Guerra Fria. Longe de querer negar a relação existente entre
Revolução Cubana e Guerra Fria, o que queremos demonstrar é como o encadeamento dos
temas, nesses livros, sinaliza uma valorização da história dita “global”, em detrimento de uma
história que parta dos próprios processos latino-americanos – nesse caso, da própria história de
Cuba desde os tempos da Independência.
O único livro que não coloca a Revolução Cubana em posição subordinada à Guerra
Fria é o de Marques. As unidades do livro se dividem entre uma unidade que apresenta uma
visão panorâmica dos processos em perspectiva mundial e outra que foca na experiência
americana – um exemplo é a unidade 9, intitulada “O mundo contemporâneo” e a unidade 10
“A América Latina Contemporânea”. É justamente na unidade 10 que a Revolução Cubana se
insere, no capítulo que se dedica às revoluções, populismo e neoliberalismo na América Latina.
Esse livro traz uma divisão diferenciada entre os conteúdos, que pode ser explicada através de
uma tendência, apresentada por Circe Bittencourt, que busca
67
Ver anexo 2.
34
América Latina, Andrade e Aras apontam que há uma prática comum de conceder “privilégios
para regiões específicas (...) evidenciando aquelas onde a História seria, nessa visão
fragmentada, mais dinâmica, na verdade onde os fatos históricos tomam feições de fatos
notáveis”68.
Na obra de Marques, a referência a outros processos é mais direta, uma vez que a
unidade do livro se dedica à realidade latino-americana na contemporaneidade e a Revolução
Cubana está inserida numa seção intitulada “Estudo de Caso”. Os outros processos também
estão sendo apresentados, explorados e discutidos, como o populismo argentino, a Revolução
Mexicana, ainda que haja um destaque maior ao fenômeno da Revolução Cubana. Já na obra
de Moraes, não há referências a outros processos latino-americanos no século XX, como outras
tentativas de resistência ao imperialismo estadunidense, como a Revolução Chilena, ou ao
fenômeno dos populismos na América do Sul.
Nos deparamos com um fato interessante ao analisar o livro de Vainfas et. al.. Ao
apresentarem as restrições que os Estados Unidos impuseram à Cuba no embargo econômico,
os autores citam que todos os países latino-americanos romperam relações diplomáticas com a
ilha, exceto o México. O que é importante de ser ressaltado é que o livro não traz o conteúdo
da Revolução Mexicana e não explica as possíveis razões para que o México permanecesse ao
lado de Cuba nesse momento – se os alunos já tivessem contato com a Revolução Mexicana,
talvez, isso já estivesse subentendido. Quando o livro fornece ao aluno a informação de que o
México não rompeu com Cuba, mas não elucida as causas e implicações desse posicionamento,
muitas dúvidas podem surgir, as quais o professor pode não saber como responder – levando
em consideração o caráter formador do livro didático, que trataremos no terceiro capítulo da
monografia.
Portanto, percebemos que a Revolução Cubana tem, dentro do espaço do livro didático,
de maneira geral, a sua importância ressaltada mais no que se refere ao contexto da Guerra Fria
do que entendida como um processo ímpar na História da América Latina e na história das
relações entre Cuba e os demais países latino-americanos com os EUA – salvo as ressalvas já
realizadas nesse trabalho, tal qual o livro de Marques. Além disso, vale destacar o pequeno
espaço para tratar do processo revolucionário com relação à totalidade do livro didático, o que
indica uma abordagem breve e, consequentemente, superficial do conteúdo em sala de aula
68
ANDRADE e ARAS. Op cit,1996, p. 271.
35
quando o professor de história faz uso apenas desse material nas aulas – o que não é
recomendado, nem sequer pelo próprio livro69.
Para realizar a análise dessas fotografias, nos fundamentamos nos estudos do historiador
Carlos Alberto Barbosa. No capítulo História visual: um balanço introdutório, publicado nos
Cadernos de Seminários de Pesquisa Cultura e Política nas América (2009), organizado por
Tânia da Costa Garcia e pelo próprio autor, Barbosa afirma que:
Por meio das fotografias disponíveis nas páginas dos livros didáticos, fizemos uma
breve análise de alguns pontos que se fazem relevantes para as representações da Revolução
Cubana nos livros didáticos. É interessante, antes de tudo, apontar que as fotografias são o único
documento visual apresentado nos livros, com a ausência de outras imagens significativas tais
69
Bittencourt afirma que, nos livros didáticos “É comum encontrar sugestões de leituras de outros livros, de filmes
e de consultas na mídia eletrônica. Há também o incentivo a pesquisas complementares, indicando, de maneira
implícita, que o livro didático não é nem deve ser o único material a ser utilizado pelos alunos” (2008, p. 311).
70
Na nossa pesquisa de Iniciação Científica, destacávamos o conceito de ícone, como um dos aspectos que
gostaríamos de observar, além da historiografia e do ensino. Todavia optamos por focar nessa relação entre o livro
didático e a produção acadêmica na monografia, tendo em vista os resultados da IC no tocante aos paradidáticos
(assunto a ser tratado a seguir, no subcapítulo 2.3.).
36
como mapas – que aparecem nos livros em outros capítulos como recurso documental e
didático. Retomando o emprego de imagens no livro didático, Circe Bittencourt afirma que:
Ao lado dos textos, as variadas ilustrações que cada vez mais proliferam nas
páginas dos livros didáticos começam a preocupar os pesquisadores. (...) a
análise das reproduções, em tais livros, de quadros, fotografias, charges e
demais ilustrações com suas características específicas, como no caso das
legendas ou títulos que conduzem a observação do aluno. (BITTENCOURT,
2008, p. 306).
É interessante pontuar que entre as seis fotografias disponíveis nos quatro livros
didáticos, nenhuma se repete, ainda que algumas tenham em comum o fato de retratarem a
chegada triunfal do M-26 em Havana em janeiro de 1959. As fotografias com essa temática são
três, enquanto as outras três documentam os soldados cubanos na Baía dos Porcos, um discurso
de Fidel e uma manifestação de apoio popular ao governo revolucionário. Sabemos que muitas
vezes as fotografias são indicadas pelos autores, mas, ao fim ao cabo, selecionadas pelas
equipes editoriais, a partir da disponibilidade e das escalas de preços (direitos autorais) das
mesmas em bancos de imagens. Assim, podemos supor que haja uma certa recorrência no uso
de imagens que sejam mais baratas.
No relatório final da IC, foi realizada uma análise mais minuciosa das seis fotografias,
no entanto, uma vez que optamos, na monografia, por focar na relação entre a produção
acadêmica e o livro didático em detrimento à análise dos ícones, apresentaremos aqui uma
análise mais breve do que observamos a partir das fotografias, buscando relacioná-las com as
personalidades mais conhecidas da Revolução Cubana. Vale ressaltar que um trabalho que se
dedique com atenção aos retratos, líderes e representações de personagens carismáticos exigiria
uma abordagem muito mais específica do que este, portanto, trata-se de uma análise breve e
que busca suscitar algumas reflexões.
Dentre as seis fotografias reproduzidas nos livros didáticos, duas não retratam nenhum
líder revolucionário, sendo elas a fotografia dos soldados na Baía dos Porcos e a fotografia da
população com cartazes de apoio aos guerrilheiros, sendo, respectivamente, apresentadas a
seguir:
37
71
MARQUES, Adhemar. Pelos caminhos da História: Ensino Médio. Curitiba: Editora Positivo, 2006, p. 659.
72
No anexo 3 desse trabalho, apresentamos uma reprodução das páginas dos livros com relação às fotografias
apresentadas.
38
Conforme colocado, na mesma página, Vainfas et. al. disponibilizam uma fotografia
que apresenta o evento de “(...) 4 de janeiro de 1959, dias após a vitória da revolução, [na qual]
Fidel Castro discursa ao lado de membros do Movimento Revolucionário 26 de julho”75. Essa
imagem, é um pouco maior que a anterior, com cerca de 11cm e melhor centralizada na
diagramação do texto76.
73
VAINFAS, et. al., op. cit., 2010, p. 728.
74
Para ver a imagem no contexto da diagramação do livro, ver anexo 3.
75
VAINFAS, et. al. op. cit., 2010, p. 728.
76
Comparar a disposição das duas últimas fotografias, disponíveis no mesmo livro, no anexo 3.
39
É interessante perceber que, nessa imagem, Fidel aparece em destaque, todavia a obra
de Vainfas et. al. é a única entre as nossas quatro fontes que não traz uma fotografia de Fidel
que se assemelhe à um retrato – próxima, com foco no seu rosto. De fato, Fidel está em
evidência nessa fotografia, e a legenda cita seu nome como uma liderança77, porém isso a
diferencia das imagens presentes nos outros três livros. Com as três próximas imagens
analisadas, pretendemos comentar brevemente sobre as personalidades e os rostos da
Revolução Cubana78, tendo em mente a ressalva feita anteriormente, no início desse
subcapítulo, sobre o caráter preliminar dessa análise.
Pazzinato e Senise trazem a fotografia acima (Imagem VIII) com a seguinte legenda: “8
de janeiro de 1959: depois de três anos de luta guerrilheira, Fidel Castro (à direita) entra em
Havana ao lado de Camilo Cienfuegos, que logo morreria em um acidente aéreo”79. Essa
77
Consideramos interessante pontuar que a fotografia em questão mostra o líder revolucionário Juan Almeida, que
é, ainda que raramente, destacado pela historiografia – conforme colocado no primeiro capítulo –, mas que não é
citado em nenhuma das fontes. Vale recordar que Almeida comandou uma das cinco frentes de ataque dos
guerrilheiros, junto aos líderes mais comumente reconhecidos: Fidel, Raúl, Cienfuegos e Guevara.
78
Segundo a nossa interpretação, ao passo que as fotografias dos líderes revolucionários se espalham, disseminam
e entram no imaginário social, elas se tornam ícones da memória revolucionária. A historiadora Ana Maria Mauad
afirma que as fotografias se tornam icônicas ao longo do tempo, transformando-se em uma “foto-ícone”, a partir
de sua reiteração e simbolismo empregado. Ver: MAUAD, Ana Maria. “Como nascem as imagens? Um estudo de
história visual”. Revista História: Questões e Debates, Curitiba, n. 61, p. 105-132, jul./dez. 2014.
79
PAZZINATO, Alceu L. e SENISE, Maria Helena V. História Moderna e Contemporânea. 14ª ed. São Paulo:
Editora Ática, 2002, p. 322.
40
Há a seguinte legenda: “Nessa foto do dia 1º de janeiro de 1959, pode-se ver o líder
Fidel Castro acenando para um pequeno grupo de pessoas logo após sua chegada a Havana”82.
É interessante perceber que, na legenda da foto, o autor não cita o nome de Cienfuegos, mas o
80
Ver anexo 3.
81
Idem.
82
MARQUES, op. cit., 2006, p. 659.
41
menciona durante o texto como parte do M-26. Além disso, os outros nomes citados são de
Raúl Castro e Che Guevara, trazendo, inclusive um trecho de seu livro “Revolução Cubana”83.
83
GUEVARA, “Che”. Revolução Cubana. São Paulo: Edições populares, 1981 apud MARQUES, op. cit., 2006.
84
Ver: PRADO, Giliard da Silva. A construção da memória da Revolução Cubana: a legitimação do poder nas
tribunas políticas e nos tribunais revolucionários. Curitiba: Appris, 2018
85
MORAES, José Geraldo Vinci de. História Geral e Brasil: Ensino Médio. 3ª ed. São Paulo: Atual Editora, 2009,
p. 588.
86
Ver anexo 3.
42
A ênfase em Fidel Castro como líder fica ainda mais relevante no texto de Moraes, uma
vez que, nos outros três livros, os autores definem o Estado cubano como “governo
revolucionário” ou “movimento revolucionário”, e nesse texto fala-se em “Fidel” e “Cuba” –
indicando uma relação notória entre o país e seu líder. Todavia, é inquestionável, na mesma
medida, o destaque a Che no livro de Vainfas et. al., que dedicam um subtópico do texto à
“Revolução exportada”, no qual apresentam de forma breve o ideal de Che de apoiar revoluções
no restante da América Latina, até o momento de sua morte87.
De forma geral, é possível concluir, portanto, que os livros reforçam o culto aos heróis
consagrados da Revolução, uma vez que retratam mais os líderes, individualmente, do que os
movimentos populares. Segundo Florestan Fernandes,
87
VAINFAS, et. al., op. cit., 2010, p. 730-731.
43
da memória revolucionária, também, pela influência das produções acadêmicas sobre o tema,
que foram registradas como bibliografia para a escrita desses textos. Após uma leitura atenta
da bibliografia disponibilizada por cada uma das fontes, foi possível cotejar o conteúdo
apresentado pelos autores dos livros didáticos e da produção acadêmica utilizada, conforme
discutiremos a seguir.
Somando as obras indicadas nos quatro livros que abordam a História de Cuba e/ou da
América Latina Contemporânea, nos deparamos com 13 produções acadêmicas. Não é o
objetivo deste texto fazer uma análise das obras – pois, para tanto, seria necessário um estudo
de contexto de produção, envolvendo desenvolver conhecimentos sobre os autores e suas
experiências –, mas sim cotejar o conteúdo dos livros acadêmicos com os textos do livro
didático, traçando as relações que esse material nos possibilitar.
88
Ver anexo 4.
44
aprofundam na discussão sobre a Revolução Cubana, sendo apresentados livros gerais sobre a
História da América, como o livro História da América Latina após 1930 (vol. VI), de Leslie
Bethel – que, por sua vez, não aborda a Revolução Cubana, apenas o fazendo no volume IX,
não referenciado pelo autor – e o livro As veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano.
Como foi apresentado anteriormente, o livro de Marques tem uma divisão diferenciada
do seu sumário que privilegia a História das Américas, a destacando em relação ao resto do
mundo. Podemos constatar que a bibliografia do livro também a privilegia, contendo muitos
livros dedicados a área. Um deles é a obra Revoluções na América Latina: o que são revoluções:
México e Bolívia, Cuba e Nicarágua, de Hector Bruit (1988), livro interessante para
compreendermos a carga heróica empregada à Revolução Cubana presente no livro didático,
além de relevar diversos dados econômicos e demográficos da ilha, sendo, inclusive, citado por
Marques. Bruit, sobre a tomada do poder pelos revolucionários, escreve:
Nesse primeiro dia de Ano Novo, Fidel entrou vitorioso em Santiago, ante a
redenção incondicional do exército no quartel de Moncada. A bandeira
vermelha e preta dos rebeldes foi içada no quartel onde, a 26 de julho de 1953,
Fidel havia perdido a primeira batalha da revolução. Foram quase seis anos de
sacrifícios e lutas cruentas, de derrotas e meias vitórias, de esperança e
desespero, relembrando a cada instante a tristeza pela morte de um
companheiro. Porém era a vitória do povo, a mais importante até então toda
esta América insubmissa. (BRUIT, 1988, p. 72-73).
A narrativa vitoriosa e heróica dos guerrilheiros da Sierra Maestra é visível neste trecho
de Bruit, e ainda que isso não transpareça no texto de Marques, essa referência é importante
para ele, uma vez que reproduz, de forma positiva, o papel da Revolução Cubana.
Marques também indica nas referências bibliográficas o livro Estados Unidos x América
Latina: as etapas da dominação, de Voltaire Schilling (1989). Em um pequeno capítulo
dedicado aos “Impactos da Revolução Cubana”, o historiador escreve, sobre a invasão à Baía
dos Porcos, que, naquele momento, se deu
maiores metas a se alcançar. Luiz Roberto Lopez, no livro História da América Latina (1989),
reforça que:
O quarto livro utilizado por Marques é também bibliografia dos livros de Pazzinato e
Senise e Vainfas et. al., se tratando, portanto, de um livro comum em três das quatro fontes, o
que indica uma grande influência: Cuba, Chile e Nicarágua: Socialismo na América Latina, de
Emir Sader (1992). É nesse livro que fica visível, de forma mais clara, o heroísmo dos líderes
e o destaque a dessas personalidades.
Sader, além de construir um texto que narra, como vimos no primeiro capítulo da
monografia, de forma heróica os episódios da luta revolucionária – desde a origem dos Castro,
o assalto à Moncada, o momento que Fidel e Che se conheceram no México, a chegada do
Granma em Cuba e, por fim, a tomada de Havana –, o autor, em diversos momentos da escrita,
compara a experiência de Fidel à experiência de José Martí, líder da luta pela independência da
Cuba. Os livros didáticos não citam Martí, mas costumam falar sobre a longa luta de libertação
de Cuba do domínio espanhol e a invasão das tropas estadunidenses na ilha. Vainfas et. al.
iniciam o texto sobre a Revolução Cubana apontando que:
Após a guerra entre Estados Unidos e Espanha, em 1898, Cuba, até então
colônia espanhola, obteve a independência. Tropas norte-americanas
ocuparam a ilha até 1902, quando foi instituído o primeiro governo
republicano. Mas por pressão dos Estados Unidos, a nova Constituição
cubana, promulgada no ano anterior, incorporou a chamada Emenda Platt,
dando aos norte-americanos o direito de intervir militarmente na ilha sempre
que seus interesses fossem ameaçados. Cuba tornou-se um país com soberania
limitada. (VAINFAS, et. al., 2010, p. 727)
89
MARQUES, op. cit., 2006, p. 659.
46
Por sua vez, Pazzinato e Senise concluem o texto sobre a Revolução Cubana afirmando
que:
90
AYERBE, op. cit., 2004.
91
Idem, p. 62-63.
47
(1988), Schilling (1989), Lopez (1989), Sader (1992) e Ayerbe (2004). O título desse
subcapítulo representa um dos resultados da nossa pesquisa – a forte relação entre o livro
didático e o livro paradidático, no que diz respeito ao ensino e aprendizagem sobre Revolução
Cubana –, conforme trabalharemos a partir de agora. Segundo o historiador da educação,
Kazumi Munakata,
Trata-se, portanto, de livros produzidos “como material que complementa (ou mesmo
substitui) os livros didáticos”92, que, no entanto, no caso dos livros didáticos selecionados foram
utilizados para substituir uma produção historiográfica mais específica e densa, como, por
exemplo, o livro de Richard Gott, de 2006, incluído nas referências bibliográficas de Vainfas
et. al – livro este que não nos detivemos neste trabalho por se tratar de uma parte de uma parcela
ínfima de livros específicos que fogem de um conjunto de livros panorâmicos que observamos
durante a realização da pesquisa.
92
MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese de Doutorado. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 1997, p. 103.
93
Ver: CHEVALLARD, Yves. La transpoción didáctica: Del saber sábio al saber enseñado. 3ª ed. Aique Grupo
Editor: Buenos Aires, 2000.
48
Além disso, um ponto sobre o qual podemos chamar atenção é que a produção
acadêmica sobre a Revolução Cubana é, de certa forma, recente, uma vez que primeiro foram
lançados os livros de testemunhos e paradidáticos – conforme citado no início do primeiro
capítulo da monografia. É possível pensar que, considerando as primeiras edições dos livros
(no caso o de Pazzinato e Senise, em 14ª edição e o de Moraes na 3ª edição), não havia
disponíveis publicações em português para servirem como fundamentação teórica ao livro
didático e que essa bibliografia não foi atualizada – diferentemente do livro de Vainfas et. al,
publicado já em 2010, com referências à títulos do século XXI.
Posto isso, entendemos que existe uma falha na revisão das bibliografias dos livros
didáticos. Tomando como exemplo o livro de Pazzinato e Senise, na sua 14ª edição, seria
necessária uma atualização no seu conteúdo, uma vez que já existiam outros estudos mais
recentes sendo produzidos no momento da sua republicação em 2002. O problema que
observamos a partir dessa falha é que a produção de livros didáticos não acompanhou, nesses
casos, os avanços historiográficos vigentes dentro da academia – o que nos leva a refletir sobre
a formação do professor de história e, por outro lado, do próprio aluno que lidou com um
material algo defasado das discussões de seu tempo.
49
Capítulo 3
Essa utilidade do livro didático em servir como uma revisão do curso de graduação, que
Bittencourt comenta, é um tema de extrema importância para a reflexão que pretendemos trazer
nesse último capítulo da monografia. Em um relevante artigo sobre a formação de professores
através dos materiais didáticos95, o historiador Antonio Simplicio de Almeida Neto pontua que
(...) torna-se evidente que o livro didático acabou por cumprir função
formativa não só para o aluno, mas também para o professor, não sendo
exagero afirmar que alguns aprenderam a lecionar – no que se refere aos
conteúdos e à didática – com os manuais didáticos. (ALMEIDA NETO, 2013,
p. 2)
94
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Necessários à Prática Educativa. 51ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2015.
95
ALMEIDA NETO, Antonio Simplicio de. Manuais Didáticos Formando Professores de História: Anos 1970 e
1990. Anais do XXVII Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, julho/2013.
50
Duas das nossas fontes, os livros de Pazzinato e Senise, e o de Moraes, demonstram que
há uma grande autonomia conferida ao professor para que ele conduza a aula da maneira que
julgar interessante e confortável. Dessa forma, pudemos perceber que o livro se apresenta como
um material de consulta e revisão para os professores, mas não representa um material de
aprendizado específico de formação para eles. Já no livro de Marques, o autor apresenta no
Manual do Professor todos os gabaritos das questões, com explicações, o que pode ajudar o
professor a resolver dúvidas na sala de aula, para além dos exercícios – ou seja, caracteriza
também um aprendizado.
No caso do livro de Vainfas, et. al., muitos comentários são adicionados no Manual do
Professor. Mesmo no caso de “resposta pessoal”, o livro fornece uma interpretação da questão,
pontos a serem analisados e debatidos em sala de aula. Além disso, destacamos o recurso da
impressão de comentários nas bordas das páginas do Livro do Professor, ao longo do próprio
conteúdo do livro didático disponível aos alunos. Nesses comentários, os autores explicam
conceitos e inserem informações que possam instigar o debate em sala de aula, a partir da
exposição do professor.
51
Nos interessa perceber, também, de que forma as questões sobre Revolução Cubana
aparecem e quais subsídios os professores recebem do Manual do Professor para debatê-las.
Todos os quatro livros utilizam de questionários no final do capítulo ou unidade. O conteúdo
dessas questões reflete o tratamento do tema conjunto à discussão historiográfica sobre o texto
do livro didático, conforme tratado anteriormente. Como já apontado, nos livros de Marques e
Vainfas et. al., as questões são comentadas com detalhes no Manual do Professor.
Sendo assim, o uso de questões no livro didático é tão tradicional quanto a existência do
material e apresenta uma justificativa metodológica para o ensino-aprendizagem da disciplina
histórica, que consiste na fixação de um conteúdo – o que não significa, essencialmente, uma
reflexão crítica do assunto.
Feitas essas observações sobre o aspecto formador do livro didático, voltemo-nos à
questão essencial desse capítulo final. Com a fundamentação teórica de Bittencourt,
conseguimos compreender que o livro didático representa um meio de revisão e de
aprofundamento dos professores sobre os temas indicados pelo currículo escolar – o currículo
é uma “instituição” essencial para esse debate de formação de professores, todavia, não será
possível nos debruçarmos sobre ele no atual momento da pesquisa.
O livro didático, portanto, supre (ou busca suprir) uma falha de formação dos
professores de história. Apenas o conteúdo do material não é suficiente para fazer com que o
professor problematize, se aprofunde e, mais importante, tenha domínio do assunto que irá tratar
com os seus alunos posteriormente. Todavia, isso se refere ao momento da experiência do
52
Referências bibliográficas
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina.
2ª ed., revista e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009
BARBOSA, Carlos Alberto. História visual: um balanço introdutório. In: BARBOSA, C. &
GARCIA, Tânia da Costa (Org..). Cadernos de Seminários de Pesquisa Cultura e Política nas
Américas Vol. 1. Assis: FCL, Unesp Publicações, 2009, p. 72-85.
BETHEL, Leslie (Org.). A América Latina após 1930 (v. VI). História da América Latina. (1ª
ed., 2ª reimpressão). São Paulo: EDUSP, 2017.
________. Ensino de História: fundamentos de métodos. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
________; IOKOI, Zilda Márcia Gricoli (Org..). Educação na América Latina (v. 3). América:
raízes e trajetórias. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura; São Paulo: EDUSP, 1996.
54
BORDA, Orlando Fals. As Revoluções Inacabadas na América Latina: 1809-1968. São Paulo:
Global, 1979.
BRUIT, Héctor C. Revoluções na América Latina: o que são revoluções?: México e Bolívia,
Cuba e Nicarágua. São Paulo: Atual, 1988.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Algés: Difel, 2002.
CHAUNU, Pierre. História da América Latina. 4ed, São Paulo: Difel, 1979.
CHEVALLARD, Yves. La transpoción didáctica: Del saber sábio al saber enseñado. 3ª ed.
Aique Grupo Editor: Buenos Aires, 2000.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 8ed, Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1979.
GOTT, Richard. Cuba: Uma Nova História. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
LOPEZ, Luiz Roberto. História da América Latina. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.
MAUAD, Ana Maria. “Como nascem as imagens? Um estudo de história visual”. Revista
História: Questões e Debates, Curitiba, n. 61, p. 105-132, jul./dez. 2014.
55
MÁO JÚNIOR, José Rodrigues. A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963). Tese
(Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
MONTEIRO, Ana Maria F.C. “Os saberes que ensinam: o saber escolar”. Professores de
História: entre saberes e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007, p. 81-111.
______. Livro, livro didático e forma escolar. In: Ângela Dalben; Júlio Diniz; Leiva Leal;
Lucíola Santos. (Org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010, v. 1, pp. 219-240.
______. Livro didático como indício da cultura escolar. Hist. Educ., Santa Maria, v. 20, n. 50,
p. 119-138, dez. 2016.
PEREZ, Louis. Cuba c1930-1959. In: BETHEL, Leslie (Org.). A América Latina após 1930:
México, América Central, Caribe e Repúblicas Andinas (v. IX). São Paulo: EDUSP, 2015.
PINSKY, Jaime (Org.) História da América Latina através de textos. São Paulo: Contexto,
1989.
PRADO, Maria Ligia. A formação das Nações Latino-americanas. 2ed, São Paulo: Atual, 1986.
______; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2018.
______. (Org.). Utopias latino-americanas: política sociedade e cultura. São Paulo: Contexto,
2021.
SADER, Emir. Cuba, Chile e Nicarágua: Socialismo na América Latina. São Paulo: Atual,
1992.
Anexos
Anexo 1 – Quadro de dados sobre a divisão do livro com relação à Revolução Cubana
Número total de páginas do 424 págs. 736 págs. 767 págs. 896 págs.
livro (excluindo o Manual
do Professor)
96
Em um capítulo posterior, os autores propõem uma questão discursiva a respeito das diferenças e semelhanças
da Revolução Cubana e da Revolução Sandinista.
97
Cinco questões optativas dos vestibulares da UFMG, UFES, UFSJ, PUC-MG e FUVEST.
98
Uma questão dissertativa que propõe uma análise do posicionamento dos Estados Unidos perante a Revolução
Cubana.
99
Das duas questões propostas, uma advém do vestibular da UFJF, sendo optativa na seção “Vamos testar?”, e a
outra, aparece durante o texto de conteúdo, logo após um trecho de um discurso de Fidel Castro em 1960.
100
Títulos dos tópicos: “A política externa cubana" e “Cuba e a perestroika”. Box de citação de Cuba, Chile e
Nicarágua: Socialismo na América Latina de Emir Sader. Uma fotografia de Fidel Castro e Camilo Cienfuegos
na chegada à Havana.
101
Quadro: Dados de indicadores sociais cubanos na década de 1990. Citações: Revoluções na América Latina, de
Héctor Bruit; A História me absolverá, de Fidel Castro; Revolução Cubana, de Che Guevara; Declaração de Fidel
Castro em 1989 e A Ilha: um repórter brasileiro no país de Fidel Castro, de Fernando Morais. Fotografia 1: Fidel
Castro, Camilo Cienfuegos e Huber Matos na chegada à Havana. Fotografia 2: Soldados cubanos na Baía dos
Porcos.
102
Fotografia de Fidel Castro e Che Guevara na chegada à Havana.
103
Título dos tópicos: “Rumo ao comunismo”, “A crise de Mísseis” e “Revolução exportada”. Fotografia 1:
Discurso de Fidel e membros do M-26 em 1959. Fotografia 2: Manifestação popular de apoio ao governo
revolucionário em frente ao Palácio Presidencial, em 1959. Seção “Documento”: “Fidel Castro, Cuba livre”,
discurso de Fidel em 1960.
58
104
Em um dos capítulos seguintes, o autor se dedica ao populismo argentino e a Revolução Chilena e Sandinista.
105
No mesmo capítulo, o autor discute a Revolução Chilena e o populismo argentino.
106
O autor fornece uma explicação dos exercícios propostos
107
Os autores buscam ajudar o professor a explicar algumas questões referentes ao tema. Além disso, o livro faz
uso de observações nas bordas das páginas, impressas apenas no Livro do Professor, para que ele possa comentar
durante a aula
108
Não há questões no capítulo dedicado à Revolução Cubana, mas no capítulo que trata da Revolução Sandinista,
os autores propõem que os alunos façam uma comparação entre os processos.
59
Anexo 3 – Diagramação das páginas dos livros com relação às fotografias apresentadas