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Procura da poesia
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
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Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
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Reiner Maria Rilke
Mesmo que estivesse em uma pris o, cujos muros n o permitissem que nenhum dos
ru dos do mundo chegasse a seus ouvidos, o senhor n o teria sempre a sua inf ncia,
essa riqueza preciosa, r gia, esse tesouro das recorda es? Volte para ela a aten o.
Procure trazer tona as sensa es submersas desse passado t o vasto; sua
personalidade ganhar rmeza, sua solid o se ampliar e se tornar uma habita o a
meia-luz, da qual passa longe o burburinho dos outros.
E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu
pr prio mundo, resultarem versos, o senhor n o pensar em perguntar a algu m se s o
bons versos. Tamb m n o tentar despertar o interesse de revistas por tais trabalhos,
pois ver neles seu querido patrim nio natural, um peda o e uma voz de sua vida. Uma
obra de arte boa quando surge de uma necessidade. no modo como ela se origina
que se encontra seu valor, n o h nenhum outro crit rio. Por isso, prezado senhor, eu n o
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saberia dar nenhum conselho sen o este: voltar-se para si mesmo e sondar as
profundezas de onde vem a sua vida; nessa fonte o senhor encontrar a resposta para a
quest o de saber se precisa criar. Aceite-a como ela for, sem interpret -la. Talvez ela
revele que o senhor chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite sua sorte e a
suporte, com seu peso e sua grandeza, sem perguntar nunca pela recompensa que
poderia vir de fora. Pois o criador tem de ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo
em si mesmo e na natureza, da qual se aproximou.
Mas talvez, depois desse mergulho em si mesmo e em sua solid o, o senhor tenha
de renunciar a ser um poeta (basta, como foi dito, sentir que seria poss vel viver sem
escrever para n o ter mais o direito de faz -lo). Mesmo assim n o ter sido em v o o
exame de consci ncia que lhe pe o. Seja como for, sua vida encontrar a partir dele
caminhos pr prios, e que eles sejam bons, ricos e vastos o que lhe desejo mais do que
posso manifestar
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Nietzsche, Nascimento da tragédia, 8.
(Tradução J. Guinsburg)
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