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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONTOS DE FADAS

Quem não gosta de ouvir histórias!

Vimos que as histórias encantam crianças, adultos, velhos, enfim, a


todos independentemente da idade.

Diante da magia da literatura, nós somos envolvidos e seduzidos,


assim, nos tornamos apaixonados e tocados por ela.

Infelizmente, ainda, a literatura é um assunto a ser mais explorado,


mais conhecido e divulgado entre, principalmente, professores ou profissionais que
desenvolvem seu trabalho junto à Educação, como por exemplo, os psicopedagogos.

Não queremos aqui criticar a prática de muitos professores e muito


menos generalizar tal prática, mas sim desvelar o que vêm sendo feito e realizado no
interior das salas de aula, onde a prática de leitura realizada por estes profissionais é
quase nula. “Nula” no sentido da não existência da mesma, levando-nos a subentender
que os professores não têm o hábito e o gosto pela leitura.

Este assunto é polêmico e muito sério e não cabe aqui avaliar,


queremos sim tocar e enfatizar a importância da literatura para o desenvolvimento
psico-social da criança.

Sabemos que para cada fase de desenvolvimento da criança, a


literatura “age”, “penetra” de uma forma na mesma, colaborando para o enfrentamento
de situações por ela vivenciadas.

Mesmo estando, na era da informática, não devemos esquecer dos


contos clássicos que seduziram crianças e pessoas do “passado”.
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Os contos de fadas ainda seduzem e envolvem crianças e adultos, mas


ainda são alvo de preconceitos, do descrédito, por isso muitas vezes são afastados das
crianças e substituídos pela literatura infantil moderna (que tem também seu enorme
valor e extrema importância), ou no máximo chegam até elas em versões muito
simplificadas, desprovidas de todo seu verdadeiro significado.

Assim, acreditamos ser indispensável que os educadores conheçam o


papel dos contos de fadas na formação e desenvolvimento individual.

Ao tratarem de questões universais e comuns a todos os seres


humanos, os contos de fadas contribuem para o autoconhecimento, a superação de
conflitos inerentes ao crescimento e podem também ser instrumentos para o
desenvolvimento da auto-estima, do respeito pelas individualidades, podem
instrumentalizar a criança para conhecer e perceber suas sombras, seus medos e
limitações, além de propiciar uma percepção otimista da vida. Além disso, embora não
tenha sido o objeto de nossa pesquisa, vale lembrar que a partir do contato com os
contos, além desses ganhos, a criança se aproxima da literatura em geral, contribuindo,
portanto, para sua formação enquanto leitor, ampliando também seus conhecimentos
de leitura e escrita.

Através da estrutura que se repete (problemas, conflitos e desfecho


feliz) os contos de fadas têm muito a contribuir na formação individual. Muitos dos
contos tratam da problemática edípica, que é o elemento central no desenvolvimento
infantil, segundo a psicanálise.

Além desse conflito específico, muitos outros são abordados, através


da linguagem simbólica, que predomina nos contos de fadas.

Essa linguagem fala diretamente ao inconsciente humano, por isso


esse tipo de história é tão envolvente, encantadora e prazerosa.
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Através dos contos de fadas é possível elaborar muitos conflitos, medos


e ansiedades que angustiam a mente infantil. Isso acontece de acordo com o momento
psicológico pelo qual passa a criança, pois em função dele um conto será mais ou
menos significativo para ela.

Como disse lindamente Bettelheim (2000, p.189), trabalhar com os


contos de fadas é “espalhar sementes”.

Algumas ficarão trabalhando na mente de imediato, outras estimularão


processos no inconsciente. Outras ainda precisarão descansar muito tempo até
a mente da criança alcançar um estado adequado para sua germinação, e
muitas não criarão raízes. Mas as sementes que caírem no solo certo se
transformarão em lindas flores e árvores robustas – isto é, darão validade a
sentimentos importantes, promoverão percepções internas, alimentarão
esperanças, reduzirão ansiedades – e com isto enriquecerão a vida da criança
no momento e daí para sempre.

Assim, fica aqui nosso desejo de que nós, adultos, possamos deixar
que a criança que existe em cada um permaneça viva. Só assim entenderemos nossos
filhos e alunos, contribuindo de forma decisiva em sua formação. E só assim também,
vamos definitivamente abrir as portas, sem medo, para os contos, permitindo que
entrem as rainhas, as princesas, os sapos, as bruxas e as fadas...

JULIANA MORENO

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