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Quando finalmente cheguei ao topo da parede de gelo que circunda o mundo, pude
ver o céu além-Terra. Era um céu escuro, como se estivesse de noite, mas sem estrelas. Tirei a
mochila e deitei-me para descansar um pouco. Depois de alguns minutos, fui engatinhando até
a borda.
A parede de gelo parecia se estender por quilômetros para baixo. Podia ver pequenas
e grandes rachaduras no gelo e partes mais salientes. Depois que o gelo acabava, só sobrava o
abismo aparentemente infinito da borda do mundo.
Tentei pegar o celular no meu bolso, para tirar fotos e gravar vídeos do que estava
vendo e, assim, ter provas de que a Terra não é redonda. Mas ele escorregou. Parou bem na
borda, quase caindo. Me arrastei até lá. Levei um susto quando, de repente, o gelo onde eu
estava me apoiando cedeu e escorregou em direção ao abismo. Eu caí junto.
Demorou muito até que eu pudesse ver a Terra como um todo, por baixo. E mais ainda
para que ela se tornasse apenas um ponto ao longe. Mas aconteceu. Por incrível que pareça, o
ar no abismo ainda era respirável e, também incrivelmente, o atrito dele não me fez esquentar
nem um pouco.
O ambiente era muito frio, mas não mais do que a parede de gelo já era. Tudo era
preto; eu não podia ver minhas próprias mãos na frente de meu rosto. Não havia conseguido
pegar o celular para usar sua lanterna.
Seria aquela queda infinita? Não parecia ter um “chão” no final. Eu já estava caindo há
horas e não tinha visto nenhum sinal de fim. Nesse tempo, eu já chorara, já saíra do choque
inicial e já pensara na minha família e na inutilidade daquela viagem. Será que vou ficar aqui
para sempre? Não. Em algum momento vou acabar morrendo de fome ou desidratação.