Você está na página 1de 2

A Borda do Mundo

Quando finalmente cheguei ao topo da parede de gelo que circunda o mundo, pude
ver o céu além-Terra. Era um céu escuro, como se estivesse de noite, mas sem estrelas. Tirei a
mochila e deitei-me para descansar um pouco. Depois de alguns minutos, fui engatinhando até
a borda.

A parede de gelo parecia se estender por quilômetros para baixo. Podia ver pequenas
e grandes rachaduras no gelo e partes mais salientes. Depois que o gelo acabava, só sobrava o
abismo aparentemente infinito da borda do mundo.

Tentei pegar o celular no meu bolso, para tirar fotos e gravar vídeos do que estava
vendo e, assim, ter provas de que a Terra não é redonda. Mas ele escorregou. Parou bem na
borda, quase caindo. Me arrastei até lá. Levei um susto quando, de repente, o gelo onde eu
estava me apoiando cedeu e escorregou em direção ao abismo. Eu caí junto.

Tentei desesperadamente me agarrar à alguma rachadura ou saliência, mas era tarde


demais. Já estava caindo muito rápido. O pedaço de gelo que tinha caído comigo, por outro
lado, se despedaçou ao bater contra uma dessas saliências.
Continuei tentando, em vão, me segurar em alguma coisa. Cada vez que tocava na
parede, o atrito machucava minhas mãos. Mas só desisti quando a parede acabou. Olhei para
cima, onde o imenso disco, lar de toda a vida, todas as famílias e toda a civilização, começava a
se mostrar. Era uma visão linda, mas aterrorizante.

Demorou muito até que eu pudesse ver a Terra como um todo, por baixo. E mais ainda
para que ela se tornasse apenas um ponto ao longe. Mas aconteceu. Por incrível que pareça, o
ar no abismo ainda era respirável e, também incrivelmente, o atrito dele não me fez esquentar
nem um pouco.

O ambiente era muito frio, mas não mais do que a parede de gelo já era. Tudo era
preto; eu não podia ver minhas próprias mãos na frente de meu rosto. Não havia conseguido
pegar o celular para usar sua lanterna.

Seria aquela queda infinita? Não parecia ter um “chão” no final. Eu já estava caindo há
horas e não tinha visto nenhum sinal de fim. Nesse tempo, eu já chorara, já saíra do choque
inicial e já pensara na minha família e na inutilidade daquela viagem. Será que vou ficar aqui
para sempre? Não. Em algum momento vou acabar morrendo de fome ou desidratação.

Você também pode gostar