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Neon ica Depois dessas con: car a5 unidades que se- ro analisadas — 0 conheciments — 0 metodo cient — A pesquisa — Diretrizes para « — Coleta, analise e sate — Trabalhos cientifc Este texto de metodolo oferecido aos alunos de gt todologia cientifica”: subsicio J ammpla sobre o assunte. ideracd como um substdio che que cursam “me- -carso a bibliogratia 1 Unidade O conhecimento 1.1 0 que é conhecer © que é conhecimento humano? E uma relagio que se esiabelece entre 0 sujeito que conhece © 0 objeto conhecidlo. No processo do conhecitmento, o sujeito cognoscente se apropria, de certo modo, do objeto conhecido. Se a apropriagao & fisica, sensivel, o conhecimento é sensivel. Esse tipo de conhecimento € encontrado tanto nos animals como no homem: acontece por meio dos cinco sentides. Se apropriagio nfo é sensivel — 0 que ocorre com, realidades como conceitos (idéias), principios ¢ leis —, conhecimento € intelectual Nem sempre essas duas formas de conhecimento — sensivel ¢ intelectual — ocorrem isoladamente. Ao contrario, com freqiténcia com- binam-se para produzir um conhecimento misto, a0 mesmo tempo sen- sivel € intelectual. Por exemplo, voc® pode conhecer-se, Seus sentides Ihe informarao, pot meio de imagens, a cor de sua pele, seu cheiro, sua estatura, enfim, suas caracteristicas fisitas. Mas ser a mente, por raeio de idéias, que the informard seus proprios pensamentos, sua maneira de agit diante de um determinado problema etc. E todas essas informacoes estto relacionadas a um mesmo objeto: voce. Pelo conhecimento, o homem penetra as diversas areas da realida- de para dela tomar posse; de certa forma, o homem, pelo conhecimento, reconstitul a realidade em sua mente, Ora, a realidade apresenta nv ¢ estruturas diferentes em sus propria c real, objeto do conheciments, dite: de apropriacio por parte diversos niveis de con cimento e consequente Fo: do em conta, ainda, a & ‘Com referencia 20 seu aspecto externo & & senso dita ou que a exper Jar, ou empirico); pode: investigando, experimen los e suas funcoes (conhecitmen: Jo quanto & sua origem, & sus filoséfico); €, inalmente, tnve fot afirmado por Deus por in Jesus de Nazaré (conhec’ Ha, assim, quatro especie fo homem. Vamos tentar ana tupos de conhecimento. ssertamente, formas diferentes Essas formas dardo os penetracao do conhe- da realidade, levan- de coisas que © bom sonhecimento popu- 1m espirito mais sério, stentes entre certos 6r- pode-se, ainda, question’- destino (conhecimento religito crista, o que dele sé de seu enviado, 2.0 mesmo objeto as nao exclusives, 1.2 Niveis de conhecimento 1.2.1 O conkecim Jar Popular ¢ o conhecimen dliz-a-dia. por isso € chamado te: «a conbece seus pais, fala 2 fin istinguir um gato de um eachorr> reito para saber que cada s E igualmente popular (ox lavrador iletrado tem das cois: do solo, 0s ventos anunciadores de chuvz, 0 = sabe onde furar um pogo para o! para melhor aproveitar sua madeira, © nnaquela lua. Mas, sendo fruto da expe 1 da experiencia do exemplo, uma crian- rodo mundo sabe nacessirio estudar di- 2s suas leis. 0 que, em geral, 0 preta a fecundidade omporsamento dos animals; cothesta deve ser feta nesta ou ancial, esse conhe- RTOS ° cimento nao vai além do fato em si, do fendmeno isolado: ¢ um com! mento ametédico ¢ assisteratico Embora de nivel inferior ao cientifio, o conhecimento popular ou empirico nfo deve ser menosprezado, pois constitui a base do saber ¢ 4 existia muito antes de o homem imaginar a possibilidade da ciencia 1.2.2 0 conhecimento cientfico © conhecimento cientifico ¢ uma conquista recente da humanida- le tem pouco mais de ezentos anos e surgitt no século XVII com Galileu (1564-1642). Isso no significa que antes ndo houvesse nenhum bet rigoroso, pois, desde a Grecia antiga (Géculo VI 2.C.), os homens ram a umm conecimente racional que se distinga do mito ¢ do suber omum (conhecimento empirico), Esse conhecimento racional, durante 2 Antiguidade ¢ toda,a [dade Média, foi chamado de filosofia ¢ abrangia dversos Upos de conhecimento que se estendiam por diversas areas ‘ratematica, astronomia, fisica, biologia, logica, ética etc. Praticamente, 2 ciencia da Antiguidade € da Wdade Media se encontra vincwlada & fo- fia e dela s6 se separa quando procuta o seu proprio caminho, ou seja, 9 seu método: 0 que vai ocomrer apenas na dade Moderna, ‘A ciencia moderna nasee, pois, com a determinacio de um objeto specilico de investigacto ¢ com o metudo pelo qual se fara o controle sse conhecimento. Cada cigncia torna-se uma ciéncia particular, no sentido de ter um campo delimitado de pesquisa. O objeto das ciencias 20 08 dados proximos, imediatos, perceptivels pelos sentides ou por strumentos, pois, sendo de ordem materiale fisica, 40, por isso, sus- cetiveis de experimentacao (metodo cientifico-experimental) As citncias sao partculares na medida em que cada uma privilegia setores distintos da realidade fisica, sensivel: a fisica trata do movimento dos corpos, a quimica da sua composigao, a biologia da vida vegetal & animal etc, E, uazendo exemplos das cigncias humanas, a gramatica portugt estuda a maneira correta (regras) de falar esta lingua, enquanio © ito tem como objeto ce estudo 0 ato que se pode, moralmente (n: apenas fisicamente), cumprir ow exigit do outro. A pedagogis sopei0ce cote sistematicamente o fenomeno da portamento humane, ceed ¢ a psicologia estuda o com- 2 como 0 conceito de centifico nao é univoco, co ter sua especificidade nas léncias experimentais (Como @ dtretto, a pedagogia etc.). Nas sas; nas humanas, pro- entos, seus produtos mas anélogo. De fat diferentes ciencias: nao é quimica) e nas ciencias ine primeiras, o cientiste ans ‘cura “entender” as pessoas altura, suas les exc. ‘A preocupacio do ctentista existem em determinados [= observacoes feitas para alzen: pelo enunciado de uma te substancia composta de afirmacio valida para quai © mundo construide soes podem ser verificad comunidad cientifica, pot despojar-se do emotiva, to Para ser precisa e o! rigorosa, cujos conceites s80 Essa linguagem torna-se a matematica para transfor A matematizacdo da lei da queda dos corpos, ele made 2 usa para percorrer um plano a goes € registrado numa frmuls m2 Se é verdade que a fi “matematizivel", no extrem cujo componente qualitativo no entanto, algumas correntes reco ticas. Pense-se, por exemplo, na 2:2) realizada, quantitativamente, por me notas (de zero a dez) obtidas pelos 2! E, por tratar-se de cigncias parcix espectfico, a linguagem, além de ri as regularidades que 5 cidncla € gerdl, isto €, as 0 generalizadas € expressas armies que “a agua é urna mos fazendo uma 2 objetividade: as conclu- goalguer outro membro competente da conhecimtento procura medida do possivel. poe de uma linguagem odo a evitar a ambighidade. ida erm que utiliza guantidades. leu. Ao estabelecer a 20 tempo que um corpo sultado de suas observa- 2, por ser altamente 2 as clzncas humanas, do & quantidade. No ica por melo das estatis- metodo pedagogico 4 “estatistica” baseada nas uma com seu método tambem. t2onica. De 20. cada clencia tem o seu vocabulario especifico. Existem. pois, o 08 especificos da medicina, da psicologia, do direito etc. Podemos perceber também que a ciéncia moderna se fundamenta ervacdlo € na experimentagao, Os exemplos acima trazidos (cf. Galle! confirmam essa afirmacto. Outro elemento importante ¢ 0 uso de instrumentos, o que torna @ zncia mais rigorosa, precisa ¢ objetiva, Os instrumentos de medida !anca, termOmetro etc), por exemplo, permitem ao cientista ultrapas- sav a percepcao imediata e subjetiva da realidade e fazer uma verificacéo iva dos fendmenos. Aabordagem que a citncia faz da realidade permite a previsbilidade fendmenos (pense-se na "previsao” do tempo feita pelos meteoro- ogistas), 0 que, conseqlentemente, possibilita um maior poder para a ransformacio da natureza, Dessa catacteristica da cincia resulta 0 de- senvolvimento da tecnologia, que mudou o habitat humano, particular mente no século XX. Mas esse poder € ambiguo: pode estar a servica do hhomem ou contra ele. Pense-se, a respeito disso, no problema ecoldgico, No fundo, a cigncia nunca € neutra, pois tem seus efeitos, bons ou maus: dirigida pelo homem., que cern seus fins, seus projetos (por exemplo, 9 *projeto neoliberal”) E preciso, porém, retirar do conceit de citncie a faisa idéia de que & ¢ a unica explicacdo da realidade, como se se tratasse de um conhe- imento “certo” ¢ “infalivel", Ha muito de “construgdo” e de “interpreta o" nos modelos cientificos e, as vezes, ha teorias contraditorias, como explicacdo do fendmeno luminoso. Nao raramente acontece de médi- cos, “em nome da ciencia’, darem diagndsticos diferentes, ¢ de juristas emitirem pareceres em contraste com outros juristas Atualmente, a ciéncia é entendida como uma busca constante de explicagoes € solugdes, de revisdo e reavaliaao de seus resultados; e tem 2 consciéneia clara de sua falibilidade e de seus limites 1.2.3 0 conhecimento filossfico Ao contratio das outras ciencias particulares que tém um campo fo bem determinado (por exemplo, a astronomia analisa a ome Mercoctoca omrrca © 0 movimento dos astros; a biologia, a vida vegetal e animal; a quimica, a composigdo dos corpos; a fisica, as propriedades gerais dos corpos, a matemética, a quantidade etc.), a filosofia se interessa ndo por um particular aspecto da realidade, por este ou por aquele problema, mas por tudo, por todas as intimeras questées que interessam a Teflexdo humana, iluminada pela razdo, e em busca das causas mais profundas, indo alem dos dados préximos e experimentaveis. Poderiamos definir a filesofia, que de um ponto de vista etimolé- gico significa ‘amor & sabedoria", da seguinte maneira: a filosofia € a disciplina que procura descobrir o sentido iltimo de tudo, servindo-se da raza. Assim, 0 objeto da filosofia é constituldo de realidades mediatas, rndo perceptiveis pelos sentidos e que, por serem de ordem supra-sensi- vel, ultrapassam a experiencia, seguindo essencialmente 0 método racio- nal. A titulo de exemplo, o filésofo no se limita aos dados experimen- taveis da biologia cientifica, mas se pergunta: Quem € 0 homem? De onde ele vem? Para onde ele vai? Quais sio seus elementos constitutivos fundamentais? No caso do direito, 0 jurista, de um ponto de vista técnico, pro- cura saber quais sao as “leis” que regulam 2 convivencia de uma deter- minada sociedade. O filésofo, porém, vai além; nao se limita a per- guntar como funciona a sociedade, mas quer saber: “Por que existem 2s Teis?", “O que € 0 direito?”, “Qual ¢ o seu fundamento?”, "Qual € 0 seu objeto de estudo?” A filosofia analisa tudo, procura uma “visto de conjunto” de toda a realidade. A anilise filosofica, por sua vez, interessa-se por muitos problemas, dos quais se podem lembrar os principais: cosmologico (do mundo), gnosioldgico (do conhecimento), antropolégico (do homem), ‘metafisico ou ontol6gico (do ser e de sua origer), ético (do bem ¢ do mal moral), politico (da sociedade), estético (da arte), pedagdgico (da ceducacao), lingotstico etc. Se as cigncias procuram descobrir como agem as realidades mate- Tiais, a filosofia tem como objetivo descobrir o porque de tudo. A filosofia é uma constante interrogacio que o homem faz a si ‘mesmo € 2 toda a realidade: nao € algo feito, acabado. A filosofia inter- roga, principalmente, fatos e problemas que cercam o homem concreto, 2 Ocovenners inserido em seu contexto historico. Esse contexto muda 20 longo dos tempos, o que explica 0 deslocamento dos temas da reflexao filossfica Hoje, 08 fildsofos, alem das interrogagdes tradicionais, formulam novas questées: © homem seré dominado pela técnica? As conquistas espaciais comprovam 0 poder ilimitado do homem? © progresso técnico é um benelicio para a humanidade? Quais sto os aspectos éticos da globaliza- fo, ou da engenharia genética? 1.2.4 O conhecimento teoldgico A verdade pode ser encontrada tanto pelo camitiho da investigagdo como pelo da revelacdo. O conhecimento teolégico bascia-se exatamen- te nesta {€: Deus flow aos homens por meio de intermediatios que transmitiram Sua mensagem. Podemos afirmar que a teologia € uma reflexdo racional e sistematica que, porém, parte dos dados da fe; e, por 'sso, pressupoe a fé A revelacdo pode ter um fundamento histérico: por exemplo, no |judatsmo e no cristianismo parte-se da existéncia historica de Moisés, do povo de Israel, de Jesus Cristo, dos apéstolos. A aceitagio dos dados historicos ndo pertence {é. Esta se realiza na aceitacdo da mensagem que Moisés, os profetas, Jesus Cristo, os apéstolos alirmaram ter recebi- do de Deus para comunicé-la aos homens. Assim, por exemplo, a alir- macdo cristd segundo a qual “Jesus Cristo morreu na cruz para a salva- <0 dos homens” contém um dado historico e um dado de fé. Histori- camente, existem as provas para afirmar que Jesus morreu crucificado, za provincia romana da Palestina, no ano 30 da nossa era; mas so a fe rele pode afirmar que essa morte € 0 ato de salvacao dos homens. O dado de f € uma revelacfo e nao pode ser descoberto nem pela ciéncia, nem pela filosofia, nem pelo conhecimento popular; tem valor s6 para agquele que realiza a experincia da fe Mesmo assim, 0 crente procura “entender” a sua fé, encontrar motives de credibilidade, pots ele nao renuncia ao uso da “razao”. Ini entdo, sistematizar seus dados de fé e procurar integré-los em toda a sua experiencia humana, Por exemplo, podera perceber que o aniincio de fe a respeito da ‘vida eterna’, da “ressurreicao final", € uma resposta 20 2 Maroooicea cosines anseio de felicidade presente no homem:; ou que todo o estilo de vida de Jesus de Nazaré ¢ uma boa premissa para acreditar nele. Também 0 conhecimento teolégico tem uma veste “cientfica’, no sentido de que ¢ racional, metédico e sistematico (pense-se, por exem- plo na sistematizacao das disciplinas teologicas: dogmatica, moral, cién- cia biblica, historia eclesiastca, direito candnico etc ): mas tudo isso sem- pre a partir do ato de fe Entio, objeto do conhecimento teologico sto os dados da fe; ¢ 0 ‘metodo é a procura da integracéo entre a fé ¢ a razio. 1.3 Objeto e objetivo do saber Dialogo, interdisciplinaridade, integracdo: estes termos, nos dias de hoje, sto usados com muita frequencia para indicar o método com o qual se quer caracterizar a abordagem do “saber”. Galileu, no século XVII, eve © mérito de tornar-se o pai da ciencia moderna, determinando 0 objeto especifico da investigagio e o método com 0 qual se atingia esse tipo de conhecimento. Mas a ciencia moder- na, com seu metodo, reduzia o campo Ga analise do saber, limitando-se aos dados proximos, imediatos, perceptiveis pelos sentidos ou por ins- leumentos: quer dizer, 0s dados da ordem matenal e fisiea. Alem disso, essa “cigncia’ fazia nascer muitas “ciencias", com campos de especializa- Gao sempre mais delimitados e uma consequente fragmentacdo do conhe- mento, Hoje, € muito dificil contar o mimero de especializagdes criadas pela cigncia modema. Se tudo isso, sem diivida, foi uma riqueza para a humanidade ¢ produziu 0 avanco cientifico e tecnolégico, por outro lado criow um cientista preso a seu campo de conhecimento, possuidor de um saber parcial, desartculado e incompleto. Hoje, estamos numa fase de reconsideracéo do caminho da ciéncia ‘A “virada” apenas aconteceu quando 0 homem procurou refletir ndo sobre as “leis da natureza”, mas sobre si mesmo, questionando o rumo da ciencia que acabava “destruindo o homem” quando nfo estava a servico dele. A tristissima experigncia de duas guerras mundiais no sé- culo XX, a idolatria da maquina que degenera o homem ¢ estraga 0 2 Ocoveaere mundo ¢ as desigualdades socioeconomicas entre 0 Norte e 0 Sul do planeta questionaram profundamente o caminho da ciéncia. “Vejo cons- sruirse um mundo do qual, at de mim, nao exagero afimiar que 0 homem nao pode viver nele”, dizia Bernanos (1972, p. 126) ‘A reconstrucio” do mundo passa, obrigatoriamente, por uma nova concepgao do homem que aceita apenas uma civilizagio a servigo do homem e nunca contra ele Essas reflexdes questionam o objeto e 0 objetivo do saber A “cigncia’, que reduziu o seu campo de exploracdo aos fenome- sos do mundo material, sensivel, precisa redescobrir o significado ori- indrio do mesmo “termo” que a define. “Ciencia”, como fot visto, sig- nifica, antes de tudo, “conhecimento”, “saber”. E este “saber” tem como objeto 0 ser, tudo 0 que existe: ndo pode, pois, reduzir ou fragmentar 0 seu campo de conhecimento, esquecendo toda a riqueza da “realidade” A-este respeito, vivi por um ano ¢ meio no Burundi (ATrica Cen- tral), de 1971 a 1973. Precisei, pois, estudar a lingua kirundi e fiquet smaravilhado quando descobri a origem do termo “verdade” naquela lin- gua. A palavra w-kuri, que designa a “verdade”, vem do infinitive ku-ri, ‘que significa "ser", “estar a”. Deve-se lembrar que nas linguas ba-ntu, como o ki-rundi, 0 radical ‘ex no fim da palavra: conseqiientemente, a palavra néo muda com a esinencia, mas com 0 prefixo. Entéo, para a cultura rundi, 0 que é a verdade? Verdade ¢ *aquilo que é”, “aquilo que existe’. E homem, que procura a verdade, simplesmente analisa a “realidade”, “aquilo que existe” Aceitando essa perspectiva, 20 mesmo tempo “antiga’ ¢ “nova”, em que 0 objeto do saber ¢ simplesmente 0 ser, “tudo aquilo que existe”, 0 Geentista de hoje comeca a dialogar com “todos os outros homens”, sempre mais convencido de que ninguém tem o mbnopolio da verdade Assim, as “ciéncias” comecam a dialogar entre elas: nasce a “interdisci- plinaridade”. E, num didlogo mais amplo que procura voltar @ “unidade do saber", consequéncia da “unidade do ser”, ha a preocupagao de receber contribuigdes de todo tipo de andlise da realidade: seja por parte do saber popular, seja também dos saberes filosofico, teologico, estético, ritico etc. E a andlise da realidade € acompanhada pela humilde convic~ Bs Mironoioaa eis do de que nunca sabemos tudo: nosso atual conhecimento se realiza “como num espelho, confusamente” (ef. 1 Corintios 13,12). A triste experigncia de uma cigncia que, deixada a si mesma, aca- bava destruindo a natureza e, particularmente, o homem levou a ques- tionar também 0 objetivo do saber. Este, pois, justifica-se somente quando € colocado a servico do homem, e nunca contra ele; do homem todo € de todos os homens, sem nenhum tipo de discriminacao. O saber é, pois, um produto do homem: sai do homem e para ele volta, mas para servi-lo. O saber tem como objetivo o bem. E interessante, a esse respeito, lembrar a reflexdo da mais alta cons- ciencia moral da antiga Grécia: Socrates. Seu pensamento pode ser sin- tetizado da maneira seguinte: “Conhece-te a ti mesmo para descobrir a verdade, fazer o bem e ser, assim, fel Em outros termos, 0 conhecimento precisa ser colocado a servigo do homem (‘ti mesmo”), da verdade (que € seu objeto), do bem (que € seu objetivo). Dessa maneira, o homem se realiza ("ser feliz” ‘A bumanidade fica dividida e perdida quando reduz esse objeto, e/ou tmuda esse objetivo. Texto complementar Incerdisciplinaridade “As historias cativam. Elas tém o poder mégico de ultrapassar o nivel racional e nos envolver afetivamente, com nosso coracio, fé, imaginacao, ciatividade e esperanca, Alm disso, nos deixam uma mensagem de sa- bedoria e, nao raras vezes, uma li¢to de vida como tarefa para casa. Hoje, partlhamos uma interessante hist6ria contada a respeito de seis cegos do Indostdo, que, apos tanto ouvirem falar de elefante, deci- diram sair a campo para descobrir 0 que era realmente o elefante. Par- tiram em diferentes diregOes para encontra-lo e trazer as descobertas. (© primeiro cego, batendo contra a larga e resistente anca do elefante, gta ato: ‘0 meu Deus, 0 elefante nao € nada mais que um grande rmurs (O segundo cego, sentindo a presa lisa e afiada, observa: ‘O elefanne nao é nada mais que uma lan¢a’. 6 Ocoweoveno terceiro cego, tocando a tromba do elefante, conclu apressada- mente: (Quem nao ve que o elefante nao € nada mais que uma cobra? (© quarto cego, tropecando com o joetho do elefante, afirma cate- ricamente: ‘Nao tenho a menor duvida, o elefante nao € nada mais que uma 4rvore’ © quinto cego, tocando a orelha do elefante, que estava abaixado, diz’ “Ah, ninguém pode negar que o elefante nfo € nada mais que um cobertor O sexto cego, agarrado a cauda do elefante, exclama com euforia pela descoberta: ‘Aqui estd ele, o elefante nao € nada mais que uma corda’ Terminada a busca, os seis cegos voltam para, juntos, discutir a respeito dos seus achados e tirar davidas a respeito do elefante, Cada um apresenta fechado em sua auto-suficiéncia dogmética; o que vale € so- mente a sua verdade, Estio mais preocupados em defender os seus pproprios interesses e pontos de vista Conflagra-se a polemica, acabam discutindo e se desentendendo ain- da mais! Se estivessem abertos, com espitito interativo para ouvir a parcela de verdade do outro, poderiam ter crescido ¢ descoberto uma imagem mais acertada do elefante... Seria 0 inicio do dislogo multiisciptinar. Nao seria 0 dbvio? Mas ndo é tio simples quanto parece! Ledo engano acreditar que a realidade se da a conhecer tio facilmente quanto imaginamos Esta historia pode nos ensinar muito a respeito da vida, de relacio- rnamentos, colaboracdo ¢ interdisciplinaridade, E hora de darmos crédito 2 otic e terapéutica multidisciplinar, nao por capricho ou modismo, mas por necessidade de honrarmos a verdade. A verdade revela-se dialogal O conhecimento, hoje, apresenta-se como um conjunto de especia- lizacoes, por vezes desconexas, em que acabamos sabendo sempre mais de cada vez menos, até chegarmos a saber quase tudo de quase nada. E wm paradoxo! Esse conhecimento dificilmente se transforma em sabedoria se honrar a contribuicao da perspectiva multidisciplinar. E essa a visdo que nos faz perceber que existem varias formas de conhecimento; a explicagio da realidade néo pode ser feita unilateralmente a partir de forma de saber eleita como dominante. Diriamos que nao se ttata & =xbuir 2 ciéncia um papel hegemonico, nem de contrapé-la as ex- hcacies artsticas, religiosas € miticas, entre outras. A significacio do seriectmesto, do trabalho, da vida, enfim, pressupde a interdependén- Gieewerts, que honre os valores que cada pessoa tem” (PESSINI; Bec. 996, p. 57-58). 2

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