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Il Unidade O método cientifico 2.1 Desenvolyimento historico do. método cientifico: < Bacon, Galilen e Descartes Jé foi lembrado que o conhecimento cientifico € uma conquista recente da humanidade: entre o fim do século XVI € 0 inicio do século XVI, desenvolve-se uma linha de pensamenta que se propée a encontrar tum conhecimento embasado em maiores garantias, na procura do real Nao se buscam mais as causas absolvtas ou a natureza iruima das coisas; xo conurariv, procuram-se compreender as telagdes entre elas, assim co- mo a explicacto dos acontecimentos, pela observacao cientifica, aliada a0 raciocinio, ‘Da mesma forma que muda o objetivo do conhecimento, 0 méto- do, sistematizacdo das atividades, também sofre transformacoes, inglés Francis Bacon (1561-1626) ¢ considerado um _dos fun: dadores do. métado indutivo de investigacao cientifica. Atribui-se a ele 2 eriacdo do lema fsaber € poder}, que indica 0 objetivo da ciéncia moder- na; colocar as forgas da natureza a servigo do homem, Ota, para chegar 2 conhecimentos cientificos itis, é preciso crt todos os preconceitos ¢ ettos, que ele chama de idoles: por exemplo, o: preconceitos que sAo fruto de uma educacio e cultura diferente, ou d2 uma linguagem nao exata, ou da subserviencia & tradicdo. Nesse p: Bacon polemiza com o verbalismo da filosofia escoléstica ¢ a m: argumento de autoridade. LLL LL LT aI Mercoo.cca corres AJibertacio dos preconceitos constitui apenas a parte critica, ne- gativa do método de Bacon. ‘A ela segue a parte positiva, que se fundamenta na observacio dos fenomenos. Esta nao pode limitar-se a poucos casos, mas deve abranger, de maneira panorimica, todos os casos possiveis, para, dal, descobrir as causas dos fendmencs. ‘A esse respeito, Bacon propde 0 uso de trés tdbuas: a de presenca, ade auséncia ¢ a dos graus, ‘A *tibua de presenga” indica, com suas circunstancias, todos os casos em que aparece um determinado fendmeno. Por exemplo, estudando 0 calor, serdo estudadas as circunstancias que acompanham esse fendmeno. Na “tibua de auséncia” sio indicados todos os casos em que © fendmeno nao se verifica E, por fim, na “tébua dos graus” se indicam os casos em que 0 fendmeno variou, com “graus” de intensidade diferente Poderiamos citar um exemplo da aplicagao dessas “tabuas” na medicina, Para explicar o fendmeno da “cirrose hepatica”, na *tabua de pesena” se classificam todos os casos surgidos dessa doenca; na “tabua de ausincia” se enumeram todos os casos em que no aparece essa doenca; e na “tabua dos graus” se classifica as diferencas de intensida- de da doenca’nos afetados pela “cirrose hepatica’. Depois dessa observagdo, realizada por meio das “tabuas”, sera pre- ciso formular uma Kipdiese ue pode explicar a causa do fendmeno, Tal hipétese sera verificada por uma diligente observacdo das “tabuas". Quan- do a hipdtese concordar com todos os casos que apareceram nas “ti- buas’, seré valida © tornar-se-4 uma verdadeira “lei”, ou, para usar 0 termo de Bacon, a “forma” dos fendmenos. Por ter fixado esses principios metodolégicos, Bacon pode ser con- siderado 0 fundador da indugdo moderna, ow cientifca Como veremos, a indugio & aquele processo que leva a conclusbes de cariter geral a partir de casos particulares, ‘Contemporineo de Bacon, o italiano Galilen Galilei (1564-1642) enfrenta, ele também, o problema do metodo. Galileu afirma a necessidade, para o cientist que queira estudar a natureza, de libertar-se completamente do peso da autoridade do passa- do, seja no campo igioso. 20 (© mer900 once No campo fi6Sofico, Galileu contesta 0s “Rasgs” seguidores de Aris- toteles, que selimitam, passivamente, a repetir o que ele disse. Na rea- lidade, (rist6teles|tinha afirmado o principio dafexperiéndialcomo nor- teador da pesquisa; e, se estivesse vivo hoje, aproveitando-se de uma ex- pperigncia mais rica, chegaria a conclusbes diferentes daquelas antes sustentadas Quanio a tradigao religiosa, Galilew aceta a validade da Biblia como texto sagrado. Seria, porém, errado atribuir as declaragoes da Biblia um significado cientifico que elas nao tem. Assim, por exemplo, quando 2 Biblia afirma que o sol parou (cf. Josué 10,12-15), nao quer ensinar que © sol gira ao redor da terra, mas, servindo-se da linguagem comum, en- tende apenas mostrar a intervengdo de Deus em favor do povo judaico, ‘A Biblia, para Galileu, € o texto da revelacdo diving. Mas, 20 lado da Biblia, Deus escreveu o livro da natureza. E, se na Biblia é preciso pro- curar os princfpios oe, quando queremos conhecer a natureza preci- samos ler dirctamente ho grande livro da natureza mesma. ‘Mas esse livro, para Galileu, esta escrito em “lingua matematica’ e caracteres desta lingua so “tridngulos, circulos e outras figuras geométricas”, Em outros termos, Galileu dé uma interpretacéo quantitativa da natureza e, consequentemente, indica, como meta da pesquisa cientifica, a descoberta das “quantidades” que se encontram no fendmeno: figura, Tugar, tempo © moviment. ‘J virmos, a esse respeito, que, ao estabelecer a lei da queda dos compos, Galileu mede 0 espaco € 0 tempo que um corpo usa para per- corter um plano inclinado. E o resultado de suas observacves é registra- do numa formula matemiatica Passang6, dé ym ponto de vista construtivo, a fixar os elementos do metodof Galileu bustenta que a pesquisa cientifica acontece por dois. ‘momentos: uum andltico € outro sintético, ‘© momento lanalitico|consiste na observacao do fendmeno, em sua ‘complexidade, analisando-o em suas partes € em seus elementos cons- titutivos. a Durante a @naise\ cients € levado a proforfipsiese que tenter ExplizAMos elementos que constituem o fendmeno. Ai comega o momento sintético que manda “reproduzir o fendmeno”, por meio da eerie cho: e, se a hipotese for assim confirmada, vai se transformar erw‘lei, 4 Mercooiccn ooethes (© método deJGalileu| comparado ao de Bacon, tem um-cardter decididamente fais experimental] De fato, enquanto a inducao de Bacon) se baseava essencialmente na observacao, Galileu, ao contrario, no momento sintético, ressalta a necessidade da experimentacao, Essa exi- sgencia, muito viva na citncia moderna, foi claramente formulada por Galileu. aes Enquanta Penge ia i vo, e Galileu, na Ilia, do experimental, René Descartes , na Franga, sustenta o método friatemdtico-dedutivo (= do geral para 0 particular), dando inicio, assim, a0 pensamento racionalista moderno. No Discurso do metodo (1637), ele ressaltg-o-eentraste, quanto 20s rekon, ane 3 ca nama fg ee me temtica parte de algumas premissas e, destas, deduz rigorosamente toda uma série de verdades, a filosofia parte de hipoigses incerta e chega, conseqiientemente, a Gonclusdes igualmente incertas) Convencido, pois, da superioridade do método matematico e do fato de que tudo pode ser reduzido a uma questéo de método, Descartes sus- tenta a necessidade de estender 0 método matemético também a filoso- fia. Ele sustenta que os.elementos fundamentais do método matematico, sto quatro: a evidencia, a andlise, a sintese e a enumeracdo. Eis como ele expressa estas quatro “Tegra. “@) Regra da evidencia; *Nao acolher jamais como verdadeir ust coisa que ndo se reconheca evidentemente como tal, isto é, evitar a precipitacto ¢ 0 precohiceito endo incluir juizos, seno aquilo que se apresenta com tal clareza ao espirito que torne impossivel a duvida’. (B) Regra da andlise: “Dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas necessérias para melhor resolvé-las” e) Regra da sintse: “Ir do mais simples e singelo a0 mais complexo”. Regra da enumeracdo; “Realizar sempre enumeracoes tao cuida- ds e revisoes to gerais que se possa ter certeza de nada haver omitido”, Fixadas essas “regras’, Descartes elabora seu sistema filosdfico, colocando o fundame conhecimento e da verdade na “razdo” humana (daf ot Base desse sistema € 0 “Cogito, ergo sum®.(= Penso, logo existo). De fato, diante de todas as davidas € €rtos que o homem pode cometer, ele nao pode duvidar da sua existen- |. cia, pois a *razio” apresenta esse fato como “evidente” es | ~Ejdenacao unitaria dessas diferentes etapas, ve of © mt co ; No “Cogito” de Descartes nio se afirma apenas a nossa existéncia, \ as também a “natueza do nosso eu peso" or 0 “gu. sou un : er pens. Conseientemente, Desai econhecer wna pen Validade ao-cophecimento racional, uma_validade limitada_ao conheci- mentofsensivel je nenhuma validade a0 conhecimento da fantasia so do conhecimento, a razio nao se comporta de modo passivo: € preciso avaliar, classificar 0s materiais, por em ordem as ideias, servir-se do mais conhecido para ir ao desconhecido, Nessa exposic#o, encontramos ures propostas diferentes: Bacon spree secede da inducao, Galiled) a importancia da eet tacao Decane fixa as regras do método matemdtico-dedutivo, ressaltan- do a importéicia da “razto humana’. Cada um desses métodos realea uma particular exigéncia da pesquisa cientifica. A ciéneia moderna foi se afitmando, integrando a observacdo (Bacon), ease * Iileu) ¢ a deducio matematica (Descartes) 2.2 Os processos do método cientifico ©) __ Hoje nés estamos valorizando os resultados que levatam ao nas 2,5 mento ¢ ao desenvolvimento da ciéncia moderna. Para nés, também, =" importante o uso do metodo. "© método se concretiza nas diversas etapas ou. passos que devem ‘Seer dados para solucionar um problema: entende-se, entio, como a ©, Oslobjetos de investigacio| determinam o tipo de método a ser 2 SStmpregid, a saber: expenmenasuo acon. 90.» obo os _Ol metodo experimental) prevé os seguintes processos. Antes de tudo, a mvestigacio nasce de algum problema observado = ou sentido. Mas a investigacdo, para poder prosseguir, exige que se faca ‘uma selegao da materia a ser tratada, Essa selecao requer alguma hipo-|°. ese, ou_pressuposicao, que ird guiar e, ao mesmo tempo, delimitar 0} assunto a ser investigado. Dai 0 conjunto de processos ou etapas de que * ‘se serve 0 método experimental, como: “, — a observacio e a coleta de todos os dados possteis; 4%, rh — a hipotese, que procura explicar provisoriamente todas as ob- servages, de maneira simples e vidvel; 3 errr rere ee eee eee eet eet Mecooiec othe \ | a experimentacao, que testa a validade da hipstese; (2), —a indueao da lei, que fornece a explicacao ou 0 resultado de todo ‘trabalho de investigacao, | —ateoria, que insere o assunto tratado num contexto mais amplo. } Olmnetodo experimental Japroveita ainda a andlise © a sintese, os ~ |processos mentais da deducao e da inducao, comuns a todo tipo de in- vestigagao, quer experimental, quer racional, i do porque os assuntos @ que se aplica nio-sio TealTtaties-fauas ou fenémengs suscetiveis de comprova- io experimental. As disciplinas que © jem por isso deixam, de ser verdadeiras ciencias: s40 principalmente as *ciéncias humanas", entre as quais se destaca a filosofia Todo método depende do objetivo de investigacao. Ora, a filosofia rndo tem por objeto o estudo de coisas fantasiadas, irreais ou inexisten- tes. A filosofia questiona a prépriarealidade. Por isso, o ponto de partida do método racional Aeneas realidade, ou a aceitacao de certas proposicoes evident®s>principios oy xiomas (como 0 *Cagito™ de Descartes), para em seguida prosseguir a 0 igs em virtude de exigéncias unicamente logicas e racTorais ‘Mediante 0 método racional, que também se desdobra.em_diversos rocessos, como a observacao, alanalise e a sintese,.a indugio ea deducio) Splice es woea)procoese imexprea a eadade uamte a specs ‘como origem, natuteza profunda, destino e significado, no contexto geral _-Pelo método racional procura-se obter uma compreensto.e uma visio mais ampla sobte o homem, sobre a vida, sobre o mund, sobre o ser. Essa on cosmovisto @ que leva a investigacto racional exidentethente nao pode sey PY testada ou comprovada experimentalmente em laboratérios, Nao se com- {prova em laboratorio, por exemplo, se Deus existe, ou se 0 homem € livre © E exatamente a possibilidade de comprovar ou nao as hipdteses que dis'\ ¥ ‘S. tingue © método experimental (ientifco em sentido estrito) do eae * 3 Falando do método, é importante lembrar 0 recurso a0 argumento de qutoridade, Este consiste em admitir uma verdade ou doutrina com base no valor intelectual, ou moral, daquele que a propoe ou profess. Esse argumento € comum em matéria de fé, em que se cré nos mistérios pela autoridade de Deus revelador. Isso ja foi considerado a propésito do nivel teol6gico do conhecimento. xu | © werco0 cave9 Nas ciéncias experiments ¢ na filosofia, 0 argumento de autorida- de é muitas vezes um obsticulo a investigagao. Isso, porém, nao significa que © argumento de autoridade nao tenha a sua fungao, mesmo no campo das ciencias positivas. Os resultados obtides pelos especialisas poderao certamente servir para guiar os trabalhos de investigacz0, como ainda poderio ser citados para confirmar solugdes encontradas por meio do método cientiico. Existem areas nas ciéncias humanas, por exemplo a historia e oll | (Filo, )que aceitam como validas determinadas assergdes ¢ decisBes que &© apoiam no argumento de autoridade. Assim, cita-se a autoridade de um determinado jurista para corroborar © préprio raciocinio, Exige-se, entretanto, que tal argumento tenha passado pelo crivo austero da andlise e critica mais rigorosa possivel, sem 0 que nao tert eficacia ‘Vamos considerar, agora, de maneira mais detalhada essas_etapas dos métodos. Apesar das diferencas, existem também etapas ou téenicas comuns ao método experimental ¢ ao método racional ~ 2.2.1 Observacao | Observar ¢ aplicar atentamente os sentidos a um objeto, para dele adquirir um conhecimento claro ¢ exato. A observacio & de importan- cia capital nas ciéncigs: semi ela, 0 estudo da realidade e de suas leis se reduz a simples conjetura ¢ adivinhacéo; com ela, realizam-se pesquisas € descoberias. E Para o bom éxito da observacio exigem-se condigdes fisicas, inte- lectuais e(morais) ‘As condigoes fisicas dizem respeito aos instramentos do trabalho: nas pesquiisas experimentais sio, por exemplo, © microscépio, o telescé- pio etc.; nas pesquisas bibliograficas so as revistas, os dicionarios espe- cializados, as bibliografias, os cavilogos etc. ‘As condigdes intelectuais ¢ morais dizem respeito a capacidade intelectual, a0 interesse, a paciéncia,.a determinacdo.e a imparcialidade que devem acompanhar toda pesquisa. De lato, a observaglo Geve et atenta, exata, completa ¢ metédica. serena Ca Y 2.2.2 Hipotese Allipotese'e a suposigio de uma/eansl ou de uma lei destinada \ ‘a explicar provisofiamente um fendmeno, até que os fatos venham a | ‘contradizé-la ou afirmé-la. ‘As hipoteses tém afimeao priticalde orientar o pesquisador, diri- indo-o na direcao da causa provavel, ou da lei que se procura; ¢ a fae tedrical de coordenar e completar os resultados jé obtidos, agra- pando-os num conjunto completo de fatos, a fim de facilitar a sua in- teligibilidade ¢ 0 seu estudo. Podemos obter hipéteses por deducio de resultados ja conhecidos, ou pela experigncia, Praticamente |ndo ha regras para descobrir as hipsteses) o fruto do genio Néo se descobrem, também, por obra do acaso, mas|sio fruto _cientifico. Ha, contudo, certas condigSes que ajudam na descoberia: 0 pro- prio curso da pesquisa, a analogia, a inducto, a deducio, as reflexses. ‘A hipotese resulta, na maioria das vezes, de uma espécie de ih nacio stbita, ou de intuicéo, que traz ao sabio uma luz inesperada. E assim que Arquimedes descobre subitamente, ao se banhar, que os cor- pos imersos sofrem uma impulsio de baixo para cima exercida pelo liquido em que sio mergulhados, ‘As fontes mais comuns da invencio de hipéteses sto as analogias, quer dizer, as semelhancas: assim, Newton comparou o fenomeno da queda de uma mac ao da atracao dos planetas pelo sol ‘A hipotese deve ser sugerida e verificavel pelos fatos ¢ nao deve ser _absurda. Isso mo significa que nao possa contradizer outras hipoteses anteriormente admitidas. Ao contrario, 0 progresso da ciéncia se faz, na ‘maioria das vezes, pela substituicAo de teorias antigas por novas hips- teses, mais explicativas. Por exemplo, o criminalista italiano César Lomibroso (1835-1909) formulou esia hipdtese: por causa de fatores biologicos, alguns jé ven 20 mundo como delinquentes em potencial ‘Essa hipotese foi contestada e superada por outras hipéteses, que dao uma explicacdo diferente a respeito da origem do crime: por exem- plo, considerando a pobreza como o fator principal nessa questi. ‘As “novas hipoteses", sem negar o valor das antigas, podem enriquece-las: no exemplo trazido, chegam a descobrir a complexidade % (© mov cero do fendmeno da delinqaéncia, que inclui também fatores culturais, fa- miliares, psicol6gicos, éticos et. \ \ 2.2.3 Experimentagao A experimientacao-consiste no conjunto de processos utilizados para verificar as hipoteses. Obedece @ uma idéia diretriz = A idéia geral que governa os processos de experimentacdo € a seguinte: consistindo a hipétese, essericialmente, em estabelecer uma relacio de causa ¢ efeito,/ou)de antecedfente e consequente, entre dois fendmenos, trata-se de descobrir se realmente B (suposto efeito, ou conse- ente) varia cada vez que se. ae (suposta causa, ou antecedente), e se varia nas mesmas propor principio geral em que se fundamentam os processos de expe- rimentacao é o do determinismo, que se anuncia assim: nas mesmas} circunstancias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos, ou a i toe ie ect cee ee Mais a frente, ao se falar da “pesquisa experimental”, poderao ser cencontradios exemplos nesse sentido. = VON eg 2.24 Induco A indugdo € aquela forma de raciocinio que chega a afirmar uma verdade geral a partir de verdades particulares ‘As hipoteses acima mencionadas sio|exemplos de inducao. Assim, considerando alguns casos particulares de pessoas que so, a0 mesmo tempo, doentes mentais (ou pobres) e delinqentes, chega-se a uma “generalizacio’, afirmando que todo delingaente € doente mental (ou pobre) | A inducao se baseia, entio, na generalizacio de propriedades co- Jmmuns a-um'certo numero de casos, até agota observados, a todas as /ocorréncias de fatos similares que se verificam no futuro. Verifica-se por exemplo, certo nuimero de vezes, que 0 oxido de carbono paralisa 0 globulos sanguineos, dessa observaco, conclui-se que sempre, da- yuarnten de 2 fh Merocoioc ack r { das as mesmas condicdes, 0 dxido de carbono paralisara os globulos “anguineos ; | Fssa inducao € @ alma das ciencias experimentais. Sem ela, a ciéncia ‘nfo seria outra coisa Senfo um tepertério de observacoes sem alcance. ‘A indugao cientfica se fundaments no principio do determinismo, ‘ou da constancia das leis da natureza, C02 teu) /! Pp AS Tels cientificas exprimem quer relagoes de existéncia ou de coexis- téncia (@ agua ¢ um corpo incolor, inodoro, tendo tal densidade, susce- tivel de assumir o estado liquido, sélido ¢ gasoso.etc.), quer relacdes de causalidade ou de sucesséo (a agua ferve a 100 graus celsius, o calor ‘j-dilata os metais etc.), quer, enfim, relagdes de finalidade (o pancreas tem por funggo regular a quantidade de acécar no sangue). Nas ciencias experimentais, as leis possuem mais rigor € exatidao do que nas ciéncias humanas, pois estas dizem respeito a seres, mais ou ‘menos inteligentes ¢ livres, ¢ aquelas seguem o curso fatal do determi- rnismo da natureza, y 2.25 Dedugao A deducio ¢ 2 argumentacio que tora explicitas verdades particu- lares contidas em verdades universais. O ponto de partida € o antece- dente, que afifma uma verdade universal; € © ponto de chegada é conseqiiente, que afirma uma verdade menos geral, ou particular, con- tida implicitamente no primeiro, Por exemplo: todo ato de estelionato € legalmente ilicito; ora, José praticou um ato de estelionato; logo, José praticou um ato legalmente ilfcito. 0 processo dedutivo, por um lado, leva o pesquisador do conhe- cido ao desconhecido, com pouca margem de erro; mas, por outro lado, Ede aleance limitado, pois a conclusio nao pode possuir conteiidos que “© excedam o das premissas, Mas isso ndo significa que a deducao seja ~“inuitil. E suficiente pensar no procedimento do matematico, que, subs- ‘tancialmente, se baseia no raciocinio dedutivo. Embora o contetido dos | teoremas ja esteja fixado nos axiomas ou postuladas, esse contetido esta \\ longe de ser dbvio. aS ‘ wb avde b “mos, a © we000 ane 2.2.6 Andlise e sintese A andlise ¢ a decomposigdo de um todo em suas partes. A sintese € a reconstituicao do todo decomposto pela andlise. Ou, em outros ter andlise é 0 proceso que parte do mais complexo para o menos complexo; ¢ a sintese parte do mais simples para 0 menos simples. @— ‘A analise e a sintese sio necessérias. Qual a razao? Os grandes obstéculos que € preciso vencer nas ciéncias si, pdr) > uum lado, a complexidade dos objetos e, por outro, a limitagao da intey ligencia humana. A inteligéncia nao é capaz de tirar da complexidade das ideias, de seres e dé fatos, relagdes de causa ¢ efeito, de antecedente | € consequente. Por isso, ha necessidade de se analisar e dividir as difi- culdades para melhor resolvé-las Sem a andlise, todo conhecimento € confuso e superficial; sem a sintese, € fatalmente incompleto. (9s. oo ie \ © conhecimento de um objeto nio se limita 20 conhecimento rminucioso de suas diversas partes: quer ainda aprender o lugar que tem hho Conjunto € a respectiva parte que toma na acio global. Por isso, & “analise deve seguir-se @ Si roa candlise deve seguirse @ sintese. A tlocs ett % $ ea Portes 2.2.7 Teoria x 2? pom O emprego usual do termo“teoria” opse-se a0 da “pritica”. Neste sentido, a teoria se refere ao conhecimento em oposigao & pratica: co- nhecer versus agir. Aqui, entretanto, 0 termo teoria € empregado para significar um resultado a que tendem as ciéncias, Estas nao se contentam apenas com a formulagio dis 1eiS~A-Contririo, determinadas as leis, procuram interpret-las ou/explicé-as. Assim surgem as chamadas (eo- rias cientificas, que redmert um determi jamero de leis partculares sob a forma de umd Tei superior) Exemplo: a teoria da evolucio. “Na area do direito, podemos lembrar a Teoria tridimensional de Miguel Reale, em que todas as leis sto interpretadas dentro de trés di- mensdes da vida social: 0s fatos (aspecto sociolbgico), os valores, part ccularmente o da Justica que fundamenta o direito (aspecto filossfico), € as normas vigentes (aspecto normativista. Marcooiccs cOeA / Na area da psicologia fala-se das “Iinhas”, que correspondem as ~teorias': de Freud, Jung, Rogers ete. / ‘A teoria se distingue da hipstese, por € verificavel ex: perimentalmente, enquanto-aquela,a6:.altoria € imerpretativa, 1 quanto _a_hipot rio_de leis naturais. ‘A teoria tem a funcao de coordenar e unificar o saber cientifico; € /¢ um instrumento precioso de trabalho, pois sugere analogias até entdo ignoradas e possibilita novas descoberas. pe coder press daa Ts (fo) 32 Qe oe a “J A cigncia visa explicar os fendmenos. Para isso, observa, analisa, “ Aevanta hipoteses e as verfca pela experimentagio, induzindo, assim, a [ie que va ser suessvamentecoloeada num contexto mais ample, per _ peo da ten, Tne de operates qu desenvolvem num clima de bjetividade e neutralidade. (+ ‘A doutrina, porém, propoe diretrizes para a acto. A prior, 0 autor fixa o fim que espera atingir e, para elaborar a doutrina ajustada a esse fim, vai buscar seus argumentos nas mats variadas fontes. Numa doutrina ha ideias moras, pasicoes filosoficas e politicas atitudes_psicologicas. Ha também, subjacentes, interesses individuais, interesses de classe ou nagées. Exemplo: doutrina ‘apitalista, neoliberal, rarxista, nazista, doutrina da seguranca nacional ‘A doutrina é, assim, um encadeamento de correntes, de pensamen- tos que néo se limitam a constatar ¢ a explicar os fenomenos, mas os apreciam em funcao de determinadas concepgdes éticas ¢, a luz desses juizos, preconizam certas medidas e profbem outs. 2.2.8 Doutrina 2.3 Classificagao das ciencias ‘A complexidade do universo e a diversidade de fenomenos que nele se manifestam, aliadas a necessidade do homem de estudé-los para poder entende-los e explicé-los, levaram ao surgimento de diversos ra- mos de estudo e ao desenvolvimento de citncias espectficas. « o> ies (der Gun) HS Pep Be ned, Magateh it 3 rein © wero coven Essas necessitam de uma classificagdo, quer de acordo com sua ordem de complexidade, quer de acordo com seu contetdo, quer de acor- do com 0 método proprio de investigagao. A isica, a quimica, a astronomia e a geologia sio chamadas ciéncias © fisicas, Elas investigam a materia inanimada. aa eH ‘A biologia, a botanica, a zoologia e a fisiologia, chamadas cigncias ©) biolégicas, encarregam-se dos estudos acerca das diversas formas de vida. ~~ sociologia, a economia, a historia, a antropologia, o direito e as cigncias politicas, que estudam o comportamento da vida social do homem, sao chamadas ciéncias sociais. ‘A lingua, a linghistica, a literatura, a psicologia e a filosofia, que estudam as manifestacées intelectuais ¢ culturais do homem, sio chama- YD Stogas e555 CEincias podem ser chamadas efector emg} relagio com algo encontrado na realidade. Ha tambem as ciencias formais: st0 a logica e a matematica, que tratam de entes ideais, tanto abstratos como interpretados, existentes apenas na mente humana, em nivel conceitual. Existem, naturalmente, outras classificagdes, que podem ser encon- tradas nos textos de metodologia cientifica ¢ de filosofia da ciéncia o “método cientifico” é, ao mesmo tempo, o inicio de um processo que, juntamente com outros fatores (politicos, sociais, culturais) foi definido como “época moderna”, ou “modernidade”. Nesse processo comeca a emergir um novo tipo de humanidade, consciente da propria autonomia e de sua propria forca racional. No ‘momento em que Descartes cunha o famoso axioma “Penso, logo exis- to”, a razao comeca a celebrar 0 seu triunfo. Tal autonomia do ser humano recebe novo impulso @ partir do século XVII, com a civilizacio industrial ou o desenvolvimento téenico- _cientificon an _ ( desenvolvimento maravilhoso da ciencia modema (a ciéncia ba- seada em experigncias metodicamente organizadas, verificaveis ¢ contro- « Merooc.eca corres laveis ao maximo) e de suas aplicacoes técnicas sempre mais variaveis € prodigiosas representa 0 acontecimento fundamental de nosso tempo. Estamos na época da tecnologia, que pode ser traduzida assim: a Logica _ da técnica, ——~ TF logica da itimamente relacionada com a ciéncia experi- mental —@ wenica a servico da ciéneia, a cnc a deu ao ser humano uma nova capacidade, a de transformar a muliplicando a producdo de bens. E assim que a economia foi assumin- do, na pritica, uma influéncia determinante na nova sociedade. A mo- dernizagdo trouxe consigo uma nova visio do homem e da sociedade. Entramos numa era planetdria, gracas & crescente internacionalizacao da ‘economia, da técnica e dos meios de comunicacao social. Os meios de producao foram adquirindo tamanha importancia, que 0 proprio pensa- ‘mento passou a ser reduzido a razao funcional ou instrumental, enquan- to se perdia o sentido da ética ou dos valores morais. O proprio ser humano comecou a contar s6 pela fungao produtiva, de eficiencia, que ‘ocupa na sociedade, No momento em que essa fungdo cessa, ele perde ‘0 seu interesse, o seu valor € descartado. Por isso, a modernidade exalta a producao € o trabalho, O ser humano que produz é 0 que vale, e vale por aquilo que produz. Nessa tendéncia esta também a sempre maior sofisticagao da producao. ‘Tanto_os paises capitalistas como os socialistas de corte marxista basicamente tiveram 0 mesmo ideal: resolver os problemas da humani- dade pelo ter mais e no pelo ser mais, ‘A civilizacdo tecnolégica trouxe consigo uma crescente urbaniza- cdo, com 0 conseqiente anonimato citadino, uma mobilidade constante, a valorizacao da educacio, das mudancas ¢ do progresso, € uma acen- tuada disparidade entre paises ricos ¢ paises pobres. ‘A civilizacdo tecnoldgica € essencialmente urbana: e, no século XX, esse fendmeno se generalizou no mundo inteiro. Os Estados Unidos, por exemplo, em menos de cem anos, passaram de nagao agricola a me- twopolitana, e hoje mais de 90% da Sua populacdo reside em éreas metto- politanas. Porém, o mais portentoso fendmeno da urbanizagio € 0 que se processa nos paises subdesenvolvidos. As cidades da india, por exemplo, ‘crescem 50% por década. No Brasil, ja ha varios anos a maioria da popu- lacdo vive nas cidades. eza, a © mereco onc Entdo, 0 mundo inteiro esta se tornando “cidade”, mas as cidades de hoje tém seus grandes contrastes de vida e de morte, de esperanca e de desespero. A civilizacao tecnolégica separa o homem da natureza e o obriga a viver em um novo ambiente totalmente artificial, e ndo raro inadequado, tiranico e psicologicamente aterrador. A brusca mudanga de um ambien- te natural para um outro artificial € a causa de um anonimato citadino, que, por sua vez, é quase sempre © responsavel por uma série de per- turbagées sociais, conflitos, violéncias das mais diversas, criminalidade, prostituic&o etc. E quanto maior a cidade, maior o anonimato. O homem uurbano moderno se assemelha a uma cifra sem rosto, € o *homem- massa’, inexpressivo, sozinho e avido por um nome, jé que se sente freqiientemente reduzido a um nimero, ou a um cédigo de barras a ser “tido” por sofisticados computadores. Outra conseqiiencia da crescente urbanizacio € a mobilidade cons- tante. A moderna megalopole se constitui num verdadeiro movimento de massas. Trata-se de pessoas que vao e vém ao mesmo tempo para diferentes locais ¢ pontos das imensas cidades. Q homem moderno viaja para o seu local de trabalho, para se divertir ou socializar-se, para estudar, para fazer suas compras etc. Ele € um ser em movimento constante ‘Muitos estudiosos desse fendmeno tém chegado a conclusao de que ‘0s que ja mudaram uma vez sio também os que tém mais possibilidades néo s6 de se mudarem uma vez mais, mas também de estarem mais abertas as novas idéias e mais acessiveis as constantes mudancas tipicas da civilizacéo tecnolégica. ‘A educacao hoje nao € mais responsabilidade apenas da familia, pois se tornou condiglo essencial no provesso de desenvolvimento téc- nico-cientifico. Eis a razio pela qual as sociedades tecnopolitanas inves- tem uma grande porcentagem do seu orcamento na educagao, 6 que, consequentemente, estimula as pesquisas técnico-cientificas. A raciona- lidade, o espirito critico e a evolugéo do proprio pensamente filoséfico requerem uma margem muito grande de liberdade de pensamento e de expressio, Mas tudo isso s6 € vidvel num clima democratico, ¢ € por isso que quase todas as grandes sociedades tecnol6gicas constituem um meio de revisdo permanente das idéias. 6 Merooo.ccn cxmtren (© homem tecnopolitano se caracteriza por uma crenca quase cega com referencia a0 poder das ciéncias ¢ da técnica. Como estas sto dind- micas € no estiticas, o homem de hoje valoriza, e as vezes de maneira ingénua e irracional, as mudancas eo progreso, Para ele, as ciéncias e a técnica sio as tinicas vias de acesso a solugdo de todo.e qualquer proble= ‘ma, quer 05 ifdividuais, quer os sociopolitico-econdmicos: por exemplo ‘06 problemas da fome, do cancer, da Aids, do subdesenvotvimento etc. Essa crenca.na cincia ¢ na técnica se acha vinculada a “fe” num progresso sem limites. Tanto € assim, que 0 homem tecnopolftario no ais admira como antes, por exemplo, a noticia de uma nova invencao técnico-cientifica. O que ele, de fato, admira € mais a demora de uma nova descoberta que venha solucionar um problema que a todos atinge, ‘como € 0 caso da demora em se descobrir a cura do cancer. Portanto, 0 que vale ¢ o progresso, nao importando que ele seja racional, trazendo assim benelicio a todos, ou se itracional, destrutivo € ameacador. E, diante dessa “fe” no progresso e nas mudancas, o homem de hoje contesta © mundo tradicional com todos os seus valores. Mas, quando tudo acaba ficando relativo, pode haver, psiguicamente, instabilidade desequilibrio. E ser desequilibrado psiquicamente talvez seja 0 preco que co homem tecnopolitano teria de pagar pela valorizagéo desmedida das mudancas ¢ do progresso, Provavelmente, a mais visivel de todas as caracteristicas da civiliza- ‘0 tecnolégica diga respeito a0 problema do desenvolvimento ¢ do subde- senvolvimenta, No hemisferio Norte, os paises ricos ou desenvolvides, também denominados paises do Primeiro Mundo, caracterizados pelo alto nivel de vida de suas populagées, de raca branca e de tradiclo crist8. No hemisfério Sul, os paises pobres e subdesenvolvidos, também conhe-~ cidos como paises do Terceiro Mundo, onde se concentram dois tercos da humanidade faminta. Esse fato se deu porque o desenvolvimento historico que permitiu 0 progresso e 0 avango das ciéncias ¢ da técnica nos paises desenvolvidos nao se processou do mesmo modo nos paises subdesenvolvidos. ‘Além disso, essa divisto econdmica vai se tornando cada vez maior. A titulo de exemplo, basta citar os seguintes fatos: 0 “exodo dos cére- bros", isto €, 0 pessoal altamente especializado dos patses pobres emigra “ © weco0 cemreco para os paises ricos, onde encontra melhores salérios, tecnologia mais avancada e maior possibilidade de realizar pesquisas; e o “comércio entre paises ricos e paises pobres”, em que os iltimos sto, geralmente, expor- tadores de matéria-prima, cuja tendéncia geral dos pregos € baixar, a0 [asso que os paises ricos sto exportadores de produtos manuéaturados, Ccujos pregos tendem sempre a subir. ssas reflexes mostram que a modernidade comeca a ser questio- nada, Jé se fala de pés-modernidade: esta ultima tendéncia se caracteriza pela decepcao diante da ciencia e da técnica. Essa decepcao tem sua razio de ser quando se considera a situacio cada vez pior do meio ambiente (todo o problema ecologico; 0 ecossistema que esta sendo afetado profundamente), as guerras que prosseguem, as experiéncias at6- micas que continuam, as injustigas e distancias crescentes entre ricos € pobres, o fracasso de muitas previsbes otimistas... Fica, entao, questionada a crenca numa quma técnica tomadas como (% solucio” de todos os problemas da hhumanidade] A eteone tae © interesse por culturas diferentes da chamada ‘modema, uma nova procura da experiencia religiosa, entre outtos fend- ‘menos, sio o sinal de que a postua do homem de hoje diante da ciencia e da técnica esta mudando. —\ Ne cpm forks, bre: Texto complementar > Produzir acima de tudo? “Dos uiltimos meses de 1996 para ca, acumularam-se evidencias de que algo trepida sob a carapaca de protecio do neoliberalismmo e do mundo globalizado. Nada ainda muito cristalizado ou plenamente con- figurado, mas explicitado o suficiente para alimentar reflexdes. cenario continua marcado pela incerteza. Mas hé como que uma fresta de luz no horizonte, por onde se insinua uma leitura do futuro préximo. E que, de repente, diversos analistas e/ou estudiosos alguns dos quais insuspeitissimos, comecaram a fazer discursos alter- nativos. Da énfase exclusiva e quase religiosa nos efeitos positivos do ajuste neoliberal empreendido por diversos paises (Brasil incluido), « Mereooioca o@.rHA passou-se a admitir a existencia de efeitos negativos, até entéo ndo reconhecidos ou menosprezados. Primeito foi John Williamson, festejado patrono do Consenso de Washington, que, em setembro, defendeu uma ‘adaptacao’ nos princi- pios por ele formulados em 1989: os modelos de liberaliza¢io devem tomar ‘maior cuidado com o social, com a educacdo e com a criacao de instituigdes que aumentem a governabilidade da economia’ disse ele Folha de S.Paulo. Pouco depois, Michael Hammer, consagrado tedrico da cchamada ‘reengenharia’, fez uma pungente mea culpa: ‘Nao considerei suficientemente a dimenso humana’, declarou, reconhecendo que s30 parcos os resultados obtidos pelas empresas que, seguindo o catecismo, cortaram, enxugaram, demitiram, reformaram-se, despejando milhares de trabalhadores no mercado do desemprego. ‘Se voce compete cons- truindo, tem futuro. Se compete cortando, nao tem, acrescentou Ste- phen Roach, papa do downsizing, agora convertido & obviedade gerencial Reformadores antes endeusados pelos executivos cortadores de cabecas passam agora a reconhecer que 0 enxagamento sem projeto, reduzido & obtencao de ganhos financeiros ou racionalidades de custos, nao leva a lugar nenhum, Tanto no setor privado quanto no publico, tem uum nico resultado seguro: dizimar os recursos humanos duramente acumulados, corroer os vinculos de solidariedade no interior das empre- sas, gerar medo e inseguranga entre os trabalhadores, coloca-los em posicio defensiya, malbaratar seus sindicatos e sua vida associativa, ‘ espeticulo ¢ deprimente: depois de terem chegado no osso, diver- sas empresas passaram a recontratar pessoal demitido, em busca dos ta- lentos antes ignorados, das competéncias erroneamente dispensadas. Tem ‘mais: a Associagdo Americana de Administragio descobriu que a maior parte das empresas que encolheram desde 1990 tiveram lucros menores (ou iguais) do que antes, ¢ nao apresentaram quaisquer ganhos de produ- tividade. Nao, nao se trata de discurso ‘contra’. Esta tudo no New York Times dos primeiros dias de dezembro de 1996, ‘As consequncias negativas do reformismo neoliberal tem gerado reagdes surpreendentes. Lester Thurow, importante professor de Econo- mia € Administragao do Instituto de Tecnologia de Massachusett (MIT), concluiu que, 20 desmontar seu Estado previdenciario, o capitalismo norte-americano retornou ao século 19, quando se acreditava que ape- 46 0 mcc20 comrco has sobreviveriam os ‘mais fortes’, ou seja, os mais capazes de responder a dinamica do mercado € de viver sem protecdes sociais ou politicas compensatorias. Thurow acredita que € preciso resistir,reagir, desenca- dear uma ofensiva. Sob a lideranca de quem? Ora, dos principais inte- ressados, os trabalhadores. Estes, sofredores passivos de todos os efeitos dos ajustes neoliberais, precisam quebrar a cultura individualista neles introjetada ao longo da Historia dos Estados Unidos e seguir os passos de seus itmaos franceses: ‘Os franceses’,escreve Thurow, ‘demonstram solidariedade social ¢ capacidade de luta, enquanto os norte-americanos ‘mansamente aceitam seu fardo individual: Todos estes autores, na verdade, estéo repondo, por vias distintas e as vezes inesperadas, uma tese que ja frequentava os ambientes democra- ticos e de esquerda ha bom tempo: 0 reformismo neoliberal nao oferece alternativa real aos problemas do capitalismo. Além do mais, como lem- brow recentemente 0 socidlogo francés Alain Touraine, apos ter consegui- do ‘ajustar’ 0 capitalismo e conter a hiperinflacao, o neoliberalismo ameaca agora paralisar 0 enfermo por completo, condenando-o assim a morrer curado, Além do mais, observa Touraine, ‘nos quatro cantos do mundo as sociedades se diluem, as personalidades individuais se decompéem, as insttuigdes como a escola ow a cidade sto invadidas pela violencia e 0 Estado de Dito senteseencuslado. Podem «= pesos intligntes fechar os olhos a isso? Os efeitos negativos das reformas neoliberais sempre foram vistos pela esquerda como mais evidentes do que os efeitos positives. Nao deixa de ser um avanco a aceitacio de parte desta tese pelos que estio «em campos opostos, tentando ‘pragmaticamente™ gerenciar 0 capitalism, Em tempos dilematicos como 05 nossos, € reconfortante apreciar esta retumbante prevaléncia da realidade sobre a ideologia, Resta agora saber se a guinada tera conseqdiéncia pritica ou se se converterd t2o-somente numa forma sutil de expiacao” (NOGUEIRA, 1997, p. 24). ” TRIN TASB ONTO Ill Unidade A pesquisa 3.1 Conceito de pesquisa A pesquisa € um procedimento reflexivo, sistematico, controlado ¢ exitico que permite descobrit novos fatos ou dados, solucses ou leis, emt ‘qualquer drea do conhecimento. Desa forma, a pesquisa é uma ativida- de voltada para a @lucdo de pr ble por meio dos processos do métada entific. Podemos, asst, iRdTar 06 wes eletnentos que caracterizamn a pesquisa ° 9 e Fevantuneno de algun problema *'b) a solucto a qual se chem pretinnde ote ©) 05 meios escolhidos para chegar a ess solucdo, a saber, os Instrumentos cientificos ¢ os procedimentos adequados, A pesquisa, conforme a qualificacao do investigador, tera objetivos € resultados diferentes. O estudante universitério que se inicia na pes- quisa € © pesquisador profissional jé amadurecido e iniegrado numa equipe de investigacto tera0 objetivos distintos, de acordo com a habi- litagao de cada um. © objetivo dos iniciantes € a aprendizagem ¢ o treino das técnicas de invesigacdo, relazendo o caminho percorrido pelos pesquisadores. O resumo de assunto de uns segue a trilha dos trabalhos cientificos origi- nas de outros Entende-se por trabalho cientifico original aquela pesquisa cui resultados venham apresentar novas conquistas para uma dererm ma pesquisa sobre um determinado sneira vez. Sao trabalhos dessa natureza ~-ogresso das ciencizs com novas descobertas. de assunto aquele texto que reane, analisa e dtseute conheciz=:-"% + nformagdes ja publicadas, O resumo de assun- 10 no é um & sua natureza, resumos de assunto ¢ dificilmente trabalhos ciesvicos originals. Mas a elaboracio de resumos de assunio fornece zos «unos a bagagem de conhecimentos ¢ o treinamento cien- tifico gue 2s habilitam a se lancar em trabalhos otiginais de pesquisa. 3.2 Procedimentos da pesquisa As eéoneas de investlgacto s40 os procedimentos wilizaclos por uma citncia determinada. © canjunto dessas técnicas constitui o_ método. Cada ciéncia tem seu métedo especifico. Existe, porém, um "deno- Bre Feinsdor éomum merodoldgicd iidentico para todas as ciéncias. Este com- preende um certo numero de procedimentos cientificos levados a efeito fem qualquer tipo ce pesquisa. Estes procedimentos so 05 seguintes: @) formular quests ou propor problemas e levantar hipeteses de solucao; ) efetuar observagées e medidas: no caso da pesquisa bibliogr’- fica, as observacées sie realizadas pela leitara atenta de livros artigos; Re vn OF oe registrar cuidadosamente os dados observados com o intuito de responder as pergunias formuladas ou comprovar 2 hipétese _ levantaday ‘@) claborar explicacdes ou rever conclustes, idéias ou opinides que y estejam em desacordo com as observagdes ou com a5 respostas, resultantes; ©) generalizar, isto €, estender as conclusbes obtidas a todos os casos que envolvem condicdes similares; a generalizacto € eR tarefa do provesso chamado de “inducio” (do par © geral); aap & aytotne orn D) prever ou piedizer, isto é, antecipar que, dadas cersas Gbes, € de esperar que surjam certas relagoes Entretanto, o método se adapta as diversas ciencias, na medida er ¢ 4 investigacao de seu objeto impde ao pesquisador lancar mao de téc especializadas, Por esse motivo existem diferentes tipos de pesquisa 3.3 Tipos de pesquisa © imeresse ¢ a curiosidade do homem pelo saber levamn-no a in- vestigar a realidade sob os mais diversificados aspectos e dimensbes. Por outro lado, cada abordagem é realizada com técnicas e enlogues especticos, conforme 0 objeto de estado. Por isso, existem varios tipas de pesquisa, entre os quaistessalamos os seguinte. a documenta, a bibio- srifica, a descritiva, a experimental e a qualitativa-patticipante. ‘Toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes. Quando o levantamento ocorre no préprio local onde os fendmenos acontecem, temi0s uma documentacao dizzta (por exemplo, na entrevista). E, quando 0 pesquisador procura o levantamento que outros jé fizeram, temos a documenuyiiy indireta. haste , A dociimeniagao \adirgia, por sud vez, pode ser encontrada nas nts primaras, ou nacbliografia)lvzos¢ artigos). No primeito caso, @ Besquisa €documentalno segundo, biblio- grace : ~~ 3.3.1 Pesquisa documental A pesquisa € chamada de “documenta!” porque procura os docu- rmentos de fonte primatia, a saber, os “dados primrios" provenientes de ‘rgios que realizararm as observacdes. Esses “dados primaries” podem ser encontrados em arquivos, fontes estatisticas e fontes nao-escrit 0s arquivos, por sua vez, podem ser piblicos ¢ particulares. Eo: arquivos publicos podem ser nacionais, estaduais e municipais. RN ys Meropaions CONTEC Os arquivos publices contém: — documentos oficiais: amuérios, editoriais, ordens régias, leis, atas, relat6rios, oficios, correspondéncias, alvaras etc — documentos juridicos ortundos de cartorios: registros gerais de falencias, inventicios, testamentos, escrituras de compra € ver das, nascimentos, casamentos, desquites etc. (Os arquivos particulares pertencem a instituigdes de ordem priva- da, como bancos, igrejas, indiistrias, partidos politicos, sindicatos, esco- las, residéncias etc. Séo documentos de acesso mais dificil, mas que também constituem rico acervo de conhecimentos. Englobam registros diversos, oficios, bole- tins, memorandos, regulamentos, cortespondencias, atas, memérias, esbo- 608, didrios, autobiogralias exe 'As fontes estatisticas prover de varios érgios oficais ¢ particulares, responsaveis pelo censo ou pela coleta e elaboracto de dados estatisticos, como, por exemplo, 0 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatis- tica), og Departamentos Estaduais e Municipais de Estatistica, © Banco Central, 0 Ibope (Instituto Brasileiro de Opinido Publica e Estatistica), 0 Instivuto Gallup. Existem também as fontes ndo-escritas, wtiizadas geralmente na etpologia © na arqueotogia, considerades importantes repositorios de ‘comhecimentos, Entre elas se encontram: fotogratias, gravacoes, filmes, videocassetes, disquetes, imprensa falada (televisdo ¢ rédio), desenhos, pintutas, esculturas, cancies, indumentarias, objetos de arte, folclore e ‘outras testermunhos graficos 'A pesquisa documental apresenta algumas vantagens. De feto, os documentos constituem uma fonte rics e estavel de dados. E, como subsistem ao longo do tempo, tornam-se a mais importante fonte de dlados em qualquer pesquisa de natureza histérica. Além disso, em mastos casos, a andlise dos documentos exige apenas disponibilidade de tempo, tornando significativamente baixo 0 custo da pesquisa, comparedo ao de outros tipos de pesquisa Convém aqui lembrar que algumas pesquisas elaboradas a partir de documentos sdo importantes nao porque respondem definitivamen- te a um problema, mas porque proporcionam melhor visto desse pro- blemna 8 33.2 Pesquisa bibliografica | A pesquisa bibliografica procura explicar um problema a partit de referéncias tedricas publicadas (em livros, revists etc,). Pode ser reali- zada independentemente, ou como parte de outros vipos de. pesquisa Qualquer espécie dé” pesquisa, em qualquer area, supde ¢ exige ‘uma pesquisa bibliogrifica prévia, quer para o levantamento da situagao dda questao, quer pata fundamentacio teorica, ou ainda para justificar os limites e contribuigdes da prépria pesquisa [Nas proximas unidades havera indicagBes concretas sobre a manei- ra de proceder nesse tipo de pesquisa 3.3.3 Pesquisa deseritiva esau deseriva observa rept anal comelacina fats ou fendmenos (variéveis), sem manipulé-los, estuda fatos e fendmenos do mundo fisico ¢, especialmente, do mundo humano, sem a interferén- cia do pesquisador. Uma palava para esclarecer os termos, Para alguns, o temo “fend- ‘meno” indica apenas urn sindnimo para “fato’. Entretanto, pode-se es- tabelecer uma distineao, dizendo-se que “endmeno” ¢ 0 lato tal.como torbido.por-alguém. Os fatos acontecent na realidade, independente- mente de haver ou ndo quem os conheca, Mas, quando existe um ob- servador, a percepcéo que ele tem do fato € que se chama fendmeno, Pessoas diversas podem observar, 1no.mesmo fato, fendmenos diferentes Aim, por exempl, um over vicidoem dogs pode se visto por um médico como um fendmeno fisioldgico, por um psicdlogo como fendmeno pstcoldgico, por um jurista como fendmeno juridico et. A pesquisa descritiva procura, pois, descobrir, com a precisto possivel,a frequéncia com que um fendmeno ocorre, sua relacdo € sx Conexo com outros, sua natureza e suas caracteristicas. Busca cont cer as diversas situacoes e relagdes que ocorrem na vida social, pol econdmica € demais aspectos do comportamento humano, individuo tomado isoladamente como de grupos ¢ comuni complexas. _ ssiuonmmemtsmtonenseumah Mercootoca a@ethcs [A pesquisa descritiva se desenvole, principalmente, nas ciéncias ht ‘manas e sociais, abordando aqueles dados e problemas que merecem ser estudados e cujo registro nao consta de documentos ou de publicactes. (Os dados, por ocorrerem em seu habitat natural, prcisam ser cole- tados e registrados ordenadamente para seu estudo propriamente dito, 'A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, entre as quais se destacam. as seguintes: 1, Estudos exploratorios O ede exploratério, designado por alguns autores como pesqui- ‘sa quase cientifica, ou nao- é, normalmente, 0 pass0 inicial no proceso de pesquisa. Trata-se de uma observacao_ndo_esirnturadaou assistemética: consiste em recolher e registrar 08 fatos da realidade sem “Que pesquiisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer per- suntas diretas. : et recomendévelo estudo exploratério quando hi poucos conhect,) (mentos sobre o problema a ser estudado, > be where eo* J 2, Estudos deseriivos Trata-ze do estudo ¢ da descricio das caracteristicas, propriedades relagdes existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada Eis um exemplo {o_O Brasil ingressa na cécada de 90 com um contingente de, 14,4 milhoes de familia (64,5 milhOes de pessoas) em condicdes de pobreza (com rendimentos per capita igual ou inferior a meio salario minimo), ou seja, com rendimentos insuficientes para atender as suas necessidades 1 basicas, alimentares e ndo alimentares. Dessas familias, 6,9 milhoes de © pessoas encontravamse em situagdo de indigencia (com rendimento per 5) capita igual ou inferior a um quarto de salario minimo), onde nem as necessidades alimentares eram atendidas. Isto significa que, em 1990, de << cada 10 brasileiros, 4.4 eram pobres € destes, 2,3 indigentes” (IPEA, 1992, apud CNBB, 1994, p. 31). >“) Qs estudos descritivos, assim como os exploratorios, favorecern as. tarefas da formulacdo clara do problema e da hipotese como tentativa de solucao, OO eee 3, Pesquisa de opiniao (ppdle coms 0 [ nn Procuta saber alitudes, Pontos de vista e preferencias que as pes-

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