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O Grande Julgamento

John Wesley

Pregado nas sessões de tribunal, diante do Honorável Sir Edward Clive, Cavalheiro,
um dos Juízes da Corte de Apelações Comuns de Sua Majestade, na Igreja de St. Paul,
Bedford, na sexta-feira, 10 de Março de 1758; publicado na petição de William Cole,
Escudeiro, Alto Xerife do condado e outros.

"Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão?
Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo". (Romanos 14:10)

1. Quantas circunstâncias concorrem para aumentar a enormidade da presente


solenidade! – O concurso geral de pessoas, de todas as idades, sexo, posições e condições
de vida, desejosamente, ou não, reunidas, não apenas das partes próximas, mas das partes
distantes; criminosos, rapidamente trazidos, e não tenho como escapar; oficiais, esperando
em seus vários postos, para executar as ordens que nós tão altamente reverenciamos e
honramos. A ocasião igualmente desta assembléia acrescenta não uma solenidade pequena
dela: ouvir e determinar causas de todos os tipos, algumas das quais são da mais importante
natureza; das quais dependem não menos do que a vida ou a morte; a morte que revela a
face da eternidade! Foi, sem dúvida, com o objetivo de aumentar o sério sentido dessas
coisas, e não, nas mentes do comum, apenas, que a sabedoria de nossos antepassados não
desdenharam indicar, até mesmo diversas circunstâncias precisas desta solenidade. Porque
esses também, pelos meios do olho e ouvido, podem mais profundamente afetar o coração:
e, quando observada, nesta luz, trombetas, aduelas, vestuário, não são mais superficiais ou
insignificantes, mas subservientes, neste tipo e grau para as mais valiosas finalidades da
sociedade.

2. Mas, por mais terrível que esta solenidade seja, uma muito mais terrível está à
mão. Uma vez que, em pouco tempo, "deveremos todos estar diante da cadeira de
julgamento de Cristo". "Porque, assim como eu vivo, diz o Senhor, todo joelho se dobrará
a mim, e toda língua deverá confessar a Deus". E naquele dia, "cada um dará um relato de
si mesmo a Deus".

3. Tivessem todos os homens profunda consciência disto, quão efetivamente isto


garantiria os interesses da sociedade! Porque qual motivo pode ser concebido, para a prática
da genuína moralidade? Para uma busca firme e virtude sólida? Um caminhar uniforme na
justiça, misericórdia e verdade? O que poderia fortalecer nossas mãos, em tudo que seja
bom, e nos deter de tudo que seja mau, como uma forte convicção disto: "O Juiz está à
porta"; e nós brevemente estaremos diante Dele?

4. Não pode, portanto, ser impróprio, ou inadequado para o objetivo da presente


assembléia considerar: --

I. As principais circunstâncias que precederão nosso situarmo-nos diante da cadeira


de julgamento de Cristo;
II. O próprio julgamento; e,

III. Algumas poucas circunstâncias que se seguirão a ele.

1. Em Primeiro Lugar, vamos considerar as principais circunstâncias que


precederão estarmos diante da cadeira de julgamento de Cristo.

E, primeiro, Deus irá mostrar "sinais na terra" (Atos 2:19); particularmente, Ele irá
"se levantar para estremecer terrivelmente a terra". "A terra deverá balançar, de um lado
para o outro, como um bêbado, e deverá ser removida como uma cabana". (Isaias 24:20).
"Haverá terremotos", kata topous (não no fundo do mar apenas, mas) "em todos os
lugares"; não em um apenas, ou alguns, mas em toda a parte do mundo habitado (Lucas
21:2); até mesmo, "tais como não foram vistos, desde que os homens estão sobre a terra,
terremotos tão poderosos e tão grandes". Em um desses "toda a ilha desaparecerá, e as
montanhas não serão encontradas". (Apocalipse 16:20). Neste meio tempo, todas as
águas do globo terráqueo sentirão a violência dessas concussões; "o mar e as ondas
rugindo" (Lucas 21:25), com tal agitação, como nunca se soube antes, desde a hora em que
"as fontes do grande abismo se arrebentaram", para destruir a terra, e que, então, "ficaram
fora e dentro da água". O ar será todo temporal e tempestade, cheio de vapores negros e
"pilares de fumaça". (Joel 2:30) "E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e
colunas de fumaça"; ressoando, de maneira assombrosa, de pólo a pólo, e se rasgando em
dez mil raios. Mas a comoção não parará na região do ar; "os poderes dos céus também
deverão ser estremecidos. Haverá sinais no sol, e na luz, e nas estrelas". (Lucas 21:25-
26); as que são fixas, e as que se movem em volta da terra. "O sol se transformará em
escuridão, e a lua em sangue, antes do grande e terrível dia da vinda do Senhor". (Joel
2:31). "As estrelas recolherão seu brilho". (Joel 3:15); sim, e "cairão do céu". (Apocalipse
6:13), saindo fora de suas órbitas. E, então, ouvir-se-á o grito universal, de todas as
companhias do céu, seguidas pela "voz do arcanjo", proclamando a aproximação do Filho
de Deus e Homem, "e a trombeta de Deus", soando um alarme, para todos que dormem no
pó da terra (I Tessalonicenses 4:16). Em conseqüência disto, todas as sepulturas se abrirão,
e os corpos dos homens se erguerão. O mar também desistirá do morto que está nele
(Apocalipse 20:13), e cada um deverá ressuscitar com "seu próprio corpo": sua própria em
essência, embora tão mudado em suas propriedades, como nós não podemos agora
conceber. "Porque este corruptível", então, "se revestirá de incorruptibilidade" (I Cro.
15:53). Sim, "morte e Hades", o mundo invisível, "entregarão o morto que está neles"
(Apocalipse 20:13). De modo que todo que sempre viveu e morreu, desde que Deus criou o
homem ressuscitará incorruptível e imortal.

2. Ao mesmo tempo, "O Filho do Homem enviará seus anjos", sobre toda a terra; "e
eles reunirão seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade a outra". (Mateus
24:31). E o próprio Senhor virá com nuvens, em sua própria glória, e a glória de seu Pai,
com dez mil de seus santos, até mesmo, miríades de anjos, e deverá se sentar no trono de
sua glória. "E, diante dele, se reunirão todas as nações; e separará uns dos outros, e
estabelecerá a ovelha", o bom, "de seu lado direito, e os bodes", o mau, "do lado
esquerdo". (Mateus 25:31, etc.). Concernente a esta assembléia geral é que, o amado
discípulo fala assim: "Eu vi o morto", todo que estavam mortos, "pequeno e grande, de pé,
diante de Deus; e os livros foram abertos" (uma expressão figurativa, referindo-se
plenamente à maneira de proceder entre os homens), "e o morto foi julgado, por aquelas
coisas que estavam escritas nos livros, de acordo com suas obras". (Apocalipse 20:12).

II

Estas são as principais circunstâncias que estão registradas nos oráculos de Deus,
como precedendo o julgamento geral. Nós, Em Segundo Lugar, consideraremos o próprio
julgamento, até onde agrade a Deus revelá-lo.

1. A pessoa, através de quem Deus julgará o mundo, é seu Unigênito Filho, cujas
"saídas são da eternidade"; "que é Deus sobre todos, abençoado para sempre". Junto a
Ele, sendo "o irradiador da glória de seu pai; a imagem expressa de sua pessoa".
(Hebreus 1:3); o Pai "confiou todo julgamento, porque Ele é o Filho do Homem". (João
5:22, 27); porque, embora Ele fosse "na forma de Deus, e embora não fosse roubo ser
igual com Deus, ainda assim Ele se esvaziou, tomando para si a forma de um servo, sendo
feito na semelhança de homens". (Filipenses 2:6-7); assim, porque "sendo encontrado na
atualidade como um homem, ele se humilhou", ainda mais além, "tornando-se obediente à
morte, até mesmo, a morte na cruz. Pelo que Deus tem altamente exaltado a Ele"; mesmo
em sua natureza humana, e "ordenado a Ele", como Homem, a experimentar os filhos dos
homens, "a ser Juiz, tanto do desperto, quanto do morto"; ambos daqueles que estarão
vivos na sua vinda, e aqueles que se reuniram antes aos seus antepassados.

2. O tempo, denominado pelo profeta, "o grande e terrível dia", é usualmente,


intitulado o dia do Senhor, nas Escrituras. O espaço da criação do homem sobre a terra, até
o fim de todas as coisas, é o dia dos filhos dos homens; o tempo que está agora passando
sobre nós é propriamente nosso dia; quando este acabar, o dia do Senhor começará. Mas
quem pode dizer por quanto tempo ele continuará? "Para o Senhor, um dia é como mil
anos, e mil anos como um dia". (II Pedro 3:8). E, desta mesma expressão, alguns dos
antepassados esboçaram aquela inferência, aquele, que é comumente chamado o dia do
julgamento, seria, de fato, mil anos; e parece que eles não foram além da verdade; mais do
que isto: provavelmente eles não avançaram para ela. Porque, se nós considerarmos o
número de pessoas que serão julgadas, e as ações que serão inquiridas nisto, não parece que
mil anos serão suficientes para as transações daquele dia; de maneira que não pode ser
improvável abranger diversos mil anos. Mas Deus deverá revelar isto também a seu tempo.

3. Com respeito ao lugar onde a humanidade será julgada, nós não temos relato
explícito nas Escrituras. Um eminente escritor (mas não ele apenas; muitos têm sido da
mesma opinião) supõe que seja na terra, onde as obras foram feitas, e pelas quais eles serão
julgados; e que Deus, com este objetivo também, empregará os anjos de sua força --

Para suavizar e estender o espaço ilimitado;


E expandir uma área para toda a raça humana.

Mas, talvez, seja mais de acordo com o próprio relato do Senhor, de sua vinda nas
nuvens, supor que será acima da terra, se não, "duas vezes uma altura planetária". E esta
suposição não é pouco favorecida pelo que Paulo escreve aos Tessalonicenses: "O morto
em Cristo ressuscitará, primeiro. Então, nós que permanecermos vivos, seremos
arrebatados com eles nas nuvens. Para encontrarmos o Senhor no ar" (I Tessalonicenses
4:16-17). De maneira que parece mais provável que o grande trono branco será altamente
exaltado acima da terra.

4. As pessoas a serem julgadas, quem pode contar, algo mais do que as gotas da
chuva, ou as areias do mar? "Eu vi", diz João, "uma grande multidão que nenhum homem
pode calcular, vestida com seu manto branco, e palmas em suas mãos". Quão imenso,
então, deve ser o total da multidão de todas as nações, e afins, e pessoas, e línguas, de todos
que surgiram dos lombos de Adão, desde que o mundo começou, até que o tempo não mais
existisse! Se nós admitirmos a suposição comum, que parece, de forma alguma, absurda de
que a terra suporta, a qualquer tempo, não menos do que quatrocentos milhões de almas
viventes, homens, mulheres, e crianças, o que uma congregação dessas gerações, que têm
sucedido, umas às outras, por sete mil anos, deve fazer!

O mundo do grande Xerxes, em armas, o orgulhoso anfitrião de Cannae,


Todos estão aqui; e aqui todos estão perdidos.
Os seus números avolumam-se, para serem discernidos em vão;
Perdidos, como uma gota no alto-mar sem fim.

Todo homem, toda mulher, toda crianças dos dias, que sempre respiraram o ar vida,
ouvirão a voz do Filho de Deus, e voltar à vida, e aparecer diante Dele. E isto parece ser a
significação natural daquela expressão: "o morto, pequeno e grande": todos
universalmente; todos, sem exceção, todos de todas as idades, sexo, ou grau; todas que
alguma vez viveram e morreram, ou foram submetidos a tal mudança, que será equivalente
com a morte. Porque, muito tempo antes deste dia, a grandeza do espírito humano
desaparece, e mergulha no nada. Até mesmo, no momento da morte, este desaparece. Quem
é rico ou grande dentro da sepultura?

5. E todo homem deverá "dar um relato de suas próprias obras"; sim, um relato
verdadeiro e completo de tudo que ele sempre fez, enquanto no corpo, se foi bom ou mau.
Ó que cena será, então, descortinada, às vistas de anjos e homens! -- Enquanto não o
mitológico Rhadamanthus [um dos três juizes do Hades, juntamente com Minos, Acacus];
mas o Senhor Deus Altíssimo, que conhece todas as coisas no céu e terra --

Sobre estes reinos lúgubres o inflexível Rhadamanthus reina;


Detecta cada vilão astuto, e o constrange
a reconhecer os crimes, por muito tempo encobertos aos olhos humanos:
Em vão! Agora tudo se apresenta na odiada luz.

Não somente todas as ações de todos os filhos dos homens serão, então, trazidas à
vista, mas todas as suas palavras; uma vez que "toda palavra vã que os homens falarem,
eles darão conta delas no dia do Juízo". (Mateus 12:36-37); de maneira que "pelas tuas
palavras", assim como obras, "tu serás justificado; e pelas tuas palavras, tu serás
condenado". Deus, então, não trará à luz toda circunstância também que acompanhou cada
palavra ou ação, e se não reformou a natureza, ainda assim, diminuiu ou aumentou a
bondade ou maldade deles? E quão fácil é isto para aquele que está "ao redor de nossa
cama, ou ao redor de nosso caminho, e espia todos os nossos caminhos!". Nós sabemos
que "a escuridão não é trevas para ele, mas a noite brilha como o dia".

6. Sim, Ele trará ao conhecimento, não apenas as obras ocultas da escuridão, mas os
próprios pensamentos e intenções do coração. E qual a surpresa? Já que ele "sonda os
desígnios, e entende todos os nossos pensamentos". "Todas as coisas são descobertas e
reveladas aos olhos daquele, com quem lidamos". "Inferno e destruição estão diante dele,
sem uma capa. Quanto mais os corações dos filhos dos homens!".

7. E neste dia, revelar-se-á toda obra interior de toda alma humana; todo apetite,
paixão, inclinação, afeição, com as várias combinações deles, com todo temperamento e
disposição que constituem todo o complexo caráter de cada indivíduo. Assim, será clara e
infalivelmente visto, quem era reto, e quem não era; e em que grau toda ação, ou pessoa, ou
caráter estava tanto com respeito ao bem, quanto com respeito ao mal.

8. "Então, o Rei dirá a eles, do seu lado direito: 'Venham, vocês, abençoados de
meu Pai. Porque eu estava faminto, e me deram alimento; sedento, e me deram de beber;
um estranho, e me acolheram; nu, e me vestiram'". De igual maneira, todo o bem que
fizeram sobre a terra será citado diante de homens e anjos; o que quer que tenham feito,
tanto em palavra quanto em ação, no nome, ou por causa do nome do Senhor Jesus. Todos
os seus bons desejos, intenções, pensamentos; todas as suas santas disposições, tudo será
lembrado; e parecerá que, embora eles fossem desconhecidos ou esquecidos em meio aos
homens, ainda assim, Deus os anotou no livro Dele. Todos os seus sofrimentos, igualmente,
por causa do nome de Jesus, e do testemunho de uma boa consciência serão mostrados pelo
Juiz reto, para o louvor deles; sua honra diante de santos e anjos, e o aumento desta "um
peso de glória, muito mais excedente e eterno".

9. Mas seus maus feitos também (uma vez que consideramos que não existe um
homem sobre a terra, que em toda sua vida, nunca pecou); esses também serão lembrados,
naquele dia, e mencionados na grande congregação? Muitos crêem que eles não serão; e
perguntam: "Isto não implicaria que seus sofrimentos não estariam no fim, até mesmo,
quando a vida terminou? – uma vez que eles ainda teriam tristeza, e vergonha, e embaraço
para suportar". Eles perguntam além: "Como isto pode ser reconciliado com a declaração
de Deus, através do profeta, -- 'Se o pecaminoso, se voltar dos pecados que cometeu, e
mantiver Meus estatutos, e fizer o que é lícito e correto; todas as transgressões que ele
cometeu, não mais serão mencionadas junto a ele?' (Ezequiel 18:21-22). Como isto é
consistente com a promessa que Deus fez a todos que aceitaram a aliança do evangelho:
'Eu perdoarei suas iniqüidades, e se seus pecados não mais me lembrarei?' (Jeremias
31:34). Ou, como o Apóstolo expressa: 'Serei misericordioso para com sua falta de retidão,
e de seus pecados e iniqüidades eu não mais me lembrarei?'" (Hebreus 8:12).

10. Pode ser respondido: isto é aparentemente e absolutamente necessário, para a


completa ostentação da glória de Deus; para a clara e perfeita manifestação de sua
sabedoria, justiça, poder e misericórdia, para com os herdeiros da salvação; para que todas
as circunstâncias de suas vidas possam ser evidentes, juntamente com todos os seus
temperamentos, e todos os desejos, pensamentos e intenções de seus corações: do contrário,
como se tornaria aparente, da profundidade do pecado e miséria, que a graça de Deus os
livrou? E, de fato, se toda a vida dos filhos dos homens não forem manifestadamente
revelada, toda a contextura maravilhosa da providência divina não poderia ser manifestada;
nem seríamos capazes, em milhares de instâncias, de "justificar os caminho de Deus ao
homem". A menos, que as palavras de nosso Senhor fossem cumpridas em seu sentido mais
extremo, sem qualquer restrição ou limitação: "Não existe coisa alguma oculta que não
possa ser revelada; ou desconhecida que não possa ser conhecida" (Mateus 10:26);
abundância das dispensações de Deus, sob o sol, ainda pareceria sem razão de ser. E, então,
apenas quando Deus trouxe à luz todas as coisas da escuridão, foi possível ver que sábio e
bom foram todos os seus caminhos; quaisquer que fossem os autores nela; que ele viu,
através da grossa nuvem, e governou todas as coisas, através do sábio conselho de sua
própria vontade; que nada foi deixado para a sorte ou capricho de homens, mas Deus dispôs
tudo forte e docemente; forjou tudo dentro de uma corrente de justiça, misericórdia e
verdade.

11. E no descobrimento das perfeições divinas, o reto regozijar-se-á com alegria


inexprimível; longe de sentir alguma tristeza ou vergonha dolorosa, por alguma dessas
transgressões passadas que desde então, se desfizeram como uma nuvem, lavadas pelo
sangue do Cordeiro. Será abundantemente suficiente que todas as transgressões que eles
cometeram não devam ser, uma vez mais mencionadas, em prejuízo deles; que seus
pecados, e transgressões, e iniqüidades não devam mais ser lembrados, para a condenação
deles. Este é o significado claro da promessa; e isto, todos os filhos de Deus deverão se
certificar como verdade, para o conforto eterno deles.

12. Depois dos justos serem julgados, o Rei se voltará para aqueles à sua esquerda; e
eles também deverão ser julgados; cada homem, de acordo com suas obras. Mas não apenas
suas obras exteriores serão trazidas para o relato, mas todas as palavras pecaminosas que
eles, alguma vez, falaram; sim, todos os desejos, afeições, temperamentos maus, que têm,
ou tiveram um lugar em suas almas; e todos os pensamentos ou desejos maus, que alguma
vez, foram nutridos em seus corações. A alegre sentença da absolvição será, então,
pronunciada junto àqueles, à sua direita; e a terrível sentença da condenação, sobre aqueles
à esquerda; ambos devendo permanecer fixos e imóveis, como o trono de Deus.

III

1. Nós podemos, em Terceiro Lugar, considerar algumas das circunstâncias que se


seguirão ao julgamento geral. E a primeira é a execução da sentença proferida sobre o mau
e sobre o bom: "Esses deverão seguir para a punição eterna, e o reto para a vida eterna".
Deve-se observar, que se trata da mesma palavra que é usada, ambos no primeiro e no
último caso. Segue-se que tanto a punição dura para sempre, quanto a recompensa virá
também para um fim: -- Não, nunca, a menos que viesse para um fim, ou sua misericórdia e
verdade falhassem. "Então, os retos brilharão, como o sol, no reino de seu Pai", "e deverão
beber daqueles rios de prazer que estão à direita de Deus, sempre mais". Mas aqui toda
descrição falha; toda linguagem humana falha! Apenas alguém que alcançou o terceiro céu
poderá ter uma justa concepção dele. Mas, até mesmo este é um que não pode expressar o
que ele tem visto: essas coisas não são possíveis do homem proferir.
O perverso, nesse meio tempo, deverá seguir para o inferno; mesmo todas as
pessoas que se esqueceram de Deus. Elas serão "punidas com a destruição eterna, da
presença do Senhor, e da glória de seu poder". Elas serão "lançadas no fogo com
enxofre!", originalmente "preparado para o demônio e seus anjos"; onde corroerão suas
línguas, por causa da agonia e dor; amaldiçoarão a Deus e olharão para o alto. Lá os cães do
inferno, -- orgulho, malícia, vingança, raiva, horror, desespero, -- as devorarão
continuamente. Lá "elas não terão descanso, dia e noite, mas a fumaça do tomento delas se
elevará para sempre e sempre!". Porque "o verme delas não morre, e o fogo não é extinto"
(Marcos 9:48).

2. Então, os céus se contrairão, como um pergaminho, e desaparecerão com um


grande barulho: Eles "fugirão da face Daquele que se senta no trono, e não se encontrará
lugar para eles". (Apocalipse 20:11). A mesma forma da passagem deles é desvendada a
nós, pelo Apóstolo Pedro: "No dia do Senhor, os céus, em fogo, deverão dissolver-se-ão".
(II Pedro 3:12). Toda a bonita estrutura será destruída, por aquele elemento feroz, a
conexão de todas as partes destruídas, e cada átomo se separar, um do outro. Através do
mesmo processo, "a terra também, e as obras que nela existem, se queimarão" (verso 10).
As obras enormes da natureza, as colinas eternas, as montanhas que desafiaram a ira do
tempo, e permaneceram imóveis por muitos milhares de anos, irão sucumbir em ruína
ígnea. Quanto menos as obras da inteligência, embora do tipo mais durável, os mais
extremos esforços da habilidade humana – túmulos, conquistador! Tudo; tudo irá morrer,
perecer, desaparecer, como um sonho quando alguém acorda.

3. De fato, alguns grandes e bons homens têm imaginado, que, da mesma forma que
se requer aquele mesmo poder altíssimo para aniquilar as coisas, assim se requer para criar;
falar no vazio, ou fora dele; então, nenhuma parte dele, nenhum átomo no universo, será
totalmente destruída finalmente. Antes, eles supõem que a última operação do fogo, que
ainda é possível observarmos, será reduzir para vidro o que, por uma força ainda menor,
reduziu-se a cinzas; assim, no dia em que Deus ordenou, toda a terra, se não os materiais
celestes também, sofrerão esta mudança, depois do que, o fogo terá não mais poder sobre
eles. E eles acreditam isto é anunciado por aquela expressão na Revelação, feita a João:
"Diante do trono havia um mar de vidro, como cristal" (Apocalipse 4:6). Nós não
podemos agora, nem afirmar, nem negar isto; mas nós deveremos saber daqui por diante.

4. Se for inquirido pelos zombadores, os filósofos precisos: "Como essas coisas


podem ser? De onde virá tal imensa quantidade de fogo, de maneira a consumir os céus e
todo o globo terrestre?". Nós pediríamos licença, Em Primeiro Lugar, lembrando a eles,
que esta dificuldade não é peculiar ao sistema cristão. A mesma opinião quase
universalmente é obtida em meios aos ateus não devotos.

Mas, Em Segundo Lugar, é fácil responder, até mesmo, da nossa leve e superficial
familiaridade com as coisas naturais, que existem abundantes depósitos de fogo, prontos, e
empilhados, preparados para o dia do Senhor. Quão breve, um cometa autorizado por Ele
pode viajar, vindo das partes mais distantes do universo! E fosse fixar-se sobre a terra em
seu retorno do sol, quando ele está algumas milhares de vezes mais quente do que a bala de
canhão incandescente, quem não vê qual deveria ser a conseqüência imediata? Mas, não
subindo tão alto como nos céus etéreos, os mesmos raios que "fornecem luz ao mundo", não
poderiam, se comandados pelo Senhor da natureza, causar ruína e a mais extrema
destruição? Ou, para ir não mais além do que o próprio globo; quem sabe que enormes
reservatórios de fogo líquido existem, desde os primórdios, contidos nas entranhas da terra?
Aetna, Hecla, Vesúvio, e todos os outros vulcões que causam erupções de chamas e carvões
de fogo, o que eles são muitas das provas e bocas daquelas fornalhas ígneas; ao mesmo
tempo, que as tantas evidências de que Deus tem pronto o recurso para cumprir Sua
palavra? Sim, onde observamos, não mais do que a superfície da terra, e as coisas que nos
cercam, é mais certo (como provam milhares de experimentos, além de toda possibilidade
de negação) que nós mesmos, nossos corpos todos, estão cheios de fogo, assim como tudo à
nossa volta. Será que não é fácil tornar este fogo etéreo, visível, até mesmo a olho nu, e
produzir, por meio dele, os mesmos efeitos na matéria combustível, que são produzidos
pelo fogo culinário? É preciso, então, algo mais do que Deus, para abrir aquela algema
secreta, por meio da qual este agente irresistível está agora preste a descer, e se estende
imóvel em cada partícula da matéria? E quão logo ele não rasgaria a moldura universal em
pedaços, e envolveria tudo em uma ruína comum!

5. Existe uma circunstância mais que seguirá o julgamento, e que merece nossa séria
consideração: "Nós esperamos", diz o Apóstolo, "de acordo com sua promessa, por novos
céus e nova terra, em que habitará o reto" (II Pedro 3:13). A promessa se coloca na
profecia de Isaías: "Observe, eu crio novos céus e nova terra; e a anterior não deverá ser
mais lembrada" (Isaías 65:17); tão grande deverá ser a glória da mais recente! Isto, João
observou nas visões de Deus. "Eu vi", disse ele, "um novo céu e uma nova terra; porque o
primeiro céu, e a primeira terra já se passaram". (Apocalipse 21:1); E apenas o reto
habitará nela: assim sendo, ele acrescenta: "E eu ouvi uma grande voz" do terceiro "céu,
dizendo, observe, o tabernáculo de Deus está com os homens, e Ele habitará com eles, e
eles serão seu povo, e o próprio Deus estará com eles, e será seu Deus". (21:3).
Inevitavelmente, todos serão felizes: "Deus enxugará todas as lágrimas; e não haverá mais
morte, nem tristeza, nem pranto, nem haverá mais dor alguma". (21:4). "Não haverá mais
maldição; mas eles verão Sua face". (21:3-4), -- e terão acesso mais próximo a Ele, e de lá,
a mais sublime imagem Dele. Esta é a mais forte expressão na linguagem das Escrituras, a
denotar a mais perfeita felicidade. "E Seu nome estará em suas frontes"; eles,
declaradamente, se reconhecerão como propriedade de Deus, e a gloriosa natureza Dele
mais visivelmente brilhará neles. "E não haverá noite lá; e não necessitarão de velas, nem
luz do sol; porque o Senhor dará luz a eles; e eles reinarão para sempre e sempre".

IV

Resta apenas aplicar as considerações precedentes a todos que estão aqui diante de
Deus. E nós não somos diretamente conduzidos a assim fazer, através da presente
solenidade que tão naturalmente nos aponta para aquele dia, quando o Senhor julgará o
mundo na retidão? Isto, portanto, por nos fazer lembrar daquela mais terrível ocasião, pode
nos fornecer muitas lições de instrução. Em algumas poucas dessas, me é permitido tocar.
Possa Deus escrevê-las em todos os nossos corações!

1. Em Primeiro Lugar, quão bonita é a determinação daqueles que são enviados pela
sábia e graciosa providência de Deus, no executar justiça sobre a terra, no defender o
injuriado, e punir o malfeitor! Eles não são os ministros de Deus para nos fazer bem; os
grandes alicerces da tranqüilidade pública, os padrões de inocência e virtude; a grande
segurança de todas as nossas bênçãos temporais? E cada um desses não representa, não
apenas um príncipe mundano, mas o Juiz da terra? Ele, cujo "nome está escrito em sua
coxa, Rei dos reis, e Senhor dos senhores?". Ó, que todos esses filhos, do lado direito do
Altíssimo, possam ser tão santos, como Ele é santo! Sábio com a sabedoria que se senta ao
seu trono, como Ele, que é a Sabedoria eterna do Pai! Que não olha as pessoas, como se
fossem nada; mas retribui a cada homem, de acordo com suas obras; como ele, justa
inflexibilidade, e inexorabilidade, embora cheio de compaixão e misericórdia terna! Assim,
eles serão terríveis, de fato, para aqueles que fazem o mal, como não carregando a espada
em vão. Assim, as leis de nossa terra terão uso pleno e honra devida, e o trono de nosso rei
será ainda estabelecido na retidão.

2. Vocês homens verdadeiramente honrados, aos quais Deus e o rei têm


comissionado, em um grau menor, para administrarem justiça; vocês não podem ser
comparados àqueles espíritos ministrantes que atenderão ao Juiz vindo nas nuvens? Que
vocês possam, como eles, amar a Deus e ao homem! Que vocês possam amar a retidão, e
odiar a iniqüidade! Que vocês todos, ministros, em suas diversas esferas (tal honra Deus
deu também a vocês, como a eles que serão seus herdeiros da salvação, e para a glória de
seu grande soberano!) possam continuar os fundadores da paz, a bênção e ornamentos de
nossa região, os protetores de uma terra culpada, os anjos guardiões de todos que estão em
redor de vocês!

3. Você, cujo ofício é executar o que lhe é confiado em responsabilidade, por aquele
diante de quem você está; quão proximamente vocês estão preocupados em assemelhar-se
àqueles que estão diante da face do Filho do homem; aqueles servos Dele que fazem de
acordo com seu prazer, e ouvem atentamente a voz de suas palavras! Não importa a vocês
grandemente serem tão corruptos quanto eles? Mostrarem-se à altura dos servos de Deus?
Fazer justiça e misericórdia amorosa? Fazer tudo que você gostaria que eles fizessem a
você? Assim, aquele grande Juiz, sob cujos olhos você se situa continuamente, diz a você
também: "Bem feito, bons e fiéis servos; regozijem-se de seu Senhor!".

4. Permita-me acrescentar algumas poucas palavras a todos vocês que estão, neste
presente dia, diante do Senhor. Vocês não poderiam suportar em suas mentes, durante todo
o dia, que um dia mais terrível está vindo? Que grande assembléia esta! Mas o que é isto,
para aquela que todo olho irá, então, ver; a grande assembléia de todos os filhos dos
homens que alguma vez viveu sobre a face de toda a terra? Hoje em dia, poucos estarão na
cadeira de julgamento, para serem julgados no tocante ao que foi colocado sob a
responsabilidade deles; e eles estão agora restritos em prisão; talvez, algemados, até que
sejam trazidos para serem julgados e sentenciados. Mas nós todos deveremos "nos sentar
na cadeira de julgamento de Cristo"; eu que falo, e vocês que ouvem. E estamos agora
restritos nesta terra, que não é nosso lar, nesta prisão de carne e sangue; talvez, muitos de
nós em algemas de escuridão também, até que sejamos trazidos adiante. Aqui, um homem é
questionado, concernente a um ou dois fatos, que se supõe, ele tenha cometido; lá nós
deveremos prestar contas de todas as nossas obras, do berço à sepultura; de todas as nossas
palavras; de todos os nossos desejos e temperamento; todos os pensamentos e intentos de
nossos corações; de todo o uso que fizemos de nossos vários talentos, quer de mente, corpo,
ou fortuna, até que Deus nos disse: "Dá um relato de tua mordomia, porque tu não serás
mordomo por muito tempo mais". Nesta corte, é possível que alguns que sejam culpados
possam escapar por necessidade de evidência; mas não haverá falta de evidência naquela
corte. Todos os homens, com os quais vocês têm o mais secreto intercurso, que foram
privados de todos os seus desígnios e ações, estão prontos diante de sua face. Assim, estão
todos os espíritos da escuridão, que inspiraram os maus desígnios e os assistiram na
execução deles. Também estão todos os anjos de Deus; aqueles olhos do Senhor, que
seguiram de um lado para outro sobre toda a terra, que vigiaram suas almas, e trabalharam
para seu bem, tanto quanto vocês lhes permitiram. Assim está sua própria consciência;
milhares de testemunhas em uma; agora não mais capaz de ser tanto cega quanto silenciada,
mas constrangida a saber e a falar a verdade nua, no tocante a todos os seus pensamentos, e
palavras e ações. E a consciência é como milhares de testemunhas? --- sim, mas Deus é
como milhares de consciências! Ó, quem poderá situar-se diante da face do grande Deus,
até mesmo, de nosso Salvador Jesus Cristo!

Veja! Veja! Ele vem! Ele faz das nuvens suas carruagens! Ele cavalga junto às asas
do vento! Um fogo devorador vem antes dele, e depois Dele, uma chama flamejante! Veja!
Ele se senta em seu trono, vestido com luz como um ornamento, enfeitado com majestade e
honra! Observe, seus olhos são como a chama do fogo, sua voz como o som de muitas
águas!

Como você escapará? Você pedirá às montanhas para caírem sobre você, as rochas
para o cobrir? Ai de mim, as próprias montanhas, as rochas, a terra, os céus estão prontos
para fugirem! Você pode impedir a sentença? Por meio do que? Com todos os materiais da
sua casa; com milhares de ouro e prata? Pobre cego! Tu vieste nu do ventre de tua mãe, e
mais nu para a eternidade. Ouve o Senhor, o Juiz! "Vem, abençoado de meu pai, herdeiro
do reino, preparado para ti, desde a fundação do mundo". Som jubiloso! Quão
amplamente diferente daquela voz que ecoa, através da expansão do céu: "Parta você,
praguejador, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos!". E quem é aquele
que poderá impedir ou retardar a completa execução de uma sentença ou outra? Esperança
vã. Veja que o inferno se moveu abaixo para receber aqueles que estão prontos para a
destruição. E as portas eterna se abrem, para que os herdeiros da glória possam entrar!

5. "Que tipo de pessoas, então, devemos ser, em todo modo de vida e devoção
santa!". Nós sabemos que não poderá ser muito tempo antes que o Senhor desça com a voz
do arcanjo e a trombeta de Deus; quando cada um de nós deverá aparecer diante Dele, e dar
um relato de suas próprias obras. "Pelo que, amados, vendo que vocês procuram por essas
coisas"; vendo que vocês sabem que Ele virá e não tardará, "sejam diligentes, para que
vocês possam ser encontrados por Ele, em paz, sem marca ou culpa". Porque vocês não
deveriam? Porque algum de vocês deva ser encontrado, do lado esquerdo, no aparecimento
Dele? Ele não vai querer que alguém pereça, mas que todos possam vir para o
arrependimento; através do arrependimento, para a fé no Senhor que sangra; através da fé,
para o amor puro, para a completa imagem de Deus, renovada no coração, e produzindo
toda santidade de vida. Vocês podem duvidar disto, quando vocês se lembram que o Juiz de
todos é igualmente o Salvador de todos? Ele não os comprou com seu próprio sangue, para
que vocês não pudessem perecer, mas tivessem a vida eterna? Ó, façam prova de sua
misericórdia, preferivelmente, do que de sua justiça; de seu amor, preferivelmente, do que
do estrondo de seu poder! Ele não está longe de cada um de nós; e Ele está vindo agora, não
para condenar; mas, para salvar o mundo, Ele se coloca no meio! Pecadores, agora, até
mesmo agora, Ele não bate à porta de seus corações? Ò, que vocês possam saber, pelo
menos neste dia, as coisas que pertencem a sua paz! Ó, que vocês possam agora dar a si
mesmos a Ele que deu de Si mesmo por vocês, em fé humilde, em amor santo, ativo,
paciente! Assim vocês se regozijarão com excedente alegria no dia Dele, quando Ele vier
nas nuvens do céu.

Introdução de Sugden

Este sermão foi acrescido, na edição de 1771, parcialmente, por conta da ocasião
sem paralelo de sua entrega; parcialmente, porque não havia sermão, no original quarenta e
quatro, sobre este assunto. Wesley fala sobre ele em seu Diário, em 1º. De Setembro de
1778: "Eu não posso escrever um [sermão] melhor sobre o Grande Julgamento, do que eu
fiz há vinte anos atrás". Era costumeiro para os juízes de Tribunal atenderem um serviço na
paróquia da cidade, em que eles tivessem assento, em todo o esplendor de seu escarlate e
arminho, com seus trombeteiros, lanceiros, e outros oficiais da Corte em atendimento; e era
uma das obrigações do Alto Xerife do Condado realizar preparativos para a pregação do
sermão. O Sr. William Cole, que era alto Xerife de Bedfordshire, naquele tempo, era amigo
de Wesley, e foi seu anfitrião em Novembro de 1759. Ele viveu em Sundon, uma vila um
pouco a leste da estrada principal de Luton para Bedford, cerca de cinco milhas norte de
Luton. Provavelmente, ele fez os preparativos para o sermão do Julgamento, quando
Wesley estava em Bedford, em Novembro de 1757; e na segunda-feira, 27 de Fevereiro,
Wesley registra: "Tendo um sermão escrito em preparação para os Julgamentos, em
Bedford, eu me retirei por alguns poucos dias para Lewisham" – sem dúvida, para a casa
do Sr. Ebenezer Blackwell. Ele deixou Londres, na segunda-feira, dia 6 de Março, às sete
da manhã, e alcançou a casa do Sr. Cole, em Sundon, pelas três horas da tarde. Na quinta-
feira, ele cavalgou para Bedford, esperando pregar neste dia; mas, por alguma razão,
provavelmente, porque os casos no Julgamento prévio tomaram mais tempo do que foi
antecipado, o serviço foi adiado para o dia seguinte. O serviço aconteceu na manhã, na
Igreja de St. Paul, um dos principais ornamentos arquitetônicos da cidade. Ela se situa no
lado norte do Rio Ouse, e tem uma fina torre e um pináculo octogonal. A velha pedra do
púlpito, da qual Wesley pregou, ainda está preservada na nave sul, e uma fotografia dela e
da igreja pode ser vista na edição padrão do Diário – vol. 4. p. 403. O Diário recorda: "A
congregação de St. Paul era muito grande e muito atenciosa. O juiz, imediatamente depois
do sermão, enviou-me um convite para jantar com ele; mas não tendo tempo, eu fui
obrigado a enviar minhas desculpas, e partir entre um e duas horas". Ele tinha que
alcançar Epworth, para o Domingo, e chegou a Stilton, cerca de trinta milhas, por volta das
sete horas. Na manhã seguinte, ele começou, entre quatro e cinco horas, e através da geada
e inundação percorreu as noventa milhas para Epworth, por volta das dez daquela noite. Ele
diz: "Eu estava pouco mais cansado, do que quando eu me levantei na manhã!" – Um
homem baixo, magro, e resistente ele era!

O juiz nesta ocasião foi Sir Edward Clive, que tinha sido feito Juiz das Contestações
Comuns, e cavaleiro em 1753. Ele era exatamente um ano mais jovem do que John Wesley,
e morreu em 1771. Uma caricatura dele pode ser encontrada na ilustração de Hogarth, "O
Juiz", publicada neste mesmo ano, 1758. Ele está sentado entre o Ministro do Supremo
Tribunal Willes e o Sr. Juiz Bathurst, que caiu no sono. Ele é representado como uma
pequena cabeça, quase perdida em sua cabeleireira, funda, um nariz longo, fino, e um
queixo quebra-nozes. O sermão foi publicado separadamente por Trye, naquele mesmo ano,
a pedido do Alto Xerife e outros, e teve algumas dez edições durante a vida de Wesley. O
Rev. Richard Green o chama de "um modelo de sermão", e diz: "Ele é bem estruturado,
claro, prático, sincero; as afirmações são todas apoiadas nas Escrituras apropriadas, e a
verdade fielmente aplicada à consciência". O título "O Grande Julgamento" foi um nome
familiar para o Último Julgamento; ele é encontrado já no ano de 1340, em Remorsos da
Consciência de Hampole, 5514, e diversas outras instâncias são dadas no Dicionário
Oxford. "Assize". A nota preliminar, "Pregado, quando do Julgamento", etc, nas edições
modernas é da página título da segunda edição, também publicado em Londres por Tyre;
ele aparece na forma abreviada na edição de 1771, sem a última clausula "Publicada a
pedido", etc.

Dois pontos no sermão chamam para o criticismo [sistema filosófico de Kant, que
procura determinar os limites da razão humana; racionalismo crítico], na visão de recentes
investigações no ensino escatológico do Novo Testamento. Em Primeiro Lugar, Wesley
identifica, sem discussão, o Dia de Jeová do Velho Testamento, profetas e os Apocalípticos
escritores judeus, com o Dia da segunda vinda de nosso Senhor, a ressurreição geral, e o
último Julgamento, dos documentos do Novo Testamento; e ele usa indiscriminadamente
passagem de todas essas fontes para dar detalhes e caráter pitoresco à seu quadro. Além
disso, ele adota a mais literal interpretação delas todas, o único ponto em que ele evita
sendo a duração do Dia do Julgamento, que ele pensa "não pode improvavelmente
compreender diversos milhares de anos"; e o abrir dos livros, que ele diz é "uma expressão
figurativa". Dificilmente se poderá duvidar de que o ensino de nosso Senhor foi largamente
influenciado pelo Velho Testamento e concepção apocalíptica, especialmente em Suas
predições a respeito da destruição de Jerusalém e da política judaica; mas Ele acrescentou a
isto, a idéia de um julgamento individual, assim como nacional, e estendeu seu escopo para
o mundo todo.

Em Segundo Lugar, Wesley adota uma visão de que o Ultimo Julgamento terá
lugar em algum tempo definido, na história futura do mundo, quando as vidas de todos os
homens serão revistas e a sentença pronunciada junto a eles. Este é certamente o
significado óbvio do ensino dos livros do Novo Testamento, que foram escritos antes da
destruição de Jerusalém pelos romanos; mas quando aquela tremenda catástrofe tomou
lugar, e tornou-se claro que o Grande Julgamento e o fim da Era não tinha vindo,
encontramos nos escritos de João, uma nova maneira de ensino, implicando que o
Julgamento é realmente contínuo e agora prossegue. Assim, "Ele que crê Nele não é
julgado; ele que não crê já foi julgado... e este é o julgamento, para que a luz
[conhecimento] viesse para o mundo, e os homens amaram a escuridão, preferivelmente do
que a luz; porque as obras deles eram más". (João 3:18). Novamente: "Em verdade, em
verdade, lhes digo que aquele que ouve minha palavra e crê Nele que me enviou terá a vida
eterna e não virá para o julgamento... A hora vem e é agora, quando os mortos ouvirão a
voz do Filho de Deus; e eles que ouvirem, viverão". (João 5:24). Novamente: "Por causa
do julgamento, eu vim para este mundo". (João 9:39). Novamente: "Agora é o julgamento
deste mundo". (João 12:31). Ao mesmo tempo, João também fala de uma ressurreição
futural geral, do "último dia", e "do dia do julgamento". Parece claro: (1) que nosso Senhor
falou nos termos da crente nacional corrente de Seu tempo, que era derivada dos profetas
do Velho Testamento e dos Apocalipses dos períodos pérsios e gregos, o tempo "entre os
Livros"; (2) que Ele usou de métodos de ilustrações, preferivelmente ao método abstrato de
transmitir a verdade para Seus ouvintes. Ele pode, assim, seguramente dizer que os
elementos essenciais de Seu ensino são: 1) que haverá um julgamento universal de todos os
homens; 2) que Ele mesmo será o Juiz; 3) que o padrão do julgamento será Sua própria
vida e ensino; tanto quanto aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo estão
preocupados; 4) que para o pagão, o padrão será a própria consciência dele; 5) que os
resultados do julgamento são decididos nesta vida, e 6) que a decisão será final. Mas quanto
à extensão para a qual Suas representações do Último Julgamento deverão ser tomadas,
quando expressando fato físico literal, nós deveríamos ser mais sábios, se confessássemos
nossa ignorância e nossa inaptidão para alcançarmos alguma conclusão dogmática. Quanto
ao texto, a melhor leitura atestada é: "Nós deveremos todos nos situar diante da cadeira de
julgamento de Deus"; na verdade, este texto é usado por alguns dos Antepassados para
provar a divindade de Cristo, porque ele deixa claro, em muitas passagens que Ele será o
Juiz; e o Juiz é aqui chamado de Deus.

Notas de Rodapé - Sugden

1. "Nosso gracioso Soberano" é George II. Wesley foi sempre intensamente leal.
Em 1744, ele escreveu um Discurso de suas Sociedades para o Rei no qual ele diz:
"Estamos prontos a obedecer à sua Majestade ao extremo, em todas as coisas que
concebemos esteja de acordo [com a Palavra de Deus]. E nós exortamos sinceramente
todos com os quais convivemos, a assim como eles temem a Deus, honrarem o Rei". O
Discurso não foi enviado, principalmente porque poderia significar que os Metodistas eram
"um corpo distinto da Igreja Nacional". Em 1745, o ano da invasão da Inglaterra, pelos
Jovens Pretendentes, ele escreveu ao Prefeito de Newcastle: "Tudo que eu posso fazer pela
Sua Majestade, a quem eu honro e amo – Eu penso não menos do que eu faria ao meu
próprio pai – é isto: eu clamo a Deus, dia a dia, para colocar todos os seus inimigos em
confusão", etc. Quando George II morreu em Outubro de 1760, ele registra em seu Diário
(25 de Outubro): "Rei George reuniu-se aos seus antepassados. Quando a Inglaterra terá
um Príncipe melhor?". Alguém pensa de Carlyle (Sartor 1.9). "A sua peruca de crina de
cavalo dependurada, pele de esquilo, e luva de pelúcia, por meio dos quais todos os
mortais sabem que ele é um JUIZ. A sociedade, que, quanto mais eu penso nela, mais me
espanto, é alicerçada em junto ao Clero". Wesley nunca menosprezou a forma e o
cerimonial; ele próprio vestia trajes cerimoniais para seus estudos bíblicos, com suas
sociedades em Londres e Bristol, e para seus serviços [pregações] no campo.

2. Este parágrafo, finamente e impressivelmente composto, como ele é, é um


desafio a toda exegese profunda. Algumas das palavras citadas referem-se à invasão de
Judá pelos Assírios; algumas, à vinda do Espírito Santo; algumas à destruição de Jerusalém
pelos Romanos; algumas à queda da própria Roma. Todas essas foram, em um sentido,
"dias de Jeová"; mas não havia garantia para transferir todos esses sinais ao dia final de
julgamento, nem para a interpretação literal deles.

Esta justa observação sobre a diferença entre o presente e a ressurreição dos corpos
é desenvolvida, em detalhes, no sermão 138, "Sobre Afligir o Espírito Santo",
originalmente escrito por Benjamim Calamy, e revisado e resumido por Wesley em 1732.
"Essência" e "propriedades" são aqui usadas em seu sentido filosófico; o corpo será o
mesmo em essência (não composto das mesmas partículas materiais), mas suas
propriedades, por exemplo, suas características e qualidades serão inteiramente mudadas.
Acima de tudo, ele será um corpo "pneumático", e não um corpo "físico"; por exemplo, ele
estará bem adaptado para o uso e manifestação do espírito, como o corpo presente é
adaptado para o uso e manifestação da psique ou alma animal.

"Hades" é muito propriamente substituído por "inferno", que está aqui, e, de fato,
em todas as passagens, onde está a tradução de Sheol, ou Hades, que mais impressão errada
dá ao leitor inglês. Ele é o mundo dos espíritos que partiram, e não o lugar de punição do
Diabo e seus anjos.

3. "Todas as nações" -- mais exatamente "todos os gentios". Este relato do


julgamento refere-se apenas ao julgamento das nações pagãs, que não têm ouvido de Cristo;
e o padrão do julgamento não está de acordo com a relação deles para com Ele, mas o
cumprimento de suas obrigações comuns de delicadeza e caridade lá demonstradas. É um
suplemento das três parábolas precedentes do Mordomo, das Virgens, e dos Talentos; a
primeira descrevendo o julgamento do ministro cristão; a segunda e terceira de dois lados
do julgamento daqueles que ouviram o evangelho; primeiro do ponto de vista da fé;
segundo, do ponto de vista das obras.

"O amado discípulo". É certo que Wesley aceita a autoria do Apocalipse como
sendo de João.

4. "Resplendor", mais exato do que "esplendor", O Filho é para o Pai como os raios
de luz são para o sol.

"Embora não seja roubo": melhor, "embora não seja um propósito procurar
alcançar" ser igual com Deus. Ele colocou de lado por um tempo Sua igualdade com o Pai,
que Lhe foi, no entanto, restaurada, quando Deus deu a Ele o nome que está acima de todo
nome.

5. Pole cita de Joseph Mede, "Quod jam dixi diem judicii, non intelligi velim de die
brevi, sive paucarum horarum; sed de spatio mile annorum quibus dies illa durabit"; isto é:
"O dia do Julgamento não é entendido como um dia curto de vinte e poucas horas, mas
como um espaço de milhares de anos, durante o que este dia durará".

6. O "escritor eminente" é Edward Young, o autor de Pensamentos Noturnos. A


citação é de seu poema "O Último Dia" (1721) O original transcorre assim:

Suavizar e estender
Teu espaço ilimitado,
Duas vezes a altura planetária
Young diz: Agora o triunfo descendente interrompe sua luta da terra ocupada, duas
vezes a altura planetária. Presumivelmente, ele quer dizer duas vezes tão distante, quanto a
terra é do planeta mais longínquo. Tudo isto parece preferivelmente de pouco valor solene.

7. "Quatrocentos milhões"; está agora estimado como, mais ou menos, cento e


quinze milhões. Mas alguns poucos milhões, mais ou menos, não merecem consideração
em tal cálculo completamente indeterminado como este. A citação é novamente de Young.
Wesley protesta contra alguém que altere os versos de seu irmão; mas ele nunca hesita em
fazer a mesma coisa com outras pessoas; a passagem original em Young transcorre: --.

O mundo do grande Xerxes, em armas, o orgulhoso anfitrião de Cannae.


Onde Carthage ensinou Roma vitoriosa a se render.
A imortal Belém, a celebrada anfitriã de Ramillia
Todos estão aqui; e aqui todos estão perdidos.
Os seus milhões vendidos para serem discerníveis em vão;
Perdidos, com uma onda em teu alto-mar sem fim.

8. a citação é de Aeneide de Virgílio. O assunto dos verbos é Rhadamanthus, o juiz


místico do morto. Nenhuma tradução é fornecida em 1771 ed. Edições Modernas dão a
versão de Dryden. O significado é "Rhadamanthus de Gnosus aqui mantém o seu bastão de
ferro, e os açoita e ouve suas fraudes, e compele cada homem a confessar as expiações
proteladas até a morte (ai de mim! Muito tarde!), que foram devidas para os crimes que ele
cometeu na terra, regozijando-se em esperança vã de que eles pudessem ser ocultos".

9. "Para justificar o caminho de Deus para o homem": do Paraíso Perdido de


Milton. No original a última linha é "homens".

10. "O terceiro céu". Paulo (II Cor. 12:2) diz como ele alcançou o terceiro céu, ou
paraíso, e ouviu palavras indizíveis que não estão no poder do homem falar. É, duvidoso, se
ele pensou de três céus apenas -- a saber, o céu da atmosfera e nuvens, o céu do sol e
estrelas, e o céu do morto abençoado – ou aceitou a crença judaica no sete céus, do qual o
Paraíso foi o terceiro em ordem de baixo para cima.

Wesley admite nenhuma esperança final para o impenitente, e interpreta


literalmente essas passagens que falam do julgamento deles. No primeiro, contudo, Inferno
é Sheol, e tudo o que o salmista diz é que todas as nações (não as pessoas) que esqueceram
Deus irão partir para o mundo do morto. No Sermão 73, Sobre o Inferno, ele é
completamente explícito quanto à sua crença no tormento sem fim do mau, em material de
fogo. Nenhum desses sermões é, contudo, parte da doutrina padrão Metodista.

11. A destruição final da terra, pelos fogos está completamente dentro dos limites de
possibilidade. O impacto de algumas estrelas viandantes geraria calor suficiente para o
propósito; ou pode ser aquela gravitação que irá, por fim, dominar a força centrífuga e o
arco irá cair no sol. Mas tais especulações são tão infrutíferas quanto incertas; e a idéia no
próximo parágrafo da origem do mar de vidro é meramente grotesca.
12. Cícero é o autor da frase "filósofos precisos". Ele fala no Senect de "Quidam
minuti philosophi," significando levianos, insignificantes. No uso inglês ela
preferivelmente significa meticulosos, precisos, especuladores. Toda esta discussão quanto
à quantidade de fogo é absurda: fogo não é uma coisa, mas um estado de violenta
combinação química; um palito de fósforo é completamente suficiente para causar uma
conflagração, se houver combustível suficiente. Wesley estava ardentemente interessado no
fenômeno elétrico, e foi o primeiro homem na Inglaterra a fazer uso dele como agente
curativo. Seu panfleto chamado "O Desideratum; ou Eletricidade Feita Clara e Útil",
publicado em 1760, detalha muitos dos experimentos de Franklin, tais como extraindo
faíscas do corpo humano ou da pele de um gato. Isto é o que ele pensava quando ele disse
que nossos corpos estão cheios de fogo.

"Livre-Pensador" foi o nome reivindicado pelos Deístas e outros que rejeitaram a


revelação cristã, no início do século dezoito. Aqui Wesley o usa de Ovídio, o poeta romano,
com uma espécie de sugestão de que os livres-pensadores modernos eram semelhantes a ele
em suas visões religiosas. A citação é de Metamorfose, 1256, onde Júpiter, preparando para
arremessar seus raios com trovões, hesita em fazê-lo, a fim de que ele não fixasse o éter
chamejante, "porque ele se lembra que isto está entre os decretos do destino, de que um
tempo virá quando o mar, a terra, e o palácio do céu pegarão fogo e queimarão, e a massa
do mundo, tão laboriosamente construída colocar-se-á em perigo".

13. "Em sua sã consciência"; assim o autor do antigo Poema Kentish Morale diz:
Elch man sceal him then biclupien and ecach sceal him demen; His aye weorc and his
ithanc to witnesse he sceal temen, que traduzido é: Todo homem deverá acusar a si mesmo
lá, e todo homem julgará a si mesmo; sua própria obra e sua consciência, ele trará para
testemunharem.

"Veja! Veja! Ele vem". Uma das mais refinadas e mais comovidas perorações de
Wesley.

[Editado por Jennette Descalzo, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa,


ID), com correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]

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