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Não Existem Coincidências

LOUISE L. HAY
E AMIGOS
Compilação e Edição de Jill Kramer

Não Existem
Coincidências
Como o Destino e a Sincronicidade
Atuam nas Nossas Vidas

Tradução de:
Elisa Evangelista

Pergaminho
CRYSTAL ANDRUS

Crystal Andrus é autora das obras intituladas Simply…


Woman! e Transcendent Beauty. Além de escritora, é uma con-
ferencista carismática e altamente empenhada na capacitação e
enaltecimento da condição feminina. A sua mensagem funda-se
numa espiritualidade ativa à qual subjaz a vontade sincera de
ajudar as mulheres a transcenderem as suas limitações e a brilha-
rem nas asas das suas almas.
Por outro lado, Crystal Andrus – certificada pela Universidade
Americana de Medicina Desportiva e pela Faculdade de Alimen-
tação Natural do Canadá – é uma das especialistas norte-
-americanas mais dinâmicas nas áreas da nutrição, saúde e boa
forma. Atualmente está em vias de concluir uma licenciatura em
naturopatia. A sua dedicação às causas associadas à condição
feminina permeia todas as suas iniciativas, desde o seu programa
radiofónico semanal ao seu trabalho na área do coaching, às
palestras e workshops a que preside, e ainda à sua participação
ativa e regular no fórum do seu site, em www.crystalandrus.com.

O Amor Tudo Conquista

Naquele dia, ao chegar à universidade onde me formei e onde iria


dar uma palestra, uma beldade loira aproximou-se de mim. Tinha
um sorriso efervescente e a sua presença iluminava o espaço em seu
redor. Havia algo de especial nela, que me dizia que haveríamos de
nos reencontrar. Com efeito, não tardou até trocarmos os endereços
de e-mail.
Na parte final da minha palestra cujo tema era a relação com os
nossos pais e as formas como as nossas emoções se refletem nos
nossos corpos, apercebi-me de que a referida mulher me escutava

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com uma enorme atenção. Os seus braços envolviam o seu corpo
delicadamente, e as lágrimas percorriam silenciosamente as suas
faces. Senti intuitivamente que ela tinha uma história poderosa para
contar e não, nem por sombras errei! Soube desde logo que se tratava
de uma história para partilhar. É essa história que agora vos trago,
relatada na primeira pessoa.

– CRYSTAL

A História de Shere

Nasci neste mundo a 22 de abril de 1953. Cheguei cerca de um


mês adiantada e nasci de pé, aos gritos e a pontapear o ar freneti-
camente. Dizem que vinha deformada, marcada e a dever bastante
à graça e à beleza. Como estávamos na época da Shirley Temple, foi
esse o nome que me deram – Shirley. Mas quando fugi de casa, aos
15 anos, mudei o meu nome para Shere.
Não me lembro de grande coisa da minha infância. Na verdade,
há um espaço vazio até aos 13 anos. Grande parte da informação
que me chegou acerca da minha própria vida foi através de histórias
partilhadas por vizinhos e membros da família. Todavia, lembro-me
de os meus pais dizerem que eu era «feia, estúpida, e também uma
cabra». Lembro-me igualmente de que me batiam amiúde e de acre-
ditar que era uma criatura horrenda e merecedora de maus-tratos.
Escusado será dizer que a vida também não era um mar de rosas
para os meus pais, que se debatiam não só com problemas financei-
ros como também um com o outro.
Entre os 13 e os 15 anos fugi várias vezes. Não ia longe, mas
afastava-me da casa. Aos meus 15 anos a escola interveio, retirando-
-me aos meus pais e entregando-me a uma família de tutores.
Lembro-me de ter partido com uma mala que não levava um único
brinquedo, um único livro ou uma única recordação. Não houve
lágrimas nem abraços de despedida… Limitei-me a partir, e foram
poucas as vezes em que revi a minha família (havia duas irmãs e um
irmão) até 1971, quando me casei pela primeira vez, aos 18 anos.
O meu primeiro marido gostava de beber, e também de me bater…
Mais uma vez, a alternativa foi fugir e continuar a procurar o amor

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nos lugares errados. Separei-me do meu marido dois anos depois de
nos termos casado. Mais uma vez, vi-me na rua com uma mala de
roupa, uns quantos pratos e algumas peças de mobiliário desgastadas.
Entre os 20 e os 25 anos andei de homem em homem, em busca
de amor e segurança, bens que nunca encontrei pelo caminho. Pelo
contrário, todos foram controladores e usurpadores. Só agora, à
distância do tempo, me dou conta do quão desesperada estava.
Conheci o meu segundo marido em 1976. Era dez anos mais
velho do que eu e mostrou-se extremamente generoso. Tinha dois
filhos, de quatro e nove anos, e trouxe-me a esperança de finalmente
poder ter uma família e viver com amor. O meu novo marido
adorava-me e queria muito cuidar de mim, pelo que não tardou até
começarmos a viver juntos.
Como não tinha filhos meus – e não tinha a certeza se quereria
ser mãe, tendo em conta as apreensões que me causava o meu «san-
gue ruim» –, a tarefa de madrasta afigurou-se-me um desafio muito
difícil. Os filhos do meu marido despertavam em mim um profundo
ressentimento e a atenção que ele lhes dedicava fazia-me sentir
enciumada. Fui-me sentindo cada vez mais insegura, e depressa
comecei a procurar alguém que pudesse oferecer-me uma atenção
exclusiva. Estávamos nos anos 80, e os clubes noturnos passaram a
representar uma grande esperança na minha vida… Escusado será
dizer que o meu casamento depressa se desmoronou.
Depois, encontrei o Jeff, que era, cronologicamente, dez anos
mais novo do que eu, e cinquenta anos mais velho em termos de
sabedoria e bom senso. Mantivemos um namoro intermitente
durante sete anos. Jeff era um homem muito paciente e dedicado,
mas eu tive a maior das dificuldades em empenhar-me por inteiro
na relação, e um dia ele declarou-se cansado de mim e partiu. Foi
nesse momento que eu me tornei adulta, e também foi nesse
momento que me dei conta do que acabara de perder. Até àquele
acontecimento, eu estava tão convencida de que, por me divertir à
grande, estava a fazer os possíveis por compensar os anos perdidos
da minha vida, que não me apercebi do risco que estava a correr.
Os meses iam passando, mas a dor daquela perda não me aban-
donava. O meu amor por Jeff fortaleceu-se e, a certa altura, acabá-
mos por encontrar uma forma de retomar a relação. Felizmente,
estamos casados há quinze anos, e o nosso amor é digno de ser
romanceado por um escritor.

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Algures pelo caminho, suponho que o meu ego começou a cres-
cer descontroladamente. Aos 15 anos pesava cerca de 100 quilos,
graças ao meu primeiro emprego numa padaria, onde encontrava
conforto no maravilhoso pão morno que ali se fabricava. Consegui
emagrecer antes de me casar pela primeira vez, mas após o divórcio
atingi os 110 quilos. O meu segundo marido, por ser como que um
«pai» dedicado e encorajador, ensinou-me a jogar squash e
matriculou-me num curso, para que eu pudesse desenvolver a minha
autoconfiança. Com efeito, a minha autoconfiança foi crescendo
proporcionalmente à minha perda de peso. Mas, pensando bem…
talvez eu tenha tomado por autoconfiança o ego que nessa altura se
agigantou dentro de mim.
A certa altura, comecei a trabalhar como modelo fotográfico para
uma agência de talentos com a qual também colaborava na vertente
de publicidade televisiva, e, finalmente, tornei-me apresentadora de
um programa de TV. A minha vida girava em torno da ideia de que
era tão bela que nenhum homem, qualquer que fosse, me resistia.
Acreditava piamente que era o patinho feio que se havia transfor-
mado num belíssimo cisne… Na verdade, poderia escrever um livro
sobre os homens que seduzi ao longo dos anos.
Em 1997, quando perdi o emprego, a vida despertou-me da minha
ilusão. O Jeff e eu tínhamos acabado de comprar uma ótima casa e,
de repente, ficámos sem meios de a pagar. Nesse mesmo ano, o meu
pai morreu e, por estranho que possa parecer, a tristeza que essa
notícia me trouxe veio abrir a caixa de Pandora das emoções supri-
midas que eu transportava dentro de mim. Subitamente, senti-me
invadida por uma torrente de arrependimento por tudo o que pode-
ria e deveria ter feito pelo meu pai, ao mesmo tempo que me assal-
tavam as memórias do sofrimento e das agressões que vivera na minha
infância e adolescência. A minha mãe morrera em 1986, e eu imagi-
nava, erradamente, que tinha resolvido essa parte da minha vida.
Em suma, vi-me sem emprego e novamente assaltada por senti-
mentos de medo e perdição. O facto de despertar todos os dias sem
compromissos e deveres a cumprir desencadeou em mim um forte
sentimento de fracasso e reacendeu o sofrimento supostamente
enterrado e decorrente do facto de me considerar «estúpida». Ao
longo de cerca de um ano, limitei-me a vaguear por uma casa ima-
culadamente nova e excessivamente grande e a sentir pena de mim
mesma. A minha saúde não era famosa, pelo que nessa época, devido

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às dores, aos sintomas pré-menstruais e às cefaleias, eu consultava
um quiroprático duas a três vezes por semana. Além disso, ia fre-
quentemente ao médico devido às dores de estômago, à obstipação
e a uma série de desconfortos digestivos. Foi nessa época que des-
cobri que padecia de síndrome do intestino irritável, de uma úlcera,
de uma hérnia do hiato e de endometriose!
O meu quiroprático e eu tornámo-nos amigos, acontecimento,
de certa forma, inevitável, tendo em conta que ele foi a pessoa com
quem mais convivi nesse período. Certo dia, ele referiu a pertinên-
cia de eu começar a pensar nas causas dos meus desconfortos físicos
e de encetar medidas preventivas, e encorajou-me a tornar-me res-
ponsável pelo meu próprio bem-estar.
Numa primeira fase não o levei a sério, pois estava convencida
de que sabia o que era melhor para mim. Todavia, com o tempo, o
meu amigo acabou por conseguir sensibilizar-me, e, a certa altura,
comecei a tomar suplementos naturais com o propósito de restabe-
lecer o equilíbrio hormonal. Em quatro meses libertei-me por com-
pleto dos desconfortos associados aos sintomas pré-menstruais
(dores, depressão, ansiedade e inchaço). Este acontecimento cons-
tituiu o ponto de viragem da minha vida. Foi nesse período que
comecei a pensar de uma forma mais abrangente e a tomar as minhas
próprias decisões no sentido de me responsabilizar pela minha vida.
Nos três anos que se seguiram, vivi e respirei a filosofia do «bem-
-estar físico, mental e espiritual». Assisti a inúmeras palestras, li
incontáveis livros, adquiri assinaturas de revistas sobre saúde e bem-
-estar e, a certa altura, comecei a trabalhar numa loja de produtos
naturais, onde me interessei por glicobiologia e gliconutrientes. Fui
aconselhada a praticar meditação e yoga, e descobri as modalidades
terapêuticas da nova era – a iridologia, o Reiki, a acupunctura e a
musicoterapia. Conheci médicos permeáveis às terapias holísticas e
fiz todas as análises imagináveis – à saliva, aos tecidos internos, ao
sangue, etc. Por ter um casamento feliz, senti que faria todo o sen-
tido tornar-me uma «deusa da saúde».
Mas no ano 2000 a minha alma veio despertar-me.
Uma mamografia, uma radiografia e uma biópsia vieram corro-
borar o diagnóstico: um cancro na mama direita. Como era possível
que uma coisa daquelas estivesse a acontecer a alguém que passara
os últimos três anos da sua vida a fazer tudo para restabelecer e
preservar a sua saúde?

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Os meses que se seguiram foram terríveis. O primeiro cirurgião
que consultei não demonstrou qualquer tipo de empatia. Na ver-
dade, as suas maneiras deixavam muito a desejar, pelo que decidi
consultar um colega seu que trabalhava no mesmo consultório. O con-
traste entre os dois era abismal. O referido colega era um jovem de
ascendência asiática e uma mente aberta às terapias alternativas.
Todavia, o seu parecer foi o mesmo: deveria submeter-me a uma
cirurgia seguida de tratamentos de quimioterapia, e possivelmente
também de radioterapia. A diferença é que ele me explicou porme-
norizadamente os procedimentos recomendados e mencionou os
possíveis efeitos secundários. Por outro lado, encorajou-me a man-
ter as terapias alternativas caso fosse essa a minha firme convicção.
Depressa concluí que a operação e os efeitos secundários eram
mais nocivos do que a própria doença. Por outro lado, ainda que o
mal fosse removido do meu corpo, a probabilidade de uma recidiva
era altíssima, tendo em conta que nessa altura eu ainda não havia
apurado e enfrentado as causas reais do aparecimento de um cancro
da mama. Assim sendo, não fez qualquer sentido para mim expor
o meu corpo a esses procedimentos traumáticos sem ter conheci-
mento das razões.
Perante as circunstâncias, o meu foco de bem-estar sofreu alte-
rações. Assim, deixei de consumir café, refrigerantes e bebidas alco-
ólicas, e sempre que possível comecei a ingerir alimentos orgânicos.
Paralelamente, deixei de usar a máquina de lavar loiça, o micro-
-ondas, e também deixei de pintar as unhas com vernizes tóxicos e
de usar perfumes. Em suma, tomei a resolução de adotar um estilo
de vida tão holístico quanto possível. Passei a usar cosméticos e
produtos de limpeza de pele naturais, água purificada, muitos suple-
mentos alimentares, muitos vegetais, e adotei um regime intenso à
base de gliconutrientes. Descobrir a causa que determinou a mani-
festação de um cancro da mama tornou-se um objetivo de vida para
mim.
Este objetivo empurrou-me para uma viagem surpreendente. Certo
dia, durante um passeio a pé, descobri um relvado maravilhoso onde
me sentei e fechei os olhos. Subitamente, vi-me rodeada de estantes
reluzentes, a perder de vista, e repletas de livros. Foi-me possível ler
os títulos dos livros nas lombadas, e também pude tocá-los e retirá-los
das estantes. Esta biblioteca interpenetrava-se com áreas de jardins e
arvoredo, harmonizando-se perfeitamente com a natureza. A certa

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altura vi os meus queridos gatos que já haviam partido… Alegres e
satisfeitos, perseguiam pássaros e borboletas floresta afora.
Continuei a percorrer a vasta biblioteca até me cruzar com uma
mulher. Inicialmente, mal a reconheci, mas depois apercebi-me de
que se tratava da minha mãe! Abraçando-me, proferiu as seguintes
palavras:
– Olá, minha querida. Temos pensado em ti.
Nesse preciso instante, o meu pai apareceu. As figuras translúci-
das de ambos cintilavam. O meu pai declarou que sentia a minha
falta e que o seu amor por mim era infindo… Captei instantanea-
mente a profundidade do seu amor. Ao tomar consciência do motivo
pelo qual, em vida, me maltratara e me escorraçara, comecei a cho-
rar. Reconheci os seus sentimentos e compreendi que ambos acor-
dáramos reencarnar como pai e filha para, nesta vida, aprendermos
as lições que as nossas almas tão desesperadamente necessitavam de
aprender para poderem evoluir. Nesse momento, senti que me per-
doara a mim mesma e também a eles, e fui tocada por um amor
inédito que me fazia soluçar convulsivamente. Os meus pais
abraçaram-me, advertindo que chegara o momento de abandonar
a biblioteca e regressar a casa. Antes de partirem, perguntei-lhes que
livro deveria ler, e eles retorquiram:
– Conhecer Deus, de Deepak Chopra.*
Depois, desapareceram, enquanto a biblioteca reluzente e os jar-
dins se desvaneceram como que por encanto, e eu vi-me de novo
sentada na relva, a chorar. Senti que algo mudara em mim. Estava
mais leve e liberta… como uma criança. Em suma, senti-me amada.
Eu, Shere Donald, afinal era amada!
Subitamente, clarificou-se a causa do cancro na mama. Com
efeito, os seios são o centro do amor e do sustento, atributos que
eu buscara ao longo de toda a minha vida, não apenas junto dos
meus pais e irmãos mas também na minha passagem pelo mundo.
Até àquele momento, eu desconhecia o amor que o Universo nutria
por mim… e por todas as criaturas. Mas a partir do instante em que
me tornasse capaz de encontrar amor e sustento, o meu seio pode-
ria curar-se, e o meu coração também.
Com efeito, as análises que se seguiram, realizadas pouco tempo
depois deste instante de revelação, já não indiciavam a presença do

* Lisboa: Estrela Polar, 2008. (N. da T.)

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cancro, o que significava que eu me convertera num ser belo e
constituído por partes todas elas também belas.
Neste momento, não «reivindico» como meu, nem o cancro nem
qualquer outra doença. A doença deixou de me definir e de crescer
dentro de mim. O amor e o perdão permitiram-me libertar-me do
padrão da doença. Prova disso é o facto de nenhum resultado de
análises posteriores indiciar a probabilidade de recidiva do cancro.
A minha experiência de vida permitiu-me tomar consciência de
que o bem-estar é um processo no qual devo manter-me focada para
preservar a minha saúde. É crucial que me mantenha consciente e
vigilante da minha humanidade enquanto viro as páginas da história
da minha vida. Mas em certos momentos há uma dor antiga que
emerge, como que para me relembrar gentilmente de que o amor
tudo conquista, desde que eu o permita, é claro!

(Excerto da obra Transcendent Beauty, Hay House, 2006)

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