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Culto à Santa Morte

O culto à Santa Muerte se tornou um fenômeno. Embora Santa Muerte tenha sofrido um
sincretismo com formas de Santa Maria com o advento cristão no Novo Mundo e o titulo "santa"
caia em contradição com o significado cristão, uma vez que, além de anjos, somente os humanos
que viveram uma vida de virtudes cristãs alcançam o titulo, a Senhora da Morte mexicana é
anterior ao domínio hispânico, por consequência, sua origem não é cristã.

Com a condenação de seu culto pela Igreja Católica e outras denominações, ela virou marginal,
concentrando aqueles que não são abraçados pela doutrina cristã. Estes que, de alguma forma, não
se sentem agraciados pelos santos e deus abraamico, se voltaram ao culto "marginal" de La Santa
Muerte. Inclusive devido às crises politicas e sociais em que vivem os países latinos, ela alcançou o
status de milagreira, aquela que olha por aqueles "renegados" e resolve questões que outros
santos não resolveriam.

A Santa possui uma iconografia peculiar. Um esqueleto humano, um crânio com diversos dentes,
vestida com o manto de Maria e a aureola da santidade/iluminação, demonstra seu sincretismo
católico. Mas quem é La Santa Muerte por detrás desse sincretismo?

Na mitologia asteca, no período pré-hispânico, o culto à morte era para um casal de divindades,
Mictlantecuhtli e Mictecacihuatl, o deus e deusa da morte e do submundo. Eram os deuses que
recebiam os mortos de causas naturais, porém o percurso até estas divindades era cheio de
perigos, assim como em outros panteões. Para facilitar a travessia dos mortos, diversas oferendas
eram feitas e o sacrifício de um cão que o ajudaria a atravessar todo o percurso no submundo. Eles
também eram chamados por aqueles que queriam ter o poder sobre a morte, viver mais, para não
serem mortos ou para não padecerem de doenças.

Mictlantecuhtli Senhor dos Mortos e sua esposa, Mictecacihuatl, Senhora dos Mortos, governavam
Mictlán, o ultimo dos submundos. O morto, que viajaria pelos diversos caminhos dessas regiões
(nove no total), passaria por diversos obstáculos, que incluiriam a putrefação de seus corpos até a
total regressão orgânica, restando somente os ossos, no final de quatro anos, quando poderiam
enfim, estarem na presença dos regentes de Mictlán.

Mictlantecuhtli, deus da morte, possuía o corpo coberto de ossos e uma mascara de crânio. Possuía
cabelo crespo decorado com olhos, visto que reinava em um local de escuridão. Suas ervas eram a
Turbina corimbosa, peiote, trombeta e Psilocybe mexicana. Como símbolo, possuía uma bandeira
branca dobrada. Era associado ao morcego, aranha, burro, escorpiões e aves noturnas, possuía em
sua espada o Sol Negro, o sol do submundo. Era representado também como um crânio de
mandíbulas abertas, onde as estrelas caíam para que o dia nascesse. Os antigos indígenas, após
sacrificarem quem eram "santos", ofereciam a carne em jarros de barro, após determinado tempo,
esta carne era dividida entre os amigos e familiares do sacrificado.

Mictecacihuatl, Senhora das Pessoas Mortas, Deusa do Submundo. Chamada de Criança Branca,
conta o mito que ela foi sacrificada logo após o nascimento, tendo assim, seu aspecto ossudo. Os
mortos esperariam em seu palácio de obsidiana até o renascimento numa era vindoura. Ela é
mostrada como protetora das crianças, porém, nas pinturas encontradas, é mostrada
amamentando um cadáver enquanto recebia um coração como oferenda. Era uma deusa de grande
importância, pois, para os Aztecas, o sol iniciava uma jornada no submundo após se por, e ela era
uma das responsáveis pelo pronto reaparecimento do sol na manhã seguinte, sendo assim,
diversos sacrifícios eram feitos a ela para que garantisse o equilíbrio do mundo.

Passando um pouco a linha do tempo, La Santa Muerte, conhecida além de Criança Branca,
também como La Flaca, Mi Reina Mi Niña Bonita ou Madrina, foi apadrinhada pelos excluídos.
Concedendo pedidos relacionados desde amor/paixão, até cura, justiça e vingança. A identidade
atual que a antiga divindade tomou se tornou extremamente flexível, atendendo quaisquer
pedidos daqueles que a sociedade mexicana excluiu ou cometeu algum tipo de injustiça, como
operários pobres, criminosos ou aqueles que praticam alguma ilegalidade e não podem pedir
favores aos santos habituais.

Em seu culto atual, são oferecidas velas:


Brancas: Proteção, purificação e agradecimento.
Negras: Vinganças, danos, proteção contra magia negra,
Vermelhas: Assuntos relacionados ao amor. Tanto para trazer, quanto para afastar o "amor
abusivo”.
Cor de café: para recuperar objetos perdido.
Marrom: Ligada aos esclarecimentos e sabedoria
Dourada: Dinheiro, prosperidade e abundância.
Roxa: Cura
Verde: Ajuda com as leis e causas justas
Sete cores para uma ação mais ampla, como amor, vinganças, proteção etc.

Costumam escrever os pedidos nas velas e acende-las em recipientes que lembram crânios (ou
crânios).
Além das velas, em seus altares costumam estarem Crânios e Balanças equilibradas.

Os pedidos são feitos, geralmente, à meia noite por nove dias.

Allan Koschdoski

Fontes:
Vaillant George - La Civilizacion Azteca
Jacques Soustelle - El Universo de los Aztecas
Karl Taube - Aztec and Maya Myths
Santa Muerte: The History, Rituals and magic of Our Lady of the Holy Death
Desiré A. Martin - La Santa Muerte's Illegal Marginalizations
Andrew Chesnut - Saint Death: The Skeleton Saint in Mexico and USA

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