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46 - O Estado de Deserto
46 - O Estado de Deserto
John Wesley
'Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o
vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará'. (João 16:22)
1. Depois de Deus ter operado um grande livramento para Israel, trazendo seu
povo para fora da casa de escravidão, eles não entraram imediatamente na terra que
Ele havia prometido aos seus antepassados; mas 'perderam o caminho no deserto', e
foram variavelmente tentados e afligidos. De igual maneira, depois de Deus tê-los
livrado daquele medo da escravidão do pecado e satanás; depois que eles foram
'justificados livremente, pela Sua graça, através da redenção que está em Jesus',
ainda assim, não muitos deles, entraram imediatamente 'no descanso que permanece
para o povo de Deus'. A grande parte deles perdeu-se, mais ou menos, do bom
caminho que Ele trouxe a eles. Eles vieram, por assim dizer, para um 'enorme deserto
devastado', onde foram tentados e atormentados de várias maneiras. E isto, alguns, em
alusão ao caso dos israelitas, têm denominado 'um estado de deserto'.
I
1. Primeiro: Qual a natureza desta enfermidade, que acometeu a tantos,
depois que eles creram? No que ela propriamente consiste; e quais são os sintomas
genuínos dela?
2. Disto, Em Segundo Lugar, sucede a perda do amor; que não pode deixar
de nascer e morrer, ao mesmo tempo, e na mesma proporção, que a fé verdadeira e
viva. Assim sendo, eles que estavam desprovidos de sua fé, foram também
desprovidos do amor de Deus. Eles não puderam dizer: 'Senhor, tu sabes todas as
coisas; tu sabes que eu amo a Ti'. Eles não estavam felizes em Deus, como todos os
que verdadeiramente O amam. Eles não mais se deleitaram Nele, como no passado, e
'sentiram o aroma de seu ungüento'. Antes, todos 'os desejos' deles 'eram junto a Ele,
e na lembrança de Seu nome'; agora, mesmo seus desejos estavam frios e sem vida; se
não, extremamente extinguidos. E como o amor deles para com Deus tornou-se frio,
então, também o seu amor para com seu próximo. Agora, eles não mais tinham aquele
zelo pelas almas dos homens; aquele desejo em busca do bem-estar deles; aquele
desejo ardoroso, irrequieto, e ativo de serem reconciliados para Deus. Eles não mais
sentiam aquelas 'entranhas de misericórdia', pela ovelha perdida, -- aquela
'compaixão pelo ignorante, e por aqueles que estavam fora do caminho'. Antes, eles
'eram gentis em direção a todos os homens'; humildemente instruindo tais que se
opunham à verdade; e, 'se alguém era surpreendido na falta, restauravam-no, no
espírito da submissão': Mas, depois de uma pausa; talvez, de muitos dias, a ira
começou a readquirir seu poder; sim, a impertinência e a impaciência causaram-lhes
dores, até que eles caíram; ainda que, algumas vezes, não fossem dirigidos a 'pagar o
mal com o mal, e a injúria com a injúria'.
II
1. Tal é a natureza do que muitos têm denominado, e não impropriamente, 'O
Estado de Deserto'. Mas a natureza dele pode ser mais completamente entendida
inquirindo, Em Segundo Lugar, quais são as causas dele?
Essas, de fato, são várias. Mas eu não me atrevo a enumerar, em meio a essas,
a mera e soberana vontade de Deus. Ele 'se regozija na prosperidade de seus servos:
Ele se deleita, não em afligir ou em molestar os filhos dos homens'. Sua vontade
invariável é nossa santificação, atendida com 'a paz e alegria no Espírito Santo'.
Esses são seus dons gratuitos; e nós afirmamos que 'os dons de Deus são', da parte
Dele, 'sem arrependimento'. Ele nunca se arrepende do que dá, ou deseja removê-los
de nós. Desta forma, Ele nunca desiste de nós, como alguns dizem; somos nós apenas
que desistimos Dele.
1a. Causa
3. Mas, pode-se esperar que este caso não seja muito freqüente; que não
existem muitos que assim desprezam as riquezas de sua bondade, enquanto eles
caminham em Sua luz; que, tão grosseiramente e presunçosamente, se rebelem contra
Ele. Aquela luz é muito mais freqüentemente perdida, ao se dar lugar aos pecados de
omissão. Estes, de fato, não extinguem o Espírito imediatamente, mas gradualmente e
vagarosamente. O anterior pode ser comparado a derramar água sobre o fogo; o
segundo em diminuir o combustível dele. E, muitas vezes, aquele Espírito amoroso
reprova ou negligencia, antes de partir de nós. Muitas são os obstáculos interiores, as
notícias secretas que Ele dá, antes que Sua influência seja diminuída. De maneira que
apenas uma série de omissões, obstinadamente persistida, pode nos levar para a mais
extrema escuridão.
6. Uma terceira causa de perdermos isto, é dar caminho para algum tipo de
pecado interior. Por exemplo: Nós sabemos que todo aquele que é 'orgulhoso no
coração, é uma abominação para o Senhor'; e isto, embora esse orgulho do coração
não possa aparecer na conversa exterior. Agora, quão facilmente, uma alma,
preenchida com a paz e a alegria, pode cair nesta armadilha do diabo! Quão natural, é
para ele imaginar que ele tem mais graça, mais sabedoria ou força, do que ele
realmente tem, para 'pensar mais altamente de si mesmo do que deveria'. Quão
natural, glorificar-se em alguma coisa que ele tenha recebido, como se ele não a
tivesse recebido! Mas, vendo que Deus continuamente 'opõe-se ao orgulho, e dá
graça' apenas 'para o humilde', isto deve certamente obscurecer, se não, destruir
totalmente, a luz que antes brilhava em seus corações.
7. O mesmo efeito pode ser produzido, ao se dar lugar à ira, qualquer que seja
a provocação ou oportunidade; sim, embora disfarçada com o nome de zelo pela
verdade, ou pela glória de Deus. Na verdade, todo zelo que é outro, que não a chama
do amor é 'mundano, animal e diabólico'. É a chama da ira: É a ira clara, pecaminosa,
nem melhor, nem pior. E nada é um inimigo tão maior para o amor meigo e gentil de
Deus, do que isto: eles nunca subsistiram, nem nunca poderão subsistir juntos em um
peito. Na mesma proporção que esta prevalece, o amor e a alegria no Espírito Santo
decresce. Isto é particularmente observável no caso da ofensa; eu quero dizer, a ira
para com qualquer um de nossos irmãos; a qualquer um desses que estão unidos a nós,
seja por alianças civis ou religiosas. Se nós dermos caminho para o espírito da ofensa,
nós perderemos as doces influências do Espírito Santo; de modo que, em vez de
reformá-los, nós destruiremos a nós mesmos e nos tornaremos presas fáceis para
qualquer inimigo que nos assalte.
8. Mas suponha que estejamos vigilantes quanto a esta armadilha do diabo, nós
podemos ser atacados de outra parte. Quando a ferocidade e a ira estão adormecidas, e
apenas o amor está desperto, nós podemos, não menos, sermos postos em perigo, pelo
desejo que igualmente tende a obscurecer a alma. Este é o efeito certo de qualquer
desejo tolo; qualquer afeição vã e excessiva. Se nós colocamos nossa afeição nas
coisas da terra, em alguma pessoa ou coisa debaixo do sol; se nós desejarmos alguma
coisa, a não ser Deus, e o que tende a Deus; se nós buscarmos felicidade em alguma
criatura; o Deus zeloso certamente irá contender conosco, porque ele não pode admitir
rival. E, se nós não ouvirmos Sua voz de advertência, e retornamos para Ele com toda
nossa alma, se continuarmos a afligi-lo com nossos ídolos, e correndo atrás de outros
deuses, nós deveremos logo estar frios, improdutivos e estéreis; e o deus deste mundo
irá cegar e escurecer nossos corações.
9. Mas isto ele freqüentemente faz, mesmo quando nós não damos chance a
algum pecado evidente. É suficiente, ele dar a ele suficiente vantagem; se nós não
'estimularmos o dom de Deus que está em nós'; se nós não agonizamos continuamente
para 'entrarmos pelo portão estreito'; se nós, sinceramente, não nos 'esforçamos para
obter o domínio', e 'tomarmos o reino dos céus, através da violência'. Não haverá
necessidade de lutar, e certamente seremos conquistados. Basta que sejamos apenas
descuidados ou 'fracos em nossa mente'; que sejamos fáceis e indolentes, e nossa
escuridão natural logo irá retornar, e espalhar-se em nossa alma. Será suficiente,
portanto, darmos oportunidade para a indolência espiritual; isto irá certamente
escurecer a alma: Irá certamente destruir a luz de Deus, se não tão prontamente,
quanto um assassinato ou adultério.
10. Mas deve ser bem observado que a causa da nossa escuridão (qualquer que
seja ela, se de omissão, ou cometimento; quer pecado interior ou exterior) não está
sempre à mão. Algumas vezes, o pecado que ocasionou a presente angústia pode se
situar a uma distância considerável. Ele pode ter sido cometido, dias, semanas, ou
meses antes. E o fato de Deus retirar agora sua luz e paz, por causa do que foi feito
tanto tempo atrás, não é (como algum poderia a princípio imaginar) um exemplo de
sua severidade, mas, antes, uma prova de sua misericórdia longânime e terna. Ele
esperou todo este tempo, para que, por acaso, pudéssemos ver, reconhecer e corrigir o
que estava impróprio. E na falta disto, Ele, por fim, mostrou seu desprazer, para que,
assim, pelo menos, Ele pudesse nos trazer ao arrependimento.
2a. Causa
1. Uma outra causa geral desta escuridão, é a ignorância, que é igualmente de
vários tipos. Se os homens não conhecem as Escrituras; se eles imaginam que existem
passagens, tanto no Velho, quanto no Novo Testamento que afirmam que todos os
crentes, sem exceção devem, algumas vezes, estarem na escuridão; esta ignorância irá
naturalmente trazer sobre eles a escuridão que eles esperavam. E quão comum tem
sido o caso, em nosso meio! Quão poucos existem que não esperam isto! E não é de
se admirar, uma vez que eles são ensinados a esperarem-na; uma vez que seus guias
os conduzem para este caminho. Não apenas os escritores místicos da Igreja de Roma,
mas muitos dos mais espirituais e experimentais em nossa própria Igreja (poucos
foram exceção no último século) colocam isto com toda a segurança, como uma
doutrina Bíblica clara e inquestionável, e citam muitos textos para provarem.
3a. Causa
1. A Terceira causa geral desta escuridão é a tentação. Quando a luz do Senhor
brilha sobre nossa cabeça, a tentação freqüentemente foge, e desaparece totalmente.
Tudo está calmo por dentro; talvez, por fora também, enquanto Deus faz com que
nossos inimigos estejam em paz conosco. É, então, muito natural supor que nós não
possamos ver a guerra mais. E existem muitos exemplos, onde esta calma tem
continuado, não apenas por semanas, mas por meses e anos. Mas, comumente
acontece o contrário: Em pouco tempo, 'os ventos sopram, a chuva cai, e as
inundações se erguem' renovadas. Eles que não conhecem o Pai, nem o Filho, e,
conseqüentemente, odeiam os filhos de Deus, quando Ele afrouxa as rédeas que estão
em seus dentes, mostram aquele ódio de várias maneiras. Como no passado, 'ele que
nasceu segundo a carne perseguiu aquele que nasceu segundo o Espírito, assim como
é hoje'; a mesma causa produz ainda o mesmo efeito. O mal que ainda permanece no
coração irá também se movimentar; a ira, e muitas outras raízes da amargura irão se
esforçar para brotarem. Ao mesmo tempo, satanás não será deficiente em lançar seus
dardos flamejantes; e a alma terá de lutar, não apenas com o mundo, não apenas 'com
a carne e o sangue, mas com principados e potestades; com os soberanos da
escuridão deste mundo; com os espíritos maus nos lugares elevados'. Agora, quando
tantos assaltos são feitos de repente, e, talvez, com a mais extrema violência, não é
estranho que possa ocasionar, não apenas aflição, mas também escuridão no crente
fraco; -- mais especialmente, se ele não esteve vigiando; se esses assaltos foram feitos,
em uma hora em que ele não os viu; quando ele esperava nada menos, mas
credulamente dissera a si mesmo, -- o dia do diabo não retornará mais.
III
Estas são as causas comuns desta segunda escuridão. Em Terceiro Lugar,
vamos inquirir, qual é a cura para ela?
1. Supor que isto seja uma e a mesma coisa em todos os casos, é um erro fatal;
e ainda assim, extremamente comum, mesmo em meio a muitos que passam por
cristãos experimentados; sim, talvez, professores em Israel, e guias de outras almas.
Assim sendo, eles conhecem e usam apenas um medicamento, qualquer que seja a
causa da enfermidade. Eles começam imediatamente aplicando as promessas; a pregar
o Evangelho, como eles o denominam. Dar conforto é o único objetivo que eles
almejam; para o qual eles dizem coisas muito delicadas e ternas, concernentes ao
amor de Deus aos pobres pecadores desamparados, e da eficácia do sangue de Cristo.
Agora, isto é, na verdade, charlatanice, e da pior espécie, uma vez que tende, se não a
matar os corpos dos homens; ainda assim, sem a misericórdia peculiar de Deus, 'a
destruir seus corpos e suas almas no inferno'. É difícil falar desses negociantes de
promessas, como eles merecem. Eles bem merecem o título que tem sido, de maneira
ignorante, dado a outros: Eles são charlatões espirituais. Eles, em efeito, tornam 'o
sangue da aliança uma coisa impura'. Eles prostituem perversamente as promessas de
Deus, aplicando-as, sem qualquer distinção. Visto que, na verdade, a cura das
enfermidades espirituais, assim como corpóreas devem ter vários medicamentos,
conforme as suas várias causas. A primeira coisa, portanto, é encontrar a causa; e isto
irá naturalmente apontar a cura.
3. Se, depois de uma procura minuciosa, você não puder encontrar pecado de
cometimento que ocasione a nuvem sobre sua alma, inquira a seguir, se não existe
algum pecado de omissão que separa você de Deus. Você 'não permitiu o pecado
junto a seu irmão?'. Você não reprovou aqueles que pecaram aos seus olhos? Você
caminhou em todas as ordenanças de Deus? Nas orações públicas, familiares,
privadas? Se não, se você habitualmente negligencia qualquer um desses deveres
conhecidos, como você pode esperar que a luz do semblante de Deus continue a
brilhar junto a você? Apresse-se para 'fortalecer as coisas que permanecem', então,
sua alma deverá viver. 'Hoje, se você ouvir a voz Dele', através de Sua graça, supra o
que está faltando. Quando você ouvir uma voz atrás de si dizendo, 'Este é o caminho,
caminhe nele', não endureça seu coração; não seja mais 'desobediente ao chamado
celeste'. Até que o pecado, se de omissão ou cometimento, seja removido, todo
conforto é falso e enganoso. Ele está apenas brilhando sobre a ferida que ainda ulcera
e causa inflamação abaixo. Não busque pela paz dentro, até que você esteja em paz
com Deus; o que não poderá acontecer sem 'os frutos do arrependimento'.
4. Talvez, você não esteja consciente; até mesmo, de algum pecado de omissão
que diminuiu sua paz e alegria no Espírito Santo. Não existe, então, algum pecado
interior que, como a raiz da amargura, brota em seu coração para atormentar você? A
sua aspereza e aridez da alma não foram ocasionadas, porque seu coração 'se afastou
do Deus vivo?'. A 'raiz do orgulho não avança contra' você? Você não 'tem pensado
mais elevado sobre si mesmo do que deveria?'. Você não tem atribuído o seu sucesso,
em qualquer empreendimento, à sua própria coragem, força ou sabedoria? Você não
tem se vangloriado de alguma coisa que 'recebeu, como se não tivesse recebido?'.
Você não tem se gloriado em coisa alguma, 'salvo sobre a cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo?'. Você não buscou ou desejou o louvor de homens? Você não teve prazer
nisto? Se assim for, você sabe o caminho que deve tomar. Se você caiu por causa do
orgulho, 'humilhe-se, debaixo da mão poderosa de Deus, e Ele irá exaltar você no
devido tempo'. Você não o obrigou a partir de você, dando lugar à ira? Você não tem
'se afligido por causa do descrente' ou 'sido objeto de inveja dos malfeitores?'. Você
não tem se ofendido com quaisquer de seus irmãos, olhando para os seus pecados
(reais ou imaginários), de maneira a pecar você mesmo contra a grande lei do amor,
afastando seu coração deles? Então, olhe para o Senhor, para que você possa renovar
suas forças; para que toda esta aspereza e frieza possam sair; para que o amor, a paz e
a alegria possam retornar, juntas, e para que você possa ser invariavelmente gentil, e
'bondoso de coração, perdoando, um ao outro, assim como Deus, por causa de
Cristo, perdoou a você'. Você tem dado lugar a algum desejo tolo? A alguma espécie
ou grau de afeição excessiva? Como, então, o amor de Deus pode ter lugar no seu
coração, até que você jogue fora seus ídolos? 'Não se engane: Deus não é falso': Ele
não irá habitar em um coração dividido. Por quanto tempo, portanto, você afagar
Dalila em seu peito, Ele não terá lugar lá. É inútil esperar por uma recuperação de Sua
luz, até que você arranque o olho direito, e o atire para longe de si. Ó, que não haja
uma demora maior! Clame a Ele, para que Ele possa capacitar você a assim fazer!
Lamente a sua impotência e desamparo; e com o Senhor, sendo seu ajudador, entre no
portão estreito; tome o reino dos céus veementemente! Atire fora todo ídolo de seu
santuário, e a glória do Senhor logo deverá aparecer.
8. Um desses está em (Isaias 50:10) 'Quem há entre vós que tema ao Senhor, e
ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no
nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus'. Mas como aparece, tanto do texto
quanto do contexto, que a pessoa aqui falada, alguma vez teve luz? Alguém que seja
convencido do pecado 'teme o Senhor, e obedece a voz de seu servo'. E ele, nós
podemos afirmar, embora esteja ainda na escuridão da alma, e nunca tenha visto a luz
do semblante de Deus, ainda assim, 'confia no nome do Senhor, e permanece junto ao
seu Deus'. Este texto, portanto, não prova nada menos, que o crente em Cristo 'deve,
algumas vezes, caminhar na escuridão'.
9. Um outro texto que tem sido suposto falar da mesma doutrina está em
(Oséias 2:14) 'Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei
ao coração'. Disto tem sido inferido que Deus irá trazer todo crente para o deserto,
para o estado de morte e escuridão. Mas é certo que o texto não fala tal coisa; porque
não parece que ele fala de alguns crentes em particular, afinal: Ele manifestadamente
se refere à nação judaica; e, talvez, a esta apenas. Mas, se ela for aplicável às pessoas
específicas, o significado claro dele é este: - eu irei atraí-lo pelo amor; em seguida,
irei convencê-lo do pecado; e, então, confortá-lo, através da misericórdia redentora.
11. O quarto texto que tem sido freqüentemente citado como prova da mesma
doutrina (para não mencionar mais) está em (I Pedro 4:12) 'Amados, não achem
estranho, com respeito à prova ardente que irá testar vocês'. Mas isto é tão
completamente deslocado do ponto quanto o precedente. O texto, literalmente
afirmado segue assim: 'Amados, não estranhem a ardente prova que vem sobre vocês
para tentá-los'. Agora, como quer que isto seja acomodado às provas interiores, em
um sentido secundário; ainda assim, primariamente, ela, sem dúvida, se refere ao
martírio e sofrimentos ligados a eles. Nem este texto tem, portanto, alguma coisa,
afinal, com o propósito para o qual ele é citado. E nós podemos desafiar todos os
homens a trazerem um texto, se do Velho, ou do Novo Testamento, que tenha alguma
mais a ver com o proposto do que este.
12. 'Mas as trevas não são de mais proveito para a alma do que a luz? A obra
de Deus no coração, não é mais prontamente e efetivamente conduzida, durante o
estado de sofrimento interior? O crente não é mais prontamente e totalmente
purificado pela tristeza do que pela alegria? – através da angústia, dor, aflição, e
martírios espirituais, do que pela paz contínua?'. Assim os místicos ensinam; assim
está escrito em seus livros; mas não nos oráculos de Deus. As Escrituras, em parte
alguma diz que a ausência de Deus aperfeiçoa sua obra no coração! Antes, Sua
presença, e a comunhão clara com o Pai e o Filho: Uma forte consciência disto fará
mais em uma hora, do que sua ausência em um século. A alegria no Espírito Santo irá
mais efetivamente purificar a alma, do que a falta daquela alegria; e a paz de Deus é o
melhor meio de refinar alma dos entulhos das afeições mundanas. Retire, então, a
opinião inútil, de que o reino de Deus está dividido contra si mesmo; de que a paz de
Deus e a alegria no Espírito Santo são obstrutivas da retidão; e de que somos salvos,
não pela fé, mas pela incredulidade; não pela esperança, mas pelo desespero!
13. Por quanto tempo os homens sonharem assim, eles bem poderão 'caminhar
nas trevas': Nem o efeito poderá cessar, até que a causa seja removida. Mas, ainda
assim, nós não devemos imaginar que ela cesse imediatamente, mesmo quando a
causa não existe mais. Quando tanto a ignorância quanto o pecado causaram as trevas,
um ou outro pode ser removido; porém, a luz que era obstruída por meio deles pode
não retornar imediatamente. Como se trata do dom livre de Deus, Ele pode restaurá-
lo, cedo ou tarde, como agradar a Ele. O pecado começa, antes da punição, que pode
justamente permanecer depois do pecado ter terminado. E mesmo no curso natural das
coisas, embora uma ferida não possa ser curada, enquanto o dardo estiver cravado na
pele; não necessariamente ele é curado, tão logo este é arrancado dela, mas a sensação
dolorosa e a dor podem permanecer muito depois.
[Editado por Joshua Williams, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções
de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]