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socióloga da Fundacentro

Tese de doutorado sobre o trabalho das manicures é


defendida por socióloga da Fundacentro
Juliana Andrade Oliveira, socióloga da Fundacentro/SP, defende tese de doutorado na Universidade de São
Paulo (USP)

Publicado em 09/02/2014 00h00 Atualizado em 17/08/2022 18h06 Por ACS/D.M.S. Compartilhe:   

Legenda da foto: Da esquerda para direita: Angelo Soares; Nadya Guimarães; Juliana Oliveira, Maria Helena O.Augusto;
Leda Leal Ferreira e Suzanna Sochaczweski.

No dia 25 de agosto, a socióloga da Fundacentro São Paulo, Juliana Andrade Oliveira, defendeu tese de doutorado na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), com o título “Fazendo a
vida fazendo unhas: uma análise sociológica do trabalho de manicure”.

A curiosidade em estudar e compreender o trabalho desenvolvido pelas manicuras, sobretudo, analisar como se dá a
interação social entre as clientes e o próprio ambiente de trabalho dessas profissionais, Juliana Andrade buscou uma
universidade que fosse tradicional na área de ciências sociais e uma orientadora que tivesse interesse em seu projeto. A
professora do Departamento de Sociologia da USP, Maria Helena Oliva Augusto, graduada em ciências sociais e doutora
em sociologia foi orientadora da tecnologista.

Na pesquisa realizada pela socióloga, o relato foi de que o trabalho de manicura é conduzido em sua maior parte por
mulheres, com baixo grau de escolaridade e que não tiveram oportunidade de seguir outra profissão.

“São vários os aspectos que afligem o trabalho das manicures. É preciso entender como o trabalho acontece e como é
organizado socialmente, para explicar porque essas trabalhadoras são mal remuneradas e porque os ambientes podem
oferecer riscos à saúde tanto delas, quanto das clientes”, esclarece a pesquisadora que recentemente foi nomeada para

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trabalhar no Escritório Regional da Fundacentro na Baixada Santista.

Ressalta-se ainda o aspecto da saúde e segurança do trabalho, onde as manicures ficam expostas aos riscos químicos
presentes na aplicação dos esmaltes e acetonas. Além disso, alergias e dermatites também podem ocorrer. Os
instrumentos utilizados no trabalho como alicates e lixas oferecem possíveis riscos biológicos, os quais estão ligados aos
vírus das hepatites A, B e C, HIV/AIDS e micoses.

Durante as entrevistas, a recém-doutora observou que as profissionais almejam o reconhecimento social, uma vez que a
profissão de manicura ainda é estigmatizada como símbolo de futilidade. Isto em nada corresponde com a realidade, já que
realizam trabalhos sofisticados nas mãos e pés das clientes.

Serviço

O embelezamento das mãos e pés é serviço cada vez mais consumido por mulheres e por um número crescente de
homens. Hoje em dia, existe um leque de técnicas de embelezamento, como a esmaltagem, a decoração artística e o
alongamento. Algumas manicuras aprendem sozinhas, outras com uma amiga ou familiar. No entanto, alguns salões de
beleza exigem que essas trabalhadoras tenham qualificação profissional com um curso. De acordo com a Classificação
Brasileira de Ocupações, o exercício de manicure está inserido no código nº 5161-20 - Trabalhadores nos serviços de
embelezamento e higiene, e as especificidades desta profissional é cuidar da beleza das mãos e pés.

No que se refere ao trabalho destas profissionais, a pesquisadora entende que mesmo quando a manicura continua com os
estudos, ou faz um excelente trabalho, o reconhecimento social não acontece. “A construção de análise das relações
sociais precisa levar em conta que existe uma disputa de gênero, raça e entre classes que não se dissocia. Ou seja, mesmo
que seja equalizada a disputa de gênero, é possível ver que entre as manicuras há mais trabalhadoras negras que brancas;
isto é, persite o eco da disputa social entre brancos e negros, esclarece Oliveira.

A pesquisadora descobriu várias questões e comentou que muitos motes ficaram abertos, em face da complexidade não
sendo possível abordar todos os pontos e concluí-los. “As clientes compartilham tudo com as profissionais e as identidades
sociais não ficam visíveis. É um momento de suspensão, porque no período em que a cliente está sendo cuidada, ela
interage verdadeiramente com a manicura. Mas se, ao contrário disso, a cliente impuser seu status social e quiser
comandar o trabalho da manicura, podem-se produzir sofrimentos emocionais e humilhações à manicura”, salienta Oliveira.

Banca

O professor Angelo dos Santos Soares, da Université Du Québec à Montréal (UQAM), o qual foi coorientador no período de
estudo da socióloga, como parte do estágio de doutorado no Canadá também fez parte da banca. Em sua análise a
questão emocional é muito importante, embora a tese não se concentre somente nesse tópico.

Para ele, a aluna foi magnífica ao escolher as teorias de Erving Goffman para produzir uma análise do processo de trabalho.
A observação das atividades de trabalho das manicuras, foi feita de maneira inovadora em sua tese.

Como exemplo, o professor observou que “o processo de trabalho industrial, onde o trabalhador produz canetas -, é
diferente daquele em que o profissional necessita de contato direto com pessoas - adquirindo uma relação mais afetiva”,
salienta Soares.

O coorientador apreciou a primeira parte do trabalho da pesquisadora, o qual constrói a imagem da sociedade e acentua
que a questão da emoção seja bem nítida no texto. “O ponto sobre higiene é para pensar, pois não é todo mundo que tem o
hábito de assepsia pessoal. A manicura por sua vez, está exposta a cuidar das mãos e pés de uma cliente que não tomou

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os cuidados de higiene, e mesmo assim essa profissional não pode demonstrar qualquer reação de nojo”, frisa o professor.

Também fizeram parte da banca, a Leda Leal Ferreira (servidora aposentada da Fundacentro-SP); a professora da
FFLCH/USP, Nadya Araújo Guimarães e a coordenadora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), Suzanna Sochaczweski.

Leda Leal falou que o estudo na questão do trabalho, com recorte no trabalho das manicuras possibilitou a visibilidade
desta profissão. “As referências bibliográficas que Juliana utilizou foram amplas e magníficas no sentido de abordar vários
fatores que envolvem a profissão. Ela foi cliente, observadora e aluna que procurou ouvir as trabalhadoras, os quais
possibilitaram oferecer relatos interessantes e valiosos”, salienta Leda.

Manicuras no Brasil e no Canadá

A socióloga em sua fala descreve como é realizado o trabalho das manicuras no Brasil e no Canadá. No Canadá, grande
parte das profissionais são imigrantes asiáticas, e a comunicação verbal com elas era quase impossível. No entanto, por
meio do olhar e do toque delicado, as manicuras se faziam comunicar e as unhas eram muito bem feitas. O mobiliário
parecia ser mais confortável do que o brasileiro adequado e a profissional não precisava ficar tão curvada para realizar a
sua atividade.

Ainda no mesmo país, ela conversou informalmente com manicuras canadenses, já que sem a avaliação do Comitê de
ética daquele país não era possível realizar entrevistas formais. Em geral, as manicuras canadenses trabalhavam em salões
com preços mais altos do que aqueles em que havia imigrantes. Em Montréal, foi possível encontrar diferentes formas de
execução do serviço. Em um dos salões , a socióloga relata que foi atendida por três manicuras: uma que apenas lixava as
unhas, outra para tirar a cutícula e uma terceira para esmaltar. Neste sistema de parcialização das tarefas a interação com o
cliente era comprometida e o trabalho realizado com mais rapidez.

No Brasil, durante o período de três anos teve a oportunidade de conhecer apenas uma estudante universitária exercendo
a profissão de manicura. “Estudar o trabalho é falar sobre a sociedade brasileira, e a análise do trabalho das manicuras
enfatiza essa questão. Em nosso país, a operacionalidade da manicura é explorada, enquanto o mobiliário e o tempo que
lhe dão são precários”, enfatiza a pesquisadora.

“O tema da tese é empírico e a sensibilidade em que a Juliana demonstrou em sua escrita é perceptível e isso enriquece o
momento da leitura”, diz Nadya.

Suzanna Sochaczweski comenta que é muito importante estudar o mundo do trabalho no Brasil, sobretudo na profissão
exercida pelas manicuras, que é pouco valorizada. “Em sua tese observei que mesmo com um mundo tão globalizado, o
serviço de manicure em um país considerado de primeiro mundo – não diferencia do trabalho realizado no Brasil. Além
disso, em alguns lugares também é feito de forma precária”, esclarece Suzanna, que se refere ao fato de a profissão ser um
guarda-chuva para imigrantes com poucas oportunidades de ingressar em outra carreira.

Sindicato

Estiveram presentes para assistir a defesa da socióloga, a presidente do Sindicato Nacional das Manicures do Rio de
Janeiro (Sindmani/RJ), Fernanda de Oliveira Franco e o assessor da presidência da Central Única dos Trabalhadores
(CUT/RJ), Ricardo Silveira.

A presidente do Sindicato também foi uma fonte de pesquisa, a qual possibilitou uma maior compreensão do trabalho
dessas profissionais. “A sensibilidade e a ousadia em estudar o trabalho das manicuras, a relação delas com as clientes e

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com as colegas de trabalho, principalmente o ambiente onde realizam as atividades; fez com que eu, como representante
dessas trabalhadoras ficasse emocionada ao ler a tese”, enaltece Fernanda.

Para o assessor da CUT, a Fundacentro por meio do estudo da socióloga fomenta as questões relacionadas ao trabalhador
e às condições de trabalho no Brasil.

“Tenho a sorte de ser pesquisadora numa instituição cheia de outras pessoas apaixonadas pelo o que fazem. Sempre quis
saber como consertar o mundo, e na Fundacentro encontrei outras pessoas com uma sede muito parecida com a minha. O
meu mundo não para de crescer porque quero entender o que faz as pessoas felizes, sãs, e o que pode atrapalhar isso.
Uma tese nasce para o mundo; para ser lida, criticada, e gerar outras teses, e quem sabe, soluções. Quem sabe até, ações”,
salienta Juliana Andrade.

No dia 07 de novembro, sob a coordenação de Juliana e da pesquisadora da Fundacentro/RJ, Myriam Matsuo, ocorrerá o II
Seminário de Sociologia. O tema deste ano será sobre as condições de trabalho das mulheres no Brasil. O objetivo é
apresentar pesquisas realizadas sobre o assunto na Fundacentro e discutir a saúde das trabalhadoras brasileiras.

A tese ficará disponível para consulta na biblioteca da Fundacentro.

Leia também a matéria do prêmio no Canadá da socióloga, a qual mostra as diferentes interfaces do trabalho da
manicure.

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