Você está na página 1de 4

Depressão pode estar associada a alterações nas bactérias que vivem no ... about:reader?url=https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023...

oglobo.globo.com

Depressão pode estar associada


a alterações nas bactérias que
vivem no intestino, mostra
estudo na Nature
5–7 minutos

A depressão é um dos transtornos de saúde mental mais


comuns, prevalente em 11,3% da população brasileira, de
acordo com a última pesquisa Vigitel, do Ministério da
Saúde, e em cerca de 5% da população adulta mundial,
segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde
(OMS).
No entanto, ainda que existam tratamentos considerados
eficazes para o diagnóstico, os mecanismos biológicos exatos
por trás da doença são pouco estabelecidos. O
desconhecimento motiva uma série de estudos que buscam
desvendar a depressão, e um deles, publicado na revista
científica Nature Communications, aponta que o intestino
pode ter um papel maior do que se imaginava.
Cientistas do Centro Médico da Universidade Erasmus de
Roterdã e da Universidade de Amsterdã, ambos na Holanda,
analisaram amostras de fezes de mais de 2,5 mil pessoas,
parte de duas amplas pesquisas, e identificaram uma

1 of 4 24/02/2023, 16:39
Depressão pode estar associada a alterações nas bactérias que vivem no ... about:reader?url=https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023...

associação entre 13 bactérias da microbiota intestinal –


população de trilhões de microrganismos benéficos para o
organismo que vive no órgão – e indivíduos com sintomas da
doença. “Nosso estudo sugere que a composição do
microbioma intestinal pode desempenhar um papel
fundamental na depressão”, escrevem os responsáveis no
estudo.
O trabalho foi publicado pouco depois que uma ampla
revisão de pesquisadores internacionais, publicada no
periódico Molecular Psychiatry, concluiu que não há
“evidências consistentes de haver uma associação entre
serotonina e depressão”. A falta do neurotransmissor era
uma das principais teorias por trás das causas do
diagnóstico, mas vem sendo alvo de discussão nos últimos
anos, que apontam para um caráter multifatorial do quadro.
Ainda assim, um outro estudo, publicado no British Medical
Journal (BMJ), analisou dados de 73, 3 mil pessoas entre
1979 e 2016 e constatou que os antidepressivos que
funcionam com base no neurotransmissor de fato são
eficazes para tratar a doença, porém em apenas 15% dos
casos foram observados benefícios consideráveis dos
medicamentos a longo prazo.
Em meio a esse debate, o novo estudo dos cientistas
holandeses aponta que a resposta pode estar mais distante
do cérebro em si, e mais próxima do intestino. “Há
evidências crescentes de que a microbiota intestinal pode
influenciar a atividade cerebral e o comportamento por meio
de vias neurais e humorais e pode ter aplicações
translacionais no tratamento de distúrbios
neuropsiquiátricos”, escreveram os cientistas. Porém, até

2 of 4 24/02/2023, 16:39
Depressão pode estar associada a alterações nas bactérias que vivem no ... about:reader?url=https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023...

então os trabalhos eram restritos a modelos animais ou a


pequenos grupos de participantes.
Agora, os cientistas analisaram dois estudos em andamento
com mais de 2,5 mil pessoas para ampliar as evidências
sobre o tema. Primeiro, investigaram 1.054 pessoas, parte de
uma pesquisa do Centro Médico da Universidade Erasmus
de Roterdã. Os voluntários tiveram as fezes coletadas,
material utilizado para identificar a composição da
microbiota intestinal. Após a análise, os responsáveis pelo
trabalho encontraram variações na população de bactérias
entre aqueles com queixas de sintomas de depressão.
Em seguida, compararam os resultados com amostras de
1.539 indivíduos, que fazem parte de uma outra pesquisa, da
Universidade de Amsterdã. Esse segundo grupo tinha a
particularidade de abordar etnias diferentes, com
participantes de origem holandesa, surinamesa, ganense,
turca e marroquina. O procedimento comprovou a
associação entre as bactérias e o transtorno mental.
Ao todo, foram 13 grupos de microrganismos alterados nos
pacientes com o diagnóstico. Na maioria dos casos, o quadro
foi relacionado a populações reduzidas das bactérias. Porém,
algumas estavam em maior abundância entre aqueles com os
sintomas. “Essas bactérias são conhecidas por estarem
envolvidas na síntese de glutamato, butirato, serotonina e
ácido gama-aminobutírico (GABA), que são
neurotransmissores essenciais para a depressão”,
escreveram os cientistas. Mais de 90% da serotonina do
corpo humano é produzida no intestino.
“Agora que sabemos quais distúrbios no microbioma são

3 of 4 24/02/2023, 16:39
Depressão pode estar associada a alterações nas bactérias que vivem no ... about:reader?url=https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023...

significativos para a depressão, isso abre novas


possibilidades de tratamento e prevenção. O que é urgente”,
diz a psiquiatra e pesquisadora do departamento de
Psiquiatria da Universidade de Amsterdã, que fez parte do
estudo, Anja Lok, em comunicado.
Jos Bosch, pesquisador do departamento de Psicologia da
universidade, que também fez parte do trabalho, explica que
as alterações não foram causadas por fatores de estilo de
vida como peso e tabagismo, mas considera que a
alimentação pode ter um papel.
“As diferenças étnicas substanciais na depressão de fato
parecem estar relacionadas a diferenças étnicas no
microbioma. Ainda não sabemos exatamente por que isso
acontece. Esta associação não foi causada por diferenças no
estilo de vida, como fumar, beber, peso ou exercício, e
merece uma investigação mais aprofundada. Por exemplo, a
dieta pode desempenhar um papel”, diz.

4 of 4 24/02/2023, 16:39

Você também pode gostar