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EXPOSIÇÃO 2023

AS CHAVES
DA MEMÓRIA
Cleiton Cruz
EXPOSIÇÃO 2023: AS CHAVES DA MEMÓRIA CLEITON CRUZ

Olá! Sou Cleiton Cruz, Professor de História por formação, na minha querida Unimontes, e
Artista Plástico por paixão e por inspiração em diversos acontecimentos da minha vida.
A arte e a cultura sempre estiveram perto de mim. Desde muito novo, participei das Festas
de Agosto em Montes Claros, que reúnem 6 grupos de congados e folia de Catopês,
Marujadas e Caboclinhos.
Minhas duas principais profissões
na juventude foram pintor de
paredes e guarda municipal, e, de
certa forma, elas abriram meus
caminhos para as artes plásticas.
Enquanto pintor de residências,
muros e pontos comerciais fui
entendendo o manejo de uma
série de ferramentas e o uso das
cores, já na condição de guarda
municipal tive a honra de
trabalhar no Centro Cultural e na
Feirinha de Artesanato.
Mais importante que viver em
ambientes inspiradores é ter a
acolhida e o incentivo das
pessoas que ali estavam antes da
nossa chegada. Foi especialmente
assim em cada grupo e espaço
pelo qual passei.
Ao lado do Centro Cultural, lá na praça da Matriz, há uma loja chamada Flor do Pequi, que
foi montada por mulheres que vendiam na Feirinha de Artesanato. Eu já fazia alguns
desenhos em lápis grafite e fui certa vez compartilhar meu trabalho. Fui incentivado a
produzir mais e expor coletivamente com outros artistas. A partir de então surgiu o
interesse a oportunidade de estudar pintura em tela. Fiquei
encantado com este mundo que estava perto de mim e, aos
poucos, eu começava a fazer parte dele. Minha segunda
exposição já foi solo e principalmente com pinturas em tela.
No primeiro momento trabalhei com óleo sobre tela, depois
aprendi e aprimorei o trabalho com tinta acrílica e hoje estou
me arriscando na pintura experimental com terra e tinta piso.
As obras que compõe esta exposição inclusive tem uma
intensiva utilização da tinta piso.

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EXPOSIÇÃO 2023: AS CHAVES DA MEMÓRIA CLEITON CRUZ

As artes plásticas foram recolorindo toda a minha trajetória, trazendo uma visibilidade
positiva dentro do meu cargo de servidor público e aumentando minha participação nas
festas de Agosto. Pois hoje, além de membro também contribuo com os figurinos. Assim
pude incentivar o resgate do uso das máscaras na Marujada.
O resgate de figuras Históricas e Sociais que não devem ser esquecidas nem negligenciadas
é a principal motivação do trabalho que apresentamos nestas telas. Alguns rostos são bem
conhecidos, outros representam grupos importantes da nossa sociedade.
Acredito que estas imagens tem o poder de reforçar
nossa memória e trazer a inclusão de diversas
temáticas no patamar de evidência para o debate
social e público.
Para muito além da homenagem, espero que estas
figuras sejam a chave para despertar em cada
visitante da exposição uma série de sensações,
emoções e questionamentos para que possamos
vislumbrar uma convivência mais harmoniosa e
uma sociedade mais justa.

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EXPOSIÇÃO 2023: AS CHAVES DA MEMÓRIA CLEITON CRUZ

Tela A: 70X70CM
TÍTULO: Senhora de Cronos.
O tempo é abstração!
Podemos perceber na uma senhora segurando uma ampulheta como se fosse uma alusão à
necessidade através da memória. Deste modo a tela está ligada ao conjunto da memória.
Então a ampulheta vem à tona como a simbologia do tempo e da memória

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Tela B: 70X70CM
TÍTULO: Entre sem bater, a história é sua.
A memória é uma porta aberta para o hoje. Temos apenas que atravessar, ter a curiosidade
para entender os motivos que criaram a nossa realidade social.
A obra convida para a profunda reflexão da memória.

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EXPOSIÇÃO 2023: AS CHAVES DA MEMÓRIA CLEITON CRUZ

Tela C: 70X70CM
TÍTULO: O Exílio da Memória.
A obra é uma homenagem ao sociólogo e ativista Herbert de Souza, que foi um cidadão
natural de Bocaiúva, aqui do norte de Minas. Ele merece muito sair dos porões da memória,
principalmente por nós mesmos, para que não estejamos condenados a repetir os erros e
os fracassos daqueles que com ele tanto falharam. Ele o irmão do Henfil da doce canção
imortalizada por Elis Regina. O resgate de sua luta e sua trajetória é de importância é salutar,
uma vez que a fome hoje, após tanto tempo ainda se faz presente em nosso convívio,
atingindo os marginalizados de nossa sociedade. Fato recente que nos toca a questão dos
índios em situação de fome e crise de saúde, um caso de abandono dos dirigentes públicos.
Uma degradação social e ambiental. Percebemos assim que, por ignorância, perseveramos
cometendo os mesmos erros.

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EXPOSIÇÃO 2023: AS CHAVES DA MEMÓRIA CLEITON CRUZ

Tela D: 70X70CM
TÍTULO: Tela o Senhor da Guerra.
Esta obra provoca o observador através de personagens facilmente identificáveis neste
momento histórico brasileiro.
Na testa da figura central, composta pela corrupção e vontade de poder, temos um buraco
de fechadura. Um convite ao observador a girar a chave da história e assim ter como analisar
os acontecimentos presentes e não ser preso na teia da repetição.

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Tela E: 70X70CM
TÍTULO: A Resistência da Memória.
Pintura baseada em uma fotografia antiga de uma mulher negra escravizada.
A expressão facial forte da personagem revela a resistência, a crueldade da escravidão.
O buraco de fechadura na cabeça da personagem é um convite ao observador que busque,
através da chave da história, a compreensão do momento histórico em que vivia esta
mulher de pele escura que era escravizada.
A expressão facial revela uma época difícil para as mulheres negras. Será que hoje já fomos
capazes, enquanto sociedade, de atenuar este sofrimento e quitar esta dívida?

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Tela F: 70X70CM
TÍTULO: A Xica que Manda.
A vida da ex-escravizada Chica da Silva povoa o imaginário da cultura popular brasileira.
Existem várias versões e muitos mitos com relação a sua história.
A obra faz uma homenagem a esta mulher que conseguiu uma destacada condição social
em uma vila escravagista e patriarcalista. Mesmo sendo uma mulher negra, ela conseguiu
marcar seu nome no lugar que veio a ser a cidade de Diamantina.
A obra provoca o observador de maneira sutil, estabelecendo um paralelo entre a figura da
imponente Senhora Negra e os garimpeiros que estão na parte inferior da tela buscando
diamantes, sua fonte de riqueza e de poder. Contraste entre a pujança e o trabalho duro
dos que continuavam sob o jugo da escravidão.

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Tela G: 70X70CM
TÍTULO: O Som do Eco na Escuridão do Mundo Contemporâneo. (TELA CENTRAL)
A obra sugere o grito de um índio que se propaga por ondas sonoras, criando um eco de
vozes ancestrais que reverberam no tempo.
A obra traz uma provocação para quem a confronta, que terá que decodificar o eco
acionando a chave da memória.
Não podemos retirar do observador a oportunidade de ser dono da interpretação da obra.
Existe um buraco de fechadura na palma da mão, fazendo um pedido que gire sua chave e
sinta esta intensa vibração.

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Tela H: 70X70CM
TÍTULO: Gráfico Vital dos Povos Originários.
A obra traz a necessidade fazer assistência desses povos para que eles consigam sobreviver
em nosso mundo contemporâneo, preservando as suas tradições e a sua cultura.
Várias nações de povos originários foram extintas do território brasileiro. Saberes milenares
foram perdidos. Lutamos para ler os vestígios, quando na verdade deveríamos estar
bebendo na fonte da história oral.
Foi introduzido na obra o gráfico vital como forma de provocar e sensibilizar quanto ao
aspecto desta figura ancestral e revelar a imagem que hoje se encontram nossos povos
originários devido ao abandono de séculos pelo poder público. O gráfico vital sinaliza para
a situação de emergência.

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Tela I: 70X70CM
TÍTULO: Vida, Jogar é para poucos.
A grande maioria das pessoas apenas observa os lances, as jogadas de outros no poder
político, econômico e cultural. Enquanto isso, somos apenas meros espectadores, presos em
nosso cotidiano, em nossa rotina, sem ter musculatura para nos libertarmos da ideologia
que prevalece no mundo contemporâneo. Ela nos sufoca e nos aprisiona dentro de nós
mesmos.
Sem memória não temos chances, pois a memória nos leva a comparar e a comparação cria
a consciência. Quando comparamos o preto e o branco, temos a consciência de que ambas
as cores ocupam o mesmo espaço, são relevantes, e assim podemos evitar as repetições.
Tudo depende da consciência.
A obra traz um cenário imaginário onde temos um jogador que está engarrafado. Ele
representa todos os cidadãos marginalizados de nossa sociedade, que não tem a

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musculatura necessária para entrar no jogo, uma vez que é privado de saúde, educação,
assistência, renda... Privado de vários mecanismos sociais que poderiam impulsionar sua
vida. A sua consciência passa pelo acesso a um nível intelectual que o liberte da ideologia.
Sem isso as pessoas ficam sem ação perante esse jogo.

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Tela J: 70X70CM
TÍTULO: Ideologia Ne.fa..sta, a repetição da tragédia.
Sabemos, ou deveríamos saber, das tragédias humanas causadas por ideologias
autoritárias. A ideologia é muito perigosa quando atende a verdade de um grupo em
detrimento da diversidade. A característica marcante da humanidade é ser diversa.
O ódio ao diferente e a busca por padronização, tornando as pessoas consumidores sem
senso crítico, destrói a cultura ancestral e o direito de povos que só querem manter sua
identidade.
No momento da posse de Pindorama, feito pelos portugueses em meados de 1500, iniciou-
se a implantação de uma única verdade religiosa, moral e política, a fim de tornar aqueles
corpos indígenas dóceis e servis. Sabemos, através dos ecos da Memória, que várias nações
indígenas foram extintas e que em nosso mundo contemporâneo várias outras nações estão
ainda em risco de desaparecer. A ideologia eurocêntrica, que vimos em momentos distintos

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da nossa história, mutilou vários grupos étnicos e sociais do nosso país e de todo mundo. A
guerra é constante pela sobrevivência de boa parte dos fragmentos desses grupos que
restaram. É nítido também a violência Estatal contra descendentes desses povos, nascidos
de ventres escravizados, que hoje são grande maioria nas favelas brasileiras.
Nas chamadas periferias do poder, a população mestiça sofre com a falta de tudo. Essa obra
traz em sua simbologia um dos períodos mais tristes e obscuro de nossa história recente. Os
porões da tortura não tinham ventilação alguma, como nos navios negreiros. Muitos
morreram sufocados pelo ódio de quem achava ter a verdade. A tela simboliza esse
momento de claustrofobia social, onde o ar pesado da ditadura era o veneno para os
pulmões da democracia.

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Tela K: 70X70CM
TÍTULO: Sem Voz, um Grito de Silêncio no Caos do Abandono.
A obra apresenta uma família indígena com expressões faciais diferentes. O personagem
principal é o que está gritando.
A inquietação aqui se dá por a tela não ter voz ou qualquer som. O observador percebe o
grito, porém esse não existe na realidade física da obra, o que há de fato é o silêncio. Aqui
podemos tecer um paralelo com vários povos originários que estão clamando por ajuda e
não tem voz. As suas palavras não são compreendidas, ou são distorcidas por ideologias que
atendem aos interesses de uma aristocracia caduca. Sem som, a história fica sem eco,
tornando difícil a decodificação dos ruídos que estão espalhados no tempo.

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Tela L: 70X70CM
TÍTULO: A Dança Iorubá.
A obra traz uma homenagem às manifestações culturais de origem africana. A figura central
traz toda a força na expressão de um povo que resiste através de sua cultura ancestral. As
manifestações culturais negras foram combatidas e demonizadas pelas oligarquias, como
uma maneira de tirar a humanidade desses povos escravizados.
Enquanto a cultura é suprimida a identidade se apaga, e o que sobra é apenas carne dócil,
fácil de dominar e adestrar. Retirar o nome, a cultura, a língua, os familiares, a religião, os
ritos, é ação pensada, uma maneira de coisificar, desumanizar. Quando perdemos a
humanidade, nos tornamos coisa, mercadoria. Essa prática foi utilizada por muitos séculos
em nosso país, no entanto a cultura dos escravizados subjugou seus algozes e mantém-se
viva até nossos dias.

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A luta não acabou, prevalece muito pré-conceito e vemos hoje muitas igrejas pentecostais
descrevendo as divindades da cultura negra como seres demoníacos. A história repete-se
quando o povo não tem musculatura para ler o eco. A chave da Memória é conhecer a
história, ter condições de comparar momentos históricos em períodos distintos e assim
construir consciência.

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Tela M: 70X70CM
TÍTULO: O Povo Brasileiro.
Essa obra é uma homenagem ao grande Norte Mineiro Darcy Ribeiro, que foi Antropólogo,
indianista, político e escritor. A obra de Darcy é um clássico indispensável para a
compreensão da formação cultural do povo brasileiro. Ela traz uma leitura fundamental
para se ter a ampla dimensão da estrutura social do povo Brasileiro.
A obra instiga o observador apresentando personagens de religiões afrobrasileiras que são
discriminados e vítimas de preconceito através da demonização de suas práticas ancestrais.
As ações de intolerância ocorrem a despeito de toda beleza de ritos e riqueza da identidade
visual manifesta nos trajes típicos. Muitos tentam negar a influência dessas manifestações
na cultura brasileira. Querem, em várias frentes, condenar essa rica manifestação a uma
cultura de segunda linha.

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O Darcy apresenta 03 etnias como as principais na formação da cultura do povo brasileiro,


Índios, Brancos e Negros. A influência desses povos em nossa formação cultural é inegável
e bastante visível em nossa realidade contemporânea.
Nós somos mistura. Negar um fragmento desse todo social brasileiro é negar nossa
identidade como nação. Somos muitos na unidade cultural. Entender o valor e contribuição
de cada etnia nesse todo é compreender que somos vários na formação do um.
O Brasil tem um povo único em sua diversidade. A beleza do nosso povo está na harmonia
dos diferentes, como uma pintura. Nesta obra e em diversas outras, o artista harmoniza
vários matizes de tons completamente diferentes para retratar a beleza no mundo, assim
podemos entender a formação cultural. Cada povo contribui com suas particularidades para
a sinergia dos diferentes e causar a beleza nesse plano social. O respeito à diferença permite
o surgimento do um que é o mosaico de muitas partes harmônicas.

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Tela N: 70X70CM
TÍTULO: Ziryab.
O personagem central da pintura é Abul-Hasan Alí Ibn Nafí. Foi um grande influenciador da
cultura ocidental, também conhecido como Ziryab.
A obra mostra o cosmopolita que nasceu em Bagdá e, devido a complicações e perseguições
em sua cidade natal, migrou para Córdoba, na Espanha, que nesse período era uma cidade
de grande influência nos costumes da Europa. Com muitas práticas que foram difundidas
pela nobreza em todo o continente, perpetuando através do tempo e chegando ao nosso
mundo contemporâneo diversos hábitos que poucos rementem a um homem negro.
No Alaúde influiu possibilitando assim a criação do violão espanhol e posteriormente da
guitarra. Ele influenciou também além da música, pois ele se vestia de acordo às estações
do ano, a paleta de cor de suas roupas seguia as estações, cada qual ele utilizava
especificamente representando aquele momento sazonal, vindo a influenciar nos dias de

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hoje. Vemos assim a organização das grandes coleções. Para além das artes e da moda, ele
também notabilizou os três pratos das refeições, um prato de entrada mais leve e o prato
principal que seria o mais pesado, seguidos por fim da sobremesa. Convém aprofundar na
biografia deste ícone, pois há muitas outras práticas dele que formaram nossa memória.
A obra mostra Ziryab com o turbante e pinturas tradicionais africanas, remetendo sua
ligação deste homem de pele negra que deixou o legado para gerações futuras, alcançando
o nosso tempo e muitas pessoas não tem a menor noção de sua contribuição.
O meu contato com a história do Ziryab foi muito positivo, um exemplo fabuloso de talento
e humanidade que se abre para cada um de nós. Tantas outras personalidades negras tem
papel importante na construção do mundo que temos hoje e são negligenciados para que
não componham, como protagonistas, a nossa memória.

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Tela O: 70X70CM
TÍTULO: Montezuma.
Foi muito gratificante ter tido contato com a história do Francisco Gê Akayaba de
Montezuma, que retratei nesta pintura. A biografia dele é rica e chama atenção.
O Montezuma é de origem mestiça, mãe negra e pai branco. Sua família tinha posses, ele
teve acesso a estudos e oportunidades. Chegou a viver em Portugal, onde educou-se e
iniciou sua caminhada profissional. Foi ministro de duas pastas do governo Feijó. Ele um
líder maçom e também um grande abolicionista em seu tempo. Sua pele era negra e ele
alcançou o sucesso profissional e político, pois acesso a educação ele consagrou-se como
um grande abolicionista e jurista. Não aceitou a ideologia na qual foi criado e militou para
tornar o Brasil uma grande nação. O nome que ostentava foi um rebatismo no qual saudou
os povos originários.

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A obra apresenta numa veste sutil a pintura de um homem mulato, com autoridade e
doçura, complementada por tracejados remetendo a pintura corporal indígena e africana.
Montezuma acaba sendo um grande representante do povo brasileiro. Construído genética
e socialmente com a fusão de fragmentos culturais de vários povos para criar uma unidade
brasileira negra, africana somada a etnia branca. Um fabuloso arquétipo.

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Tela P: 70X70CM
TÍTULO: Ritual Xakriabá Toré, o Encontro com Yayá.
A obra apresenta um índio com Maracá Ritualístico em sua mão.
Apesar de um forte sincretismo com o catolicismo, com a ideologia cristã, esse povo
indígena guerreiro manteve viva a sua tradição ancestral, dos povos primordiais, e é
fascinante observar como funciona esse sistema de crenças religioso. É muito importante
manter viva essa tradição, uma vez que no Brasil temos muita riqueza cultural pouco
valorizada e em risco de perder sua vitalidade e seus registros.
A peça-chave simbólica da obra é o Maracá. Nela pode-se perceber que existe um buraco
de fechadura. Como um portão para voltar no tempo em que, ao desembarcarem na costa
de Pindorama, tiveram os visitantes os primeiros contatos. Uma das práticas mais eficientes
para a dominação foi a introdução da ideologia cristã, ao disseminaram o catolicismo dentro
desses vários grupos étnico culturais. Antes adoravam divindades relacionados a natureza,

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a mata, raios, etc. Então essas divindades foram imunizadas, como se representassem o mal.
Foi introduzida uma nova religião, uma nova visão, destruindo assim toda a conexão que
esses tinham ancestralmente com a natureza. No sincretismo faz-se possível a resistência
para manter viva a prática ritual, pra que as gerações futuras entendam como esses povos
se relacionavam com o divino e com a natureza.

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Autor de textos e ilustrações:


Cleiton Cruz

Diagramação e Curadoria:
José Nailton Silveira de Pinho

Apoio:
Instituto APROVE
Montes Claros e Região Convention & Visitors Bureau

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