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Universidade Agostinho Neto

Faculdade de Ciências Sociais


Curso de Licenciatura em Comunicação Social

Disciplina Ética e Deontologia Profissional

Tema:

COMPARAÇÃO DOS CÓDIGOS


DEONTOLÓGICOS JORNALÍSTICOS DE
ANGOLA E DO BRASIL

1º Ano – Pós Laboral

Elaborado por:

Chabani Filipe – 100%

Cristina Américo – 100%

Elcano Jorge – 100%

Eliselson Januário – 100%

Emília Ecombe – 100%

Filipe Chicaia – 100%

O Docente

Msc. Gabriel Tchingandu


INTRODUÇÃO

No processo de constituição e manutenção das sociedades, a comunicação é um


pilar fundamental e indispensável. A efectividade comunicativa mantém as pessoas
informadas, assegura a formação da opinião e facilita a transmissão dos valores
basilares, hábitos e costumes que constituem uma sociedade organizada permitindo o
normal funcionamento e saúde das suas instituições.

A liberdade no acesso e na transmissão da informação e, consequentemente, a


liberdade de imprensa, de pensamento e de opinião não dispensam, contudo, a rigorosa
observação das normas éticas e deontológicas que dão garantias a vida privada, a
segurança das pessoas e instituições e regulam a actividade jornalística do ponto de
vista ético e deontológico. Nesta senda, como em muitas outras actividades da vida
humana, há, para actividade jornalística, em muitos pontos do mundo, um código de
ética que define balizas para a sua acção.

Neste trabalho apresentamos uma análise comparativa dos códigos


deontológicos vigentes em Angola e no Brasil, identificando suas diferenças e também
semelhanças, abstendo-nos de quaisquer juízos valorativos dos mesmos, mas
ressaltando seus ganhos na área a que se orientam.
1. CÓDIGO DEONTOLÓGICO

O código deontológico pode ser entendido como o conjunto de princípios éticos,


regras ou normas que impõem aos profissionais limites de comportamentos e obrigações
na sua relação com os seus empregadores e também com seus clientes ou público-alvo
das suas actividades.

Diante do sempre presente risco, no exercício da profissão, da corrupção das


consciências e alienação dos valores mais básicos como honra, integridade, coerência,
moral e dignidade o código deontológico assume uma grande importância como
delimitador das fronteiras morais que obrigam a consciência a seguir por aquilo que é
correcto e aceitável, negando-se ao que é contrário.

2. CÓDIGO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA DOS JORNALISTAS


DE ANGOLA E DO BRASIL

Segundo a Comissão da Carteira e Ética, órgão nacional que credencia os


jornalistas para o exercício das suas actividades em Angola, na apresentação do Código
de Ética e Deontologia dos Jornalistas Angolanos, a lei nº 5/17 de 23 de Janeiro, sobre o
estatuto do Jornalista, define que o exercício da actividade jornalística deve estar
enquadrado por regras estatutárias que definem os requisitos e demais condições para
sua efectivação, facto que ressalta a importância do Código de Ética e Deontologia
como definidor dos deveres, regras e conduta de natureza ética da classe.

Aprovado ao 25 de Outubro de 2019 por representantes de todas as associações


profissionais de jornalistas existentes em Angola, o CED1 dos jornalistas angolanos é
um documento normativo preciso e objectivo, constituído por 12 artigos que
estabelecem os princípios éticos a serem observados por toda a classe jornalística
credenciada em Angola. Este, de modo geral, salvaguarda a integridade, imparcialidade
e a liberdade da profissão, defende a integridade moral das pessoas e o respeito pela
vida privada, respeita a presunção de inocência, assegura a moral nas relações
institucionais do jornalista, bem como a integridade das fontes, vítimas, delatores,
testemunhas e menores de idade.

Muito anterior ao CED dos jornalistas angolanos, temos, por outro lado, o
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, documento normativo do mesmo carácter,
dado pela Federação Nacional dos Jornalistas a 04 de Agosto de 2007. A generalidade

1
CED – Código de Ética e Deontologia
dos princípios que norteiam toda actividade jornalística no mundo, não permite que este
se distancie muito do CED angolano ainda mais pelos traços culturais e proximidade,
sobretudo linguística, entre os dois países.

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é bem mais denso do que o nosso,
facto que talvez se possa justificar pelo tempo da nação, densidade populacional,
tradição democrática e jurisprudência do Brasil. O documento apresenta 19 artigos
divididos por 5 capítulos: I – Do direito a informação; II – Da conduta profissional do
jornalista; III – Da responsabilidade profissional do jornalista; IV – Das relações
profissionais e V – Da aplicação do código de ética e disposições gerais.

De um modo geral, ambos os códigos apontam, como não podia deixar de ser,
para o mesmo sentido: a ética e a integridade moral dos jornalistas nas suas actividades
profissionais.

2.1. – SEMELHANÇAS NOS CÓDIGOS DE ÉTICA E


DEONTOLOGIA ANGOLANO E BRASILEIRO

Como já referimos acima e por serem uma norma ética direccionada a mesma
classe de profissionais, ambos os códigos convergem, sobretudo nos pontos fulcrais da
ética e moral jornalística.

Note-se, a partida, que o artigo 1º do CED angolano sobre a verdade, rigor,


aferição, clareza e abstenção da opinião própria nos relatos da notícia, encontra-se nos
artigos 4º e 12º, distribuído nos incisos I, II e IV do código brasileiro. Por outro lado, os
incisos III e IV sobre a liberdade de imprensa, pensamento e expressão, IX sobre o
direito autoral, todos do artigo 6º do código brasileiro, bem como o II do artigo 11º
(contra o sensacionalismo) no mesmo código, estão contidos no 2º e 3º artigo do CED
angolano.

No que toca a obtenção de informações, responsabilização dos trabalhos


produzidos e rectificações das informações, ambos os códigos também convergem
como podemos verificar no 4º e 5º artigo do CED angolano e no 8º, 10º, 11º inciso III e
12º inciso VI do código brasileiro. O mesmo acontece no que toca a salvaguarda das
fontes, da presunção da inocência, sobretudo dos arguidos, não descriminação de
pessoas por qualquer motivo que seja e o respeito pela intimidade alheia que não
coloque em causa o interesse público, previstas nos artigos 7º, 8º alíneas a) b) e c), 9º e
10º do código angolano e nos artigos 6º incisos VI, VIII e XIV, e 9º do brasileiro.
Por fim, é clara a semelhança entre as duas normas éticas quando o assunto é a
responsabilidade do profissional com o seu trabalho e com as instituições a que está
ligado, sobretudo com o acúmulo de funções que sejam incompatíveis com a actividade
jornalística íntegra e independente, tal como descrevem os artigos 13º do código
brasileiro, mais implícito, e o 11º do CED angolano.

2.2. – DIFERENÇAS ENTRE OS CÓDIGOS DE ÉTICA E


DEONTOLOGIA ANGOLANO E BRASILEIRO

Se prestarmos bem atenção, já é possível notar que, efectivamente, dentro do


espírito normativo dos códigos deontológicos e éticos, há mais semelhanças do que
diferenças entre os códigos brasileiro e angolano.

Contudo, vale ressaltar aqui, como nos é pedido, as diferenças que se podem
observar. Destacamos em primeiro lugar a própria estrutura, descrição cuidada e volume
do código brasileiro que, entendemos nós e, por isso, já referimos acima, tem muito a
ver com as especificidades do próprio país. Pode-se dizer que o código brasileiro tem
contido em si o código angolano e mais algumas especificações.

Dentro desta estrutura que agora referimos, há um diferenciador muito evidente


entre ambos os códigos que é o V capítulo do Código de Ética dos Jornalistas
Brasileiros que trata da questão da aplicação do código e apresenta as suas disposições
finais, aspecto que não se observa na norma angolana. Nota-se aqui uma preocupação,
por parte dos brasileiros, de esclarecer pontos importantes como: quem está sujeito as
normas nele contido, quais serão as sanções ou vias de sanções aplicáveis as
transgressões da norma, quem irá julgar as transgressões ao código e quais são as
competências da comissão que avalia e julga as transgressões ao código.

Outrossim, logo ao princípio, temos o capítulo I do CED brasileiro sobre o


direito a informação, que serve como um prólogo desta norma, apresentando logo no
artigo 1º o direito fundamental do cidadão à informação como base do código,
estabelecendo como dever ético do jornalista a oposição a todo e qualquer interesse que
possa impedir o cidadão de ter acesso à toda informação de relevante interesse público,
isso do 2º artigo. Acreditamos que toda a norma ética quer de algum modo salvaguardar
esse direito para o cidadão, o CED angolano demonstra essa preocupação na sua
generalidade, mas a sua estrutura não apresenta estas disposições.
CONCLUSÃO

Assim como em todas as profissões, é grande a responsabilidade daqueles que


têm por missão e vocação a transmissão fidedigna da informação, a comunicação
transparente e isenta como um exercício de quarto poder que deve sempre contribuir
para a liberdade das consciências, formação dos indivíduos, fiscalização dos actos de
interesse publico, formação e educação cívica e humana bem como a construção de
opiniões.

Deste modo, todos os esforços no sentido de se comunicar com respeito,


civilidade, ética e profissionalismo devem ser acolhidos e efectivados por parte dos
profissionais da comunicação social, sendo estes chamados a materializar as pautas
éticas e deontológicas que os regem durante todo o exercício da sua actividade
profissional.

Angola e o Brasil têm, efectivamente, um rico instrumento para a obrigação da


consciência moral dos profissionais ficando apenas, para os dois países, o compromisso
do rigor no cumprimento das suas normas de modo que estas não sejam apenas bons
documentos guardados para história, mas sim guias práticos da actividade jornalística
integra e honrosa, facto que, sobretudo em Angola, ainda que não generalizadamente,
ainda é uma utopia.

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