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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

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ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.
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licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição
CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

ii
AGRADECIMENTOS

A realização da presente dissertação deveu-se à colaboração de diversas pessoas, tanto


estudantes como professores e funcionários, que me permitiram adquirir novas competências.
Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao meu orientador, o Prof. Doutor Bruno Madeira,
por todo o apoio e correções realizadas ao longo da dissertação. Gostaria igualmente de agradecer
ao Arquivo Urbanístico da Câmara Municipal de Braga, cedendo louros ao vereador Prof. Doutor
Miguel Bandeira, por me ter permitido consultar o processo referente ao Palácio Dona Chica, mas
também à Doutora Salomé Sousa.
Estou também grata à associação KATAVUS, por me ter permitido uma entrevista com
Manuel Duarte da Silva, mas também às restantes pessoas que me concederam entrevistas, como
é o caso de Dona Lurdes Alves e do Sr. José Pereira, bem como os restantes.
Durante o meu trabalho de campo fiz conhecimentos inesperados que me guiaram até
outras personalidades, desse modo, devo agradecer ao Dr. Luís Araújo, funcionário do Arquivo
Distrital de Braga, e a Sandra Magalhães.
Gostaria de agradecer a todos as colegas que me apoiaram, entre eles Joana Pereira, pela
ajuda com as entrevistas, Inês Morais, Inês Soares, Ana Isabel, Juliana Santos, Catarina Medeiros
e Vanessa Garcia, por todo o companheirismo e apoio dado ao longo deste percurso.
Por fim, gostaria de deixar um especial agradecimento aos meus pais, por me permitirem
chegar até aqui.

iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que
não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de
informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

iv
Sollar do Rêgo: uma viagem ao longo dos tempos, de 1915 à contemporaneidade

RESUMO

O palácio da Dona Chica é um edifício concebido, em 1915, por Ernesto Korrodi e


corresponde a um exemplar único e paradigmático de uma “habitação nobre de província”, onde
impera um extravagante ecletismo que prima pela utilização de elementos neogóticos, românticos,
neoclássicos, neoárabes, rústicos e novíssimo ferro.
Partindo do geral para o particular, procuramos realizar um levantamento exaustivo de
toda a informação existente sobre esta obra. Ao longo dos diferentes capítulos procuramos
compreender e caracterizar as diferentes fases vividas pelo imóvel, aferindo numa primeira
instância a importância do património arquitetónico, apresentando as plantas concebidas por
Ernesto Korrodi, no ano de 1915, e posteriormente, as alterações feitas por Paulo Tornet, em
meados de 1988. Foi também realizada uma análise histórica, explorando a vida familiar de João
José Ferreira Rêgo e de sua mulher Francisca Peixoto do Rêgo, mas também dos restantes
proprietários, apresentando os respetivos contratos de compra de compra e venda do imóvel
(1934), e contrato de promessa de arrendamento, realizado a 15 de abril de 1988, bem como
entrevistas realizadas a residentes na freguesia e que falam sobre a sua relação com o imóvel.
A concretização destes objetivos foi realizada através de uma metodologia qualitativa
fundamentada na recolha de diferentes fontes, entre elas documentais, orais e visuais, bem como
o estudo de toda a evolução arquitetónica e construtiva inerente ao edificado, de modo a realizar
uma cronologia histórico-temporal, mas também através de uma análise empírica do espaço, que
incluiu o estudo deste imóvel in loco e a realização de entrevistas aos habitantes locais.

Palavras-chave: Palácio da Dona Chica, Sollar do Rêgo, Castelo de Palmeira, Palácio Nobre de
Província, Património Arquitetónico

v
Sollar do Rêgo: a journey through time, from 1915 to the present day

ABSTRACT

The palace of Dona Chica is a building designed by Ernesto Korrodi, in 1915, and
corresponds to a unique and paradigmatic example of a “noble provincial dwelling”, where an
extravagant eclecticism prevails, which excels in the use of neo-Gothic, romantic elements,
neoclassical, neo-Arab, rustic and brand new iron.
Starting from the general to the specific, we try to carry out an exhaustive survey of all the
existing information about this building, throughout the chapters we try to understand about the
different phases of the property, assessing in a first instance the importance of the architectural
heritage, presenting the plans conceived by Ernesto Korrodi, in 1915, and later, the changes made
by Paulo Tornet, in mid-1988. Furthermore, a historical analysis was carried out, exploring the
family life of João José Ferreira Rêgo and his wife Francisca Peixoto do Rêgo, but also of the other
owners, presenting the respective purchase and sale contracts of the property (year of one
thousand nine hundred and thirty-four), and the lease agreement, signed on April fifteenth of one
thousand nine hundred and eighty-eight eight, as well as interviews with people residing in the
parish, who talk about their relationship with the property.
The achievement of these objectives was carried out through a qualitative methodology
based on the collection of different sources, including documents, oral and visual, as well as the
study of the entire architectural and constructive evolution inherent to the building, in order to carry
out a historical-temporal chronology, but also through the empirical analysis of the space, which
includes studying this property in loco, as well as conducting interviews with the locals.

Keywords: Palácio da Dona Chica, Sollar do Rêgo, Castelo de Palmeira, Noble Palace of the
Province

vi
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ................................................................................................. iii


RESUMO ............................................................................................................... v
ABSTRACT .............................................................................................................. vi
ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................... xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS........................................................................xiv

INTRODUÇÃO .........................................................................................................15

CAPÍTULO 1 ...........................................................................................................20
1.1. Património Cultural: notas sobre a história e a consagração de um conceito..................... 20
1.1.1. O património e a memória ............................................................................................ 21
1.1.2. Legislação .................................................................................................................... 22
1.1.3. Classificação e categorias de bens patrimoniais ............................................................ 24
1.2. A arte portuguesa entre o final do século XIX e o início do século XX: uma aproximação
contextual ........................................................................................................... 26
O Romantismo ....................................................................................................................... 26

CAPÍTULO 2 ...........................................................................................................29
2.1. Arte e sociedade na viragem do século (XIX-XX): a sociedade portuguesa no fin de siècle.. 29
2.1.1. A regeneração .............................................................................................................. 30
2.1.2. O Fontismo .................................................................................................................. 30
2.1.3. A Primeira República .................................................................................................... 31
2.1.4. A emigração para o Brasil ............................................................................................. 33
2.1.4.1. Os brasileiros Torna-Viagem ...................................................................................... 35
2.2. O contexto artístico no século XIX e no início do século XX ............................................... 36
2.2.1. O contexto artístico europeu ......................................................................................... 36
Romantismo .......................................................................................................................... 37
Revivalismo .......................................................................................................................... 39
O ecletismo .......................................................................................................................... 39
A Arquitetura e os palacetes ................................................................................................... 43

vii
CAPÍTULO 3 ...........................................................................................................47
3.1. O arquiteto construtor Ernesto Korrodi – percurso de vida ................................................ 47
3.1.1. Estudos Histórico-Arqueológicos ................................................................................... 49
3.1.2. Atividade docente ......................................................................................................... 49
3.1.3. Korrodi e o Património.................................................................................................. 51
3.2. A atividade de Korrodi como arquiteto construtor ............................................................. 52
3.2.1. A Arquitetura Korrodiana .............................................................................................. 53
3.2.2. Obras privadas e bancos .............................................................................................. 54
3.2.3. O Castelo de Leiria e os seus trabalhos......................................................................... 57
3.2.4. As obras de Korrodi na cidade de Braga ....................................................................... 57
3.3. Prémio Valmor e Oficina de Cantarias .............................................................................. 59

CAPÍTULO 4 ...........................................................................................................63
4.1. Caracterização da freguesia de Palmeira .......................................................................... 63
4.1.1. Evolução de Palmeira ................................................................................................... 64
4.1.2. Toponímia .................................................................................................................... 67
4.1.3. Instituições ................................................................................................................... 68
4.1.4. Património público e arquitetónico ................................................................................ 70
4.2. Localização Geográfica do Palácio da Dona Chica ............................................................ 72

CAPÍTULO 5 ...........................................................................................................74
5.1. Sollar do Rêgo - João José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto Ferreira Rêgo: Primeiros
Proprietários ........................................................................................................................... 74
5.2. Sir Roderic Harold Dalzell Henderson (1934) ................................................................... 81
5.3. Alberto Torres Figueiredo e Francisco Joaquim Alves de Macedo ...................................... 84
5.4. A compra do palácio pela Junta de Freguesia e o contrato de arrendamento feito com o
IPALTUR ................................................................................................................................. 86
5.5. João da Silva Campos (empresa de construção) .............................................................. 88

CAPÍTULO 6 ...........................................................................................................94
6.1. Sollar do Rêgo/Plantas .................................................................................................... 94

viii
6.1.1. Gramática decorativa exterior ....................................................................................... 95
6.1.2. Gramática decorativa - interior ...................................................................................... 97
6.1.2.1. Piso 1, rés-do-chão .................................................................................................... 98
6.1.2.2. Andar Nobre.............................................................................................................. 99
6.1.2.3. Segundo Andar.......................................................................................................... 99
6.2. Caracterização do Imóvel e da sua envolvente no período do IPALTUR ........................... 102
6.2.1. 1º Piso ....................................................................................................................... 103
6.2.2. 2º Piso ....................................................................................................................... 104
6.2.3. 3º Piso ....................................................................................................................... 105
6.2.4. Sótão ......................................................................................................................... 106
6.2.5. Área externa ............................................................................................................... 107
6.3. José da Silva Campos .................................................................................................... 109
6.4. Atualidade ..................................................................................................................... 111

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 114

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 117

ANEXOS .............................................................................................................. 124


Anexo 1 Carta Militar de Portugal, Instituto Geográfico do Exército -Palmeira no mapa da cidade de
Braga (1952) ...................................................................................................... 125
Anexo 2 Carta Militar de Portugal, Instituto Geográfico do Exército, Palmeira no mapa da cidade
de Braga (2015) .................................................................................................. 126
Anexo 3 Registo de Batismo-João José Ferreira Rego – natural de Braga, Freguesia de Palmeira
........................................................................................................................... 127
Anexo 4 Livro de óbitos, Conservatória do Registo Civil de Braga (1935) ................................ 128
Anexo 5 Certificado de.casamento entre João José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto Ferreira Rêgo,
República dos Estados Unidos do Brasil ............................................................... 129
Anexo 6 Certidão de casamento entre João José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto de Sousa Rêgo,
Registo Civil da República Portuguesa. ................................................................. 130
Anexo 7 Escritura de compra e venda, Luiz António Alves Pereira e Dona Francisca Rosa Alves
Pereira, Theresa Albina Alves Pereira e Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo. ............ 131

ix
Anexo 8 Escritura de compra e venda, Simão Pereira Marques e mulher, João Teixeira da Silva e
Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo ........................................................................ 134
Anexo 9 Escritura de Compra e venda, Domingos José Calheiros e Manuel Joaquim Peixoto do
Rêgo ................................................................................................................... 136
Anexo 10 Escritura de compra e venda de prédio misto no lugar do Carreiro ......................... 138
Anexo 11 Escritura de compra e venda entre António Rêgo e João José Ferreira RêgoTítulo – Fazer
em todos os que não têm título daqui em diante .................................................. 141
Anexo 12 Escritura de compra e venda, Dona Narcisa da Luz Arantes Braga, Doutor Manuel
Joaquim Peixoto do Rêgo e Dona Maria da Luz Vasconcellos ................................ 144
Anexo 13 Escritura de compra e venda, Manuel Soares da Silva d’ Azevedo, João Soarez d’ Azevedo
e Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo .......................................................... 147
Anexo 14 Contrato de compra e venda do Sollar do Rêgo ...................................................... 150
Anexo 15 Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da Comarca do Porto ............................ 153
Anexo 16 Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da Comarca do Porto ............................ 154
Anexo 17 «Ação de Separação», Comércio do Porto, 4 de agosto de 1921 ............................ 156
Anexo 18 « Ação de Separação», Comércio do Porto, 23 de abril de 1922» .......................... 157
Anexo 19 Ação de Divórcio 3ª Vara Cível, 1.º Officio, Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da
Comarca do Porto ............................................................................................... 158
Anexo 20 3ª Vara Cível, 1.º Officio- Divórcio, Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da Comarca
do Porto .............................................................................................................. 159
Anexo 21 3ª Vara Cível, 1.º Officio- Divórcio, Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da Comarca
do Porto .............................................................................................................. 160
Anexo 22 Parte do processo 12237/2004, Contrato de promessa de arrendamento ............. 161
Anexo 23 Parte do processo 12237/2004, Declaração de estimativa orçamental .................. 165
Anexo 24 Parte do processo 12237/2004, Câmara Municipal de Braga – Edital nº 31/85.... 166
Anexo 25 Parte do processo 12237/2004, Mapa de Acabamentos ....................................... 167
Anexo 26 Parte do processo 12237/2004, Gabinete de Salvaguarda e revitalização do Centro
Histórico de Braga, projeto de recuperação .......................................................... 168
Anexo 27 Parte do processo 12237/2004, Planta topográfica do terreno situado em Palmeira-
IPALTUR ............................................................................................................. 169
Anexo 28 Parte do Processo Nº 12287-2004, Diploma de Licença nº 282, Direção de estradas do
Distrito de Braga ................................................................................................. 170

x
Anexo 29 Parte do Processo Nº 12287-2004, Auto de Vistoria – Câmara Municipal de Braga 173
Anexo 30 Parte do Processo Nº 12287-2004, Carta dirigida ao Diretor Geral de Espetáculos . 176
Anexo 31 Governo Civil, criação associação Amigos do Palácio Dona Chica ........................... 177
Anexo 32 Alerta da realização de obras no Zona de Proteção do palácio Dona Chica (IPPAR), Parte
do Processo Nº 12287-2004 ............................................................................... 185
Anexo 33 Divisão de fiscalização e licenciamentos diversos – Ordem de Serviços, Parte do
Processo Nº 12287-2004 .................................................................................... 186
Anexo 34 Divisão de fiscalização e licenciamentos diversos – Auto de Embargo de Obras, Parte do
Processo Nº 12287-2004 .................................................................................... 188
Anexo 35 Defesa do monumento de interesse público – Palácio D. Chica – KATAVUS, Parte do
Processo Nº 12287-2004 .................................................................................... 189
Anexo 36 Transcrição da entrevista a Manuel Duarte da Silva, membro da associação KATAVUS
........................................................................................................................... 190
Anexo 37 Transcrição da entrevista a José Pereira, habitante da freguesia de Palmeira ......... 199
Anexo 38 Transcrição da entrevista a António Cunha, filho do antigo capataz do palácio Dona Chica
........................................................................................................................... 205
Anexo 39 Transcrição da entrevista a Lurdes Alves ................................................................ 208

xi
Índice de Figuras

Figura 1 Banco Nacional Ultramarino de Barcelos ................................................................... 55


Figura 2 Projeto da fachada posterior da casa de habitação de José Bouhon, Covilhã, ano de 1919
.......................................................................................................................... 56
Figura 3 Projeto da auto-garagem de Zenha, Marinho & Companhia, publicada no na de 1918 58
Figura 4 Capa da Revista a Construção Moderna .................................................................... 59
Figura 5. Projeto da casa de habitação de António Caetano Macieira ....................................... 60
Figura 6. Capa da revista A Construção Moderna, 8.º Prémio Valmor, Rua Viriato, nº 5 ........... 61
Figura 7 Enquadramento Geográfico da Freguesia de Palmeira ............................................... 63
Figura 8 Mapa de Palmeira ..................................................................................................... 68
Figura 9 Museu Etnográfico de Palmeira ................................................................................. 69
Figura 10 Localização do Palácio Dona Chica.......................................................................... 72
Figura 11 João José Ferreira, Maria da Conceição Ferreira, Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo,
Alcina da Conceição Ferreira do Rêgo, Isilda da Conceição Ferreira do Rêgo e João
José Ferreira Rêgo. ............................................................................................. 74
Figura 12 Fotografia de Alcina da Conceição Ferreira Rêgo,..................................................... 75
Figura 13 Retrato de Francisca Peixoto de Sousa Rêgo 29 de julho de 1912 ........................... 76
Figura 14 Quinta da Mata Semelhe ......................................................................................... 77
Figura 15 Diário do Minho, 15 de fevereiro de 1935 ............................................................... 78
Figura 16 Diário do Minho, 17 de janeiro de 1935 .................................................................. 79
Figura 17 Funeral de João José Ferreira Rêgo ......................................................................... 79
Figura 19 "Na realização do grande melhoramento", Diário de Braga ...................................... 82
Figura 18 "Braga vai ter um hotel de luxo", Diário de Braga .................................................... 83
Figura 20 «No Palácio de Palmeira foi oferecido, ontem, um almoço ao Sr. Dr. Alberto Cruz», Diário
do Minho, 10 de maio de 1935 ........................................................................... 83
Figura 21 Panfleto promocional, discoteca Dona Chica ........................................................... 87
Figura 22 Pavilhão construído sem licença .............................................................................. 88
Figura 23 Anteprojeto Palácio Dona Chica ............................................................................... 94
Figura 24 Ilustração Catholica, 27 de maio de 1916 ............................................................... 95
Figura 25 Aplicação de Lioz no Rés-do-Chão ........................................................................... 96
Figura 26 Sacada Rústica ....................................................................................................... 96

xii
Figura 27 Estudos preliminares para a escadaria nobre .......................................................... 96
Figura 28 Detalhes do Pórtico de Entrada ............................................................................... 97
Figura 29 Seção Transversal ................................................................................................... 97
Figura 30 Pormenores do Escritório e Biblioteca do Dono ........................................................ 99
Figura 31 Planta do Andar Nobre ............................................................................................ 99
Figura 32 Planta do Segundo Andar ........................................................................................ 99
Figura 33 Casa das máquinas .............................................................................................. 100
Figura 34 Fotografias do edifício antes da intervenção do IPALTUR ........................................ 101
Figura 35 Planta dos vãos do 1º Piso .................................................................................... 104
Figura 36 Plantas dos vãos do 2º piso .................................................................................. 105
Figura 37 Planta de vãos do 3º Piso...................................................................................... 105
Figura 38 Planta do Sótão .................................................................................................... 106
Figura 39 Alçado Sul ............................................................................................................ 107
Figura 40 Vestígios de obras realizadas de forma clandestina ................................................ 110

xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADB – Arquivo Distrital de Braga


ADLRA – Arquivo Distrital de Leiria
ASPA – Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e
Natural
AUCMB – Arquivo Urbanístico da Câmara Municipal de Braga
C.R.P – Conservatória do Registo Predial
DGPC – Direção-Geral do Património Cultural
DRCN – Direção Regional de Cultura do Norte
GSR – Gabinete de Salvaguarda e Reabilitação do Centro Histórico de Braga
ICCROM – Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens
Culturais
ICOM – Conselho Internacional de Museus
ICOMOS – Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios
IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico
IIP – Imóvel de Interesse Público
IPALTUR – Investimentos Turísticos Sociedade Anónima
IPPAR – Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico
IPPC – Instituto Português do Património Cultural
MIP – Monumento de Interesse Público
SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura

xiv
Introdução

O trabalho de investigação que nos propomos desenvolver pretende contribuir para o


aprofundar do conhecimento acerca do Sollar do Rêgo, comumente conhecido como Palácio da
Dona Chica. O intuito desta reflexão passa, para além de valorizar o legado deste espaço, permitir
o incremento do conhecimento histórico sobre o mesmo.
O primeiro contacto com o nosso objeto de estudo deu-se ainda durante o período da
Licenciatura. À época encontrava-me com uma colega da área de Arqueologia e percebemos que
tínhamos perto da nossa área de residência um imóvel tão peculiar e exuberante quanto
desprezado e abandonado. Após esse dia nasceu em mim a vontade de conhecer mais sobre a
sua história. Esta escolha também se deveu à precária situação em que o imóvel se encontra, à
particularidade de possuir uma gruta e um lago artificial e ao facto de ser um exemplar
paradigmático de uma “habitação nobre de província”, projetado por Ernesto Korrodi.
A investigação sobre o Sollar do Rêgo/Palácio da Dona Chica expressa a vontade de
resgatar uma narrativa histórica a partir de fontes arquivísticas, conservando a memória do
passado do edifício e dos seus habitantes. Num primeiro momento, pretende-se compreender toda
a legislação que envolve o património edificado e os mecanismos que asseguram a sua
salvaguarda.
Partindo de um levantamento preliminar do estado atual do conhecimento sobre esta
propriedade, pretende-se traçar a sua fita do tempo, compreendendo a sua arquitetura e a sua
história. Ademais, esta trata-se de uma obra de grande valor encetada pelo arquiteto suíço Ernesto
Korrodi, responsável pelo estudo do Castelo de Leiria e pela edificação de muitas outras obras,
como é o caso do Castelo do Bom Jesus, nesta mesma cidade de Braga.
Com o desenvolvimento deste estudo pretende-se refletir e debater sobre a conservação
do património arquitetónico e da sua memória, traçado uma linha cronológica com o intuito de
identificar os diferentes proprietários e as diversas utilizações do espaço. Por este ser um edifício
recente, construído no ano de 1915, é crucial refletir sobre o seu valor cultural e a necessidade
de o valorizar e preservar. Segundo Françoise Choay, “romper com o passado não significa nem
abolir a sua memória, nem destruir os seus monumentos, mas conservar uns e outros, num
movimento dialético que, simultaneamente, assume e ultrapassa o seu significado histórico
original, ao integrá-lo num novo estrato semântico” (Choay, 2000, p. 96).

15
Desde logo, é indispensável compreender o significado do próprio conceito de património
arquitetónico e o porquê de o poder económico se encontrar intimamente ligado ao mesmo
(Choay, 2000, p. 101).
O trabalho que aqui desenvolvemos pretende estudar e caracterizar a génese e a evolução
do Palácio Dona Chica, assim como a sua expressão territorial e as suas evidências arquitetónicas.
A presente dissertação tem como principal objetivo repensar a importância que é dada ao
património cultural e edificado. Nesse sentido, será utilizado como caso de estudo o Sollar do
Rêgo, comumente conhecido como Palácio da Dona Chica, construção de 1915 e que se encontra
na freguesia de Palmeira, na cidade de Braga. O objetivo geral desta dissertação passa por
conceber uma contextualização histórica e arquitetónica do imóvel, realizando uma cronologia, de
forma a caracterizar o monumento no tempo e no espaço. Almeja-se ainda identificar os diferentes
proprietários e os usos que deram e as alterações estruturais que promoveram no edifício ao longo
dos anos. O segundo objetivo passa por compreender o seu valor a nível cultural e arquitetónico
como um importante exemplar de um revivalismo que não vigorou em Portugal. Entende-se que é
importante valorizar o legado dos nossos antepassados, produzindo informações científicas sobre
o mesmo. Trata-se de deixar um marco para que os futuros projetos possam respeitar a história
do imóvel, fazendo-se valer das suas características originais.
Para a conceção desta dissertação foi necessário, em primeiro lugar, desenvolver um
estudo histórico sobre o local a ser trabalhado. Nesse sentido, utilizou-se uma metodologia
qualitativa que primou pela utilização de uma pesquisa documental e de campo. Para a realização
da pesquisa documental, procedeu-se a um trabalho de levantamento bibliográfico e ao estudo de
documentos, arquivos e publicações feitas na internet. A consulta de conceitos como património
e a sua respetiva legislação permitiu-nos compreender a importância das classificações para
proteger, preservar e promover o património.
O estudo etnográfico, e consequentemente a pesquisa de campo, mostrou-se essencial
para obter informações in loco. Segundo afirma Octávio Cruz, “o contacto do investigador com o
fenómeno a ser investigado, permite obter informações sobre a realidade dos atores sociais nos
seus próprios contextos” (Restrepo, 2016), conseguindo deste modo completar lacunas históricas,
entendendo-se que “ao se comunicarem, as pessoas relatam o contexto e o definem no momento
do relato, isto é, longe de ser um mero pano de fundo ou um quadro de referências sobre o que
aconteceu” (Guber, 2001).

16
Por não ter sido possível realizar uma visita ao local, foi necessário recorrer a formas
alternativas, deste modo, as fotografias utilizadas para caracterizar o estado atual do imóvel foram
conseguidas através de um vídeo disponibilizado no Youtube e do site do Palácio da Dona Chica1.
Num segundo momento, foi feita uma interpretação das informações recolhidas tendo em
conta a criação de uma narrativa relativa à evolução do objeto de estudo bem como da sua
envolvente, sendo seguida por um enquadramento do contexto histórico e artístico da época.
Investigou-se, de forma exaustiva, a evolução histórica e arquitetónica do Sollar do Rêgo e
do seu contexto edificado, para esse efeito foi necessário recorrer a diferentes entidades como o
Arquivo Distrital de Braga, o Arquivo Urbanístico da Câmara Municipal de Braga, o Arquivo Distrital
de Leiria, os Sistemas de Informação para o Património Arquitetónico (SIPA), o Arquivo Distrital de
Ponte de Lima, o Centro de Informações Geoespacial do Exército e a Direção-Geral do Património
Cultural (DGPC), assim como o Google Earth e os sites http://www.patrimoniocultural.pt/ e
http://www.monumentos.pt/.
O estudo encontra-se dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo consiste no
enquadramento teórico e histórico a partir de conceitos fundamentais para a compreensão e
caracterização de noções como património, sendo este definido como um conceito moderno,
explorado apenas no início do século XIX, mas também as de memória e de monumento, como
formas de recordação e evocação do passado. De seguida procedeu-se à realização de uma análise
da legislação que rege o património tanto a nível nacional como internacional, abordando as cartas
internacionais, as convenções para a salvaguarda do património arquitetónico da Europa e a
criação de conselhos internacionais de museus, como é o caso da ICOMOS, sendo seguido pelo
estudo do papel do Estado na promoção, salvaguarda e valorização do património cultural (Martins,
2020). Deste modo, são apresentadas as diferentes classificações existentes a nível nacional e
internacional. A última fase, visa a introdução ao contexto artístico do final do século XIX e início
do século XX de modo a contextualizar a nossa temática central.
Por sua vez, o capítulo dois começa por aprofundar as características da sociedade
portuguesa a partir de meados do século XIX, tratando as suas alterações a nível económico, social
e político, sendo abordado o período da Monarquia Constitucional, mais precisamente a
regeneração e o fontismo até à chegada da Primeira República. Para completar este ponto

1
Consultar o site do Palácio Dona Chica https://www.palaciodonachica.pt/?fbclid=IwAR1P-0NAwEfvkOTIoL-So_Ilbl6TSMahj-
CQcrdmm2oC4p02uviZWIG2x9I#1588247736713-420b26ad-f1f1.

17
apresentou-se relevante abordar o processo de emigração para o Brasil e, consequentemente, o
conceito de “brasileiros torna-viagem”.
O terceiro capítulo consiste na realização de uma breve biografia do arquiteto que foi
responsável pelo projeto do imóvel aqui estudado. Nesse sentido, o capítulo encontra-se dividido
em oito partes. Numa fase inicial, é explorado o percurso de vida de Ernesto Korrodi, as suas
origens, a sua formação académica e a sua vinda para Portugal. O segundo ponto explorado passa
pelo seu interesse pelos estudos histórico-arqueológicos, bem como pela sua atividade enquanto
docente e o seu papel de relevo no património nacional. De seguida destaca-se a compreensão da
sua atividade enquanto arquiteto construtor, bem como as correntes artísticas utilizadas por este,
explorando o seu legado eclético e moderno com referências medievais e renascentistas em
conjunto com os movimentos de Arts and Crafts. Relativamente às suas obras, podemos desde
logo destacar a edificação de bancos, como é o caso das filiais do Banco Nacional Ultramarino,
obras privadas (casa de Egas Moniz, casa da família Bouhon) e prédios de rendimentos. Para além
destas, foram realizadas diversas obras na cidade de Braga, como é o caso do Castelo do Bom
Jesus e da auto-garagem de Zenha, Marinho & Companhia. Por fim, será abordado o prémio
Valmor, ganho por este, bem como a sua oficina de cantaria.
O capítulo quatro visa o enquadramento do palácio da Dona Chica no espaço, para esse
efeito torna-se necessário caracterizar a freguesia de Palmeira no tempo (pré-história, período
romano, idade média, época moderna, e época contemporânea), na sua toponímia (alterações
estruturais sofridas ao longos dos anos, bem como as principais ruas), nas instituições existentes
e no seu património público e arquitetónico (Paço de Palmeira, a casa do Portelo, a Casa do
Coucinheiro, a Casa da Arrifana de Cima, Ponte de Prado, Ponte do Bico, Chafariz, Igreja
Paroquial, Capela de Nossa Senhora dos Milagres, Cruzeiro e Alminhas). Para concluir o capítulo,
precede-se ao enquadramento do edifício na freguesia de Palmeira.
Os capítulos cinco e seis visam a exploração do edificado no tempo e no espaço, realizando
uma breve introdução à história dos proprietários e das figuras que frequentaram o edifício, bem
como à evolução histórico-construtiva do mesmo. Nesse sentido, é explorada a história familiar
dos primeiros proprietários, a aquisição das diferentes bouças que integram a propriedade, mas
também o processo de promessa de compra e venda realizado entre João José Ferreira Rêgo e
Sir Roderic Harold Dalzell Henderson.
Para ser possível concretizar esta investigação foi necessário recorrer ao processo
arquivístico existente no Arquivo Distrital de Braga, no Registo Predial de Braga, no Arquivo Distrital

18
de Ponte de Lima, no Tribunal Judicial do Porto, no Arquivo Distrital de Leiria, no Arquivo
Urbanístico da Câmara Municipal de Braga. A realização de entrevistas semi-estruturadas também
se revelou importante para a concretização dos objetivos deste trabalho. O capítulo 5 visa ainda
aprofundar o conhecimento sobre o processo de aquisição da propriedade por parte da Junta de
Freguesia de Palmeira, na altura dirigida pelo então Presidente da Junta, Manuel António Pinheiro
Vieira, e o seu consequente contrato de promessa de arrendamento realizado ao empreendimento
turístico IPALTUR. Para concluir este estudo, será abordada a compra do imóvel por João da Silva
Campos e, no ano de 2019, pela empresa Magalhães & Rocchio, Lda.
A análise arquitetónica realizada no capítulo seis possibilita a compreensão das diferentes
fases arquitetónicas do imóvel, tornando-se necessária a exploração das plantas realizadas por
Ernesto Korrodi (gramática decorativa interior e exterior), bem como os usos dados a cada piso.
Já na fase seguinte são analisadas as alterações feitas no decorrer do processo de restauro
encabeçado por Paulo Tornet, em 1988, e, posteriormente, em algumas obras clandestinas
realizadas pelo proprietário seguinte, João da Silva Campos.

19
CAPÍTULO 1

No capítulo aqui apresentado serão estabelecidos aspetos introdutórios ao conceito de


património cultural e ao panorama artístico a nível internacional.

1.1. Património Cultural: notas sobre a história e a consagração de um


conceito
O conceito de património é algo complexo e com constantes modificações. Porém
podemos considerar que este sempre se encontrou associado às transferências culturais
realizadas entre as diferentes gerações. Etimologicamente, a palavra património tem origem em
duas palavras latinas, patres e múnus, que significam pais e serviço, respetivamente, tratando-se
de uma ação que se encontra ao serviço de informações passadas de pais para filhos (Martins,
2020, p. 18).
Este conceito começa a ser explorado no decorrer do século XIX, na Europa Ocidental,
sendo o resultado da nostalgia e da necessidade de recuperar os valores de outrora, entretanto
perdidos, restabelecendo uma marca identitária e interligando a memória, a história, a
historiografia, a identidade dos povos e das comunidades e desenvolvimento do trabalho de lazer
(Vieira, 2020, p. 27).
Por ser um conceito moderno, durante muito tempo não possuiu grande interesse para a
sociedade. As sociedades tradicionais reinventavam-se à luz (e, por vezes, à custa) da herança
cumulativa do seu próprio passado. Para construírem algo novo e conforme com a sua identidade
presente, as sociedades foram destruindo muito do património, sendo pouco aquele que
sobreviveu ao esquecimento e à destruição causada pelo ser humano. Antes de mais, é
indispensável compreender que o património histórico visa trazer proveito a uma comunidade
alargada, sendo este um conceito que congrega o passado comum às diferentes sociedades
(Choay, 2021, p. 11). Tal como hoje, este conceito encontrava-se afetado pelos acontecimentos
económicos, sociais e políticos, não se verificando grande maturidade nas matérias ligadas ao
mesmo (Choay, 2021, p. 110).
O património cultural constitui um conjunto de recursos herdados do passado que as

pessoas identificam, independentemente do regime de propriedade de bens, como


um reflexo e expressão dos seus valores, crenças, saberes e tradições em
permanente evolução; inclui todos os aspetos do meio ambiente resultantes da

20
interação entre as pessoas e os lugares através do tempo. [...] Uma comunidade
patrimonial é composta por pessoas que valorizam determinados aspetos do
património cultural que desejam, através da iniciativa pública, manter e transmitir às
gerações futuras.2 (Convenção de Faro)

Deste modo, o património comum abrange “todas as formas de património cultural na


Europa que, no seu conjunto, constituíam uma fonte partilhada de memória, compreensão,
identidade, coesão e criatividade”. Os direitos, as responsabilidades e as consequências públicas
e políticas são da responsabilidade de todos. Logo, ao “valorizar o património cultural através da
sua identificação, estudo, interpretação, proteção, conservação e apresentação”, estamos a
“promover a proteção do património cultural como elemento central dos objetivos conjugados ao
desenvolvimento sustentável, da diversidade cultural e da criação contemporânea” (Martins, 2020,
p. 57).

1.1.1. O património e a memória


Por muito tempo, o passado era menosprezado, acabando por sobreviver apenas
pequenos fragmentos do mesmo. No entanto, com a popularização do Romantismo e com a
afirmação do valor simbólico da identidade, cujos princípios inspirarão os nacionalismos
nascentes, o património acaba por ganhar uma maior relevância nos estados europeus entre o
final do século XIX e início do século XX. É, deste modo visível a relação do ser humano com o
passado, presente e futuro, sendo o ato de recordar e de utilizar a memória, o comportamento
mais natural do homem (Catroga, 2016, p. 22).
Para Paul Ricoeur, é o “trabalho da memória” que obriga a resistir às pulsões imediatistas
e simplistas de um patriotismo fechado e cego. A pertença saudável e a relação natural com o ser
e a herança nacionais obrigam a compreender o amor próprio, mas também a criar um espaço
de afirmação e de racionalidade. O dever de não esquecer é extensível a todo o legado histórico.
Desse modo, o valor do património cultural, material e imaterial, exige a aceitação da verdade dos
acontecimentos compreendendo e respeitando o mesmo, tornando o mundo um lugar mais
humano (Martins, 2020, pp. 26-28).
A memorialização e a consagração desse passado comum tendeu a ser executada pelos
monumentos de diversa índole. Assim, os monumentos são definidos como forma de recordar,

2
Diário da República, 1.ª série – Nº 177- 12 de setembro de 2008

21
podendo ser qualificados como bens móveis ou imóveis, “cuja conservação apresente, do ponto
de vista da história ou da arte, um interesse público” (Choay, 2021, p. 155), possibilitando um
saber e um prazer que é colocado à disposição de todos. Para ser possível conservar estes é
necessário conceber um conjunto de obrigações, destacando-se entre estas, “a identificação, a
proteção, a conservação, a valorização e a sua transmissão às gerações futuras (Choay, 2021, pp.
223-226).

1.1.2. Legislação
Nos últimos anos observa-se uma crescente preocupação por parte das organizações
nacionais e internacionais, em preservar, divulgar e identificar o património.
Em termos internacionais, com fim da Segunda Guerra Mundial, é publicado e realizado
um conjunto de cartas e convenções que tinham por objetivo conservar, divulgar e preservar o
património, sendo estas: i) a Carta de Atenas (1931), sobre a conservação e o restauro dos
monumentos; ii) a Convenção de Haia (1954), que visa a proteção de bens culturais em caso de
conflito de guerra; iii) a Carta de Veneza (1964), com a ampliação da noção de monumento
histórico e de obra arquitetónica isolada, aos sítios rurais ou urbanos que testemunham valor
histórico, ou evolução particular; iv) a convenção para a proteção do património mundial, cultural
e natural (1972); v) a convenção para a proteção do património mundial, cultural e natural, de
1972; vi) a carta europeia do património arquitetónico, de 1975; vii) a convenção para a
salvaguarda do património Arquitetónico da Europa, promulgada, pelo Conselho da Europa, em
19853; viii) a conferência internacional sobre a conservação, de 2000; ix) a Convenção de Faro,
de 2005; x) a convenção de Bruxelas e a declaração de Viena, ambas de 2009.
Em novembro de 1946, foi criado o Conselho Internacional de Museus (ICOM), em Paris,
e o Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM),
com sede em Roma e fundado em 27 de abril de 1957. O Conselho Internacional dos Monumentos
e Sítios (ICOMOS), com sede em Paris, nasceu em 21 de junho de 1965 (Martins, 2020, pp. 22-
23).
O ICOMOS define-se como uma organização não-governamental, associada à UNESCO,
que tem por missão promover a conservação, proteção, utilização e valorização de monumentos,
complexos construtivos e sítios.

3
Património Cultural. Cartas e Convenções Internacionais sobre o património. (disponível em,
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/cartas-e-convencoes-internacionais-sobre-patrimonio/, consultado a 30 de dezembro de
2021).

22
O ICOMOS é um órgão consultivo do Comité do Património Mundial para a implementação
da Convenção de Património Mundial da UNESCO. No âmbito das suas funções consultivas, esta
realiza a revisão das candidaturas a património cultural mundial e assegura o estado de
conservação dos bens culturais protegidos. A convenção foi criada em 1965 e surgiu das
necessidades patrimoniais identificadas por arquitetos, historiadores e especialistas
internacionais4.
As Nações Unidas realizaram, entre 1 e 16 de novembro de 1945 em Londres, uma
convenção com o intuito de criar uma organização educacional, científica e cultural. A UNESCO é
o primeiro organismo internacional que possui uma preocupação ativa com o património, tratando-
o como realização da civilização humana e que, em conformidade, deve ser alvo de um processo
de inventariação, conservação e proteção coincidente com esse estatuto. Em 1972, é ratificada a
adoção da convenção sobre o património mundial, cultural e natural. Seis anos depois, em 1978,
seriam inseridos os primeiros sítios na lista do património mundial5.
Em termos nacionais, a política de proteção e valorização do património, definida pela
Constituição da República Portuguesa através do artigo 78.º nº I, da lei nº 107/2001, estabelece
as bases para a política e o regime de proteção e valorização do património cultural. Segundo esta,
“todos têm direito à fruição e criação da cultura, bem como o dever de a preservar e valorizar o
património cultural”, cabendo ao Estado “promover a salvaguarda e a valorização do património
cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum” (Martins, 2020, p. 67).
Além disso, devemos atender a que o património é constituído por “todos os bens que, sendo
testemunho com valor de civilização ou de cultura todos os bens que, sendo testemunhos com
valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objeto
especial de proteção e de valorização”. Segundo o artigo 2.º da referida lei, “o interesse cultural
relevante, designadamente histórico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico,
social, industrial ou técnico dos bens que integram o património cultural refletirá os valores de
memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade”
(Martins, 2020, pp. 67-68).
Com base nas ideias e orientações presentes na lei n.º 107/2001, prevê-se a
contratualização da administração do património cultural, envolvendo a administração regional e

4
ICOMOS. Missão ICOMOS, (Disponível em, https://www.icomos.org/en/about-icomos/mission-and-vision/icomos-mission, consultado em 3 de
janeiro de 2022).
5
UNESCO. Comissão Nacional da Unesco – Ministério dos Negócios Estrangeiros, (Disponível em, https://unescoportugal.mne.gov.pt/pt/a-
unesco/sobre-a-unesco/historia, consultado em 3 de janeiro de 2022).

23
local e, sobretudo, a sociedade civil e os particulares, no sentido da preservação e valorização dos
bens culturais. O enquadramento jurídico português consagra uma política que visa a preservação
e salvaguarda do património, devendo garantir os direitos de usufruto dos valores e bens que o
integram e exigindo uma colaboração constante entre a administração pública e os particulares
(Martins, 2020, p. 69).
A Lei de Bases de 107/2001 tem por objetivo definir os princípios da proteção e
valorização do património. Para esse efeito, a lei integra todos os bens que, sendo testemunho de
um “valor civilizacional ou de uma cultura relevante, devam ser objeto de especial proteção”6.
Segundo o artigo 7.º do título II – relativo aos direitos, garantias e deveres dos cidadãos –
determina-se que todos os cidadãos possuem o direito de usufruir dos valores e dos bens culturais.
O usufruto por terceiros de bens culturais, cuja propriedade seja privada ou de outro tipo, está
dependente da administração do património cultural e do proprietário dos bens7.
Ao abordar a legislação que rege o património cultural, é importante assimilar os seus
objetivos primários, centrando-se estas na conservação, na valorização e no incremento do
património cultural protegido, bem como no reconhecimento, na formação no âmbito das ciências
e da educação, na divulgação e gestão do mesmo (Nabais, 2016, p. 51). Importa não esquecer
os regimes espaciais de proteção e valorização dos bens culturais, abrangendo o património
arqueológico, arquivístico, audiovisual, fonográfico, bibliográfico e fotográfico, mas também os
bens imateriais, como os testemunhos etnográficos ou antropológicos com valor de civilização ou
de cultura e com significado para a identidade e memória coletivas (Martins, 2020, p. 70).
O património cultural pode ser definido como “o conjunto de marcas ou vestígios da
atividade humana que uma comunidade considera como essenciais para a sua identidade e a sua
memória coletiva e que deseja preservar a fim de as transmitir às gerações vindouras” (Pierre-
Laurent Frier). Ou, nas palavras de Oliveira Martins, como “todos os bens materiais e imateriais
que, pelo seu reconhecido valor próprio, devam ser considerados como interesse relevante para a
permanência e identidade da cultura portuguesa através do tempo” (Martins, 2020, p. 57).

1.1.3. Classificação e categorias de bens patrimoniais


Segundo a Conferência Geral das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura,
realizada em Paris entre 17 de outubro e 21 de novembro de 1972, os bens culturais podem ser

6
Diário da República – I Série- A, N.º 209 – 8 de setembro de 2001
7
Diário da República – I Série- A, N.º 209 – 8 de setembro de 2001

24
divididos em diferentes categorias, sendo estas monumentos, conjuntos ou locais de interesse.
Nesse sentido, os monumentos são obras arquitetónicas, escultóricas ou pictóricas que têm um
valor excecional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Os conjuntos são definidos
como construções isoladas ou reunidas, que em detrimento da sua arquitetura, unidade ou
integração na paisagem, possuem um valor universal tanto a nível histórico, artístico, como
científico. Por fim, os locais de interesse são obras do homem ou cuja autoria é repartida entre o
homem e a natureza e as zonas, incluindo sítios de interesse arqueológico8.
Consoante o valor do património, este possui diferentes classificações, podendo estas ser
de âmbito nacional, de interesse público ou de interesse municipal.
1. Interesse nacional: quando a valorização e proteção, represente um valor
cultural de significado para a nação.
2. Interesse público: quando a proteção e valorização possuem uma importância
nacional, mas para o qual o regime de proteção inerente à classificação como
de interesse nacional se mostre desproporcionado.
3. Interesse municipal: quando a proteção e valorização, no todo ou em parte,
represente um valor cultural de significado predominante para um
determinado município. Só se atribui a classificação de bens móveis de
interesse municipal com o consentimento dos respetivos proprietários9.

A classificação de bens imóveis em territórios nacionais é atribuída pela Direção Geral de


Património Cultural (DGPC), devendo esta propor ao governo a classificação, caso sejam de
interesse público ou nacional.
Os bens imóveis em vias de classificação devem beneficiar de uma Zona Especial de
Proteção Provisória (ZEPP). Após a classificação dos mesmos, pode ser estabelecida em
simultâneo, ou num prazo máximo de 18 meses a contar da data de publicação, uma ZEEP10. Em
Portugal, podemos considerar que os organismos que regulam o património cultural são a Direção-
Geral do Património Cultural e as Direções Regionais da Cultura, podendo ainda ser integradas
neste conjunto, as autarquias.

8
DGPC, Convenção para a proteção do património mundial, cultural e natural, (disponível em,
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/ConvencaoparaaProteccaodoPatrimonioMundialCulturaleNatural.pdf, consultado em
3 de janeiro de 2022).
9
Diário da República, 1ª Série-A N.º 209 – 8 de setembro de 2001.
10
Diário da República, 1ª Série-N.º206 – 23 de outubro de 2009.

25
A Direção Geral do Património Cultural tem por missão a aquisição de conhecimento,
inventariação, conservação, valorização, e divulgação do património arquitetónico, arqueológico,
móvel e imaterial, e a execução de uma política museológica nacional11. As direções regionais de
cultura são serviços periféricos dotados de autonomia administrativa, exercendo competências nas
respetivas circunscrições territoriais: Norte, Centro, Algarve, Lisboa e Vale do Tejo, Madeira e
Açores. A sua missão, de âmbito geográfico e em articulação com os organismos municipais, visa
realizando ações que contribuam para a proteção, conservação, valorização e promoção do
património móvel, imóvel e imaterial, dando ainda apoio aos museus12.

1.2. A arte portuguesa entre o final do século XIX e o início do século XX: uma
aproximação contextual
Ao longo da história, sempre foram observadas alterações nos movimentos arquitetónicos
e artísticos. Em Portugal, o final do século XIX e o início do século XX foi marcado grandes
alterações económicas, culturais, religiosas e políticas, destacando-se a emergência de uma
burguesia, muitas vezes enriquecida através do dinheiro proveniente do Brasil13, preocupada em
transformar o seu ascendente económico em estatuto social. Esta ascensão era conseguida,
nomeadamente, através da aquisição de bens culturais e patrimoniais que a aproximavam de uma
elite socioeconómica pré-estabelecida. (Costa, Ernesto Korrodi- A habitação na imagem da cidade
de Leiria , 1997, p. 78). O fim do século XIX é também acompanhado pela introdução de novos
materiais, entre eles, o aço e os azulejos, trazidos para Portugal pelos emigrantes regressados no
Brasil. Este último entronca no cânone do romantismo, que o sagrara com uma função
emblemática, simbólica, e já não apenas decorativa (França, 1966, p. 186).

O Romantismo
O Romantismo, enquanto movimento artístico, cultural, filosófico e literário, emerge como
reação ao iluminismo, como uma tentativa de combater as mudanças que estavam a acontecer
no mundo (Oliveira, 2016, p. 219). Para os teóricos, o romantismo tem por base o alcance do
belo, revelado através das emoções e do divino, valorizando o indivíduo e os seus aspetos

11
Diário da Républica, 1ª Série- N.º206 – 23 de outubro de 2009.
12
Diário da República, 1ª Série – Nº 102 – 25 de maio de 2012.
13
Estes eram os designados brasileiros torna-viagem, portugueses que emigravam para o Brasil, e quando regressavam ao seu país de origem,
investiam em casas opulentas e no mecenato através da edificação de edifícios públicos.

26
psicológicos, fazendo uma verdadeira revolução das formas de habitar e vivenciar o espaço interior
(Carita, 2015, p. 558).
Em Portugal, o período classificado como romântico foi marcado por três gerações,
nascendo nos finais do séc. XVIII e ganhando maior expressão na segunda metade do século XIX
(Lacerda, 1942, p. 507). Segundo o que havia sido definido por Garrett, o gótico seria sem dúvida
um estilo, cujas bases remetiam à Idade Média, época eleita pelos poetas do romantismo
“revivalista”. Em 1821, o “gótico era para ele a arte dos povos escravos” – ao contrário da arte
clássica. No ano seguinte, a opinião do poeta ainda não mudara; um ano mais tarde, porém, ele
descobre no seu exilio inglês, em Dudley, uma igreja neogótica e é levado a cantar a sua beleza e
solenidade; era a arquitetura neoclássica que então lhe parecia “servil” (França, 1999, p. 101).
Em meados do século XIX, aparece uma nova corrente artística que visava ultrapassar os
constrangimentos do neoclassicismo e as propostas revivalistas. Esta caracterizou-se por ser uma
conjugação de linguagens estéticas que associavam os diferentes elementos artísticos (gótico,
classicismo e o barroco), propondo-se a ultrapassar os constrangimentos do neoclassicismo tardio
e as propostas dos revivalismos (Carita, 2015, p. 528). Em Portugal, este estilo foi trabalhado por
arquitetos como Bigaglia, Korrodi ou Ventura Terra, que procuravam inspiração no gosto francês,
através de uma composição exuberante (Carita, 2015, p. 531).
A Arte Nova surgiu em França, nos finais do século XIX, visando uma inovação nas artes,
sobretudo nas decorativas. Vendo-se como um estilo autónomo, a arte nova celebrava os “novos
fenómenos da era técnica” através de formas orgânicas e naturais. Na arquitetura, a Arte Nova
tenta suplantar os revivalismos anteriores, assegurando a transição para uma nova linguagem
arquitetónica. São empregues novos materiais, entre eles o ferro, o vidro e o betão e utilizadas
novas técnicas industriais que procuram conferir maior conforto e funcionalismo. Neste sentido, a
Arte Nova apresenta já aspetos modernistas (Santos, 2012, p. 25).
No contexto europeu, a Arte Nova originou a transição do historicismo para o movimento
moderno. Todavia, em Portugal não se verificou esse ajuste, tendo-se apenas registada a
adaptação de uma gramática decorativa que se aplicava às fachadas, verificando-se a utilização
de alguns painéis e, por vezes, em zonas pontuais das fachadas, linhas sinuosas e curvas, com
desenhos estilizados de flores (Santos, 2012, p. 30)
Para os arquitetos, a Arte Nova era importante na medida em que permitia a utilização de
novos materiais nas construções, como a pedra e a cal. Ao nível da decoração, esta encontrava-
se presente nos prédios construídos à época, nas molduras das janelas, nos arabescos

27
escultóricos das portas. Apesar do empenho de alguns arquitetos, este obteve pouco
reconhecimento no país. No Porto, foi apenas aplicado no revestimento das fachadas internas,
com um emolduramento metálico ou com uma melhor integração de elementos escultóricos
(Santos, 1953, p. 185).
O período de transição do século XIX para o século XX distinguiu-se por ser um momento
de grande produção arquitetónica, baseada nos exageros decorativos e na procura de inspiração
em diferentes estilos, entre eles, o neomanuelino, a neorrenascença, e o neobarroco (Santos,
Ernesto Korrodi, A habitação na imagem da cidade de Leiria, 2012, p. 31). Foi, com efeito, uma
época de revivalismos arquitetónico-artísticos.
Foram muitos os arquitetos portugueses que adotaram os revivalismos nas obras que
realizaram, como é o caso de José Luís Monteiro (1848-1942), Adães Bermudes (1864-1947),
Norte Júnior (1878-1962), Marques da Silva (1869-1947), Ventura Terra (1866-1919) e Raul Lino
(1879-1974). Também os arquitetos estrangeiros que realizaram obra no nosso país adotaram
esses revivalismos, como foi o caso de Nicola Bigaglia (1841-1908), de Luigi Manini (1848-1936)
e de Ernesto Korrodi (1870- 1944) (Santos, 2012, p. 31).
Relacionado com os revivalismos e com o romantismo, o neogótico fundamenta-se na
antiguidade clássica e no pensamento científico, nomeadamente nos estudos matemáticos
(Lacerda, 1942, pp. 328-329). Surgiu em Inglaterra em meados do século XVIII, através dos
estudos desenvolvidos por Horace Walpole e William Beckford, que influenciaram e encorajaram
o estudo da Idade Média, das artes medievais e de uma nova qualidade estética conhecida como
“pitoresco”. Pode-se considerar que foi na arquitetura que este estilo possuiu maior impacto,
destacando-se importantes nomes como Eugene Viollet-le-Duc (Maison, s.d.).

28
CAPÍTULO 2

O presente capítulo pretende oferecer uma contextualização social e artística de Portugal


nos finais do século XIX e início do século XX, período em que o Sollar do Rêgo foi projetado.

2.1. Arte e sociedade na viragem do século (XIX-XX): a sociedade portuguesa


no fin de siècle
Entre meados do século XIX e inícios do século XX, a sociedade portuguesa passou por
um conjunto de alterações, tanto a nível político, como a nível económico e social. Estas
transformações acabaram por afetar, de forma direta ou indireta, a edificação do Palácio da Dona
Chica e a história de vida dos seus primeiros proprietários, João José Ferreira Rêgo e Francisca
Peixoto de Sousa.
O começo do século XIX é marcado pelas lutas entre liberais e absolutistas, a Revolução
de 1820 e a crise económica, que se fazia sentir em muitos pontos do país. Com um declínio da
aristocracia, a burguesia ascende como classe social dominante, introduzindo no nosso país um
capitalismo incipiente, que acaba por não vingar devido à falta de meios e de preparação14: “pouco
produtiva, sem criatividade e gerindo uma massa de trabalhadores pouco preparada, a burguesia
que chega ao poder não fará de Portugal uma nação industrial moderna” (Bittencourt R. d., 2020,
pp. 290-294).
Logo após o fim da guerra civil de 1832-1834, é iniciada uma política de mercado livre e
de consagração dos direitos individuais, o “estado civil”. Neste, devia existir uma política igualitária
de direitos e deveres entre todos os cidadãos. Porém, acaba por ser uma política falaciosa, pois
as classes sociais mais baixas e empobrecidas não possuíam acesso à instrução e educação 15.
Quanto às infraestruturas nacionais, observa-se uma lenta introdução das vias de comunicação
rodoviárias e ferroviárias, um sistema decimal de pesos e medidas, bem como uma política
aduaneira marcadamente protecionista (Fonseca, 1998, p. 341).

14
A burguesia possuía uma postura irresponsável diante das contas públicas, procurando apenas obter benefícios pessoais, substituindo as ligações
privilegiadas entre a coroa e a aristocracia. Apesar de ter conseguido alcançar esse patamar, faltava-lhe a elegância, o refinamento e a pureza
ancestral, que compensava na atitude “patrimonialista” do bem público e luxo desmesurado (Bittencourt R. d., 2020, p. 297).
15
A formação do estado liberal prometia o fim do favorecimento pessoal, o investimento na educação, que permitiria à população obter um maior
controle sobre o estado e mais liberdade perante a Igreja católica. Muitas dessas promessas acabaram por não se concretizar, sendo uma
verdadeira desilusão para aqueles que viam no liberalismo uma oportunidade para desenvolver o país (Bittencourt R. d., 2020, p. 295).

29
2.1.1. A regeneração
Logo no ano de 1851, o Duque de Saldanha derruba o governo de Costa Cabral, e inicia
um novo período de progresso e prosperidade. As dívidas são sanadas, as finanças do estado são
equilibradas, bem como a balança comercial. O termo regeneração nasce no terceiro quartel do
século XIX e corresponde ao programa político e económico que visava a recuperação do atraso
português que, devido ao início de século conturbado, se encontrava aquém das restantes
potências europeias (Leal, 2014, p. 35)
Em 1851, Portugal vivia sob uma monarquia constitucional chefiada por D. Maria II. Com
a queda definitiva do Cabralismo, emergem dois novos polos políticos: o Partido Regenerador e o
Partido Histórico (também conhecido como Conservador16), que se revezam na governação numa
lógica rotativista. No ano de 1847, os absolutistas acabam por ser dominados. Contudo, a
contestação existente contra a monarquia-constitucional não termina, passando esta a ser dirigida
pelos republicanos e pelos socialistas, já na segunda metade do século XIX. (Serrão, 1985, p.
256).

2.1.2. O Fontismo
Desde meados do século XVIII que as elites portuguesas se encontravam preocupadas
com o atraso económico e industrial do país, quando comparado com as restantes potências da
Europa. Em 1850, “o estado das estradas não podia ser pior, apenas as populações que viviam
no litoral ou debruçadas sobre algum rio navegável podiam viajar com um mínimo de conforto. No
interior, os caminhos eram intransitáveis, não havia hospedarias e a segurança era precária”
(Mónica, 1999, p. 28).
Para compreender como se deu esta modernização, é necessário falar sobre o seu
principal responsável, António Maria Fontes Pereira de Melo, general do estado-maior comandado
pelo Duque de Saldanha e membro do Partido Regenerador. Após assumir a tarefa de reorganizar
o Estado através de diversas reformas administrativas, assegurou a criação das condições
necessárias para haver um desenvolvimento económico proporcionado pela melhoria dos
transportes. Para desenvolver todas as suas políticas, sentiu a necessidade de declarar a
bancarrota do país de modo a reduzir os juros da dívida pública. Através de empréstimos pedidos
ao estrangeiro, procedeu ao investimento nas infraestruturas nacionais, à construção de estradas,
ao desenvolvimento das linhas de caminhos de ferro (criação do troço da linha férrea que vai desde

16
O primeiro filia-se numa linha de cartismo puro e o segundo possui uma leve inspiração setembrista.

30
Lisboa até ao Carregado; mais de 80% das linhas férreas foram construídas neste período), na
construção de faróis, pontes (Ponte D. Maria Pia), portos (Porto de Leixões) e instalação de
telégrafos. Com estas medidas, verifica-se um crescimento da produção agrícola e industrial,
observando-se ainda um aumento demográfico seguido de um aumento do produto interno bruto.
Pode-se considerar que Fontes Pereira de Melo implementou uma política de progresso, seguindo
as bases do modelo liberal anglo-saxónico, onde não cabia ao Estado interferir de forma direta nos
assuntos relacionados com o comércio, a indústria, e a agricultura, mas sim criar as condições
necessárias para elas obterem um crescimento económico (Leal, 2014, p. 37), nomeadamente –
tal como foi o foco da sua política de investimentos públicos – na criação de infraestruturas.
Apesar de tudo, as políticas adotadas foram sempre muito criticadas. Tanto assim é que,
em 1878, Fontes Pereira de Melo saiu derrotado das eleições legislativas. Apesar de todas as suas
tentativas, não conseguiu entrosar-se com as camadas populares. Para além do mais, todas as
suas reformas acabaram por criar uma enorme divida pública, o que era habilmente explorado
pelos seus adversários.

2.1.3. A Primeira República


Com o desenvolvimento do partido Republicano verificamos uma tentativa de romper com
a Monarquia Constitucional, que, no seu entender, corrompia as virtudes liberais. Surgiram como
um grupo minoritário, que acabou por fundar um partido em 1876. Os seus pais foram a geração
crítica da Regeneração, defensores da necessidade de associar Portugal áquilo que de mais
moderno se fazia na Europa. Eram, essencialmente, constituídos por uma pequena e média
burguesia urbana, que afirmava representar o povo17. Acabado de passar por uma crise financeira,
Portugal vivia um período de mudanças. Por um lado, tínhamos a revolução industrial, por outro,
as colónias, que cada vez eram alvo do interesse nacional e da cobiça estrangeira 18. Com a
Conferência de Berlim, realizada em 1884, Portugal vê-se obrigado a ocupar definitivamente o seu
território nas colónias. Nesse contexto, a Sociedade de Geografia de Lisboa desenvolve um projeto
conhecido como “mapa cor-de-rosa”, um projeto que pretendia ligar o território localizado entre
Angola e Moçambique, criando um novo “Brasil” no continente africano. Contudo, a Inglaterra não
aceita o pedido de Portugal, iniciando um verdadeiro conflito. É feito um ultimato que exigia a
retirada das forças militares mobilizadas nos territórios localizados entre Angola e Moçambique.

17
Os republicanos apoiavam-se na classe média, nos pequenos proprietários fundiários e nas profissionais liberais.
18
Com o tratado de Lourenço Marques, realizado no ano de 1879, começa-se a perceber-se o interesse da Inglaterra pelo sul de Moçambique.

31
Com a cedência por parte do governo e do rei D. Carlos, levanta-se uma grande onda de
contestação popular de cariz nacionalista, antibritânica e antimonárquica. Este conflito gera um
grande problema a nível interno, criando uma grande agitação social que leva à queda do governo
progressista e, mais tarde, ao fim do regime monárquico.
A instauração da Primeira República ocorre no dia 5 de outubro de 1910, tendo por base
o princípio de que “o país é para todos, mas o estado é para os republicanos” (Ramos, 2009, p.
577). A Primeira República insere-se na continuidade do liberalismo do século XIX, emergindo da
crise que a sociedade portuguesa enfrentava desde meados da década de 80 do século XIX. O
ímpeto da regeneração já se encontrava esgotado. Vivia-se um período em que a consolidação do
quadro clássico do capitalismo ocidental condicionava fortemente o desenvolvimento autónomo
dos capitalismos periféricos, como era o caso do português. A Primeira República acaba por não
regenerar as origens liberais, mas será fortemente marcada pelo discurso populista, lutando contra
as consequências económicas decorrentes dos investimentos realizados no final do século e pondo
fim aos privilégios dos poderosos (Candeias, 2006, p. 162).
Logo após a implantação da República é formado um governo provisório, presidido por
Teófilo de Braga, que vai assegurar a governação e promulgar a Constituição. Durante cerca de
um ano foram realizadas numerosas reformas, que haviam integrado o programa e a propaganda
do Partido Republicano durante os anos finais da Monarquia. São, assim, criados símbolos
nacionais, como é o caso da bandeira, do hino e da moeda. São também introduzidas
modificações ao calendário, onde passam a constar novos feriados oficiais e festas nacionais. Por
outro lado, a República consagrou a obrigatoriedade do ensino primário, reconheceu o direito à
greve e o descanso aos domingos, aboliu os privilégios de nascimento e criou o Panteão Nacional,
espaço de celebração das principais figuras da pátria. Em 20 de abril de 1911 foi declarada a
separação entre a Igreja e o Estado, acontecimento que causou profundas alterações na vida
nacional e que visou a consagração da “liberdade de consciência e [da] igualdade civil e política
para todos os cultos” (Serrão, 1985, p. 302).
O regime republicano foi atravessado e marcado por muitos conflitos e numerosas
contradições. Desde logo, destacam-se as duas ditaduras intercalares e a Grande Guerra, que
trouxe efeitos catastróficos para o povo português. A instabilidade política é facilmente constatável
na rápida sucessão de executivas: “quarenta e tal governos, seus presidentes, eleições
parlamentares em média de dois em dois anos, vinte e cinco revoltas e motins” (Martins, 1998,
70). Pelo pouco tempo de vida que teve e pelo período conturbado que atravessou, Candeias

32
considera que a República e os seus governos e partidos não tiveram oportunidade para se
consolidar e estabilizar (Candeias, 2006, p. 167).
Como frisa Ventura,
a República caminhava, após a experiência sidonista, para o abismo, numa sucessão
de governos, escândalos e cisões partidárias, em que o clima de instabilidade se
torna insuportável. As instituições desacreditaram-se pondo em causa o próprio
regime. As críticas surgiam de setores desencontrados, à esquerda e à direita, dos
integracionistas e simpatizantes das experiências autoritárias europeias, mas
também das organizações de operários radicalizados – anárquicos e “bolchevistas”
– inspirados pelos movimentos revolucionários russo e alemão (Ventura, 1998, p.
130).

Herdados da Monarquia Constitucional, o défice e o endividamento do país persistiram e


agravaram-se com a Grande Guerra. A situação económica portuguesa acabou por piorar, criando
ainda maior instabilidade política. O conflito provocou um aumento das despesas militares, que
ultrapassaram o serviço da dívida. No contexto do pós-Guerra, a situação complicou-se ainda mais,
tornando-se a crise cada vez mais endémica e profunda. Em vários anos, as câmaras
parlamentares não conseguiram aprovar orçamentos, vivendo-se em regime de duodécimos
provisórios (Franco, 1998, pp. 211-215).
Apesar de tudo, no século XIX e na primeira metade do século XX, foram muito poucos os
regimes que, assentando a sua matriz na democracia, conseguirão, com uma taxa de alfabetização
tão baixa, sobreviveram por um período tão alargado como a Primeira Républica portuguesa
(Candeias, 2006, p. 172).

2.1.4. A emigração para o Brasil


O início do século XIX foi marcado por um grande crescimento demográfico – Portugal
não foi exceção. Contudo, a incapacidade económica do país, acabou por se demonstrar mais
preponderante. Verificavam-se problemas relacionados com a distribuição de terras,
especialmente no norte do país (Klein, 1993, p. 235).
Como o crescimento demográfico não foi acompanhado pelo desenvolvimento e pela
melhoria da capacidade económica do país, gerou-se uma crise socioeconómica que, em muitas
casos, foi ultrapassado, a nível individual, através da emigração. A emigração portuguesa não foi

33
um processo uniforme, nem em termos geográficos nem em termos temporais. A sua origem
concentrou-se, principalmente, nas áreas do litoral e do interior norte, onde a presença do
minifúndio era mais preponderante, mas também do Nordeste transmontano e das ilhas dos
Açores e da Madeira (Klein, 1993, p. 236).
Segundo José Serrão,
torna-se muito difícil distinguir, ao longo da nossa história moderna e contemporânea,
no fluxo ininterrupto de emigrantes que abandonaram definitiva, ou temporariamente,
a terra natal, aqueles que devem ser inscritos na categoria de ‘colonizadores’ e
aqueloutros para os quais seria mais pertinente reservar a denominação atual de
‘emigrantes’ […] emigrante é tão-só àquele que resolveu abandonar o País por
motivos pessoais, livremente concebidos, independentemente de solicitações oficiais
e, até, muitas vezes em oposição a estas (Serrão, 1970, p. 598).

A emigração portuguesa, neste período, tinha como principal destino o Brasil, um país
com uma língua e um passado histórico comuns e onde os salários eram mais elevados (Klein,
1993, p. 242). É possível identificar que, entre os anos de 1856 e 1857, cerca de 44% dos
estabelecimentos comerciais existentes nesse país tinham portugueses como proprietários. Foi
apenas com a abolição da escravatura, em 1888, que os emigrantes passaram a trabalhar no
setor agrícola, satisfazendo as necessidades de mão-de-obra barata (Klein, Análise social, vol.
XXVII(121), 1993, pp. 343-344). Segundo Alexandre Herculano (1838),
as solidões do Brasil carecem de agricultura; e na agricultura, a inteligência de um
homem basta para mover os braços de muitos outros. Com crescimento da
população, com a fundação de granjearias e de povoações, os artistas ainda
medíocres e imperfeitos se poderiam empregar utilmente (Diário do Governo, n.º 12,
13 de janeiro de 1838, p. 2)19.

A emigração processava-se, na maioria das vezes, de forma clandestina20, o que


condiciona o seu estudo. Todavia, sabe-se que esta era protagonizada, sobretudo, por indivíduos
do sexo masculino com idade inferior a catorze anos, numa tentativa de escapar ao serviço militar.

19
Texto de Alexandre Herculano intitulado “A emigração para o Brasil” (12.1.1838). https://www.cepese.pt/portal/pt/investigacao/bases-de-
dados/legislacao/anexos/downloads/104_Texto%20de%20Alexandre%20Herculano%20Intitulado%20%e2%80%93%20A%20Emigra%c3%a7%c3%
a3o%20para%20o%20Brasil%20(12.1.1838).pdf
20
Os emigrantes clandestinos chegaram a corresponder a um terço dos emigrantes registado.

34
Após a chegada ao Brasil, os destinos podiam ser dois: São Paulo e Rio de Janeiro (Klein, Análise
social, vol. XXVII(121), 1993, p. 241).
Com o aumento da emigração, o crescimento populacional regista percentagens menores.
Muitas mães acabam por morrer sem reencontrar os seus filhos, que viajam com o intuito de
encontrar, na outra margem do Atlântico, uma vida melhor (Bittencourt, 2020, p. 302).

2.1.4.1. Os brasileiros Torna-Viagem


Do final do século XIX à eclosão da Segunda Guerra Mundial, muitos destes brasileiros
endinheirados que regressavam às suas terras de origem, representavam o papel de verdadeiros
dinamizadores das localidades portuguesas. Estes “brasileiros” investiam os seus capitais nas
indústrias tradicionais, na agricultura, no comércio, mas também na construção e na reconstrução
das quintas ou das habitações urbanas que adquiriam com a fortuna feita no Brasil. O “brasileiro”
era encarado como o protagonista e o agente dinamizador do progresso e desenvolvimento das
relações entre Portugal e o Brasil (Maia F. P., 2009, p. 166).
Além de constituírem um tipo humano muito característico da sociedade portuguesa do
século passado, contribuíram para a alteração da própria paisagem dos centros populacionais:
“Por toda a faixa litoral”, como explica, Orlando Ribeiro, “do Minho ao Mondego, se
pode ver, por aspeto das casas e das povoações, os vestígios dessa fonte de riqueza
[“brasileiros”] alheia a tais regiões”. Além do mais, o império parlamentar de 1873
reconheceu esse acontecimento ao proclamar: “Se lançarmos a vista sobre as
cidades, vilas e aldeias, ali encontramos palácios sumptuosos, casas elegantes,
casais cómodos, tudo edificado com o dinheiro de emigrantes de ontem trouxeram
da emigração” (Serrão, 1985, p. 372).

A questão da emigração é tratada por diversos autores portugueses, destacando-se, ainda


no século XIX, nomes como Oliveira Martins (1845-1894), Alexandre Herculano (1810-1877), Júlio
Dinis (1839-1871), Fialho de Almeida (1857-1911) e Eça de Queirós (1845-1900). Com refere
Oliveira Martins, citado por Serrão, o português “que se torna negociante, enriquece e, vendo-se
dono de um pecúlio maior ou menor, como esse pecúlio é dinheiro sem fixidez, líquida, recheia a
carteira e volta a acabar regaladamente a vida junto às carvalhas da sua infância, na Praça Nova
do Porto, ou na rua das Capelistas de Lisboa” (Serrão, 1985, p. 372).

35
Segundo Alexandre Herculano, o “brasileiro torna-viagem”, é aquele nasceu em Portugal
e cedo emigrou para o Brasil. Após obter fortuna, regressa ao país de origem. Salvo raras exceções,
os brasileiros torna-viagem eram quase sempre ridicularizados, exemplo disso foi o caso de Camilo
Castelo Branco (1825-1890), quando caricaturou ironicamente o emigrante como um retornado.
“Nos livros em que se escreveu sobre a questão (…), fixou-se a imagem do regressado rico também
muito estúpido, ganancioso, usuário e faminto por comendas e nobilitação. Era o novo-rico,
alardeador, de costumes exóticos, com sotaque e roupas diferentes” Esta imagem está associada
à ideia do Brasil como “árvore das patacas” (Silva, 2014, pp. 391-393).
Mal-entendidos pela maioria dos intelectuais da época, os emigrantes foram uma das
figuras mais importantes para a dinamização de Portugal (Maia F. P., 2009, p. 165).

2.2. O contexto artístico no século XIX e no início do século XX

2.2.1. O contexto artístico europeu


As transformações sociais ocorridas ao longo da história foram sempre acompanhadas
por correntes e movimentos de renovação. Nessa perspetiva, no decorrer deste ponto estudar-se-
ão a arte e a arquitetura a partir de uma perspetiva, simultaneamente, europeia e nacional,
compreendendo as diferentes correntes em voga. O final do século XIX foi um período de grandes
transformações económicas na Europa que alteraram por completo as necessidades da
sociedade. No contexto nacional, verificou-se um incremento nas áreas das artes e da arquitetura,
sendo explorados temas como o clássico e o romântico.
A arte tem por função
apresentar em geral a ideia à instituição, imediata na sua forma sensível e não na
forma do pensar e da pura espiritualidade, na medida em que essa apresentação
retira o seu valor e a sua dignidade da correspondência e da unidade dos dois
monumentos que constituem a ideia e a sua forma, o estatuto e o grau de excelência
da arte, quanto à realidade em conformidade com o seu conceito, dependem do grau
de intimidade e da unidade em que a ideia e a forma aparecem elaboradas uma e
outra. (Ferry, 2003, p. 153)

Desta forma, a superioridade da forma da arte media-se através da capacidade de exprimir


a verdade da ideia, em primeiro lugar, pela capacidade que possui de exprimir a verdade da ideia,

36
(Ferry, 2003, p. 153) desse modo, o artista, não se limitava a obedecer aos padrões de uma lógica
mecânica, mas a alcançar a liberdade de expressão do seu próprio trabalho (Argan, 1998, p. 33).
Segundo Coubert (1847), citado por Argan,
a arte, em sua época, não tem mais razão de ser se não for realista. Mas o próprio
realismo não significa a diligente imitação da natureza; pelo contrário o próprio
conceito de natureza deve desaparecer, enquanto resultante de escolhas idealistas
no mundo do real, isto é, encarando a realidade de frente, e prescindindo dos
preceitos estéticos, morais e religiosos. (Argan, 1998, p. 34)

Por fim, importa ainda sublinhar que a arte moderna nasce ou é um produto da cultura
artística do iluminismo, cujos temas fundamentais são a recusa da retórica figurativa e barroca e
da função comemorativa tradicional da figuração aleatória e histórico-religiosa. Na primeira metade
do século XIX, a arte abre-se a novos caminhos, nomeadamente o fanatismo religioso e o
irracionalismo (inspirado em El Greco). Por outro lado, a arte, em algumas correntes artísticas,
passa a ser vista como devendo representar a límpida inteligência e a dignidade moral e civil
(Étienne, pp. 38-40).

Romantismo
O romantismo é um movimento artístico que se desenvolveu na Europa entre o final do
século XVIII e a primeira metade do século XIX. Relativamente ao seu contexto histórico, surge no
rescaldo da Revolução Francesa, onde se verificava um crescente desenvolvimento dos ideais
iluministas, a ascensão da burguesia ao poder e a Revolução Industrial. O romantismo opôs-se ao
neoclassicismo, sendo produzido para uma nova classe social dominante. Esta não almejava
apenas um ascendente nas áreas políticas e económicas, mas também nas filosóficas e artísticas.
O romantismo definiu-se como um veículo de difusão das ideias e dos valores burgueses,
nomeadamente a tríade “casamento, religião e nação” (Ternois, 1991, p. 457)
A partir desse momento, verifica-se uma maior preocupação com a visão pessoal do “eu”,
a “idealização” e a “emoção”. Assim, “a palavra ‘romântico’ deriva do inglês e começou por
designar os aspetos de natureza selvagem ao arranjada pelo homem for forma a favorecer o sonho
de aprofundar o sentimento” (Ternois, 1991, p. 457)21. Cada obra é única e original, fugindo da
realidade para o passado, a Idade Média e a arte cristã onde “a atividade do artista, não é mais

21
O romantismo permanece intrinsecamente ligado ao sensível, e de certo modo, à exterioridade.

37
considerada um meio de conhecimento do real”, mas sim, “de transcendência religiosa ou
exortação moral” (Argan, 1998, p. 11).
Esta corrente define-se pela “superação da arte por si própria, superação que permanece,
todavia, ainda no domínio próprio da arte, bem como na sua forma” (Ferry, 2003, p. 158).
Intrinsecamente ligada ao sensível e à exterioridade, esta é uma arte do sentido interno, do
sentimento e da “saída da arte e da entrada da religião” (Ferry, 2003, p. 159).
O romantismo encontra-se inserido numa parte integrante dos movimentos renascentistas,
que o procuraram fazer reviver através de novas formas, presentes em elementos romântico-
historicistas (os designados “neos”), como foi o caso do neogótico, neomanuelino,
neorrenascentista, neorromânico e neobarroco (Teixeira, 2018, p. 32).
Na Inglaterra, o anseio pela ordem e pelo empirismo coexistiu com o desejo da emoção e
da experiência subjetiva. Na arquitetura e no desenho paisagístico, revelam-se evoluções
neoclássicas de uma antiguidade nobre. O gosto britânico pelo sublime revelou-se no desenho
paisagístico de jardins, onde se encontra uma evidente felicidade e variedade pitoresca com vários
níveis de significados associativos (Janson, 2010, p. 839).
O neogótico também teve os seus teóricos. Em Inglaterra, destacam-se os Pugin22 – pai e
filho –, que montaram um índice tipológico para a arquitetura e decoração góticas inspiradas nos
edifícios medievais. Estes eram convertidos em objeto de estudo, obtendo-se, através deles,
modelos repetíveis e industrializáveis, como é o caso do palácio Westminster, sede do parlamento
inglês, um mostruário da morfologia neogótica (Argan, 1998, p. 30).
Viollet-le-Duc (1814-1879) foi um pioneiro do revivalismo gótico em França. Para além de
escritor e restaurador, foi engenheiro e um dos primeiros a intuir as possibilidades que os novos
materiais forneciam. A ele se deveu o estudo filológico dos monumentos góticos, tendo
investigando os seus sistemas de construção e a sua conceção espacial e material totalmente
diferente da sua dimensão social (Argan, 1998, pp. 30-33).
Na Alemanha, Gottfried Semper23 defendeu a função e a finalidade em relação às escolhas
estilísticas e ao gosto neogótico revivalista (Argan, 1998, p. 31).
Em Inglaterra, o gótico, nunca deixou de fazer parte da arquitetura, exemplo disso é o caso
de Horace Walpole (1717-1797)24, que, no terceiro quartel do século XVIII, aumentou e “gotizou”

22
Augustus Welby Pugin nasceu na cidade de Londres em 1812 e faleceu no ano de 1852. A ele se deve estabelecimento do conceito modernista,
apesar deste não ser muito utilizado nas suas obras, pois preferia o estilo neogótico.
23
Gottfried Semper, nasceu em Hamburgo em 1803 e morreu em Roma no ano de 1879, sendo considerado um dos arquitetos alemães de maior
relevo, destacou-se no seu papel enquanto crítico de arte e professor de arquitetura. Foi responsável por obras como Hoftheater (1838-1841),
Villa Rosa (1839), Palácio Oppenheim (1845-1848) e Galeria Semper (1847-1855).
24
Horace Walpole foi um romantista inglês que inaugurou um novo género literário, o romance gótico, com a obra The Castle of Otranto (1764).

38
a sua casa de campo, conferindo-lhe um carácter gótico. Apesar da sua deliberada irregularidade,
o edifício apresentou superfícies lisas que faziam lembrar Robert Adam25 (1728-1792)
(H.W.Janson, 1998, p. 578).

Revivalismo
As convulsões sociais e políticas que abalaram a Europa entre os anos de 1789 e de 1848
resultaram na procura da estabilidade e do conforto, desejo que na arquitetura se traduziu sob a
forma de estilos revivalistas.
Em Inglaterra, podemos identificar a casa de Horace Walpole, Stranwberry Hill, que ficou
concluída no ano de 1754 e que associava livremente as peças de coleção de um amador
afortunado e um ambiente convencional cujas referências arqueológicas se revelam muito pouco
precisas. O mesmo acontece com Fonthill Abbey e a sua casa de campo, disfarçada de abadia
medieval.
Em França, o pintor Lenoir (1761-1839) foi o criador, em 1795, do Museu Monumentos
Franceses, reunindo aí as esculturas que a Revolução banira das igrejas e das abadias. Lenoir
pretendia aproveitar o espólio de colecionadores como Pierre Révoil (1776-1842) e Alexandre du
Sommerard (1779-1842). Este último fora também o iniciador do museu de Cluny (Loyer, 1991,
p. 475).
O maior monumento do revivalismo gótico é, sem dúvida, o Parlamento de Londres. Este
é considerado o ponto fulcral do sentimento patriótico, apresentando uma mistura entre a simetria,
que domina o corpo central do palácio, e a irregularidade pitoresca que caracteriza o seu perfil
(H.W.Janson, 1998, p. 580).

O ecletismo
O ecletismo corresponde a um estilo arquitetónico dos séculos XIX e XX em que um edifício
ou obra incorporam elementos de estilos históricos anteriores (Teixeira, 2018, p. 34). Reclama,
reinterpreta e conjuga elementos culturais tradicionais do Ocidente (Grécia, Roma, Idade Média,
Renascimento, Barroco e Rococó), regionais e exóticos (influências românticas, japonesas,
chinesas e árabes). Está também está relacionado com os estilos revivalistas da decoração de

25
Robert Adam foi um arquiteto escocês, adepto do neoclássico e designer de interiores e mobiliário. Ao longo da sua vida desempenhou diversas
tarefas de importante relevo. Assim, no ano de 1754, destaca-se a realização de uma grand tour (uma expedição arqueológica), que lhe permitiu
estudar com um maior pormenor a arquitetura clássica. Pouco tempo depois transformou-se num dos mais importantes arquitetos do seu país,
sendo nomeado para o cargo de arquiteto oficial do Rei da Inglaterra, entre os anos de 1761 e 1769. Podemos considerar que este foi o líder
da primeira fase do neoclassicismo na Europa e na Escócia, pertencendo à Real Academia de Artes (1758), à Sociedade de Antiguidades Inglesas
(1761), e tendo sido eleito para integrar o parlamento, no ano de 1768 (Durante, 2015).

39
interiores, verificando-se uma massificação dos adornos, proporcionados pela industrialização da
sua produção. Em Inglaterra, John Soane esteve entre os mais conhecidos arquitetos do
revivalismo neoclássico e A.W.N Pugin entre os mais famosos a trabalhar o neogótico (Janson,
2010, p. 879).
Num contexto europeu, os ecletismos desenvolveram-se num contexto de revolução
industrial, combinando entre si os elementos científicos e tecnológicos, optando por uma visão
instrumentalizada dos estilos, recusando-lhe a capacidade de síntese da arquitetura (Carita, 2015,
p. 528).
O ecletismo pode incluir pequenas características, como é o caso de elementos nas
fachadas e estruturas, mobiliários, ornamentos históricos distintos e diversos motivos decorativos.
Esta sincretização de estilos também se encontra presente na arquitetura.
O ecletismo pode incluir pequenas características, como é o caso de elementos nas
fachadas e estruturas, mobiliários, ornamentos históricos distintos e diversos motivos decorativos.
Esta sincretização de estilos também está presente na arquitetura. Para analisar o ecletismo, é
importante compreender as suas diferentes fases: simultâneo, sintético e formal.
O ecletismo simultâneo afirmou-se por volta do ano de 1830, beneficiando a história
cultural apresentou um conhecimento real sobre a arqueologia e demonstra um evidente interesse
histórico que vai de Carlos Magno (742-814) a Luís XIII (1601-1643) (Loyer, 1991, p. 475).
O ecletismo sintético procura uma conciliação prática das oposições, ressaltando o projeto
de Louis-Auguste Boileau (1812-1896) para a construção de uma “catedral sintética” uma obra
que reunia as tradições góticas e clássicas (Loyer, 1991, p. 477).
O ecletismo formal correspondeu à última fase do ecletismo do final do século XIX, com o
triunfo da École des Beaux Arts de Paris, com a exaltação de ornamentos barrocos e neoclássicos,
presentes em toda a Europa Ocidental, exemplo disso é o edifício Grand Palais. (Loyer, 1991, p.
479).
Em Portugal, os ecletismos erguem-se após as reformas fontistas, defendendo uma livre
conjugação de diferentes linguagens estéticas. Na arquitetura ele apresenta uma maior força na
acentuação decorativa, podendo-se identificar as Quintas de Monserrate e do Relógio, com a
utilização de uma linguagem mais livre dos diversos estilos arquitetónicos (Carita, 2015, p. 528).
Com uma maior expressão funcionalista, os programas concretizados apresentam uma
atitude funcionalista, tendo em consideração a articulação dos vestíbulos, salas, quartos e
escadas, adquirindo um ambiente único (Carita, 2015, p. 529).

40
Em Lisboa, podemos destacar o nome de arquitetos como, Giuseppe Cinatti, com o
Palacete Iglésias, o Palacete Bessone ou o Palacete Nunes Correia- Almedina (com valores
Barrocos). Todavia, é na geração de os sucedem, no final do século XIX, que o ecletismo obtém
uma maior hegemonia, podendo ser identificados nomes como Bigaglia, Korrodi e Ventura Terra,
que através de uma inspiração francesa fin de siécle e italiana afirmam uma composição
exuberante (Carita, 2015, pp. 530-531).

A Arte Nova
A Art Nouveau define-se como um movimento artístico criado no final do século XIX na
Bélgica, e procurou acompanhar as mudanças da nova sociedade industrial. Este é um estilo
puramente decorativo que surgiu entre os anos de 1890 e 1895, e que posteriormente se
propagou para Estados Unidos, Inglaterra, França e Escandinávia. Influenciada pelo movimento
inglês Arts and Crafts (que retoma os ideais e as propostas de William Morris), opôs-se ao
historicismo, procurando uma maior originalidade nas suas obras. O seu surgimento e a sua
afirmação estiveram intimamente ligados ao desenvolvimento da burguesia, pois a sociedade
pretendia um estilo que comunicasse as inovações industriais (Chântelet, 1991, p. 496). Esteve
presente no design, nas artes gráficas, na arquitetura e na decoração, tendo entre as suas
características principais a utilização de materiais como o vidro, a madeira e o cimento. A sua
ornamentação baseava-se nas formas orgânicas de plantas assimétricas e arabescos.
Relativamente aos artistas, destacam-se nomes como Louis C. Tiffany (1848-1933),
Siefried Bing (1850-1905), Émile Gallé (1846-1904), Antonin Proust (1832-1905), Antonio Gaudí
(1852-1926) e Thorvald Bindesbøll (1846-1908) (Chântelet, 1991, pp. 496-498).
• Louis C. Tiffany foi um importante criador de designs, que alterou para sempre o
panorama artístico da época, filho de Charles Lewis Tiffany, o fundador da companhia
Tiffany & Young, uma empresa de joalheiros e comerciantes de artigos de prata. Louis
começou a estudar pintura em Nova Iorque, apesar de ter sido de uma forma bastante
informal, sendo influenciado sobretudo por William Morris e pelo movimento das Artes e
Ofícios da Inglaterra. Dentro dos seus trabalhos, podemos destacar Candeeiro de Pierpont
Morgan (1900), Candeeiro Wistaria (1899-1925), Jarra Jack-in-the-pulpit, peça
experimental (1900), colar Loetz’Witwe (1896) (Fahr-Becker, 2000).

41
• Siefried Bing, teve por inspiração a arte japonesa, que lhe deu a oportunidade, que
eventualmente lhe deu a oportunidade de vender as suas obras. Este foi o precursor do
Art Nouveau na França. Dedicou-se à exportação a partir da 1870, dedicando-se à
importação de objetos de arte para o Japão e outros países asiáticos. Em abril de 1895
abriu a sua galeria de arte Maison de l’ Art Nouveau (Fahr-Becker, 2000).
• António Gaudí, foi um importante arquiteto catalão sendo o maior expoente da
arquitetura da arte nova na Espanha. Nas suas obras, podemos destacar a casa Milá, com
a ausência de linhas retas e planas, aberturas arredondadas e sem simetria; a Sagrada
Família “a Sagrada Família é a maior obra de arquitetura criativa dos últimos vinte e cinco
anos. É a representação digna do espírito, inerente à pedra!” (Fahr-Becker, 2000), o
Palácio Güell, a primeira grande encomenda de Gaudí, realizada pelo seu posterior amigo,
Eusébio Güell, um importante mecenas da arte; a Cripta, Colònia Güell, Santa Coloma de
Cervellõ, Barcelona, Porta do Dragão, entrada para a Finca Güell, avenida de Pedralbes,
uma obra que representa bem os trabalhos catalães realizados em ferro forjado, o dragão
no parque Güell, os bancos paras as casas Calvet, a casa Batlló, com o seu telhado visível
da rua com torres laterais cilíndricas, apresenta um jogo de cores, integrado na massa
arquitetónica
• Thorvald Bindesbøll dedicou-se a várias áreas da cultura dinamarquesa, no decorrer
de 1900. Destaca-se pelo seu estilo plano ornamental plano, que utilizava em todas as
áreas das artes (cerâmica, encadernação, ilustrações, peças em prata, cerâmica,
encadernação, ilustrações, joias, peças de prata, cartazes e projetos arquitetónicos (Fahr-
Becker, 2000).
• Émile Gallé, o seu verdadeiro génio revela-se na combinação da filosofia e da poesia,
com o material físico. Salva ornamental (1878), Jarra de Narcisos (1900), Veilleuse, um
candeeiro de noite (1900), La main, uma escultura feita em vidro (1900), L’ Orchidée
(1900), Guéridon aux trois libellules, uma mesa-redonda com libélulas que data o ano de
1900), escadas da casa maison Bergeret, Nancy (1903-1904).

Foi na cidade de Paris que a Arte Nova desempenhou um papel preponderante. Destaca-
se o nome de Hector Guimard (1867-1942), que, após obter a encomenda das entradas para o
metropolitano de Paris, no ano de 1899, atribuiu à Arte Nova o papel central. Para além destes,
destacaram-se ainda Georges de Feure (1868-1928), pintor e criador de mobiliário, vitrais e

42
tapeçarias, Alexandre Charpentier (1856-1909), escultor e ornamentista, e Eugène Gaillard (1862-
1933), nasceu em Paris, e dedicou-se ao movimento do Japonismo, atuando de forma mais
preponderante um designer de interiores, de móveis e de têxtil, para além do mais foi co-fundador
da Société des Artistes Décorateurs, sendo também o responsável pela publicação do manuscrito
“À Propôs du Mobilier, Sobre o Mobiliário (Chântelet, 1991, p. 496).
Em Portugal, a Arte Nova não possuiu um impacto avassalador, sendo integrada numa
fase mais tardia, quando comparada com cidades como Paris, Bruxelas, Viena e Glasgow. Por
condicionantes, podemos identificar logo de partida, uma industrialização incipiente, falta de
críticas académicas, bem como a crise económica e política verificada no final do século XIX e
início do século XX, dando-se a partir do ano de 1920, até ao ano de 1930. Já numa segunda
fase, (1950) através do aumento dos estudos académicos referentes a esta, verificamos um
aumento significativo desta corrente artística. Segundo afirma Manuel Rio-Carvalho (1957), “a arte
nova em Portugal é mais decorativa do que arquitetónica, tal como o era na França”, encontrando-
se reduzida a formas decorativas. Podemos entender que esta não se limitou a criar uma réplica
do modelo francês, acabando por incorporar os seus próprios elementos, como é o caso do
azulejo. No entanto, acabou por nunca se tornar autónoma, possuindo um mercado direcionado
para proprietário com menos posses e sendo aplicada em pequenos prédios e estabelecimentos
comerciais (Carlos, 2020).

A Arquitetura e os palacetes
No quadro cultural, marcado pelo ascendente liberal e capitalista, da sociedade
portuguesa podemos considerar que o modelo de palacete constitui uma tipologia única. Opondo-
se aos modelos de palacete do Antigo Regime, estamos perante uma tipologia que apresenta
menores dimensões, concretizando tudo aquilo que se encontrava em voga na arte e na
arquitetura e representando a ascensão e afirmação de uma nova classe social. Num panorama
geral, os palacetes definiram-se como sendo a manifestação da consciência dos indivíduos da sua
trajetória de ascensão e afirmação social, devendo também, em conformidade, criar e adquirir
uma nova forma de habitar e uma nova relação com a sociedade. Neste contexto, o interior-exterior
e o privado-público adquirem novos significados (Carita, 2015, pp. 521-522).
Apresenta-se uma gradual racionalização distributiva dos espaços, os corredores adquirem
uma maior importância, gerando uma maior privacidade. No que toca à antiga estrutura do andar
nobre, este encontrava-se localizado no primeiro piso do edifício, ao mesmo tempo, o rés-do-chão,

43
passa a desempenhar uma relação informal com as restantes dependências. As escadarias nobres
perdem a sua importância, passando a ser construída uma estrutura de madeira inserida no
vestíbulo. Abrindo-se para uma vida rica e variada – realização de grandes jantares e saraus –, o
andar nobre desdobra-se em compartimentos adequados a funções muito especificas, como é o
caso do salão de baile, do escritório, da biblioteca e das salas de bilhar (Carita, 2015, p. 523).
Segundo José-Augusto França (1966), os edifícios são encarados como lugares de
descanso, refletindo os padrões e as exigências sociais vigentes entre a burguesia. Os palacetes e
os palácios adquirem uma maior importância no contexto pós-pombalista, acabando com as
imposições e limitações à reconstrução (França, A Arte em Portugal no século XIX, 1966, p. 165).
No decorrer do século XIX, os palacetes multiplicam-se, adquirindo novas formas e dimensões
mais pequenas e menos sólidas, opções que não perdurarão nas gerações futuras (França, 1966,
p. 346).
No início do século XX, são introduzidos novos valores familiares que se traduzirão,
naturalmente, nos espaços domésticos. Ambicionava-se um maior conforto a nível higiénico. O
desenho da casa é agora baseado nos elementos centrais presentes nas construções populares
rurais (Ramos R. J., 2010, p. 311).
Progressivamente, este espaço transforma-se em área de estar e de trabalho doméstico,
de uma vida quotidiana mais informal do que aquela que decorre em espaços como a sala de
estar ou de receber (Ramos R. J., 2010, p. 313).
Segundo o Anuário da Sociedade dos Arquitectos Portugueses (1905), a “a casa é
indispensável à vida, deve ser higiénica, pois não se admite a existência de habitação, antiga que
não seja saneada ou moderna que não seja salubre”. A falta de higiene, problema particularmente
visível nas cidades, provoca um grande número de doenças, tornando a higiene e o saneamento
numa questão social que compete à administração pública responder. Desta forma, a ideia de que
a habitação deve ser higiénica e salubre torna-se unânime. Além do lixo, da água da cozinha e dos
e gabinetes de lavagem, as casas deveriam ser equipadas com esgotos para evacuar as “matérias
fecais” que constituem o “ponto capital da higiene urbana”. As águas devem logo sair das casas
e de seguida das cidades. A água, “como principal agente do saneamento geral, não limita a sua
ação à quantidade, pois exige também garantia da sua qualidade. Os processos de distribuição,
mais ou menos vulgarmente conhecidos, devem permitir que cada habitante tenha
particularmente a qualidade de água de que precisar, ao mesmo tempo, os serviços públicos não
sintam dela a menor falta”. Assim, “além do lixo e das águas das cozinhas e dos gabinetes de

44
lavagem, que é necessário fazer evacuar sem demora, é o esgoto das águas sujas e materiais
fecais que constitui para a engenharia sanitária o ponto capital da higiene urbana” (1905, p. 63).
Apesar das residências possuírem características marcadamente masculinas estas encontram-se
sujeitas ao controlo logístico feminino. Verifica-se uma alteração da organização da casa, através
do corpo central, e do espaço doméstico, bem como da forma como ele regista o modo de vida.
Podemos assim distinguir duas novas conceções de espaços centrais, o primeiro o considerado
espaço central, ligado essencialmente à burguesia, através da aposta da interpretação mais
cenográfica dos espaços, nomeadamente no que concerne nas áreas de circulação, entradas e
escadas, já o outro corresponde à continuação entre os compartimentos da zona social,
destacando-se uma interligação e abertura da casa para novas formas de habitar o espaço
encontra-se a mudanças de critérios de conforto e uso, verificando-se uma alteração da hierarquia
familiar, principalmente para as mulheres, que a partir deste momento podem interferir na
construção da casa. Esta alteração estrutural, proporcionada pelo espírito da época, e pela
integração de novas conceções modernistas alterou não apenas as distintas áreas, como também
a escolha dos próprios materiais (Ramos R. J., 2010, p. 317).
Em suma, com este capítulo foi possível compreender todo o contexto social e artístico de
Portugal, no final do século XIX e início do século XX, numa tentativa de enquadras as conjunturas
nacionais. Deste modo, foi realizada uma abordagem de aspetos sociais de relevância, sendo
aprofundado o período da regeneração e a crise que pauta o final do século XIX.
Posteriormente foi enquadrado o fontismo, um período de modernização nacional e
desenvolvimento económico. Numa fase seguinte foi abordado o panorama que que contribuiu
para a queda da monarquia constitucional, e para uma consequente emergência do partido
Republicano. De seguida é realizada uma breve abordagem do processo de emigração português
e a emergência dos brasileiros torna-viagem, de forma a enquadrar o contexto familiar dos
fundadores do Sollar do Rêgo.
Para a realização do subcapítulo 2 foi necessário proceder-se à contextualização artística
de Portugal no fim do século XIX, de modo a compreender quais as correntes artísticas em voga,
dando especial destaque para o romantismo, ecletismo, revivalismo e arte nova, e concluindo o
mesmo, com uma breve caracterização da arquitetura em Portugal, bem como delimitação das
estruturas dos palacetes.

45
No capítulo que se segue, será apresentada uma breve bibliografia do arquiteto que
concebeu a obra do Palácio da Dona Chica/Sollar do Rêgo, de forma a compreender as correntes
artísticas empregues por este.

46
CAPÍTULO 3

Este capítulo visa apresentar uma breve revisão bibliográfica sobre o responsável pela
projeção do Sollar do Rêgo, comummente conhecido como Palácio D. Chica, Ernesto Korrodi. Para
realizar esta tarefa foi necessário percorrer toda a sua história de vida, desde o seu nascimento
até à sua formação, passando pelos seus interesses enquanto arquiteto-construtor e professor.

3.1. O arquiteto construtor Ernesto Korrodi – percurso de vida


Responsável pela edificação do Sollar do Rêgo, Ernesto Korrodi nasceu na Suíça, na cidade
de Zurique, a 30 de janeiro de 1870. Filho de João Henrique Korrodi (Hans Heinrich Korrodi),
professor no Liceu Cantonal de Zurique, e de Anna Müller (Viterbo, 1904, p. 46), ingressou, com
apenas quinze anos de idade, na escola de Artes Industriais, onde realizou os cursos de escultor-
decorador e professor de desenho (Verdelho, 1997, p. 109).
Após completar a sua formação, iniciou numa digressão por Itália, que, segundo Viterbo
(1904), “depois de uma curta estada de alguns meses na Itália em viagem e estudo, aceitamos
um lugar de professor de desenho para o qual o Governo português tinha aberto concurso pela
respetiva legação em Berne. Assim entrámos ao serviço do Governo português ainda não tínhamos
concluído os 20 anos” (Viterbo, 1904, p. 46). No ano de 1889, é admitido e colocado na Escola
Industrial de Braga onde permaneceu até 1894: “Despachado para a Escola Industrial de Braga,
ali nos conservámos cinco anos, num relativo estado de inatividade e mal estar, tempo que nos
foi preciso pata nos orientar no meio (oficial, bem entendido) que se nos apresentou tão
estranhamente diferente de tudo quanto a nossa imaginação podia arquitetar” (Viterbo, 1904, p.
46).
Foi numa visita à cidade de Leiria que Korrodi descobriu a sua paixão pelo castelo local,
resultando num pedido de transferência. No ano de 1894, o arquiteto é transferido para a escola
Domingos Sequeira, onde lecionou as disciplinas de desenho ornamental e modelação, em
substituição do professor holandês Van Kriecken. A 29 de abril de 1901, nessa mesma cidade,
contraiu matrimónio com Quitéria da Conceição Fernandes Carvalho Maia, nascendo dessa união
três filhos, o primeiro que faleceu logo à nascença (1902), Maria Teresa Korrodi Maia (1903-2002)
e Ernesto Camilo Korrodi (1905-1985), também arquiteto (Verdelho, 1997, p. 117).

47
Para além da escola Industrial e Comercial de Leiria, Domingos Sequeira 26, Korrodi
lecionou na secção da Batalha. No ano de 1902, Korrodi é agraciado com a ordem de S. Thiago
do Mérito Científico Literário e Artístico pelo projeto de reconstituição do Paço dos Duques de
Bragança, em Barcelos (Oliveira M. G., 2009, p. 121). Em adição a estas atividades, realizou
diversas outras paralelas ao ensino, atuando não só como arquiteto, mas também como
modelador e empreiteiro, destacando-se o seu estudo do Castelo de Leiria, que, no ano de 1910,
é classificado como Monumento de Interesse Público.
Em 1898, Ernesto Korrodi publica, com a participação do governo, os estudos da
reconstrução do Castelo de Leiria, impressos no Instituto Poligráfico de Zurique, que lhe valeu, por
proposta do Ministro e Secretário de Estado das Obras Públicas, Comércio e Indústria, a atribuição
do título “Comendador da Real Ordem Civil do Mérito Industrial”, em 12 de maio de 1898
(Verdelho, 1997, p. 117). Segundo Viterbo, “o trabalho sobre o castelo de Leiria, a que V. Ex.ª se
refere, foi editado em Zurich (Suissa), no Instituto Polygraphico, em 1898, sob o título de estudos
de reconstrução sobre o Castello de Leiria (reconstituição gráfica de um notável exemplo de
construção civil e militar portuguesa)” (Viterbo, 1904, p. 47).
No ano de 1905, estabelece uma oficina de cantarias, com a finalidade de executar os
trabalhos com os seus próprios materiais de construção. Sendo sócio do engenheiro militar de
Leiria, José Diogo Lopes Theriaga, na empresa “Korrodi e Theriaga construtores” (Queiroz, 2014,
p. 287).
Em 1909, participou num congresso pedagógico sobre o ensino industrial. No ano de
1911, lidera o movimento de âmbito nacional a favor do descanso dominical. Em 1926, foi-lhe
concedido, pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, o diploma de Arquiteto. Em 1932, foi nomeado
vogal da Academia Nacional de Belas-Artes de Lisboa, realizando a sua última viagem para a Suíça
no ano de 1939 (Oliveira M. G., 2009, p. 121).
Já integrado na sociedade portuguesa, Korrodi foi um cidadão ativo tanto no panorama
individual como coletivo, aderindo ao grupo de republicanos de Leiria, a uma comissão protetora
da cidade e à Liga dos Interesses de Leiria (Verdelho, 1997, p. 119).
Defensor da conservação dos monumentos nacionais e, em especial, do Castelo de Leiria,
fundou, em 1915, com o seu amigo Afonso Zúquete, engenheiro, que se tornaria seu sócio. No
ano de 1911, liderou o movimento pelo descanso semanal ao domingo através da publicação de
artigos e divulgação de conferências (Teixeira, 2018, p. 49).

26
No ano de 1906, Korrodi assume o cargo de diretor da escola Industrial e Comercial de Leiria, posição que ocuparia até 1917.

48
Acabou por falecer a 3 de fevereiro de 1944, tendo sido sepultado com o corpo voltado
para o castelo de Leiria e envolto na bandeira da Suíça.

3.1.1. Estudos Histórico-Arqueológicos


Korrodi dedicou-se desde cedo aos estudos histórico-arqueológicos e à reconstituição dos
monumentos do passado. Após chegar a Leiria, fica fascinado pelas pitorescas ruínas do Castelo.
Ernesto Korrodi “resolveu dedicar-lhes todo o tempo que lhe deixassem de sobra os seus deveres
profissionais na escola Domingos Sequeira” (Verdelho, 1997, p. 113). Segundo o que afirma
Viterbo na sua obra, o trabalho de Korrodi sobre o
castelo de Leiria, a que V. Exª se refere e que era acompanhada de vários desenhos,
dos quaes alguns vieram a publicados no Boletim dos Architetos Civis e Archeologos
Portugueses (anno de 1898, tomo VIII, nº 1 e 2), são os resultados de uma curiosa
investigação sobre os restos anda existentes de uma igreja bysantina-latina, hoje
capella lateral o extinto convento de S. Francisco, nos arredores de Braga.
Reprodução de capites, pilastras e piso estão depositados na Escola Industrial de
Leira, aonde mandei fazer segundas reproduções de tão interessante vestígio
histórico-artistico, que figura dignamente ao lado de poucos outros que d’ esta época
se conhecem na Hespanha. O referido artigo e intitulado “Um monumento byzantino-
latino em Portugal. (Viterbo, 1904, p. 47)

Em 1895, Korrodi dá entrada no Ministério das Obras Públicas, para ser avaliado pela
Comissão dos Monumentos Nacionais, com o projeto de restauro da Igreja da Pena do Castelo de
Leiria. Ainda nesse ano, publica os estudos de reconstrução sobre o Castelo de Leiria, que lhe fez
merecer o título de Comendador da Real Ordem de Mérito (Verdelho, 1997, p. 113). A 30 de
setembro de 1915, funda a Liga dos Amigos do Castelo de Leiria, cujo principal objetivo visava a
conservação e proteção das ruínas de todo o conjunto intramuralhas afonsinas e ainda da igreja
de S. Pedro (Teixeira, 2018, p. 49).

3.1.2. Atividade docente


Concorreu ao cargo de professor de desenho, anunciado pelo governo português no
consulado de Berna, sendo colocado no ano de 1889 na escola Industrial de Braga, onde

49
permaneceu por um período de cinco anos. Em Braga, Korrodi dedicou-se não só ao ensino, mas
também ao estudo dos monumentos, igrejas e palácios locais.
No ano de 1894, é transferido para Leiria, para a Escola Domingos Sequeira (Escola
Industrial e Comercial de Leiria), acabando por se tornar, em 1905, diretor da mesma.
Em 1909, participa no Congresso Pedagógico, onde apresenta um balanço sobre a
situação do ensino industrial, que, segundo Korrodi, carecia de uma solução que não passava
apenas pelo corpo docente. De acordo com o arquiteto, as escolas industriais não se adequam
aos operários, pois faltam-lhes conhecimentos básicos: “É preciso completá-lo, além de
conhecimentos gerais de calculo profissional, com escrituração, tecnologia, etc., etc.”, estas
apresentam “um criminoso luxo em face da penúria com que é tratado o problema soberano da
instrução das primeiras letras. Não servem para os operários porquês estes necessitam primeiro
que tudo de uma certa cultura geral que estas escolas não lhe dão, mas que por outro lado o
Estado lh’a nega, não criando cursos noturnos de primeiras letras para adultos”. Igualmente refere
que o ensino industrial deveria ser dividido em dois segmentos, um direcionado para a formação
de mestres industriais e outro destinado ao aperfeiçoamento dos operários, prevendo a criação de
cursos noturnos, que tinham como principal tarefa, a alfabetização dos operários adultos.
Acrescentou ainda ao diagnóstico dos problemas do ensino industrial que:
um dos erros mais graves, e este de ordem propriamente económica foi o desgraçado
espírito de centralização reproduzir sob um e mesmo molde as numerosas escolas
quando devia haver em vista dois fins absolutamente diversos, umas criando mestres
e pessoal dirigente para a indústria, as outras, e estas com muito maior profusão,
mas com o modesto fim apenas de aperfeiçoar os artífices.27

Através do Decreto-Lei nº 26957, de 28 de agosto de 1936, acabou por aderir às Missões


Estéticas de Férias (MEF)28, numa altura em que se procurava promover o nacionalismo através
do culto do património entre os estudantes de artes, prevenindo os desvios para as vanguardas
dissolventes da moral e do espírito nacionais. Ernesto Korrodi acabou por dirigir a 6ª MEF e foi o
único diretor a apresentar um programa completo.

27
Korrodi, E. (1909). “O ensino profissional em Portugal face do analfabetismo, por Ernesto Korrodi”, Fundação Mário Soares/ DCD – Documentos
Carvalhão Duarte/Simões Raposo. Consultado em 22 de março de 2022. Disponível em
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04532.048#!3.
28
A Missão Estética de Férias foi um programa de férias anual, criado no decorrer dos anos de 1930, e tinha por objetivo, desenvolver durante os
meses de verão, em determinadas zonas do país, e possuindo um importante interesse cultural e patrimonial.

50
3.1.3. Korrodi e o Património
Apresentando desde novo um enorme interesse pelo passado, Korrodi demonstrou ser um
grande apreciador e cultor do património português, que não se encontrava devidamente estudado
e valorizado. Como frisa Viterbo,
É verdade que com afan e febril interesse nos entregamos desde muitos anos ao
estudo dos monumentos antigos do país, dispondo já hoje de um apreciável material
de estudo metodicamente colhido por apontamentos, muitos estudos completos de
reconstituições de igrejas, castelos ou palácios, material perfeitamente dispensável
ao arquiteto que faz vida para ganhar, mas não para desprezar num meio aonde, em
assumptos histórico-artísticos, ainda não se chegou ao ponto em que o país vizinho
se encontrou há meio século. (Viterbo, 1904, p. 46)

Grande apreciador do património arquitetónico português e inconformado com a situação


de descaso a que o mesmo estava sujeito, Korrodi considerava ser fundamental estabelecer bases
sólidas para o ensino artístico, no âmbito da conservação e restauro dos monumentos,
compreendesse que “em toda a sua realidade a importância dos estudos histórico-artísticos e a
necessidade absoluta de conservar e respeitar a herança artística dos seus antepassados” (Viterbo
1904, p. 46).
Em outubro de 1895, apresentou ao Ministério das Obras Públicas um projeto de restauro
da Igreja da Pena, em Leiria, para ali se instalar o Museu Arqueológico da cidade. O plano foi
apreciado pela Comissão dos Monumentos Nacionais, sendo acompanhado por um memorando
sobre os estudos histórico-arqueológico e o estado de conservação do património arquitetónico e
a sua possível reconstrução (Teixeira, 2018, p. 54).
O seu primeiro estudo de Património Nacional, concluído no ano de 1897, tinha por título
Um monumento Bysantino-Latino em Portugal e era dedicado à capela de S. Frutuoso de
29

Montélios, em homenagem ao seu fundador, que estava incorporada no mosteiro de S. Salvador


em Braga (Teixeira, 2018, p. 57).
Para além destes, dedicou-se a diversos outros estudos de monumentos, designadamente
aos castelos de Porto de Mós, Pombal e Ourém, à Igreja Matriz da Batalha, à Igreja do Carmo
(Lisboa), à Sé do Porto, à Sé Velha de Coimbra, à Igreja de Leça do Balio e ao Paço dos Duques

29
Korrodi, E. (1898). “Um Monumento Byzantino-Latino em Portugal”. Boletim da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes,
Tomo VIII.

51
de Bragança, localizado em Guimarães. Realizou um projeto de restauro do Castelo de Barcelos,
onde deveria ser instalado um museu de arte. Em 1908, integra a Delegação de Leiria da Real
Associação dos Architectos Civis e Archeólogos Portugueses, cujo principal objetivo incidia no
estudo e na conservação de monumentos, de modo a “avivar nas corporações municipais e
administrativas o culto dos monumentos e relíquias artísticas que se encontraram dispersas e, as
mais das vezes ao abandono”30. Estamos perante um importante movimento, que não foi alheio
ao papel desempenhado pela Real Associação, em favor do estudo, da conservação e do restauro
dos monumentos nacionais. Nos anos anteriores ao advento da República, este tipo de ações
converteu-se num movimento patriótico por ação dos republicanos. A preservação e o estudo dos
monumentos tornar-se-ia, desta forma, uma das frentes de combate à Monarquia, incapaz de
tomar medidas eficazes neste domínio, e por dinamizar, assim, uma corrente a favor do restauro
dos monumentos (Verdelho, 1997, pp. 164-165).
No ano de 1915, o Castelo de Leiria é sujeito a uma intervenção realizada por iniciativa
da Liga dos Amigos do Castelo de Leiria, que, através de fundos da própria associação e do poder
público, iniciou a obra. Contudo, apesar de, numa fase inicial, Korrodi ter participado no projeto,
acabou por ser afastado das obras do mesmo, devido a conflitos com a Direção das Obras Públicas
do Distrito de Leiria. No ano de 1934, já a cargo da Direção Geral de Estudos de Monumentos
Nacionais (DGEMN) é iniciada uma nova etapa de reconstrução integral que visa a utilização de
novos materiais, como é o caso do betão armado oculto nas estruturas de pedra. Embora se deva
a Korrodi o estudo das obras de restauro do Castelo de Leiria, a maioria acabou por ser realizada
pela DGEMN já no Estado Novo (Teixeira, 2018, p. 59).

3.2. A atividade de Korrodi como arquiteto construtor


O percurso de Korrodi como arquiteto construtor é iniciado na cidade de Leiria, dedicando-
se como autodidata à atividade. Num momento inicial, aceita encomendas realizadas pela Câmara
Municipal da cidade. Em 1900, associa-se ao engenheiro militar José Lopes Theriaga, com quem
abre um consultório de arquitetura e engenharia (Verdelho, 1997, p. 125)
Apesar de possuir projetos conhecidos por todo o país, como é o caso do pavilhão do
Hospital Civil e do Matadouro Municipal, localizados em Leiria, é no ano de 1910 que vem a ser
reconhecido com o prestigiado prémio Valmor, distinção que lhe valeria inúmeras encomendas.

30
“Real Associação dos Architectos Civis e Archeólogos Portugueses”, Leiria Ilustrada, 1908.

52
No ano de 1911, através das iniciativas promovidas pela jovem República, integra a
comissão que projeta o monumento do Marquês de Pombal, localizado na cidade de Lisboa. Em
1911, é nomeado vogal do Conselho de Arte e Arqueologia da 2ª Circunscrição. Em 1912 é vogal
da 7.ª secção da Associação de Arqueólogos Portugueses (Verdelho, 1997, p. 130).
No século XIX, a burguesia era a classe social dominante e quem patrocinava o
desenvolvimento social, económico e cultural que servia de base para a expansão das cidades.
Eram os edifícios das habitações da burguesia que desenhavam e consolidavam a cidade, e foi
através dela que melhor se estruturou o espaço doméstico, sujeito às transformações dos novos
modos de vida urbanos (Santos R. M., 2012, pp. 76-77).

3.2.1. A Arquitetura Korrodiana


Ernesto Korrodi foi um profissional que realizou mais de 300 obras em todo o país. Iniciou
a sua carreira num período em que Leiria se encontrava em expansão31, sendo nesse contexto
explicados muitos dos seus projetos iniciais, como é o caso do bairro de Santana, projeto elaborado
na primeira metade do século XX.
Num panorama geral, Korrodi apresenta um legado eclético e moderno, com referências
medievais e renascentistas, juntamente com o movimento Arts and Crafts (Teixeira, 2018, p. 66).
Com obras de tipologia variada, que vão desde pequenas moradias, edifícios de rendimento,
habitações apalaçadas, garagens industriais, edifícios públicos, bancos, mausoléus, monumentos
a planos urbanísticos (Teixeira, 2018, p. 68).
Como “arquiteto de pedra”, Korrodi procurou inculcar nas suas obras a grandeza de
detalhe em detrimento da monumentalidade do volume, aportuguesando os princípios da Art
Noveau e conferindo-lhe uma maior minúcia de elementos decorativos (Teixeira, 2018, p. 66). Nos
seus projetos podemos verificar a presença de elementos característicos de uma arquitetura
rústica e vernacular, tais como os beirais à portuguesa, os alpendres alcandorados em escadas
descobertas. Verificando-se uma constante utilização de soluções formais, assentes no retângulo
de ouro e nas janelas tripartidas em arco abatido, por vezes presentes em paredes curvas
inspiradas na bow-window inglesa. Estes elementos eram conseguidos, através da utilização de
novos materiais, tais como o betão e o ferro32 (Teixeira, 2018, pp. 66-67).

31
A cidade de Leiria formula um plano de urbanização apenas no ano de 1948.
32
O século XIX demarcou-se dos restantes devido à manipulação empírica dos materiais e à análise das necessidades sociais, sendo “aprofundadas
as leis da visão e a problemática do imaginário fundada ao nível da perceção, independentemente de todo o entrave imposto pela consciência
histórica” (Verdelho, 1997, p. 147).

53
As suas fachadas são predominantemente compostas por elementos como arcos de volta
perfeita, arcadas de remate perto dos alpendres, de inspiração clássica com pormenores como a
loggia e colunas de capitéis jónicos e dóricos, mísulas, cimalhas, apresentando um jogo de
volumes nas fachadas, muitas vezes demarcadas pelas bay-windows de planta retangular e pelas
bow-windows, de planta circular, que proporcionam impressionantes efeitos de luzes. Os telhados
altos definem-se pelos seus pequenos alpendres e pelo jogo simbólico de volumes, definido pelos
trabalhos em alvenaria, ferro forjado dos portões, pelas janelas e varandas, ou pelo cromatismo
dos frisos de azulejos policromos com motivos florais, painéis e cercaduras, e utilização de
elementos estruturais em cantaria (arcos, cunhais e consolas) (Oliveira M. G., 2009, p. 122).

3.2.2. Obras privadas e bancos


Com projetos que se estendem de norte a sul do país, Korrodi projetou um total de mais
de 300 edifícios, que marcaram não só a imagem da cidade de Leiria, como também a do nosso
país. Quanto aos projetos por ele realizados, destacam-se os Paços do Concelho (1902), a
Companhia Leiriense de Moagem (1920), a filial do Banco de Portugal (1923), o jardim-escola
João de Deus (1933) e o Parque Desportivo e de Recreio, na margem direita do rio Lis (1930).
Além de várias obras de carácter público, o arquiteto desenhou um elevado número de
edifícios de habitação e prédios de rendimento, caracterizando-se por uma “arquitetura eclética
que […] combina referência e estilos diversos, da Arte Nova à Art Déco, do Revivalismo Barroco
ao Maneirista, sem nunca se afastar da luta por uma arquitetura sóbria que integra uma relação
equilibrada entre a forma e ornamento”. No programa habitacional, Korrodi projetou diferentes
tipologias, desde moradias isoladas, habitações unifamiliares integradas na malha urbana e
prédios de rendimento. Estas edificações inseriram-se ao longo dos novos arruamentos da cidade
de Leiria, apresentando enquadramentos variados. Realizou ainda diversas intervenções em
habitações já existentes, alterando o seu espaço interior, instalações higiénicas e alinhamentos,
mas também as suas fachadas (Santos R. M., 2012, p. 73).
Após o ano de 1838, verifica-se no nosso país a criação de companhias financeiras.
Através da fusão da Companhia de Lisboa e da Companhia Confiança, nasce o Banco de Portugal,
criado por decreto régio, a 19 de novembro de 1846. A 9 de Fevereiro de 1925, o Banco Nacional
Ultramarino adquiriu o prédio de urbano, localizado na rua António Barroso, nº 120 a 134, em
Barcelos (Moleirinho, 2020, pp. 20-23).

54
Figura 1 Banco Nacional Ultramarino de Barcelos
Fonte: Arquivo Distrital de Leiria

Para além deste banco, realizou também o edifício do antigo Banco Nacional Ultramarino
de Chaves, um edifício do Banco Ultramarino de Vila Real, localizado na rua 31 de janeiro, e o
Banco de Portugal de Leiria, cidade onde residiu (Moleirinho, 2020, p. 46).
Relativamente às habitações e aos prédios de rendimento realizados por Korrodi, podemos
considerar que a nova conceção da casa é entendida com uma “decoração exterior mais vistosa”
e onde a “arqueologia” servia apenas “como fonte de inspiração e não de cópia, combinando os
motivos de decoração pitorescos e risonhos num esquema de cara adaptada à vida moderna”
(Verdelho, 1997, p. 276).
Na habitação da Avenida Fontes Pereira de Melo, construída no ano de 1910, é
apresentada uma adequação do ornamento à estrutura, moldurando a tripla arcada e a loggia do
andar superior, de arcos geminados, ou ainda os vãos simétricos da fachada principal. Se a
fachada se valoriza pelo trabalho de motivos florais das cantarias lavradas, a disposição da planta,
articulada à volta de um hall central, assinala a correspondência entre o seu exterior e interior
(Verdelho, 1997, p. 278).
No projeto de uma casa de habitação para o concelho de Estarreja de 1919, em São
Martinho de Porto, presencia-se uma decoração de entrelaçados, volutas corridas e estilizadas de
folhas lanceoladas (Verdelho, 1997, p. 279). O prédio de rendimento, localizado no cruzamento
da rua Ferreira Borges com a Saraiva de Carvalho (Lisboa), representa a cristalização dos motivos
florais e geométricos combinados, observando-se a utilização de mísulas, gotas e motivos florais
e geométricos que combinam entre si. (Verdelho, 1997, p. 283).

55
No Porto, Korrodi traça uma extensa fachada de prédios, na Avenida dos Aliados, de que
resta apenas o desenho do alçado; a verticalidade é aqui mais acentuada, através da multiplicação
de pilastras que definem os vãos, ligados entre si por painéis decorativos (Verdelho, 1997, p. 292).
Em Korrodi, essa aproximação à Arte Nova pode ver-se em obras como: a Villa Hortência,
em Leiria; a Casa Egas Moniz, em Avanca; em prédios de rendimento, em como o número 5 da
Rua Viriato, em Lisboa; e ainda na casa da família Bouhon na Covilhã. A casa de habitação da
família Bouhon, também conhecida como Palacete Jardim, foi um edifício encomendado por José
Maria Bouhon, proprietário da fábrica do Sineiro, a Ernst Korrodi, entre 1915 e 1920. Neste
projeto, Korrodi demonstra uma flexibilidade permanente entre a arquitetura e a escultura. No
interior do palacete, a marca de Arte Nova é visível. Destaca-se a decoração dos salões nobres, a
escadaria e o átrio principal, cujo teto exibe uma inscrição em latim relativa ao ano de construção
da casa. Com uma planta retangular, o palacete divide-se em dois pisos. Tal como na Villa
Hortência, em Leiria, a casa de habitação da família Bouhon, na Covilhã, é o exemplo arquitetónico
da casa-jardim marcada por um certo romantismo, que conjuga materiais distintos, como o
granito, o ferro, o mármore e o azulejo. A bow-window e o varandim da fachada principal e as
varandas das restantes fachadas dão o aspeto de uma superfície circular. A arquitetura de Korrodi
nos bancos “envereda pelas formas históricas essencialmente neo-renascentistas” (Oliveira M. G.,
2009, p. 124).

Figura 2 Projeto da fachada posterior da casa de habitação de José Bouhon, Covilhã, ano de 1919
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

56
3.2.3. O Castelo de Leiria e os seus trabalhos
Ao longo do século XIX, o castelo de Leiria encontrava-se em avançado estado de
deterioração e ruína. Contudo, não deixava de suscitar a atração romântica dos viajantes que
visitavam a cidade (Verdelho, 1997, p. 183).
O trabalho realizado pelo professor Ernesto Korrodi, com o título Estudos de Reconstrução
sobre o Castello de Leiria (Reconstituição gráfica de um notável exemplo de construção civil e
militar portuguesa) , editado em Zurique (Suíça), no Instituto Poligráfico no ano de 1898, contém
33

um total de 26 estampas (Viterbo, 1904, p. 48). Neste estudo, o Castelo de Leiria possui duas
características marcantes, sendo por um lado, uma habitação nobre portuguesa, e, por outro, um
conjunto arquitetónico de fortaleza (Verdelho, 1997, p. 155).

3.2.4. As obras de Korrodi na cidade de Braga


Em Braga, Korrodi desempenhou um importante papel, mantendo-se ligado à cidade tanto
pelas encomendas que realizou e projetou, como pelos estudos histórico-arqueológicos de
arquitetura religiosa e civil da Idade Média (Santos R. M., Ernesto Korrodi a habitação na imagem
da cidade de Leiria, 2012, p. 4).
No Castelo do Bom Jesus, Korrodi optou por projetar duas torres (idênticas a uma torre
octogonal que projetou no interior do recinto do castelo de Porto de Mós, num desenho de 1895),
enquadrando uma janela geminada assente sobre machicoulis e que correspondeu ao boudoir
dos quartos de dormir dos proprietários no interior do andar. Os tetos dos quartos principais e dos
aposentos da entrada, são feitos em estuque trabalhado, algo incomum nas obras de Korrodi. Na
parte exterior do edifício, verifica-se um extenso trabalho de pedra, onde se destacam as
platibandas flamejantes e os pilares em forma de pináculos. Relativamente às fachadas, estas são
realizadas em alvenaria. No rés-do-chão, sobressaem os painéis de azulejos, cujos motivos são
imagens relacionadas com a arquitetura militar, representando os principais castelos do país e
também do Castelo da Pena. Entre os anos de 1910, e 1911, Ernesto Korrodi projetava o coreto
destinado ao Parque de S. João da Ponte. O coreto, assente sobre a alvenaria semiescondida, tem
por base os finos colunelos de ferro e uma cobertura metálica encimada por uma pequena cúpula
(Verdelho, 2017, pp. 235-239).

33
Korrodi, E. (1898), Estudos de Reconstrução sobre o Castelo de Leiria – Reconstituição gráfica de um notável exemplo de construção civil e
militar portuguesa (Prodpecto), Zurique, Instituto Polygraphico.

57
No Castelo de Bom Jesus existe também, no parque, um pavilhão cujas formas gráceis,
em contracurvas, são mais fantasiosas, assim como duas grutas imponentes e um pequeno lago.
As grades da rampa de acesso ao pavilhão, imitando ramos de árvores entrelaçados e contruídas
em cimento, evocam o arranjo paisagístico que Korrodi realizou para o aformoseamento da
montanha-russa em Leiria (Verdelho, 2017, p. 239)
Em 1940, Korrodi virá ainda a conceber o projeto para o túmulo neogótico. Repousando
sobre um soco onde assenta um dossel de arcos tribulados rematados por gabletes e arca tumular,
com encasamentos nas faces longas e o tampo alteado cortado obliquamente nos topos, deixa
mais uma vez transparecer a influência da arte portuguesa da Idade Média no trabalho de Korrodi
(Verdelho, 1997, p. 258).
No início do século XX, em resposta ao progresso e com o acentuar da importância do
automóvel, surgiram novas tipologias, tais como a auto-garagem de Zenha, Marinho & C.ª
construída no ano de 1918, onde Ernesto Korrodi soube demonstrar a sua capacidade de
adaptação e adaptar a sua gramática decorativa a um género completamente diferente.

Figura 3 Projeto da auto-garagem de Zenha, Marinho & Companhia, publicada no na de 1918


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

O projeto, também de gaveto, encomendado pela Empreza de Viação da Auto-Onibus, em


1914, ocupa um dos lugares centrais da cidade. Para além de uma ampla garagem, constava
ainda no programa a construção de oficinas de reparação, de habitações para pessoal, de uma
estação de despacho de passageiros e de uma área de armazenamento de bagagens. A
distribuição da planta, que é irrepreensível, corresponde amplamente a este programa, tendo
resolvido de forma prática, a cobertura de uma vasta superfície, de periferia extremamente
irregular (Almeida, 2018, p. 56).

58
3.3. Prémio Valmor e Oficina de Cantarias

Figura 4 Capa da Revista a Construção Moderna


(Fonte: http://ric.slhi.pt/A_Construcao_Moderna/visualizador?id=11214.013.016&pag=2)

Criado no ano de 1903, o prémio Valmor nasceu, em França, por legado testamentário
de Fausto de Queirós Guedes, 2º Visconde de Valmor. Desde então, este prémio é atribuído ao
arquiteto que seja capaz de realizar uma obra “com a condição […] de que essa casa nova, ou
restauração de edifício velho, tenha um estilo arquitetónico clássico, grego ou romano, Romano-
Gótico, ou da renascença ou algum tipo artístico Portuguez, enfim um estilo digno de uma cidade
civilizada”34. No ano de 1910, o prémio Valmor foi atribuído a Ernesto Korrodi. A obra distinguida
tratava-se de uma casa de habitação pertencente a António Macieira, localizada na Avenida Fontes
Pereira de Melo, nº 30, na cidade de Lisboa. Na figura que se segue é possível observar a capa
da revista ilustrada A Construção Moderna, nº 376, de 20 de agosto de 1912, bem como um
pequeno texto de apresentação do edifício premiado e as respetivas plantas. Já na figura posterior,
é possível identificar a planta da parte do sótão aproveitada para a habitação, bem como a fachada
principal, que se encontra exposta sobre a avenida Fontes Pereira de Melo.

34
https://www.trienaldelisboa.com/programa/fora-de-serie/valmor

59
Figura 5. Projeto da casa de habitação de António Caetano Macieira
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

Em Lisboa, Korrodi foi ainda agraciado com a atribuição de outro prémio Valmor, em
1917, que distinguiu um prédio de rendimento, situado na Rua Viriato, nº 5, e de que era também
proprietário António Macieira (Verdelho, 1997, p. 134).
Segundo Mangorrinha (2000), o edifício localizava-se numa antiga claraboia pertencente
ao Aqueduto das Águas Livres, num terreno elevado por um gradeamento de ferro em formato de
gaveto (Moleirinho, 2020, p. 14). Segundo a revista A Construção Moderna (25 de agosto de
1918), o edifício localizado na rua Viriato, era uma obra
das mais bélas, não só pelo seu aspecto exterior, como pelas suas condições
higiénicas e de conforto moderno, difícil de poderem ser excedidos. [...]A edificação
foi feita num irregularíssimo terreno, tanto pelo seu perfil, como pela configuração
geométrica, conseguindo o autor do projeto amigo e distinto arquitecto-professor da
Escola Industrial de Leiria, sr. Érnesto Korrodi, com o seu muito talento e saber, já
manifestado em importantíssimos trabalhos, não somente tirar o maximo partido
possível da irregularidade do terreno, obtendo uma distribuição interior, sensata e

60
pratica, mas, ainda dar ao exterior, dentro dos mais fisionomia e monotomia tão
vulgar na quasi totalidade dos predios para rendimento, edificados na capital.35

Figura 6. Capa da revista A Construção Moderna, 8.º Prémio Valmor, Rua Viriato, nº 5
(Fonte: http://ric.slhi.pt/A_Construcao_Moderna/visualizador?id=11214.019.015&pag=10)

Após chegar à cidade de Leiria, Korrodi desenvolveu algumas atividades paralelas ao


ensino, como as de “arquiteto-construtor” e de empreiteiro. Como foi referido anteriormente, entre
1900 e 1909, Korrodi constituiu parceria com o engenheiro militar José Diogo Lopes da Costa
Theriaga, criando a empresa Korrodi & Theriaga, Construtores (Queiroz, 2014, p. 286).
Devido à falta de matéria-prima para realizar as suas encomendas, no ano de 1905,
Korrodi e o seu sócio apercebem-se da necessidade de criar uma oficina de cantaria, de modo a
suprir, de forma mais rápida e eficaz, as necessidades da empresa. Localizada na rua Mouzinho
de Albuquerque, a poente da sua residência/ateliê de arquitetura, era um local destinado à
realização de obras de ornato, modeladas pelo próprio Korrodi, que respondia a encomendas não
só de Leiria, mas de todo o país (Teixeira, 2018, p. 53).
Os elementos de decoração das cantarias mais utilizados por Korrodi variavam conforme
as referências arquitetónicas utilizadas no seu ecletismo, assim podemos destacar elementos

A Construção Moderna, ano XVIII, nº 16, Lisboa, 25 de agosto de 1918, pp.91-92.


35

61
como as gotas, os círculos e os óvalos, as contas, os meandros, as cartelas e os tríglifos inspirados
no renascimento ou nos elementos vegetalistas da Arte Nova. Nos motivos florais de Korrodi
predominam os malmequeres, as margaridas e os girassóis, presentes nas primeiras obras
(Teixeira, 2018, p. 79).
Podemos identificar alguns dos canteiros que estiveram ligados à oficina de Korrodi, entre
eles duas capelas tumulares, pertencentes à família Serpa e à família Tavares Alçada, que datam
do ano de 1908 e que se encontram no cemitério de Santo António do Carrascal, Leiria (Teixeira,
2018, p. 79).
Em conclusão, podemos considerar que as obras de Ernesto Korrodi possuem um
significado único no panorama artístico português. Este definiu-se como um artista eclético que
combina diferentes estilos do passado, adotando características clássicas e medievais
(aproximando-se, de certo modo, ao domestic revival inglês), juntamente com desdobramentos do
movimento da Arte Nova. Nas suas obras, podemos identificar pequenas moradias, edifícios de
rendimento, habitações apalaçadas, garagens industriais, edifícios públicos, bancos, escolas,
templos, mausoléus, monumentos e planos urbanísticos. Destacaram-se no seu trabalho
pormenores como a loggia, as mísulas e as cimalhas, mas também os pequenos alpendres, os
portões em ferro forjado, o cromatismo dos frisos dos azulejos policromos, bem como os
movimentos florais, os painéis e as cercaduras.

62
CAPÍTULO 4

Neste capítulo iremos realizar um enquadramento geográfico da freguesia de Palmeira,


local onde se encontra instalado o palácio da Dona Chica. Desta forma, será descrita a sua
evolução ao longo da história, a sua toponímia, as suas instituições e o seu património público e
arquitetónico para que, no final, seja apresentada a localização geográfica do palácio.

4.1. Caracterização da freguesia de Palmeira


A cidade de Braga é uma cidade portuguesa localizada na região norte do país, cuja origem
remonta ao século I a.C. Já a freguesia de Palmeira, conta com uma ocupação efetiva que remonta
à Pré-História, mais precisamente, ao Paleolítico Inferior.
Localizada 4 quilómetros a norte da cidade de Braga, nas margens do rio Cávado,
Palmeira é atravessada por duas grandes estradas nacionais – Braga-Monção e Braga-Ponte de
Lima – e conta com a presença de duas importantes pontes: a Ponte de Prado e a Ponte do Bico
(Correia, 1977, p. 12).

Figura 7 Enquadramento Geográfico da Freguesia de Palmeira

63
Com um notável espólio arqueológico, que remonta aos primórdios da humanidade, mais
precisamente ao Paleolítico Inferior e ao Calcolítico, encontramos vestígios localizados no Castro
da Sola, na colina de Pitanchinhos, que datam do III e do I milénio do Calcolítico e da Idade do
Bronze (Maia M. A., 2019, p. 39).
Entre o final do século XIX e o início do século XX, a superfície de Palmeira era composta
por cerca de 1.431.116 metros quadrados de terrenos incultos, 1.431.116 metros quadrados de
terreno arável e 1.639.741 metros quadrados de área florestal, subsistindo durante muito tempo,
tal como as demais aldeias portuguesas, através da atividade agrícola e do artesanato, destacando-
se, sobretudo, pelas “telheiras” e as “taxinhas”. Todavia, com o desenvolvimento socioeconómico
a que se assiste no século XX, verifica-se um crescente êxodo rural da população das aldeias para
os centros urbanos e para o estrangeiro com o intuito de obter melhores condições de vida e
salários mais elevados (Correia, 1977, p. 5). Contudo, apesar do êxodo e da emigração,
particularmente nas décadas de 1960 e 1970, Palmeira acabou por crescer, tanto a nível
populacional, como a nível de fogos. (Maia M. A., 2019, p. 40).

4.1.1. Evolução de Palmeira


A freguesia de Palmeira corresponde a um importante local arqueológico, cujos vestígios
encontrados se encontram, atualmente, no museu D. Diogo de Sousa. Deste modo, parece-nos
fundamental descrever as diferentes fases de ocupação do local.
• Pré-História
As primeiras marcas da passagem do ser humano pelo território que hoje denominamos
Palmeira reportam à pré-história, mais precisamente ao Paleolítico Inferior, existindo elementos
na Quinta do Paço, nas imediações do rio Cávado (Gomes, 2017).

• Calcolítico
Os artefactos encontrados no Castro da Sola, num esporão de uma colina dos Pitancinhos,
remontam a um período situado entre o III e o I milénio a.C., mais concretamente ao Calcolítico e
à Idade do Bronze. Neste castro, verificamos a existência de diversos objetos de cerâmica que
traduzem a existência de três ocupações não permanentes presentes em diferentes fases por
alguns povos. É verosímil pensar que na sua última fase estes possam ter atingido alguma
complexidade social, praticando atividades pastoris e a recoleção de frutos silvestres (Gomes,
2017).

64
• Ocupação Romana
No período romano, Palmeira era uma região localizada nas imediações de Bracara
Augusta, afirmando-se como um local de refúgio para os militares romanos que realizavam as
ocupações dos Brácaros. Todavia, não foram muitos os vestígios que sobraram desse período
cronológico. Relativamente às vias de comunicação que resultaram da época romana, podemos
identificar a Ponte de Prado e o Castro da Sola, que data a Idade do Bronze Final, localizando-se
no lugar dos Pintancinhos36 (Correia, 1977, pp. 5-14)
Parte do território que hoje em dia integra a freguesia de Palmeira era constituído por
minifúndios de grandes senhores romanos, que construíam aí as suas Villae. Segundo o que foi
documentado na obra Palmeira Antiga e Moderna (1977), é possível verificar a “passagem e
permanência, da vida e residência romana na encosta deste montinho existem abundadíssimos
dados irrefutáveis e bem claros” (Correia, 1977, p. 17), através da presença de alguns vestígios
encontrados na Quinta da “Touroa”, entre eles, cerâmicas de origem romana e moedas que datam
dos anos de 215-270 d.C. e 395-408 d.C., é possível conceber a ideia da ocupação no período
das invasões bárbaras (Correia, 1977, p. 17).

• Idade Média
Apesar da queda do Império Romano, no século V, os povos que aí se localizavam (Suevos
e Visigodos) já se haviam convertidos ao cristianismo, adotando os seus hábitos e costumes. Com
a delimitação do Bispado de Dume, encontramos as primeiras referências, no século IX, à villa de
Palmariam. A fixação das paróquias da região, conhecidas como Paroquiale Suevicum tiveram
uma importante influência na posterior distribuição da arquidiocese de Braga e, após o ano de
1072, no estabelecimento de uma organização da arquidiocese de Braga, pelo Bispo D. Pedro,
designando como padroeira da freguesia de Palmeira, a Virgem Santa Maria. A partir do ano de
1128, a freguesia de Santa Maria de Palmeira, integra o couto de Braga. No século XIII, o território
palmeirense já possuía a configuração que conhecemos hoje e que resulta na junção das
comunidades, ainda pouco conhecidas, de Palmariam, Parietelias e Pitanes. Sob a designação
primitiva de Sancte Marie de Palmeyra, a freguesia ficará durante mais de sete séculos ligada à
ação feudal dos grandes proprietários clericais (Gomes, 2017).

36
Uma vila com o nome “Pitanes” existiu no século IX e aparentemente era tão importante como Dume, Palmeira e Merlim. A esse lugar hoje
chama-se Pitancinhos. É o mesmo de “Pitanes”, ou outro que lhe foi contiguo “Pitaesinhos” (Correia, 1977, p. 15).

65
• Época Moderna
As primeiras associações palmeirenses eram de cariz religioso (século XVI) e nasceram
da necessidade de auxiliar os mais desfavorecidos, dando assistência aos mais carenciados. Estas
instituições revestiam-se de grande importância para o enquadramento socio-religioso e cultural
palmeirense.
Contudo, a partir do século XVIII observamos uma progressiva diminuição da interferência
eclesiástica na esfera económico-social da freguesia, em favor dos senhorios aristocráticos, através
da construção de casas abrasonadas. Depois da legislação promulgada no reinado de D. Maria I,
no ano de 1790, passou a exigir-se a constituição do couto de Braga e das suas prerrogativas em
favor do direito comum. Neste contexto, as famílias nobres da freguesia começaram a ostentar
orgulhosamente as suas pedras de armas nos frontões das casas barrocas. Normalmente os
membros dessas famílias ocupavam cargos de relevo na administração ou no aparelho militar,
contraindo matrimónio com mulheres do mesmo nível social.
Com o final da monarquia, verifica-se a presença de uma nova elite social associada às
profissões liberais e burguesas (médicos, industriais e emigrantes ricos) que conquistam
importantes cargos concelhios e administrativos (Gomes, 2017).

• Época Contemporânea
Entre o final do século XVIII e o início do século XX foram construídas sumptuosas obras
arquitetónicas privadas e públicas que conferiram à freguesia uma maior importância regional.
Exemplo dessas construções são a Ponte do Bico, o chafariz, a capela de Nossa Senhora dos
Milagres e o nosso objeto de estudo, o Palácio da Dona Chica. No entanto, a freguesia continuou
a ser, durante a primeira metade do século XX, marcadamente rural, predominando a atividade
agrícola e as estruturas relacionadas com a predominância do sector primário.
Nos anos iniciais da Primeira República foram realizadas obras conducentes ao
abastecimento de água da cidade, com as canalizações a atravessarem parte da freguesia a partir
do lugar do Bico. Neste contexto, é importante destacar o nascimento, na década de 1920, da
empresa de transportes Tecedeiro. No final dessa década, é particularmente relevante e indicador
do capital que circulava em Palmeira e da vontade de modernizar a freguesia a instalação do
campo de aviação no Lugar da Póvoa por notáveis bracarenses. A construção desta infraestrutura
em Palmeira constituiu, à época, um grande polo de atração de forasteiros (Correia, 1977, pp. 24-
26).

66
O desenvolvimento das atividades económicas não relacionadas com a agricultura
assumiu um aumento significativo a partir dos anos 80 do século passado. Nesse período,
observamos um significativo incremento do setor secundário e avanços consideráveis noutras
atividades produtivas, como é exemplo a construção civil. Já no período do Estado Novo
assinalamos um crescente fomento do associativismo e das atividades culturais e desportivas, que
tinham por objetivo consolidar a inculcação ideológica e a conformação social da sociedade do
Estado Novo, entre elas podemos referir a O.M.E.N do Clube Juvenil ou Palmeiras F.C., que se
encontrava sob o comando da FNAT (Gomes, 2017).

4.1.2. Toponímia
Ao longo do tempo, a freguesia de Palmeira sofreu um conjunto de alterações ao nível da
sua toponímia. No ano de 1108, segundo a Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura, a freguesia
de Palmeira adquiriu a denominação de “Palmeira de Bicco”, sendo esta alterada, em 1220, para
“Santa Maria de Palmeira”, passando posteriormente para Palmeira, a sua designação atual.
Entre as suas principais ruas destacam-se o Lugar do Assento (lugar junto da igreja ou
lugar onde se faziam os assentos, ou seja, os registos de casamento, de óbito, de batismo, etc.),
as Caixas d’Água (situado a sul do campo de aviação – aeródromo), o Carregal (atravessado pelo
Caminho Municipal que liga a Estrada Nacional 101 ao aeródromo e este à Estrada Nacional 201,
também designado por Lugar da Aldeia), o Carreiro (lugar de cruzamento com a Estrada Real,
atualmente Estrada Nacional 101), a Carvalheira (localizado no quadrante sul da freguesia), o
Outeiro (um dos lugares mais populosos da freguesia e um dos acessos ao rio Cávado), o
Coucinheiro (local que interliga a Estrada Nacional 101, a freguesia de Adaúfe, o campo de futebol
Dr. Augusto Correia, propriedade do Palmeiras Futebol Club, e a Escola do Primeiro Ciclo do
Ensino Básico local), a Lamela (que liga a Estrada Nacional 101 ao interior norte da freguesia), o
Lugar Novo (situado entre os lugares do Coucinheiro e de Ribeiro), a Ponte de Prado (lugar que
liga à Ponte Românica de Prado, que atravessa o rio Cávado), a Portela (lugar atravessado pelo
Caminho Municipal 1281), a Póvoa (o maior lugar da freguesia, com uma grande mancha
populacional e que confina com o aeródromo, local em que se situa capela de Sto. Estevão, conta
ainda com um campo de futebol e um polidesportivo, com o movimento juventude da Póvoa, bem
como com duas Escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, também com valência de Pré-Primário),
Ribeiro (este foi o último local de habitação dos moleiros, que aproveitavam o leito do rio bem
como os moinhos aí existentes para fazerem o seu trabalho), S. Sebastião (local onde, em 1753,

67
existia a capela de S. Sebastião, que hoje está incorporada no alçado lateral da Igreja Paroquial),
Valinhos (onde se encontra localizada a urbanização do Bairro Bracara Augusta, bem como a
Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico e o recinto polidesportivo), a Verdasca (que dá acesso à
Estrada Marginal que liga Palmeira à Vila de Prado), Vilarinho (local pouco populoso que faz
fronteira com a freguesia da Adaúfe) e a Urtigueira (lugar no sopé do monte de Montariol) (Anexo
1 e 2).

Figura 8 Mapa de Palmeira


(Fonte: http://freguesiadepalmeira.pt/index.php/2-uncategorised/35-toponimia)

4.1.3. Instituições
Na freguesia de Palmeira podemos encontrar diferentes instituições que permitem
assegurar uma melhor qualidade de vida graças ao usufruto de recursos e de infraestruturas
culturais, desportivas, turísticas, sociais, religiosas e educativas, nomeadamente:
• Turismo e Lazer – Aeroclube de Braga, Liga de Aeromodelismo do Cávado,
Associação de Paraquedistas do Minho.
• Desporto e Cultura – Palmeiras Futebol Clube, Associação Recreativa e
Cultural de Palmeira, Movimento de Juventude da Póvoa, Kartódromo
Internacional de Braga, Clube Automóvel do Minho, Clube de Golfe, Sociedade
Columbófila de Palmeira, Nova Comédia Bracarense.

68
• Ação Social – Associação Portuguesa para as Perturbações do
Desenvolvimento e Autismo (APPDA), Casa do Povo, Associação dos Idosos
Santa Maria de Palmeira.
• Ensino – Associação de Pais e Encarregados de Educação, Balão Mágico,
Creche de Braga, Bracara Augusta, Coucinheiro, Ortigueira, Campo de
Aviação, Agrupamento de Escolas de Palmeira.
• Culto religioso – Paróquia de Sta. Maria de Palmeira, Comissão de Festas do
Deus Menino.
• Associação de Moradores – Bracara Augusta, Quinta de S. José.

Acerca das infraestruturas que dão suporte à freguesia podemos destacar a existência de
um auditório, espaço privilegiado para a promoção, difusão e a fruição culturais, um museu
etnográfico, bem como uma biblioteca que coloca ao dispor dos seus utentes um total de 1.500
livros (Palmeira, 2017).

Figura 9 Museu Etnográfico de Palmeira


(Fonte: http://www.freguesiadepalmeira.pt/index.php/centro-de-convivio/museu-etnografico)

69
4.1.4. Património público e arquitetónico
Apesar de Palmeira não ser uma freguesia de elevado valor a nível arquitetónico, não deixa
de apresentar alguns edifícios/casas nobres, com um considerável interesse estético e
patrimonial. São disso exemplo,
• O Paço de Palmeira, uma quinta que possui uma arquitetura civil
residencial, barroca, rococó e neoclássica, composta por um solar de planta
em U, um terreiro fechado com um portal proveniente da Quinta da Torre, uma
capela, um jardim, dependências de serviços e terrenos para exploração
agrícola37.
Originalmente pertencente à casa de Bragança, mais precisamente a D. José,
filho natural de D. Pedro II (1703-1756), e posteriormente ao seu sobrinho, D.
Pedro Henriques de Bragança Sousa e Ligne Tavares Mascarenhas da Silva
(1718-1761). No ano de 1945, adquirida por Roderic Harold Dalzell
Henderson, que lhe acrescentou um portal brasonado oriundo da Quinta da
Torre (Gonçalves, 2019).
• A Casa do Portelo, localizada na rua dos Agricultores e do Vilarinho, trata-se
de uma moradia de origem aristocrática, mais precisamente de José António
de Sousa Carvalho, responsável pela construção de pedra de armas (Gomes,
2017). Distingue-se das demais pelos seus portais monumentais, situados no
prolongamento de um outro, pelo jardim e pela escadaria de quatro lanços. O
portal presente à direita, construído nos finais do século XVIII, apresenta o
brasão das armas dos Sousa Carvalho (Maia M. A., 2019, p. 47).
• A Casa do Coucinheiro, moradia instalada na rua do Senhor dos Milagres.
A primeira casa construída, no século XVII, a mando do Capitão-Mor da Vila de
Prado, Leonardo Esteves de Amorim Cerqueira Barbosa, acabando por ser
completamente devastada num incêndio (Gomes, 2017).
• A Casa da Arrifana de Cima, residência setecentista localizada na rua do
Carregal, mandada edificar por João Ferreira Chaves e mantendo-se na família
durante décadas (Gomes, 2017).
• A Ponte de Prado, construção quinhentista que foi classificada como
Monumento Nacional em 1910 e que estabelece a ligação entre a freguesia

37
http://monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=23989.

70
de Palmeira e o concelho de Vila Verde. Localizada sobre as margens do rio
Cávado, situa-se entre as freguesias de São Paio de Merlim/Palmeira e a Vila
de Prado. Originariamente uma construção romana que ligava Bracara e
Astorga, acabou por ser demolida no ano de 1510, sendo reconstruída no
século seguinte, mais precisamente em 1617. Tipologicamente, podemos
definir esta como uma construção de tipo românico, com um total de cinco
arcos de ogivas e quatro redondos (Maia M. A., 2019, p. 53).
• A Ponte do Bico, construção que se encontra antes da confluência do rio
Cávado com o rio Homem e que foi construída durante o fontismo, entre os
anos de 1863 e 1867 (Gomes, 2017).
• O Chafariz, fontanário de estilo neoclássico edificado no ano de 1872, na
berma da Estrada Nacional 101 a cerca de 100 metros da Ponte do Bico
(Gomes, 2017). .
• A Igreja Paroquial de Palmeira (1930), que, embora tenha sido
construída sobre a capela de São Sebastião, manteve parte da sua fachada
renascentista. Esta igreja não possui um estilo específico, mas sim uma
mistura eclética de diversas transformações feitas à ermida setecentista,
apresentando na sua estrutura cinco portas erguidas e interligadas na parte
interior (Maia M. A., 2019, p. 55).
Quem concebeu e protagonizou projeto de restauro foi o professor e arquiteto Ernesto
Korrodi, estudado no capítulo anterior e também responsável pelo projeto do
Palácio Dona Chica. Apesar de esta igreja não ter sido sujeita a grandes
alterações infraestruturais, em 1995 a igreja foi sujeita a um restauro
completo, sendo remodelados os chãos e as paredes. Na sua fachada
podemos ainda encontrar revestimentos em azulejos azulados. Das duas
sacristias existentes, apenas uma funciona como tal (Maia M. A., 2019, p. 57).
• A Capela de Nossa Senhora dos Milagres, localiza-se no lugar do Outeiro
e foi construída nos terrenos da família Barbosa na segunda metade do século
XIX. Tinha como função a realização das missas dominicais. Com um traçado
circunflexo neoclássico com dois vitrais condizentes, foi, até aos nossos dias,
sujeita a várias remodelações que permitiram a sua ampliação bem como os

71
significativos arranjos exteriores que contribuíram para a sua preservação
(Gomes, 2017).
• O Cruzeiro do Assento, localizado na rua do Assento foi concluído no ano
de 1838. Ficava próximo da antiga Igreja Paroquial, demolida no ano de 1895
(Gomes, 2017).

4.2. Localização Geográfica do Palácio da Dona Chica

Figura 10 Localização do Palácio Dona Chica

Localizado na freguesia de Palmeira, o Palácio da Dona Chica encontra-se situado no lugar


do Assento, na Estrada Nacional 101 (Km. WGS84 (graus decimais), de latitude 41.588850 e de
longitude de -8.42814838), tendo uma área total de 32.472 m2, sendo 572 m2 de área coberta e
31.900 m2 de área descoberta.39
Atualmente, o palácio encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público e
está delimitado como uma Zona Especial de Proteção (ZEP), através da portaria nº. 120/2013,
2ª Série, nº 48, de 8 de março de 2013. “A classificação do Castelo de D. Chica, ou Castelo de
Palmeira, reflete os critérios constantes do artigo 17.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro,

38
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=766.
39
2ª Conservatória do Registo Predial de Braga (Consultado em 01/08/2022).

72
relativos ao carácter matricial do bem, ao génio do respetivo criador, ao seu valor estético, técnico
e material intrínseco, à sua conceção arquitetónica, urbanística e paisagística e às circunstâncias
suscetíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade do bem”. “A
zona especial de proteção (ZEP) tem em consideração a implementação destacada do imóvel e o
valor paisagístico dos seus jardins. A sua fixação visa salvaguardar o contexto urbanístico
envolvente assegurando os valores patrimoniais e paisagísticos do bem”40.

40
Diário da República. 2ª. Série – N.º 48 – 8 de março de 2013.

73
CAPÍTULO 5

A edificação que aqui é estudada conta com uma história de mais de cem anos, sendo
esta iniciada antes do ano de 1915. Os seus primeiros proprietários foram os recém-casados João
José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto Ferreira Rêgo.

5.1. Sollar do Rêgo - João José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto Ferreira
Rêgo: Primeiros Proprietários
João José Ferreira Rêgo, natural de Braga, nasceu a 7 de maio de 1893, na freguesia de
Palmeira, no concelho e arquidiocese de Braga, sendo batizado no mesmo ano na Paróquia de
Santa Maria de Palmeira, pertencente à mesma freguesia (Anexo 3). Era filho de Manuel Joaquim
Peixoto do Rêgo (médico-cirurgião) e de Dona Maria da Conceição Ferreira Rêgo, “natural de Santa
Anna da Corte da Cidade do Rio de Janeiro”. Para além de João Rêgo, os seus pais tinham ainda
duas filhas, Alcina da Conceição Ferreira Rêgo e Isilda da Conceição Ferreira Rêgo.

Figura 11 João José Ferreira, Maria da Conceição Ferreira, Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo,
Alcina da Conceição Ferreira do Rêgo, Isilda da Conceição Ferreira do Rêgo e João José Ferreira
Rêgo.
(Fonte: Arquivo Distrital de Ponte de Lima)

74
Figura 12 Fotografia de Alcina da Conceição Ferreira Rêgo,
Isilda da Conceição Ferreira do Rêgo e João José Ferreira do Rêgo.
(Fonte: Arquivo Distrital de Ponte de Lima)

Francisca Peixoto Ferreira de Sousa, natural do Estado de São Paulo, Brasil, nasceu a 20
de agosto de 1893. Filha de Francisco Peixoto Ferreira de Sousa (emigrante português no Brasil)
e de Antónia Soares Peixoto (descendente de escravos), pertencia a uma família rica, visto que o
seu pai era sócio da companhia importadora de ferragens Peixoto & Estella.
Com a morte do pai, a 13 de fevereiro de 1913, e para manter o padrão de vida a que
estava habituada, Dona Francisca Peixoto de Sousa viu a necessidade de contrair matrimónio com
o seu primo, João José Ferreira Rêgo, com quem já se correspondia através da troca de cartas. O
matrimónio concretiza-se a 15 de março de 1913, às sete horas da noite, na cidade de São Paulo,
na rua da Liberdade nº 83, perante o Juiz de Paz do distrito da Liberdade, Major Fernando Martins
Bomilher Jor, estabelecendo-se logo de seguida em Portugal (Anexo 5 e 6).

75
Figura 13 Retrato de Francisca Peixoto de Sousa Rêgo 29 de julho de 1912
(Fonte: Arquivo Distrital de Ponte de Lima)

Através do arquivo da casa da Lage, foi possível obter um conjunto de fotografias desta
família, sendo possível identificar uma fotografia, que data de 1912, com a seguinte legenda:
“Querida prima. Tomo a liberdade de lhe oferecer como prova da amizade que lhe dedica”, sendo
percetível que neste período já haviam sido iniciados contactos para realizar o matrimónio entre
ambos.
Após regressar a Portugal, o casal estabelece-se na “Casa da Quintanilha”, situada na rua
do Carregal, em Palmeira41.
Contudo este casamento não dura muitos anos, acabando por se divorciarem no ano de
1921, sendo esta ação de separação promovida pela própria Francisca Peixoto do Rêgo, alegando
que havia sido abandonada por João José Ferreira Rêgo fazia já três anos42. “Pelo juízo de Direito
da 1ª Vara cível d’esta cidade e comarca do Porto, e cartorio do escrivão abaixo assignado, corre
seus termos uma acção especial de reparação de ações e bens, em que é auctor João José
Ferreira Rêgo, proprietario, da freguezia de Palmeira, comarca de Braga, e residente n’esta cidade
do Porto, a ré sua mulher D. Francisca Peixoto, residene no Hotel Peninsular, d’esta cidade, a
quem faz público, nos termos e para os effeitos do art. 448 do Código do Processo Civil. Porto, 3

41
«Entre Aspas, Dona Chica, cem anos à espera de um palácio», Diário do Minho, 18 de abril de 2016.
42
Processo/1922, maço 388.

76
de agosto de 1921”. Os autos de ação de separação foram proferidos a 20 de agosto de 1921,
sendo autorizados pelos dois cônjuges (Anexos 15 a 21).
De acordo com Lurdes Alves, “este era um casal muito conhecido na freguesia, não só
pelo seu luxo e exuberância, como pelo carro que ostentavam, um Rolls Royce branco. A Dona
Chica, era conhecida pelas grandes festas que dava na Quinta da Mata43, e pela sua exuberância,
extravagâncias e excessos” (Anexo 39).

Figura 14 Quinta da Mata Semelhe


(Fonte: http://bragaon.blogspot.com/2012/06/castelo-da-quinta-da-mata-semelhe-braga.html)

Apesar da vida luxuosa que levava, Dona Francisca Rêgo era considerada “amiga do
povo”, promovendo diversas obras de caridade. De acordo com a mesma entrevistada, no decorrer
da procissão da Nossa Sr.ª das Dores, Dona Chica encontrava-se “juntamente com a sua modista,
numa das portas do Castelo em frente à igreja; exibindo um dos seus vestidos, ao que parece,
com um decote acentuado. Indignado com a situação caricata, o padre da época, João Rêgo, saiu
do pálio e trocou algumas palavras mais grosseiras com esta. Segundo os relatos da época, esta
situação gerou um enorme tumulto e o padre viu-se obrigado a refugiar-se no interior da igreja,
temendo ser atacado pela população de Palmeira, que tinha ficado do lado de Dona Francisca.
Para evitar maiores conflitos, o sogro de Dona Francisca, Doutor Manuel Peixoto do Rêgo leva o
mesmo para a quinta da Quintanilha. Entretanto, no lugar da Póvoa, a população acaba por ficar

43
A quinta da Mata correspondia a uma propriedade do século XIII, pelos Eremitas de Santo Agostinho, no convento do Pópulo, e que posteriormente
é restaurado por Ernesto Korrodi.

77
do lado do pároco João Rêgo, gerando uma rivalidade que ainda existe nos dias de hoje (Anexo
39).
Com o fim do seu casamento, D. Francisca vai morar para a cidade do Porto, casando
novamente com Henrique Ventura Teixeira, com quem teve um filho chamado Manuel Peixoto
Ventura, que nasceu a 10 de outubro de 1922. Através da Revista da Ordem dos Advogados, de
22 de março de 1939, esta termina o casamento com Henrique Ventura Terra, viajando para
França, onde conhece o seu novo companheiro, Atílio Giordani, regressando novamente ao Brasil,
onde permaneceria até falecer, no ano de 1960 (Revista da Ordem dos Advogados, 1941).
Com o fim do seu casamento, João José Ferreira Rêgo, decide parar as obras do Sollar
do Rêgo e investir na quinta da Mata, dando o projeto ao arquiteto Ernesto Korrodi. Apesar disso,
sabe-se que ele não viveu muitos mais anos, acabando por falecer a 19 de janeiro de 1935, um
ano depois de consumar a venda da propriedade44.

Figura 15 Missa do 30º Dia de João José Ferreira Rêgo


(Fonte: Diário do Minho, 15 de fevereiro de 1935

44
A venda da propriedade foi consumada pelo seu cunhado, e representante legar Adolfo Ribeiro Lima da Costa Azevedo, através de uma procuração
cedida por João José Ferreira Rêgo.

78
Figura 17 Necrologia
(Fonte: Diário do Minho, 17 de janeiro de 1935

Figura 16 Funeral de João José Ferreira Rêgo


(Fonte: Arquivo Distrital de Ponte de Lima)

79
5.1.1. Processo de aquisição dos terrenos que integram a propriedade
Através dos registos encontrados no Arquivo Distrital de Braga (ADB) é possível
compreender como e quando foram adquiridos os terrenos que atualmente integram a
propriedade. Após uma consulta inicial, fomos capazes de identificar que a maioria dos terrenos
não foram adquiridos por João José Ferreira Rêgo, mas sim pelo seu pai, Manuel Joaquim Peixoto
do Rêgo, mesmo antes deste e de Dona Francisca Peixoto do Rêgo consumarem o matrimónio.
Foi inclusive possível compreender que estas compras foram realizadas num curto espaço de
tempo, destacando-se o contrato de compra e venda realizado a 12 de dezembro de 1904, no
cartório do notário José Clodemiro Telles da Silva Meneses, tendo como primeiros outorgantes,
Luiz António Alves Pereira e a sua irmã Francisca Rosa Alvez Pereira e Dona Theresa Albina Alves
Pereira, moradores no lugar da Tourôa, e o segundo outorgante, Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo,
que compra aos primeiros outorgantes a bouça da Laura, localizada na freguesia de Palmeira45,
pela quantia de um conto de reis (Anexo 7).
Já no ano de 1905, Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo compra, ao Doutor João Teixeira da
Silva, uma propriedade hipotecada, sendo esta adquirida por escritura pela quantia de sete contos
e mil reis. Graças a esta compra, os registos de hipoteca foram cancelados (Anexo 8).
A 7 de janeiro de 1909, foi adquirido um prédio misto localizado no lugar do Carreiro
(descrito na conservatória no livro-B cinquenta e seis, folhas setenta e seis, sob o número dezoito
mil e cento e cinquenta e três), sendo adquirido pela quantia de quatro contos e mil reis à parte
do prazo e cento e cinquenta mil reis à parte do prazo alodial (Anexo 10).
Em 19 de agosto de 1905, é realizado o contrato entre a primeira outorgante, Dona
Narcisa da Luz Arantes Braga, o segundo outorgante, Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo, e a terceira
outorgante, Dona Maria da Luz Vasconcellos. A propriedade comprada tratava-se de um prédio
rústico localizado no lugar dos Pitancinhos, sendo conhecido como quinta do Tojo ou Tourôa
(descrito na conservatória no livro B sessenta e nove folhas cento e trinta e quatro, sob a descrição
predial, número vinte e três mil novecentos e setenta), sendo vendido por duzentos mil reis (Anexo
12).
Através do livro 130, folhas 33 verso, é apresentado o contrato de compra e venda da
Bouça da Loura ou Moutinha, localizada no lugar do Carvalhal, entre Manuel Soares Azevedo, João
Soares Azevedo e Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo, sendo três prédios pertencentes ao primeiro
outorgante, Manuel Soares de Azevedo (descrito na conservatória sob o número oito mil e oito,

45
Descrita na conservatória pelo livro B-duzentos, folhas cento e noventa e dois verso e com o número três mil oitocentos e dezanove.

80
nas folhas cento e onze, no livro B vinte e nove), a leira de mato na Veiga de Campus e uma
morada de casas térreas com quintal, alodial na mesma freguesia e lugar, não descrito na
conservatória. (Anexo 11).

5.2. Sir Roderic Harold Dalzell Henderson (1934)


As principais fontes utilizadas neste período cronológico foram fontes arquivísticas, mais
precisamente o contrato de compra e venda realizado por João José Ferreira Rêgo, na altura
representado pelo seu cunhado, o Doutor Adolfo Ribeiro Lima da Costa Azevedo, e alguns artigos
de jornais da época. Desde logo, conseguimos compreender que o Sr. Roderic Harold Dalzell se
tratava de um capitalista britânico que veio para Portugal, para a região minhota, com o objetivo
de realizar investimentos, comprando não só a propriedade do Sollar do Rêgo como também o
Paço de Palmeira.
A 26 de novembro de 1934, a propriedade é adquirida pelo Sr. Roderic Harold Dalzell
Henderson, através do Cartório Oito da Praça do Agrolongo, sendo este ato realizado pelo Bacharel
formado em direito Filipe Augusto Noronha Freire de Andrade e tendo por testemunha o Doutor
Adolfo Ribeiro Lima da Costa Azevedo, morador na casa da Barroza, em Viana do Castelo (Anexo
14).
Segundo consta no contrato de promessa de compra e venda, apresentado em anexo, a
propriedade encontra-se descrita da seguinte forma:
que este prédio foi constituído a) pelos prédios rústicos denominados bouça grande
e bouça pequena ou ainda Bouça de São Sebastião, descrito na conservatória no livro
B- Catorze, sob os números dois mil e sessenta e dois e dois mil e sessenta e três
por compra que o constituinte fez a Francisco Manuel Ferreira Chaves e esposa Dona
Maria Gonçalves Chaves, por escritura a vinte e sete de maio de mil novecentos e
catorze; b) pelo prédio muito descrito na conservatória no livro B-Sete e folhas
duzentos e cinquenta e uma sob número novecentos setenta e dois, por compra que
o seu constituinte fez a João Esteves Pereira de Amorim Barbosa e esposa Dona
Mariana Cândida de Sousa Brandão Barbosa Amorim por escritura de vinte e três de
outubro daquele mesmo ano de mil novecentos e catorze e c) pelo prédio rustico
denominado Bouça da Portinha, descrita na conservatória no livro B-quinze, a folhas
dezassete, sob número dois mil duzentos e oitenta e três por compra que o seu

81
constituinte fez a Alfredo Ferreira Dias e esposa Dona Elvira Gomes Ferreira Dias por
escrituras foram eyradas no cartório do então notário deste concelho. (Anexo 14)

Através deste documento, é possível compreender que, neste período, a propriedade


período havia sido vendida pela quantia de cento e sessenta e cinco mil escudos (Anexo 14).
Através dos artigos de jornais da época, apresentados nas figuras que se seguem,
compreende-se que o objetivo deste proprietário passava por transformar o edificado num “hotel
de luxo, destinado quase na exclusividade a albergar estrangeiros ricos e nacionais com a mesma
condição social”. De acordo com os textos, o edifício seria uma referência para os turistas
nacionais e estrangeiros, sendo definido como um hotel de luxo destinado a pessoas de “avultados
meios de fortuna, espírito esclarecido e arrojados, almas inovadoras e de iniciativa e com largas e
valiosas relações na Grã-Bretanha, suponha-se quanto a cidade folgou, e exaltou, com os seus
novos moradores”. Sendo um dos primeiros do país com tais características, o hotel era rodeado
por “frond osos parques e artísticos jardins, com grutas, lagos, mirante e diversões”.

Figura 18 "Na realização do grande melhoramento", Diário de Braga


(Fonte: PT-ADLRA-PSS-EKO-B-004-00002, ADRLA)

82
Figura 19 "Braga vai ter um hotel de luxo", Diário de Braga
(Fonte: PT-ADLRA-PSS-EKO-B-004-00002, ADRLA)

Para além deste imóvel, Sir Roderic Henderson, investiu em outras propriedades e no
campo de aviação, o que lhe permitia uma maior facilidade de transporte e possibilitava a
aterragem dos aviões de passageiros, agilizando o acesso ao Paço de Palmeira, localizado nesta
mesma freguesia.

Figura 20«No Palácio de Palmeira foi


oferecido, ontem, um almoço ao Sr. Dr.
Alberto Cruz»
(Fonte: Diário do Minho, 10 de maio de 1935)

83
5.3. Alberto Torres Figueiredo e Francisco Joaquim Alves de Macedo
Vindos da cidade do Porto, poucos foram os dados recolhidos sobre estas personagens
que marcaram a história do Palácio da Dona Chica. Através dos depoimentos recolhidos,
compreende-se que se tratava de uma família abastada oriunda do Porto, sendo ainda proprietária
de outras quintas.
A partir da entrevista realizada ao filho do antigo capataz do palácio Dona Chica foi possível
definir este período cronológico, que até aqui se encontrava em falta. Segundo este, o edifício
pertencera a Dona Maria Constança dos Pais Furtado Figueiredo e ao seu avô, Torres Figueiredo,
ambos moradores na rua Cândido Reis, nº 549, na cidade do Porto. Estes eram importantes
proprietários, detentores do exclusivo fabril do Cávado, possuindo um total de cinco quintas, sendo
estas a Quinta de São José, a Quinta do Lagar de Azeite, a Quinta dos Cinco Reis, a Quinta de
Santa Marta e a Quinta do Alenquer, perto do campo de futebol (Anexo 38).
Segundo esta mesma fonte, o seu pai seria filho ilegítimo de Alberto Torres Figueiredo,
acabando por nunca ser reconhecido legalmente. “Só soube depois de ele falecer, que era neto
dele, Alberto Torres Figueiredo. [...] O meu pai era Fernando Augusto, foi criado no Porto, e estava
registado como filho de pai incógnito”. De acordo com o entrevistado, o seu pai, Alberto Torres
Figueiredo foi “fundador do Moulin Rouge, em Paris, e foi guarda-livros do Conde de Vizela”. Com
a morte de Dona Maria Constança dos Pais Furtado Figueiredo, quem herdou a propriedade foi o
seu sobrinho, António Pais Moreira, sendo posteriormente adquirida por um senhor de Amares.
Apesar disso, a compra acaba por ser contestada pela Junta de Freguesia, por se tratar de um
valor irrisório. Para evitar a perda e destruição do imóvel, a Junta de Freguesia, já no mandato do
então Presidente da Junta, Manuel Vieira, acaba por realizar um empréstimo para adquirir a
propriedade (Anexo 38).
Neste momento, o edificado abria-se para um cenário de muitas manifestações culturais,
que se desenvolveram com o apoio da autarquia local, como foi o caso do festival do “Vestido da
Chita”, ou “Vestido Pintado”. Através das entrevistas realizadas é possível compreender a
importância que o festival “Vestido Pintado”, no decorrer dos anos 1980, teve para a freguesia.
“Vieram cantores como o duo Ouro Negro, José Cid, salvo erro, vieram os melhores cantores do
país, passaram aqui quando estavam no início da carreira, por exemplo, os Jafumega, do Porto, o
grupo Táxi, salvo erro, e o Marco Paulo [pausa longa]. Muita gente passou por Palmeira nessa
altura”. Apesar de ter começado no campo de futebol, “quiseram alargar o recinto do festival, por
isso aproveitaram o Castelo e a imagem que este dava, com o palco montado ao lado do mesmo,

84
as grutas... Eles só colocavam a iluminação da parte exterior e nas grutas. [...] Isto tinha uma
dimensão enorme, vinham pessoas da zona do Porto. Agora já perdeu o seu peso e impacto”
(Anexo 39).
De acordo com a memória descritiva realizada por Paulo Tonet, o festival era um pretexto
para “destruírem o pouco que restava de um sonho, inclusive, na falta de espaço para fazerem
fogueiras, principalmente quando chovia, não tinham escrúpulos em fazê-las no interior do Palácio.
Constituía também um lugar propício para a prostituição e tráfico de droga.
Em todas estas preocupações e sem possibilidades de proteger e recuperar este belo
imóvel, a Junta de Freguesia, liderada por Manuel Vieira, resolveu abrir concurso para atrair novas
iniciativas privadas, mas os resultados não foram os desejados.
De acordo com a entrevista realizada a Manuel Duarte da Silva, membro da Associação
KATAVUS, o então presidente da Junta,
Manuel António Pinheiro Vieira, que foi das pessoas que mais se interessou pelo
palácio, procurou comprar, porque o palácio estava abandonado há bastante tempo,
era propriedade privada, e então naquela fase forte, de afirmação autárquica, e da
dinâmica dele, que ele foi sempre uma pessoa muito dinâmica, e sobretudo como
autarca. [...] Manuel Vieira entendeu que aquele seria uma boa aquisição para a
freguesia [pausa longa], sempre pensou que a câmara o ajudaria nessa tarefa, não
teve essas ajudas, e as coisas complicaram-se imenso porque faltaram as ajudas da
Câmara Municipal. (Anexo 36)

Contudo, não tendo obtido o apoio da Câmara, viu-se obrigado a adotar uma nova
estratégia:
Ele então como autarca tenta aguentar a compra sozinho, enveredando
posteriormente pela estratégia de alugar o imóvel ao IPALTUR, a quem concede
autorização para realizar obras, sendo nesta altura recuperado, pelo menos, em
termos de conservação, exterior, telhado, janelas, etc., ficando de facto restaurado.
O interior é que foi sujeito a obras que não eram adequadas, por isso houve lá uma
discoteca, houve lá bares e por aí fora, que não deviam ter sido, mas o autarca ficou
de mãos cruzadas porque não tinha quem o apoiasse em termos municipais (Anexo
36).

85
5.4. A compra do palácio pela Junta de Freguesia e o contrato de
arrendamento feito com o IPALTUR
A 15 de abril de 1988, o edifício é arrendado à sociedade anónima IPALTUR com o intuito
de adaptar o imóvel e a sua envolvente, como é o caso da mata, do parque e da gruta aí existente
a um empreendimento de animação turística e hoteleira. Mediante o contrato de arrendamento
depreende-se que a senhoria, a Junta de Freguesia, ficava comprometida a assinar qualquer
documento necessário para a realização de obras, estando assim incluídos projetos, estudos,
análises económicas, entre outros de interesse para o projeto final (Anexo 20).
Considerado um imóvel de grande valor pela freguesia, acabou por ser aproveitado para
fins culturais, pondo termo à degradação a que até então estava sujeito. No ano de 1984, foi
realizado um pedido ao Instituto Português do Património Cultural (IPPC) no sentido de obter um
reconhecimento formal como imóvel de interesse público:
Câmara Municipal de Braga, edital n.º 31/85. Engenheiro Francisco Soares Mesquita
Machado, presidente da Câmara Municipal de Braga: Nos termos do número 1 e 2
do artigo do artigo 3.º do Decreto-Lei nº 181/70, de 28 de abril faço público que, por
despacho de sua excelência o ministério da Cultura foi determinada a classificação
como imóvel de interesse público do Castelo da Dona Chica ou Castelo de Palmeira,
sito na freguesia de Palmeira, deste concelho. Mais faço saber que a zona abrangida
por esta classificação fica sujeita às disposições legais em vigor, designadamente o
decreto n.º 20985, de 7 de março de 1932 (art.os 25.º e 48.º) o decreto n.º 38 888,
de 29 de agosto de 1952, o decreto-lei n.º 28 468, de 15 de fevereiro de 1938, o
decreto-lei n.º 39 600, de 3 de abril de 1954, o decreto n.º 46 349, de 22 de maio
de 1965 (n.º2.º do 1.º do art.º 19.º) o Decreto-Lei n. 1/78, de 7 de Janeiro, o Decreto-
Lei n.º 59/80, de 3 de Abril e o Decreto Regulamentar n.º 34/80 de 2 de Agosto,
convidando-se, por isso, todos os interessados a apresentar quaisquer reclamações,
no prazo de trinta dias, que tenham por objeto a ilegalidade ou inutilidade da
constituição ou alteração da servidão ou da sua excessiva amplitude ou onerosidade.
E para constar se publica este e outros de igual teor, que vão ser afixados nos lugares
de estilo. E eu, Júlio do Nascimento P. Pereira da Cunha, Assessor Autárquico desta
Câmara, o subscrevi. Braga e Paços do Concelho, 14 de março de 1985. Presidente
da Câmara, Francisco Soares Mesquita Machado. (Anexo 20)

86
Ainda que a empresa tenha procurado intervir sem descaracterizar o imóvel e a sua
envolvente, assumindo uma imagem de “uma habitação nobre”, preconizada pelos proprietários
originais, esta acabou por introduzir elementos modernos, como foi o caso de um elevador.
Segundo o orçamento da obra, apresentado por Paulo Tonet, acredita-se que esta rondaria
os quinze milhões de escudos (Anexo 23).
Nas imagens que se seguem, é apresentado um folheto promocional do empreendimento
turístico IPALTUR, nestas é possível compreender como estariam dispostos os diferentes
compartimentos, bem como a decoração e o imobiliário utilizado nesta fase.

Figura 21 Panfleto promocional, discoteca Dona Chica


(Fonte: Parte do Processo nº 12287/2004 Palácio D. Chica)

Apesar deste período áureo, o empreendimento turístico entra em falência e, sem meios
para sustentar a propriedade, acabou por ser hipotecado pela Caixa Geral de Depósitos.

87
5.5. João da Silva Campos (empresa de construção)
A 8 de setembro de 2005, o imóvel é adquirido pela P.M.A – Construções e Imobiliário,
Lda., representada por João da Silva Campos, proprietário e residente na Póvoa do Varzim46 . À
época, constava que o comprador pretendia executar um empreendimento turístico, todavia este
não obteve os resultados esperados.
Atendendo ao que foi apresentado no processo nº 12287-2004, presente no Arquivo
Urbanístico da Câmara Municipal de Braga (AUCMB), compreendemos que muitas das obras que
foram concebidas no imóvel, foram realizadas de forma clandestina, confirma-se a existência de
um conjunto de documentos emitidos com o intento de embargar as mesmas. A 18 de maio de
2005, um Policia Municipal da Câmara Municipal de Braga, , comparece no local com o propósito
de fazer cumprir um despacho promulgado pelo então presidente, sendo o mesmo exarado a 16
de dezembro de 1999. Através do decreto-lei nº 177/2001 de 4 de junho de 2001, encontrava-
se embargada a construção de um pavilhão e a reconstrução de anexos no logradouro do Palácio
Dona Chica, que, na altura, estava no nome do Sr. José da Silva Campos, residente na praça
Almeida Garrett, Póvoa de Varzim. Como comprovam as fotografias abaixo identificadas, é possível
comprovar a existência de estruturas metálicas isentas de paredes e cobertura (Anexo 34).

Figura 22 Pavilhão construído sem licença


(Fonte: Parte do Processo nº 12287/2004 Palácio D. Chica)

46
2ª Conservatória do Registo Predial de Braga, Descrições-Averbamentos-Anotações

88
A 1 de junho de 2005, é redigida uma carta com o intuito de alertar para o facto de a área
de proteção definida para o palácio da Dona Chica não estar a ser respeitada, estando a ser
construídos diversos edifícios sem a aprovação do Instituto Português do Património Arquitetónico.
É também apresentada uma ordem de serviço pedida em nome de José da Silva Campos, com o
objetivo de proceder à construção de um pavilhão a nascente e a restauração de anexos. Em
2012, é realizado um pedido à Divisão de Fiscalização e Licenciamentos, em nome de José da
Silva Campos, com o propósito de erguer um pavilhão no lado nascente e restaurar os anexos já
existentes (Anexo 33).

5.5.1. Processo de Classificação


No decorrer dos anos 1980 e 1990, o presidente da Junta, Manuel Vieira, dá início ao
processo de classificação do Palácio da Dona Chica. No entanto, acabou por não ver o seu esforço
reconhecido.
A 3 de Março de 2009, o imóvel obtém um parecer favorável para a classificação de
Imóvel de Interesse Público (IIP), mas após serem analisados casos semelhantes, é proposta a
alteração da categoria para Monumento de Interesse Público (MIP). Porém pela delimitação da
área ZEP não apresentar as condições necessárias, a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN)
(Cultural, 2011).
Ao abrigo da lei n.º 107/2001, de 8 de setembro de 2009, é proposta a classificação do
conjunto de interesse público, porém sem grande sucesso, uma vez que o imóvel ou conjunto a
ser classificado não dispunha de uma Zona Especial de Proteção (ZEP) (Cultural, 2011).
Em 2009, é publicado um edital com a proposta de delimitação da ZEP e é renovada a
proposta de classificação, cujos pressupostos passavam por se tratar de um edifício arquitetónico
inserido em contexto de jardim, mata e lago e com valor paisagístico de exceção. Dada a relevância
significativa do conjunto, o impacto que possui na paisagem envolvente e atendendo a que se
implanta num ponto elevado e com volumetria e arquitetura (existência de uma torre/miradouro),
pressupunha-se o objetivo de afirmação territorial – conforme a própria designação popular de
“castelo” (Cultural, 2011).
Atualmente, o imóvel encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público,
estando delimitado por uma Zona Especial de Proteção pela portaria nº 120/201347. Por
conseguinte, as suas grandes dimensões tornam-no visível a grandes distâncias.

47
Diário da República, 2.ª Série – N.º 48, de 8 de março de 2013, por despacho do secretário de Estado da Cultura.

89
No ano de 2013, o imóvel obtém a delimitação da área Zona Especial de Portugal (ZEP)
tendo em consideração a sua implantação e o seu valor paisagístico dos jardins. Esta fixação
consistia na salvaguarda do contexto urbanístico envolvente, preservando os valores patrimoniais
e paisagísticos do edificado. A 22 de fevereiro de 2013 Jorge Barreto Xavier, Secretário de Estado
e da Cultura, delimita área ZEP do imóvel, bem como a sua classificação como (Monumento de
Interesse Público (MIP).
Através do Diário da República, 2ª série – Nº 48 – 8 de março de 2013, compreendemos
que os procedimentos de audição dos interessados, previstos no artigo 27.º da Lei n.º 107/2001,
de 8 de setembro, e nos artigos 25.º e 45.º do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de outubro,
alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, de 28 de dezembro, de acordo com o disposto nos artigos
100.º e seguintes do Código do Procedimento Administrativo48.
Sob a proposta dos serviços competentes, nos termos do disposto no artigo 15.º, no n.º
1 do artigo 18.º, no n.º 2 do artigo 28.º e no artigo 43.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro
de 2001, conjugado com o disposto no n.º 2 do artigo 30.º e no n.º 1 do artigo 48.º do Decreto-
Lei n.º 309/2009, de 23 de outubro 2009, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, de 28 de
dezembro de 2011, e no uso das competências conferidas pelo n.º 11 do artigo 10.º do Decreto-
Lei n.º 86-A/2011, de 12 de julho de 2011, manda o Governo, pelo Secretário de Estado da
Cultura, o seguinte (Cultural, 2011)49.

5.5.2. O papel da associação KATAVUS na salvaguarda e valorização do


edificado
A associação KATAVUS nasceu no ano de 2011 com o objetivo abrangente de proteger o
Palácio da Dona Chica e tratar de questões ambientais e patrimoniais, dando sequência à anterior
associação Amigos do Palácio Dona Chica, constituída no ano de 1997 pelo então ex-presidente
da Junta, Manuel António Pinheiro Vieira, uma das pessoas que mais se preocupou em manter o
edificado.
A associação Amigos do Palácio da Dona Chica, foi fundada a 29 de outubro de 1997, na
cidade de Braga, no Cartório Notarial da Avenida Central, nº 85, 2º, tendo como integrantes
Manuel António Vieira, Manuel Lusquinhos Lopes, Rui José Machado Ferreira e João Artur Russel
Sampaio. Os sócios constituíram uma associação sem fins lucrativos, sendo definida como uma

Diário da República, 2.ª Série – N.º 48, de 8 de março de 2013, por despacho do secretário de Estado da Cultura.
48

49
O site da DGPC, https://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/search/?q=Dona+Chica+ que anteriormente possuía a classificação do imóvel foi
desativado.

90
associação de natureza cultural e desportiva, devendo a mesma assegurar o financiamento do
Palácio assim como a gestão direta e indireta, através de ações sociais, culturais e desportivas. A
associação comprometia-se ainda à construção de infraestruturas de apoio à terceira idade,
obtendo o direito de superfície de imóveis contíguos ao palácio. Neste sentido, competia à direção,
organizar atividades de divulgação e promoção da associação Amigos do Palácio da D. Chica, com
o intuito de angariar apoios para a coletividade, de acordo com os seus objetivos (Anexo 31). A
nova denominação associativa, a revisão dos seus estatutos, o objeto e a resultante escritura
notarial foram o resultado de um processo que tentou dar ênfase à valorização do património, à
defesa do ambiente e à promoção cultural do Vale do Cávado, uma zona com características
específicas e que a anterior designação associativa limitava.
Esta organização desenvolve também ações de apoios conjuntos com outras organizações
do concelho, da região e do país que têm o ambiente, o património e a cultura no seu âmbito de
trabalho (KATAVUS, 2021).
A associação KATAVUS desempenha atualmente um papel de reforço da importância de
uma futura reabertura ao público do Palácio Dona Chica, contribuindo para a salvaguarda do seu
valor patrimonial e arquitetónico. Segundo estes, “se tal não vier a acontecer, a exemplo de outras
aquisições pelo município, entendemos que o executivo municipal, o atual ou o futuro, venha a
incluir este espaço no património municipal, conforme projeto aprovado por unanimidade em 31
de julho de 1986, sendo que, até hoje, não tivemos conhecimento de qualquer deliberação por
parte da Câmara Municipal de Braga a anular aquela decisão”. Este responsável referiu ainda a
possibilidade de instalar neste local uma pousada da juventude, um museu etnográfico, um museu
da memória da cidade e outros projetos de enorme interesse social e cultural. Como afirmou,
então, ao Diário do Minho, “não seria descabido incluir o Palácio D. Chica como potencial local
para albergar e dar vida a algumas destas valências, ou vir a construi a casa da cultura de Braga
ou do Minho”50..
A 20 de novembro de 2014, a associação KATAVUS redigiu uma carta com o objetivo de
denunciar o projeto de construção de um pavilhão multiusos com uma cércea superior a 7 metros
sem aprovação da Direção-Geral do Património Cultural (DPGC). Nesta mesma carta, a KATAVUS
expressa o seu descontentamento face à situação e à forma como a associação foi ignorada por
parte dos promotores da obra. De acordo com a organização, pelo facto do imóvel se encontrar
classificado como monumento de interesse público não deveriam ser aprovadas construções de

50
Diário do Minho, 20 de março de 2013.

91
excessiva volumetria, visto comprometerem todo o enquadramento paisagístico e monumental
(Anexo 33).
A 17 de outubro de 2015, é publicada pelo Correio do Minho uma notícia que visava
alertar para a urgência de recuperar o Palácio da D. Chica, em Palmeira, sendo nesse mesmo
período realizada uma conferência no museu D. Diogo de Sousa com a finalidade de compreender
“Como defender o património classificado?”. À época, a associação KATAVUS afirmava que “tem
sido bastante difícil porque vamos encontrando sucessivas barreiras de indiferença por um
património que está classificado como Monumento de Interesse Público desde 2013”, criticando
o fato do edifício já se encontrar degradado há vários anos, tendo piorado muito ao longo do tempo,
tanto ao nível do parque florestal como do edificado. Neste sentido, foi realizada uma petição, que
não angariou grandes apoios, endereçada à Câmara Municipal de Braga e à própria Junta de
freguesia de Palmeira, numa tentativa de chamar à atenção para a defesa deste património: “este
debate de hoje sobre a defesa do património serve, acima de tudo, para chamar a atenção para
as necessidades de se criar um destino contemporâneo, que diga às pessoas e que proteja estes
monumentos pondo-os a funcionar para fins que interessem a comunidade”51.

5.6. Análise do estado atual do edifício


Consoante a informação cedida pela 2ª Conservatória do Registo Predial de Braga (CRPB),
o edifício foi adquirido pela empresa Magalhães & Rocchio, Lda., com sede na rua Navidó, nº 766,
Cossourado, localidade de Barcelos, a 20 de fevereiro de 2019. Todavia, quando se tentou
identificar os proprietários, não se obteve resultados, não sendo possível identificar e contactar a
empresa através do endereço de e-mail ou do local identificado no registo predial.
Apesar de não se ter tornado viável a realização de uma visita ao local e de não ter sido
possível entrar em contacto com os proprietários atuais, conseguimos verificar que já foram
realizadas algumas alterações. Através das fotografias abaixo exibidas, é possível identificar que
ocorreu uma limpeza da fachada, o restauro dos telhados e a limpeza da mata envolvente. Para
além do mais, segundo as entrevistas realizadas aos moradores locais, foi dito que havia sido
destruída a gruta que integrava o local. Contudo, não nos foi possível comprovar tal afirmação.
Mediante a reportagem apresentada pelo Jornal de Notícias, numa peça da autoria de
Sandra Freitas, o Palácio da Dona Chica será brevemente recuperado, tendo já sido submetido
um projeto turístico para o local (Moreira, 2022), transformando-se num “hotel de charme”

51
Correio do Minho,17 de outubro de 2015.

92
(Freitas, 2022). Apesar de não se tratar da solução ideal, esta será a solução mais viável, tanto
para os proprietários como para o próprio edificado, visto existir um exemplar de um caso
semelhante nas imediações do mesmo, o Torre de Gomariz Wine & Spa Hotel – uma torre de
origem medieval classificada como monumento de interesse público. Um imóvel que esteve
durante muitos anos em ruínas e que atualmente se encontra restaurado com o apoio do programa
PRODER e que já se encontra cotado como um hotel de cinco estrelas, ganhando prémios a nível
internacional, como é o caso do prémio Condé Nast Excellence Awards 2022 na categoria de
escolha do leitor.
Podemos assim concluir que este capítulo nos deu bases sobre aquela que seria a história
dos proprietários que integraram o Palácio da Dona Chica, começando por apresentar a família
Rêgo, passando posteriormente para o capitalista Inglês Sir Roderic Henderson, Alberto Torres
Figueiredo, Francisco Joaquim Alves de Macedo, Junta de Freguesia (que arrenda o local ao
empreendimento turístico IPALTUR), Caixa Geral de Depósitos, João Campos e por fim a empresa
Magalhães & Rocchio. No capítulo que se segue, iremos aprofundar as diferentes fases a nível
arquitetónico, realizando uma análise de plantas, tanto do período inicial, como da posterior obra
de recuperação encetada pelo IPALTUR.

93
CAPÍTULO 6

6.1. Sollar do Rêgo/Plantas


Definido como um exemplar único e paradigmático de uma habitação nobre de província,
o Sollar do Rêgo foi edificado, no ano de 1915, pelo arquiteto Ernesto Korrodi. O caso de estudo
apresenta uma arquitetura eclética inspirada na Idade Média, integrando em si elementos de
progresso e de tradição. Com um historicismo eclético, o edifício possui uma base gótica e tardo-
gótica, presente na torre ameada, nos vãos redondos, nos arcos de ogiva e no acentuado jogo de
volumes (Costa, 1997, p. 237).

Figura 23 Anteprojeto Palácio Dona Chica


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

94
Figura 24 Um castello moderno na provincia do Minho
(Fonte: Ilustração Catholica, 27 de maio de 1916)

Apontado como um palácio de província, o edifício apresenta uma arquitetura privada, que
apesar do gosto pessoal de Korrodi, acabou por se transformar num exemplar fiel à tradição
inaugurada no final do século XVIII. Com importantes referências ao neogótico, é através do
revivalismo que o arquiteto concebe um projeto de retorno ao passado (Costa, 1997, p. 241).

6.1.1. Gramática decorativa exterior


Tratando-se de uma moradia de tipo palacete, a fachada principal, orientada para os
jardins, abre-se para uma galeria. Nesta podemos verificar a existência de dois vãos circulares
separados por uma verga-reta, utilizados nas grandes superfícies envidraçadas, como é o caso
das janelas, portadas, bow-window, bem como da faixa de azulejos e das varandas dispostas em
ângulos e dos corpos salientes, quase cilíndricos, que aproximam o edifício à Arte Nova. Já como
elementos clássicos, podemos identificar os capitéis (compósitos e coríntios), as mísulas, as
cartelas/cartuchos, as janelas serlianas e o almofadado. No seu projeto final, Korrodi integrou
diferentes elementos, como é o caso do romantismo, do gótico e do renascimento, alterando o
significado do anteprojeto. A fachada principal encontrava-se integrada numa galeria aberta por
vãos circulares que se articulam com a fachada. No início do telhado, é identificado um frontão e

95
uma bow-window com motivos ornamentais colhidos no gótico flamejante, ao passo que no rés-
do-chão presencia-se a existência de um arco, cujo estilo remete à Arte Nova (Costa, 1997, pp.
241-242).
Em oposição à bow-window, na sacada e no grande janelão envidraçado, encontra-se um
corpo hexagonal com um friso de pequenas arcadas idênticas às do frontão. O frontão que cobre
o início do telhado é rematado com uma faixa horizontal decorativa de pequenas arcaduras que
alinham com a arte romântica. Na fachada lateral, localizada no lado oposto ao da entrada, é
possível observar uma torre cilíndrica rasgada por janelas. No primeiro piso, podemos encontrar
pequenas janelas alternadas com pequenas arcadas góticas. As fachadas pequenas são
quebradas por um grande janelão tripartido. Logo na entrada, é possível encontrar um pórtico
saliente, entre contrafortes, com os tímpanos dos arcos quebrados de franjas lobulosas no
intradorso, apresentando uma ornamentação de gótico flamejante. As janelas apresentam um
movimento ascensional da torre, sendo o último piso, rasgado por galerias de arcos geminados e
abóbodas de ogivas, orientadas sobre a fachada de acesso ao jardim (Costa, 1997, pp. 242- 243).

Figura 27 Estudos preliminares para a escadaria nobre


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

Figura 27 Aplicação de Lioz no Rés-do-


Chão
Figura 27 Sacada Rústica
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

No meio do segundo pavimento da fachada nobre, o edifício é rematado por cornijas,


modilhões, arcaturas e ameias. Nos jardins, deparamo-nos com a existência de um lago e de uma
gruta artificiais. Os alicerces e a fachada do jardim da entrada são constituídos por alvenaria,
oferecendo-lhe uma certa aparência irregular.

96
Figura 28 Detalhes do Pórtico de Entrada
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

Através das informações expostas na publicação da Ilustração Catholica, que data do ano
de 1915, a construção do imóvel foi orçamentada em 390 contos52.

6.1.2. Gramática decorativa - interior


Tipologicamente descrito como uma
“habitação nobre de província”, o Sollar do Rêgo
apresenta uma volumetria que se abre em três pisos,
sendo que o piso térreo, parcialmente enterrado,
estava destinado aos serviços domésticos e criados,
o rés-do-chão à vida social e os andares superiores
às acomodações privadas. A fachada está
direcionada para o jardim, e através dos eixos
longitudinais que se estendem no prolongamento das
escadas, encontrando-se os salões, o átrio, um
Figura 29 Seção Transversal
vestíbulo, pelo qual se acede ao salão de receção, à (Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

direita do grande hall (comunicando diretamente com o exterior da residência).

52
Ilustração Catholica, 27 de dezembro de 1915.

97
6.1.2.1. Piso 1, rés-do-chão
Neste piso encontram-se localizados os serviços de cozinha e copa, destinada aos criados,
zona de arrumos, quarto dos criados, pequena sala de jantar, copa, vestíbulo de serviço, frigorífico,
aquecimento, compartimento para engomar e costurar, gabinete do dono, dispensa e casa de
banho.

Figura 30 Planta do rés-do-chão


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

Figura 31 Ladrilho para o pavimento da cozinha


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

98
6.1.2.2. Andar Nobre
Após passar pelo jardim de inverno e o átrio, os visitantes poderiam entrar para o vestíbulo,
para além desta divisão, verifica-se ainda a existência de um pequeno salão (lado direito) e de uma
copa (lado esquerdo). A vivência do piso centrava-se na vida social, com salas destinadas aos
homens (Sala de Bilhar), um pequeno salão, o salão de jantar, copa de apoio à sala de jantar, sala
de fumo, toilette e hall da entrada.

Figura 30 Pormenores do Escritório e Biblioteca do


Dono
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)
Figura 31 Planta do Andar Nobre
(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

6.1.2.3. Segundo Andar


O segundo andar apresenta-se dividido em quarto de hóspedes (3), quarto de empregada
(1), dois halls (um destinado ao casal), quarto dos proprietários, gabinete da dona, capela, duas
toilettes destinados aos donos, uma sala de banho e um terraço.

Figura 32 Planta do Segundo Andar


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

99
Casas das máquinas e acumuladores

Figura 33 Casa das máquinas


(Fonte: Arquivo Distrital de Leiria)

Para além destas plantas, através do processo localizado no Arquivo Distrital de Leiria
(ADLRA) foi possível verificar a presença de um projeto de uma garagem com dependências e
geradora de luz elétrica. Encontramos a presença de três fachadas, sendo estas a fachada traseira
(lado sul), a fachada lateral (lado poente) e a fachada principal, sendo possível identificar a seção
transversal da oficina de reparação, a seção longitudinal das cabines e a transversal da casa do
motor. Para além das fachadas externas, é possível encontrar o projeto interno das dependências,
estando a planta do rés-do-chão equipada com um depósito de acumuladores, cabines (12), um
alpendre coberto (2), um dínamo, um motor, um depósito de água, um quadro, um atelier de
reparação, uma fossa de reparação, uma forja, uma guarda de acessórios, uma escada para o
sótão, um WC, um depósito de gasolina, cavalariças, um moinho e um depósito de cereais.
Através do projeto da fachada lateral (lado nascente) e da garagem com dependências e
geradora de luz elétrica, conseguimos identificar a existência de três pisos. Conseguimos ainda
constatar que no subsolo estavam instalados um depósito de gasolina e uma fossa. Já para o

100
segundo piso do edifício anexo estavam projetados quatro quartos, uma sala de jantar e uma
passagem.
No período em que as obras foram suspensas, quatro anos após o início da construção,
apenas haviam sido estabelecidas as estruturas fundamentais. Com efeito, no ano de 1919, João
Rêgo acaba por desistir do empreendimento, deixando definido pouco mais do que a fachada.
Posteriormente, já nas mãos do Dr. Francisco Joaquim Alves de Macedo, são encetadas
obras no interior do edificado, sem qualquer tipo de projeto de recuperação e de forma errónea.

Figura 34 Fotografias do edifício antes da intervenção do IPALTUR


(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica)

101
Os poucos elementos decorativos interiores que haviam restado do projeto de Korrodi,
acabaram por ser destruídos, destacando-se as cerâmicas, entre elas azulejos, tijoleiras e telhas.

6.2. Caracterização do Imóvel e da sua envolvente no período do IPALTUR


O edifício abre-se num jogo de volumes bastante acentuado e numa enorme diversidade
de linguagens e materiais, misturando as memórias populares e eruditas. Estes volumes adquirem
uma imagem própria e estabelecem ligações através de algumas pontes (materiais e elementos
decorativos).
A partir da análise dos pormenores construtivos, entendemos a importância dada à
imagem em detrimento do método de construção. As janelas são indiferentemente de madeira ou
de ferro ou executadas com os dois materiais, não se percebendo se isso pertence ao projeto de
conceção realizado por Ernesto Korrodi. Por outro lado, as telhas encontravam-se assinadas pelo
projetista. A obra procurou manter o ecletismo mesclado com neogótico, neoárabe, “rústico” e o
novíssimo ferro (gradeamento, coroamento da cobertura e catavento). No desenho dos
gradeamentos de ferro e nas molduras de mármore, foram aplicados diferentes motivos florais,
nos capitéis das diferentes colunatas, em parceria com as rosáceas geometrizadas, e nos fechos
dos arcos ogivais.
A mata exótica apresenta exemplares como amendoeira brasileira, pau-santo, pinheiro
brasileiro, para além das variedades nacionais, como é o caso das palmeiras, carvalhos,
eucaliptos, plátanos, cedros, japoneiras, pinheiro-bravo, castanheiros, salgueiros, mimosas e
sobreiros, com percursos ondulantes e o inevitável lago com a gruta de estalactites falsas (Sereno
& Santos, 1993).
Com uma área total de 30.000 m2, neste período, a propriedade encontrava-se em nome
da autarquia local, sendo cedida para exploração à iniciativa privada sob o regime de concessão
a longo prazo, competindo a esta última os encargos gerais de recuperação e a exploração do
referido imóvel. A empresa responsável pelo projeto de dinamização seria o IPALTUR, com sede
na Avenida Central, na cidade de Braga (Anexo 22).
A obra de restauro foi levada a cabo pelo arquiteto Paulo Tornet, que, sendo o técnico
responsável por este projeto, declarava que o custo total da obra rondaria os quinze milhões de
escudos. O projeto de restauro do Palácio representa o fascínio pelas formas e pelo testemunho

102
histórico. Contudo, percebe-se que neste projeto foi um pouco complicado manter a lógica do
projeto realizado por Korrodi53
Consoante a memória descritiva realizada pelo arquiteto, a maior preocupação passou por
não descaracterizar o local, sendo utilizados materiais como mármore lioz, pedra de ançã,
madeiras, marmorite, gesso, bem como azulejos, possivelmente aplicados nos sanitários do
projeto inicial. A partir desta descrição, é possível compreender que o mármore lioz, seria aplicado
nas áreas de circulação, como era o caso do bar e da sala de exposições, a pedra de Ançã nas
áreas de balcões e bares, as madeiras destinar-se-iam às esquadrarias interiores, entre elas,
portas, arcos e tetos em maceira, e esquadrias exteriores, sendo todas as madeiras pintadas à
cor “sangue-de-boi”. A marmorite foi aplicada em toda a extensão da cave (salão de baile,
sanitários, corredores, cozinha, lavandaria, receção e garagem e taras). Nos tetos foi aplicado
gesso, pelo menos naqueles em que se previa a aplicação de madeira, como era o caso do sótão
e do segundo piso. Nos sanitários, na cozinha, na copa e na lavandaria foram aplicados azulejos54.

6.2.1. 1º Piso
Nas paredes previa-se a utilização de materiais em alvenaria de granito, deixando à vista
as pedras irregulares que aí existiam, sendo estas apenas lavadas e as juntas refundadas (“junta
seca”). Os tetos foram estucados, sendo introduzida a iluminação necessária, os pavimentos
foram feitos em marmorite de grânulo preto miúdo para os sanitários masculinos e femininos. Na
cozinha, na copa, na lavandaria e nos sanitários/vestiários do pessoal de serviço foram
introduzidos azulejos rematados em cerâmica55.

53
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.
54
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.
55
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.

103
Figura 35 Planta dos vãos do 1º Piso
(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica)

6.2.2. 2º Piso
Para as paredes foram utilizados dois tipos específicos de acabamentos. Nas que
possuíam revestimentos em alvenaria de granito regular foram mantidos à vista, sendo introduzida
“junta seca”, enquanto que as que estavam revestidas a tijolo e alvenaria irregular foram
rebocadas, estanhadas e pintadas com tinta plástica. Os tetos eram na sua totalidade falsos, a
entrada era em madeira e os restantes compartimentos em “estafe”. Os pavimentos foram
revestidos a mármore lioz, segundo um critério utilizado nas plantas de distribuição, mesmo nos
sanitários. Nos restantes compartimentos (restaurantes) foi utilizada a madeira “jatobá”,
apresentando um regoado tipo “solho”, os terraços foram concebidos em marmorite. As portas
em madeira foram aplicadas apenas nos sanitários, as restantes foram concebidas em vidro
rochedo, sem arcos nem molduras, levando apenas uma peça em metal permitindo a fixação
desta à parede. No torreão foram aplicadas portas antifogo56.

56
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.

104
Figura 36 Plantas dos vãos do 2º piso
(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica)

6.2.3. 3º Piso
As paredes, os sanitários e as portas foram concebidas segundo os mesmos critérios do
2º piso. Nos corredores, na sala de exposição e no bar foi introduzido o mármore lioz. Nos
restantes compartimentos (sala de leitura, reuniões e conferências) foi aplicado “solho”. Os tetos
foram todos rebaixados em estafe57 .

Figura 37 Planta de vãos do 3º Piso


(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica)

57
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica

105
6.2.4. Sótão
As paredes e os sanitários são semelhantes aos restantes andares, já os tetos foram feitos
em “macieira” e pintados em “azul sulfato”. As portas utilizadas são constituídas por arcos-
quebrados executados em regoado de madeira, dispostas em “saia e camisa” e pintadas em
“sangue-de-boi”. Para os pavimentos da sala de exposições foi utilizada a pedra mármore de lioz,
enquanto que para os espaços destinados à administração foi empregue o regoado de madeira 58.

Figura 38 Planta do Sótão


(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica)

58
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.

106
6.2.5. Área externa

Figura 39 Alçado Sul


(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica).

Todo o exterior do edifício foi revestido a cantaria, à exceção de pequenas superfícies em


que foi utilizada alvenaria, privilegiando o uso do xisto e imprimindo ao conjunto edificado uma
nobreza própria acastelada. O primeiro piso possui uma caixilharia rústica de granito azul da região
e os torreões em granito e afife. É igualmente empregue calcário de lioz de diversas tonalidades
nas colunas, nos frisos e em outros acessórios, conferindo ao palácio uma maior elegância59.
Segundo a “memória descritiva” realizada pelo arquiteto responsável pelas obras de
restauro e conservação do edificado, Paulo Tornet, as obras externas visavam preservar e
conservar a arquitetura do espaço, evitando qualquer tipo de elementos dissonantes ou materiais
que o descaracterizem. Neste sentido, verificou-se uma renovação das caixilharias devido ao
estado de deterioração das anteriores. No entanto, os desenhos existentes nas originais foram
trasladados para as novas janelas, sendo pintados com “sangue-de-boi”, a tinta utilizada
originalmente, à exceção da porta da entrada principal. A fachada foi sujeita a uma manutenção,
sendo repostas as grades do primeiro piso que se encontravam em falta. As telhas foram
substituídas por novas com as mesmas características do fabricante original, os tubos de queda

59
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.

107
de água pluviais foram substituídos por novos, sendo estes fabricados manualmente e em chapa
zincada. Quanto ao ferro presente na área externa, foi recuperado e pintado com um esmalte
idêntico ao das caixilharias exteriores. As paredes exteriores que se encontravam em pior estado
foram removidas e reconstruídas em areado, tendo sido aplicada uma nova pintura à base de
ocre60.
Previa-se a preservação da mata através da sua limpeza e da instalação de bancos de
jardim ao longo do percurso pedonal que circundava o lago. O lago e a gruta, que na altura se
encontravam em mau estado de conservação, foram limpos, sendo repostos os muros em
alvenaria. Na envolvente do edificado foi disperso areão miúdo com o intuito de não descaracterizar
o local nem a sua envolvente. Quanto ao parque de estacionamento, este encontrava-se integrado
no local, aproveitando as sombras das árvores de fruto, como era o caso das laranjeiras e das
tangerineiras. O abastecimento da água seria feito através da rede pública, enquanto que o
abastecimento da água do lago era feito através do poço já existente no local. Para a eletrificação
do empreendimento foi colocado um posto de transformação. O saneamento acabou por ser
dirigido para uma fossa séptica61 .
A 2 de agosto de 1991 foi lavrado um auto de vistoria que confirma que o imóvel se
encontrava em condições de ser habitado. Neste documento também podemos encontrar referidas
as áreas a serem ocupadas bem como os metros quadrados que cada uma possui (Anexo 29):
• 1º piso possui 563.05 m2.
• Alpendre
• 2º Piso possui 579.40 m2.
• Alpendre
• 3º Piso com 503.23 m2.
• Sótão com 370.21 m2.

Relativamente aos equipamentos instalados no interior do imóvel, podemos notar a


instalação de ar condicionado em todos os compartimentos, de um elevador hidráulico entre o
primeiro piso e o sótão, de um “monta-travessas” entre o primeiro e o segundo piso, de
equipamentos contra incêndios (mangueira de 25 m, machado, agulheta e extintores), bem como
de telefones (presentes em todos pisos e bares) e de sistemas de som e vídeo. O mobiliário

60
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.
61
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.

108
procurou apresentar uma relação entre o passado do próprio imóvel, os cortinados eram de pano
cru enrolado de forma vertical62 .
Nos documentos correspondentes ao processo nº. 12287-2004, foi identificado um
pedido de aprovação do projeto da sala de dança, da sala de variedades e da exibição pública de
videogramas, apresentado a 5 de agosto de 1991, sendo o parecer aprovado a 27 de agosto desse
ano. A 17 de janeiro de 1992, é emitido um projeto elétrico para a Direção-Geral de Espetáculos
(Anexo 30).
Através do certificado aprovado pelo Diretor do Departamento dos Serviços Centrais de
Braga, Júlio do Nascimento Peixoto Pereira da Cunha, é afirmado que o imóvel onde se localiza o
empreendimento turístico IPALTUR, registado na seção de apoio administrativo, não corresponde
a nenhum património classificado nem em vias de classificação, nem se trata de nenhum
monumento nacional. Conforme é afirmado pela Divisão de Renovação Urbana do Centro Histórico
de Braga:
De acordo com a solicitação da IPALTUR- Investimentos Turísticos Sociedade
Anónima, e no sentido de esclarecer as dúvidas apresentadas, julgo certificar que o
prédio Dona Chica ou Castelo de Palmeira, sito no lugar do Assento da freguesia de
Palmeira em Braga não está classificado como Monumento Nacional; nem em vias
de ser despachado pelo Instituto Português do Património Cultural como tal. Mais se
informa que o referido prédio é um imóvel de interesse público. Julgo de certificar.63

6.3. José da Silva Campos


Após a falência do empreendimento turístico IPALTUR, o edifício acaba por ser hipotecado
pela Caixa Geral de Depósitos, sendo vendido, em 2005, a uma empresa com o nome P.M.A-
Construções e Imobiliário, limitada, com sede na Póvoa do Varzim, sendo a transação confirmada
pelo conservador José Álvaro Loureiro64. Pelo que se sabe, o empreendedor responsável pela
empresa, aquando da compra do imóvel, era José da Silva Campos, sendo possível identificar
esse nome nos diferentes documentos e autos de embargo65.
Desde logo, é percetível a falta de cuidado com o imóvel. Através da documentação
fornecida pelo Arquivo Urbanístico de Braga, é possível encontrar a presença de uma variada
documentação que visa embargar e fiscalizar obras realizadas de forma clandestina,

62
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.
63
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica.
64
2ª Conservatória do Registo Predial.
65
Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica

109
demonstrando um certo descuido para com este edificado. Para além do mais, foi redigida uma
petição concebida pela associação KATAVUS, na qual são referidos os sucessivos vandalismos a
que o imóvel se encontrava sujeito no período, tendo sido “esventrado em seus equipamentos de
proteção, seus vidros amontoando-se granulosamente pelos corredores, seus telhados
desavergonhadamente estopetados numa tempestade que a corrida à sucata poderia explicar,
mas que facilmente poderá ser desmentida pelos indicadores remanescentes testemunhais”
(Anexo 35).
Através do Processo nº. 12287-2004, encontram-se documentos fotográficos referentes a
uma obra clandestina iniciada na nascente do edifício. Para além do mais, são mencionados
restauros realizados de forma clandestina. O auto de embargo de obras retificado a 18 de maio
de 2005, dando cumprimento ao despacho promulgado pelo senhor presidente, e exarado em 16
de maio de 2005, proferido no uso dos poderes conferidos nos termos da aliena a), do nº 1, do
artigo 102º, do Decreto-lei nº 555/99 de 16 de dezembro 2005, com alterações introduzidas pelo
Decreto-Lei n.º 177/2001 de 4 de Junho 2005, para embargar as obras relativas à construção de
um Pavilhão e à reconstrução de anexo no logradouro do Palácio da D. Chica pertencente a José
Silva Campos. É inclusive escrita uma carta pela associação KATAVUS, no ano de 2014, com o
objetivo de alertar para a construção de um pavilhão multiusos, sem a aprovação da DGPC (Anexo
35).

Figura 40 Vestígios de obras realizadas de forma clandestina


(Fonte: Parte do Processo Nº. 12287-2004 Palácio D. Chica)

110
Uma das medidas adotadas por este proprietário para impedir o vandalismo a que o
palácio estava constantemente sujeito foi a colocação de vidros nas paredes exteriores. Segundo
Manuel Duarte da Silva, “temos lá filas de vidros nas paredes, que digamos, não é a forma mais
correta para proteger um monumento” (Anexo 36).

6.4. Atualidade

Já no ano de 2019, o edifício é vendido a uma empresa de construção, designada


Magalhães & Rocchio, Lda. Pelo exterior do imóvel, é evidente o início de obras que visam
revitalizar o espaço, destacando-se a recuperação dos telhados que, até então, se encontravam
em ruínas, bem como a limpeza do alçado e da vegetação.

Figura 41 Áreas externas do edificado


(Fonte: Fotografias pessoais)

Figura 42 Interior do Edificado, estado atual


(Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE)

111
Atualmente, o edificado encontra-se sem nenhuma utilidade, sendo realizadas pequenas
intervenções no seu exterior, tais como limpezas da fachada, e pequenos arranjos nos telhados.
Contudo, com o início da Pandemia Covid-19, estas tiveram de ser encerradas.
Por não ter sido possível realizar uma visita ao local, viu-se a necessidade de recorrer a
um vídeo colocado na rede social Youtube. Constata-se que o edifício se encontra parcialmente
abandonado, encontrando-se diversos vestígios de obras. A fachada, após sofrer uma limpeza,
encontra-se em bom estado de conservação, não se podendo dizer o mesmo das janelas e de
algumas portas que dão acesso ao edifício, que, devido a fatores naturais e humanos, se
encontram em avançado estado de deterioração.

Figura 43 Janelas partidas, estado atual Figura 44 Portas danificadas, estado atual
(Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE) (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE)

Figura 45 Elevador, estado atual Figura 46 Antiga porta da discoteca, estado atual
(Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE) (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE)

No interior do edificado ainda se encontram muitos vestígios do período do IPALTUR,


destacando-se, logo na entrada principal, o balcão da receção da discoteca, um escritório (no
sótão), cozinha, elevador, casas de banho, bem como portas de vidro datadas de 1991, com a
inscrição Dona Chica. Para além destes elementos, existe ainda uma lareira com a data de 1919
esculpida, bem como algumas estatuas em mármore danificadas.
Nos pisos superiores é possível ver vestígios de obras, principalmente nas áreas do
telhado. Os tetos encontram-se em avançado estado de deterioração, enquanto o chão se encontra
aberto, possivelmente para uma posterior instalação de canalização ou instalação de soalhos.

112
Figura 47 Vestígios de obras Figura 48 Interior danificado
(Fonte: (Fonte:
https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE) https://www.youtube.com/watch?v=QqcP_XFhIOE)

No penúltimo patamar do torreão, é possível observar uma pequena sala completamente


vazia. Subindo mais um lanço de escadas chega-se ao cimo da torre, onde temos uma pequena
antena e uma data do ano de 1917. Apesar de existirem portas lacradas, e grades a impedirem o
acesso ao interior do imóvel, percebe-se uma certa facilidade em entrar no mesmo, colocando em
dúvida se ele está a ser devidamente protegido (Dias, 2021).
Em suma, podemos concluir que este foi um imóvel que nunca possuiu um cuidado
adequado estando descaracterizado e em risco de derrocada.

113
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente investigação procurou realizar uma investigação sobre o Palácio da Dona Chica,
acrescentando diferentes conhecimentos enriquecedores, quer em contexto pessoal quer em
contexto académico e profissional.
O Palácio Dona Chica, edificado no ano de 1915, corresponde a um exemplar único e
enigmático de uma habitação nobre de província, projetada pelo arquiteto suíço Ernesto Korrodi.
Nele podemos observar a presença de um revivalismo triunfante que procurou fazer reviver as
formas do passado, baseando-se na Idade Média. Esta edificação corresponde a uma moradia de
tipo palacete, com a sua fachada orientada para o exterior a dar destaque aos elementos clássicos
e aos pequenos elementos de Arte Nova.
No que se refere aos primeiros proprietários João José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto
de Sousa Rêgo, foi feito o estudo de registos pessoais, entre eles, processo de compra e venda
dos terrenos que integram a propriedade, fotografias dos proprietários e da sua família, artigos de
jornais da época, processo de divórcio e entrevistas realizadas a locais com o intuito de
compreender um pouco mais sobre a memória, a história e as narrativas dos habitantes de
Palmeira.
A interpretação da arquitetura do Palácio da Dona Chica não se limitou a uma análise do
exterior do imóvel. Nesse sentido, procedeu-se ao estudo da gramática decorativa tanto do exterior
como do interior, analisando a respetiva divisão dos espaços. Assim sendo, o edifício encontrava-
se dividido em rés-do-chão, andar nobre, segundo andar e casa das máquinas e acumuladores,
sendo um edifico avançado para a sua época e possuindo já um gerador de eletricidade. Contudo,
devido ao processo de divórcio protagonizado pelos proprietários de então, João José Ferreira Rêgo
e Francisca Peixoto Ferreira Rêgo, o imóvel vê as suas obras estagnadas no ano de 1919.
Após passar por diversos processos de compra e venda, o Palácio é adquirido pela Junta
de Freguesia, que o alugou ao empreendimento turístico IPALTUR, que, por sua vez, transformou
o local numa discoteca, bar e restaurante. Segundo o projeto de restauro concebido por Paulo
Tornet, é possível verificar as alterações estruturais realizadas no local e identificar que foi dividido
em primeiro piso, segundo piso, terceiro piso e sótão. No primeiro piso encontramos localizados
os serviços de cozinha, copa, sanitários e vestiários dos funcionários. No segundo piso podemos
encontrar o restaurante, bar, sala de estar e copa. Já no terceiro piso, podemos encontrar um
auditório, uma sala de exposições, escada de acesso ao sótão, sala de reuniões, sala de leitura e

114
terraço. No sótão, podíamos encontrar a arrecadação, exposições, acesso ao torreão, arrumos,
administração e sanitários, destacando-se ainda a existência de uma escada em caracol.
Com a falência do IPALTUR, o imóvel foi hipotecado, passando para a posse da Caixa
Geral de Depósitos. No ano de 2009, o edifício acabou por ser adquirido por João Campos e
posteriormente, em 2019, pela empresa Magalhães & Rocchio Lda. Estamos perante um edifício
que passou por uma história de altos e baixos, sendo um edifício único e enigmático, que devido
a vários fatores, entre eles humanos e naturais, corre o risco de desaparecer para sempre da
história, tanto da freguesia de Palmeira como da cidade de Braga e até mesmo da de Portugal.
Como tal, reforçamos a importância da sua preservação e da sua conservação.
Para a realização desta investigação, procedeu-se à realização de uma pesquisa
documental direcionada para o nosso objeto de estudo. Contudo, a escassez de informação e
colaboração das próprias entidades administrativas determinaram a necessidade de utilizar
diferentes fontes, entre elas, arquivísticas, histórico-documentais, fotográficas, cartográficas e
etnográficas, de forma a articular as diferentes informações entre si.
Numa primeira instância, foi necessário recorrer ao estudo realizado por Lucília Verdelho,
Ernesto Korrodi, 1889-1944 arquitetura, ensino e restauro do património, recolhendo não só
informações relativas ao arquiteto projetista como informações sobre o próprio imóvel. De seguida
procedeu-se a uma recolha de informações arquivísticas, sendo identificado parte do processo nº
12287-2004 Palácio Dona Chica, os contratos de promessa de compra e venda dos terrenos que
constituíam a propriedade numa fase inicial, fotografias da família Rêgo presentes no Arquivo
Distrital de Ponte de Lima e pertencentes à casa da Lage, o processo de divórcio litigioso entre
João José Ferreira Rêgo e Francisca Peixoto de Sousa Rêgo presente na 3ª Vara Cível da Comarca
do Porto, no processo/1922 maço 388, bem como o contrato de promessa de compra e venda
feito entre João José Ferreira Rêgo e Roderic Harold Dalzell Henderson. A realização de entrevistas
foi um ponto essencial para afinar algumas arestas relativas ao período que antecede a compra
do palácio da Dona Chica por parte da Junta de Freguesia, contribuindo para completar
informações que até então se encontravam perdidas. Para além desta função, a realização das
entrevistas possibilitou a criação de narrativas transmitidas unicamente através da via oral,
possibilitando a compreensão da visão dos residentes perante este imóvel, que tão castigado tem
sido ao longo dos anos.
Paralelamente a estas tarefas, procedeu-se à leitura de jornais da época em que o imóvel
foi edificado, mas também da atualidade. A consulta de jornais corresponde a uma importante

115
fonte historiográfica. Por estas serem um tipo específico de fonte histórica, capaz de oferecer
inúmeras informações, discursos e indícios “para a análise das sociedades que os produziram e
o meio nos quais eles circularam” (Barros, 2021).
Consideramos que, apesar do nosso objetivo principal ter sido cumprido, visto este estudo
permitir uma maior consciencialização relativamente ao valor histórico e arquitetónico deste
imóvel, ainda existe um longo trabalho a ser feito, sendo de extrema importância concretizar um
estudo mais apurado sobre a fase em que o imóvel esteve sob a administração de Alberto Torres
Figueiredo e Francisco Joaquim Alves de Macedo. Todavia, podemos encarar que o registo e
levantamento efetuado no trabalho de campo, bem como o estudo do edificado, permitiu promover
o conhecimento e a posterior conservação e valorização do património que se encontra distribuído
pela cidade de Braga, notando-se que o Palácio Dona Chica não é o único caso de uma
propriedade que se encontra classificada como Monumento de Interesse Público e em elevado
estado de deterioração.
Este estudo pretendeu ainda analisar os diferentes usos e modificações arquitetónicas
dadas ao edificado ao Sollar do Rêgo, de modo a analisar todas as transformações a que este foi
sujeito ao longo destes cento e oito anos de existência.
Relativamente aos problemas verificados ao longo desta investigação, podemos apontar a
falta de cooperação por parte da autarquia local, nomeadamente da Junta de Freguesia de
Palmeira, que, após diversas tentativas, não demonstrou qualquer abertura ao diálogo. Para além
desta é necessário apontar o problema encontrado ao tentar localizar os atuais proprietários do
imóvel, nomeadamente a empresa Magalhães & Rocchio Lda., que apesar de possuir a morada
no site oficial do monumento e Registo Predial de Braga, quando tentei localizar a empresa, não
existia nada nos dois locais. Já a tentativa de contacto realizada com o antigo presidente da Junta,
Manuel Vieira, também não pôde concretizar-se devido a impedimentos pessoais de última hora
do ex-autarca.
Percebe-se que ainda existe muito trabalho a ser executado. Existem muitos documentos
que ainda não foram identificados, tanto a nível do Arquivo Distrital de Braga como do Arquivo
Distrital do Porto, nesse sentido a realização de mais investigações direcionadas para o estudo
deste edificado seriam uma mais-valia para toda a comunidade, pois um património classificado
desta importância, neste elevado estado de deterioração gera má reputação, não só para os
proprietários, como para a própria Câmara Municipal.

116
BIBLIOGRAFIA

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Arquivo Distrital de Braga
Arquivo Distrital de Leiria
Arquivo Distrital de Ponte de Lima
Arquivo Urbanístico da Câmara Municipal de Braga
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117
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123
ANEXOS

124
Anexo 1 Carta Militar de Portugal, Instituto Geográfico do Exército -Palmeira no mapa da
cidade de Braga (1952)

125
Anexo 2 Carta Militar de Portugal, Instituto Geográfico do Exército

Palmeira no mapa da cidade de Braga (2015)

126
Anexo 3 Registo de Batismo-João José Ferreira Rego – natural
de Braga, Freguesia de Palmeira

PT/UM-ADB/PRQ/PBRG31/001/0020
Cota: 737
“Aos nove dias do mes de julho do anno de mil oitocentos noventa e tres n’esta egreja parochial
de Santa Maria de Palmeira, concelho e aschidiocese de Braga, baptisei solenemente um individuo
do sexo masculino a quem dei o nome de João, e que nasceu nesta freguesia ás sete horas da
tarde do dia sete do mez de maio do dito anno, filho legitimo de Manuel Joaquim Peixoto Rego,
medico-cirurgico, natural desta freguesia, e de Dona Maria da Conceição Ferreira Rego, pessoa
priotaria, natural da freguesia de Santa Anna da Corte da cidade do Rio de Janeiro, recebidos na
freguesia de Soutello, concelho de Vila Verde, desta archidiocese, moradores n’esta de Palmeira,
neto paterno de Domingos Peixoto Rego e de Claudina Rosa Barbosa, e materno de João José
Ferreira e de Dona Josefa Candida da Silva.
Foi padrinho João José Ferreira viúvo, proprietario, e a madrinha Dona Maria da Conceição e Meira
Barbosa, viuva e proprietaria, os quais todos dezem os proprietarios.
E para coustar lavrei em duplicado este assunto que depois de ser lido e conferido perante os
padrinhos, comigo assinaram, Era cet supera
João José Ferreira
Maria da Conceição Meira Barbosa
P.e Carlos Augusto Pinheiro d’ Almeida”

127
Anexo 4 Livro de óbitos, Conservatória do Registo Civil de
Braga (1935)

Cód. Ref. PT/UM-ADB/AC/CRCBRG/027/0127


Cota descritiva: 1935-5

128
Anexo 5 Certificado de.casamento entre João José Ferreira
Rêgo e Francisca Peixoto Ferreira Rêgo, República dos
Estados Unidos do Brasil66

66
Documento cedido por Luís Araújo (Arquivo Distrital de Braga).

129
Anexo 6 Certidão de casamento entre João José Ferreira Rêgo
e Francisca Peixoto de Sousa Rêgo, Registo Civil da República
Portuguesa67.

67
Documento cedido por Luís Araújo (Arquivo Distrital de Braga).

130
Anexo 7 Escritura de compra e venda, Luiz António Alves
Pereira e Dona Francisca Rosa Alves Pereira, Theresa Albina
Alves Pereira e Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo.

Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro 99, folha 2 verso

Escritura de venda que fazem Luiz Antonio Alves Pereira e suas irmãs Dona Francisca Rosa Alves
Pereira e Dona Theresa Albina Alves Pereira ao Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego

Aos doze de desembro de mil novecentos quatro, da era Chista, n’esta cidade de Braga, rua de
São Vicente e meu cartorio, ante mim- o notario José Clodermiro Telles da Silva Meneses e as
testemunhas no fim assignadas, minhas reconhecidas, maiores e cidadãos portugueses,
compareceram; Como primeiros outorgantes Luiz Antonio Alves Pereira e suas irmãs Dona
Francisca Rosa Alvez Pereira e Dona Theresa Albina Alves Pereira, todos solteiros, de maior idade,
proprietarios, moradores no logar da Tourôa, freguesia de Palmeira, desta comarca, e como
segundo outorgante o doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, casado, proprietario, morador no
logar do Carreiro, da mesma freguesia, todas pessoas do meu conhecimento cujas identidadez
por isso affirmo, bem como reconhecidos são das aludidas testemunhas do que dou fé. E logo, na
presença das testemunhas, disseram os primeiros outorgantes Luiz Antonio Alves Pereira, Dona
Francisca Rosa Alvez Pereira e Dona Thereza Albina Alves Pereira, eu solicitador dos legítimos
senhores e possuidores na comarca, na qualidade de únicas herdeiras e representantes de sua
finada mãe Dona Maria Angelina Gomes, alem doutros benz dos seguintes. Compra denominado
da Leira, de lavrado e ordanho, sito no logar do mesmo nome, freguesia de Sam Martinho de
Dume, desta comarca, com agua de lama e rega, de naturesa allodial, já descrita na conservatoria
no livro B dosentos a folhas cento noventa e duaz sub numero tres mil oitocentos e dezoito: e uma
bouça tambem denominada da Loura, terra de matta e lenha, site no logar do mesmo nome, desta
freguesia de Palmeira, de naturesa allodial, descripta no mesmo livro a folhas cento noventa e
duas verso sob numero tres mil oito centos e desanove. Que assim como possuem os
mencionados predios, convencionaram se como segundo outorgante Doutor Manuel Joaquim

131
Peixoto do Rego, em lhes venderem, como acabam, desde já para sempre, pela quantia de um
conto de reis, ficando em poder do comprador a de setecentos mil reis para ser por elle satisfeita
ao Bacharel João Teixeira da Silva, n’esta cidade, impurtancia esta que os pares d’elles
vendedores, Francisco José Alves Pereira e esposa deste Dona Maria Angelina Gomes, constituíam
devedores, ao finado Miguel Correa d’ Araujo Braga, morador que foi nesta mesma sendo seis
contos mil reis por escritura de vinte e um de julho de mil oito centos oitenta e um, e cem mil reis
por escritura de vinte e um de junho de mil oitocentos e oitenta e dous, anotadas nas notas deste
officio, sendo que pos morte daquelle credor passam essa importancia para sua filhha Dona
Palmira da Conceição Corrêa d’Araujo Braga, por morte desta para o menor filho Amadeu, neto
do primitivo eredor, e que havendo esta tambem falecido, passam depois, para aquelle Bacharel,
sempre como seu herdeiro. Que n’esta cota, do comprador segundo outorgante, receberam, a
restante importancia do ajustado preço, trezentos mil reis, em bôa moeda, da qual lhe explana
quitação n’elle, herdeiros e sucessores, cedem e transmittem todo o direito e acção, dominio e
posse, que tinham de po, digo a ter possam aos allodidos predios suas pertencças, servidões e
lagadouros, para que elle tome conta e posse como bem lhe approuver, como casa sua que que
desde já fica sendo; e que a fazerem esta venda e paga, na referida dizima, formas e de paz para
sempre, a responderem pela materia e a prestaram a criacção de direito, de obrigavam por suas
pessoaz e bens em geral, direitos acções e terçoz, herdeiros e sucessores. Disse o segundo
outorgante que aceitara este contracto em toda sua forma, apresentavam o recibo ou cunhamento
da contribuição reserva paga na recebedoria deste concelho, no numero dusentos sessenta e um,
um, em nove do mez corrente, recibo que archivei no meu cartorio a fim de inserilo nos translados.
Certidões d’esta escriptura. Assim o disseram, outorgaram e acceitaram digo e acceitaram. Assim
como as testemunhas parentes Antonio Agostinho Martins, casado, opperalde de legumes, na rua
da Cruz de Pedra e Domingos Dias Barrozo Junior, casado, ajudante de notario, da rua nova do
Raio, ambos desta cidade. De todo o referendo dou fé, bem como o li em voz alta, ante as
testemunhas ler esta escriptura com outorgantes que a comfirmaram e que vae ser pago o sello
de mil e quinhentos reis. Clodemiro Telles de Menezes, notario, a que sobscrevi e assino com o
meu signal.

Luiz Antonio Alves Pereira

Francisca Albina Alves Pereira

132
Manuel Joaquim Peixoto do Rego

Antonio Agostinho Martins

Domingos Dias Barroso Junior

Testemunho

Notario

José Clodemiro Telles Menezes

133
Anexo 8 Escritura de compra e venda, Simão Pereira Marques
e mulher, João Teixeira da Silva e Manuel Joaquim Peixoto do
Rêgo

Notarial de Braga, Telles Menezes


Livro 100, folha 14 verso
Escritura de venda que fazem Simão Pereira Marques e mulher, digo de paga que dá o doutor
João Teixeira da Silva ao doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego
Aos cinco d’ abril de mil novecentos e cinco, da era de Christo, n’esta cidade de Braga, rua de
São Vicente o meu cartorio, ante mim – o notario Jose Clodomiro Telles da Silva Meneses as
testemunhas idoneas, no fim assinagdas, minhas reconhecidas, maiores, e cidadãos portugueses,
compareceram como primeiro outorgante o Doutor João Teixeira da Silva, casado, proprietario o
capitão de engenharia murador na rua de Dom Frei Caetano Brandão desta cidade, e como
segundo outorgante o doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, casado, proprietario, morador no
logar do Carreiro, freguesia de Palmeira, desta comarca, ambos meus reconhecidos pelos proprios
cujas identidades por isso affirmo, bem como reconhecidos são das aludidaz testemunhas do que
dou fé. E logo, na presença das testemunhas pelo primeiro outorgante Doutor João Teixeira da
Silva foi dito, que seu finado sogro Miguel Correia d’ Araujo Braga, residente que foi n’esta cidade,
era credor de Francisco Jose Alves Pereira e esposa, Dona Maria Angelina Gomes, desta freguesia
de Palmeira, pelo Capital de sete centos mil reis dessa escriptura encaradas na minha nota, sendo
uma de seis contos mil reis em data de vinte e um de julho de mil oitocentos oitenta e um, e outra,
de cem mil reis, em nuta e uma de julho de mil oitocentos oitenta e dous, tendo sido aquella
registada provisoriamente em um do dito mez de julho de mil oitocentos oitenta e um sub a
inscripção numero seis mil e desanove lavrada no livro C quatorze a folhas cento trinta e seis verso
e averbada em difinitivo em vintoito do mesmo mez e anno, sob a apresentação numero um do
diario. Que fallecendo depois aquelle credor seu sogro foram seus créditos aformalados, no meu
notario. De menores a que por sua morte se percedeu, a sua filha e primeira esposa que foi delle
outorgante Dona Palmira da Conceição Correia d’ Araujo Braga, em pagamento de sua respctiva
legitima. Que posteriormente, falleceu tambem sua referida esposa, e meu cartorio de menores
afim se procedeu por sua morte foram esses dous creditos ajudicados a elle outorgante em
pagamento de sua meação, e assim, for elle outorgante averbar a seu favor em vinte e nove de
desembro de mil oitocentos noventa e nove o credito de seis contos mil reis, e n’essa mesma data

134
registam em seu nome, o credito de cem mil reis registo este, sob a inscripção numero onze mil
sete contos e oitenta e lavrada no livro C vinte e tres, a folhas oitenta e seis. Que havendo o
segundo outorgante, pur escriptura de doze de desembro de mil nove centos e quatro, tambem
exarada na minha nota, comprado aos filhus e representantes dos devedorez, os predios que
servem de especial hypotheca a esses créditos e ficando em seu poder com esse capital, o mesmo
segundo outorgante lhe acaba de faser entrega n’este acto, em moeda corrente no reino, da
importância de sete contos mil reis. E assim, elle outorgante, por esta escriptura lhe dá plena
quitação dessa importancia de sete contos mil reis, havendo por distratados e de nenhu, effeito
as citadas escripturas de divida, auctorizando o segundo outorgante a requerer e levara efeito o
cancellamento dos indicados registos d’ hypotheca, obrigando-se por sua pessoa e benz em geral,
herdeira sucessores, e fazer esta escriptura firme e de paz para sempre, a nada se justificar por
semelhante motivo e a satisfazer a Fazenda Publica, no praso legal, a contribuição de pares que
por divida. O que tudo acceitou o segundo outorgante Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego.
Assim o disseram outorgaram e acceitaram e assignaram como as testemunhas, presentes
Balthazar Joaquim da Silva Antunes, casado funileiro e Joaquim dos Santos Pinheiro, viuvo, pintor,
ambos moradores n’esta rua de São Vicente. De todo o referido dou fé bem como de, em voz alta
e clara, ante as testemunhas, ler ante escriptura aos outorgantes que a ractificaram e de que vae
ser pago o sello de mil cento e cincoenta reis. José Clodemiro Telles da Silva Menezes, notario, a
subscrevi a ambos com o meu signal.

João Teixeira da Silva

Manuel Joaquim Peixoto do Rego

Balthazar Joaquim da Silva Antunes

Joaquim dos Santos Pinheiro

Em testemunho

Notario

José Clodemiro Telles Menezes

135
Anexo 9 Escritura de Compra e venda, Domingos José
Calheiros e Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo

Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro 116, folha 49

Escritura de venda que fazem Domingos José Calheiros e mulher ao Doutor Manuel Joaquim
Peixoto do Rego

Em quinze de julho de mil nove centos e nove, da era de Christo, n’esta cidade de Braga e no meu
cartorio a’ rua de São Vicente, neste mim o notario José Clodomiro Telles da Silva Menezes e as
testemunhas no fim assignadas, minhas reconhecidas, de maior edade, cidadãos portugueses e
habeis, compareceram: como primeiras outorgantes- Domingos Jose Calheiros e mulher Roza d’
Azevedo, proprietarios, moradores no logar do Assento, freguesia de Palmeira, d’esta comarca, e
com o segundo outorgante o doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, casado, proprietario,
residente no logar do Carreiro, da mesma freguesia – todos pessoas do meu conhecimento cujas
identidades por isso affirmo, bem como reconhecidos são das aludidas testemunhas, na presença
dos quaes pelos primeiros outorgantes Domingos José Calheiros e mulher foi dito: que por esta
escritura, vendem d’hoje para sempre ao segundo outorgante Doutor Manuel Joaquim Peixoto do
Rego- a campo denominado do Carreiro, no logar d’este mesmo dita freguesia de Palmeira, d’esta
comarca, de lavradio e vidonho com oliveiras, de naturesa de praso à Camara Municipal d’este
concelho, com o foro annoal de cem reis e landemio ela quarentena, já descripto na conservatoria
no livro B vinte e nove, sob numero oito mil e tres. Que esta venda assim faziam pelo preço de
dusentos e cincoenta mil reis, importancia que neste acto e em bôa moeda acabar de receber do
comprador segundo outorgante de que por isso lhe dão plena quitação e n’elle, herdeiros e
sucessores, cedem e transmittem todo o direito e a acção dominio e posse, que tenham de ter
poder e sendo mencionado predio, mas pertençam, servidões e logradouros para que o comprador
de tudo tome conta e posse como cendo sua que desde já fica sendo; disseram mais os
vendedores que por suas pessoas e bens em geral, direitos acções e terços, herdeiros e
sucessores, se obrigaram a faser este contracto firme. E valiosa para sempre sujeitam dose à

136
conctario e obrigando se a responder pela evicação de direito, o que tudo aceitam o comprador
que me apresentam o recibo em conhecimento numero nove com data de quatorze de corrente,
recibo que archivei no meu cartorio a fim de ser inserido em todas as copias d’esta escriptura
vendo se delle que foi paga no recibo deriva d’este concelho a contribuição onrosa respeitante a
este contracto. Assim o disseram Jose Lopes, solteiro, maior, empregado na commarca.Balthasar
Joaquim da Silva Antunes , casado, e Alberto Esteves, viuvo, ambos funileiros e todos tres d’esta
rua de São Vicente que assiguam com os outorgantes que recevem fasendo-o a primeira o regedor
vendedora que declaram não saber escrever. De todo o referido dou fé bem como de, em alta voz,
na presença das testemunhas ler esta escritura aus outorgantes que a ractificaram e de que vae
ser pago o sello de mil quatro centos e quarente reis, sendo tresentos e quinze reis referentes ao
laudemio

Domingos Jose Calheiros

Arogo Francisco Jose Lopes

Manuel Joaquim do Rego

Balthazar Joaquim da Silva Antunes

Alberto Esteves

Em testemunho de verdade

Notario

José Clodomiro Telles de Menezes

137
Anexo 10 Escritura de compra e venda de prédio misto no
lugar do Carreiro
Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro 114, folha 46 verso

(escriptura de venda e compra a paga de capitaes)

Em sete de janeiro de mil novecentos e nove, da era de Christo, n’esta cidade de Braga, freguesia
de Palmeira, logar da Quinta e morada de Manuel de Brito tambem conhecido por Manuel Pero
de Brito e mulher Rosa Alves, proprietarios, mde foi chamado, aqui, ante mim o notario José
Clodomiro Telles da Silva Meneses e as testemunhas no fim assignadas, minhas reconhecidas, de
maior edade, cidadãos portugueses e habeis, compareceram: como primeiros outorgantes
aquelles Manuel de Brito e mulher, como segundo outorgante o doutor Manuel Joaquim Peixoto
do Rego, casado, proprietario, residente no logar do Carreiro d’esta freguesia, como terceiro
outorgante José Alves da Costa, casado, proprietario, morador no lagar da Portella tambem desta
freguesia e como quartos outorgantes-José Gomes, casado, pedreiro, do logar da Portella,
Francisco Lopes da Silva, casado, proprietario, do logar d’ aldeia. Antonio Fernandes, casado,
proprietario no logar do Ribeiro, rodos tres desta freguesia, na qualidade de juis, secretario e
tesoureiro, da confraria da senhora do O’, desta mesma freguesia, todos os outorgantes
reconhecidos pelos proprius das alludidas testemunhas que me affirmaram suas identidades,
sendo o segundo e terceiro outorgantes tambem meus conhecidos, de que dou fé.

E logo, ante as testemunhas, disseram os primeiros outorgantes, que por esta escriptura venderam
d’ hoje para sempre ao segundo outorgante José Alves da Costa digo outorgante Manuel, digo
outorgante doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, um predio misto sito , no logar do Carreiro,
desta freguesia de Palmeira, que se compõe de casa terrea com terreno e terra d’ horta e junto,
do da Tomada, já descripto na conservatoria d’esta comarca no livro B cincoenta e seis a folhas
setenta e seis, sub numero desoito mil reis centocinquenta e tres, parto allodial e porto de praso
a Dona Maria Carolina d’Almeida Merlo e irmãos, como foro annoal de mil dusentos reis e
Candernio da quarentena: Que esta venda assim fasiam pela quantia de quinhentos e cincoenta
mil reis, sendo por quatro contos mil reis aparto de praso e cento e cincoenta mil reis a parto

138
allodial, e por que n’esye acto receberam do comprador, em boa moeda, o preço da venta +
quatro+ contos e cincoenta mil reis, d’elle lhe dão quitação, e a vender-lhe e transferindo lhe todo
o direito e acção, domínio e posse que tenham e ter podessem ao predio vendido, suas respetivas
pertenças, servidões e logradouros, para que os compra dos tome conta e posse, como sem que
fica sendo d’ora avante, que a fazerem esta venda e paga do seu preço, formas de para todo o
tempo, se obrigam por suas pessoas e bens em geral, herdeiros e sucessores, a acceitarem a sua
auctoria e a responderem pela coicção de direito. O que tudo acceitam o segundo outorgante
comprador que me apresentam o conhecimento numero duzentos noventa e quatro, com data d’
hoje que fica archivado em meu cartorio afim de ser copiado nos translados e certidões d’esta
escriptura, vendeu-se d’em conhecimento que foi paga na recebedoria d’este concelho a
contribuição descrita por este contracto. Disseram mais os vendedores que queriam satisfazer, os
dois segundos credores a que são obrigados, a saber: ao terceiro outorgante José Alves d’ Costa,
e de quatro contos mil reis, em divida por escriptura de quinze d’ outubro de mil oitocentos oitenta
e cinco, lavrada na nota do tabelião que foi n’esta comarca Antonio Jose Gonçalus, com
hyppotheca no aludido predio que foi registada na conservatoria desta comarca em vinte dos
referidos mez e anno, suba inscripção numero sete mil tresentos cincoenta e dous, eyarada no
livro C desaseis a folhas cento vinte e nove e a corporação que os quartos outorgantes representam
e de cento e dez mil reis, em divida pur escriptara de onze de maio de mil oito centos oiten
osgocentos invente e nove lavrada na nota do notario substituto desta comarca Manuel Antonio da
Cruz, com hypoteca tambem no mencionado predio que foi registada na conservatoria d’esta
comarca em dezeseis do mesmo mez e anno sob a inscripção numero onze mil seiscentos trinta
e oito eparada no livro C vinte e tres a folhas sessenta, inpurtancias que para esse fim
apresentaram em mera- e passando o terceiro e quartos integrantes ou centar a importancia que
lhes der respeito a acharam certa e boa moeda e disseram que d’ella daram respectivamente
quitação aos primeiros outorgantes, lavrado por distractadas e sem valor algum dora avanço as
citadas escripturas e divida e cenctorizando na conservatoria e concelhamento dos registos
hypothecarcos a que alludiram; a que por suas pessoas e bens (e os quartos outorgantes) tambem
pelos fundos da corporação que representam se obrigavam a faser estas pagas e distractes firmes
e de pas a todo o tempo, bem como a satisfazerem a fazenda publica, no praso legal a contribuição
de puras que devida seja o eu tambem acceitaram os primeiros outorgantes. Assim o disseram
outorgaram e acceitaram sendo testemunhas presentes Luis Antonio Alves Pereira, solteiro, maior,
proprietario, do logar da Tourôa, Lourenço Alves Laijanha, João José de Sousa, ambos casados,

139
proprietarios do logar da Quinta e José Soares de Carvalho, casado, alfaiate, residente no logar do
Carreiro, todos quatro desta freguesia que assignam com os outorgantes que escrevem, fazendo-
o a primeira a rego dos vendedores e a segunda a rego do juis da confraria, por estes outorgantes
declararam não saber escrever. De todo o referido dou fé, bem como de, em alta voz, ante as
testemunhas ler esta escriptura aus outorgantes que a confirmaram e de que vae ser pago o sello
de mil novecentos vinte e cinco reis, sendo quinhentos reis, referentes ao laudemio. Resalvo a
entrehuha retro “quatro” José Clodemiro Telles da Silva Menezes, notario, a sobscrevi e assino
com o meu signal.

A rogo, Luiz António Alves Pereira

Manuel Joaquim do Rego

José Alves da Costa

A rogo, Lourenço Alves Saganha

Francisco Lopes d’ Avila

Antonio Fernandes

João José de Souza

José Soares de Carvalho

Em testemunho

O notario

José Clodemiro Telles Menezes

140
Anexo 11 Escritura de compra e venda entre António Rêgo e
João José Ferreira RêgoTítulo – Fazer em todos os que não
têm título daqui em diante

Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro 130, folha 33 verso

Escritura de venda que fazem Antonio do Rêgo e mulher, a João José Ferreira Rêgo, da freguesia
de Palmeira, e paga de capital

Aos doze de janeiro de mil novecentos e quinze, n’esta cidade de Braga, rua de São Vicente e meu
cartório, ante mim- José Clodomiro Telles da Silva Menezes.- notário publico, e as testemunhas no
fim assinadas, minhas reconhecidas, de maior idade e cidadãos portugueses e habeis,
compareceram, Como primeiros outorgantes António do Rêgo e mulher Maria Joaquina Esteves,
proprietarios, moradores no logar da Tourôa, freguesia de Palmeira, d’esta comarca, como
segundo outorgante João José Ferreira Rêgo, casado, proprietario e capitalista, morador no logar
do Carreiro, da mesma freguesia, e como terceiros outorgantes João Ferreira solteiro, Antonio
Ferreira Gaio e Thomaes Fernandes, na qualidade de notários, em exercício de como disseram,
da irmandade de São Sebastião, da sobredita freguesia, todos os outorgantes pessôas que eu
notário e as testemunhas reconhecemos pelos próprios afirmando a sua identidade, do que dou
fé. E pelos primeiros outorgantes – António do Rêgo e mulher – foi dito: que, contiguo a
propriedade que o segundo outorgante possui no logar da Tourôa, da dita freguesia de Palmeira,
vendiam ao mesmo segundo outorgante uma uma quanta parte do predio mixto que eles
outorgantes possuem no mesmo logar, de natureza alodial, já descrito na conservatoria do registo
predial no livro B-sete, a folhas duzentos cinquenta e tres verso, sob numero novencentos setenta
e tres, - que o preço desta venda era a quantia de cento e cinquenta escudos, que do comprador
acabou de receber em boa moeda de que lhe dão quitação, cedendo e transferindo no mesmo
comprador o direito e acção, domínio e posse que tinham e ter podessem a quarta parte do
mencionado predio, conforme demarcação que da mesma o fizeram particularmente, e que as
fizeram esta venda firme e despesa a todo o tempo, a aceitarem a autoria e responderem pela

141
criação de direito e a nada mais exigirem portal motivo, se obrigam por suas pessôas e bens em
geral, herdeiros e sucessores. Desse o segundo outorgante – João José Ferreira Rêgo – que
aceitava êste contracto em sua forma, apresentando- com o conhecimento numero duzentos
noventa e sete com data de quatro do corrente mês, que fica arquivado em meu cartório para ser
copiado nos translados e certidões desta escritura, vendo-se dêle que foi paga na tesouraria deste
concelho a contribuição de registo devida. Disseram, a seguir, os terceiros outorgantes que
acabando de receber dos primeiros outorgantes, o capital de sessenta escudos que o outorgante
marido e sua primeira mulher, lhe deixou, digo, mulher desiam a Irmandade de Sam Sebastião,
que administrou por escritura de dezeseis de abril de mil e novecentos, lavrada na nota do notário
Menici que foi nesta cidade, de semelhante capital, em nome da aludida Irmandade, mas devolvia
plena quitação, havendo por distratada e deixando alguma d’hoje em diante a citada escritura para
que possa ser cancelado o registo da hipoteca, feito à segurança do semelhante digo, segurança
da referida divida contestante inscrição numero onse mil oitocentos noventa e nove, lançada a
folhas cento e tres verso do livro B vinte e tres da conservatoria do registo predial desta comarca,
e que a fazerem esta paga e distracte feriam e segura a todo o tempo, a nada mais exigirem por
tal notario e a pagar a Fazenda Publica no prazo legal a contribuição dos juros que fôr devida, se
obrigam por suas pessôas e pelos fundos e rendimentos da corporação que administraram. /
Assim o disseram, digo, administram. A que os primeiros outorgantes aceitaram. Assim o
disseram, outorgaram e aceitaram, sendo testemunhos presentes Francisco José Lopes, solteiro,
empregado no comercio, Maurício José Soares, viuvo, guarda de esquadra, Adelino José Soares,
casado, marceneiro, todos tres moradores n’esta rua de Sam Vicente e José Marques de Moura,
casado, funcionario, morador no logar dos Carvalhos, em Sam João do Souto, desta cidade, que
vão assinar, fazendo-o a primeira a logo dos vendedores e a segunda a logo do terceiro outorgante
João Ferreira Calheiro, por estes outorgantes declaravam que não haviam de haver. Detendo
quanto fica referido dou fé, bem como de que ante os testemunhos, em voz alta e clara, li esta
escritura aos outorgantes que o conferiram. Vai ser pago o selo de um escudo e onse centavos

A rogo, Francisco José Lopes

João José Ferreira Rego

A rogo, Apparicio José Soarez

142
Antonio Ferreira Gaio

Thomaes Fernandes

José Marques de Moura

Adelino José Soarez

Em testemunho

O Notario

Clodemiro Telles Menezes

143
Anexo 12 Escritura de compra e venda, Dona Narcisa da Luz
Arantes Braga, Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo e
Dona Maria da Luz Vasconcellos

Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro 102 folha 15

Escritura de venda que faz Dona Narcisa da Luz Arantes Braga ao Doutor Manuel Joaquim Peixoto
do Rego e paga que aquella da Dona Maria da Luz Vasconcellos

Aos desanove d’agosto de mil novecentos e cinco, da era Chistos, n’esta cidade de Braga, rua de
São Vicente o meu cartorio digo o cartorio do notario José Clodomiro Telles da Silva e Menesez,
aqui, ante mim João Moreira de Paiva como ajudante, e as testemunhas idoneaz no fim assignadas
maiores e cidadãos portugueses, compareceram, como primeira outorgante, Narcisa digo primeira
outorgante Dona Narcisa da Luz Arantes Braga, solteira, maior, proprietaria, residente na rua dos
Aguas, desta cidade, como segundo outorgante o doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, casado,
proprietario, do logar do Carreiro, freguesia de Palmeira, desta comarca e como terceira outorgante
Dona Maria da Luz Vasconcellos, viuva, proprietaria, residente na rua de Santa Margarida, desta
cidade, todos pessoas do meu conhecimento cujas identidades por isso afirmo, bem como
conhecedor são das alludidas testemunhas do que sou fé. E logo, acente as testemunhas, disse
primeira outorgante Dona Narcisa da Luz Arantes que perante a escritura rendia ao segundo
outorgante Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, d’ hoje para sempre , o campo denominado
de Tojo ou Tourôra, predio rustico situado no logar de Pitancinhos, freguesia de Palmeira, desta
comarca, de naturesa allodial, descripta na conservatoria no livro B sessenta e nove a folhas cento
trinta e quatro nessa descripção predial numero vinte e tres mil nove centos e setenta e que a acta
alimenta em frente, do norte e sul com predios de Constantino Jose Lopes, do nascente com
predio da Dona Maria Braga e de poente com caminho publico, que esta venda assim faria pela
quantia de duzentos mil reis, importancia que ella vendedora n’este acto e em moeda corrente
acaba de receber do comprador de que por isso lhe dá quitação e n’elle, herdeiros e sucessores,
cede e transmitte, todo o direito e acção dominio e posse que tinha e ter podesse ao alludido

144
predio, suas pertenças, servidões e logradouros, para que o comprador toma conta e posse como
sempre desde já fica sendo, sem prejuíso para ella vendedora dos fructos e rendimentos do
mesmo predio colhiam no Sam Miguem deste anno. Que por sua pessoa e bens em geral,
herdeiros e sucessores, se obriga a faser este contracto firma e depor para sempre, a responder
pela auctoria e a prestar a edicção de direito.

Declarava o comprador segundo outorgante que a aceitara este contracto na forma desta,
apresentando-me o recibo da contribuição oncrosa respeitante a este contracto paga hoje na
recebedoria deste concenho sendo numero- oitenta e sete, recibo que aroleio para ser inserido em
todos os translador desta escritura. Disse a terceira outorgante Dona Maria da Luz Vanconcellos
que dão fim a do marido José da Silva Pereira de Vasconcellos, por escritura de vinte oito d’ agosto
de mil oito centos noventa e tres, declarada na nota do notario desta cidade João Marcos d’ Araujo
Ribeiro do primeiro outorgante o capital de dusentos mil reis. Com hypotheca que foi requisitada
na conservatoria desta comarca em quatorze de setembro do mesmo anno sob a inscripção
hyphothecaria numero nove mil novecentos e noventa e declarada no livro C vinte a folhas cento
cinquenta e sete verso. Que este recibo prestaram à filha della outorgante Dona Antonia de Jesus
Vasconcellos, em pagamento de legitima no inventario daquele seu finado marido, e hoje a della
outorgante erdarão de ter falecida essa sua filha e ser ella a outorgante a sua unica herdeira e
representante e do cujo herança pagam a infratura contribuição, como convence o documento
que nos foi presente e tambem fica no meu cartorio archivado para ser inserido no translado desta
escriptura. Que acaba de receber n’este acto da primeira outorgante, em moeda corrente no reino,
essa importancia de duzentos mil reis, moeda se lhe devendo de juros, e assim, d’ella lhe dá
constação, há por distractada a escriptura, e anctoniza o cancellamento do registo hypothecario
acima indicado. E que por sua e bem em geral se obriga a fazer esta paga firme e valura para
sempre bem como a pagar a Fazenda Publica a contribuição de furos que devida for. O que aceitar
a primeira outorgante. Assim o disseram e outorgaram e acceitaram e assignaram em as
testemunhas presentes Vitorino Augusto Pereira Passoz, casado, solicitador encartado, na rua dos
Chãos e Manuel José de Sousa Junior, solteiro maior, tambem solicitador encartado, da rua do
Conselheiro Januario, ambos desta cidade. De todo o serido dou fé bem como de, em voz alta,
ante as testemunhas, ler esta escritura aos outorgantes que arasto ficaram e de que vai ser pago
o sello de mil cento e cinquenta reis ajudante de notario e escrivão assigno como meu signal

145
Narciza da Luz Arantes Braga

Manuel Joaquim Peixoto do Rego

Maria da Lus Vasconcellos

Vitorino Augusto Pereira Passoz

Manuel José de Sousa

Em testemunho de verdade

O ajudante de notario

João Moreira de Paiva

146
Anexo 13 Escritura de compra e venda, Manuel Soares da
Silva d’ Azevedo, João Soarez d’ Azevedo e Doutor Manuel
Joaquim Peixoto do Rêgo

Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro 130 folhas 32 verso

Escritura de venda que fazem Manuel Soares da Silva d’ Azevedo e seu irmão João Soarez d’
Azevedo, ao Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego.

Ao primeiro de julho de mil novecentos e cinco, da era Chirstos, n’esta cidade d e braga, rua de
São Vicente no meu cartorio, ante mim. o notario José Clodemiro Telles da Silva Meneses e as
testemunhas idoneaz no fim assinadas e guardadas, minhas reconhecidas, maiores e cidadãos
portugueses, compareceram: como primeiros outorgante Manuel Soares Azevedo, solteiro, maior
, proprietario, do logar do Assento, freguesia de Palmeira, desta comarca, como segundo
outorgante, seu irmão João Sousa d’ Azevedo, solteiro, devidamente imancipado como convence
o alvará que nos apresentará e fica archivado a fim de ser inserido nos tratados e certidões da
presente, proprietario do mesmo logar e freguesia, e como terceiro outorgante o Doutor Manuel
Joaquim Peixoto do Rego, casado, proprietario, morador no logar do carreiro, na mesma freguesia,
todos pessoas de meu conhecimento cujas identidades, por isso affirmo, bem como reconhecidos
são dos allodidas testemunhas do que sou fé. E logo, ante as testemunhas disseram a primeiro e
segundo outorgante – Manuel Soares d’Azevedo – João Soarez d’Azevedo – que pela presente e
noz temos melhores de direito, vendida ao segundo doutor, digo vendida ao terceiro outorgante
doutor Manuel +Joaquim+Peixoto do Rego, d’ hoje para sempre, os bens que possuem e de que
sempre respectarmente são legítimos possuidores, a saber: elle primeiro outorgante, bouça
chamada da Loura ou Moutinha, no logar do Carvalhal, dita freguesia de Palmeira, de naturesa
aludial, de matto e lenha, já descripta na conservatoria sob numero oito mil e oito, a folhas cento
e onze, do livro B-vinte e nove leira de matto na Veiga de Campus, na mesma freguesia de Palmeira
e logar do Carvalhal, de naturesa alodial, descrita sob numero sete mil novecentos noventa e dous
a folhas cento e tres, do livro B vinte e nove, e uma morada de casas terreas com seu respetivo

147
quintal, allodial, na mesma freguesia de Palmeira e logar do Carvalhal ainda não descrita na
conservatoria, como eu mesmo verifiquei em face da certidão que o terceiro outorgante me
apresentou e pus elle hoje requerendo na conservatoria, sob a apresentação numero um, certidão
que restitui ao apresentante, a cunfrontar do nascente com o Visconde de Nespereira, poente com
a estrada real, norte com a casa, e vau ser a sul termina em frente agenda, e elle requerendo
autorgante, a morada de earaz terreaz que fica contigua a presentantemente desempata, tenhem
em seu respetivo quintal, allodial, e sito no mesmo logar a freguesia, tambem não descripta na
consevatoria como egualmente verifiquei pela alludial certidão, e que confronta do nascente com
o referido Visconde, poente com a estrada real norte e sul com predios do primeiro outorgante.

Disseram mais o primeiro e segundo outorgante vendedores que esta venda assim faziam pela
quantia de dusentos e cincoenta mil reis, sendo por cento e setenta mil reis, os tres referidos
predios possuídos pelo primeiro outorgante e por oitenta mil reis o predio possuído pelo segundo,
declarando que as referidas casas foram edificadas em terreno de monte de geral eram posse
idos seu finado paes Augustinho Pre Soarez, e porque do comprador acabam de receber em
moeda correta no reino, o preço ajustado de dusentos e cincoenta mil reis, polle lhe dão quitação
e lha cadem e transmittem todo o direito e criação domínio e posse, que tinham e ter podessem
aos mencionados predios, suas pertenças, servidões e logradouros, para que o comprador desde
já tomou conta e posse, como melhor lho approuver como casa sua que fica sendo, disseram
mais os vendedores que os faserem o presente contracto posuira e valioso para sempre, a
respouveram pela auctoria e apostarem a criação de direito, se buscavam por maes pessoas a
bens em geral, direitos acções e terços herdeiroz e sucessores, acrescentando, que os alludidos
bens, lhe foram aformalados por verbetes de a partilha a pesada no inventario de menores a
falecimento de seu referido pae, inventario cujos termos correram por este cartorio. E pelo terceiro
outorgante, comprador Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego foi aceite o presente contracto
uma toda a sua forma aprocessando-se o recibo ao conhecimento da contribuição onrosa
respeitante a este contracto, recibo que archivei a fim de ser tambem inserido nos tratados e
certidões desta escriptura, vendo-se que a contribuição foi paga na recebedoria deste concelho
um vintorto do mez fui do, tendo o recibo o número cetecentos vinte e sete. Assim o disseram,
outorgaram escrituraram e assinagram com as testemunhas presentes, Balthasar Joaquim da
Silva Antunes, casado e Roberto d´Araujo, solteiro, maior ambos familiares, residentes n’esta
mesma sua de San Vicente, desta mesma cidade. De todo o referido dou fé bem como de, em voz

148
alta e clara, ante as testemunhas, ler esta escritura aos outorgantes que a confirmaram e de que
vão ser pago o sello de mil cento vinte e cinco reis. José Clodemiro Telles de Menezes, notario, ea
subscrevi e assinei com o meu signal. Recebo o constituinte “Joaquim”

Manoel Soares d’ Azevedo

João Soares d’ Azevedo

Manuel Joaquim Peixoto do Rego

Balthazar Joaquim da Silva Antunes

Roberto de Araujo

149
Anexo 14 Contrato de compra e venda do Sollar do Rêgo

Notarial de Braga, Telles Menezes

Livro nº 142 A, folha 18

Compra e Venda

Em 26 de novembro de mil novecentos e trinta e quatro, nesta cidade de braga e no meu cartorio
oito na Praça do Conde de Agrolongo, numero cento e trinta e cinco, perante mim o notario do
concelho, Bacharel formado em direito Filipe Augusto de Noronha Freire de Andrade e as
testemunhas cuja identidade verifiquei, adiante nomeadas e no fim assinadas, minhas conhecidas,
compareciram, como ortogantes, em primeiro lugar, o senhor Doutor Adolfo Ribeiro Lima da Costa
Azevedo, casado, proprietario, morador na casa da Barroza, da freguezia de Vila Franca, do
concelho de Viana do Castelo e acidentalmente na freguesia de Semelhe, deste concelho, no lugar
da Mata, que outorga com nome e como bastando procurador de seu cunhado, João José Ferreira
Rego, divorciado, proprietario, morador naquele mesmo lugar da Mata, conforme a procuração
que lhes passou no dia dezasseis do corrente mês perante mim notario e a qual, já arquivada
neste meu cartorio por força da escritura aparada neste livro, a folhas dez, há-de ser transcrita
nas copias que se eytrairem, e, em segundo lugar os subdito inglez, senhor Roderic Harold Dalzell
Herderson, solteiro, maior e proprietario, morador ao lugar da Verdasca, da freguesia de Palmeira,
deste mesmo concelho. Reconheço a identidade do primeiro outorgante por conhecimento pessoal
e a do segundo por abonação das testemunhas desta escritura. E pelo primeiro outorgante, senhor
Doutor Adolfo Ribeiro Lima da Costa Azevedo, foi dito: em o mandante, seu constituinte e cunhado,
João José Ferreira Rego, é legitimo seu e possuidor de um predio muyto, de natureza alodial, sito
ao lugar do Assento, da freguesia de Palmeira, deste concelho, tudo murado, com parque e uma
morada de casas, ainda em construção, a confrontar do norte e nascente com caminho publico,
do poente com a estrada Nacional de Braga aos Arcos de Valdevez e do qual predio de Alberto
Torres de Figueiredo e outros, inscritos na matriz predial urbana sob o artigo trezentos e quatorze
e na rustica sob os artigos novecentos e vinte e oito, novecentos e vinte e nove, mil cento oitenta
e cinco, mil cento oitenta e seis e ainda como quarta forte do artigo mil cento oitenta e sete. Que

150
este predio foi constituído a) pelos predios rusticos denominados Bouça Grande e Bouça Pequena
ou ainda Bouça de São Sebastião, descritos na Conservatoria no livro B-Catorze, sob numeros dois
mil e sessenta e dois e dois mil e sessenta e tres por compra que seu constituinte fez a Francisco
Manuel Ferreira Chaves e esposa Dona Maria Gonçalves Chaves, por escritura de vinte e sete de
maio de mil novecentos e catorze; b) pelo predio muyto descrito na conservatoria no livro B-Sete ,
e folhas duzentos e cinquenta e uma sob numero novecentos setenta e dois, por compra que o
seu constituinte fez a João Esteves Pereira de Amorim Barbosa e esposa Dona Mariana Candida
de Sousa Brandão Barbosa Amorim por escritura de vinte e três de outubro daquele mesmo ano
de mil novecentos e catorze e c) pelo predio rustico denominado bouça da Portinha, descrita na
conservatoria no livro B-quinze, a folhas dezassete, sob numero dois mil duzentos oitenta e três
por compra que o seu constituinte fez a Alfredo Ferreira Dias e esposa Dona Elvira Gomes Ferreira
Dias por escritura de dezaseis de abril de mil novecentos e quinze (todas estas escrituras foram
eyaradas no cartorio do então notario neste concelho, José Clodemiro Teles da Silva Menezes, nos
seus livros numeros cento e vinte e nove, cento e trinta e cento e trinta e um respetivamente a
folhas dezanove verso, seis e dezaseis. Que o referido predio muyto, assim constituído e no qual
se acha em passado desde mil novecentos e quinze, esta livre de o imorreais, hipotecas, penhores,
arrestos, privilegios imobiliários e de toda e qualquer responsabilidade em geral. Que o mandante,
seu constituinte e cunhado, João José Ferreira Rego, venda, por esta escritura, ao segundo
outorgante, senhor Roderic Harold Dalzell Henderson, aquele seu mencionado predio muyto,
constituído pela forma que ficou dita, com todas as suas pertenças, parte imobilisadas, aguas,
servidões e lagradouros, tal como actualmente o possui, e completamente desembaraçado de
todos e quaisquer anno ou encargos. Que esta venda a faz pelo preço e quantia de cento e
sessenta e cinco mil escudos que o mesmo seu constituinte já recebeu e da qual por isso dá
quitação. Que nos termos ey posto, o mandante, segundo outorgante, Roderic Harold Dalzell
Henderson foi dito que aceita este contrato na forma eyrada. A sisa devida por esta compra foi
paga na tesouraria da Fazenda Publica deste concelho respetivamente em vinte e quatro e vinte e
seis do corrente mês pelos conhecimentos numeros duzentos quarenta e dois e duzentos e
quarenta e tres que, me sendo entregues, arquivo para os efeitos legais e pelos quais verifiquei a
inscrição da matriz de predios adquirido. Assim o disseram, outorgaram e reciprocamente
aceitaram na presença das testemunhas José Texeira, casado, proprietario, morador no lugar do
Outeiro, na freguesia de Palmeira deste concelho e Antonio Meysses Taya Ribeiro, solteiro, maior,
negociante, morador nesta praça, do que dou fé. E porque o segundo outorgante, senhor Roderio

151
Harold Dalzell Henderson, não conhecia a língua portuguesa, foi esta escritura traduzida e lida em
voz alta, em inglez, pelo senhor José Pinheiro Macedo, solteiro, maior, seu secretario particular e
morador no mesmo lugar da Verdasca, interprete poe ele escolhido que, nesta qualidade, sob o
seu compromisso de honra, que perante mim prestou de bem desempenhar a função que lhe foi
incumbida, me deu a conhecer a vontade do mesmo segundo outorgante. Lida também esta
escritura também por mim notario em voz alta, na presença simultânea dos outorgantes,
testemunhas e integrante, por todos vai ser assinada. Imposto do selo, que vai ser pago por guia,
cento e noventa escudos e setenta centavos, incluindo o selo do recibo devido pelos emolumentos.

Adolfo Ribeiro lima da Costa Azevedo

Roderio Harold Dalzell Heuderson

José Pinheiro de Macedo

José Teixeira

Antonio Ulysses Taxa Ribeiro

Verbete nº 78 serie V conhecimento nº 138

152
Anexo 15 Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da
Comarca do Porto

Exmo. Snr. Juíz

Francisca Peixoto que tambem usa o nome de Francisca Peixoto do Rego, dona de casa, da
Avenida Rodrigues de Freitas, desta cidade, pretendo propor e seguir neste juízo contra seu marido
João José Ferreira Rego, proprietário, da rua Heroes de Chaves, desta cidade, uma acção de
divórcio litigioso nos termos e com os fundamentos seguintes:

A e R. são casados legitimamente um com o outro sem precedencia de escritura ante-nupcial, não
havendo filhos desse matrimónio.

O R. marido abandonou completamente o domicilio conjugal há muito mais de trez, e até de quatro
anos, não mais se importando com a A. sua mulher.

Este facto, é, além do mais, uma injuria grave para com a A. e constitue fundamento para o
divorcio nos termos do nº. 5º do art. 4º da lei de divorcio.

A e R. são os proprios em juízo e partes legitimas. Nestes termos, pois, e nos mais de direito, deve
a acção ser julgada procedente e aprovada e por via dele deve ser decretado o divorcio definitivo
entre A e B, devendo o R. ser condenado nas custas, selos e procuradoria.

153
Anexo 16 Processo /1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da
Comarca do Porto

Primeira Conservatória do Registo Civil do Porto

________Certifico que a pos 25 dos bens da transcrição de casamento arquivado nesta


repartição e referentes ao ano de 1921 se encontra a transcrição do … seguinte á margem nº 36
João José Ferreira Rego e Francisca Peixoto. No texto transcrição: No dia vinte um de dezembro
de mil novecentos e vinte um eu Manuel José Coelho, bacharel formado em direito e conservador
do registo civil da primeira conservatória do Porto, mandei transcrever o documento do teor
seguinte: Coronel Francisco Emilio Escrivão da Paz e Oficial do Registo Civil do Distrito da
Liberdade da Capital e Comarca de São Paulo (Brasil).

- Certifico o pedido sulal da pesõa interessada, que revendo em meu cartorio o livro do casamento
sub numero dezanove, dele consta a folhs cento e nove verso e cento e dez o termo de casamento
no teor seguinte: numero quarente e quatro. João José Ferreira Rego e Francisca Peixoto. Aos
quinze de março de mil novecentos e treze nesta Capital de São Paulo, distrito da Liberdade, no
predio numero oitenta e tres da rua da Liberdade, ás sete horas da noite, perante o meritíssimo
juiz da Paz Fernando Martins Bornilhe Júnior, consigo ajudante de escrivão e oficial do registro
civil, adeante nomeado servindo no impedimento do respetivo munetario, e as testemunhas baixo
assinadas e qualificadas, receberam-se em matrimónio o Senhor João José Fernandes Rego, filho
legitimo do Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rego, com dezanove anos de idade, solteiro,
estudante, natural de Portugal, residente neste distrito de, e Dona Francisca Peixoto filha legitima
do finado Francisco Peixoto Ferreira de Sousa e de Dona Antónia Soares Peixoto, com dezassete
anos de idade, solteira, natural deste estado e residente neste distrito, nada declaram quanto as
regissem de bens. Disseram ambos que são catholicos, sem parentesco entre si em grau proibido
e nem outro qualquer impedimento. Em firmesa do que em Joanne Sales, ajudante servindo
impedimento lavrei este acto que lido e achado conforme vae por todo assinado e as testemunhas
presentes: Manuel Peixoto Ferreira de Sousa, Eu, Jaime Sales, ajudante no impedimento serviu
em tempo, e contracto é filho legitimo do Doutor Manuel Joaquim Peixoto do Rêgo, e de Dona
Maria da Conceição Pereira Rego. Eu Jaime Sales, ajudante o impedimento escrevi (a.a.) Fernando

154
Martins Bonilla Junior. João José Ferreira Rego. Francisca Peixoto. Manuel Joaquim Peixoto de
Sousa com sessenta e tres anos de idade, negociante, residente em Santos, Manuel Joaquim
Peixoto de Sousa com sessenta anos de idade, proprietario, residentes em Santos. Joaquim Gomes
Gomes Estela. Manuel Joaquim Peixoto do Rego, Juvenal de Sousa Viana. Ulisses Fagundes.
Antonio Caetano de Lima. Mario de Castro Carvalho Bebiano Soares Caminha. Augusto Gomes
Estela, João Ferreira de Castro. Manuel André Gaspar. António da Cunha. Domingos Peixoto.
Josefina Buzzernada mas se continha em dito termo de casamento que tem e facilmente transcrevi
do proprio original ao qual me registo e dou fé São Paulo 20 de Junho de 1921 a um. Francisco
Emilio cuja assinatura inutiliza duas estampeillas do tesouro nacional da tença de seiscentos reis.
Reconheço a firme compra e dou fé São Paulo 21 de Junho de 1921. Sem testemunho da
saudade, decimo tabelião interino, Edison Vieira. Tem assim caminho a trinta d’eles rica onde se
li. “Edison Vieira decimo tabelião notario, travessa da Sé 10 e 10 A da Comarca da Capital de São
Paulo: Reconheço a assinatura, Edison Vieira, decimo tabelião interino, São Paulo 21 de Junho de
1921, e com uma assinatura ilegível, Encangado do consulado. Tem um carimbo que diz
Consulado da Republica Portuguesa em São Paulo -Brazil. Pagam sete mil e quinhentos reis.
Fortes conforme o numero quarenta e dois da tabela de consolamentos. Esta quantia fica lançada
no livro de receita sob nº 2123 Consulado de Portugal em São Paulo 21 de Junho de 1921 e a
sobtração de 50% tres mil setecentos cinquenta reis sob nº 9124. Cabral tem colado e
devidamente instilisado pela rubrica Cahal, cinco estampilhas do Consulado de 1ª, 2ª e 3ª classes
no valor total de dois escudos e vinte e cinco centavos Selo do documento duas estampeillas ficam
no valor de trinta e tres centavos com a assinatura do Invercio de Moraes Coelho. Reconheço por
semelhança a assinatura do cônsul de Portugal em São Paulo. Repartição da administração
consular em 23 de Julho de 1921.Uma assinatura ilegível istilizando duas estampilhas ficaram no
valor de dois escudos e sete centavos. Tem esse carimbo branco onde se lê ministério de negócios
estrangeiros. E a cópia fiel do documento que nos foi apresentado para transcrever São colados
selos no respetivo valor de quinze centavos e a importancia dos enrolamentos e’ de dois escudos
Estilizei “dey e interlinhei “nesta a mim Manuel José Coelho. E’a copia fiel do original a que me
respeito- Porto 27 de Julho de 1922.

155
Anexo 17 «Ação de Separação», Comércio do Porto, 4 de
agosto de 192168

68
Documento cedido por Luís Araújo (Arquivo Distrital de Braga).

156
Anexo 18

«Ação de Separação», Comércio do Porto, 23 de abril de


192269

69
Documento cedido por Luís Araújo (Arquivo Distrital de Braga).

157
Anexo 19 Ação de Divórcio 3ª Vara Cível, 1.º Officio, Processo
/1922 Maço 388, 3ª Vara Cível da Comarca do Porto

158
Anexo 20

3ª Vara Cível, 1.º Officio- Divórcio, Processo /1922 Maço 388,


3ª Vara Cível da Comarca do Porto

159
Anexo 21 3ª Vara Cível, 1.º Officio- Divórcio, Processo /1922
Maço 388, 3ª Vara Cível da Comarca do Porto

160
Anexo 22 Parte do processo 12237/2004, Contrato de
promessa de arrendamento

161
162
163
164
Anexo 23 Parte do processo 12237/2004, Declaração de
estimativa orçamental

165
Anexo 24 Parte do processo 12237/2004, Câmara Municipal
de Braga – Edital nº 31/85

166
Anexo 25 Parte do processo 12237/2004, Mapa de Acabamentos

167
Anexo 26 Parte do processo 12237/2004, Gabinete de
Salvaguarda e revitalização do Centro Histórico de Braga,
projeto de recuperação

168
Anexo 27 Parte do processo 12237/2004, Planta topográfica
do terreno situado em Palmeira- IPALTUR

169
Anexo 28 Parte do Processo Nº 12287-2004, Diploma de
Licença nº 282, Direção de estradas do Distrito de Braga

170
171
172
Anexo 29 Parte do Processo Nº 12287-2004, Auto de Vistoria
– Câmara Municipal de Braga

173
174
175
Anexo 30 Parte do Processo Nº 12287-2004, Carta dirigida ao
Diretor Geral de Espetáculos

176
Anexo 31 Governo Civil, criação associação Amigos do Palácio
Dona Chica

Governo Civil do Distrito de Braga ano de 1997

Processo c7/144 registo n.º 1720 Assunto Associação dos amigos do Palácio D.
Chica – Palácio Dona Chica de Palmeira Braga.

Segundo Cartório Notarial de Braga

Notária Lic. Maria do Céu Dias e Ferreira

Certifico que a fotocopia apensa a esta certidão contém seis folhas, sem escrita no verso, e foi
extraída, conforme a original, da escritura lavrada de folhas cinquenta e um até folhas cinquenta
e um verso, do livro de escrituras diversas número seiscentos e quarenta e seis – D, deste cartório,
e ainda do documento complementar que a institui, arquivado no correspondente maço.

Segundo cartório Notarial de Braga, vinte e nove de outubro de mil novecentos e noventa e sete.

Ajudante/Esc, Sup

Conta

Artigo 17º, nº 1 300$00

Artigo 17, nº2 600$00

Emolumentos 900$00

São novecentos escudos

Registada sob o nº 552

177
Constituição da Associação Amigos do Palácio D. Chica

No dia vinte e nove de outubro de mil novecentos e noventa e sete, na cidade de Braga e segundo
Cartório Notarial, na Avenida Central, nº 85, 2º, perante mim Lic. Maria do Céu Dias Ferreira,
Notária do Cartório, compareceram como outorgantes:

Primeiro – Manuel António Vieira, Casado natural da freguesia de Dornelas, concelho de Amares,
residente no lugar da Senra, Freguesia de Palmeira, deste concelho

Segundo- Manuel Lusquinhos Lopes, casado, natural da freguesia de Nogueiró, desde concelho,
residente no lugar de Carreiro, da dita freguesia de Palmeira;

Terceiro – Rui José Machado Ferreira, casado natural da freguesia de Ponte, concelho de Vila
Verde, residente no aludido lugar de Carreira, portador do B.I. nº 2726796, com a data de 17 de
novembro de 1993, emitido pelos SIC de Braga;

Quarto – João Artur Russel Sampaio, casado, natural da dita freguesia de Palmeira, onde reside
no lugar da Pedreira.

Verifiquei a identidade do terceiro outorgante pelo seu referido bilhete de identidade e a dos
restantes por conhecimento pessoal.

E pelos outorgantes foi dito:

Que pela presente escritura, como sócios fundadores, constituem uma associação de fins não
lucrativos, sob a designação de “Associação Amigos do Palácio D. Chica”, com sede nas
instalações anexas ao palácio D. Chica, mas que do mesmo fazem parte, na freguesia de Palmeira,
deste concelho, a qual tem por objecto em geral a defesa do património e ambiente, acções
sociais, culturais e desportivas e, em especial, a defesa do Palácio Dona Chica.

Que esta associação fica a reger-se pelos estatutos constantes de quatro laudas, cujo conteúdo
eles outorgantes declaram conhecer perfeitamente e aceitar, dispensando a sua leitura, o qual fica
arquivado como parte integrante desta escritura.

178
Estipulam ainda que para início de atividade os associados ficam obrigados ao pagamento de uma
jóia inicial de vinte mil escudos.

Naquilo em que os estatutos forem omissos aplicar-se-á o regulamento geral interno e as


disposições legais do código civil.

Assim o outorgaram

Foi-me exigido um certificado expedido em 26-06-1997, pelo Registo Nacional de Pessoas


Coletivas, comprovativo da designação adoptada pela associação.

Aos outorgantes fiz eu Notária a leitura deste acto e a explicação do seu conteúdo, em voz alta e
na sua presença simultânea, para além do segundo período de serviço e a requisição das partes.

Manuel António Vieira

Manuel Lusquinhos Lopes

Rui José Machado Ferreira

João Artur Russel Sampaio

Maria do Céu Ferreira Dias

Associação Amigos do Palácio Dona Chica

Estatutos

Capítulo primeiro

Da natureza, Sede e fins da Associação

179
Artigo Primeiro) – A Associação – Amigos do Palácio D’ Chica é uma instituição de natureza cultural
e social, sem fins lucrativos e com sede nas instalações anexas ao edifício do palácio D’ Chica em
Palmeira, Braga.

Artigo Segundo) Objetivos

Primeiro – A associação tem como objeto geral a defesa do património e Ambiente, Ações Sociais,
Culturais e desportivas e, em especial a defesa do palácio da D’ Chica propondo-se

a) Assegurar o financiamento do Palácio D’ Chica;


b) Assegurar a sua gestão direta ou indireta, por ações sociais, culturais e desportivas;
c) Assegurar a construção de infra-estruturas de apoio à terceira idade, logo que para o efeito
obtenha o direito de superfície de imóveis contíguos ao Palácio.
Capítulo Segundo
Dos Associados

Artigo Terceiro) – Podem ser membros da associação todas as pessoas coletivas legalmente
constituídas e que tenham vontade de contribuir para a concretização dos objetivos da Associação,
através de uma conta mensal a estabelecer em Assembleia Geral.

Artigo Quarto) São associados fundadores todas as pessoas individuais ou coletivas que concorrem
até trinta e um de dezembro de mil novecentos noventa e sete para constituída a favor da Caixa
Geral de Depósitos através da Constituição mínima de cinquenta mil escudos anuais, hipoteca
essa que incide sobre o imóvel que constitui o Palácio D. Chica.

Artigo quinto) constituem direitos dos associados

Primeiro) Participar nas assembleias Gerais.

Segundo) Eleger e ser eleito para Orgão de Gestão da Associação

Terceiro) Expor à associação iniciativas que entendam contribuir para os objetivos da Associação.

180
Artigo Sexto) – Direitos especiais dos associados fundadores

Primeiro) Requerer com fins legítimos a convocação das assembleias gerais e extraordinárias.

Segundo) Frequentar as instalações Turísticas e de Lazer do Palácio D. Chica, nos termos e


condições a estabelecer pela direção da Associação.

Artigo Sétimo) Perdem a qualidade de associados

Primeiro) Os que apresentarem à direção por escrito, o seu pedido de exoneração

Segundo) os que infringirem os estatutos por infração reconhecida em Assembleia Geral;

Terceiro) os que deixarem de pagar as cotas previstas no artigo terceiro destes estatutos.

Capítulo Terceiro

Dos órgãos de Gestão

Artigo oitavo) - são órgãos da associação s

Primeiro )- Assembleia Geral

Segundo) – Direção

Terceiro) - Conselho Fiscal

Parágrafo Primeiro – A Assembleia Geral é a reunião dos associados no pleno gozo dos seus
direitos e nela reside o poder supremo da Associação, cujo funcionamento é o prescrito nas
disposições legais aplicáveis do Código Civil, sendo a mesa da Assembleia composta por três
associados, competindo-lhes convocar, dirigir e redigir as actas dos trabalhos das assembleias
gerias.

181
Parágrafo Segundo – A direção administrativa e representa a Associação para todos os efeitos
legais.

Parágrafo Terceiro – o conselho fiscal, inspeciona e verifica todos os actos administrativos da


direção, zela pelo cumprimento dos estatutos e regulamentos da Associação.

Os corpos gerentes serão eleitos em Assembleia Geral e o seu mandato tem a duração de dois
anos.

Artigo nono) da Assembleia geral e respetiva mesa

A assembleia geral é o órgão deliberativo da associação sendo a mesa constituída por um


presidente, um Vice-Presidente e um secretário.

A assembleia geral reúne, ordinariamente, durante o primeiro trimestre de cada ano, para a
apreciação de contas da gerência anterior e, em março, de dois anos, para fins eleitorais.

Artigo. Decimo) – A Assembleia Geral reúne, extraordinariamente, em qualquer ocasião, por


convocação da respetiva mesa ou a requerimento da direção, do conselho Fiscal ou de pelo menos
um terço dos seus associados.

Artigo Decimo Segundo) - Da direção

A direção é composta por três ou cinco membros conforme for deliberado pela assembleia Geral.

Artigo Decimo Terceiro) - A direção terá pelo menos uma reunião trimestral e as suas deliberações
só terão validade quando tomadas pela maioria.

Artigo Decimo Quarto) – Compete à direção

Paragrafo primeiro- Organizar atividades de divulgação e promoção da Associação “Amigos do


Palácio D’ Chica, com o intuito de angariar apoios para a associação, de acordo com os objetivos
da associação.

182
Paragrafo segundo -Organizar e coordenar toda a atividade inerente à elaboração dos projetos de
turismo, de cultura Desporto e de Lazer.

Paragrafo Terceiro – Cumprir e fazer pelo menos uma reunião trimestral e as suas deliberações
só terão validade quando tomadas pela maioria.

Artigo Decimo Quarto) – Compete à direção

Paragrafo primeiro – organizar atividades de divulgação e promoção da associação “Amigos do


Palácio D’ Chica”, com o intuito de angariar apoios para a Associação, de acordo com os objetivos
desta associação.

Paragrafo Segundo- Organizar e coordenar toda a atividade inerente á elaboração dos projetos
turísticos, de cultura Desporto e Lazer.

Paragrafo Terceiro – cumprir e fazer cumprir os estatutos, regulamentos e quaisqueres


deliberações da Assembleia Geral.

Paragrafo Quarto- Zelar pelos interesses da Associação, superintendendo em todos os serviços.

Paragrafo quinto – gerir os bens da associação;

Paragrafo Sexto – Submeter, anualmente no mês de março, á aprovação da Assembleia Geral o


relatório e contas relativas ao exercício findo.

Paragrafo Sétimo – fazer a gestão do pessoal ao serviço da associação,

Parágrafo oitavo – Aprovar ou rejeitar as propostas para admissão de membros.

Paragrafo Nono – Elaborar os regulamentos necessários ao bom funcionamento dos serviços da


associação, que irão à aprovação da Assembleia Geral.

183
Parágrafo Décimo- fornecer ao concelho Fiscal todos estes estabelecimentos por este solicitados
para cumprimento da sua missão.

Paragrafo Décimo Primeiro -. Usar das atribuições que são conferidas por lei.

Paragrafo Décimo Segundo – Deliberar, como jugar mais conveniente para os interesses da
associação, em todos os casos omissos nos estatutos e regulamentos.

Artigo Decimo Quinto) Do Conselho Fiscal

O conselho Fiscal é constituído por três membros Presidente, de dois Vogais.

Paragrafo Primeiro – Examinar, periodicamente, a escrita da associação e verificar a sua exatidão

Parágrafo segundo- Fornecer à direção parecer sobre qualquer assunto que seja submetido à sua
apreciação.

Parágrafo terceiro – Elaborar o parecer sobre o relatório de contas da Direção e apresentá-lo à


Assembleia Geral Ordinária.

Parágrafo Quatro – Pedir a convocação da Assembleia Geral extraordinária quando o julgue


necessário.

Artigo Décimo Setimo)- Como Comissão de Sindicância compete ao concelho fiscal

Paragrafo. Primeiro – inquirir do procedimento de quaisqueres factos que os corpos gerentes


julguem ser passiveis de averiguar especial

Paragrafo segundo – Regular os recursos para Assembleia Geral

Paragrafo Terceiro – Das sessões do Concelho Fiscal serão lavradas actas em livro próprio.

184
Anexo 32 Alerta da realização de obras no Zona de Proteção
do palácio Dona Chica (IPPAR), Parte do Processo Nº 12287-
2004

185
Anexo 33 Divisão de fiscalização e licenciamentos diversos –
Ordem de Serviços, Parte do Processo Nº 12287-2004

186
187
Anexo 34 Divisão de fiscalização e licenciamentos diversos –
Auto de Embargo de Obras, Parte do Processo Nº 12287-2004

188
Anexo 35 Defesa do monumento de interesse público – Palácio
D. Chica – KATAVUS, Parte do Processo Nº 12287-2004

189
Anexo 36 Transcrição da entrevista a Manuel Duarte da Silva,
membro da associação KATAVUS

2 de novembro de 2021

Entrevistado- Manuel Duarte da Silva (MDS)

Entrevistadora- Cristiana Silva (CS)

CS- A primeira pergunta passa pela compreensão da associação Amigos do Palácio Dona Chica,
para a atual KATAVUS?

MDS- Portanto, a associação KATAVUS constitui-se no ano de 2011 e com um objeto abrangente
de proteger o Palácio da Dona Chica, defender as questões ambientais e patrimoniais, dando
sequência à anterior associação Amigos do Palácio da Dona Chica, constituída no ano de 1997
[pausa longa]. Eu tenho aqui uma cabulazinha que poderei te dar posteriormente, mas é isso, no
ano de 1997. Depois se for preciso corrigir alguma coisa [pausa longa]. A antiga associação, como
disse, tinha sido constituída pelo então presidente da junta, Manuel António Pinheiro Vieira, que
foi uma das pessoas que mais se interessou pelo palácio, procurou adquirir a propriedade que
estava abandonado há bastante tempo. Era uma propriedade privada, e então naquela fase forte,
de afirmação autárcica, a dinâmica dele, que ele foi sempre uma pessoa muito dinâmica,
sobretudo como autarca foi de tentar adquirir o imóvel que tinha ali ao lado, no centro da freguesia,
com aquelas características, inativo, praticamente ao abandonado. Apesar do proprietário, ao que
parece, visitar o local de vez enquanto, porque era do Porto, e por aí fora [pausa longa]. Continuava
abandonado, e o Manuel Vieira entendeu que aquela seria uma boa aquisição para a freguesia
[pausa longa]. Sempre pensou que a Câmara Municipal o ajudaria nessa tarefa, mas não teve
essas ajudas, e as coisas complicaram-se imenso porque faltaram as ajudas necessárias.

CS- Mas houve um período em que a Câmara pensou em adquirir o palácio?

190
MDS- Não, não existe essa indicação. A Câmara sempre enjeitou essa proposta. Ele então como
autarca tenta aguentar a compra sozinho, e depois enveredou por uma estratégia de constituir ali
[pausa longa], albergar uma empresa chamada IPALTUR, concedendo autorização para fazer
obras, etc, sendo nesta altura recuperado pelo menos em termos de conservação, exterior, telhado
(já se encontrava em risco de derrocada), janelas, etc, ficou de facto restaurado, o interior é que
levou obras que não eram adequadas por isso é que houve lá uma discoteca, um bar, e por aí
fora, que não deviam ter sido. Mas o autarca ficou de mãos cruzadas pois não tinha apoios
municipais. Digamos que este fez uma concessão ao empreendimento turístico IPALTUR, e em
poucos anos o IPALTUR entra em falência, levando consigo o palácio da Dona Chica, que é
hipotecado pela Caixa Geral de Depósitos. q

CS- Como é que funcionou essa concessão, a Junta de Freguesia era a proprietária do palácio?

MDS- O que faltava à Junta de Freguesia era o pagamento que estava acordado com a Caixa
Geral de Depósitos. Mas, entretanto, quando a IPALTUR entra em falência, como existia uma
autorização de hipoteca, foi utilizado esse recurso, e as coisas complicaram-se imenso, o que
havia lá dentro acabou por ser pilhado.

CS- Não se podia fazer nada contra a isso?

MDS- A nossa justiça e as nossas polícias nem sempre agem de acordo com as espectativas que
nelas temos. Coisas diversas que tem ocorrido no abate de árvores, no caso da Dona Chica, no
abate de segóvias que vieram do Brasil, já no tempo da Dona Chica [pausa longa], e outras, foram
denunciadas, e não aconteceu nada. As denuncias acabam por cair em saco roto, e por vezes
ainda nos mandam umas desculpas esfarrapadas, e o resultado está na destruição do imóvel, e
na própria construção de um elevador.

CS- Há umas três semanas atrás encontrei um vídeo na internet, de uma pessoa que entrou lá
dentro, e gravou todo o seu interior.

MDS- Ainda existe muito disso, a KATAVUS foi sugerindo que houvesse proteção das entradas,
para evitar que aquilo se abandalhasse o mais que se pôde, o que é certo é que, entretanto, ele
começou a funcionar como os serviços da Câmara, colocaram vidros nos muros exteriores. Temos

191
lá filas de vidros nas paredes, que digamos, não é a forma mais correta para proteger um
monumento. E outras coisas assim, a partir de uma certa fase, o proprietário acabou por tapar e
proteger as entradas dos edifícios no seu interior.

CS- E esse proprietário era o anterior proprietário? [João Campos]

MDS- Mas aquilo foi uma luta inglória. Nunca ouve propriamente interesse em zelar pelo
monumento, e por outro lado, conseguiu-se que ele fosse classificado, foram quase trinta anos,
desde a primeira petição, até à conceção em 2013, foi classificado em 2013, a homologação deu-
se no ano de 1986 aproximadamente. Mas a classificação ocorre a 8 de março de 2013 [pausa
longa]. Mas ao que parece a classificação foi uma espada que entrou em relação àquelas pessoas
que, não só ao proprietário, queriam que aquilo fosse mesmo ao charco.

CS- Quais foram as implicações desta classificação?

MDS- Possivelmente vais ter possibilidade de acompanhar a evolução dos acontecimentos [pausa
longa], no pedido de obras ali para aquele espaço, uma das condições que a Câmara Municipal,
através do vereador Miguel Bandeira colocou foi que fosse aprovada uma obra para aquele interior,
porque a proposta que o proprietário fez desconfigurava por completo o traçado do palacete.
Quanto a esse facto, quando autorizada uma obra ali dentro, deveria existir o compromisso do
restauro e preservação do palacete.

CS- E esse tipo de obras necessita de ser acompanhada por um profissional.

MDS- As autoridades não acompanharam devidamente a situação, na nossa perspetiva, até por
ser classificado deveria ser acompanhado devidamente, o que receamos que não esteja a
acontecer. O nosso trabalho tem sido nesse sentido, de sensibilizar, pedir para intervir, no caso
da Câmara Municipal, no Gabinete de Urbanização, quer na Direção Regional da Cultura do Norte.
Pretendemos que o palácio seja acompanhado, e que seja aplicada a lei em termos de
preservação. Contudo isso não acontece, não tem sido comprida a lei nesta componente. Eu tenho
alguma dificuldade em falar sobre isto [pausa longa], porque o imóvel tem um proprietário, e nós
não temos relação com eles.

192
CS- Pelo que sei, atualmente são dois proprietários, dois irmãos, um que se encontra no
estrangeiro, e outro que se encontra em Portugal. Tentaram entra em contacto com o proprietário?

MDS- Não entramos em contacto com o proprietário.

CS- Por algum motivo específico?

MDS- Internamente, porque não temos sido bem-sucedidos na questão. Mostramos interesse no
imóvel como valor patrimonial e material, bem como outras memórias que estão associadas ao
palacete, como é o caso da família, mas [pausa longa], mas as aberturas com o anterior
proprietário não tiveram hipótese. Eu pessoalmente tentei, telefonei-lhe, mas ele sempre quis fazer
aquilo que bem entendia. Ele queria fazer de lá um hotel, um edifício com uma cércea elevada, e
por aí fora, coisa que a Câmara não autorizava, e ele nunca esteve interessado numa colaboração.
Nós não podíamos concordar com uma proposta dessas, entretanto ele foi vendido. Antes disso
fizemos todo um esforço para ver se a Câmara comprava o edifício, fizemos até uma petição.

CS- Eu vi uma notícia de que no mandato do Mesquita Machado existia essa proposta na mesa.

MDS- Nessa altura já estávamos no mandato do Ricardo Rio. Isto foi no ano de 2015, o palácio
já estava classificado há 2 anos. Estávamos a ver que ele estava a correr demasiados riscos, como
esse tal proprietário da Póvoa do Varzim. E achamos que com o Ricardo Rio, que nos deu uma
maior abertura e que nos atendeu no seu gabinete. Como presidente da Câmara, e por estar no
seu primeiro mandato, tivemos esperança de que ele desse as mãos ao palácio, o próprio vereador
Miguel Bandeira, eu próprio assisti a essas conversas, chegou a manifestar interesse que aquilo
fosse comprado.

CS- Mas foi esse vereador que entrou em contacto com os proprietários atuais?

MDS- Anos e anos e anos, e sempre com negas. Existem ali pessoas interessadas em acabar
com o palácio, há quem até tenha escrito no Facebook de que para a pessoa, o palácio da Dona
Chica não passava de um monte de calhaus [pausa longa], isso está relacionado com a desavinda
que aconteceu nos anos 20, e que resultou no fim do casamento de Dona Francisca, com João
José Ferreira Rêgo. Dá-me a impressão que não querem que se mexa no assunto, e que aquilo é

193
para esquecer. E então até inventam muita coisa, que aquilo é uma casa assombrada, ainda
aparecem muitas pessoas no Facebook a perguntar isso. Também dizem que a Dona Francisca
foi esta e aquela, isso não ajuda em nada na questão. A própria impressa enveredou um bocado
por isso, a tal história da carochinha. Um livro que, entretanto saiu, que nem coloquei aí na
bibliografia, foi Fidalgo de quê? [pausa longa] Que não interessa para nada, a capa do livro, é a
fotografia do palácio, que só acaba por baralhar, por não ser regido por uma investigação. Tal
como aquele romance borboletas sem asas, de uma escritora bracarense, no que diz respeito à
bibliografia da Dona Chica naquele período em que ela escreve o romance, naturalmente não tinha
referências legitimas, e portante foge totalmente àquilo que é a realidade do percurso da Dona
Chica entre nós, mas é um romance.

CS- Quando me enviou o primeiro e-mail, referiu que algumas pessoas já tinham entrado em
contacto consigo, com o mesmo interesse, mas que estas nunca chegaram a publicar.

MDS- Se publicaram não conheço, também não tenho pesquisado na UM, nas teses publicadas.

CS- Eu também não encontrei nada, por isso suponho que não existam grandes pesquisas
relacionadas com o tema.

MDS- Havia uma Sandra, devo ter lá a referência dela, sei que ela na altura chegou a visitar o
local. E, portanto, o que me diziam é que ela andava a fazer um trabalho sobre a Dona Chica e o
palácio.

CS- Porque é que acham que as pessoas não se interessam pelo estudo do palácio?

MDS- Existem entraves bastante grandes que não ajudam, não sei se vais ter matéria suficiente
para o seu estudo. É apenas na parte arquitetónica, patrimonial?

CS- É assim, a minha licenciatura é em história, e agora estou a tirar o mestrado em património,
o objetivo principal da tese é recontar o seu passado do edifício, traçando uma linha cronológica
do mesmo, e compreender o estado atual do edifício.

194
MDS- Sim, sim, sim, [pausa longa] é muita documentação para chegares a isso, sobretudo
correspondências e por aí fora.

CS- Para já eu encontrei muitas referências sobre a discoteca. Para além disso, vou falar com a
população que vive nas imediações do palácio.

MDS- Espero que consigas os dados para redigir, portanto o teu trabalho, de acordo com o
traçado. Tens o nosso colega João Gomes, ele é professor de história, e está no ativo, já foi diretor
da KATAVUS, e está dentro deste assunto, podes também relacionar-te com ele, depois eu envio-
te o contacto [pausa longa].

CS- Quais são as iniciativas utilizadas para atrair a população local, para o caso do Palácio da
Dona Chica?

MDS- Nós já fizemos uma série de ações no âmbito, do objeto da associação, e uma delas, duas
[pausa longa], uma foi sobre o centenário do Palácio da Dona Chica, o memorando em 2015,
sobre o centenário da Dona Chica, comemoramos, entretanto, outros centenários,
nomeadamente, o da antiga monografia de Palmeira. Por conseguinte, temos alguns produtos
dessa ação, e mais recentemente fizemos uma ação de como preservar o património
arquitetónico, que decorreu no museu no Museu D. Diogo de Sousa. Fizemos ações nesse âmbito,
no sentido de alertar, sensibilizar e por aí fora, mas nós não vemos [pausa longa]. Tivemos
algumas dificuldades de aceitação, como aliás em relação a Ernesto Korrodi em Braga, não só o
Dona Chica, que é uma das melhores obras, considerado um ex-libris, o castelo do Bom Jesus por
exemplo.

CS- A gruta do Bom Jesus é um bom exemplo disso.

MDS- Mas o chamado castelo do Bom Jesus é Korrodi, ainda há dias alguém pós uma fotografia
do nosso amigo [pausa longa] de Braga, chamam-lhe o Rocha, fez uma fotografia assim há
distância, do Castelo do Bom Jesus, e com essa fotografia demonstrou de facto, o valor daquela
implantação bem-sucedida naquele espaço, e continua lá felizmente. Mas o que é relativo a Korrodi
em Braga, que não conseguiu a atenção devida.

195
CS- Quando realizei a minha pesquisa sobre Korrodi, encontrei muitas referências ao Castelo de
Leiria.

MDS- Ele tem cerca de 400 obras, metade está na zona de Leiria, e nos concelhos limítrofes. Se
tu já lestes o livro da Lucília Verdelho sobre ele, ele foi um homem extraordinário, muito interessado
na questão cultural, veio contratado pelo governo da época, para lecionar desenho industrial em
Braga, esteve cá cerca de cinco anos, e não terá gostado de estar cá, ou lhe interessava ir para
outro lado, acabou por se fixar em Leiria e lá desenvolveu o seu trabalho, e entretanto continuou
a viajar por todo o país, porque o palácio da Dona Chica surge já na fase em que ele estava em
Leiria. Continuamos a assistir a um autor estrangeiro que não é bem visto entre nós, e que não
tem tido a devida atenção, e a própria classificação do palácio em Palmeira [pausa longa], tem
sido rejeitada, ao ouvires as pessoas, vais encontrar pessoas que muitas vezes foram
manipuladas, e existe de facto uma espécie de grupo que está interessado em denegrir o palácio,
e a classificação do palácio veio em prejuízo dos interesses dos residentes.

CS- Mas se o palácio for sujeito a obras, não vai trazer lucros para a freguesia?

MDS- É um valor que ali está, ele não tem nada em valores arquitetónicos que se assemelhe.

CS- E quando uma pessoa passa na estrada e o palácio está logo em evidência.

MDS- E era de todo o interesse, foi por isso que o antigo presidente da junta teve todo o interesse
no imóvel, embora a junta não tinha arcaboiço para o adquirir. Precisava do apoio da Câmara,
coisa que não aconteceu, nem com o antigo presidente, Mesquita Machado, nem com o atual,
Ricardo Rio.

CS- Nesse período houve as negociações da Fábrica Confiança.

MDS- Sim, eles posteriormente também a tentaram vender, suponho que continua a ser
propriedade da câmara, mas o que é que sabemos daquilo? Eles vão valorizar aquele edifício da
Francisco Sanches, que está virado para a rua D. Pedro V, e estalaram ali instituições e
associações. Mas de resto nós não encontramos grandes apoios. Relativamente a palmeira

196
verificamos um grande desinteresse, as pessoas de certa maneira desmotivadas, e digamos
manipuladas.

CS- E muitas vezes nem compreendem o que é que simboliza para Palmeira.

MDS- E, portanto, aqueles trabalhos de sensibilização que são feitos não obtiveram o efeito
desejado. Como disse há pouco, nem um centro cívico foi permitido nós termos, nem uma gaveta
temos para colocar as nossas coisas, isso quer dizer que não somos valorizados. Mas nós
continuamos a existir e a produzir, apesar de não ser com a mesma quantidade, mas continuamos.

CS- Eu verifiquei que nos últimos anos a KATAVUS não têm realizado publicações.

MDS- Nós estamos ativos em termos de colaborar com as instituições, participamos em


videoconferências. [pausa longa] Ainda na sexta-feira participei numa videoconferência promovida
por uma organização da Câmara Municipal. Somos pouquinhos, mas vamos publicando aqui e
além, e temos também um blogue. Esta questão que não é publica sobre o trabalho que foi
desenvolvido pela nossa parte, naquele edifício que está ali ao lado do Dona Chica, e que está
delimitado pela área ZEP, na zona especial de proteção do Palácio, fomos nós que despoletamos
a situação, e levamos ao embargo daquilo. O edifício de José Venoso, que está ao lado do palácio
da Dona Chica, e que vai pela Rua da Igreja, entre a casa de Motaleiros, onde está a pastelaria
Doce Moura. Essa rua foi recuperada, e de alguma maneira ficou, as obras que ali foram feitas
pela Junta de Freguesia não foram acabadas, e, entretanto, o proprietário ao lado começou a
construir ilegalmente um edifício que lá está, e levaram quase até ao fecho, ao telhado. E o que
nós lotamos para aquela obra ser embargada. É uma construção sólida, mas não tem alvará, não
tem licença, e foi construída à revelia.

CS- Está a falar daquele pequeno edifício que se encontra no interior da propriedade?

MDS- Não, está dentro da área de proteção, o edifício encontra-se na extremidade da urbanização
da Quinta de São José. De maneira que eles fizeram a obra durante muito tempo à revelia, e a
Câmara não colocou travão a isso.

CS- Mas a Câmara tinha poder para impedir a situação.

197
MDS- Ele é impedido logo nos começos, tivemos que ir para o poder central, nomeadamente à
polícia judiciária, quando vimos que nem no poder central, Direção Regional da Cultura do Norte
(DRCN), que não havia retorno das denuncias, também batemos na porta da polícia judiciaria e,
entretanto, acabaram, graças à provedoria da justiça que nos deu a informação, que a obra iria
ser embargada. Tudo isto muito devagar, esse trabalho de denuncia da obra e embargo, não
andou nos jornais, e por isso não encontrarás noticias. E nessa situação, a junta de freguesia não
nos acompanhou.

CS- Provavelmente isso não interessava à Junta.

MDS- A Junta de Freguesia, e a assembleia é constituída por duas listas, a coligação e o PS


(Partido Socialista), estranhamente não acompanharam, estiveram a fazer silêncio em favor ao
proprietário. Uma obra ilegal e instalada junto a um monumento. Isto é de uma gravidade [pausa
longa], de uma gravidade muito grande, porque os autarcas. [pausa longa] A eleição de um
autarca, o voto não pode legitimar o estar acima da lei, [pausa longa] mas é complicado.

CS- Quando é que foram realizadas as construções anexas no interior da propriedade?

MDS-Existe ali uma construção, e com características renovadas [pausa longa], penso que a
Câmara Municipal e a Direção Regional da Cultura do Norte (DRCN), deveriam acompanhar
seriamente a construção. Penso que as obras serão ilegais, mas não posso afirmar o mesmo. Mas
também é verdade que da parte da Câmara não tenha sido passada nenhuma licença para
construir o que quer que seja lá dentro, geralmente informavam-no.

CS- Eu cheguei a encontrar uma notícia de que pretendiam construir lá um pavilhão multiusos.

MDS- o Pavilhão Multiusos era para ser implantado na parte norte, esse ia ser uma unidade, que
ainda no tempo da Póvoa do Varzim, ia ter uma cércea muito elevada e a câmara não aprovou
porque ia desvirtuar a construção antiga. [pausa longa] Não vai ser um trabalha fácil, este o teu.
Podias era direcionar o teu trabalho para a preservação do Palácio e para a importância das obras
de Korrodi em Braga.

198
Anexo 37 Transcrição da entrevista a José Pereira, habitante
da freguesia de Palmeira

29 de outubro de 2022

Entrevistado- José Pereira

Entrevistadora – Cristiana Silva

JP- As pessoas estão dividias porque algumas pessoas querem que aquilo seja privado, e outras
querem que o edifício seja público. Na minha opinião, eu considero que se o edifício fosse público,
seria o melhor para a freguesia. Temos um lar de idosos perto do edifício, onde as pessoas
poderiam explorar o jardim, no caso do palácio deveria ser explorado, não para habitação, não
para eventos, por menos ter lá uma biblioteca, e na zona envolvente, a Junta de Freguesia poderia
colocar lá uma piscina, podia ter as ruas para as pessoas. Porque na rua ao lado do palácio, existe
um lar de idosos, e eles não possuem nenhum local para passear.

CS- Já foi feita a proposta de transformar o local num centro cívico.

JP- O problema é estar a mexer, teria de ser um centro no exterior. Poderia haver um movimento
para angariar fundos para explorar o castelo, porque em qualquer momento, ele pode cair. Pelo
que dizem, o telhado já está a cair. Os muros, aquela parte externa já caiu, foi um rapaz conhecido,
que bateu com o carro, e aquilo está num impasse, ninguém se intende.

JP- E em relação há história da Dona Chica, e por aquilo que você também já sabe, não sabia se
eram primos ou se não eram, eu penso que não eram primos, porque isso implicaria que alguém
tivesse ido primeiro para o Brasil.

CS- O pai dela era português.

JP- Mas deveria ser um cruzamento com pessoas nativas de lá.

199
CS- A mãe de João Rêgo, era brasileira, e a mãe da Dona Chica era descendente de escravos,
depois o pai dela era primo do Manuel Joaquim Rego.

JP- Aquela pele acastanhada dela, devia-se à descendência “afro”. Depois numa época em que
existia um conservadorismo em relação às mulheres. Em relação a mais pormenores, esta Dona
Lurdes, ainda te vai conseguir ajudar.

JP- O Vieira foi um político sempre interessado no palácio, e não estava de acordo que ele fosse
vendido. Provavelmente na altura era uma boa ideia. Contudo ele não foi ajudado, porque na altura
ele entrou em conflito com a direita, e com o próprio Mesquita Machado. Parece que foram essas
histórias assim que se foram desenrolando. Dizem que foi o espírito da Dona Chica, reza a lenda,
porque dizem, porque não sei que carga de trabalhos, porque ela deixou o marido.

JP- Dizem que depois ela foi para França.

CS- Mas ela antes de ir para frança, ainda se casou com um senhor do porto e teve um outro
filho.

JP- Porque acho que chegou a vir aqui um descendente dela.

CS- Sim, foi o Sr. Giordani.

JP- Acho que ele chegou a vir aqui algumas vezes.

CS- Sim, veio aqui no centenário.

JP- Foi isso foi, e até porque ouve, ou no Diário do Minho ou no Correio do Minho, uma publicação
sobre o castelo.

CS- Sim, foi uma publicação da ASPA (Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do
Património Cultural e Natural.

200
JP- E foi com essa publicação é que comecei a conhecer um pouco mais sobre a história do
Castelo. Normalmente a gente na terra não liga muito às histórias. Acho que a senhora Lurdes e
o Senhor Vieira serão as pessoas mais indicadas para a ajudar. O senhor Vieira foi político aqui na
terra desde os anos 70, foi ele que esteve na junta durante esses anos todos.

CS- Na sua juventude, já morava em Palmeira?

JP- Nessa altura, havia uma quinta, a designada Quinta da Tourôa, que eram os proprietários
dessa quinta que estavam no palácio, a Quinta ao lado da de São José. Existe a Quinta de São
José e a Quinta da Tourôa (essa quinta é onde está o Fernando o estofador).

CS- Pelo que percebi, essa quinta estava anexada ao palácio.

JP- Esses indivíduos tinham comprado muitas propriedades por Palmeira. Em relação ao castelo
está neste impasse.

JP- Ele foi vendido no ano de 1977/78 e tal, porque antes, o Palmeiras ainda chegou a fazer
algumas festas do “vestido pintado” nos jardins do palácio.

CS- Nessa altura já estava no domínio da Junta de Freguesia?

JP- Acho que nessa altura já estava. Eu lembro-me que nessa altura estava na tropa, tinha uns
vinte anos. Vinham muitos artistas de fora, mas depois com o tempo, aquilo começou a haver
muita confusão, e depois foi comprado pelo IPALTUR. Mas aquilo também foi sol de pouca dura,
depois também entrou em confusão com a Junta de Freguesia.

CS- Pode me falar um pouco mais da festa do Vestido Pintado?

JP- Alguém deu a ideia de Pintar os vestidos, e depois havia um prémio para a melhor pintura,
ainda agora existe, começou mesmo no campo de futebol, ainda não existiam muitas discotecas
neste período. Vieram o Duo Ouro Negro, José Cid, salvo erro, vieram os melhores cantores do
país, passaram aqui quando eles ainda estavam no início da carreira, por exemplo, o já fumega
do Porto, o grupo dos Táxi, salvo erro, e o Marco Paulo, muita gente passou por palmeira nessa

201
altura, foi nessa festa do Vestido Pintado. Só que aqui o campo, quis alargar o recinto, assim
aproveitaram o castelo, e a imagem que este dava, com o palco montado ao lado do mesmo, as
grutas, tudo foi um feito enorme aqui. Mas depois com o tempo, com os problemas do castelo,
que começaram a aparecer sobre [pausa longa] depois as pessoas a lamentarem-se, sobre a Dona
Chica, a dizerem que já andava aí novamente, e depois o pessoal do Palmeiras também começou
a vir abaixo, tudo começou a perder-se. Atualmente o Palmeiras passou a festa para a Junta de
Freguesia, e são eles que fazem a festa.

CS- Nessa altura eles faziam no palácio?

JP- Sim, mas na parte exterior. Eles só colocavam uma iluminação da parte exterior e nas grutas,
e com aquele espaço todo iluminado. Isto tinha uma dimensão enorme, vinham da zona do porto.
Agora perdeu o peso e o impacto que tinham na altura, aquilo era um mundo. E mesmo assim já
deitaram muitas árvores exóticas que existiam. As tais árvores provenientes do Brasil.

CS- Também chegaram a vir esses cantores aos jardins do palácio?

JP- O palácio era o monumento que estava ali, apenas eram utilizados os jardins. Provavelmente,
os artistas utilizassem a parte de baixo do edifício, para se vestir, ou para guardar qualquer coisa.
Na parte lateral do palácio, ficava o bar, mas não consigo afirmar. Chegaram a ir grupos famosos,
chegou a vir a Adelaide Ferreira, o Nicolau Breyner e o Herman José, mas a maioria foram
realizados no campo. Eu também nessa altura andava na tropa, e lembro-me de ir lá. Na altura o
José Cid não era muito conhecido, atualmente é que ele possui uma maior importância. A própria
Janet Jackson chegou a vir cá, aqui no antigo memórias70. Palmeira nessa altura ainda possuía
alguma importância. Agora a Dona Chica, que é a parte mais interessada, sinceramente acho que
é preferível perguntar, não vou andar a dizer que ela isto e aquilo. Depois os regos, acho que eram
importantes, sei que existe uma história de que o fundador da fábrica Pachancho, tinha tido um
romance com ela, porque ele era o mecânico dos carros dela, e foi a partir daí que ele criou aquela
fábrica em enfias, que aquilo agora até desapareceu tudo, e ele acho que era o mecânico preferido
dela.

70
O “memórias”, era uma antiga discoteca localizada em Palmeira.

202
CS- Dizem que na altura até chegaram a emprestar dinheiro ao Pachancho, para construir a
fábrica.

Porque ele depois é que começou do zero e construiu o seu nome, fazendo parte da história da
indústria portuguesa. Por exemplo, nós aqui em Braga tivemos grandes fábricas, mas o
Pachancho, além de querer fazer motas, também queria fazer carros, só que o estado, no tempo
de Salazar, não deixou a indústria evoluir. Os segmentos, aqui uma vizinha ainda trabalha na
fábrica, porque depois a fábrica foi mudada lá para cima para Pedralva, ou por aquela zona, e
eles, essa dos segmentos, veio do pachancho, que fizeram os segmentos, que hoje em dia são
exportados para o mundo inteiro. Em relação a esse tal Pachancho, ficou de facto ligado à história
da Dona Chica, e não sei até que ponto é que existiu alguma coisa entre eles, até podem ser
boatos, sei é que ela no tempo em que andava por aí, as pessoas conservadoras.

CS- Até para a altura, Portugal vivia outra realidade.

JP- Ela estava à frente aqui desta, [pausa longa] deste povinho.

CS- Então uma mulher pedir o divórcio naquela altura era algo impensável. Principalmente porque
Braga é uma cidade religiosa.

JP- E faço ideia aqui o povo, mas como era uma pessoa superior, não se importava com a opinião
dos locais, ela vinha de lá com outras ideias, mas isso não significa que o Brasil também fosse
um país muito evoluído, mas aquela fase que ela esteve aqui foi depois da instauração da
república, quando acabou a monarquia, e o povo estava empolgado, foi quase como quando se
deu o 25 de abril, e na altura provavelmente também tinha uma certa liberdade. E agora sobre a
história vai precisar de procurar outra pessoa que lhe dê mais informações sobre o castelo.

JP- Sobre as outras fases, sei que eles mantiveram sempre. Depois aquele boom no castelo,
aquilo era uma mata fechada, nós não tínhamos acesso, sabíamos que aquilo era de um individuo
do Porto, e havia outro individuo que era empregado da quinta da Tourôa, o pai do Álvaro Saganha,
da Casa Saganha, e existia um capataz que andava sempre em cima das coisas, para não
roubarem a fruta, as pessoas não podiam passar o muro.

203
CS- Essas pessoas ainda estão vivas?

JP- Não, se fossem vivas teriam mais de cem anos, o filho Álvaro ainda está vivo. Provavelmente
ainda deve saber algumas histórias sobre esta situação, quer ir lá?

204
Anexo 38 Transcrição da entrevista a António Cunha, filho do
antigo capataz do palácio Dona Chica

2 de novembro de 2021

Entrevistado- António Cunha (AC)

Entrevistadora- Cristiana Silva (CS)

AC- Era do ano de 1919, Dona Chica era uma senhora [pausa longa] brasileira, casada e [pausa
longa] por conseguinte mandou fazer o palácio. [pausa longa]. Por conseguinte, era casada, mas
houve um desentendimento com o seu marido, parece que ele gostava muito da parodia e de
beber, segundo dizem, os amigos dela aproveitavam-se dessa situação, dando-se a separação.
Depois disso, segundo consta a propriedade foi vendida aos ingleses, sendo posteriormente
comprada pelo meu avô, que avô? E perguntas tu, que avô? Eu só soube depois do meu pai falecer,
que o meu pai era filho do patrão. Tive a confirmação disso com uma antiga cozinheira do Porto,
teve aqui no lar de Palmeira, a Dona Maria, quando a senhora soube que a Dona Maria Constança
dos Pais Furtado Figueiredo [pausa longa], ele o meu avô, era Torres Figueiredo, por conseguinte,
ele morava no Porto, na rua Cândido Reis, tinha o exclusivo de tudo o que se fabricava no Cávado,
ia para os armazéns dele, não ia para mais ninguém, porque no Cávado fabricava-se o pano
branco, era para lençóis. O meu avô era por conseguinte, proprietário de cinco quintas, era a
quinta de São José, duas quintas aqui na Adaúfe, que era aqui a Quinta do Lagar de Azeite e a
Quinta dos Cinco Reis, em Lago, era a Quinta de Santa Marta, a Quinta da Tourôa (propriedade
que integra o edifício do palácio Dona Chica) também conhecida como a Quinta de São José, mas
era a Tourôa. e tinha uma quinta em Lagos e uma em Amares, aqui era a Quinta de Santa Marta
e lá a Quinta do Alenquer, perto do campo de futebol, o meu avô dizem que foi, mas não confirmo
nada porque, isto é, música de ouvido [pausa longa], que alias, nesta altura, os pais falavam muito
pouco com os filhos, só soube depois de ele falecer, que era neto dele, Alberto Torres Figueiredo.

CS-Isso era o nome do seu pai?

205
AC- Isso era do Dono da quinta, o meu pai era Fernando Augusto, foi criado no Porto, era um
rapaz de filho de pai incógnito, e por indicação dele, ou por causa de indicação das funcionárias,
o rapaz aparecia na porta e ia fazendo os recados, começou a entrar, depois tirou a carta.
Posteriormente, quando a Dona Maria Constança descobriu, dizem que aquilo foi um pandemónio,
e ele começou a comprar propriedades nas quintas que eu mencionei, para ele ficar com algum
bem. Para além do meu pai, ele teve outra filha, em Lisboa, essa habilitou-se, e herdou uma
fortuna, aquele edifício que antes era Tondelo [pausa longa. Ele foi fundador do Moulin Rouge, em
Paris, foi guarda-livros do Conde de Vizela, Alberto Torres Figueiredo.

CS- Esse era o seu familiar?

AC- O proprietário da quinta de São José era esse senhor, quando foi para entrar ao serviço foi de
fraque. E, por conseguinte, tinha os outros negócios, ações e essas coisas todas. o castelo era
para restaurar, mas como houve uma desavença, acabou por não ser concluído. Dizem que
recentemente enterrar a gruta. Essa gruta tinha uns armários, onde nós nos metíamos e ninguém
nos via, tinha lá morcegos, tinha tudo. Pegávamos numa vela e íamos explorar o local, aquilo tinha
pomar, árvores exóticas (poucas existe atualmente), tinha muitas, um laranjal muito grande,
pêssegos, por conseguinte, agora transformaram aquilo tudo, com a junta. Entretanto o meu avô
faleceu antes da esposa Dona Maria Constança dos Pais Furtado Figueiredo, e por conseguinte,
ele ainda deixou uns testamentos, mas morreu e por conseguinte não conseguiu concretizar aquilo
que tinha em mente, e como ela morreu com cento e quatro anos, tudo aquilo que tinha sobre os
empregados, passou a cartas de consciências, e por conseguinte, os funcionários e o meu pai
morreram todos à frente, exceto essa funcionária, e a empregada de quarto, essa ainda parece
que recebeu alguma coisa. Quem depois herdou o palácio, foi o seu sobrinho, diziam que ele era
homossexual, era conhecido como António Pais Moreira, acho que era esse nome. O meu avô
vivia na rua Cândido Reis nº549, Porto, faz gaveto, tem um mirante [pausa longa]. Uma casa
fantástica, foi feito um armário só para meter uma baixela de prata, que na altura foi um parente
meu, que era o Constantino, trabalhava na confeiteira e que fez a talha, trabalhava na Soares
Barbosa, na altura custou sessenta contos, tudo isso, louça chinesa, o lambril da sala de Jantar
era só prata. Cândido Reis era onde tinha dois armazéns, e Alberto Torres Figueiredo, na rua D.
João IV, por conseguinte [pausa longa]. Em relação ao castelo, houve um senhor que o comprou,
que era daqui de Amares, mas depois o estado, parece que foi um preço muito baixo e depois a

206
junta contestou a compra [pausa longa]. Na minha opinião a junta fez uma asneira, se não
tivessem criado problemas ao senhor, com o valor dado por este. E depois a junta ficou com o
edifício e alugou-o a um individuo que destruiu com aquilo tudo, e a junta ficou fiador do próprio
inclino, eles deram cabo de tudo, agora foi vendido a outro, limparam efetivamente tudo [pausa
longa], o castelo foi limpo.

CS- Disse que chegou a viver lá?

AC- Não, eu cheguei a viver na quinta de São José, nasci aqui, no hospital, mas vivia aqui. Mas o
meu pai como era feitor do palácio, tinha algumas mordomias, tinha direito a fruta, e era protegido,
como me empreguei ganhava quatro contos e ele tinha um ordenado de trezentos escudos, tinha
direito a comer, trazer fruta e vinho, de resto [pausa longa], eu desse os dois meses, as
empregadas levavam-me para lá, passei lá toda a minha vida, mesmo quando eu estudava saía
da escola e ia almoçar lá, brincava lá, maior parte da minha vida foi passada lá, mas agora não
sei como é que as coisas estão, mas eu fiquei pesaroso, porque tenho a impressão que na altura
se tivesse ficado na mão do tal doutor, eles iam para lá com a família [pausa longa]. Depois
andaram para aí a inventar coisas, a dizer que o irmão do Doutor era homossexual, não sei se foi
todo inventado para denegrir o nome da família, depois houve toda essa questão toda e o indivíduo
aborreceu-se, desistindo do edifício. Mas agora não sei como é que está, na quinta de São José
tinha lá uns pinheiros mansos que era preciso doze homens para os abraçar, mas isso foi tudo
abaixo.

CS- A quinta de São José era longe do Palácio?

AC- Era ao lado.

207
Anexo 39 Transcrição da entrevista a Lurdes Alves

2 de novembro de 2021

Entrevistada- Lurdes Alves

Entrevistadora- Cristiana Silva (CS)

LA- A história da Dona Chica, sabe-se que o pai dela era um senhor português que foi para o
Brasil, e quando morreu deixou-lhe uma fortuna enorme [pausa longa], veio morar para Palmeira
fazendo grande furor na população. Nessa altura eles já tinham um Rolls Royce, que era um carro
branco, depois ela já utilizava aquelas extravagâncias, com os seus vestidos decotados, com
excessos. Quando estes se casaram, a propriedade de Semelhe já se encontrava nas mãos da
família, sendo o local escolhido para ser o lar do casal, enquanto o palácio não estivesse concluído.
As obras do palácio começaram no ano de 1915.

CS- Sim, com o arquiteto Ernesto Korrodi.

LA- Sim, que o projetou. Entretanto começou, mas aconteceram as desavenças entre Dona
Francisca e o tal Henrique Teixeira, que era o amante dela, segundo marido. Depois ouve uns
barulhos na freguesia (pausa longa). Entretanto aqui havia uma procissão que era conhecida como
a Senhora das Dores, que saia da igreja, e no lado lateral do Castelo tinha um portão, e a Dona
Francisca estava ali a ver a procissão, com a costureira, e tinha uns decotes muito extravagantes,
e já existiam boatos na freguesia, de que ela andava a ter uma relação extraconjugal, e na altura
o padre, que era o João Rego.

CS- O João Rego não era o marido?

LA- Não era outro. Ouve ali uma troca de palavras, com o padre e com ela, ele saiu do palio na
procissão, chegou ao pé dela e ouve mesmo confusão. Depois disso, o padre teve de se refugiar
na casa da Quintinha, aqui em baixo quem vai para a Póvoa, também pertence à família deles,

208
eles eram primos. Depois como ela era muito amiga do povo, o padre teve de ir para a Póvoa,
gerando uma rivalidade entre Palmeira e a Póvoa. ´

CS- Mas Semelhe não era longe, para estar sempre no castelo?

LA- Sim, mas era na zona de Braga. Entretanto as pessoas daqui queriam matar o padre, e de lá
para cá, essa rivalidade ainda continua.

CS- Por causa da Dona Chica?

LA- A Póvoa é perto do campo de aviação, aquilo é tudo palmeira, só que como ele era de lá, e
veio tudo para aqui, aquilo dividiu-se, e aquilo como era muita população, começaram a pensar
numa separação da Póvoa. O meu marido era da Póvoa, e ele falava da rivalidade que existia
dentro da freguesia,

CS- É como a rivalidade que existe entre Braga e Guimarães. Provavelmente hoje em dia nem
sabem o motivo dessa rivalidade.

LA- Queriam obter a independência do lugar para a freguesia havia pessoas que queriam fazer
isso, mas nunca deixaram. Eu fazendo parte da catequese, via essa rivalidade muito presente, o
padre é que foi o semeador desse conflito.

CS- Naquela altura também havia outra mentalidade.

LA- Muitos deles nem devem saber o motivo, o problema é que é dentro da mesma freguesia.
Existe um corte entre a freguesia, até porque quando a minha sogra era viva, chegaram a pensar
fazer lá um cemitério.

CS- Vir uma pessoa tão liberal para um país tão conservador deveria ser complicado.

LA- E com uns trajes tão chamativos, e era normal porque ela vinha de um país quente, com outra
cultura, claro.

209
CS-E Braga era muito ligada à igreja.

LA- Sim, aqui quem mandava eram os padres.

CS- E com o fim do casamento?

LA- Com o fim do casamento, ela ficou muito chateada, lançando uma maldição sobre o castelo,
dizendo “Anda castelo que nunca mais serás acabado. E vê lá, passado um século nunca mais
ninguém lhe pegou.

CS-Eu já ouvi duas versões dessa história, uma que tinha sido contra o marido, e outra por causa
do padre.

LA- Eu sei que o marido tinha problemas de álcool, eu sei que com o fim do casamento, João
Rêgo acabou por se refugiar na casa de Semelhe e [pausa longa], e a Dona Chica foi morar para
São Paio de Merelim, para viver com Henrique Teixeira, com quem teve um filho, e com quem
viveu durante seis anos, voltando com o filho para o Brasil, voltando a falecer nos finais dos anos
sessenta. O ex-marido João Rêgo, refugiou-se na casa da Mata em Semelhe, embriagando-se
constantemente, referia-se à sua ex-mulher, pela minha falecida, e não pelo nome próprio.

CS-Ele vendeu o palácio e no ano a seguir faleceu.

CS- Na sua juventude, o que é que se lembra do edifício?

LA- Na escola, chegamos a ir fazer lá passeios.

CS- Nesse período já existia a discoteca?

LA- Não, o palácio mantinha o seu normal, depois é que o presidente da junta vendeu aquilo ao
IPALTUR, que primeiro criou uma discoteca, e não deu em nada, e depois criou um restaurante.

CS- Mas a discoteca e o restaurante eram da mesma altura?

210
LA- Isso é que já não me lembro.

CS- Pelo que eu percebi, tinha a discoteca num patamar e o restaurante no outro, mas não sei se
realizaram as duas coisas no mesmo período.

LA– Isso eu também já não me lembro, mas acho que foi separado. E até tinha lá uma gruta.
Agora a loiça, que estava lá foi tirada. Até tinha o símbolo do palácio da Dona Chica, mas depois
foi tirada. A junta de freguesia ficou com ela.

CS- Mas a loiça era da época da Dona Chica?

LA- Era, mas depois a junta retirou.

CS- Será que eles ainda estão com elas guardadas?

LA- Acho que sim, ainda devem existir alguns pratos.

CS- Antes da Junta de Freguesia adquirir a propriedade, ela era de privados, de uma família do
Porto.

LA- Só me lembro dela ser de Palmeira, da Junta de Freguesia, antes não me lembro a quem
pertencia. e depois da Junta de freguesia vender a mesma.

CS- E depois da junta de freguesia vender, esteve quanto tempo parada?

LA- Ainda esteve uns anos parado. Já passou pela discoteca, depois esteve muito tempo parado,
depois acho que aquilo esteve nas mãos da Caixa Geral de Depósitos. Enquanto era da Junta de
Freguesia, ainda se realizavam acampamentos de escoteiros.

CS- Na altura da Junta de Freguesia?

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LA- Sim, também chegou a haver o festival do “Vestido Pintado”, chegou a ir lá o Herman José E
o Nicolau Breyner, quando eles eram o “senhor contente e o senhor feliz”. Eu lembro-me, fui lá
ver, montaram um palco no jardim do palácio.

CS- Era dentro da propriedade?

LA- Era na parte exterior do palácio, mas no interior da propriedade. Era muito bonito, eu acho
que eles estiveram problemas com as arvores centenárias e não podiam fazer isso, porque aquilo
passou a património, e teve problemas, e agora aquilo está parado.

CS- Eu acho que eles vão construir um Hotel de Charme.

LA- Eu estou convencida de que se aquilo fosse para benefício da freguesia dava alguma coisa.

CS- Mas para isso é necessário o apoio da Câmara Municipal.

LA- Mas se as obras fossem concluídas, acho que acabavam com a maldição. Aquilo parou no
tempo da pandemia. Eu pessoalmente gostava que aquilo ficasse para a freguesia. Eles não sabem
preservar o património, foi pena deixar ir.

CS- Também é muito complicado manter um património daquela envergadura sem possuir
nenhuma forma de exploração.

LA- Era falar com as pessoas indicadas que conservam o património, podiam fazer alguma coisa.

CS- Pelo que eu percebi aqui existem muitos edifícios históricos.

LA- Tens aqui perto uma casa de quinta, com brasão, e tens outra no senhor do rio, Ambe e Flora.

CS- O edifício da Dona Chica também é demasiado grande para ser habitado.

LA- Sim, a Dona Chica tinha de ser para exploração, ou um hotel, salão de chá, restaurante.

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CS- Discoteca acho não.

LA- Também não diz a cara com a careta [risos].

CS- Museu também não sei se daria muito certo, porque está um pouco afastado do centro.

CS- Acha que se a Junta de Freguesia quisesse comprar o edifício novamente, a população
apoiava?

LA- Acho que sim.

CS- Eu acho que até acaba por valorizar a freguesia.

LA- Não é qualquer freguesia que tem um palácio.

CS- Chegou a ouvir alguma história de um muro que caiu?

LA- Acho que não, eu lembro-me de alguma coisa, eles andaram ali a fazer obras, mas já não me
lembro bem, sei que arranjaram da parte da frente da estrada, na estrada nacional, numa altura
que ele também estava a cair, e nessa parte.

CS- Eu também não tenho certeza.

LA- Sabes que aquilo são muros velhos, e aquilo com a chuva começa a degradar-se, aquilo era
tudo de barro.

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