Você está na página 1de 83

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Shirley Silva

A produção de daguerreótipos

no Rio de Janeiro (1840-1850)

MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

São Paulo
2016
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Shirley Silva

A produção de daguerreótipos

no Rio de Janeiro (1840-1850)

MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora


da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo como exigência parcial para obtenção do
título de Mestre em História da Ciência sob a
orientação da Profa. Dra. Márcia H. M. Ferraz.

São Paulo

2016
Banca Examinadora

_______________________

_______________________

_______________________
Aos meus pais
Foram concedidos para a realização da pesquisa e do curso de mestrado uma

bolsa-taxa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior) e o apoio financeiro da Fundasp (Fundação São Paulo).


Agradecimentos

Agradeço a minha orientadora Márcia H. M. Ferraz pela paciência, lucidez e

seriedade desde a primeira conversa. Meu agradecimento sincero.

À Capes, a todos os professores do Programa de História da Ciência e a

secretária Camila Fernandes Vicentino pela simpatia, competência e apoio desde o

primeiro dia.

Aos colegas do programa Maria Alice, André Julião, Rodrigo Andrade,

Rodrigo Trevisan, Lucas Pessoa, Raissa Bombini, Selma Cosso, Juliana Chinelatto,

Mariana Bianchini, Laércio Marzagão, Eduardo Rosa e Fernanda Brito pelas

inúmeras conversas e momentos agradáveis.

Ao professor Luis Pavão e sua equipe: Sônia Casquiço, Sandra Garrucho,

Daniel Cristo, Joana Mota, Ana Coelho e Carina Fonseca; bem como aos

funcionários da Fundação Calouste Gulkekian e do Arquivo Histórico de Lisboa, pela

calorosa acolhida no período do estágio.

A Daniella Gomes e Lucas Levitan do Museu Histórico Nacional; a Eliana

Bispo, Diana Ramos e Sheila da Silva da Biblioteca Nacional; e a Lucia Peralta,

Sérgio Lima e Marcelo Siqueira do Arquivo Nacional pelas orientações e recepção.

Ao Arquivo Histórico de São Paulo pelo apoio fundamental para que fosse

possível concluir todo o processo de mestrado. Zinia Carvalho e Joana Neves meu

muito obrigada pela solidariedade, conselhos, apoio e companheirismo diários.

Aos meus amigos/irmãos que me acompanham de perto: Geraldo Storino,

Walmor Neto, Renata Bizarria, Janaina Yamamoto, Márcio Lelis, Carol Brandão,
Inaê Azevedo, Carol Carvalho, Priscila Fragoso e Denise Fragoso. Meu eterno

agradecimento por fazerem parte de mais esse processo.

A Mary Helen, Daniela Almeida, Stephany Bevenuto e Andresa Barbosa um

agradecimento mais que especial.

Aos meus pais Sebastião e Marinalva pelo apoio e esforços incondicionais de

uma vida toda para nos oferecer estudo. Mais uma etapa foi concluída e vocês

foram, mais uma vez, fundamentais. O meu muito obrigada transbordante de

gratidão. Obrigada.

Ao meu irmão de sangue e companheiro em tudo na vida, Michael Silva,

agradeço a solidariedade em mais uma etapa da minha vida.

Por último, e mais intenso agradecimento, ao meu companheiro, Amailton

Magno Azevedo, pela paciência, apoio, conversas e amor. Você foi essencial para a

consolidação desse processo.


Resumo

O objetivo dessa pesquisa é identificar e analisar as especificidades da


produção de daguerreótipos no rio de Janeiro entre 1840-1850. O daguerreótipo foi
o primeiro processo fotográfico reconhecido e patenteado pelo governo francês em
agosto de 1839. No Brasil, foi apresentado em janeiro de 1840, pelo abade Louis
Compte na cidade do Rio de Janeiro na presença do futuro imperador d. Pedro II.
Para realização dessa pesquisa, utilizamos como documento os anúncios dos
daguerreotipistas nos jornais do período em circulação na corte e o manual de como
produzir daguerreótipos. A partir das informações contidas nos anúncios
estabelecemos categorias objetivando sistematizar os dados; são essas:
professores, comércio, moldura, acessórios, formatos, tempo, horário, cor, detalhes
e novidades. Dessa forma, foi possível comparar as informações gerais com relação
a produção de daguerreótipos e as particularidades apresentadas pelos fotógrafos
relacionando os dados e possibilitando mapear o processo de conhecimento nesse
período.

Palavras-chave: História da Ciência, História da fotografia, daguerreótipos,


daguerreotipistas, Rio de Janeiro, manuais.
Abstract

This research aims to identify and to analyze the specificities of the production
of daguerreotypes in Rio de Janeiro between 1840 and 1850. The daguerreotype
was the first photographic process recognized and patented by the French
government in August 1839. In Brazil, the abbot Louis Compte presented it in
January 1840 in Rio de Janeiro city, with the attendance of the future emperor, d.
Pedro II. To develop the research we have used as documents advertisements made
by daguerreotypers in newspapers circulating at that time at the Brazilian Court and
the manual for the production of daguerreotypes. From the information contained in
the advertisements, we have established categories aiming to systematize the data,
as follows: teachers, trade, frame, accessories, shapes, time, hours, color, detail and
innovations. In this manner, it was possible to compare general information
concerning the daguerreotypes production and the particularities presented by the
photographers, connecting data and making it possible to map the process of
knowledge from this period.

Keywords: History of science, history of photography, daguerreotypes,


daguerreotypers, Rio de Janeiro, manuals.
Sumário

Introdução ................................................................................................................ 11

Capítulo 1 ................................................................................................................. 15

Como fazer ........................................................................................................... 23

Melhoramentos no processo ................................................................................. 30

O daguerreótipo em questão ................................................................................ 31

Capítulo 2 ................................................................................................................. 34

O daguerreótipo no Brasil ..................................................................................... 34

D. Pedro II e a política de incentivo as ciências e as artes ................................... 38

Os daguerreotipistas do Rio de Janeiro ................................................................ 42

A exposição na Academia de Bellas Artes ........................................................... 69

Um caso curioso envolvendo o daguerreótipo ...................................................... 70

Conclusões .............................................................................................................. 73

Anexo 1 .................................................................................................................... 80
Introdução

O daguerreótipo, invento de autoria de Louis Jacques Mandé Daguerre

(1787-1851) e Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) foi o primeiro processo

fotográfico patenteado pelo governo francês. Tratava-se de um registro único em

placa metálica de uma imagem com grande riqueza de detalhes, que, dependendo

do ângulo de visão, poderia ser vista positiva ou negativa.

Após a apresentação nas Academias das Ciências e das Belas Artes, em

Paris, cuja reunião foi presidida pelo físico e político François Arago, no dia 19 de

agosto de 1839, o processo tornou-se público.

No mesmo ano, Daguerre publicou um manual com a explicação detalhada

de como executar o processo a fim de difundir seu uso. Em menos de um ano o

manual teve mais de quarenta versões em francês e em outras línguas.1

O manual apresenta aos interessados em produzir os objetos uma descrição

minuciosa, com figuras ilustrativas, relativas a cada etapa do processo: da

preparação da placa à obtenção da imagem e sua fixação.

Os daguerreótipos geralmente eram acondicionados em estojos revestidos

por material de qualidade, geralmente couro, ou papel pintado e apresentavam-se

em diversos tamanhos, variando entre 16,5x21,5cm (o que corresponde a uma

chapa inteira) até 4,1x5,3cm (correspondente a 1/16 do tamanho da chapa). Além

dessa característica, também poderiam ser exibidos em forma de quadros,

pingentes ou broches.

1Harmont, “Daguerre’s manual”,79. Nessa dissertação trabalharemos a versão norte-americana


publicada em 1940 cujo título é Full Description of the Daguerreotype Process.
11
Sucesso imediato na Europa, não demorou muito para chegar ao Brasil. De

fato, em janeiro de 1840, o navio “L´Orientale” atracou no Rio de Janeiro trazendo o

abade francês Louis Compte que se encarregou de apresentar o daguerreotipo ao

país.

A apresentação, que contemplou demonstrações do aparelho para produção

dos daguerriótipos, aconteceu na Hospedaria Pharoux e teve d. Pedro II como

convidado principal, o qual se entusiasmou com o processo. Neste episódio, foram

tiradas fotos do Largo do Paço, Praça do Peixe e Monastério de São Bento. O

tempo para obtenção da imagem da fachada do Paço Imperial durou nove minutos.

Após a demonstração e a divulgação dos daguerreótipos no Brasil, criou-se

uma nova demanda de consumidores, bem como, um mercado de produção para

atender à nova tecnologia.

Essa pesquisa objetiva elencar as particularidades de produção dos

daguerreótipos na cidade do Rio de Janeiro no período de 1840-1850 sob a

perspectiva da história da ciência. Escolhemos o Rio de Janeiro devido a sua

importância política, econômica e cultural; já o recorte temporal, foi traçado

considerando o período de maior produção dos objetos.

Para tanto, abordamos os anúncios relativos à daguerreotipia publicados em

importantes jornais do período, buscando identificar quem atuava no Rio de Janeiro,

assim como dados referentes ao processo e suas modificações para verificar como

as informações chegavam à capital da Corte no Brasil.

Sendo assim, a análise minuciosa das informações contidas nos anúncios

nos propiciou levantar dados que possibilitaram o cruzamento com as informações

contidas no manual. Trata-se de um mapeamento que não pretende abarcar a


12
totalidade dos anúncios, mas permite apresentar um quadro dos daguerreotipistas e

processos de produção utilizados no Rio de Janeiro no período delimitado.

Esta dissertação está organizada em dois capítulos: no primeiro, iniciamos

apresentando os processos que envolveram os trabalhos em torno da fixação da

imagem em uma superfície sensível à luz, destacando as tentativas de Niépce e

Daguerre e, posteriormente, seu reconhecimento pelo governo francês. Em seguida,

abordamos especificamente o modo de produção dos daguerreótipos a partir do

manual de Daguere, apresentando as cinco etapas de trabalho, utilizando algumas

das figuras ilustrativas do próprio manual como recurso. Por fim, elencamos alguns

melhoramentos aplicados ao processo que resultaram na redução do tempo de

exposição e na nitidez da imagem, por exemplo.

No segundo capítulo tratamos da produção de daguerreótipos no Rio de

Janeiro. Para compreensão do período e a relação que d. Pedro II estabeleceu com

as ciências e as artes, realizamos uma breve contextualização histórica. Isto posto,

realizamos a apresentação dos anúncios acrescentando dados complementares

referentes aos daguerreotipistas e ao processo; para, em seguida, relacionarmos

tais elementos com as informações obtidas a partir da análise do manual. Por fim,

tratamos da primeira exposição na Academia de Bellas Artes em que

daguerreótipos compuseram o conjunto de obras expostos e, ainda, um caso

curioso noticiado no Jornal do Commercio em fevereiro de 1840 envolvendo o

daguerreótipo.

Não podemos deixar de mencionar que essa dissertação teve como objetivo

complementar auxiliar os conhecimentos referentes à conservação dos

daguerreótipos. Vale ressaltar que para realizar a conservação e/ou o restauro de

13
objetos é fundamental que o responsável tenha domínio sobre o método de

produção do objeto a ser conservado para garantir que sejam realizadas ações que

não o comprometam. Desta forma, procurou-se conhecer, em partes, o processo de

confecção de daguerreótipos no Rio de Janeiro a fim de auxiliar nesse trabalho.

Com este trabalho esperamos contribuir para as pesquisas relacionadas ao

modo de produção dos daguerreótipos na cidade do Rio de Janeiro no período

abordado. Esperamos também cooperar com a importante tarefa realizada no

âmbito das instituições de preservação da memória na conservação desse frágil

material.

14
Capítulo 1
Daguerreótipos: o manual e a técnica

Conhecimentos específicos de física e de química eram fundamentais para

que fosse possível obter um resultado no qual a imagem fixada ficasse “real”. Para

tanto, diferentes experimentos, em diversas maneiras, foram realizados a fim de que

esse objetivo fosse alcançado.

Tais estudos resultaram no que posteriormente foi denominado fotografia.

Segundo Batchen, no texto “The naming of photography”, historiadores da fotografia

discutem os primórdios da palavra que quer dizer “escrita com luz”. Entretanto,

destacamos que o termo e suas variantes (fotografado, fotográfico, processo

fotográfico) foram utilizadas em cartas trocadas, em 1839, entre Talbot e Herschel.2

O matemático e físico inglês Henry Fox Talbot (1800-1877), ao sensibilizar

uma folha de papel com sais de prata conseguiu registrar o contorno das formas de

objetos. O aperfeiçoamento desse processo culminou no que ele denominou

Calótipo, esse, apresentado em 10 de junho de 1841, na Royal Society.

Já o matemático e astrônomo, também inglês, John Herschel (1792-1871),

que mantinha grande preocupação profissional pelas palavras e suas declinações, 3

contribuiu muito para estudos relacionados à sensibilização dos papéis, dentre

outras questões.

O daguerreótipo foi patenteado e reconhecido pelo governo Francês e

apresentado na Academia das Ciências e na das Belas Artes pelo físico e político

2 Batchen, “The naming of photography.” 24-7.


3 Ibid.
15
François Arago no dia 19 de agosto de 1839.4 Após a declaração oficial, diversas

pessoas reivindicaram ter descoberto, através de diferentes métodos, uma maneira

de fixar a imagem. Citamos como exemplo os contemporâneos5: William Henry Foz

Talbot (1800-1877), Hyppolyte Bayard (1801-1897), John Herschell (1792-1871),

Hercule Florence (1804-1879) 6 e Jean-Louis Lassaigne (1800-1859). 7 Tais

personagens, posteriormente aparecem na história da fotografia.

Salientamos, contudo, que no ano de 1827, Joseph Nicéphore Niépce (1765-

1833), considerado, posteriormente, como um dos responsáveis pela invenção do

daguerreótipo, obteve uma imagem da janela de sua casa em Saint-Loup-de-

Varennes (França) a qual foi nomeada de “Point de Vue du Gras”. O termo “point de

vue” foi utilizado para diferenciar as experiências realizadas pela ação da luz das

cópias em gravura 8 sendo essa, considerada a primeira imagem fixada em um

suporte sensível à luz (figura 1). Em 1952, o historiador inglês Helmut Gernsheim a

localizou e essa, atualmente, compõe a coleção de Harry Ranson Humanities

Research Center da Universidade do Texas, Austin.

4 Amar, “História da técnica”, 21.


5 Ibid. Segundo Amar, o autor Pierre Harmont enumera, em 1839, 24 pessoas como pretensos
inventores da fotografia.
6 Hercules Florence, francês que vivia no Brasil antes do anúncio da fotografia, já fazia uso de

processos fotográficos para impressão, conforme registros deixados por ele e analisados
posteriormente pelo historiador Boris Kossoy entre 1972 e 1976. Os procedimentos utilizados por
Florence foram reconstituídos passo a passo, a pedido do historiador, em 1976, nos laboratórios do
Rochester Institute of Technology.
7 Lavédrine, [re]Conocer y conservar las fotografias antiguas, 32.

8 Batchen, 23.

16
Figura 1: Considerada a primeira imagem fixada em suporte – Niépce

Niépce, em 1816, descreveu novas experiências ao reproduzir desenhos

mecanicamente pela ação da luz. Escreveu, em correspondência com o irmão –

residente na Inglaterra, 9 sobre uma fotografia que obteve com sais de prata e

imagem de valores invertidos (o que mais tarde se denominou negativo). Tais

trabalhos permearam diversos campos de atuação em um longo percurso

temporal.10

Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), e Niépce estabeleceram

contato através do óptico Charles Chevalier no ano de 1826. Daguerré além de ser

um homem de negócios, era pintor. Tornou-se famoso após a criação de um

diorama na atual Praça da República, em Paris.

O diorama propiciava simular cenas reais a partir da combinação de efeitos

criados por iluminação em telas pintadas. Na medida em que a pintura era iluminada

pela parte de trás, a cena parecia de dia; e conforme a rotação do espelho

9 Amar, 17.
10 Nesta dissertação nos ateremos aos trabalhos relativos à fixação da imagem.
17
avançava, produzia-se a imagem noturna.11 O local de exposição foi inaugurado em

1822 e exibia grandes telas de pinturas panorâmicas de 14x22 metros.

Ao saber dos estudos que Niépce desenvolvia, Daguerre enviou-lhe uma

carta e, a partir de então passaram a se comunicar. Em 14 de dezembro de 1829,

com a finalidade de aperfeiçoar ainda mais o processo já iniciado por Niépce e

melhorado por Daguerre, assinaram o primeiro contrato com o título comercial de

Niépce- Daguerre. A partir de então, outros contratos foram assinados entre

Daguerre e Niépce e, depois, entre Daguerre e seu filho, Nicephore Isidore.12

Daguerre continuou com os experimentos. Ao longo do trabalho constatou

que, ao aplicar iodo na placa de cobre e utilizando vapor de mercúrio, seria possível

reforçar as imagens quase invisíveis à saída da câmara escura. Após quatro anos,

utilizou água salgada para fixar as imagens. Através desses resultados conseguiu

diminuir o tempo de exposição para 15 minutos e, ainda, melhorar a qualidade das

imagens.13

Sendo assim, em 1838, com o argumento de que o processo alcançado por

ele era completamente diferente do apresentado inicialmente, Daguerre conseguiu

com que Nicephore assinasse um novo contrato no qual concordava que o invento

deveria se chamar daguerreótipo.

11 Lavédrine, 34. Tradução nossa


12 Para mais detalhes sobre os contratos assinados entre Daguerre e Niépce, vide Batchen, 24-5.
13 Amar,19.

18
Daguerre perdeu o diorama em um incêndio em março de 1839. A notícia foi

anunciada no Brasil pelo Jornal do Commercio na edição de primeiro de maio de

1839. A seguir a notícia: 14

“O diorama de Mr. Daguerre, do creador deste prodígio artístico,


aonde os Parisienses ião viajar por paizes remotos, sem sahir da capital do
mundo civilizado, foi incendiado.
Não he somente a perda dos divinos quadros do diorama que a
França chora, he também a immensa colecção dos objetos de arte, a galeria
de quadros de Mr. Daguerre, tanto do seu pincel como de outros, e o bello
gabinete de physica com que elle fizera a extraordinária descoberta da
influencia da luz sobre hum novo reactivo, que aplicada a câmara obscura,
desenha todos os objetos fixos com a verdade da natureza.
O autor do tumulo de Napoléon, do Valle de Chamouny, cuja pintura
era a continuação dos objectos naturaes, e se confundia huma com as
outras; o homem que fez o palácio de bronze para a grande a Lampada
maravilhosa, póde produzir novos primores d`arte, mas, a perda dos
trabalhos de suas viagens, da sua bibliotheca e dos seus álbuns, he
irreparável. A França soffreu certamente hum grande desastre com o
incêndio do diorama.”

Desta forma, já sem sua principal fonte de renda e após constatar que a

técnica para realização do daguerreótipo tinha avançado, Daguerre buscou vender o

seu segredo.

O invento foi anunciado na Academia das Ciências e de Belas Artes em 07 de

janeiro de 1839, por sugestão de François Arago, após um encontro. No entanto,

devido à situação política da França apenas em junho de 1839 o Estado passou a

14 Aqui, como em todos os outros casos, manteremos a mesma ortografia utilizada nas fontes.
19
conceder renda vitalícia de 6.000 francos a Daguerre e de 4.000 a Niépce.15 Apenas

em 19 de agosto do mesmo ano, é que o método tornou-se público.

O manual de como realizar o procedimento foi escrito por Daguerre para que

as pessoas pudessem executar sem restrição todo o processo. Esse foi editado com

patrocínio do governo e um contrato foi firmado com Alphonse Giroux, negociante

de curiosidades e carimbos, concedendo-lhe o direito de vender os materiais e

equipamentos.16

O manual recebeu o título de Historique et Description de procedes du

Daguerreótipo et du Diorama. Nele, há uma descrição minuciosa de como produzir o

daguerreótipo, inclusive com figuras ilustrativas; assim como o processo que

envolveu a criação; o texto da concessão de pensão da França à Daguerre e a

Niépce; o pedido explicativo de M. Arago; dentre outras informações. Segundo

Harmant, em menos de um ano o manual teve mais de 40 versões em francês e em

outras línguas.17

O manual

Esse manual, tanto a tradução ao inglês, aqui utilizada, quanto como o escrito

original em língua francesa, descreve todo o processo para confecção de

daguerreótipos. A tradução foi realizada por J. S. Memes, a partir da versão original,

conforme se vê na figura 3.

15 Wood, “A state pension for L. J. M. Daguerre”, 489-90.


16 Ibid.
17 Nessa dissertação utilizaremos o manual na versão de língua inglesa publicada no ano de 1840,

em Nova York, como versão fac-similar cujo título é: A Full Description of the Daguerreotype Process
20
O tradutor em um breve texto, também na página de rosto, chama a atenção

para a importância do material como forma de divulgação de informações não

restringindo-as a públicos específicos.

Figura 2: Capa do manual A Full Description of the Daguerreotype Process

O processo foi dividido em cinco operações, descrita da seguinte forma:

“1. A primeira consiste em polir e limpar a placa, de forma a


prepará-la para receber a camada sensível, sobre a qual a luz imprime a
imagem.
2. A segunda é a aplicação da camada.

21
3. A terceira consiste em colocar a placa preparada de forma correta
na câmara escura para a ação da luz, com o propósito de receber a imagem
da natureza.
4. A quarta faz surgir a imagem que, no início, não era visível na
placa quando retirada da câmara escura.
5. A quinta e última operação tem como objetivo remover a camada
sensível na qual a imagem foi inicialmente impressa, pois esta camada
continuaria a ser afetada pelos raios de luz, uma propriedade que necessaria
e rapidamente faria destruir a imagem.”18

Para cada etapa do trabalho foram estruturados tópicos nos quais constam os

instrumentos necessários e a descrição minuciosa do “como fazer”. Para tanto, há a

descrição dos cinco procedimentos e, em seguida, na parte intitulada “Explanation

of the apparatus used in the process” encontram-se os desenhos ilustrativos e

tópicos explicativos.

Figura 3: trecho da página 1

Como sugestão, o tradutor instruiu os leitores, em um parágrafo, alertando-os,

a partir de sua própria experiência, para dois requisitos considerados fundamentais

para o sucesso no procedimento: a devida preparação da placa e a limpeza.

18 Memes, A full description of the daguerreotype process, 1. Aqui, como em todos os outros casos, a
tradução é nossa.
22
“O tradutor gostaria de acrescentar, a partir de sua própria
experiência, que dois requisitos são indispensáveis nesse experimento;
requintado polimento da placa, e a limpeza extrema em todas as operações;
poeira e manchas na placa resultam em vazios na imagem”19

A partir desse curto parágrafo Memes transmite ao leitor duas pequenas

informações que chamam atenção para os cuidados na realização das etapas. Vale

ressaltar que o manual tinha como objetivo transmitir aos interessados todos os

procedimentos necessários para confecção dos daguerreótipos.

Como fazer

Nesse tópico abordaremos as instruções práticas do manual utilizando como

recurso as ilustrações e metodologia: a divisão por operações.20 Ressaltamos que

há diferentes figuras ilustrativas no manual demonstrando o mesmo processo para

melhor compreensão do leitor.21

Objetivando alertar os interessados, há um parágrafo introdutório no qual

Daguerre reforça a importância dos materiais utilizados. No que se refere à placa

(suporte) - esta deve ser de uma espessura suficiente e lisa, para evitar distorções

nas imagens.

1. Preparação da placa22

Instrumentos: frasco com azeite de oliva, algodão, pó fino de pedra pomes.

Nessa etapa são apresentados os passos para preparação da placa.

19 Ibid., 9.
20 Não é nosso objetivo detalhar ou discutir as minúcias referentes às operações químicas do
preparo. Sendo assim, nos concentraremos no conjunto que envolve o processo de preparação.
21 Selecionamos para esse trabalho apenas algumas imagens.

22 Ibid., 1.

23
Figura 4: estrutura de apoio placa (plano visto de cima)

A figura 4 representa a estrutura de ferro para apoio da placa. Ainda

relativamente a essa, Daguerre chamou atenção para que se respeitasse as

proporções entre o tamanho da placa e da câmara escura.

Para o polimento, utilizava-se uma chapa de madeira na qual a placa era

fixada por meio de filetes (figura 5, indicação B) exatamente do mesmo material da

placa. Segundo as instruções, o polimento deveria ocorrer com movimentos leves,

circulares e constantes a fim de não criar desproporções e, consequentemente a

distorção da imagem.

A figura 6 representa os filetes utilizados na preparação para a segunda

etapa, pois sem eles o resfriamento do iodo não seria igualmente distribuído

tendendo a camada ficar mais fina no centro e mais grossa nas bordas.

Figura 6: filetes

Figura 5: estrutura de madeira para apoio da placa


24
2. Aplicação da camada sensível23
Instrumentos: caixa, placa pequena, 4 pequenas estruturas metálicas,

pequenos filetes, uma caixa com pequenos prendedores, um frasco de iodo.

Após a preparação da placa, a etapa seguinte é a sensibilização. Para tanto,

os instrumentos ilustrados nas figuras 7 e 8 representam, sob diferentes

perspectivas, a caixa necessária para realização do processo.

Figura 7: caixa plano lateral Figura 8: plano superior

O uso da caixa era fundamental para que o processo de sensibilização da

placa fosse eficiente.

Nas imagens 9 e 10 está representado, sob diferentes perspectivas, uma

espécie de quadro (frame) no qual a placa, após sensibilização, deveria ser

guardada. O frame exercia dupla função: adaptador da placa na câmara escura e

protetor da camada sensível de iodo dos efeitos da luz.

A parte da frente do frame é composta por duas folhas, as quais deveriam

ser abertas para a exposição à luz e fechada após o fim do processo.

23 Ibid., 3.
25
Imagem 10: portas do frame aberta para
receber os raios de luz e registrar a imagem
Imagem 9: frame fechado – B representa as
– plano superior
duas folhas – plano lateral

3. Exposição24

Instrumentos: câmara.

Na câmara escura foram realizadas adaptações para possibilitar o registro

fotográfico. As figuras 11 e 12 exibem o equipamento sob o plano lateral e superior,

respectivamente.

Dentre as instruções, havia um alerta para o leitor no que se refere a

obtenção da imagem invertida, que se apresentava como um problema concernente

a essa etapa. Como solução, é sugerida a instalação de um espelho na frente do

visor, conforme indicado na figura 12, J e K. No entanto, esse arranjo prejudicava o

efeito na placa ocasionando a perda de luz e o aumento do tempo de exposição.25

24 Ibid., 5.
25 As setas são indicações feitas por nós.
26
Ajuste do foco

Visor

Figura 11:– câmara escura – plano lateral

Folhas abertas

Espelho

Frame
montado
Figura 12: câmara escura – plano superior

4. Revelação26

Instrumentos: um vidro contendo pelo menos três onças de mercúrio, 27

lâmpada, um funil longo e fino de vidro.

Nesta etapa submetia-se a placa aos vapores de mercúrio para revelação

da imagem latente. A figura 13 representa o mecanismo a partir de um plano lateral.

26 Ibid., 6.
27 Equivalente a aproximadamente 89 ml.
27
Figura 13: plano lateral

5. Lavagem28

Instrumentos: uma solução saturada de sal comum ou uma solução fraca de

hipossulfito de sódio puro, um frasco com água destilada.

Para finalização do processo era necessário lavar a placa para remover os

produtos químicos. A figura 14 representa esse procedimento.

28 Ibid., 7.
28
Figura 14: plano superior - aparato para lavagem

As explicações inseridas no manual procuram apresentar instruções

completas e didáticas. No entanto, não devemos desconsiderar que há preparações

complexas, do ponto de vista dos químicos, as quais exigiam o mínimo de

entendimento por parte do leitor.

A partir das instruções contidas nesse manual, em suas várias edições e

traduções, a produção de daguerreótipos passou a ser realizada no mundo. Cabe

frisar que a sua publicação nos Estados Unidos contribuiu de maneira significativa

para a difusão do processo e ampliação do público.

29
Melhoramentos no processo

Após a divulgação dos procedimentos para confecção dos daguerreótipos,

inúmeras pessoas passaram a produzir os objetos motivados por diferentes

interesses. Tais experiências conduziram a aperfeiçoamentos no processo, como os

anunciados já no manual em sua versão original, Historique et Description de

procedes du Daguerreótipo et du Diorama, publicado meses depois do anúncio

oficial. De fato, foram acrescentados nas páginas finais, notas e observações do

óptico do observatório astronômico da marinha, Lerebous. Esse, em nota de rodapé,

acrescentou que ao substituir as lentes indicadas por Deguerre por outras mais

amarelas e livres de coloração diminuiu-se o tempo da operação de 5 à 6 minutos.29

Assim como essas, diversas adequações foram realizadas objetivando a

otimização do processo. O conservador Luís Pavão destaca: sensibilização da prata

alternadamente com vapores de iodo e de bromo, o que propiciou um aumento da

sensibilidade de 10 à 100 vezes; elaboração de novas objetivas mais luminosas e

desenhadas especificamente para serem utilizadas para fotografia; e melhora da

iluminação dos estúdios.30

Além dessas, no ano de 1840 o físico francês Armand-Hippolyte–Louis Fizeau

introduziu a viragem à ouro. Através dessa técnica a imagem, antes muito instável,

adquiriu maior estabilidade mecânica, maior contraste e tons mais quentes.31

Tais dados nos levam a pensar que, assim como Larebous, outros

daguerreotipistas do período não se limitaram a apenas reproduzir tal qual as

29 Para maiores detalhes de seus estudos, vide Lerebours, A treatise on photography.


30 Pavão, Conservação de Colecções de Fotografia, 8.
31 Encyclopedia of Nineteenth-Century Photography, 1° ed., s.v. “Toning.”

30
orientações ou métodos estabelecidos por Daguerre, o que possibilitou novas

experiências e, consequentemente, novos melhoramentos.

O daguerreótipo em questão

Tecnicamente o daguerreótipo é composto apenas por metais: cobre, prata,

ouro e mercúrio. A imagem gerada era única e reproduzia com nitidez os detalhes

da cena. Dependendo do ângulo de visão poderia ser vista positiva ou negativa.32O

estojo ajudava na visualização da imagem criando uma zona escura que auxiliava

na leitura.

Geralmente os daguerreótipos eram acondicionados em estojos em duas

partes articuladas com uma dobradiça, podendo conter uma ou duas imagens. O

exterior poderia ser revestido por um tipo de couro ou de papel pintado.33 Além dos

estojos, eles poderiam ser montados em quadros com tamanhos variados. Uma

chapa correspondia ao formato de 16,5x21,5 cm, mas as suas frações também

eram formatos comuns sendo ½ equivalente a 10,8x16,5 cm, ¼: 8,2x10,8 cm, 1/6:

7,1x 8,3 cm, 1/8: 5,3x8,2 cm e 1/16: 4,1x5,3 cm. As imagens abaixo ilustram o

processo:34

32 Os termos “positivo” e “negativo” foram introduzidos por Sir John Frederick William Herschel em
1840. Para mais detalhes, vide ibid. “Herschel, Sir John Frederick William, Baronet.”
33 Pavão, 78

34 Arte da designer Denise dos Santos Fragoso.

31
Figura 15: ilustração montagem daguerrótipo (nosso acervo)

Figura 16: daguerreótipo em estojo (nosso acervo)

O alto tempo de exposição, devido à baixa sensibilidade dos produtos

químicos, levou à produção de retratos em estúdios fotográficos, pois exigia a

imobilização do retratado durante a sensibilização da placa. Assim, era comum o

uso da forquilha como acessório auxiliar para que o retratado permanecesse imóvel

durante o tempo necessário, a fim de que a imagem não saísse tremida. Pedro
32
Vasquez escreveu que o longo tempo de exposição, o qual poderia chegar a um

minuto, transformava os estúdios fotográficos em um local de tortura pelos

acessórios utilizados35. Abaixo ilustração do instrumento:36

Figura 17: ilustração forquilha (nosso acervo)

A necessidade de mobilização não impediu que o processo tivesse inúmeros

adeptos que ansiavam por serem retratados e pagavam altas somas para isso. No

Brasil, não foi diferente, como veremos no capítulo seguinte.

35 Vasquez, A fotografia no Império, 27.


36 Ilustração de Daniela Silva de Almeida. Releitura do equipamento.
33
Capítulo 2
Daguerreótipos, daguerreotipistas e processos de produção utilizados no Rio
de Janeiro

O daguerreótipo no Brasil

A partir de notícias dos jornais é possível constatar que o daguerreótipo foi

anunciado como uma grande descoberta positiva, a qual possibilitaria registrar a

imagem com tal perfeição que seria muito próxima ao real. Seus desdobramentos

permitiram conceber a ideia de que a fotografia corresponderia à reprodução da

realidade como verdade inquestionável.

“Mas, o que he certo, apesar de todo esse desconto, he que estas


copias são tão extremas, tem hum tal relevo e tamanha verdade, como não
se pode imaginar sem as ter visto. A delicadeza dos traços, a pureza das
fórmas, a exactidão e harmonia dos tons, a perspectiva aérea, o primor das
miudezas, isso tudo se representa com a suprema perfeição (...)
He innegavel, à vista do que levamos apontado, que este invento,
hum dos mais admiráveis dos nossos tempos, terá largas consequências em
todas as artes do desenho, e contribuirá não só para o progresso do luxo útil
e aformoseador da sociedade, mas também para o maior aproveitamento das
viagens, quer sejam scientificas, ou artísticas ou moraes, quer de simples
divertimento e recreação. O autor, porém, ainda não declarou o seu segredo;
e esta immensa revolução, para arrebentar e espalhar-se por todo o mundo,
só aguarda huma palavra delle, o seu fiat lux.”37

O daguerreótipo chegou ao Brasil através do navio escola “L´Orientale” sob o

comando do Capitão Lucas e com a presença do abade francês Louis Compte. Este

navio certifica a intenção do abade em difundir o processo no Brasil.

37 Jornal do Commercio, 01/05/1839, Ano XIV, n° 98, 2.


34
D. Pedro II foi o convidado principal para a demonstração do daguerreótipo na

Hospedaria Pharoux, no Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1840. Cabe assinalar

que o navio escola estava munido de instrumentos científicos, uma biblioteca

especializada, além da câmara fotográfica.38

Compte foi o responsável por demonstrar e explicar o funcionamento do

equipamento, e também, produzir a primeira fotografia oficial do Brasil. O tempo

para obtenção da imagem da fachada do Paço Imperial durou nove minutos. Neste

episódio foram tiradas fotos do Largo do Paço, Praça do Peixe e Monastério de São

Bento. O Jornal do Commercio noticiou acontecimento da seguinte maneira no dia

17 de janeiro de 1840:

“Finalmente passou o daguerreotipo para cá os mares, e a


photographia, que até agora só era conhecida no Rio de Janeiro por theoria, -
he-o actualmente também pelos factos que excedem quanto se tem lido
pelos jornaes tanto quanto vai do vivo ao pintado.
Hoje de manhã teve lugar na hospedaria Pharoux hum ensaio
photographico tanto mais interessante, quanto he a primeira vez que a nova
maravilha se apresenta aos olhos dos Brazileiros. Foi o abbade Combes [sic]
quem fez a experiência: he hum dos viajantes que se acha a bordo da
corveta franceza l´Orientale, o qual trouxe comsigo o engenhoso instrumento
e Daguerre, por causa da facilidade com que por meio delle se obtem a
representação dos objectos de que se deseja conservar a imagem. He
preciso ter visto a cousa com seus próprios olhos para se poder fazer ideia
da rapidez e do resultado da operação. Em menos de nove minutos o
chafariz do largo do Paço, a praça do Peixe, o mosteiro de S. Bento, e todos
os outros objectos circumstantes se acharão reproduzidos com tal fidelidade,
precisão e minuciosidade, que bem se via que a cousa tinha sido feita pela
própria mão da natureza, e quasi sem intervenção do artista. Inútil he
encarecer a importância da descoberta de que já por vezes temos ocupados

38Kossoy, Origens e expansão da fotografia, 17. Não foram encontradas referências de quais seriam
esses aparelhos e nem a especialidade da biblioteca.
35
aos leitores; a exposição simples do facto diz mais do que todos os
encarecimentos.”

Figura 18: Daguerreótipo. Paço da Cidade, Rio de Janeiro, 1840.

Após a apresentação, a produção de daguerreótipos ultrapassou o que seria

uma simples demonstração: o imperador – o primeiro a comprar a câmera de Felício

Luzaghy por 250 mil reis, em março de 1840 39 – impulsionou a produção do que se

tornaria um artigo de luxo. D. Pedro II familiarizou-se rapidamente com o novo

aparelho. Em seu diário, o Príncipe Adalberto da Prússia, em anotação no dia oito

39 Ferrez, A fotografia no Brasil: 1840-1900, 20.


36
de novembro de 1842, indicou que o Imperador já tinha feito daguerreótipos

diversas vezes.40

Segundo Ferrez, há inúmeras fotografias tiradas pelo próprio imperador com

inscrição no verso “fotografia tirada por mim mesmo”. Tanto as fotografias

produzidas por ele, quanto as acumuladas, compõem um grande acervo fotográfico,

o qual foi doado à Biblioteca Nacional e identificado como Coleção Teresa

Cristina. 41 Para Pedro Vasquez, d. Pedro II se tornou figura central da fotografia

brasileira oitocentista, devido a sua dedicação. 42

As pessoas mais abastadas passaram a adquiri-los como representação de

status e prestígio tornando-se principal consumidora dos daguerreótipos.

Como podemos observar na imagem abaixo (figura 19), o Imperador aparece

fotografado com a forquilha, objeto que, como vimos, auxiliava o retratado a se

manter imóvel.43

Figura 19: Daguerreótipo imperador d. Pedro II

40 Ibid., 20
41 Ibid.
42 Vasquez, 9.

43 Objeto ilustrado na página 34 dessa dissertação.

37
D. Pedro II e a política de incentivo as ciências e as artes

No século XIX o Rio de Janeiro se transformou na capital do Império e

também em centro cultural, político e econômico do país. A vinda da família real

para o Brasil, em 1808, teve grande impacto nos rumos da história do Brasil e,

principalmente, na do Rio de Janeiro. O aparato administrativo português transferido

contou com aproximadamente 15.000 pessoas, dentre as quais: fidalgos e

dignatários, funcionários régios, padres, advogados e praticantes de medicina 44

Como consequência, inúmeras transformações, sobretudo políticas e estruturais,

foram instauradas a fim de corresponder ao novo status no qual a cidade estava

inserida.

Em 1840, época da chegada do daguerreótipo, o Império era regido por

Pedro de Araújo Lima: o marquês de Olinda. 45 Tal figura representava o poder

regencial. Diante da insatisfação de setores da elite com relação à regência foi

criado, em 1840, o Clube da Maioridade através do qual, alguns deputados

passaram a exigir que o futuro imperador assumisse o poder.

Por meio dessa estratégia política, o Clube articulou uma alternativa para a

situação. Assim, a posse antecipada do imperador seria uma saída estratégica para

garantir o poder centralizado nacionalmente.46

No dia 18 de julho de 1841, d. Pedro II foi aclamado e coroado aos 16 anos

incompletos.47 Após esse ritual, deu-se início ao segundo reinado, bem como, ao

período que implementaria a monarquia no Brasil (1841-1864).

44 Mauad, “Imagem e auto imagem do segundo reinado”,12.


45 Nodia 19 de setembro de 1837 foi demitido Feijó e instaurada a substituição interina pelo marquês
de Olinda. No dia 22 de abril de 1838, Olinda foi eleito regente do Império.
46Schwarcz & Starling, Brasil: uma biografia, 267.

38
Como consolidação do processo de coroamento, em setembro de 1843, d.

Pedro II casou-se com Teresa Maria Cristina, princesa das Duas Sicílias, com quem

teve quatro filhos, dos quais dois sobreviveram: Isabel do Brasil (1846-1921) e

Leopoldina de Bragança e Bourbon (1847-1871).

D. Pedro II ficou conhecido como o imperador que incentivava as ciências, as

artes, bem como, o avanço da civilização brasileira. No entanto, não podemos

deixar de destacar que o processo educacional ao qual o imperador foi conduzido, o

qual tinha como objetivo principal transformá-lo em um chefe de Estado perfeito,

propiciou interesse por diversos campos de atuação.48

D. Pedro I, seu pai, não teve uma educação sofisticada como o filho. Heitor

Lira o descreve como sendo de temperamento impulsivo e volúvel, contudo com um

fundo de bondade. 49 Já sua mãe, Dona Leopoldina, recebeu uma educação

religiosa e gostava de estudar botânica, mineralogia, astronomia e falava diversas

línguas.

Quando seu pai abdicou do trono e resolveu voltar para Portugal (1831)

deixou-o com cinco anos de idade sob os cuidados de José Bonifácio, o qual ficou

responsável por sua educação. Contudo, devido a divergências, foi deposto após

dois anos no cargo. Embora tenha passado pouco tempo como tutor responsável,

foi bastante influente para ele.

Após a deposição de Bonifácio, o sucessor foi Manuel Inácio de Andrade

Souto Maior Pinto Coelho, o Marquês de Intanhaém, juntamente com Pedro

47 D.Pedro II nasceu no dia 2 de dezembro de 1825.


48 Carvalho, D. Pedro II, 10.
49 Lyra, História de dom Pedro II, 10.

39
Barbosa (mordomo) e Frei Beto de Santa Maria (carmelita). Destacamos que, além

dos nomes citados, outros tantos tiveram participação influente sob o imperador

que, desde muito cedo foi educado através de aulas de idiomas, ciências, literatura,

história, dentre outras. Sua educação também compreendia uma rígida relação de

cumprimento de regras e horários.

Intanhaém elaborou um documento no qual constavam normas que todos os

funcionários deveriam seguir rigorosamente. Segundo o historiador José Murilo de

Carvalho, o educador almejava que o imperador fosse dotado de atributos, tais

como: sábio, justo, honesto, pacifista, dentre outros; dessa forma, ele seria um

governante dedicado, perfeito e capaz de assumir as suas obrigações priorizando o

coletivo e não interesses específicos.50

Nesse contexto, o interesse pelas ciências e artes foi nutrido durante toda a

formação do imperador. As relações construídas ao longo da vida, não só política,

propiciaram que ele estivesse conectado com pessoas do Brasil e do mundo.

Sempre que possível fazia questão de receber estrangeiros que estavam de

passagem: físicos, químicos, naturalistas, dentre outros, a fim de se conectar com o

mundo artístico-científico.51

No entanto, esse grande interesse pelas ciências e as artes, fizeram com que

o imperador não desse muita atenção às questões administrativas do poder. Críticos

do período, como a Revista Ilustrada, produziam inúmeras caricaturas nas quais

atitudes do imperador e a situação do país eram questionadas.

50 Carvalho, 27.
51 Sena Filho, “Dom Pedro II e as ciências”, 26.
40
São desse período as caricaturas que retratam imperador como “Pedro

Banana” e “Pedro Caju”; tais apelidos são decorrentes da sua indiferença com

relação aos assuntos referentes aos negócios do Estado, o que já era possível

constatar publicamente.52

No que se refere a instituições científicas, salientamos que a participação e

apoio político e econômico de d. Pedro II foram fundamentais. O Imperador não só

apoiou diversas instituições como foi sócio de 125 delas pelo mundo. 53 Dentre

essas, destacamos três instituições brasileiras: o Instituto Histórico Geográfico

Brasileiro (IHGB), a Academia Imperial de Belas Artes e o Colégio Pedro II.

Embora o IHGB tenha sido criado no ano 1838, foi a partir dos anos 40 –

quando o imperador passou a frequentar as reuniões na sede no Paço Imperial –

que houve um grande estímulo da produção intelectual por parte da elite que

passou a frequentar o instituto.54

A Academia Imperial de Belas Artes (1826) também recebeu grandes

incentivos do imperador, inclusive presenteando estudantes com medalhas, prêmios

e bolsas de estudo para formação no exterior. Em contrapartida, os artistas ficavam

responsáveis por reproduzir retratos oficiais de d. Pedro II.

Destacamos que, além da produção de retratos oficiais do imperador, a

Academia também ficou encarregada pela produção de uma iconografia oficial do

império.55

52 Schwarcz, As barbas do imperador, 416.


53 Sena Filho, 25.
54 Schwarcz, 127.

55 Ibid., 145.

41
Outra instituição importante do período foi o colégio “Imperial Colégio Pedro

II” fundado em 1838. Além de ter o ensino básico voltado às ciências, também teve

o incentivo e participação do imperador.56

Tais instituições e os intelectuais que compunham esse círculo, assim como,

a memória, a cultura e a ideia de nacionalidade integraram o alicerce para que o

imperador pudesse manter a monarquia centralizada e, ainda, viabilizasse a

construção de uma identidade nacional brasileira.57

Em relação à fotografia, d. Pedro II destacava-se pelo empenho pessoal no

incentivo àquilo que considerava na época importante para o desenvolvimento da

cultura, da ciência e das artes em geral. 58 Não podemos deixar de ressaltar a

magnitude que o invento causou no imaginário social e científico.

Os daguerreotipistas do Rio de Janeiro

Na capital do império brasileiro o primeiro daguerreótipo produzido

aconteceu, como vimos, na presença do imperador d. Pedro II que, embora muito

novo, já era considerado um grande incentivador das artes e, também, um curioso.

Como demonstração do seu apreço e a fim de iniciar a própria produção de

fotografias, adquiriu em março do mesmo ano uma câmera de Felicio Luzaghy. 59

No entanto, a produção dos daguerreótipos não ficou restrita à realeza.

Pouco tempo depois, já se via nos principais jornais de circulação na Corte, como

por exemplo: “Jornal do Commercio” e “Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,

Universal”, anúncios de divulgação do trabalho de daguerreotipistas. Nesse

56 Ibid., 150.
57 Ibid., 127
58 Ibid., 345.

59 A loja de Felicio Lugazhi estava localizada na rua do Ouvidor, 116.

42
contexto, realizamos nessas publicações um levantamento buscando reunir

informações associadas à produção de daguerreótipos na cidade do Rio de Janeiro.

Sendo assim, primeiramente apresentaremos os anúncios dos

daguerreotipistas. Na etapa seguinte, relacionaremos os dados levantados com as

informações obtidas através do estudo do manual A Full Description of the

Daguerreotype. A partir desse levantamento, pretendemos reconstruir

historicamente o processo de confecção de daguerreótipos no Rio de Janeiro.

Como nossa preocupação não é com a frequência em que o anúncio foi

veiculado, cada um deles será apresentado uma vez, ainda que o mesmo anúncio

tenha sido localizado diversas vezes em outras datas e jornais. A seguir trataremos

de apresentar as informações levantadas.

Bianchi

Figura 20: Jornal do Commercio – 07/10/1840

Nesse anúncio observamos a venda do equipamento de um fabricante

estabelecido em Paris. Barthelemy-Urbain Bianchi (1821-1898), francês, foi um

engenheiro e desenhista de instrumentos de física. Nos anos 1840, em parceria

com outros dois estudiosos, praticou fotografia.60

60 Buerger, French daguerreotypes, 201.


43
Francisco Napoléon Bautz

Figura 21: Jornal do Commercio – 04/01/1840 Figura 22: Jornal do Commercio – 04/04/1846

Francisco Napoléon Bautz, francês, antes de daguerreotipista exercia o

trabalho de pintor retratista e professor, como pode ser observado no anúncio de

1840. Na nossa pesquisa, a partir de 1846, foram localizados os primeiros anúncios

referentes ao trabalho enquanto daguerreotipista.

Apresentava-se como pintor retratista e comunicava ao público que tirava

retratos com fumo e colorido, em qualquer tempo, em menos de um minuto. Tais

informações são de extrema relevância, pois indicam que a coloração estava sendo

divulgada como uma novidade. Informava ao público: “dá-se lições de tirar retratos

por todos os méthodos” - como podemos observar no anúncio abaixo:

Figura 23: Jornal do Commercio – 28/03/1850

44
Também foram encontrados anúncios cujas informações remetem a esse

daguerreotipista, no entanto, não está identificado pelo nome, conforme anúncio

abaixo:

Figura 24: Jornal do Commercio – 04/07/1847

Bisson

Figura 25: Diário do Rio de Janeiro – 25/08/1841

O recorte acima não reproduz um anúncio de daguerreotipista, mas, mesmo

assim, tem interesse para nossa pesquisa. Localizado na primeira página do jornal,

a notícia está enquadrada na secção “Miscellanea”, juntamente com outras

novidades tecnológicas, tais como o processo de colorização de mármores

realizado na Itália e a invenção de uma máquina de arrancar batatas, produzida por

um engenheiro americano.

Essa matéria remete a melhorias realizadas para confecção dos

daguerreótipos; por exemplo, a diminuição do tempo de exposição necessário para

obter a imagem, bem como, a possibilidade de fotografar na sombra.

45
Louis-Auguste Bisson Fils (1814-1876), filho de um pintor que também

chegou a praticar fotografia, era daguerreotipista e chegou a produzir fotografias em

papel.

Morand & Smith

Figura 26: Jornal do Commercio – 23/12/1842

Augustus Morand e Smith eram norte-americanos e sócios no negócio da

daguerreotipia. Fotografaram o imperador D. Pedro II e a sua família no Palácio de

São Cristóvão e, em outra ocasião, Morand encantou o imperador com o

daguerreótipo tirado dele e sua comitiva. Esse, por definição do imperador, foi

exposto na Galeria Imperial.61

Como atributo, chamavam a atenção do público para a produção de retratos

perfeitos. Contudo, é possível observar a restrição de horário para fazer

daguerreótipos: “onde trabalhao todos os dias, das 8 horas da manhaa ás 3 da

tarde”.

61 Palmquist & Kailbourn. Pioneer photographers, 449.


46
J. D. Davis

Figura 27: Jornal do Commercio – 03/05/1843

J. D. Davis é apresentado ao público como sucessor dos sócios Augustus e

Smith e manteve no anúncio as mesmas informações.

Foram encontradas outras propagandas sem a identificação do

daguerreotipista, mas que remetem a Davis. Através dessas, é possível resgatar

outros endereços de trabalho.

Figura 28: Jornal do Commercio – 02/12/1847 Figura 29: Jornal do Commercio – 25/01/1848

Figura 30: Jornal do Commercio – 22/02/1848

47
Mme. Hippolyte Lavenue

Figua 31: Jornal do Commercio – 24/12/1842

Madame Lavenue, francesa, é referida a partir do nome do seu marido,

Hyppolyte Lavenue, também daguerreotipista que, em 1845 encontrava-se em Ouro

Preto – fato que revela a migração dos profissionais no período.

Foi a primeira mulher a participar de uma exposição na Academia Imperial de

Belas Artes (1842) expondo daguerreótipos. 62 Sobre a exposição, trataremos mais

adiante.

Como diferencial em seu anúncio, podemos observar a descrição dos

acessórios que compunham o estúdio fotográfico: “cortinas, trastes e mesmo

jardim.” O horário para fotografar era diferente dos até então anunciados, sendo:

das 9 às 11 da tarde e das 14 às 17 horas; o tempo de exposição era de menos de

um minuto na sombra.

O Jornal do Commercio em 17 de fevereiro de 1843, anunciou ao público que

ela também ensinava como utilizar o aparelho: “AS PESSOAS que, possuindo

62
Kossoy, 199.

48
daguerreotypo, não souberem servir-se deles e quizerem aprender, podem dirigir-se

a Mme. Lavenue (...).”

Figura 32: Jornal do Commercio – 09/01/1843

A matéria de 9 de janeiro de 1843, direcionada ao redator do jornal e sem a

assinatura de quem escreveu o texto, está explicitamente voltada a ressaltar as

qualidades dos daguerreótipos produzidos por ela, bem como, suas qualidades

enquanto profissional. No que se refere aos daguerreótipos, chamamos atenção

para a referência que o autor faz à riqueza dos detalhes: “são admiráveis pela

nitidez e perfeição dos traços”.

Conrad Gerbig

Figura 33 Jornal do Commercio – 05/02/1844

49
O anúncio de Conrad Gerbig, chamava a atenção para a perfeição do

processo, que o tornava muito próximo ao natural. Vale lembrar que uma das

características ressaltadas dos daguerreótipos era a capacidade de registrar os

detalhes do “real” com perfeição.

Sr. Yeanne

Figura 34: Jornal do Commercio – 14/02/1844

Sr. Yeanne primeiramente se apresentava como um artista recém chegado

de Londres para, em seguida, expor ao público o seu diferencial. 63 Além do preço

reduzido, chamava atenção dos interessados para os detalhes que conseguia

registrar: “particularmente no seu trabalho a perfeição das mãos, o que raras vezes

acontece nos retratos pelo daguerreotypo”.

Figura 35: Jornal do Commercio – 11/06/1844

63 Foram encontradas as grafias Sr. Yeanne e Sr. Jeanne.


50
Também localizamos um anúncio em que o mesmo Sr. Jeanne comunicava

ao público seu interesse em comprar chapas de diversos tipos, ou seja, o aparato

necessário para confecção dos daguerreótipos. Esse anúncio revela a dificuldade

em encontrar os materiais necessários ao trabalho.

Wm. M. Williams

Figura 36: Jornal do Commercio – 29/11/1848 Figura 37: Jornal do Commercio – 22/12/1848

De todos os anúncios nos jornais do período pesquisado, sem dúvida, o Sr.

Williams foi um dos que mais investiu na autopromoção do seu atelier, inclusive com

anúncios na língua inglesa.

Figura 38: Jornal do Commercio – 19/06/1848

51
Apresentando-se como norte-americano, comunicou ao público que

utilizava um sistema totalmente novo e desconhecido até o momento, e convidava

aos “amantes das belas artes e curiosos”, a realizarem uma visita ao seu

estabelecimento para conhecerem sua coleção de retratos:

“Compõe-se de uma grande collecção de belos retratos, entre os


quaes se observão os do presidente Polk e de sua família, diversos ex-
presidentes, conselheiros, governadores, senadores generaes,
embaixadores e senhoras da mais alta sociedade, que pela execução, bom
acabamento e fineza de expressão excedem a quantos se tem visto neste
gênero em qualquer parte do mundo”64

Foram encontrados outros anúncios com o mesmo endereço do

estabelecimento do Sr. Williams. No entanto, esses o identificavam apenas como

“americano”.

Figura 39: Jornal do Commercio – 11/02/1849

Em 11/02/1849, um anúncio de Williamns comunicava ao público que iria se

retirar do país. Solicitava aos que tivessem encomenda que as retirassem, e aos

64 Jornal do Commercio, 23/05/1848; ano 23, n°143, 3.


52
que tivessem dívida, que as liquidassem. No entanto, após essa data ainda foram

localizados anúncios do seu estabelecimento.

William Telfer

Figura 40: Jornal do Commercio – 02/06/1849 Figura 41: Jornal do Commercio – 30/06/1849

O daguerreotipista sr. William Telfer se apresentava como recém chegado

de Nova York e, como meio de chamar a atenção do público, informava que tirava

retratos em fumo e colorido, no horário entre as 9 e 16h, utilizando instrumentos

superiores; também destacava seu conhecimento na profissão, o que resultava em

retratos com expressão natural.

Ao anunciar retratos em fumo e colorido apresentava a possibilidade de

obter daguerreótipos com coloração, o que resultava em imagens mais próximas a

realidade. No que se refere à técnica para obtenção da cor, abordaremos mais

adiante.

53
Henriette Harms

Figura 42: Jornal do Commercio – 05/11/1850

Apresentava-se ao público como alemã. Divulgava o horário de trabalho

como das 8 às 18h o que podemos considerar como bastante estendido quando

comparado aos outros anúncios. Também comunicava que tirava daguerreótipos

coloridos, mesmo com chuva, e possuía bastante variedade de caixilhos.

Destacamos que tanto o horário de trabalho estendido quanto a

possibilidade de tirar daguerreótipos em dias chuvosos revelam que o problema

para se obter imagens com pouca luz já havia sido, no mínimo, minimizado.

E. Dubois

Figura 43: O Correio da Tarde – 16/02/1850

54
O anúncio de E. Dubois apresenta como novidade a produção de

daguerreótipos pelo sistema Tompson, sobre o qual trataremos mais adiante.

Também informava que poderia ensinar quem tivesse interesse, que tirava retratos

na casa dos interessados e de pessoas que já tivessem morrido.

Não identificados

Optamos por intitular os daguerreotipistas cujos nomes não constam nos

anúncios por: “não identificados”. No entanto, lembramos que através do

cruzamento de dados foi possível identificar e relacionar alguns, como Wm. M.

Williams, por exemplo.

Figura 44: Jornal do Commercio – 01/07/1847

O anúncio informava ao público que era possível obter daguerreótipos com

efeito colorido e com perfeição. Além do mais, acrescentava que dispunha de uma

variedade de artefatos para compor o objeto.

Fura 45: Jornal do Commercio – 03/07/1848


55
O anúncio acima traz informações muito curiosas. Primeiramente informava

ao público que era possível consertar um “grande defeito” que era a fotografia ao

contrário através do invento do Sr. Newman. A outra, a sugestão de utilizar a roupa

escura.

Esse anúncio, além de apresentar o daguerreótipo também informava que

lavavam luvas e faziam penas de flores finas. Segundo Pedro Vasquez, muitos

daguerreotipistas também exerciam outras profissões como fonte de renda.65

A partir do levantamento dos anúncios de jornal, buscamos sistematizar as

informações referentes à produção dos daguerreótipos no Rio de Janeiro, com o

objetivo de agrupá-los de acordo com o conteúdo. Assim, foram reconhecidos

alguns aspectos da nova atividade desenvolvida no Rio de Janeiro: quem eram os

profissionais e sua origem, ensino da técnica, comércio, acessórios oferecidos como

cenário e horários de realização, molduras e formatos e cor dos daguerreótipos,

tempo de exposição e outros detalhes e, principalmente as novidades que

anunciavam modificações no processo.

Dessa forma, foi possível comparar as informações gerais com relação à

produção de daguerreótipos e as particularidades apresentadas pelos fotógrafos e

relacionar os dados pontualmente.

No total foram mapeados 15 anúncios diferentes de daguerreotipistas, 66

sendo: 3 franceses, 6 norte americanos, 2 alemães, 1 inglês e 3 sem nacionalidade

identificada. Ou seja, o mapeamento realizado permitiu verificar que grande parte

dos profissionais eram estrangeiros.

65Vasquez, Dom Pedro II e a fotografia no Brasil, 57.


66Foram descartadas a análise dos anúncios dos daguerreotipistas J. Elliot e dos sócios Hoffmann e
Keller por não acrescentarem informações diferentes das já levantadas.
56
Relacionado ao ensino, identificamos aguns professores: Mme. Lavenue em

1842, W. R. Williams em 1848 e Francisco Napoléon Bautz em 1850 que escreveu

“Nesta officina dá-se lições de tirar retratos por todos os méthodos (...)”.67 Dubbois,

também em 1850, comunicava ser professor pelo sistema Tompson.

Warren T. Thompson, era um norte americano que praticava daguerreotipia

em Paris por volta de 1847. Antes, havia estado na Filadélfia entre 1840 e 1846

onde conseguiu uma patente para colorir daguerreótipos. Possivelmente E.

Dubbois, ao se referir ao sistema Tompson estivesse referindo-se ao processo de

galvanização.68

No que se refere ao comércio de equipamentos, localizamos um anúncio, no

ano de 1845, divulgando a venda de daguerreótipos em diversos endereços:

Figura 46: Jornal do Commercio – 19/07/1845

Além desse, há um anúncio de 1840, em que Bianchi divulgava estar

vendendo um equipamento e poderia ensinar a usá-lo; Sr. Yanne, em 1844,

divulgou seu interesse em comprar chapas nos formatos franceza, ¼ e 1/6;

Francisco Napoleón Bautz declarou que comprava e vendia daguerreótipos. Embora

mínimo, foi possível mapear um pequeno comércio que movimentava a produção de

daguerreótipos na cidade.

67 Jornal do Commercio, 28/03/1850, ano XXV, n° 86, 3.


68 Buerger, 47.
57
Os daguerreótipos representam objetos únicos e eram tão valiosos quanto

jóias. Sendo assim, a composição física contribuía muito para a construção desse

ideal e contava com o auxílio dos mais variados artefatos para os diversos formatos

e finalidades, conforme observamos nos anúncios.

Além da composição estética do objeto, o estúdio fotográfico tinha que contar

com um luxuoso cenário através do qual a pessoa retratada pudesse ostentar

também sua posição social, uma vez que, pelo alto valor cobrado, ter um

daguerreótipo era também uma questão de status.

Sendo assim, era muito comum divulgar nos anúncios esses itens como

atrativos, tal como fizeram: Mme. Hyppolyte Lavenue, William Telfer, Francisco

Napoléon Bautz, Henriette Harms, Wm. R. Williams.

Os formatos dos objetos também eram anunciados, talvez por apresentarem

diversas possiblidades e finalidades. Por exemplo, um retrato na chapa inteira

poderia ser emoldurado em um quadro ou colocado em um estojo, já uma miniatura

poderia ser um botão ou uma medalha. Lembramos que as chapas poderiam ter os

seguintes formatos: 16,5x21,5cm, ½: 10,8x126,5cm, ¼: 8,2x10,8cm, 1/6: 7,1x

8,3cm, 1/8: 5,3x8,2cm e 1/16: 4,1x5,3cm.

Os daguerreótipos inicialmente apresentavam alguns inconvenientes, os

quais foram minimizados, sobretudo a partir das experiências dos daguerreotipistas.

Frequentemente encontramos nos anúncios informações relacionadas com a

resolução dessas dificuldades.

No que se refere ao tempo necessário para obter o registro da imagem,

lembramos que a duração da exposição está atrelada à quantidade de luz, ou seja,

em dias e horários em que a iluminação era menor, maior o tempo de exposição. Ao

58
obter uma chapa mais sensível, menor o tempo de exposição e a quantidade de luz

necessária.

Esse inconveniente foi minimizado sensibilizando a placa com substâncias

aceleradoras, tais como, vapor de bromo ou de cloro, as quais ao serem

acrescentadas ao vapor de iodo multiplicavam de 10 a 100 vezes a sensibilidade da

placa, propiciando menos tempo e exigindo menos luz.69

Através dos anúncios foi possível mapear o funcionamento dos

daguerreotipistas no Rio de Janeiro em relação ao horário/tempo, conforme

elencamos a seguir:

 Mr. Bisson Filho: alguns segundos a sombra no horário entre 8-15h em 1841;

 Mme Hippolyte Lavenue: 1 minuto a sombra entre 9-11h e 14-17h em 1842;

 Morand & Smith: entre 8-15h em 1842;

 J. D. Davis: entre 8-15h em 1843 e em 1848 estendeu o horário até às 17h;

 Sr. Yanne: 13 segundos em 1844;

 Franciso Napoléon Bautz: menos de um minuto em 1846;

 J. D. Davis: com chuva ou sol em 1847;

 Wm. R. Williams: todo dia não importa o tempo em 1848;

 William Telfer: entre 9-16h em 1849;

 Henriette Harms: entre 8-18h mesmo com chuva em 1850.

Assim como o tempo de exposição, a falta de cor nos daguerreótipos

poderia ser encarada como desvantagem. Sendo assim, durante a pesquisa, foi

comum encontrar nos anúncios informações referentes à pintura, tais como: “Tirão-

69 Lavédrine, 38
59
se retratos em fumo e coloridos”,70 “Retratos coloridos”,71 “Também lhe dá as cores

naturaes”.72

A aplicação da cor foi tema de vários estudos, sendo comum encontrar

referência à coloração de daguerreótipos coloridos à mão, através de pigmentos.

No entanto, nós, ao longo da pesquisa, observamos daguerreótipos coloridos

que visualmente não tinham as mesmas características dos pigmentados e, sobre

os quais não havia muitas informações. Nesses, as cores eram mais suaves e

visualmente aparentavam estar incorporadas às imagens, diferenciando os

daguerreótipos daqueles em que foram aplicados pigmentos.

De fato, a referência a uma técnica diferenciada pode ser encontrada em

publicações do período, como no livro The history and practice of the art of

photography or the production of pictures through the agency of light de Henry H.

Snelling, publicado em 1849. Segundo a publicação, a placa deveria ser polida,

sensibilizada e exposta a vapores de sulfeto de hidrogênio. Esse vapor produzia

várias cores na placa de acordo com a intensidade em que a luz agia nas diferentes

partes e, consequentemente, obtia-se a fotografia colorida.73

A preocupação por conseguir registrar o máximo de informações se

manifesta em anúncios anteriormente descritos, como o de Conrad Gerbig,

publicado em 05/02/1844 no Jornal do Commercio, ao prometer ao público “maior

perfeição e ao natural”74. Ou, ainda naquele do Sr. Yanne, que procurava dar “graça

aos retratos das senhoras”.75

70 Jornal do Commercio, 01/07/1847, ano XXII, n° 180. Sem identificação, 4


71 Jornal do Commercio, 23/05/1848, ano XXIII, n° 143, Wm. R. Williams, 3.
72 Jornal do Commercio, 05/11/1850, ano XXV, n° 303, Henriette Harms, 4.
73 Snelling, The history and practice of the art of photography, 77.

74 Jornal do Commercio, 05/02/1844, ano XIX, n°33, 3.

75 Jornal do Commercio, 14/12/1844, ano XIX, n° 42, 4.

60
Entre os anúncios analisados, é muito comum encontrar a promessa de

“novidades”. Muitas delas estavam relacionadas aos melhoramentos do processo,

que permitiam registrar mais do que apenas uma pessoa imóvel num estúdio.

Ampliava-se tanto o número das pessoas quanto os ambientes e seus pertencentes,

de diferentes tipos. Vejamos alguns deles:

 Mme. Hippolyte Lavenue: tira retratos na casa das pessoas, em 1842;

 Sr. Yanne: faz retratos em anéis e espelhos e tira foto de pessoas em

grupo, em 1844;

 Sem identificação: confecção pelo processo galvânico, corrige defeito da

imagem ao contrário pelo processo Sr. Newman, sugere roupa escura, em 1848;

 Wm. R. Williams: sistema completamente novo e desconhecido, em 1848;

 William Telfer: utilização de instrumentos superiores, em 1849;

 E. Dubbois: utiliza sistema Tompson e fotografa a pessoa depois de morta,

em 1850.

A partir da reunião dessas informações é possível observar como os

daguerreotipistas se articulavam para demonstrar o diferencial dos seus trabalhos a

fim de angariarem seus clientes. Alguns dos argumentos tinham caráter afetivo e

social, outros, estavam relacionados às novidades técnicas.

Assim, no caso de E. Dubbois, ao oferecer retratar pessoas mortas,

propiciava uma última oportunidade de ter a imagem da pessoa, considerando o alto

valor do objeto. Já o anúncio do fotógrafo não identificado, divulgava um novo

sistema, e, ainda, prometia não mais gerar a imagem ao contrário.

61
Quanto ao método galvânico, encontramos uma referência76 destacando os

seus benefícios: possibilidade de fotografar pessoas em movimento com maior

naturalidade da imagem, uma vez que a sensibilidade da placa foi aumentada.

Em referência a inversão da imagem, supomos que ele utilizasse o método

apresentado no manual de 1840, analisado anteriormente nesta dissertação,

colocando um espelho fora da câmara e de forma a obter a imagem “certa”. O

problema desse arranjo, para o período, era o aumento do tempo de exposição uma

vez que o registro era através de uma imagem projetada em um espelho. Ou seja,

com o uso do espelho a luz direcionada para a placa era menos intensa (comparada

com a luz incidindo diretamente), exigindo tempo maior para imprimir uma boa

imagem na placa. No entanto, o processo galvânico aumentou muito a sensibilidade

da placa, inclusive propiciando fotografar pessoas em movimento, resolvendo, ao

que parece, o problema apresentado em 1840.

Através dos levantamentos e da reunião das informações contidas nos

anúncios foi possível reconstruir uma parte do modo de produção dos

daguerreotipistas na cidade do Rio de Janeiro no período de 1840-1850. Por um

lado, analisamos anúncios de daguerreotipistas procurando identificar a forma como

trabalhavam, seus equipamentos e técnicas. Por outro, lançamos mão de

publicações vindas a público no período, através das quais foi possível buscar

informações referentes às novidades ofertadas nos anúncios propiciando

explicações dessa área de conhecimento.

Para facilitar a visualização dos dados levantados e as principais informações

contidas nos anúncios, elaboramos uma tabela que procura resumir as

características apresentadas acima:

76 Ibid.
62
Daguerreotipista País Oferta Endereço Preço
Bianchi França - Comércio: venda do equipamento Rua do hospicio, 170 -----------------
- Comércio: compra e vende
- Cor: em fumo e colorido
- Detalhes: toda perfeição
- Formatos: diversos
- Novidade: últimos melhoramentos
Francisco Napoleón
França do processo Rua do Cano, 146 -----------------
Bautz
- Moldura: todas as variedades
- Professor: ensina método de
produção
- Tempo: menos de um minuto em
qualquer tempo
- Tempo: alguns segundos a
Mr. Brisson Filho ----------------- ----------------- -----------------
sombra
Norte- Hotel Pharoux, salão
Morand e Smith - Horário: 8 – 15h -----------------
americanos 52- 2° andar

Norte- - Horário: 8 – 15h (1842) e 8 – 17h Rua do Ouvidor, 75


j. D. Davis americano (1848) Rua do Ouvidor, 46
-----------------
(possivelmente) - Tempo: com chuva ou sol Rua Direita, 21

64
Daguerreotipista País Oferta Endereço Preço
- Acessórios para o estúdio:
cortinas, trastes e mesmo jardim
- Detalhes: nitidez, perfeição dos
traços e semelhança
Mme. Hyppolyte - Novidade: tira retratos em casa
França Largo do Rocio de 12$ a 15$ réis
Lavenue - Horário: 9-11h e 14-17h
- Professor: ensina método de
produção
- Tempo: menos de um minuto a
sombra
- Detalhes: perfeição ao natural
Conrad Gerbig Alemanha Rua dos Latoeiros, 49 5$ réis
- Formato: em miniatura
- Comércio: compra chapa franceza
e de daguerreótipos nos formatos
¼ e 1/6
- Detalhes: traços das mãos Praça da Constituição –
Sr. Yeanne ou Jeanne Inglaterra 4$ réis
- Novidade: faz retratos sobre Hotel da Constituição
espelho, aneis, camafeos, pessoas
em grupo
- Tempo: 13 segundos

65
Daguerreotipista País Oferta Endereço Preço

- Cor: coloridos
- Novidade: sistema
completamente novo e
desconhecido
Norte-
Wm. R. Williams - Formato: retratos ou minuatura Rua do Ouvidor, 56 -----------------
americano
- Horário: todos os dias, não
importa o tempo
- Molduras: medalhas de ouro
- Professor: professor de fotografia

- Acessórios para o estúdio: salas


arrumadas para tirar fotos
- Cor: em fumo e coloridos
Norte- - Detalhes: expressão natural
William Telfer Rua do Hospício, 63 -----------------
americano - Novidade: utiliza instrumentos
superiores e detêm perfeito
conhecimento
- Horário: 9-16h

66
Daguerreotipista País Oferta Endereço Preço
- Cor: dá cores naturais
- Horário: 8-18h
Henriette Harms Alemanha Rua dos Latoeiros, 83 -----------------
- Moldura: todas as variedades
- Tempo: mesmo com chuva
- Novidade: sistema Tompson; tira
retrato de pessoas mortas
E. Dubbois ----------------- Rua do Cano, 52 -----------------
- Professor: professor pelo novo
sistema
- Cor: em fumo e coloridos
- Detalhes: perfeição
Não identificado ----------------- - Formato: desde chapa inteira até Rua dos Latoeiros, 36 -----------------
tamanho de botões de camisa
- Molduras: rica diversidade
- Dica: tirar foto com roupa escura
Não identificado
Norte- - Novidade: tira foto das pessoas
(Retratista americano ----------------- -----------------
americano sem ser ao contrário; processo Sr.
galvânico)
Newman
- Cor: em fumo e coloridos
Rua da Alfândega, 53
Não identificado ----------------- - Formato: todo tamanho até chapa -----------------
(sobrado)
inteira

67
A exposição na Academia de Bellas Artes

Como referenciado anteriormente nessa dissertação, a Academia Imperial de

Belas Artes foi uma, dentre as diversas instituições, que recebeu o apoio político e

econômico do imperador d. Pedro II. Dentre as funções e atividades da Academia,

ressaltamos as exposições organizadas bianualmente a fim de apresentar ao

público a arte que estava sendo produzida. Também nesta instituição,

especialmente na exposição de 1842, que ocorreu entre os dias 11 e 19 de

dezembro, daguerreótipos apareceram no conjunto das obras expostos.

Como de costume, a família real esteve presente, sendo a visita do imperador

e de suas irmãs, antes da inauguração da exposição, noticiada no Jornal do

Commercio no dia 11/12/1842. Não faltam nessa matéria detalhes acerca dessa

visita, do discurso do Imperador e da exposição, nem da fala do diretor da Academia

de Bellas Artes que enfatizou o incentivo e o interesse do imperador nas artes.

Também são descritas as diversas salas e as influências representadas nos estilos

dos artistas, como por exemplo, na sala 1 estavam representadas as escolas

florentina, romana, veneziana e boloneza.77

Uma matéria publicada no mesmo jornal, uma semana mais tarde, traz uma

informação muito importante para o tema desta dissertação. Assim, na matéria de

18/12/1842 constatamos que o daguerreótipo foi exposto na sala 10, juntamente

com outras pinturas:

“[...] Os ensaios de daguerreotypo que se vêm em um quadro pequeno,


chamao a attençao pelo maravilhoso da descoberta, que creou um novo meio
de estudar as aparências naturaes. A gravura tirada mecanicamente de uma

77 Jornal do Commercio, 11/12/1842, Anno XVII; n° 329, 3.


69
pintura a óleo offerece bellezas e finuras acima da expressao: provavelmente
foi feita na força da luz ao sol, e portanto sahio muito mais clara e puramente
delineada do que os retratos formados na luz ambiente, os quaes sao todavia
muito parecidos (...)”

Não foram encontradas notícias de jornais sobre a exposição de 1842 que a

pessoa responsável por tais imagens. Entretanto, através de uma matéria de

divulgação dos trabalhos como daguerreotipista realizados pelo Sr. Morand e seus

aperfeiçoamentos, pode-se ler no parágrafo final:

“Depois que o navio francez Oriental nos trouxe ha três anos o


primeiro Daguerreotypo, apparecêrao nesta corte alguns amadores e artistas
que haviao feito progressos na arte. Entre outros, citaremos o ilustrado doutor
D. Florencio Varella, emigrado argentino, que com tanta vantagem se dá á
cultura das artes, só por amor das artes, e Mme Lavenue, que na recente
exposição da academia da Bellas Artes, apresentou alguns retratos e uma
copia de gravura de bastante mérito.”78

A partir dessa notícia é possível confirmar a participação de Mme. Lavenue

na primeira exposição em que houve a apresentação de daguerreótipos no Brasil.

Vale lembrar mais uma vez que, no período pesquisado, ela foi a primeira mulher,

de que se tem noticia, a oferecer fotografar em estúdio, a domicílio e a ensinar o

método de produção (1842), seguida de Henriette Harms em 1850.

Um caso curioso envolvendo o daguerreótipo

No dia 20 de fevereiro de 1840, na página 1 do Jornal do Commercio foi

noticiado um caso de polícia no qual o daguerreótipo foi o fator chave para

78 Jornal do Commercio, 23/12/1842, anno XVII; n° 341, 3.


70
resolução de um crime. Com o título de: “Cautela contra o daguerreotypo!” a notícia

conta a história do daguerreotipista Carlos Beaux, que, segundo o jornal, era uma

das pessoas que sabia “servir-se do daguerreotypo”.

Um dia, após preparar o instrumento como sempre fazia, teve que viajar com

a família por dois dias. Quando voltou constatou que a gaveta da cômoda de seu

quarto estava arrombada e que faltavam 3200 francos, sem o menor indício de

quem pudesse ter cometido o delito.

Desolado, procurou se distrair com a execução dos daguerreótipos quando

teve a supressa:

“Não há tempo que perder: o instrumento tinha ficado preparado da


véspera, e a lamina já colocada no foco da câmara obscura Mas que he isto?
O desenho achava-se já concluído antes de começado, e o objeto que ele
representa he inteiramente extravagante! Hum homem vestido de camisola
está com huma torquez na mão, e em acção de arrombar a gaveta de huma
commoda; os trastes que cercão a comoda são os mesmo do quarto do Sr.
Beaux; a figura do homem da camisola he a mesmissima do jardineiro da
casa. O desacautelado industrial, que não podia pensar que o daguerreotypo
fosse tão traiçoeiro, tinha entrado no quarto no momento em que hum raio de
sol passava precisamente de fronte do instrumento que estava já prompto
para operar. A fidelidade com que o perfeito daguerrotypo representou toda a
scena, tirou ao ladrão todos os meios de defender-se perante o juiz de
instrucção, a quem foi apresentada a lamina reveladora, como testemunha do
roubo. Sirva este exemplo de aviso aos senhores industriaes, para que daqui
por diante se acautelem do daguerrotypo.”

De maneira descritiva e até engraçada, o redator relata como o daguerreótipo

contribuiu para resolver um crime que parecia sem solução. A partir da descrição

podemos pontuar no texto fatores que remetem a produção dos daguerreótipos

como quando descreveu que a placa já estava pronta, ou seja, sensibilizada e na

71
câmara; ou quando se referiu ao raio de luz incidindo sob a placa que resultou no

registro da imagem.

Destacamos também nessa matéria a referência feita pelo redator a Carlos

Beaux como uma das pessoas que conhecia bem o fazer de daguerreótipos.

72
Conclusões

A apresentação do daguerreótipo na cidade do Rio de Janeiro – em janeiro

de 1840 – ocorreu aproximadamente quatro meses após o anúncio que tornou

público o processo de confecção de daguerreótipos realizado em Paris.

Não podemos desconsiderar que antes do anúncio oficial já se ouvia

comentar, tanto na Europa como no Brasil, sobre o novo invento. Em uma notícia no

Jornal do Commercio de 1 de maio de 183979 cujo título é “Revolução nas artes do

desenho”, o redator descreve a descoberta como revolucionária e discorre sobre a

perfeição da imagem alcançada. Assim, de certa forma, já se aguardava com

ansiedade a chegada desses em terras brasileiras.

O manual, com a descrição detalhada de como produzir daguerreótipos, foi

publicado no mesmo ano de 1939 e contribuiu de maneira significativa para que os

interessados na confecção dos objetos pudessem fabricar seus daguerreótipos.

Ressaltamos que em menos de um ano o manual teve mais de 40 versões em

francês e em outras línguas.

É possível observar a partir das informações referenciadas acima, que o

cenário para a produção de daguerreótipos no Rio de Janeiro já estava preparado,

uma vez que, o processo já vinha sendo anunciado e havia um grande interesse na

difusão desse conhecimento por parte do governo francês,

Assim, não é de se estranhar que, já em 1840, fossem publicados anúncios e

matérias nos jornais em circulação na corte referente aos daguerreótipos e ao seu

79 Jornal do Commercio, 01/05/1839, ano XIV, n. 98, 2.


73
comércio. A novidade criou uma nova demanda reconhecida através do aumento do

número de anúncios publicados.

A partir dos anúncios dos daguerreotipistas levantados nos jornais foi

possível obter importantes informações referentes ao modo de produção desses

objetos. Esses, que basicamente anunciavam o trabalho a ser oferecido, continham

também outras informações que nos indicaram melhoramentos obtidos ao longo do

tempo e relativos ao que se considerava como problemas. Um bom exemplo é o

longo tempo de exposição para a obtenção da imagem e a falta de cor. Ou seja, os

daguerreotipistas anunciavam os melhoramentos que o processo ganhou a partir da

prática.

Sendo assim, a utilização do daguerreótipo, antes muito restrita devido a seu

alto preço e, ainda, aos inconvenientes que apresentava, com os melhoramentos no

processo passou a ter inclusive novas funções.

De toda forma, com o tempo, o daguerreótipo acabou sendo gradativamente

substituído por novas técnicas mais simples e baratas para a fixação da imagem.

74
Bibliografia

Andrade, Joaquim Marçal Ferreira de. “A tecnologia da fotografia no século XIX”.


Anais da Biblioteca Nacional, vol. 117 (1997): 9-28.

Alfonso-Goldfarb, Ana Maria. O que é História da Ciência. São Paulo: Brasiliense,


1994 (Coleção primeiros passos).

_____. “Centenário Simão Mathias: Documentos, Métodos e identidade da História


da Ciência”. Circumscribere 4 (2008): 5-9.

_____ e Maria Helena Roxo Beltran (orgs.). O Laboratório, a Oficina e o Ateliê: a


arte de fazer o artificial. São Paulo: Educ / FAPESP, 2002.

_____ & Márcia H.M. Ferraz. “Raízes históricas da difícil equação institucional da
ciência no Brasil.” São Paulo em Perspectiva 16, n°3 (2002): 03-14.

_____, Márcia H.M. Ferraz & Patricia Aceves. “Uma ‘viagem’ entre fontes e
documentos.” Circumscribere 12 (2012): v-viii.

_____, Márcia H.M. Ferraz & Maria Helena Roxo Beltran. “A historiografia
contemporânea e as ciências da matéria: uma longa rota cheia de percalços.”
In Escrevendo a Historia da Ciência: tendências, propostas e discussões
historiográficas, org. Ana Maria Alfonso-Goldfarb & Maria Helena Roxo Beltran
– São Paulo: EDUC/ Livraria Editora da Física/ FAPESP, 2004.

Amar, Jen-Pierre. “História da técnica.” In História da fotografia. 2ª ed. Lisboa:


Edições 70, LTDA, 2007.

Batchen, Geoffrey. “The naming of photography.” History of photography 17 (1993):


22-32, http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03087298.1993.10442589
#.V1orqI-cG00 (acessado em 23 de fevereiro de 2016).

Benjamin, Walter. “Pequena História da Fotografia”. In: Magia e técnica, arte e


politica: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8ª ed. São
Paulo: Brasiliense, 2012.
75
Brizuela, Natalia. Fotografia e Império. Paisagens para um Brasil moderno. 1º ed.
São Paulo: Companhia das letras; Instituto Moreira Sales, 2012.

Buerger, Janet E. French daguerreotypes. Londres: The university of Chicago press,


ltda, 1989.

Carvalho, José Murilo de. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das letras, 2007

Costa, Emilia Viotti da. Da monarquia a república: momentos decisivos. 5º ed. São
Paulo: Brasiliense, 1987

Daguerre, Louis- Jacques Mandé. Historique et description des procédés et du


diorama. Paris: Béthune et Plon, 1839.

Fabris, Annateresa (org.) “Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1991.

Ferrez, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840-1900. 2º ed. Rio de Janeiro: Funarte;


Fundação Pró-Memória, 1985.

_____. “A fotografia no Brasil e um dos seus mais dedicados servidores; Marc


Ferrez (1843-1923).” Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 10
(1946): 169-304.

_____ & Weston J. Naef, ed. Pioneer photographers of Brazil, 1840-1920. Nova
York: Center for Inter-American Relations,1976.

Harmant, Pierre G. “Daguerre´s manual: a bibliographical enigma.” History of


photography 1 (1977): 79-83,
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03087298.1977.10442885
(acessado em 15 de maio de 2016).

Kossoy, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e oficio da


fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

_____. Fotografia & historia. 5ª ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2014.

76
_____. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Cotia: Ateliê Editorial,
2014.

_____. Realidades e ficções na trama fotográfica. 4º ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2009.

_____. Hércules Florence: 1833: a descoberta isolada da fotografia no Brasil. São


Paulo: Faculdade de Comunicação Social Anhembi, 1977.

_____. Origens e expansão da fotografia no Brasil século XIX. Rio de Janeiro:


Funarte, 1980.

Lavédrine, Bertrand. [re]Conocer y conservar las fotografias antiguas. Paris: Éditions


du Comité des travaux historiques et scientifiques, 2010.

Lerebours, N. P. A treatise on photography; containing the latest discoveries and


improvements appertaining to the daguerreotype. Trad. J. Egerton. Londres:
Longman, Brown, Green, and Longmans, 1843.

Lyra, Heitor. História de dom Pedro II, 1825-1891: ascensão. Vol 1. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1977.

Mauad, Ana Maria. “Imagem e auto imagem do segundo reinado” In História da vida
privada no Brasil. Império: a corte e a modernidade nacional. Vol. 2, coord.
Luiz Felipe de Alencastro,181-234. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Mapes, J. J. A full description of the daguerreotype process: as published by M.


Daguerre. Nova York: J. R. Chilton, 263 Broadway, 1840.

Mendes, Ricardo & Paulo Cezar Alves Goulart. Noticiario geral da photographia
paulistana 1839-1900. São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.

Palmquist, Peter E. & Thomas R. Kailbourn. Pioneer photographers from the


Mississippi to the continental divide a biographical dictionary, 1839-1865.
Califórnia: Stanford University Press, 2005.

Pavão, Luis. Conservação de Colecções de Fotografia. Lisboa: Editora Dinalivro,


1997.

77
_____. Dicionário e glossário de termos usados em conservação fotográfica. Lisboa:
Fundação Calouste Guldenkian, 1990.

Poe, Edgar Allan. The Daguerreotype. s.l.: s.ed., s.d.

Rocha, Giselle de Queiroz. “Educação como meio, educação como fim. Estudo
sobre a formação de equipes de conservação de acervos fotográficos.”
Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, 2011.

Schaaf, Larry John. The photographic art of William Henry Fox Talbot. Nova Jersey:
Princeton University Press, 2000.

Schwarcz, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos


trópicos. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

_____ & Starling, Heloisa M. Brasil: um biografia. 1º ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015.

Sena Filho, Nelson de. “Dom Pedro II e as ciências: o caso da Escola de Minas de
Ouro Preto.” Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2001.

Silva, Maria Cristina Miranda da. “A presença dos aparelhos e dispositivos ópticos
no Rio de Janeiro do Século XIX” Tese de doutorado, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2006.

Snelling, Henry H. The history and practice of the art of photography; or the
production of pictures through the agency of light. Nova York: G. P. Putnam,
1849.

Vasquez, Pedro. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

_____. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto


Marinho: Internacional de Seguros, s.d.

_____. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Melalivros, 2003.

_____. A fotografia no Brasil : 1840-1900. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.

78
_____. Fotografia no Brasil: um olhar das origens ao contemporâneo. Rio de
Janeiro: FUNARTE, 2004

_____. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX. São Paulo: Metalivros, 2013

_____. O Largo do Paço: imagem e história: Fundo Fátima Zorzato e Ruy Souza e
Silva. Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2014.

_____. Revert Henrique Klumb : um alemão na corte imperial brasileira. Rio de


Janeiro: Capivara, 2001.

Williams, Mary Wilhelmine. Dom Pedro the Magnanimous: second Emperor of Brazil.
Chape Hill: The University of North Carolina Press, 1937.

Wood. Derek R. “A state pension for L. J. M. Daguerre for the secret of his
daguerreotype technique.” Annals of science 54 (1997): 489-506,
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00033799700200461#.V1o1eo-
cG00 (acessado em 15/05/2016).

Periódicos

Diário do Rio de Janeiro

Correio Mercantil, e instrutivo, político, universal

O Correio da tarde

Jornal do Commercio

Correio Official

O Despertador

79
Anexo 1

A preservação da memória

Está posto na literatura especializada referente à preservação, conservação e

restauro que o conhecimento da técnica é fundamental para que ações possam ser

realizadas a fim de garantir a salvaguarda de documentos, obras de artes, etc.

O estudo da técnica utilizada para produção desses é que norteará a

execução das atividades, as quais podem envolver desde uma simples higienização

até uma interferência mais específica.

No que se refere a fotografias, a identificação do processo utilizado é de

extrema importância para que não se cometam erros primários que podem conduzir

a deteriorações irreversíveis.

Vale ressaltar que deteriorações causam danos permanentes e podem ser

intrínsecas ou extrínsecas as fotografias. Essas são decorrentes de diversos

fatores, como por exemplo: ação do homem, biológicas, condições ambientais e de

processamento.

Os daguerreótipos tendem a apresentar estado de conservação estável

desde que devidamente selados e armazenados, tanto quanto a composição de

produção da chapa com a superfície extremamente sensível. No entanto, aqueles

que no processo de produção passaram pela viragem a ouro apresentam maior

estabilidade.

Segundo Luis Pavão as deteriorações mais comuns resultam na sulfuração

da prata:

80
“O daguerreótipo é bastante estável, desde que se mantenha selado
contra um vidro. A forma de deterioração mais frequente é a sulfuração da
prata, que resulta da acção de agentes poluentes ácidos, tais como o ácido
sulfídrico e o dióxido de enxofre. Nesse processo a imagem é tapada por
uma camada de sulfureto de prata, tornando-se castanha (geralmente de fora
para dentro, em função da penetração dos gases), formando-se círculos
concêntricos de cor azul e castanha, chegando a desaparecer totalmente
numa fase mais avançada”

Nesse caso, há a alteração visual da cor para o castanho amarelado e

manchas castanhas, as quais podem resultar no desaparecimento da imagem.

Instituições de memória, estejam elas no âmbito nacional, estadual ou

municipal, tem a responsabilidade de guardar, preservar e difundir o conhecimento

sob guarda. De acordo com a função e os critérios que cada uma exerce, não

podemos deixar de ressaltar a diversidade de atividades que isso representa.

Nessa dissertação nos deteremos a apresentação dos daguerreótipos sob

guarda e responsabilidade do Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional e Museu

Histórico Nacional. Tal escolha é decorrente do recorte espacial da nossa pesquisa

e tem como objetivo elencar a quantidade de objetos e o estado de conservação

dos mesmos nessas instituições.

Tais instituições, de âmbito federal, têm sob guarda um acervo valioso. O

Arquivo Nacional, criado em 1838, guarda documentos desde o século XVI até o

XXI produzidos em diversas técnicas e formatos; 80 a Biblioteca Nacional é

constituída por aproximadamente 9 milhões de itens o que a configura como umas

das principais bibliotecas nacionais do mundo; 81 o Museu Histórico Nacional,

80 http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home
81 https://www.bn.br/sobre-bn
81
considerado um dos mais importantes do Brasil, foi criado em 1922 e tem sob

guarda a maior coleção numimástica da América Latina.82

A partir de uma visita foi possível verificar os objetos e, ainda, obter

informações referentes às ações de tais instituições que englobam a preservação

dos daguerreótipos. Vale ressaltar que, pouco foi preservado quando considerada a

ampla produção desses objetos.83

Esse levantamento não teve como objetivo avaliar os critérios escolhidos

pelas instituições ou produzir conclusões acerca do estado de conservação e sim

pontuar o que se tem preservado e as políticas adotadas pelos conservadores

responsáveis.

Arquivo Nacional

O arquivo Nacional possui sob guarda 10 daguerreótipos, sendo 09

pertencentes ao fundo da Família Bicalho e 01 ao fundo Família Werneck. A equipe

de conservação produziu um relatório do tratamento de conservação realizado em

setembro de 2012, no qual os objetos foram higienizados mecanicamente.

Após essa etapa, os daguerreótipos foram acondicionados individualmente

em envelopes cruz e em caixas confeccionadas para essa finalidade. Por decisão

da conservadora responsável, os estojos não foram abertos para higienização

interna.

As imagens abaixo são de autoria da equipe do Arquivo Nacional e foram

cedidas por eles.

82http://www.museuhistoriconacional.com.br/
83Com o objetivo de identificar as fotografias históricas do país, em 1998, a FUNART (Fundação
Nacional de Artes) organizou a mostra “O Daguerreótipo das Coleções Cariocas” com curadoria de
Márcia Mello, realizada no Paço Imperial, cujo objetivo foi iniciar o trabalho de mapeamento dos
processos históricos do país.
82
Figura 47 : daguerreótipo pertencente ao acervo do Arquivo Nacional
42

Figura 48: higienização - daguerreótipo pertencente ao acervo do Arquivo Nacional

83
Biblioteca Nacional

A Biblioteca Nacional tem sob guarda três daguerreótipos acondicionados

individualmente em embalagens de qualidade arquivística. As informações

referentes aos documentos estão disponíveis na base de dados e podem ser

consultadas através do site.84 Abaixo dois exemplos:

Figura 49 : daguerreótipo pertencente ao acervo da Biblioteca Nacional

Figura 50 : daguerreótipo pertencente ao acervo da Biblioteca Nacioanal

84 http://acervo.bn.br/sophia_web/index.html. Para esse trabalho foi autorizado fotografar os objetos.


84
Museu Histórico Nacional

O Arquivo do Museu Histórico Nacional possui sob guarda 09 daguerreótipos

embalados individualmente alguns com papel neutro, outros com poliéster. Abaixo

exemplo:

Figura 51: Daguerreótipo 29D (acondicionamento): Retrato de dom Pedro II pertencente ao


acervo do Museu Histórico Nacional

Figuras 52 e 53: Daguerreótipo 29D (frente e verso): Retrato de dom Pedro II


pertencente ao acervo do Museu Histórico Nacional

85

Você também pode gostar