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Prefeitura Municipal de Curitiba

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Popular de Curitiba

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

COMPANHIA DE HABITAÇÃO POPULAR DE CURITIBA –


COHAB-CT, Sociedade de Economia Mista Municipal, criada pela Lei Municipal
nº 2.545, de 29/04/1965, inscrita no CNPJ/MF sob nº 76.495.696/0001-36, com
sede na Rua Barão do Rio Branco, nº 45, Centro, CEP 80010-180, Curitiba/PR,
por seus procuradores judiciais infrafirmados (instrumento de mandato anexo),
com escritório profissional no endereço indicado no cabeçalho, onde recebem
intimações e notificações, vem respeitosa e tempestivamente à presença de V.
Exa., interpor

AGRAVO DE INSTRUMENTO

em face da decisão proferida no despacho de mov. 57, da Execução Fiscal n.


0005406-77.2017.8.16.0036, pelo r. Juízo da Vara da Fazenda Pública do Foro de
São José dos Pinhais da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba,
referente a débitos de IPTU, afastanto a imunidade tributária da agravante,
prestadora de serviço público.

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Informa, por oportuno, estarem presentes os pressupostos


materiais e formais autorizadores do remédio recursal, em especial o preparo,
comprovado através da guia anexa.
Assim, REQUER a Agravante seja regularmente processado o
recurso interposto por meio das Razões Recursais em apenso, prosseguindo-se
a regular tramitação até decisão final de PROVIMENTO.

Pede Deferimento,

Curitiba, 25 de novembro de 2020

Rafael Fernando Portela Samir Braz Abdalla


OAB/PR 54.780 OAB/PR 31.374
Raphael Wotkoski Daniel Brenneisen Maciel
OAB/PR 62.783 OAB/PR 40.660

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RAZÕES DE RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

Agravante: COMPANHIA DE HABITAÇÃO POPULAR DE CURITIBA –


COHAB-CT, Sociedade de Economia Mista Municipal, criada pela
Lei Municipal nº 2.545, de 29/04/1965, inscrita no CNPJ/MF sob nº
76.495.696/0001-36, com sede à Rua Barão do Rio Branco, nº 45,
Centro, CEP 80010-180, Curitiba/PR.

Advogados: RAFAEL FERNANDO PORTELA, OAB/PR n° 54.780, DANIEL


BRENNEISEN MACIEL, OAB/PR n° 40.660, RAPHAEL
WOTKOSKI, OAB/PR n° 62.783, Eliane Mazzucco Gioppo,
OAB/PR nº 31.818, Samir Braz Abdalla, OAB/PR nº 31.374
Barbara Ribeiro Vicente, OAB/PR nº 34.775, Ladismara Teixeira
,OAB/PR nº 34.403, Monica Pimentel de Souza Lobo ,OAB/PR nº
35.455, Isabel Cristina Bonetti ,OAB/PR nº 66.872, Cleverson Tuoto
Benthien ,OAB/PR nº 45.001, Fabio Cochmanski do Nascimento
,OAB/PR nº 52.647 todos com endereço profissional à Rua Barão
do Rio Branco, nº 45, Centro, CEP 80.010-180, Curitiba/PR.

Agravado: MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, RUA PASSOS DE


OLIVEIRA, 1.101 - CENTRO

Advogados: LINA CLARICE DA ROCHA LOEWENSTEIN, OAB/PR nº 16.771,


KLEBER ANTONIO TOFFALINI FERREIRA, OAB/PR nº 14.598,
JOÃO PEREIRA, OAB/PR nº 16.579,GISELE JAQUES BASTOS
OAB/PR nº 23.412, GLAUCIA LOURENCO STENCEL BOZZI
OAB/PR nº 28.792, BRUNO OLIVEIRA BRAULE PINTO OAB/PR
nº 49.435, CLAUDIO SOCCOLOSKI OAB/PR nº 26.228, MARCUS
VINICIUS SPOSITO OAB/PR nº 21.173, ENILSON LUIZ WILLE
OAB/PR nº 17.842 e NELSON CASTANHO MAFALDA OAB/PR nº
24.388, todos com escritório profissional com sede na RUA

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PASSOS DE OLIVEIRA, 1.101 – CENTRO – SÃO JOSÉ DOS


PINHAIS/PR

Origem: Vara da Fazenda Pública do Foro de São José dos Pinhais da


Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Autos nº 0005406-
77.2017.8.16.0036 – Execução Fiscal.

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ

EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR RELATOR

EMINENTES JULGADORES

I. Síntese Processual

Trata-se de execução fiscal referente a débitos de ITPU,


interposta pelo Agravado em face da Agravante, em razão desta ser titular da
propriedade do imóvel.
Esclarece ainda que sobre o valor do crédito tributário, incidiu
multa, juros e correção monetária, consoante a Legislação Municipal.
A Companhia de Habitação Popular de Curitiba – COHAB/CT
apresentou exceção de pré-executividade em desfavor do Município de São
José dos Pinhais, argumentando em síntese que goza de imunidade trbitutária.
Entretanto, a decisão agravada (mov. 57) afastou a imunidade
reciproca por entender que a COHAB-CT é empresa de direito privado que
concorre com o mercado e que portanto, não é beneficiária da imunidade
tributária.
Com o devido acatamento, não merece prosperar o executivo
fiscal em face da COHAB-CT, conforme se passa a demonstrar.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA COHAB-CT QUE NÃO ATUA EM REGIME


CONCORRENCIAL COM O MERCADO

A r. decisão entendeu inaplicável a imunidade porque


caracterizou a atuação da Agravante como de mercado.

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Entretanto, ao contrário do que restou descrito na r. decisão, a


referida concorrência não existe; isto porque, para adquirir um imóvel da
COHAB-CT o interessado precisa, primeiro se inscrever em uma fila e preencher
todos os requisitos sócio-econômicos (muitas das vezes ser sorteado), para
somente então promover a aquisição subsidiada de sua moradia.

Insta destacar, outrossim, que a COHAB-CT, na qualidade de


órgão gestor da política de habitação de interesse social no Município de
Curitiba, em várias oportunidades é convocada pelo Poder Público Municipal e
pela própria população interessada a intervir em determinadas áreas, que foram
objeto de ocupação irregular, a fim de regularizar a questão fundiária e
urbanística e propiciar a solução definitiva ao impasse social criado.

Tal regularização feita com base na competência atribuída


pelo art. 36, §1º, "c" da Lei Municipal nº 7.671/1991 (dentre outras disposições
legais), dá-se, em linhas gerais, através da aquisição pela COHAB-CT, em
caráter de urgência, das áreas envolvidas, através das diversas formas
admitidas em Direito, inclusive desapropriação com imissão provisória de posse,
para posterior tomada de medidas de adequação dos aspectos sociais, técnicos
e legais da ocupação.

Nesse contexto, a COHAB-CT, dentre outras medidas,


promove de forma mais ou menos simultânea:

a) o levantamento sócio-econômico das famílias ocupantes,


permitindo um melhor planejamento do processo de
regularização mediante a identificação de necessidades
sociais específicas (creches, escolas, postos de saúde, etc.)
e adequação da equação econômico-financeira de
ressarcimento dos investimentos do Estado (posto que se
trata de dinheiro público);

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b) o levantamento físico do local identificando solos, relevo,


hidrografia e as construções existentes, para então, com o
menor número de realocações possível, prover um projeto de
divisão do solo que obedeça às posturas urbanas e a
legislação aplicável;

c) o projeto arquitetônico de loteamento voltado às


necessidades específicas, atendendo as necessidades de
integração da malha viária, segurança (áreas não edificáveis,
zonas de risco), integração à malha de saneamento, dentre
outros aspectos;

d) a facilitação da implantação dos serviços públicos básicos


e avançados (energia, iluminação, fornecimento de água
potável, esgoto, pavimentação das vias, integração ao
sistema de transporte coletivo, implantação de creches e
escolas e postos de saúde), mediante ação integrada com
outros órgãos e concessionárias de tais serviços, captação de
recursos para custeio das obras correspondentes e, por
vezes, a própria execução das obras concernentes;

e) a realocação de famílias que estejam ocupando áreas


irregulares, tais como: áreas não edificáveis, áreas de
domínio de ferrovias, rodovias entre outros; áreas de
preservação permanente; mata ciliar; etc;

f) a regularização jurídica, compreendendo: (1) o


levantamento da situação dominial originária; (2) a obtenção
dos direitos possessórios da área de forma mais imediata
possível (imissão provisória ou acordo com os proprietários),
para poder intervir no local com o suporte jurídico necessário

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e poder despender recursos públicos na área; (3) a


regularização jurídica da posse dos invasores, mediante
concessão real de uso, conferindo justiça a posse
originariamente clandestina ou violenta e dando segurança
jurídica e emocional ao grupo social envolvido; (4) a obtenção
da desafetação dos imóveis públicos e a desapropriação dos
privados, concentrando em si a propriedade para poder tomar
as medidas posteriores; (5) a adequação jurídica da
superfície, mediante as fusões e cisões das propriedades
originais para obtenção de um quinhão único que permita a
implantação do loteamento; (6) registro do loteamento e
individualização documental dos lotes; (7) conversão dos
Termos de Cessão em compromissos de compra e venda ou
escrituras definitivas de compra e venda, conforme o caso, e
correspondentes registros.

Nesse compasso, a COHAB-CT toma todas as medidas


cabíveis para transformar uma invasão desordenada em um assentamento
organizado, que obedeça aos parâmetros de urbanização que confiram
segurança, sanidade e “dignidade” à habitação.

Com efeito, denota-se que esta Companhia não apenas atua


na compra e venda de imóveis para pessoas de baixa renda aquisitiva, mas
também, realiza a gestão de toda a política habitacional de interesse social no
Município de Curitiba e região metropolitana, trabalhando na regularização
fundiária, e na retirada de pessoas carentes de áreas de vulnerabilidade.

Desta feita, inexiste a concorrência com o mercado


porque a função da COHAB-CT é justamente viabilizar moradia para
parcela da população que não tem como adquirir pelos valores praticados
no mercado.

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Alias, cumpre destacar que inúmeras áreas de ocupação


irregular estão registradas em nome da COHAB-CT junto ao registro de imóveis,
a fim de viabilizar posterior regularização fundiária. A cobrança de IPTU nestas
áreas de interesse público pode simplesmente inviabilizar a atuação da COHAB-
CT.

DA IMUNIDADE

Nos termos do art. 173, §1 da CF, a lei estabelecerá o estatuto


jurídico da sociedade de economia mista que explore atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços. Logo, é
possível que sociedade de economia mista tenha como objeto a prestação de
serviços públicos.

Assim, há dois tipos de sociedade de economia mista, as que


desempenham atividade econômica em sentido estrito, e as que executam
serviços públicos, conforme Hely Lopes Meirelles 1 e Celso Antônio Bandeira de
Mello2. Deste modo, é possível conceder imunidade recíproca às sociedades de
economia mista, como se demonstrará a seguir.

De acordo com o art. 150, VI, alínea “a”, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre o
patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros. Tal vedação também se aplica às
autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, de acordo
com a previsão do parágrafo segundo do referido artigo.

Conforme Maria Sylvia di Pietro3 e Diógenes Gasparini4, as


sociedades de economia mista que prestam serviço público também possuem
imunidade recíproca. No mesmo sentido, há diversas decisões do e. STF em
casos análogos, das quais cita-se a seguinte sobre a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos:
1
Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993. p. 321
2
Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 1993. p. 86-87
3
Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 1993. p 282.
4
Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 282.

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Tributário. Imunidade recíproca. Art. 150, VI, “a”,


da Constituição Federal. Extensão. Empresa
pública prestadora de serviço público.
Precedentes da Suprema Corte. 1. Já assentou a
Suprema Corte que a norma do art. 150, VI, “a”, da
Constituição Federal alcança as empresas públicas
prestadoras de serviço público, como é o caso da
autora, que não se confunde com as empresas
públicas que exercem atividade econômica em
sentido estrito. Com isso, impõe-se o
reconhecimento da imunidade recíproca prevista
na norma supracitada. 2. Ação cível originária
julgada procedente (STF, ACO 765, rel. Min. Marco
Aurélio, j. 13.5.09).

Idêntica posição foi adotada para a Infraero5 e para as


sociedades de economia mista prestadoras de serviço público como a
Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia 6 e a Companhia do Metropolitano
de São Paulo – Metrô 7. Portando, deve-se reconhecer a imunidade recíproca da
Excipiente, nos termos a seguir expostos.

Cabe ressaltar que a atividade exercida pela COHAB-CT é um


serviço público, vinculado com a concretização do direito fundamental à moradia.

Sobre o direito a moradia previsto no art. 6º, caput, da CF, José


Afonso da Silva afirma que:

“O direito a moradia significa ocupar um lugar como


residência, ocupar uma casa, apartamento etc., para
nele habitar. (...) é evidente que a obtenção da casa
própria pode ser um complemento indispensável para
a efetivação do direito à moradia. (...) Se ela
[Constituição] prevê, como um princípio
fundamental, a dignidade da pessoa humana (art.
1º, III), assim como o direito à intimidade e à
privacidade (art. 5º, X), e que a casa é um asilo

5
ACO 1347, Relator(a): Min. EROS GRAU, julgado em 28/04/2009, publicado em 06/05/2009,
DJ 07/05/2009.
6
AC. 1550-2/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 18.5.2007, p. 103.
7
AC 669, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 06/10/2005, DJ 26-05-
2006 .

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inviolável (art. 5º, XI), então tudo isso envolve,


necessariamente, o direito à moradia” (grifo
aposto).

Neste contexto, a Excipiente busca atender aos objetivos


fundamentais da República, previstos no art. 3º da CF, quais sejam, construir
uma sociedade justa e solidária, erradicar a marginalização (e não há maior
marginalização do que não ter um teto), e promover o bem de todos (o que
pressupõe ter onde morar dignamente).

Cabe destacar a competência para efetivar tal direito, conforme


a Constituição Federal:

Art. 23. É competência comum da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (…)
IX – promover programas de construção de moradias
e a melhoria das condições habitacionais e de
saneamento básico;
X – combater as causas da pobreza e os fatores de
marginalização, promovendo a integração social dos
setores desfavorecidos”.

No mesmo sentido estabelece o Estatuto da Cidade, no art. 2 o, I,


XIV, bem como o art. 12, IX da Constituição Estadual do Paraná. Não é por outro
motivo que o Município de Curitiba é acionista da COHAB-CT na percentagem
de 99,99% (cf. quadro societário anexo, doc. anexo).

Imperioso destacar que no art. 1º da Lei 2545/1965 que criou a


COHAB-CT (cf. cópia deste ato normativo anexa, conforme art. 337 CPC), há
delimitação das suas atribuições e isenção de impostos municipais para esta
Companhia. Vale a pena transcrever o inteiro teor do “caput” do referido art.1:

“Art. 1º. Ficam a Prefeitura de Curitiba e a Companhia


de Urbanização e Saneamento de Curitiba,
autorizadas a constituírem a Companhia de Habitação
Popular de Curitiba (COHAB-CT), que terá por

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finalidade o estudo das questões relacionadas


com os problemas da habitação popular e o
planejamento e a execução das suas soluções
segundo as diretrizes e normas expressas na Lei
4380, de 21 de agosto de 1964, e que gozará com
seus bens e serviços de total isenção de impostos
municipais”.

Ressalta-se que a Excipiente cumpre com esta finalidade,


especialmente mediante processos de regularização fundiária. Com efeito, da
certidão simplificada já acostada aos autos, denota-se dentre os objetivos sociais
da Companhia que está inserido: “Executar os programas de regularização
fundiária e de infraestrutura objetivando assegurar condições de habitabilidade
nas áreas ocupadas, diretamente ou mediante convênio com organismos oficiais
ou privados, relativos ao problema”.

Desta forma, a Excipiente atua como instrumentalidade estatal


na execução do Plano Nacional de Habitação Popular – PLANHAP, destinado,
entre outros objetivos, à “eliminação de favelas, mocambos e outros
aglomerados em condições sub-humanas de habitação no Estado”.

Acerca deste tema, importante transcrever parcela do teor de


decisão do e. STF favorável à Companhia de Habitação do Acre –
COHAB/ACRE, contra a União, veiculada em ação declaratória de inexistência
de relação jurídica-tributária:

“Em juízo de estrita delibação, considero plausível a


alegação de que a exploração dos serviços de
'planejamento, execução e coordenação,
juntamente com diversos órgãos do Governo do
Estado do Acre, dos programas diretores, projetos
e orçamentos, destinados à construção de
Conjuntos Habitacionais, na área urbana e rural,
visando a eliminação de favelas mocambos e

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outros aglomerados em condições sub-humanas


de habitação do Estado” (fls. 17) constitua
atividade estatal de primário interesse. (STF, ACO
1411, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 2.9.09).

Além disso, o próprio Município de São José dos Pinhais


reconheceu a construção de moradias como serviço público, tendo em vista que
inseriu tal tarefa em sua Lei Orgânica 8 e criou a Secretaria Municipal de
Habitação9.

Logo, a Excipiente exerce serviço público essencial do


Estado, pois sua a missão social não é outra que não seja dar acesso à
habitação à população de baixa renda.

Por todas estas razões, a excipiente faz jus à imunidade


recíproca, eis que, a despeito de constituir sociedade de economia mista, exerce
serviço público essencial do Estado, não propiciando retorno econômico que não
o meramente suficiente à cobertura das despesas operacionais de implantação
(vale dizer, a COHAB-CT não distribui lucros ou dividendos).

Além disso, nem a onerosidade dos serviços prestados pela


Excipiente, poderia afastar o direito a imunidade recíproca, visto que a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos também não fornece seus serviços de forma
gratuita.

Ademais, considerando o déficit habitacional do país, afirmar


que a imunidade recíproca da COHAB-CT geraria concorrência desleal, atenta
aos princípios da moralidade, razoabilidade e proporcionalidade, tendo em vista
que o IPTU está intimamente ligado ao serviço público prestado.

Cabe salientar, outrossim, que nem mesmo a inexistência de


uma afetação específica do bem afasta a imunidade, como assenta a
jurisprudência dominante, exemplificada no seguinte aresto:
8
(…) IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de
saneamento básico;
9
DECRET0 Nº 2.080, DE 30 DE JANEIRO DE 2008. http://www.sjp.pr.gov.br/portal/csci/viewPdf.php?
file=http://www.sjp.pr.gov.br/portal/csci/PDF/4630.pdf

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EMBARGOS À EXECUÇÃO. NOTIFICAÇÃO.


COBRANÇA DE IPTU DE AUTARQUIA.
INCABIMENTO. IMUNIDADE RECÍPROCA. ARTIGO
15O, PARÁGRAFO 2º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988. DESTINAÇÃO DO IMÓVEL.
NÃO-INFLUÊNCIA.
1. Não obstante a afirmação de que houve a
notificação do embargante, não juntou o apelante
qualquer documento comprobatório do fato.
2. Os municípios não podem exigir o pagamento de
IPTU das autarquias, consoante dicção do artigo 150,
inciso VI, da Constituição Federal.
3. O fato de não haver destinação específica ao
imóvel não afasta a imunidade prevista na
Constituição Federal. Precedentes do STF e do
STJ.
(TRF 4ª Região, 1ª T - ApC 2001.71.00.011544-4/RS -
Relator: JUIZ WELLINGTON M DE ALMEIDA. DJU
02/03/2005. p. 293 unânime) (grifo aposto)

Ademais, o próprio STF estendeu a imunidade tributária a


sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos, conforme se
verifica pela leitura na íntegra do informativo 613 do STF:

PROCESSO ADI REPERCUSSÃO GERAL - 932


ARTIGO
Em conclusão, o Plenário, por maioria, proveu
recurso extraordinário para assentar a incidência
da imunidade recíproca (CF, art. 150, VI, a) de
impostos estaduais à sociedade de economia
mista recorrente, a qual atua na área de prestação
de serviços de saúde — v. Informativo 597.
Inicialmente, ao salientar o que disposto no art. 197
da CF, consignou-se que o serviço público em
questão estaria franqueado à iniciativa privada sob a
forma de assistência à saúde, não constituindo
atividade econômica. Portanto, a iniciativa privada
seria convocada para subsidiar o Poder Público,
para se emparceirar com ele, na prestação de
serviço público que, ao mesmo tempo, seria
direito fundamental e, pela ótica do art. 196 da CF,
direito de todos e dever do Estado. Realçou-se a
heterodoxia do caso, porquanto, desde a década de
70, o Estado, por desapropriação, seria detentor

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do controle dessa “empresa”, assenhoreando-se


da atividade, prestando-a ininterruptamente, e
controlando 99,99% das ações. Enfatizou-se que o
hospital recorrente atenderia exclusivamente pelo
Sistema Único de Saúde - SUS e que suas receitas
seriam provenientes de repasses públicos federais e
municipais. Considerou-se, ademais, que o serviço
de saúde por ele prestado teria caráter de serviço
público, não configurando um negócio privado.
Reiterou-se que a União teria expropriado
praticamente a totalidade do capital social e, com isso,
incorporado de fato o hospital ao seu patrimônio
jurídico, conservando, por motivos desconhecidos,
0,01% do capital social em nome de conselheiros
antigos. Dessa forma, teria mantido a aparência de
uma sociedade anônima que se submeteria, de
regra, ao regime jurídico de empresa privada.
Afirmou-se que isso, entretanto, não seria
suficiente, pois se trataria, na verdade, de uma
entidade pública por ser pública praticamente a
totalidade do capital social, pública sua finalidade
e pública, no sentido de potencialidade de
exercício de poder, a direção do hospital, haja
vista que a União poderia decidir o que quisesse,
porque 0,01% não significaria nada em termos de
votação. Por fim, registrou-se que o
pronunciamento da questão posta em sede de
repercussão geral somente aproveitará hipóteses
idênticas, em que o ente público seja controlador
majoritário do capital da sociedade de economia
mista e que a atividade desta corresponda à
própria atuação do Estado na prestação de
serviços à população. Vencidos os Ministros
Joaquim Barbosa, relator, Cármen Lúcia, Ricardo
Lewandowski e Marco Aurélio que desproviam o
recurso. RE 580264/RS, rel. orig. Min. Joaquim
Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto,
16.12.2010. (RE-580264) Íntegra do Informativo 613

Ante o exposto, requer-se a extinção da ação com resolução de


mérito, reconhecendo o direito à imunidade tributária da COHAB-CT nos termos
do art. 150, VI, “a”, da CF.

p. 15/16
Prefeitura Municipal de Curitiba

Companhia de Habitação
Popular de Curitiba

Rua Barão do Rio Branco, 45


80010-180 Centro Curitiba PR
Tel.: 41 3221-8100 Fax 41 3221-8072
cohabct@cohab.curitiba.pr.gov.br
www.cohabct.com.br

Dos Pedidos

Face ao exposto, a Companhia de Habitação Popular de


Curitiba – COHAB-CT requer do provimento do presente agravo para se
reconhecer a imunidade tributaria da COHAB-CT.

Seja o exequente condenado a arcar com as custas


processuais e honorários advocatícios.

Subsidiariamente requer-se que seja deferida a penhora sobre


o imóvel que deu origem ao crédito tributário.

Nesses termos, Pede Deferimento.


Curitiba, 25 de novembro de 2020

Rafael Fernando Portela Samir Braz Abdalla


OAB/PR 54.780 OAB/PR 31.374

Raphael Wotkoski Daniel Brenneisen Maciel


OAB/PR 62.783 OAB/PR 40.666

p. 16/16

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