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Prefeitura Municipal de Curitiba

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6ª VARA CÍVEL DO FORO


CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – ESTADO DO
PARANÁ.

Autos nº 0005462-16.2020.8.16.0001
De Embargos de Terceiro
Embargante: COMPANHIA DE HABITAÇÃO POPULAR DE CURITIBA – COHAB-CT
Embargado: CONDOMÍNIO CONJUNTO RESIDENCIAL CIC I

COMPANHIA DE HABITAÇÃO POPULAR DE CURITIBA - COHAB-CT,


devidamente qualificada nos autos em epígrafe, vem, tempestiva e respeitosamente,
perante Vossa Excelência, por intermédio de seus procuradores judiciais que esta
subscrevem, tendo em vista a r. sentença de ref. 66.1, com fulcro no art. 1.009 do
CPC/2015, interpor o presente:

RECURSO DE APELAÇÃO

o que faz pelas razões de fato e de direito a seguir expostas, requerendo que sejam
submetidos os autos ao elevado crivo do E. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, para a
imprescindível reforma.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Curitiba, 03 de fevereiro de 2020

Daniel Brenneisen Maciel Rafael Fernando Portela


OAB/PR 40.660 OAB/PR 54.780

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR

EMINENTES SENHORES JULGADORES

Origem 6ª Vara Cível de Curitiba-PR


Autos nº 0005462-16.2020.8.16.0001
de Embargos de Terceiro
Apelante: COMPANHIA DE HABITAÇÃO POPULAR DE CURITIBA – COHAB-CT
Apelado: CONDOMÍNIO CONJUNTO RESIDENCIAL CIC I

I. SÍNTESE DO PROCESSO

Trata-se de Embargos de Terceiro manejado pela Companhia de


Habitação Popular de Curitiba - COHAB-CT em face do CONDOMÍNIO CONJUNTO
RESIDENCIAL CIC I, com o intuito afastar a constrição judicial que recaiu indevidamente
sobre o bem imóvel de sua propriedade.

O imóvel desta Companhia foi penhorado com objetivo de satisfazer os


créditos condominiais decorrentes do Cumprimento de Sentença nº 0020246-
71.2015.8.16.0001, em que figura como autor o referido condomínio e réu a promitente
compradora do imóvel (ELISEU POLICIANO ALVES e IARA APARECIDA ALVES). Note-
se que a COHAB-CT não tem nenhuma relação com a demanda de incidência, porquanto
nunca figurou como parte no processo que originou referida penhora.

Assim, a Embargante se viu compelida a ingressar com os presentes


Embargos de Terceiro, a fim de resguardar seus direitos constitucionais que foram
indevidamente ignorados quando da constrição judicial realizada no bojo dos autos de
Cumprimento de Sentença. Para tanto, alegou, em apertada síntese, a necessidade de
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medida liminar a fim de sobrestar a praça do seu imóvel, evitando possível dano irreversível
ou de difícil reparação; as razões de nulidade da penhora realizada; a violação à coisa
julgada; a supressão dos Princípios do Contraditório, Ampla Defesa e Devido Processo
Legal; a impossibilidade de modificação do polo passivo em sede de cumprimento de
sentença; a violação ao Princípio da Estabilidade da Demanda e os Limites da Lide; a
ilegitimidade passiva da Promitente Vendedora com relação à responsabilidade pelos
débitos condominiais; e, por fim, a negativa de vigência ao art. 513, § 5º, do CPC/2015.

Entretanto, a r. sentença de ref. 66.1 julgou improcedente o pedido inicial,


entendendo pela legalidade do procedimento de penhora do imóvel, eis que se trata de
obrigação propter rem, e, por assim ser, que a satisfação dos encargos condominiais é de
responsabilidade daquele que figura no registro imobiliário como titular da propriedade, em
que pese não tenha participado do processo cognitivo e
nem conste no título executivo judicial. Por fim, condenou a parte Embargante aos ônus
sucumbenciais.

Portanto, data maxima venia, a r. decisão de ref. 66.1 deve ser


integralmente reformada por este Eg. Tribunal de Justiça, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas, que, como se verá adiante, harmonizam-se com os princípios fundamentais
e com o precedente do Eg. Superior Tribunal de Justiça, julgado sob o rito de recurso
repetitivo a teor do art. 1.036 do CPC/2015.

Dos Esclarecimentos Necessários

A COHAB-CT é proprietária de um imóvel localizado na Rua João Batista


dos Santos, nº 1050, apartamento 12, bloco 03, Curitiba, Paraná, no Condomínio Conjunto
Residencial Moradias CIC I, desde sua construção, conforme demonstrado na matrícula sob
nº 60.490, da 8ª CRI desta capital.

O imóvel, foi compromissado a venda para Eliseu Policiano Alves e sua


esposa em 30/10/1987, que ficou responsável pelo pagamento das taxas condominiais do
imóvel.

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Tendo a COHAB-CT tomado conhecimento de que o bem objeto destes


embargos foi onerado por penhora em fase de execução perante o
d. Juízo de Direito da 6ª Vara Cível desta Capital, que visa cobrar débitos condominiais
inadimplidos, ajuizou os presentes embargos a fim de obstar a constrição do bem de sua
propriedade.

Repise-se, a COHAB-CT não tem nenhuma relação com a demanda de


incidência, já que nunca figurou como parte no processo que originou a referida constrição
judicial. Ademais, a r. sentença em execução nos autos principais foi proferida e consolidada
apenas contra a Eliseu Policiano Alves e sua esposa, não tendo ocorrido qualquer
translação de domínio ou alteração substancial no contexto de direitos apta a autorizar uma
sucessão processual.

Nesse sentido, correta a interposição da ação de cobrança pelo


condomínio tão somente em face dos promitentes compradores, tendo em vista que no
período inadimplido os mesmos estavam na posse direta do imóvel.

Contudo, não pode agora o condomínio querer redirecionar o cumprimento


de sentença contra terceiros que não participaram do processo de conhecimento e não
constam do título executivo.

Logo, não apenas cabível o presente Recurso de Apelação em sede de


embargos de terceiro para a defesa pela COHAB-CT de sua propriedade, que
indevidamente está sendo objeto de alienação judicial, mas também o seu conhecimento e
provimento, pois, indevidamente, foi instada a pagar dívida que não lhe cabe, em processo
no qual não é e nunca foi parte.

Em resumo: a) o imóvel constrito pertence à COHAB-CT, terceira que não


é, nem foi, parte no processo que originou a constrição; b) o Executado nos autos de
incidência, embora tenham usufruído dos benefícios do condomínio e em especial das
despesas pessoais cobradas em conjunto (água e energia elétrica, por exemplo), jamais
foram proprietários do imóvel, que sempre pertenceu à
COHAB-CT, e a sua única vinculação dos mesmos com o bem que eram os direitos
advindos de contrato de compromisso de compra e venda.
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II. MERITUALMENTE

II.1. DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

A finalidade deste processo, como de qualquer embargos de terceiro, é


liberar de constrição judicial bem pertencente a quem não é, e nunca foi parte no processo
de conhecimento que originou o título judicial em execução.

Frisa-se que a Apelante poderia ter sido incluída no processo de


conhecimento, pois, desde seu ajuizamento é a proprietária do imóvel constrito. Contudo, o
Condomínio Apelado optou por ingressar com a demanda somente em face do promitente
comprador, demonstrando clara intenção de litigar apenas contra este (na correta
interpretação de que os fruidores dos benefícios condominiais devem arcar com as
respectivas despesas), bem como comprovando que o condomínio possuía ciência
inequívoca de que o promitente comprador estava na posse do imóvel no período
inadimplido.

Não pode agora o Condomínio Embargado, uma vez não encontrando


bens do promitente comprador que figura no título executado, voltar a demanda contra
terceiro, penhorando seus bens, eximindo-se da escolha que fez ao litigar somente contra o
promitente comprador do imóvel.

Ressalte-se que a manutenção da constrição do bem da COHAB-CT


corresponde à inclusão indevida desta Embargante no polo passivo da aludida execução,
em processo que poderia ter sido parte desde o princípio, mas não foi por exclusiva vontade
do credor. Tal prática, além de violar a coisa julgada e o próprio título judicial em execução,
corresponderia à ofensa aos princípios do contraditório, da ampla defesa e,
consequentemente, do devido processo legal, e priva a COHAB-CT de discutir a origem,
continuidade e montante da dívida, vulnerando os recursos públicos à ilegal dissipação.

Em síntese: a) não pode o bem de quem não figurou no processo de


conhecimento, que originou o título judicial em execução, responder pelo pagamento do
título judicial em execução; b) não estão presentes quaisquer elementos autorizadores da
sucessão processual; notadamente, não houve translação de domínio durante o curso do
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processo embargado (a COHAB-CT sempre foi proprietária do bem); c) não pode o


condomínio constituir dívida contra o detentor da posse direta e pretender que o proprietário,
que poderia ter sido chamado ao processo e não foi, venha a responder pela dívida daquele;
d) caso o condomínio queira cobrar da COHAB-CT, deve ingressar com nova ação contra a
proprietária, para que sejam mantidos íntegros os direitos constitucionais da COHAB-CT ao
contraditório, à ampla defesa e ao devido processo legal.

II.2. DA COISA JULGADA

Há decisão transitada em julgado na Ação de Cobrança nº 0020246-


71.2015.8.16.0001 da 6ª Vara Cível desta Capital, condenando tão somente Eliseu
Policiano Alves e sua esposa a arcar com o pagamento dos encargos condominiais
inadimplidos.

Destarte, deve-se ter em mente que a COHAB-CT não fez parte da relação
processual, tampouco foi reconhecida como devedora do título executivo judicial. Em última
análise, caso mantida a r. sentença proferida, esta Companhia responderá com seus bens
por dívida de terceiro, que, aliás, foi o único condenado no processo de conhecimento.

Tal circunstância não pode prosperar sob pena de violação aos limites
subjetivos da coisa julgada, como bem prescreve o art. 506 do CPC/2015.

Observe-se, aqui, que JAMAIS ocorreu qualquer translação de domínio ou


alteração substancial no contexto de direitos apta a autorizar uma sucessão processual. A
manutenção da penhora fará com que COHAB-CT responda com seu bem pela condenação
de terceiro, ainda que não tenha figurado no processo cognitivo que gerou o título judicial
em execução.

Cumpre destacar que o Código de Processo Civil não admite a extensão


da coisa julgada, conforme dispõe a norma do art. 506 do CPC/2015. Obviamente, além de
não estar em consonância com a norma supracitada, a
r. decisão recorrida ofende o disposto no art. 513, § 5º do CPC/2015, in verbis:

Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada,
não prejudicando terceiros.

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(…)

Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste


Título, observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação,
o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código.
(...)
§ 5º O cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face
do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver
participado da fase de conhecimento.

Portanto, a r. sentença recorrida deve ser integralmente reformada, haja


vista que o título executivo foi constituído entre o Condomínio Embargado e o promitente
comprador do imóvel, de modo que a execução somente pode ser direcionada contra os
bens que pertençam ao legítimo devedor.

II.4. DA NULIDADE DA PENHORA

O título executivo foi constituído somente contra Eliseu Policiano Alves e


sua esposa, sendo importante ressaltar que, além de possuir a qualidade de terceira que
sofre constrição de seus bens em cujo incidente não fez parte, o ato de constrição esbulha o
patrimônio da apelada (art. 674 do CPC/2015), porquanto a penhora encontra-se eivada de
nulidades, conforme demonstrado nos itens a seguir:

II.4.1. Da Ofensa aos Princípios do Devido Processo Legal,


do Contraditório e da Ampla Defesa – Art. 5º, LIV e LV, CF/88

Penhorar bem de quem não foi parte no processo de conhecimento viola


os direitos constitucionais do titular do bem constrito (contraditório, ampla defesa e devido
processo legal), máxime quando esse terceiro, como no caso em voga, poderia ter figurado
no processo e não o fez por exclusiva vontade do credor.

Portanto, a manutenção da constrição judicial do bem viola sobremaneira o


art. 5º, incisos LIV e LV da Constituição Federal.

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II.4.2. Ofensa à Coisa Julgada Subjetiva – Violação dos


Arts. 506 E 513, §5º do CPC/2015 e Art. 5º, XXXV, da CF/88

A r. sentença proferida julgou improcedente os presentes embargos de


terceiro, ofendendo a coisa julgada subjetiva e a aplicabilidade dos arts. 506 e 513, §5º do
CPC/2015 e o art. 5.º, inc. XXXVI, da CF/88 ao caso concreto.

Como visto, o título executivo foi constituído em face de Eliseu Policiano


Alves e sua esposa. Nesse sentido, a execução deve buscar bens da executada e não de
terceiros para satisfazer o crédito exequendo.

Ante o exposto, requer-se a integral procedência do Recurso de Apelação


interposto pela COHAB-CT, com a consequente a reforma da r. decisão vergastada, haja
vista a evidente ofensa à coisa julgada subjetiva.

II.4.3. Da Ilegitimidade Passiva do Promitente Vendedor,


Do Precedente do STJ Julgado sob o Rito de Recurso Repetitivo

Caso se mantenha a penhora sobre o imóvel da embargante, haverá,


indubitavelmente, violação ao precedente do E. STJ proferido nos autos nº 1.345.331/RS de
Recurso Especial, no qual pacifica a interpretação dos arts. 9 e 12, §4º e 20 da Lei n.
4.591/1964, bem como a responsabilidade pelo pagamento de taxas condominiais quando
há compromisso de compra e venda firmado.

Existe nos autos comprovação incontroversa a respeito da existência de


Contrato de Compromisso de Compra e Venda incidente sobre a unidade geradora dos
alegados débitos condominiais com cláusula de irretratabilidade e relativo ao período de
cobrança de taxas condominiais. No mesmo sentido, é incontroverso que o uso e fruição
do bem sempre foi exclusivamente dos compromissários compradores e que o
condomínio embargado tinha ciência desse fato, tendo em vista que a ação de
cobrança foi ajuizada exclusivamente em face dos promitentes compradores.

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A melhor exegese da Lei de Condomínio (Lei nº 4.591/1964) aponta como


clara e evidente a ilegitimidade passiva da COHAB-CT para responder pelos débitos
condominiais pretensamente inadimplidos no caso em comento.

Dispõe o art. 12, § 4º, da Lei de condomínios:

“Art. 12. (...)


§ 4º. As obras que interessam à estrutura integral da edificação ou do
conjunto de edificações, ou ao serviço comum, serão feitas com o
concurso pecuniário de todos os proprietários ou titulares de direito à
aquisição de unidades, mediante orçamento prévio aprovado em
Assembléia Geral, podendo incumbir-se de sua execução o síndico, ou
outra pessoa, com aprovação da assembléia. (...)”

Por uma questão de pura lógica, sabe-se que quando a Lei estabelece
uma exceção à regra geral é porque essa situação especial, quando eventualmente ocorra,
se sobrepõe à regra comum.

A referida convicção decorre não somente do princípio da especialidade,


mas principalmente porque se assim não fosse, não haveria necessidade de fazer a
exceção.

Nesse sentido, se o proprietário, mesmo a título previsivelmente resolúvel,


sempre fosse o devedor principal da obrigação decorrente dos débitos condominiais, por
qual razão se falaria na Lei em titulares de direito à aquisição?

Evidentemente que o que permeia o texto legal é o princípio da vinculação


do ônus à fruição, indicando que aquele que realmente se beneficia pelos gastos do
condomínio deva ser responsabilizado pelo quinhão da unidade habitacional no rateio do
condomínio.

Não por acaso estabelece o art. 20 da mesma Lei:

Art. 20. Aplicam-se ao ocupante do imóvel, a qualquer título, todas as


obrigações referentes ao uso, fruição e destino da unidade.

O art. 4º da Lei sob n.º 4.591/64 impõe aos promitentes compradores, de


modo expresso, o dever de pagar as despesas de conservação da coisa comum,
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confirmando que o promitente comprador é equiparado ao condômino e, portanto, devedor


da obrigação.

A nova redação do parágrafo único do mesmo dispositivo põe uma pá de


cal sobre o assunto, pois condiciona a venda ou a cessão de direitos sobre a unidade à
comprovação pelo promitente vendedor do pagamento das cotas condominiais, indicando, a
contrario sensu, que é do promitente comprador a responsabilidade pelo pagamento dos
débitos posteriores ao negócio jurídico.

E não há se falar em solidariedade, haja vista que a solidariedade decorre


apenas da lei expressa ou da vontade das partes (art. 265 do CC/2002), e inexiste nenhuma
dessas no caso.

O art. 12 da Lei sob n.º 4.591/64 estabelece claramente que “cada


condômino concorrerá nas despesas do condomínio”. Já o art. 9.º esclarece que são
condôminos os proprietários, promitentes compradores, cessionários ou promitentes
cessionários. Obviamente, não são todos juntos condôminos, mas um de cada vez.

Em um contrato de longo prazo, como o compromisso de compra e venda,


o proprietário deixa de ser condômino assim que celebra o negócio jurídico e dá
conhecimento ao condomínio. Caso contrário, poderia participar das deliberações
condominiais, até ser eleito síndico, o que não ocorre.

Ademais, o E. STJ no Recurso Especial 1.345.331-RS resolveu


controvérsia acerca da responsabilidade sobre o pagamento de taxas condominiais,
quando há contrato de compromisso de compra e venda, elaborando precedente que deve
ser respeitado por todas as instâncias inferiores:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. CONDOMÍNIO. DESPESAS
COMUNS. AÇÃO DE COBRANÇA. COMPROMISSO DE COMPRA E
VENDA NÃO LEVADO A REGISTRO. LEGITIMIDADE PASSIVA.
PROMITENTE VENDEDOR OU PROMISSÁRIO COMPRADOR.
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. IMISSÃO NA POSSE.
CIÊNCIA INEQUÍVOCA. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firmam-se
as seguintes teses: a) O que define a responsabilidade pelo pagamento
das obrigações condominiais não é o registro do compromisso de compra
e venda, mas a relação jurídica material com o imóvel, representada pela
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imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do


condomínio acerca da transação. b) Havendo compromisso de compra e
venda não levado a registro, a responsabilidade pelas despesas de
condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o
promissário comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso
concreto. c) Se ficar comprovado: (i) que o promissário comprador se
imitira na posse; e (ii) o condomínio teve ciência inequívoca da transação,
afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor para responder
por despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida
pelo promissário comprador. 2. No caso concreto, recurso especial não
provido. (STJ. REsp 1345331/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julg. 08/04/2015, DJe 20/04/2015)

Com base no referido precedente, o E. STJ tem julgado os embargos de


terceiro com situação análoga ao presente nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PROMESSA DE


COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. DÉBITOS CONDOMINIAIS. DEMANDA
AJUIZADA CONTRA O PROMITENTE COMPRADOR. PENHORA DO
IMÓVEL DO PROMITENTE VENDEDOR. DESCABIMENTO. 1.
Controvérsia acerca da possibilidade de penhora do imóvel do promitente
vendedor (proprietário) no cumprimento de sentença proferida contra o
promitente comprador. 2. Caráter 'propter rem' da obrigação de pagar
cotas condominiais. 3. Legitimidade passiva concorrente do promitente
vendedor e do promitente comprador para a ação de cobrança de débitos
condominiais posteriores à imissão na posse. 4. Interpretação das teses
firmadas no REsp 1.345.331/RS, julgado pelo rito do art. 543-C do CPC. 5.
Caso em que a ação de cobrança foi ajuizada exclusivamente contra
o promitente comprador, não havendo título executivo contra o
proprietário do imóvel ('nulla executio sine titulo'). 6. Descabimento da
penhora do imóvel. 7. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.(STJ. REsp
1550254/PR, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma,
DJe 01/09/2015)

Percebe-se, pelos precedentes citados, juntamente com a legislação


apontada, a negativa de vigência aos dispositivos invocados da Lei sob n.º 4.591/64 bem
como desrespeito ao precedente firmado pelo E. STJ.

Nesse sentido, o E. STJ já pacificou a controvérsia acerca da


responsabilidade sobre o pagamento de taxas condominiais, quando há contrato de
compromisso de compra e venda, responsabilizando o promitente comprador, quando há
imissão na posse e ciência inequívoca do condomínio.

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Logo, requer a reforma da r. sentença proferida, reconhecendo-se a


ilegitimidade passiva da COHAB-CT para arcar com a dívida condominial no período em que
o imóvel foi usufruído pelo promitente comprador.

II.4.4. Da Irregular Inclusão de Terceiro em fase de Cumprimento de Sentença

A penhora promovida no imóvel da Apelante implica na inclusão indevida


de terceiro em processo de cumprimento de sentença, violando entendimento sedimentado
pelo STJ, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


COBRANÇA DE DESPESAS CONDOMINIAIS. DESPESAS
CONDOMINIAIS. RESPONSABILIDADE DO PROMISSÁRIO
COMPRADOR ATÉ A DATA DE DEVOLUÇÃO DO IMÓVEL. 1. O
promissário comprador responde pelas despesas condominiais até a data
da desocupação do bem imóvel. 2. Não é possível a substituição no
polo passivo, em sede de cumprimento de sentença, para incluir
terceiro que não participou do processo de conhecimento. 3. Recurso
especial conhecido e provido. (Recurso Especial nº 1.415.503 - PR
(2013/0364130-0) Rel.: Ministra Nancy Andrighi, DJU 13/11/2013)

Ante o exposto, requer a reforma da r. sentença proferida para anular a


penhora proferida sobre imóvel da apelante, determinando que a execução prossiga apenas
sobre bens do promitente comprador.

II.4.5 Da Necessária Identidade entre o Polo Passivo da


Ação de Conhecimento e do Polo Passivo da Ação de Execução

A r. decisão hostilizada, ao manter a validade da penhora realizada nos


autos principais, sobrepujou as divisas da boa-fé objetiva, ao conservar a constrição sobre
bem de terceiro que não participou do processo cognitivo, nem tampouco figurou como parte
na formação do título executivo judicial.

Essa prática não pode ser convalidada pelo Poder Judiciário, pois implica
em ofensa aos princípios da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal e
ofenda aos limites subjetivos da coisa julgada.

Nesse diapasão, é uníssona a jurisprudência do STJ, in verbis:


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RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. DESPESAS


CONDOMINIAIS. PENHORA. EXECUÇÃO QUE ATINGIU O IMÓVEL
GERADOR DA DÍVIDA, AFETANDO PATRIMÔNIO DA
PROPRIETÁRIA QUE NÃO PARTICIPOU DA AÇÃO DE
CONHECIMENTO. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. "A
penhora do unidade condominial em execução não pode ser
autorizada em prejuízo de quem não tenha sido parte na ação
de cobrança na qual se formou o título executivo. Necessária a
vinculação entre o polo passivo da ação de conhecimento e o
polo passivo da ação de execução" (REsp 1273313/SP, Rel.
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em
03/11/2015, DJe 12/11/2015). 2. Recurso especial provido. (STJ. RESP
1.818.807-PR, Ministro Luis Felipe Salomão, DJU 24/06/2019)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE


TERCEIRO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. PENHORA. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça não admite a substituição da parte executada, na fase
executiva, para incluir terceiro que não participara do processo de
conhecimento e, por conseguinte, não integrou o título executivo
judicial, ainda que seja para a cobrança de cotas condominiais. 2.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. (STJ. RESP 1.771.394-
PR, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJU 09/10/2019)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E


PROCESSUAL CIVIL. DESPESAS CONDOMINIAIS. PROMISSÁRIO
COMPRADOR. AÇÃO DE COBRANÇA PROMOVIDA CONTRA
PROMITENTE VENDEDOR. EXECUÇÃO QUE ATINGIU O IMÓVEL
GERADOR DA DÍVIDA, AFETANDO PATRIMÔNIO DO PROMITENTE
COMPRADOR. INADMISSIBILIDADE. PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA
E DO CONTRADITÓRIO. 1. Aplicabilidade do novo Código de Processo
Civil, devendo ser exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na
forma nele prevista, nos termos do Enunciado Administrativo nº 3
aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas
a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de
admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. A penhora da unidade
habitacional que deu origem ao débito condominial não pode ser
autorizada em prejuízo de quem não tenha sido parte na ação de
cobrança em que formado o título executivo. 3. A natureza propter
rem da dívida não autoriza superar a necessária vinculação entre o
polo passivo da ação de conhecimento e o polo passivo da ação de
execução. 4. Agravo interno não provido, com imposição de multa e
majoração da verba honorária. (STJ. AgInt no REsp 1368254/RJ, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julg. 28/03/2017, DJe
17/04/2017)

Como apontado, é cediço na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça


que “a natureza propter rem da dívida não autoriza superar a necessária vinculação
.
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entre o polo passivo da ação de conhecimento e o polo passivo da ação de


execução.”1

Desta feita, com fulcro na jurisprudência do E. STJ apontada, a constrição


efetuada pela embargada é ilegal e deve ser repelida de plano, com a reforma integral da r.
sentença proferida nos presentes embargos de terceiro.

II.5. DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ESTABILIDADE DA DEMANDA


E DOS LIMITES DA LIDE

A manutenção da r. sentença que considerou legal a penhora de bem de


terceiro com intuito de solver dívida de outrem viola o princípio da estabilidade da demanda
e os limites da lide.

Note-se que não se está diante de nenhum dos casos do art. 779 do
CPC/2015, sendo certo que a COHAB-CT não é sucessora a qualquer título dos mutuários
executados, não podendo assim, sequer figurar como executada.

Não se olvide, outrossim, o disposto no art. 108 do CPC/2015, sendo certo


que não se está diante da hipótese prevista pelo art. 109, § 3º, do CPC/2015, já que a
COHAB-CT não adquiriu o bem no curso do processo, mas já era proprietária desde antes
mesmo da propositura da ação de incidência.

Por outro lado, não tem cabimento a incidência do art. 1.345 do Código
Civil Brasileiro2, já que a Embargante jamais deixou de ser proprietária do imóvel. Como de
praxe, a COHAB-CT firma contrato de compromisso de compra e venda. Desta forma, os
mutuários são imitidos na posse do imóvel e em contraprestação dão quitação às parcelas
do financiamento.

A partir do momento que foi dada quitação integral ao contrato, a


promitente vendedora (COHAB-CT) transfere, por meio de escritura pública, a propriedade

1
(STJ. AgInt no REsp 1368254/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julg.
28/03/2017, DJe 17/04/2017)
2
Art.1.345 do Código Civil - O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante em relação
ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios.
.
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do imóvel aos promitentes compradores (mutuários). Assim não há o que se falar em


“adquirente'', posto que é assegurado à proprietária as medidas possessórias cabíveis
quando do descumprimento de cláusulas contratuais para se reaver a posse plena do imóvel
que sempre foi de sua propriedade.

Logo, a manutenção da r. sentença e da constrição judicial em questão


viola o art. 5º, XLV, da Constituição Federal, e os arts. 108 e 779 ambos do CPC/2015, bem
como o art. 1.345 do CC/2002, dentre outros dispositivos aplicáveis.

III. PEDIDOS FINAIS

Diante o exposto, requer respeitosamente a essa Eg. Corte seja recebido


o presente Recurso de Apelação em seu duplo efeito e acatadas as suas razões, para:

a) liminarmente, conceder efeito suspensivo ao presente recurso a fim


de declarar o sobrestamento de todo e qualquer ato expropriatório nos autos de
Cumprimento de Sentença nº 0020246-71.2015.8.16.0001 em trâmite perante a
6ª Vara Cível de Curitiba-PR, mormente no que tange a hasta pública do bem objeto desta
lide, até o final julgamento do presente feito;

b) dar integral provimento ao presente recurso, a fim de reformar a r.


decisão vergastada, declarando a nulidade da penhora outrora efetivada sobre bem imóvel
de titularidade desta Companhia, assim como determinando que o prosseguimento dos
autos principais seja dado exclusivamente em face do promitente comprador, com a
indicação de bens de sua propriedade, para o fito de garantir a execução da dívida, pelas
razões supramencionadas e no mais que vier a ser suprido por essa C. Corte, nos termos do
precedente fixado no Recurso Especial nº 1.345.331/RS, julgado sob o rito do art. 1.036 do
CPC/2015;

c) sucessivamente, dar provimento ao Recurso para, no mérito, por


todas ou quaisquer das causas apontadas, julgar procedente os pedidos da ação em
reforma à decisão recorrida;

d) inverter ou redistribuir os ônus de sucumbência, conforme seja o caso.


.
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Custas recolhidas com isenção de 50%, conforme mov. 72.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Curitiba, 03 de fevereiro de 2020

Daniel Brenneisen Maciel Rafael Fernando Portela


OAB/PR 40.660 OAB/PR 54.780

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