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Margarida Travassos 2018/2019

Finanças Públicas I

Respostas Tipo
- Noção e objeto de Finanças Públicas
As Finanças Públicas, entendido pelo Dr. Teixeira Ribeiro, têm como objeto o
estudo da "aquisição e utilização de meios financeiros pelas coletividades
públicas", ou seja, estudaria " as normas que regulam a obtenção, a gestão e o
dispêndio dos meios financeiros públicos". O Estado trata-se de um agente
económico único cuja, interação com os demais sujeitos de mercado se verifica,
numa perspetiva macro-analítica não se tratando de um agregado.

O Dr. Teixeira Ribeiro, salienta três aspetos pelos quais as Finanças Públicas são
uma ciência autónoma, separando as finanças públicas das privadas.

• Fontes de financiamento: Como é que as empresas se financiam? Nas


empresas há uma relação de troca enquanto, o Estado se financia através de
impostos pois, não há compensação. É uma medida coativa porque tendo o
ius imperium tem a capacidade de exigir impostos.

• Determinação das despesas: Nas empresas as despesas determinam-se pelas


receitas. Quanto tal não acontece as empresas entram em insolvência pois,
não têm receitas para as suas despesas. No Estado não se verifica tal
situação pois, determina as despesas e só depois pensa no financiamento.

• Móbil da atividade: O objetivo das empresas é a obtenção de lucro enquanto,


o do Estado é satisfação de necessidade coletivas ou seja, do interesse
público.

- Análise normativa e análise positiva da atividade financeira no setor público


A análise normativa, tem por objeto a emissão de juízos de valor acerca da
situação atual e do impacto que uma determinada decisão vai ter no futuro. Permite
avaliar as consequências de uma determinada alteração.

A análise positiva,permite medir e a avaliar em certas variáveis objetivas, a


alteração de uma ou mais variáveis instrumentais ou estruturais. Permite analisar o
que já existe.

- Funções financeiras do Estado


Richard Musgrave diz-nos que o Estado deverá desempenhar as seguintes
funções:

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1. Afetação de recursos: trata-se das atuações das entidades do setor público
que consistem, designadamente na provisão de bens (o Estado deve
contribuir para uma afetação eficiente de recursos na economia através da
provisão de bens ou de serviços que o mercado não esteja em condições de
fornecer. O Estado produz bens porque, há bens que o mercado não produz
como é o caso dos bens públicos- ex:defesa nacional), na correção de
comportamentos dos agentes económicos e na regulação de certas
atividades produtivas ( no sentido de aumentar ou diminuir a produção
privada de determinados bens que, designam as situações de
externalidades).

2. Estabilização económica: política através da qual o Estado tentará contribuir


para um crescimento sustentado da economia, garantindo níveis elevados
de emprego, estabilidade de preços e equilíbrio nas balanças externas. É
necessário que o Estado tenha uma política contra cíclica.

3. Redistribuição: numa economia capitalista a distribuição do rendimento nem


sempre é justa. É por isso, desejável que o Estado intervenha redistribuindo
esse rendimento por motivos de justiça. Esta pode ser feita através de
políticas que distribuam o rendimento e a riqueza de um modo julgado mais
adequado ou através de uma provisão em espécie de certos bens que
permitiam uma maior igualdade de acesso ou igualdade de oportunidades.

4. Função da proteção do ambiente ( esta função é nova e a Dra.Teresa não dá


grande importância)

Em suma, a intervenção estadual é essencial para o funcionamento das sociedades


modernas e das economias de mercado. É-lhe reconhecida a virtude de, a
capacidade de providenciar bens que satisfazem necessidades coletivas e cuja
produção é financiada maioritariamente através de receitas provenientes do setor
privado.

- Equidade, eficiência e liberdade


A questão que se coloca é em que situações deve o Estado chamar a si a provisão
de um determinado bem.

Para responder temos de ter em conta três factores necessários: equidade,


eficiência e liberdade. A eficiência pode definir-se como a afetação de recursos de
um modo ótimo, isto é, de tal modo que não é possível melhorar o bem-estar de
alguém sem prejudicar o bem-estar de outrem. De seguida, a equidade é entendida
como estando ligada à justiça e à igualdade. Há situações tidas como justas, mas
que causam prejuízos a outrem. Importa saber qual a opção menos prejudicial e
para quem se mostra menos prejudicial. Estas causas podem colidir com a

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liberdade negativa dos cidadãos isto é, os cidadãos devem manter uma esfera de
liberdade e autonomia inviolável.

Todos estes critérios são normativos pelo que, podem ter prevalência diversa
mediante o tipo de análise em causa.

- O Estado e a provisão pública de bens


Existe provisão pública de bens sempre que, é o Estado e não o mercado a definir
as características e as condições de acesso de certos bens. Bens estes que, são
total ou parcialmente financiados através de receitas públicas ou seja, de impostos.
O Estado cobra impostos porque, goza do poder de ius imperium. Estes impostos
são exigidos unilateralmente pelo que não são, preços mas sim prestações
coativas. O seu financiamento satisfaz necessidades dos indivíduos. Podem existir
dois tipos de necessidades:

• Necessidades de satisfação ativa: são a satisfação de uma vontade à qual


tenho necessidade, através de um ato de consumir. Ex: bens privados

• Necessidades de satisfação passiva: satisfazem-se pela mera existência dos


bens não sendo necessário qualquer tipo de ato de consumir. Ex: bens
públicos

- Tipos de bens
A. Bens Públicos: satisfazem necessidades coletivas. Estão dependentes da
verificação cumulativa de irrivallidade no uso e inexcluibilidade pelo preço.A
irrivalidade é o bem cujo consumo por um indivíduo não pode por em causa
o consumo por outros. Uma quantidade dada de um determinado bem pode
ser utilizado por um enorme número de consumidores, onde o custo
marginal é 0. A inexcluibilidade entende que, os consumidores não está me
condições de excluir o consumo de um determinado bem a quem não paga,
ficando assim numa situação de perda. Contudo, quando não posso excluir
o preço, o problema é o financiamento. No fundo, é falar de o consumo não
poder nem dever ser controlado por um sistema de preços. É aplicado às
situações de free rider em que, os utilizadores não estão dispostos a pagar o
preço porque sabem que podem beneficiar das utilidades que o bem
proporciona sem terem que pagar qualquer quantia isto porque, sabem que
os custos do bem vão ser suportados por quem está interessado na
produção do bem.

B. Bens semi públicos: são aqueles que satisfazem simultaneamente


necessidades coletivas e necessidades individuais. Podem ser bens
tecnicamente semi públicos, que são bens de provisão pública que podem
ser fornecidos gratuitamente ou seja, os custos de produção são

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transferidos integralmente para a comunidade, e bens técnica e
financeiramente públicos, bens de provisão pública em que existe uma
contraprestação pecuniária paga pelo beneficiário ou pelo utilizador do bem.
Esse valor pode ser inferior, igual ou superior ao custo do bem mas nunca
pode ser inferior ao preço de mercado.

C. Bens de mérito: bens produzidos em ordem ás preferências não dos


consumidores mas sim da elite governamental que age como intérprete dos
interesses da comunidade, numa espécie de comportamento paternalista
em relação á comunidade. Estamos no domínio da atuação do Estado não
por meios financeiros mas, ao impôr e ao regular determinadas condutas,
estamos a salvaguardar necessidades coletivas. O Dr. Teixeira Ribeiro
entende que "são bens cuja produção pelo Estado a política considera
desejável por imposição da elite dominante ou por adesão a interesses de
valores da comunidade.

D. Bens de clube: bens públicos mas que, podem ser providenciados de


forma privada. São bens consumidos por um número restrito de pessoas
pelo que, se pressupõe que, que usufrui do bem consegue suportar todos
os seus custos. Permitem a satisfação passiva de necessidades.

- Falhas de mercado
1. Externalidades: os agentes económicos fazem as suas escolhas tendo
em consideração os custos e as vantagens que decorrem de uma
conduta. Para a escolha ser eficiente é necessário que o agente suporte
todos os custos mas beneficie de todas as vantagens sem que a sua
conduta represente sacrifícios ou vantagens para terceiros. Temos dois
tipos de efeitos nesta falha: os efeitos externos negativos, em que o
consumo de um determinado bem por um indivíduo afeta negativamente
a utilidade do outro. Não são tidos em conta na ponderação individual
entre os custos e as vantagens, no fundo são o impacto negativo em
terceiros e por isso, se justifica a penalização de condutas, e os efeitos
externos positivos, justifica-se a provisão de bens a um preço inferior ao
preço determinado pelo mercado, de modo, a que haja uma maior
procura. Criando uma utilidade que é apropriada por terceiros sem que,
estes paguem o respetivo preço. Nestes efeitos positivos existe uma
fruição passiva.

2. Poder de mercado: são situações em que há um grande poder de


mercado por parte do produtor. São o caso dos monopólios naturais.
Esta falha permite-nos estar perante uma situação em que os produtores
têm condições de fixar preços superiores aos que resultariam de uma

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afetação eficiente de recursos, resultando num consumo
insuficientemente baixo. Nestes casos por razões técnicas existe uma só
empresa. Nos serviços em que há uma infraestrutura que serve todos os
consumidores, a provisão pública tem a vantagem de assegurar o serviço
universal sem discriminar preços. Tratam-se de serviços essenciais e
dependentes de outra entidades.

3. Assimetrias de informação: situações em que as duas partes de uma


transação possuem diferente informação sobre o objeto dessa transação.
Nesta falha, não há transparência de informação. Há um parte que está
mais informada ( produtores/vendedores) do que a outra (consumidores).
Estas falhas são importantes para os produtores pois conseguem
enganar alguns consumidores. Daí que, seja necessária a intervenção do
Estado nomeadamente, os direitos do consumidor e os rótulos nos
produtos. Um dos problemas subjacentes é o da seleção adversa que
existe quando os consumidores têm informação que não transmitem aos
vendedores. Ex: seguros de saúde

- Despesa Pública
Para uma clara definição de despesa pública é necessário que seja classificada
pelos efeitos económicos provocados pelo PIB e pelos efeitos sobre o PIB.

Quanto aos primeiros, distinguem-se as despesas meramente produtivas que,


satisfazem necessidades públicas ou privadas criando utilidades, e as despesas
produtivas que, para além de criarem capacidade de produção criam utilidades. Os
segundos efeitos têm também duas distinções relativamente ás despesas compra,
despesas que são feitas mediante aquisição de bens ou serviços, criam rendimento
e aumentam o PIB, e ás despesas transferências, que se limitam a transferir
poderes de compra e por isso, não criam rendimento. Os beneficiários é que vão
despender do montante da transferência e criar rendimento. São todas as
subvenções públicas, reembolsos e concessões de empréstimos. Os beneficiários
criam rendimentos.

Para explicar a sua evolução e o seu aumento estudaremos três teorias:

Wagner, procurar explicar o aumento da despesa pública considerando que a


industrialização dos vários países cria um fator preponderante para explicar esse
aumento pois, exigiria uma intervenção crescente por parte do Estado.

Peacock e Wiseman, associam o aumento da despesa pública aos efeitos das


grandes perturbações vivenciadas nos períodos entre 1890 e 1955, na sociedade.
Com estas surge necessidade de aumentar a despesa pública, verificando-se a
deslocação desta despesa para um nível mais alto, é o chamado efeito

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deslocação. Claro está que vai ter de ser financiada e por isso, aumentaram-se os
impostos que á luz da situação social, quebra a resistência dos contribuintes. Findo
o período de perturbação, a despesa embora diminua vai registar valores iniciais
pois, a resistência dos contribuintes ja foi quebrada com o aumento dos impostos e
porque, as perturbações sociais consciencializaram os povos e os Governos, das
novas necessidades a satisfazer e que por isso, já não concordam com a
diminuição da despesa para corrigir efeitos dessa perturbação, é designado efeito
apreciação.

Tanzi e Shuknendt, entendem que a despesa pública está dependente da


compreensão do papel do Estado.

- Orçamento de Estado
O Orçamento de Estado, é o documento onde se faz a previsão das receitas e das
despesas anuais competentemente autorizada pela Assembleia da República, art.
106º/1 CRP.

No orçamento de Gerência prevêem-se as receitas que o Estado irá cobrar e as


despesas que o Estado irá pagar durante o período financeiro e é uma previsão de
receitas e despesas na sua fase terminal. Este orçamento é mais vantajoso pois,
sendo uma previsão das cobranças e dos pagamentos a fazer no período que
permite ao Governo regular a tesouraria do Estado, ajuizando acerca da adequação
entre saídas e entradas de caixa, de modo a que não falte dinheiro nos cofres do
Estado nem haja um excesso.

Já no orçamento de Exercício, prevê-se as receitas e e as despesas que o Estado


irá cobrar e pagar em virtude dos créditos e das dividas que irão surgir contra si ou
a favor de si durante o período financeiro. É uma previsão de receitas e de
despesas na fase inicial, de créditos e de dividas. Permite-nos o confronto entre o
montante de dividas e o montante de créditos que surgiram contra ou a favor do
Estado no período financeiro isto é, permite-nos verificar o equilíbrio entre o que se
vai pagar e o que se vai receber.

- Funções do Orçamento de Estado


II. Relacionalização das receitas com as despesas: O Estado tem de orçar as duas
despesas e as suas receitas a fim de assegurar que as receitas bastam para
cobrir as despesas. Esta necessidade remete-nos para a acepção formal do
equilíbrio do orçamento de Estado estipulado no art.9º/1 LEO 2015 e art.105º/4
CRP.

III. Fixação das despesas: as receitas têm de cobrir as despesas, tem portanto de
se determinar/fixar o montante das despesas. O total das despesas é a soma

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de todas as despesas de todos os serviços. O orçamento das despesas, é uma
série de aberturas de créditos aos serviços. Os serviços, têm então de confinar
as suas despesas aos créditos que lhes foram atribuídos. Prevê verbas, cujo
montante os serviços não podem ultrapassar. O orçamento das receitas, tem de
ser uma mera estimativa, uma previsão o mais próxima da realidade. Mas, as
cobranças são sempre incertas. Num orçamento de exercício, os créditos são
autorizações de contrair dividas durante o período financeiro e de fazer
pagamentos durante este período e durante os períodos seguintes. Já num
orçamento de gerência, os créditos são autorizações para se fazer pagamentos
durante o período e também autorizações de contrair dividas a pagar no
próximo período.

IV. Exposição do plano financeiro: com a previsão das despesas fica a saber-se
quanto se propõe despender com a organização e funcionamento de cada um
dos serviços e com a previsão das receitas fica-se a saber qual o contributo de
cada um dos meios de financiamento. O orçamento é o próprio plano/
programa financeiro anual do Estado.

- Regras de Organização do Orçamento


a) Unidade: art.9ºLEO 2015 e art.105º/3 CRP

Sendo uma das funções do Orçamento de Estado relacionar as receitas com as


despesas, convém que ambas estejam inscritas num só documento ficando-se a
saber logo se o montante das receitas é suficiente para cobrir as despesas. Além
disso, o OE tem como função expor o plano financeiro pelo que, se apreende
melhor o plano quando este consta num único documento.

A regra exige que todas as receitas e despesas devem ser inscritas num único
documento. Esta regra permite uma maior transparência do OE, permitindo um
cumprimento cabal das funções da relacionalização das receitas com as despesas
assim como, a exposição do plano financeiro e ainda a possibilidade de haver uma
visão de conjunto, é um fator de rigor e disciplina. Contudo, há exceções que
constam no art.9º/2 LEO 2015 e por isso, entre nós é aceite a pluralidade
orçamental para facilitar o apuramento orçamental.

b) Especificação: art.17º LEO 2015, DL26/2002, art.105º/1a) CRP

A regra diz-nos que, as receitas e as despesas devem ser previstas


discriminadamente ou seja, não devem ser previstas em globo enquanto montante
global de receitas e despesas relativas a determinando serviço. O cumprimento
desta regra permite expor o plano financeiro e ainda entender que despesas em
concreto o Estado se propõe a realizar e com que tipo de receitas contará para
esse conjunto de despesas. Visa-se impedir a discricionariedade do Governo

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permitindo clareza e transparência, veracidade e fiscalização. Mas, esta regra
comporta limites um deles, é o grau de pormenorização necessário que acaba por
manipular os serviços e por isso, no OE inscreve-se em cada serviço uma
designação mais genérica para que a pormenorização não impeça o funcionamento
do serviço. Prevê-se três classificadores orçamentais para a resolução deste
problema: económica, funcional e orgânica. A classificação económica é regulada
pelo art.5º DL 26/2002 (atual DL 52/2014): há uma distinção entre receitas e
despesa correntes e receitas e despesas de capital. A classsificação funcional
opera segundo, a natureza das funções exercidas pelo Estado ( funções gerais de
soberania, funções sociais, etc...) e é regulada pelo DL 171/94, onde há uma
alocação de verbas. Por fim, quanto á classificação orgânica, atende aos diferentes
órgãos e serviços. Faz-se referência ao art.6º DL 131/2003 e art.105º/3 CRP e art.
17º/1 LEO 2015, e ainda art.45º/1/5 LEO 2018. Permite-nos também conhecer e
entender o modo de financiamento do Estado e o peso de cada componente.

Contudo, há uma exceção inserida no art.8º/5 LEO 2001 (atual art.45º/11 LEO
2018), é a chamada "válvula de segurança" onde há a dotação provisional do
Ministério das Finanças. É uma "almofada financeira" a que só se recorre se houver
necessidade de se realizar despesas imprevisíveis e inadiáveis não se prevendo,
onde possa ser gasto o montante.

c) Não compensação: art.15º LEO 2015

Implica que as receitas e as despesas sejam previstas no OE pelo seu montante


bruto,ou seja, sem qualquer compensação ou desconto. Se a orçamentação dos
montantes fosse feita em termos líquidos colocaria em causa o cumprimento da
função da fixação das despesas. Sendo assim, não teríamos um montante máximo
da despesa autorizada mas sim, montantes diferenciais que poderiam colocar em
causa a transparência, a fiscalização e o rigor. O art.15º/1 remete-nos para as
receitas, o art.15º/3 para as despesas e o art.15º/2 para a exceção.

D) Não consignação: art.16º LEO 2015

O Estado cobra as receitas incertas, fazendo-o sem qualquer finalidade especifica.


As receitas indiscriminadamente devem destinar-se a cobrir todas as despesas,
não devendo afetar-se certas receitas à cobertura de todas as despesas em
especial. Caso houvesse consignação a receita poderia não ser suficiente para
cobrir a despesa correspondente. Só existe consignação quando o Estado afeta
determinadas receitas à cobertura de determinadas despesas. Esta regra implica a
"regra do duplo cabimento", que nos diz que havendo consignação de receita á
cobertura de uma determinada despesa, essa despesa tem de caber em dois sítios:
primeiro cabimento, têm de caber nos respetivos créditos orçamentais ou seja,
não se pode realizar despesa superior à prevista no orçamento. Mesmo que,

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existam receitas consignadas superiores à despesa prevista nem por isso, se
poderá gastar mais do que a autorização inicial previa. Esta no art.42º/5/6b) LEO
2001. Este cabimento é geral porque o OE cumpre a fixação das despesas e estas
não podem ultrapassar os limites autorizados; segundo cabimento, tem de caber
no produto das receitas que lhe foram afetadas. Embora haja autorização para
gastar até um montante, apenas se pode efetuar despesa até ao montante da recita
obtida, este cabimento está no art.42º/9 LEO 2001. A consignação faz-se para
que as despesas só se possam realizar até onde permitirem as receitas
consignadas. A regra é a da não consignação, mas há exceções elencadas no art.
16º/2 LEO 2015, art.42º/9 LEO 2001, e art.55º/4 LEO 2018.

- Princípios do Orçamento de Estado


1. Sustentabilidade financeira: art.11ºLEO 2015

Impõe aos serviços que sejam considerados como vinculados pelas normas
orçamentais a obrigação de apresentação de orçamentos equilibrados ou
excedentários. Este equilíbrio há-de ser determinado por referência às normas
constantes no art.11º LEO 2015 e ainda se o princípio da estabilidade orçamental,
do art.10º for cumprido.

2. Solidariedade recíproca:art.12º LEO 2015

Todos os subsetores da Administração Pública, seus serviços e entidades, devem


contribuir proporcionalemnte para que seja possível cumprir as exigências de
estabilidade orçamental e das demais obrigações decorrentes das normas de
direito orçamental em matéria de política orçamental e de finanças públicas.

3. Equidade intergeracional: art.13º LEO 2015

A atividade financeira do setor da Administração Pública terá de respeitar a


equidade na distribuição dos benefícios e dos custos entre as várias gerações para
não onerar excessivamente as gerações futuras ou presentes. Consegue-se
cumprir se for feita uma distribuição equilibrada dos custos e benefícios nos vários
orçamentos.

4. Economia,eficácia e eficiência: art.18º LEO 2015

Traduz-se em conseguir o máximo possível com o menor custo possível. Deve-se


ter um custo em função do resultado. É obter o máximo lucro possível com o
menor gasto possível. Funciona como limite da discricionariedade. Impõe que os
compromissos a assumir e as despesas a realizar permitam a utilização mínima de
recursos e a obtenção máxima de utilidade.

5. Transparência orçamental: art.19ºLEO 2015

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Não se limita a estabelecer um dever geral de informação em matéria de aprovação
e execução orçamental a todos os serviços da Administração Pública mas, impõe
ainda que essa informação fiável, completa e comparável internacionalmente de
modo a avaliar a posição financeira do setor público, os custos/benefícios da sua
atividade e as suas consequências.

6. Estabilidade Orçamental: art.10º LEO 2015

O OE tem de estar equilibrado em termos formais mas também em termos


materiais, isto é, que o valor de certas receitas seja suficiente para cobrir o valor de
certas despesas.

- Equilíbrio orçamental
O orçamento apresenta-se sempre com as receitas iguais ou superiores às
despesas, ou seja, pode ser equilibrado ou superavitado. Coloca-se em questão do
défice que pode existir dentro da situação de superavit. Este equilíbrio define-se
pelo equilíbrio entre certo tipo ou categoria de despesas e certo tipo ou categoria
de receitas.Encontra-se no art.10º LEO 2015 e art.105º/4 CRP.

Orçamento efetivo ou global

Esta concepção contrapõe receitas efectivas, receitas que aumentam o


património financeiro do Estado, ex: impostos a despesas efectivas, despesas que
diminuem o património financeiro do Estado, ex: pagamentos. Faz ainda distinção
entre receitas não efectivas, receitas que não aumenta o património do Estado,
ex: empréstimos, e despesas não efectivas, despesas que não diminuem o
património do Estado, ex: reembolsos. As despesas efectivas devem ser cobertas
pelas receitas efectivas sendo a sua principal fonte os impostos.

Criticas: o equilíbrio entre despesas totais e impostos não é neutro; a cobertura da


despesa pública com empréstimos nem sempre gera efeitos nocivos.

Podemos ter um défice orçamental efectivo e um superavit orçamental efectivo. Um


défice, significa que a despesa efectiva é superior á receita efectiva, h a hipótese de
contrair moeda ou empréstimos. Para que, deixe de ser deficitário, é necessário
recorrer a receitas não efectivas. Já o superavit significa que a despesa efectiva é
inferior à receita efectiva. Parte da receita efectiva é para pagar empréstimos. Pega-
se no excedente desta receita para pagar a despesa não efectiva.- art.9º/2/4 LEO
2001

Se o saldo for negativo, estamos perante uma situação deficitária. Se, o saldo for
positivo, as receitas são superiores ás despesas.

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o equilíbrio deste saldo é seguido relativamente ao orçamento dos serviços e
fundos autónomos, art.25º/1 LEO 2001, bem como relativamente ao orçamento da
segurança social, art.28º/1 LEO 2001. Este obriga a que as despesas efectivas
fossem pagas com receitas efectivas.

Saldo Primário: art.9º/5 LEO 2001

Usamos as categorias de receita efectiva e despesa, receita e despesa não


efectiva. Mas, dá-se um tratamento diverso aos juros da divida pública.

Para calcular o saldo orçamental, o montante dos juros da dívida pública é


contabilizado juntamente com as despesas não efectivas. Os juros da dívida
pública são tratados como uma despesa efectiva honorária, permitindo-se que
sejam pagos com recurso a receitas não efectivas.

Criticas: o orçamento primário equilibrado implica sempre o aumento da divida


pública no montante dos juros porque é, necessário recorrer a receitas não
efectivas para proceder ao seu pagamento. Não seria isto que aconteceria se o
orçamento tivesse equilibrado de acordo com o critério do orçamento efectivo.

O orçamento primário superavitário pode gerar um aumento da divida pública.


Apesar de tudo, o seu cálculo pode ser muito útil. Ao excluir do cálculo do défice o
valor dos juros, estamos a retirar da despesa pública uma despesa que tem de ser
paga, é obrigatória. O valor dos juros depende de períodos anteriores, que
conduziram ao acumular da divida. Divida essa que pode originar um volume de
despesa elevado. Calcular o saldo primário permite-nos saber se o período atual
contribui ou não para o aumento da divida pública.

O equilíbrio deste saldo é seguido relativamente aos saldos integrados. Está no art.
9º/5 LEO 2001, saldo global menos os juros da divida pública. No art.23º LEO
2001, diz-nos que as receitas efectivas destes têm de ser superiores às despesas
efectivas do mesmo orçamento, excluindo os encargos correntes da divida pública.
Não exige que todas as despesas efectivas sejam cobertas com receitas efectivas.
Está equilibrado se as receitas efectivas cobrirem as despesas efectivas sem contar
com os juros da divida.

Saldo estrutural: art.3º Tratado Orçamental, art.20º LEO 2015, art.12º-C


LEO 2001

O saldo orçamental estrutural tem em consideração o nível da atividade económica


de cada país. Procura-se determinar o défice orçamental que se verificaria se a
economia estivesse a funcionar em pleno emprego.

Partindo do saldo efetivo, começamos por retirar os valores correspondentes à


componente cíclica e estrutural. Atribui-se ainda, importância à chamada regra de

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ouro das finanças que o valor do défice não deve ultrapassar o valor das despesas
públicas de investimento.

Algumas notas:

Encargos correntes da divida: quando se contrai um empréstimo recebe-se uma


determinada soma contra a obrigação de retribuir essa soma no futuro. Quando
esse empréstimo é remunerado, o Estado tema obrigação de pagar ao prestamista
periodicamente um juro. São exatamente os juros que anualmente são devidos pelo
capital emprestado. São uma despesa efectiva.

Exclusão dos juros: não são contabilizados no orçamento. Os juros não podem
deixar de constar no OE porque resultam de uma obrigação contratual assumida
pelo Estado, despesa obrigatória, art.16º/1a) LEO 2001, art.44º/2 LEO 2015.

Artigos a ter em conta:

LEO 2001: art.9º, art.10º A, art.12º-C, art.23º, art.25º, art.28º, art.27º

LEO 2015: art.10º, art.11º, art.20º, art.27º, art.28º

Procedimento por défice excessivo

Critérios de alocação à zona euro (são 4 e devem ser explicados sempre que na
pergunta de exame venha para identificar os critérios de Maastricht): art.140º TFUE
e Protocolo 13.

Procedimento por défice excessivo: art.126ºTFUE e Protocolo 12

- o art.126º/1 TFUE remete para o art.2º/º parágrafo do Protocolo 12


- PEC: está constituído por uma vertente preventiva, estipulada no Reg.
CEE 1055/2005 (anteriormente 1466/97), que se destina a uma
supervisão para evitar que os países numa fase precoce se apresentem
numa situação de défice excessivo, e uma vertente corretiva, regulado
pelo Reg. 1056/2005 ( anteriormente 1467/97) que determina regras
corretivas perante uma situação de défice excessivo.

- Do art.1º do Protocolo 12 retiram-se dois limites do défice orçamental,


3% do PIB e da divida pública 60% do PIB.

- Regras e princípios da execução orçamental: art.199º CRP

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Orçamento das receitas Orçamento das despesas

Tipicidade qualitativa/ Art.42º/3 LEO 2001 e art.52º Art.42º/5 LEO 2001


Tipicidade qualitativa e LEO 2015 Na medida em que o montante
quantitativa Só se podem liquidar ou cobrar inscrito no Orçamento de
as receitas que tenham Estado é o limite para a
inscrição orçamental e que realização da despesa. Na
estejam adequadamente alínea 6) diz que nenhuma
classificadas. Está aqui despesa pode ser autorizada
plasmada a regra da sem que, o disposto da alínea
especificação. Este princípio se verifique.
contém, o elenco taxativo das
receitas que nesse ano
poderão ser cobradas e os
próprios montantes das
inscrições orçamentais. Há a
exceção do art.42º/4 LEO
2001.

Unidade de tesouraria Art.54º LEO 2015 Igual ao orçamento das


A gestão é feita de forma receitas
centralizada, sendo os
dinheiros públicos mantidos
numa única entidade que se
chama o tesouro.

Da segregação das funções de Art.42º/1/ 1 parte e art.42º/2 Art.42º/1/2ª parte e art.42º/2


liquidação e cobrança/ Da LEO 2001 LEO 2001
segregação de funções de As fases de liquidação da
autorização da despesa e do receita e da sua cobrança se
pagamento encontram distribuídas por
órgãos ou entidades diferentes.
Quem liquida não cobra, por
razões de transparência,
fiscalização, transparência e
rigor

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Margarida Travassos 2018/2019
Execução do orçamento por Art.42º/6b) LEO 2015 e art.
duodécimos 43º/5a) LEO 2001
Não se permite que seja
utilizado de uma só vez a
totalidade do valor inscrito na
dotação orçamental para a
despesa. Os encargos
assumidos e os pagamentos
autorizados devem fazer-se de
uma forma faseada ao longo
do ano, com distribuição
enorme ou tendencialmente
pelos 12 meses. Apenas
impede que em cada mês se
autorize despesas superior ao
valor correspondente ou dos
duodécimos vencidos e ainda
não gasto. No caso dos
serviços que disponham de
receita consignada torna-se
necessária para além destes
princípios a regra do duplo
cabimento: caber nos
respetivos créditos
orçamentais e caber no
produto das receitas
consignadas, art.42º/9 LEO
2001

Da boa gestão financeira Art.42º/6c) LEO 2001 e art.18º


LEO 2015

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