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As princesas da Disney no papel de figura feminina

Isadora Robinson Martinez Santos

Que as princesas da Disney são personagens iconicas, que fizeram parte da


infância da maioria de nós, todos sabemos certo? Não conheço uma pessoa que não
consiga citar pelo menos o nome de uma delas. Mas como as princesas impactaram a
gente? O cinema, a sociedade, a vida de cada pessoa que se via nas telas de um conto
de fadas quando criança. Como elas refletem a sociedade da época que foram criadas e
como ficaram vistas através do tempo? Vim contar o lado que muitos decidem ocultar
das histórias que essas personagens têm. A princesa indefesa e fútil que vive por
esperar um príncipe já foi contada demais por pessoas que se contentaram com essa
interpretação por milhões de anos.

A Disney é dividida em "eras" que contam a sua história. Saber delas, facilita o
entendimento tanto do que acontecia no mundo durante cada era, quanto essa análise
sobre as princesas, que sofrem diferenças bruscas entre esses periodos. Elas aparecem
nas eras: Ouro (1937 - 1942), Prata (1950 - 1967), Renascimento (1989 - 1999),
Pós-renascentista (2000 - 2009) e Nova Renascença (2010 - presente).

A Disney criou a primeira princesa da marca em 1837 com "A Branca de Neve e
os Sete Anões". Na era de Ouro, a criação da princesa mudou completamente a história
do cinema. Ele foi o primeiro filme 100% desenhado em cédulas, coisa que por si só já
torna o filme um evento histórico.

Branca de Neve é uma princesa clássica, ela tem toda essa bondade e leveza na
personagem que as mulheres da época "deveriam" ter também. E apesar de Branca falar
sobre seu final feliz na música "someday my prince will come", acho que tem muito
mais na história dela do que esse final com um príncipe que mal aparece. Uma princesa
que teve a coragem de sair dos maus tratos ensinou meninas de gerações e gerações
sobre generosidade, fazer o certo, amizade e sobre sonhar com um futuro independente
da situação. Porém, com o tempo, nossa sociedade começou a entender que essa
história é sobre como Branca não fazia nada além de limpar e cozinhar para ao fim
virar um prêmio de um príncipe desconhecido que chega no final pra salvar ela do
veneno da maçã.
Indo para a era de Prata, nos anos 50 e 60, temos a Aurora e a Cinderela. Elas
são princesas mais bem colocadas do que a Branca de Neve, mas ainda muito
subjetivas na interpretação. São consideradas as mais bonitas e meigas, agradando o
estereótipo da princesa e a sociedade em que nasceram.

Aurora em seu próprio filme só tem 18 minutos de fala. A história dela traz um
romance para deixar o coração quentinho. Com uma das músicas mais bonitas da
Disney, ela tem um romance que faz sentido. Todos veem Phillip matando o dragão e
sendo o herói, mas nunca foi em troca de ter a princesa pra ele. O romance foi
sutilmente estabelecido desde o início do filme com a música "Once Upon a Dream".

Já Cinderela tem personalidade. Uma história difícil de vida numa casa em que
ela é usada como escrava. Uma personalidade inspiradora na sua resiliência. Ainda
ganhamos o final feliz com o príncipe, obviamente, mas o filme mostra muito mais
quem é a Cinderela. O único pedido dela foi um vestido bonito por uma noite para que
ela pudesse dançar e esquecer os problemas da vida dela. Quem não iria querer uma
noite de festa num vestido brilhoso?

Entrando na Renascença, percebemos mais independência por parte das


princesas. Elas têm personalidades fortes e motivos para lutar. São seus desejos que
movem a história. As princesas dessa era são: Ariel, Bela, Jasmine, Mulan e
Pocahontas. É verdade que elas sempre terminam com o “final feliz” casando com o
príncipe, mas o filme deixou de ser exclusivamente sobre o romance e mais sobre elas.

Ariel não pediu pernas para conseguir ficar com o Eric, pois ela aparece antes de
conhecer ele cantando sobre isso em "Part of Your World". A Bela sacrifica tudo que
ela mais queria, conhecer o mundo e sair da aldeia, para salvar o pai após ele ser
sequestrado. Jasmine fugiu do castelo para não ter que casar com alguém que nem
conhecia. Mulan vai pra guerra disfarçada de homem com perigo de morrer por ser
mulher naquela sociedade, para salvar o pai que nunca se recuperou de ter ido pra
guerra anteriormente.

Em seguida, Tiana, de "A princesa e o Sapo", fica sozinha na era


Pós-renascentista como 2D numa época de animações 3D. Por conta disso, sofreu
muito com a bilheteria. Entretanto, seu filme se junta com as ideias da Nova
Renascença, que vivemos hoje. Tiana, Rapunzel, Anna, Elsa e Moana vieram para
atualizar a ideia que tínhamos das princesas.

A Tiana mudou a história clássica virando sapo junto com o príncipe por magia
voodoo. Além do elenco e protagonismo negro que esse filme finalmente trouxe. A
Princesa e o Sapo junto com Enrolados fazem você acreditar no amor. Ele acontece
naturalmente com personagens que crescem juntos e aprendem a superar problemas
juntos. Em nenhum momento elas são salvas. Na verdade, elas são as salvadoras em
várias situações dos filmes.

Já com Frozen, temos uma rainha, Elsa, que vemos crescendo e superando
inseguranças com a sua magia que causou diversos traumas na família toda e Anna, que
tem um arco nos dois filmes da franquia de crescimento e amadurecimento lindo. Ela
começa como uma pessoa ingênua que sofre uma desilusão amorosa para uma princesa
que sabe o que tem que fazer e como fazer para proteger quem ama e todo seu povo. O
romance de Anna é como os outros da nova renascença. Elsa e Moana nunca tiveram
interesse romântico.

Moana é todo focado nela, na sua ancestralidade e na missão que tem que realizar
para salvar sua ilha. Essa é a primeira vez que vemos um filme de princesa que não tem
romance e é focado na aventura e ação.

Finalizando, por mais que nem sempre seja percebido, as princesas da Disney
sempre estiveram inspirando milhões de pessoas. Elas, de um certo modo, representam
a história das mulheres na sociedade, evoluindo através das décadas, ainda conseguindo
manter as histórias atemporais que crianças amam até hoje. A Disney tem um papel
muito importante com a representatividade que vem trazendo aos poucos para seus
filmes. Claro, tem muito a evoluir, mas essa linha do tempo me deixa otimista para
novos romances e aventuras que irão inspirar e aquecer os nossos corações.

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