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CINEMÁTICA DO TRAUMA

Profa. Áquilla Franklin


Consiste em analisar e avaliar a cena do acidente,
objetivando estabelecer um diagnóstico das
lesões resultantes das transferências de energias
dos corpos envolvidos.
LEMBRE-SE!
O tratamento bem sucedido dos traumatizados
depende :

 Da identificação das lesões ou das possíveis


lesões e

 De uma boa avaliação.


ALGUMAS LEIS DA FÍSICA QUE DEVEM SER
LEMBRADAS

 LEI DA CONSERVAÇÃO DA ENERGIA: afirma que


a energia não pode ser criada nem destruída, mas
pode mudar de forma.
CAVITAÇÃO: QUANDO UM OBJETO EM MOVIMENTO
ATINGE O CORPO HUMANO, OU VICE VERSA.

 O tecido do corpo humano é arremessado para


longe de sua posição original criando
uma cavidade.

 Cavitação temporária: surge no


momento do impacto, os tecidos
conservam sua elasticidade e
retomam a sua condição inicial.
 Cavitação permanente:
causada por compressão ou
laceração dos tecidos.
LEIS DE NEWTON:
 um corpo em repouso permanecerá em repouso e
um corpo em movimento permanecerá em
movimento, a menos que uma força externa atue
sobre ele.
TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA
(DENSIDADE/ ÁREA DE CONTATO):
 Quanto mais denso o tecido, maior o número de
partículas atingidas por um objeto em movimento.
TIPOS DE TRAUMAS
 CONTUSO: quando há transferência de energia em
uma superfície corporal extensa, não penetrando a
pele.

Cisalhamento: mudança brusca de velocidade,


deslocando uma estrutura ou parte dela,
provocando sua laceração .

Compressão: quando o impacto comprime uma


estrutura ou parte dela sobre outra região
provocando a lesão.
CISALHAMENTO

Bradley R. Davis, USAF


Grade 4 renal injury - Angiogram
COMPRESSÃO
PRINCIPAIS CAUSAS DE FERIMENTOS POR
CONTUSÕES

 Colisões automobilísticas na qual subdivide-se em


Impacto frontal;

Impacto traseiro;

Impacto lateral;

Impacto angular;

Capotamento.
PRINCIPAIS CAUSAS DE FERIMENTOS POR
CONTUSÕES

 Atropelamento de pedestre;

 Colisões com motocicletas;

 Quedas;

 Explosões.
COLISÕES AUTOMOBILÍSTICAS AVALIAR
ASPECTOS GERAIS:

 Como se apresenta o local?

 Número de veículos?

 Tipo de veículo?

 Número de pacientes envolvidos?

 Adultos? Crianças?

 Quem atingiu o quê?


 Direção do impacto?

 Houve frenagem?

 Velocidade aproximada?

 Pacientes utilizavam dispositivos de segurança?

 Airbag acionado? Capacete?

 Ocupantes foram ejetados? Colidiram com algo?

 Estragos no carro?
Considerar os padrões de lesão
esperadas segundo os diferentes
tipos de impacto:
IMPACTO FRONTAL:
A intensidade do estrago no carro indica sua
velocidade aproximada no momento do impacto.
POR CIMA DO VOLANTE POR BAIXO DO VOLANTE

TRAJETO Cabeça em direção ao para-brisa Cabeça em direção ao painel

• Traumatismo craniano e de • Luxação ou fratura de tornozelo,


coluna cervical, de joelho,

• fraturas de costelas, • ruptura de ligamentos ou tendões


LESÕES PROVÁVEIS do joelho,
• afundamento do tórax,
• fratura de fêmur,
• contusão pulmonar,
• luxação posterior da articulação
• pneumotórax, do acetábulo.
• contusão miocárdica ou lesões
dos grandes vasos,

• rupturas de órgãos abdominais


(fígado e baço, vasos renais).
ACHADOS NO VEÍCULO:

 Deformidade na parte anterior;

 Deformidade no volante;

 Marcas no painel;

 Para-brisa em “olho de boi”;

 Airbag acionado.
IMPACTO TRASEIRO

 Quanto maior a diferença de velocidades no


momento do impacto, maior será a quantidade de
energia disponível para provocar aceleração e
lesões.

 Avaliar posição
do encosto de cabeça
IMPACTO LATERAL

o Prováveis lesões :

 trauma de crânio,
 luxação ou fratura das vértebras cervicais,
 pneumotórax,
 ruptura traumática da aorta ou diafragma,
 fratura de pelve,
 lesão de órgãos sólidos.

o Achados no veículo:
 intrusão da porta
 intrusão de painel lateral
CAPOTAMENTO
 Lesões esperadas:
lesões variadas derivadas dos diferentes impactos
sofridos;
Lesões de órgãos internos mesmo com uso de
restritores de segurança;
Ejeção.

 Achados no veículo:
 impactos de ângulos diferentes

Obs: A ejeção coloca o paciente no grupo de risco de


praticamente todo tipo de lesão. E a mortalidade
aumenta consideravelmente.
IMPACTO ANGULAR

 Resultam em lesões que são uma combinação das


colisões com impacto frontal e lateral.

 Lesões mais graves são observadas na vítima mais


próximo do ponto de impacto.
IMPACTO ANGULAR
COLISÕES COM MOTOCICLETAS:
OBSERVAR SINAIS DE IMPACTO NO CAPACETE E NO
GUIDÃO
IMPACTO FRONTAL IMPACTO ANGULAR IMPACTO COM EJEÇÃO

A motocicleta cai sobre o


TRAJETO Motociclista colide com motociclista, ou prensa-o
guidão, permanecendo com contra veículo e o objeto
os pés nos pedais. atingido.

Fratura bilateral de fêmur. Fratura ou lesões extensas de A lesão ocorre no ponto de


LESÕES PROVÁVEIS partes moles dos membros impacto, irradiando-se para o
superiores, e/ou inferiores. resto do corpo à medida que a
energia é absorvida.
COLISÕES COM MOTOCICLETAS
ATROPELAMENTO

As lesões variam conforme


a altura e peso da vítima em
relação à altura do veículo.
ATROPELAMENTO
 No adulto:
 carro contra membros inferiores e quadris;
 tronco contra o capô;
 paciente contra o chão.

Lesões esperadas:
 traumatismo craniano;
 traumatismo raquimedular;
 lesões torácicas e abdominais;
 fraturas das extremidades inferiores;
 ejeção.

Achados no veículo:
 intrusão da parte anterior.
 para-brisa quebrado.
ATROPELAMENTO
 Na criança:
posiciona-se de frente;

membros inferiores acima do joelho ou pelve,

cabeça e face a frente ou na parte superior do


capô do veículo;
pode ou não ser ejetada.

Lesões esperadas:
de fêmur ou cintura pélvica;

intra-abdominais ou intratorácicas graves;

instabilidade da coluna cervical e crânio.


QUEDA
Estimar a altura da queda, superfície sobre a qual o
paciente caiu e qual a primeira parte do corpo que entrou
em contato com a superfície.

 Alturas superiores a 3x a altura do paciente são graves

Lesões esperadas:

 Síndrome de Don Juan: quando as primeiras partes a


atingirem o solo forem os pés (lesão de calcâneos,
tornozelos, tíbias, fíbulas, joelhos, ossos longos e
quadril);
QUEDA
 traumatismo craniano;

 lesões torácicas e abdominais.

 Se o paciente cair para a frente sobre as mãos


espalmadas: fratura de extremidades superiores.

 Se cair de cabeça: traumatismo raquimedular.


TIPOS DE TRAUMAS
PENETRANTE: transferência de energia em uma
área concentrada, com isso há pouca dispersão de
energia provocando laceração da pele.

http://www.trauma.org/image
TRAUMAS PENETRANTES
 Tipos de objetos:

Alta energia (fuzis e metralhadoras);

Média energia (revolveres e rifles);

Baixa energia (faca e picador de gelo).


TRAUMAS PENETRANTES
 O que avaliar?
sexo do agressor,

lesão = trajetória,

arma foi removida?

órgãos próximos?

local do ferimento (único ou múltiplo?);

características dos ferimentos externos.


TRAUMAS POR EXPLOSÕES
 Primárias:
onda de pressão atinge o paciente com
velocidades de até três quilômetros /segundo.

 Padrão de lesão:
amputação traumática de membros, sangramento
pulmonar, pneumotórax, embolia gasosa, laceração
de pequenos vasos, rotura de tímpano, PCR e
explosão de pulmão.
TRAUMAS POR EXPLOSÕES
 Secundárias:
paciente é atingido por fragmentos primários,
secundários ou ambos, que voam e podem tornar-
se projeteis.

 Padrão de lesão:
ferimentos penetrantes, lacerações e fraturas,
feridas cutâneas superficiais, lesões torácicas e
oculares.
TRAUMAS POR EXPLOSÕES
 Terciárias:
quando o paciente é arremessado contra um
objeto (torna-se um projétil), podendo ser atirada
contra outros objetos ou ao chão.

 Padrão de lesão:
semelhantes às lesões que ocorrem em pacientes
ejetados de um carro ou que caem de alturas
significativas.
TRAUMAS POR EXPLOSÕES
 Quaternárias:
lesões provocadas por calor e gases oriundos da
explosão.

 Padrão de lesão:
queimaduras, lesões por inalação e até asfixia.
TRAUMAS POR EXPLOSÕES
 Quinárias:
causadas por aditivos colocados nas bombas,
como bactérias, radiação e substâncias químicas e
ataque suicida com homem-bomba.

 Padrão de lesão:
lesões por encravamento por restos humanos
(ossos do homem bomba), possíveis doenças
infecciosas.
PROTOCOLO DO TRAUMA
XABCDE
UM BREVE HISTÓRICO

 Elaborado pelo médico ortopedista Jim


Styner , pós sofrer acidente automobilístico.

 Protocolo ABCDE do trauma em 1978.

 Atualização
na 9ª edição do PHTLS em
2018, com adição da letra “X” no
mnemônico.
PROTOCOLO XABCDE DO TRAUMA

 Padroniza o atendimento

 Define prioridades ao traumatizado

 Facilita
a identificação das lesões
potencialmente fatais

 Reduz índices de mortalidade e morbidade


em vítimas de qualquer tipo de trauma.
ATENÇÃO!!!!!!!!!
 Antes de iniciar o atendimento, atentar
para:

 Avaliação da segurança da cena


 Uso de EPI’s
 Sinalização da cena (ex: dispor de cones
de isolamento na pista).
(X) – EXSANGUINAÇÃO

 Contenção de hemorragia externa grave, a


abordagem a esta, deve ser antes mesmo do
manejo das vias aérea uma vez que,
epidemiologicamente, apesar da obstrução de vias
aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto
período de tempo, o que mais mata no trauma são
as hemorragias graves.
(A) – VIAS AÉREAS E PROTEÇÃO DA COLUNA
VERTEBRAL

 No A, deve-se realizar a avaliação das vias aéreas.


No atendimento pré-hospitalar, 66-85% das mortes
evitáveis ocorrem por obstrução de vias aéreas.
 Para manutenção das vias aéreas utiliza-se das
técnicas: “chin lift”: elevação do queixo, uso de
aspirador de ponta rígida.
 Já o “jaw thrust”: anteriorização da mandíbula,
cânula orofaríngea (Guedel).
Nunca realize a manobra de Chin Lift em
vítima com suspeita de trauma.
 No A também, realiza-se a proteção da coluna
cervical. Em vítimas conscientes, a equipe de
socorro deve se aproximar da vítima pela frente,
para evitar que mova a cabeça para os lados
durante o olhar, podendo causar lesões medulares.
 A imobilização deve ser de toda a coluna, não se
limitando a coluna cervical. Para isso, uma prancha
rígida deve ser utilizada.
 Considere uma lesão da coluna cervical em todo
doente com traumatismos multissistêmicos!
(B) – BOA VENTILAÇÃO E RESPIRAÇÃO

 No B, o socorrista deve analisar se a respiração


está adequada. A frequência respiratória, inspeção
dos movimentos torácicos, cianose, desvio de
traqueia e observação da musculatura acessória
são parâmetros analisados nessa fase.
 Para tal, é necessário expor o tórax do paciente,
realizar inspeção, palpação, ausculta e percussão.
Verificar se a respiração é eficaz e se o paciente
está bem oxigenado.
(C) – CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DE
HEMORRAGIAS
 No C, a circulação e a pesquisa por hemorragia
são os principais parâmetros de análise. A maioria
das hemorragias é estancada pela compressão
direta do foco. A Hemorragia é a principal causa de
morte no trauma.
DIFERENÇA IMPORTANTE!!!!

 A diferença entre o “X” e o “C” é que o X se refere a


hemorragias externas, grandes hemorragias. Já o
“C” refere-se a hemorragias internas, onde deve-se
investigar perdas de volume sanguíneo não visível,
analisando os principais pontos de hemorragia
interna no trauma (pelve, abdomem e membros
inferiores), avaliando sinais clínicos de hemorragia
como tempo de enchimento capilar lentificado, pele
fria e pegajosa e comprometimento do nível e
qualidade de consciência.
CLASSIFICANDO O CHOQUE HIPOVOLÊMICO
QUAIS SOLUÇÕES EMPREGAR NA
REPOSIÇÃO VOLÊMICA?
 O Soro Ringer com Lactato é a solução isotônica
de escolha, contudo, soluções cristaloides não
repõem hemácias, portanto, não recupera a
capacidade de carrear O2 ou as plaquetas
necessárias no processo de coagulação e controle
de hemorragias.
(D) – DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA

 No D, a análise do nível de consciência, tamanho e


reatividade das pupilas, presença de hérnia
cerebral, sinais de lateralização e o nível de lesão
medular são medidas realizadas.
 Nessa fase, o objetivo principal é minimizar as
chances de lesão secundária pela manutenção da
perfusão adequada do tecido cerebral. Importante
aplicar a escala de goma de Glasgow atualizada.
(E) – EXPOSIÇÃO TOTAL DO PACIENTE

 No E, a análise da extensão das lesões e o


controle do ambiente com prevenção da hipotermia
são as principais medidas realizadas. O socorrista
deve analisar sinais de trauma, sangramento,
manchas na pele etc.
A parte do corpo que não está exposta pode
esconder a lesão mais grave que acomete o
paciente.

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