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Tomás de Aquino e a Metafísica – Carlos Arthur Riberio do Nascimento.

RESUMO: “o presente texto é uma exposição do proêmio do Comentário de Tomás de


Aquino à Metafísica de Aristóteles. Segue pari passu o texto do proêmio, mostrando
sua articulação lógica e esclarecendo alguns conceitos utilizados no mesmo. Contém
em anexo uma tradução em português do texto do proêmio, o plano do mesmo e o
detalhamento deste quanto ao item referente “ao que é inteligível ao máximo segundo
o conhecimento intelectual”, isto é, “de acordo com a separação da matéria”. –
Palavras do comentador.
BLOCO 1 (§§1-3): CONTEXTUALIZANDO A OBRA E APRESENTANDO O ESQUEMA
ESTRUTURAL
§§1-3: Carlos Arthur comenta sobre o momento histórico onde a escrita e a publicação
do texto tomista está inserido, atentando-se ao fato dele se tratam de uma sentença,
isto é, “um comentário sequencial, em princípio mais interessado na doutrina da obra
comentada do que na sua exposição literária”. (NASCIMENTO,2017, pag. 234)
Apresenta-nos também uma espécie de síntese da estrutura do proêmio, apontando
para o fato do texto se articular em torno de três momentos expositivos, sendo eles,
em ordem:
1. Abordar o relacionamento da ciência de que se trata com as demais
(estabelecer a necessidade da existência de uma ciência reguladora das demais,
ao qual cabe o nome – até o momento – de sabedoria; consideração tripla
sobre as perspectivas de análise sobre o que é intelectual e inteligível ao
máximo)
2. Abordar a questão sobre o sujeito da ciência tratada (conclusão do sujeito da
ciência sendo o ente comum).
3. O último parágrafo do texto fecha a exposição com a enumeração e
justificação dos nomes recebidos por tal ciência.
§4: Tomás tem sua discussão partida do ponto pacífico de que de fato, o assunto
tratado é uma ciência – sentido aristotélico de ciência, que já havia sido trabalhado
pelo autor no “comentário da trindade de Boécio” ao tratar das três ciências teóricas –
Física, Matemática e Teologia-, que será de certa forma remontada no proêmio, no
que diz respeito ao sujeito da ciência, ao tratar-se da teológica no N2.2
§5: Uso na obra tomista do termo “Sujeito” (subjectum) para determinar o tema de
estudo de uma ciência - o GÊNERO dos objetos tratados (seu recorte em tipo de ser,
como diz Aristóteles em sua metafísica ao falar sobre as ciências particulares, em
oposição à ciência do ente enquanto ente). O sujeito aqui é exatamente o gênero-
sujeito (subjectum de quo), ao qual iram se referenciar uma serie de proposições, ao
qual damos o nome de ciência (de um ponto de vista lógico).
BLOCO 2 (§§6- ) PRIMEIRO TÓPICO (“relacionamento da ciência de que se trata com
as demais”) TRATADO NO PROÊMIO:
§6: Para situar a ciência que se trata em um panorama com as demais, Tomás parte de
um princípio axiomático citado da Política Aristotélica: “quando vários são ordenados a
algo, é necessário que um dele seja regulador ou diretor e os demais regulados ou
dirigidos”, seguindo por exemplifica-lo nas relações da razão e dos apetites sensíveis
(irascível e concupiscível) e da alma e do corpo. Em ambos os exemplos o que fora
ressaltado era a presença de uma ordem natural, apreendida e sintetizada pelo axioma
aristotélico, onde se observa que, assim como a razão NATURALMENTE comanda os
apetites sensíveis (definição essencial do homem, animal racional) a alma
NATURALMENTE comanda o corpo. Ambos representariam formas de se visualizar essa
ordenação natural dos eventos. – Superioridade, implicando assim à uma
hierarquização de comando, com base no critério da intelectualidade.
§7: O próximo passo é a constatação de que o corpus das ciências, constituiriam uma
ordenação conjunta de vários ao mesmo fim, a “bem-aventurança” do homem, sua
plena realização da natureza que lhe é própria. “Todas as ciências e técnicas ordenam-
se a algo de uno, isto é, à perfeição do homem que é a sua felicidade” – Essa segunda
proposição não é justificada no texto tomista, mas remonta a ideia presente na obra
aristotélica das ciências como formas de propiciar a tendencia natural do homem de
conhecer (hipótese interpretativa).
§8: Se configura então, um silogismo, onde a premissa maior é o axioma aristotélico
[ordenação de um conjunto a um fim] e a menor a proposição sobre a finalidade
última das ciências e técnicas; levando a conclusão de que: dentre as ciências, uma
delas deve exercer o papel de reguladora e diretora das demais. Essa ciência
ordenadora, encontrada como necessariamente existente pela via silogística é
rapidamente nomeada como “sabedoria”, vista a premissa aristotélica do critério da
sabedoria na hierarquização de comando.
§9: Estabelecida a existência ou necessidade de tal ciência (modus operantes de
investigação do período escolástico, primeiro responder a pergunta sobre a existência,
para partir daí então, caso tenha uma resposta positiva, para o exame da configuração
disto que foi provado como existente ou necessário), se investiga agora o que se trata
e como se apresenta. O primeiro aspecto levantado parte da consideração sobre a
característica/qualidade responsável por propiciar algo/alguém a desempenhar um
cargo de direção ou ordenamento: a sabedoria. “Ora, dirigir e ordenar é uma função
ligada ao conhecimento e a direção ou ordenação suprema, supõe o saber supremo”
(NASCIMENTO,2017, pag. 237). Portanto, a ciência ordenadora de todas as demais
deve ser a intelectual ao máximo, isto é, aquela que diz respeito ao que é
maximamente inteligível – segundo aspecto - (o maximamente intelectual conhece o
maximamente inteligível – intelectual é uma qualidade daquele que intelige; inteligível
é uma qualidade daquele que é inteligido)
§10: Nesses parágrafos, Tomas compõe sua argumentação mobilizando dois temas
centrais de seu trabalho: a vinculação do ato de ordenar e comandar essencialmente
ao intelecto e a estrita proporção que deve haver entre a faculdade cognitiva e seu
objeto (a faculdade sensível conhece o sensível, a faculdade intelectual conhece o
intelectual). A primeira não é desenvolvida de forma estritamente teórica, o filósofo
usa de referencias à Política de Aristóteles, uma ciência prática, para defender seu
posicionamento: remonta o argumento trazido já em Aristóteles sobre relação
senhor-escravo, onde encontra legitimidade para essas funções no grau de sabedoria e
intelectualidade dos dois envolvidos, onde o senhor é mais naturalmente mais
propenso a dirigir pela sua sabedoria, e o servo deve naturalmente obedecer por conta
de sua inferioridade intelectual e sua aptidão própria ao trabalho manual. O segundo
não é apresentado ao leitor neste momento do proêmio, mas é base para seus
procedimentos, ao dizer (na terceira via de análise sobre o que é inteligível ao máximo)
que o intelectual conhece o inteligível.
§11: Resta então estabelecer o que é intelectual e inteligível ao máximo. Para isso, o
filósofo apresenta três critérios distintos, ao quais se empenhar em desenvolver.
A) segundo a ordem da intelecção
B) segunda a comparação do intelecto com os sentidos
C) segundo o próprio conhecimento do intelecto
§12: [A] O primeiro critério (segunda a ordem da intelecção) vai partir da proposição:
“aquilo a partir do que o intelecto adquire certeza é certamente mais inteligível”.
Remontando a uma ideia aristotélica de que “o que é causa ou explicação de algo deve
ser este algo – efeito, consequência – de maneira mais intensa ou mais perfeita” (II
Analíticos, LIV I,272a29-32). O intelecto adquire a certeza, seguindo pela tradição
aristotélica, pelas CAUSAS – a certeza científica se dá pelo conhecido universal das
causas – sendo ela – a ciência a partir das causas- então o mais intelectual. Visto isso,
o conhecimento das CAUSAS PRIMEIRAS se configuraria como maximamente
intelectual (e essas causas primeiras sendo o maximamente inteligível).
§13: [B] O segundo critério (comparação entre o intelecto e os sentidos) parte da
constatação de é próprio dos sentidos conhecer os particulares, já o intelecto, ao se
diferenciar dos sentidos, conhece os universais. Ora, logo o maximamente intelectual
seria aquilo que que versa sobre o que é maximamente universal – e, nesta
perspectiva, maximamente inteligível – que são o ENTE e o que lhe segue [uno,
múltiplo, ato e potência]. O filosofo ainda ressalta que esses princípios maximamente
universais não podem permanecer indeterminados, nem serem tratados em uma
espécie de ciência particular, visto que eles são os pressupostos para o
desenvolvimento de conhecimento de todas as ciências (todas as ciências, ao analisar
algum gênero de ente, se liga à aquela que estuda o ente comum/ente geral/ente
enquanto ente.)
§14:

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