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O F R A G M E N T O SU B S IS TE N T E D E A N A X IM A N D R O
110 Simplício in Phys. 24, 17 (repetido de 101 a ) ... êxégav nvà (pvaiv
SsiBiqov, rjç ãnavxaç yíVF.aíim. xovç ovçavovç xai xovç êv avxotç xótT/UOVç.
ê£ cbv ôè rj yéveaíç êaxi xolç o fiai, xai xr/v rpDooàv slç xavxa yívm ifm 'xaxà
xò xqeÓ v òiÔávai yò.fj avrà Ôíxrjv xai xúsiv ôAbjÀoiç xfjç áÔtxíaç xaxà xrjv
xov xqóvov xáÇw, noirjxixaixépoiç otixcoç ôvóftaotv avxà XíyOiV.
110 ... uma outra natureza apeiron, de que provêm todos os céus e
mundos neles contidos. E a fonte da geração das coisas que existem é
aquela em que a destruição também se verifica «segundo a necessidade;
pois pagam castigo e retribuição umas às outras, pela sua injustiça, de
acordo com o decreto do Tempo», sendo assim que ele se exprime, em
termos assaz poéticos.
t Kahn, op. clt., 34 e s., considera o erro com o sendo precisamente do Pséudo-
plutarco, e não de Teofrasto; mas a sua sugestão (p. 50), de que kó apoç em Teofrasto
se deve referir a algum ‘ arranjo’ mais baixo, da terra ou da atmosfera, é dificilmente
convincente.
2 G , Vlastos, C P 42 (1947), 171 e s., na esteira de Cherniss, procurou
demonstrar com o o equilíbrio básico entre os contrários podia ser reconciliado
com a reabsorção do mundo no Indefinido: quando isso acontece, disse ele, dá-sc
finalmente um ajuste de contas entre os contrários (e não entre os contrários e o
Indefinido). Mas se o princípio de justiça se aplica no mundo presente, não é fácil
ver como podia alguma vez verificar-se uma transformação assim tão drástica, que
afectaria todos os seus constituintes, como a do regresso do mundo ao Indefinido.
(iii) Os contrários
Ver-se-á mais adiante (118, 121) que a produção de aígo que pudesse
ser descrito como «contrários» era para Anaximandro um estádio essencial da
cosmogonia; por isso, é razoável supor que eles desempenhavam um impor
tante papel no mundo desenvolvido. A acção recíproca dos contrários é
básica em Heraclito, que parece ter corrigido deliberadamente Anaximandro
por meio do paradoxo «discórdia é ju stiça », (fr. 80, 211). É em Anaximandro
que claramente se encontra, pela primeira vez, o conceito de substâncias natu
rais contrárias (conceito que reaparece em Heraclito, Parménides, Empédocles,
Anaxágoras, e, certamente, nos Pitagóricos desde Alcméon). Anaximandro
foi, sem dúvida, influenciado pela observação das principais mudanças das
estações, nas quais o calor e a seca do Verão parecem ter como adversários o
frio e a chuva do Inverno. O constante intercâmbio entre substâncias contrá
rias é explicado por Anaximandro numa metáfora legalista derivada da socie
dade humana: a prevalência de uma substância à custa do seu contrário é
«injustiça», e a reacção verifica-se através da aplicação do castigo, com a res
tauração da igualdade — de algo mais que igualdade, porquanto o prevarica
dor fica, também, privado de parte da sua substância original. Esta é dada à
vitima, além daquilo que lhe pertencia, e por sua vez conduz (poderemos
nós inferir) ao xóqqç, ao excesso, por parte da primeira vítima, que passa a
cometer uma injustiça contra o antigo agressor. Assim, tanto a continui
dade como a estabilidade da mudança natural eram, para Anaximandro, moti
vadas por meio desta metáfora antropomórfica. Os principais contrários da
cosmogonia eram a substância quente e a substância fria — a chama ou o fogo
c ii névoa ou o ar. Estas, a que estão associadas a secura e a humidade, são
Inmbém os principais contrários cosmológicos, mais particularmente implica
do* nu» mudanças cm Inrgii csculti do mundo natural. Essas substâncias
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foram, provavelmente, isoladas por Heraclito (fr. 126) antes mesmo de terem
sido elevadas, por Empédocles, à forma de elementos-padrão irredutíveis.
Impõe-se-nos, evidentemente, usar de prudência no que respeita aos contrá
rios de Anaximandro: é possível, por exemplo, que os Peripatéticos tenham
usado as suas próprias formulações mais abstractas, calor e frio, etc., em lugar
das expressões mais concretas empregadas pelo próprio Anaximandro. Para
ele, o mundo pode ter sido formado a partir de substâncias que, apesar de
possuírem, cada uma delas, tendências individuais contrárias às de algumas
das outras, não precisam de ter sido formalmente descritas como contrárias,
isto é, por exemplo, como duro e mole; mas simplesmente como fogo, vento,
ferro, água, homem, mulher e assim por diante.
111 Porque desisti eu, antes de alcançar os fins pelos quais reuni o povo?
A mãe suprema das divindades olímpicas podia ser a minha melhor tes-
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temunha no tribunal do Tempo — a Terra negra, cujos marcos, enterra
dos por toda a parte, eu outrora arranquei; antes, era ela escrava, agora
é livre.
O S M U N D O S IN U M E R Á V E IS