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título
Meteorológicos
Volume II — Tomo IV
autor
Aristóteles
design da coleção
www.whitestudio.pt
revisão, paginação e conceção da capa
incm
impressão e acabamento
incm
1.a edição
Agosto de 2017
isbn 978-972-27-2422-7
depósito legal n.º 403 924/16
edição n.º 1020487
o b r as c o m p l e tas
de aristóteles
coordenação de
a n t ó n i o p e d r o m e s q u i ta
meteorológicos
volume ii
tomo iv
Projeto promovido e coordenado pelo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
em colaboração com o Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, o Instituto
David Lopes de Estudos Árabes e Islâmicos, o Instituto de Filosofia da Linguagem da
Universidade Nova de Lisboa e os Centros de Linguagem, Interpretação e Filosofia e de
Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra.
Este projeto foi subsidiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
biblioteca de autores clássicos
meteorológicos
aristóteles
t r a d u ç ão, i n t r o d u ç ão e n o tas
c l áu d i o w i l l ia m v e l o s o
com a colaboração de
h i t e s h k u m a r pa r m a r
(universidade de lisboa)
revisão científica
a n t ó n i o p e d r o m e s q u i ta
(universidade de lisboa)
meteorológicos
por uma natureza (logo, por uma ordem), mas mais desordenada, em
relação à ingerabilidade e indestrutibilidade dos astros e à regularidade
do seu movimento. O autor da obra não está necessariamente consciente
desse deslocamento semântico, que se consolidou, de facto, mais tarde.
O autor parece, antes, entender pelo termo o estudo das coisas elevadas
ou suspensas sobre a terra, mas acreditando que os seus antecessores as
teriam abordado, erroneamente, de um ponto de vista mais adequado
ao estudo dos factos da região inferior, por não terem distinguido os
quatro elementos dessa região e o elemento próprio à região superior.
Este último, o éter, seria o elemento de que são constituídos os corpos
que se movem em círculo, enquanto aqueles quatro, a saber, terra, água,
ar e fogo, seriam os elementos de que são constituídos os corpos que
se movem a partir do centro, isto é, da terra (ascendente), ou em sua
direção (descendente). Na verdade, contrariamente ao que pretende a
vulgata do pensamento aristotélico, as regiões tradicionalmente chamadas
«supralunar» e «sublunar», embora distintas, não estão separadas — o que
constitui, aliás, a mais importante contribuição dos Meteorológicos para a
sua cosmologia, juntamente com a descrição detalhada da região sublunar
que estes oferecem5. Como Aristóteles deixa claro logo de saída (i 2),
não somente há continuidade entre mundo sublunar e mundo supralu-
nar, mas as rotações celestes são a causa motriz e principal dos factos
meteorológicos, enquanto os quatro corpos elementares (fogo, ar, água,
terra) são causa apenas como matéria 6.
lugar no corpus
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10. Ver PA i.
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pl ano da obra
11. E nem todas são 12. Não dizemos quente, o que constitui uma
perfeitamente esféricas, simplesmente «calor do dificuldade para as suas
pois há que considerar os sol», pois, para Aristóteles, teses: ver Mete. i 4.
relevos da terra; ver i 3, sendo de éter como todos
340b33‑341a3. os astros, o sol não é
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a este e à água (i 9). Com efeito, mais do que uma camada, cada um
desses dois elementos constitui como que um grande fluxo que atravessa
uma única camada: um ascendente, o do ar, outro descendente, o da
água. Abre-se, aqui, a secção mais comprida da exposição meteoroló-
gica, na qual podemos identificar três grandes partes, de que as duas
primeiras se deixam, por sua vez, subdividir por grupos de eventos
diferentes. A primeira parte dessa longa secção sobre a zona comum
ao ar e à água concerne a factos devidos (prevalentemente) à exalação
húmida, enquanto a segunda concerne a factos devidos (prevalentemente)
à exalação seca. Na primeira, são examinados, num primeiro momento,
os eventos devidos à condensação: chuvas (i 9), orvalho e geada (i 10);
neve e granizo (i 11-12); e, num segundo momento, os rios (i 13) e os
mares, de cuja formação a exalação seca participa de modo acessório
(i 14-ii 3). Na segunda, são examinados, num primeiro momento, os
ventos (ii 4-6) e os sismos, que daqueles dependeriam (ii 7-8); e, num
segundo momento, as «tempestades», as quais, de maneira secundária,
envolvem também a exalação húmida: trovões e relâmpagos (ii 9); fu-
racões, tufões, turbilhões e raios (iii 1). A terceira grande parte dessa
longa secção ocupa-se de fenómenos que são, sim, devidos ao reflexo,
mas nos quais a exalação húmida está implicada, mais uma vez. Pri-
meiro, são abordados de maneira geral (iii 2), em seguida de maneira
específica: o halo (iii 3), o arco-íris (iii 4-5), o parélio e o «traço de
luz» (iii 6).
A descida em direção à camada da terra é um tanto brusca: dos fo-
tometeoros salta-se para os minerais. Com efeito, a parte final do último
capítulo do Livro III constitui uma breve introdução de uma exposição
de mineralogia (iii 6). Retomando explicitamente o princípio da dupla
exalação, o autor declara pretender falar do que esta realiza quando fica
retida dentro da própria terra e distingue de saída dois tipos de seres,
correspondentes aos dois tipos de exalação: os minérios, orukta, derivados
da exalação seca, e os metais, metalleuta, derivados da exalação húmida.
No término dessa breve introdução, o autor promete uma abordagem de
cada espécie desses dois géneros minerais, mas, pelo menos à primeira
vista, a promessa não é mantida no Livro IV, apesar de este último tratar
essencialmente da mistura ou interação entre a água e a terra. O objetivo
principal desse livro é a explicação da formação, natural ou artificial, do
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au t e n t i c i d a d e
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20. Pensa‑se em Mete. i 8,
345b11; cf. 6, 343a3.
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40. De resto, Diógenes 41. Para além das duas e natureza, como é dito
Laércio v 23 menciona questões levantadas, em Mete. iv 3, 381a9‑12;
um Sobre os elementos em Thillet 2008: 34‑37, 381b3‑7.
três livros, que poderia ser como outros exegetas,
o nosso Sobre a geração e a insiste também no caráter 42. Ver Viano 2006: 92‑100,
corrupção com o acréscimo tecnológico ou técnico a propósito do comentário
do nosso Mete. iv. Mas o do Livro IV. Ora, isso de Olimpiodoro.
termo «elemento» também excluí‑lo‑ia não apenas da
pode ter um sentido investigação meteorológica, 43. Com Groisard 2008:
lógico ou dialético. Outros mas da inteira investigação 11.
conceberam o Livro IV física, já que esta é
44. Para uma posição
não como a prolongação teorética, como diz
próxima da nossa, ver
do Sobre a geração e a explicitamente Metaph. vi
Viano 2006: 7‑20; 109‑113.
corrupção, mas como uma 1. Na verdade, quanto ao
formulação precoce desse processo produtivo, não
tratado. há diferença entre técnica
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lugar que lhe é atribuído no corpus, mas não faz parte da investigação
meteorológica propriamente dita e constitui, assim, uma obra autónoma,
embora introdutória 45.
Muito menos discutida é a questão da autenticidade do Livro III,
apesar de este pôr ao exegeta dificuldades muito sérias, deixando de
lado o capítulo 1, que se encontra em plena continuidade com o Livro II.
Comecemos pelo fim, isto é, pelo final do capítulo 6.
A exposição mineralógica de iii 6 não contém doutrinas que estejam
nitidamente em contraste com as conceções físicas de Aristóteles, embora
o texto seja muito curto para uma verdadeira apreciação. Ademais, essa
exposição une-se bem à exposição meteorológica anterior — para dizer a
verdade, principalmente ao capítulo 1 do Livro III. Por conseguinte, em
princípio, não há razão para duvidar da paternidade aristotélica. Todavia,
o estudo que o final de iii 6 empreende, por um lado, não está realmen-
te anunciado no texto programático do início dos Meteorológicos (i 1)
e, por outro, apresenta uma conexão problemática com a continuação.
Com efeito, embora sejam mencionados minerais no Livro IV (ver 10,
388a13-15), é difícil, como se viu, identificar o estudo anunciado no final
de iii 6 (cada espécie de «minério» e de «metal») com o do Livro IV
(a formação dos corpos «delimitados») 46, apesar de este último parecer
remeter para o final de iii 6, a propósito da exalação 47. Embora se possa
dizer que a doutrina da dupla exalação subjaza à exposição do Livro IV,
ela não desempenha aí um papel de organizador e a distinção entre
«minérios» e «metais» não tem aí nenhuma importância particular 48.
O corpus aristotélico que possuímos não contém nenhuma obra sobre os
45. Essa já era, pelo que 2003: 317, tal afirmação, por si só essa remissão
entendemos, a posição que se encontra no seu indica, no máximo, que
de Baffioni 1981: em comentário do início do o autor do Livro IV é o
particular, 30. prólogo de i 1, é uma mesmo que o do final de
antecipação do conteúdo iii 6.
46. Contrariamente a dos livros seguintes, de que
Alexandre de Afrodísias, não nos chegou nenhum 48. Ver Besnier 2003: 317.
In Mete. 178.12‑15 Hayduck, comentário seu, se é que o
e Olimpiodoro, In Mete. escreveu. Por conseguinte,
266.33‑36 Stüve, João não há que supor que João
Filópono, In Mete. 3.14‑19; Filópono conhecesse um
8, 37‑9.1 Hayduck (cf. In Ph. outro Livro IV.
1, 22‑2, 2 Vitelli), acredita
que o Livro IV trate dos 47. Ver iv 8, 384b34, que
«minérios» e dos «metais», parece remeter para iii 6,
mas, como observa Besnier 378a15‑b6. Bem entendido,
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52. Ainda que em termos 55. De resto, o autor ignora 344b1‑18; 8, 345b9‑31; 12,
diferentes, esse facto é a refração ou, pelo menos, 348a14‑20; ii 9, 370a10‑21.
notado por Louis 1982: não a distingue claramente
xxviii‑xxix, que fala do reflexo.
de «parte suplementar»,
mas sem suspeitar da sua 56. Knorr 1986: 102‑108.
autenticidade.
57. Vitrac 2002: 243‑244.
53. APo. i 13, 79a10‑13.
58. Mete. i 3, 340a24‑32; 5,
54. Ver Merker 2002: 342b1‑14; 6, 342b35‑343a20;
183‑238. 343a26‑30; 343b4‑7; 7,
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d ata ç ã o
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autoriza afirmar simplesmente que até essa data o trabalho ainda não
estava totalmente acabado, mas nada nos diz sobre quando a sua redação
foi iniciada ou concluída. Com efeito, os Meteorológicos, mesmo limitados
aos Livros I-III 1, podem ter sido compostos ao longo de muitos anos e
ter sofrido várias revisões, como as outras obras do corpus 85.
manuscritos
p osteridade d o texto
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99. De Sérgio de Reš'ainā, 101. Editada por Daiber 106. A paráfrase foi editada
segundo Petraitis 1967: 1975. por Abu Wafia‑Abd Ar
54. Para Lettinck 1999: ‑Raziq 1994 e o comentário
viii; 7‑8, a tradução siríaca 102. O tratado foi editado médio por Alawī 1994.
teria sido feita não a partir e traduzido em inglês por Já na Renascença, essas
do texto grego tal como Lettinck 1999: 313‑379; traduções latinas foram
o conhecemos, mas sim cf. 10. publicadas com a obra
de uma versão helenística. completa de Aristóteles: ver
Apesar da presença de 103. Ver Hasnawi 2002. a bibliografia.
vestígios de uma versão Sobre a influência dos
siríaca no Candelabrum Meteorológicos na alquimia 107. Editada por
Sanctuarii de Barhebreus e a sua presença na Schoonheim 2000.
(1225‑1286), não seria tradição hermética, ver,
necessário assumir a respetivamente, Carusi 108. Editada e traduzida por
existência desta, segundo 2002 e Travaglia 2002. Fontaine 1995.
Schoonheim 2000: xv;
104. Ver Baffioni 2002.
2003: 324‑325.
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a presente tradução
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livro i
1. introdução1
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26. A saber, o éter. Em por vezes, embora outras intensidade, mas a questão
339a12, lê‑se na edição vezes também por é mais complicada: por
de Fobes, segundo os «líquido».) Entre as duas exemplo, a água quente
manuscritos, um plural, qualidades que caracterizam seria menos quente do
hon, e, nesse caso, o relativo cada corpo elementar, que o ar frio? Ademais, há
referir‑se‑ia a «corpos». há, contudo, uma que o uma homonímia constante
Nós seguimos a correção caracteriza mais: o seco, entre essas qualidades e os
adotada por Louis (e a terra; o frio, a água; o corpos que as possuem, de
proposta por Vimercati: húmido, o ar; o quente, o modo que muitas vezes não
ver aparato crítico), hes, fogo. Além disso, os corpos sabemos ao certo se, por
feminino singular, que, elementares não devem exemplo, thermon, «quente»,
assim, se refere a arkhe, ser confundidos com as designa o calor ou aquilo
«princípio», feminino em entidades homónimas que que é quente (pense‑se
grego. normalmente encontramos, no português «frio»); por
as quais seriam, na isso, às vezes, preferimos
27. Isto é, as esferas celestes. realidade, sempre misturas. traduzi‑lo por «(o) quente».
28. Os quatro princípios Por exemplo, o fogo que De qualquer forma, há
são as qualidades que usamos é semelhante ao uma diferença no grau
caracterizam os corpos fogo elementar, isto é, tem de pureza intrínseca aos
elementares, a saber, o o mesmo aspeto que ele, corpos elementares: o fogo
par de contrários quente e mas não é fogo, pois este é, e a terra, que ocupam os
frio e o par de contrários antes, um excesso de calor. lugares extremos do mundo
seco e húmido. O número Nesse sentido, há uma certa sublunar (respetivamente
de corpos elementares homonímia entre os corpos o alto e o baixo, ou, mais
é determinado pela elementares e as outras precisamente, o centro)
combinação de duas dessas entidades homónimas, são mais puros que os dois
quatro qualidades, excluindo mas não porque estes que ocupam os lugares
a combinação de qualidades sejam simulacros daqueles intermédios, o ar e a água,
contrárias: a terra é fria (ver, adiante, o Livro IV, sendo que o primeiro
e seca; o ar, quente e capítulo 12), senão em naturalmente se desloca
húmido; a água, húmida e virtude de uma metonímia, para cima, como o fogo, e o
fria; o fogo, quente e seco. na medida em que os segundo, para baixo, como
(«Húmido» é a tradução elementares estão contidos a terra. Sobre tudo isso, ver
consagrada de hugron, mas nos misturados. Quanto GC i 3 e ii 3.
é preciso entender, antes, às quatro qualidades
algo como «fluido»; e, de primárias, em princípio, a 29. O mundo sublunar.
facto, assim o traduzimos diferença seria apenas de
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3 . o s q u at r o e l e m e n t o s
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tura lhes forem congéneres. Dizemos que o fogo, o ar, a água e a terra
se geram uns a partir doutros e que cada um está presente noutro em
potência, como [acontece] com as restantes coisas a que subjaz algo de 339b
40. Isto é, na região contígua «último». Com efeito, não 47. Em Fobes, kakeinos,
à terra que, segundo alguns está claro se se trata dos segundo os manuscritos, mas
Antigos, constituía o lugar astros mais longínquos ou Louis e outros intérpretes
original e a posição natural dos mais próximos. acolhem a conjetura de
do ar. Thurot, kakeinous. Nesse
43. Isto é, o éter. Ver Cael. i caso, trata‑se dos Antigos e
41. Sobre o tamanho, assim 2‑3. não de Anaxágoras. A frase
como sobre a esfericidade ficaria, pois, assim: «[…]
da Terra, ver Cael. ii 14, em 44. Isto é, as translações. ele considerava que aqueles
particular 297b30‑32. chamavam ‘éter’ à potência
45. Em grego, hupolepsis. de lá […]»
42. Há uma discussão
entre os intérpretes sobre 46. Ver Cael. iii 3, 302a28
‑b5 (= DK 59 A 43). 48. Cf. Cael. i 3, 270b24‑25.
o sentido exato do termo
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Com efeito, [os Antigos] parecem ter julgado que o corpo que sempre
corre é também ao mesmo tempo algo de divino por natureza 49 e decidi-
ram chamar «éter» a tal [corpo], achando que não é idêntico a nenhum
dos [corpos que existem] entre nós. De facto, há que dizer que não é
uma vez, nem duas, nem poucas, mas ilimitadas vezes 50, que retornam
as mesmas opiniões surgidas entre os homens.
30 Os que dizem que são fogo puro, não apenas os corpos que se des-
locam 51, como ainda o que [os] circunda, e que o intermediário entre a
terra e os astros é ar, se considerassem o que está hoje suficientemente
demonstrado através das matemáticas, provavelmente abandonariam essa
opinião infantil. Com efeito, é demasiado simplista considerar que cada
um dos [astros] que se deslocam é de tamanho pequeno porque assim
nos aparece, a nós que observamos daqui 52. Já falámos sobre isto antes,
nos estudos sobre o lugar de cima 53. Mas demos a mesma explicação
agora também.
340a Se os intervalos [entre os astros] estivessem plenos de fogo e os
corpos também fossem constituídos de fogo, há muito que cada um
dos outros elementos estaria destruído. Todavia, tão-pouco podem estar
preenchidos pelo ar somente, pois [o ar] excederia em muito a igualdade
de proporção comum aos corpos da mesma ordem 54; [e isso,] mesmo
se o lugar intermédio entre a terra e o céu estivesse pleno de dois ele-
mentos 55. Com efeito, a massa da terra, na qual está incluída toda a
quantidade de água 56, é uma parte, por assim dizer, inexistente perante
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posição do primeiro corpo e por que causa o calor se gera nos lugares
60
57. Dada essa pequenez das respetivas quantidades, Acontece, porém, que para
do tamanho da terra (que pelo que o pressuposto Aristóteles os astros, sendo
contém toda a água), da proporcionalidade dos constituídos de éter, não são
os outros elementos, elementos prevalece. por sua natureza quentes:
ar e fogo, também não ver, adiante, ainda no
podem constituir massas 59. Entre o céu e a terra, capítulo 3, 341a16.
muito maiores, devido espaço esse que também
à desproporção que tal não pode ser composto 62. Ver acima, no início do
significaria. Cf. GC ii 6, a por apenas um ou dois dos capítulo 3 (339b2‑6).
propósito de Empédocles. elementos, como a seguir se
provará. 63. Ou seja, na região
58. Quer dizer, mesmo que imediatamente abaixo do
os elementos não se gerem 60. Isto é, o éter. movimento dos astros.
entre si, mas sejam iguais
em potência, essa igualdade 61. À primeira vista, não se
de potência decorre também vê onde está o problema.
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considerar-se que a causa é esta: porque aí não está presente apenas ar,
mas, antes, [algo] como fogo. E nada impede que a formação de nuvens
no lugar mais acima seja impedida também por causa do deslocamen-
to em círculo 75, pois necessariamente flui todo o ar circular, aquele
que não está englobado dentro da circunferência que torna regular [a
terra], em consequência da qual a terra é toda esférica 76. Com efeito,
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desde já 77 é manifesto que a geração dos ventos [acontece] nos luga-
341a res estagnantes 78 da terra e que os sopros não ultrapassam os montes
mais altos. Mas [o ar acima dos montes] flui em círculo pelo facto de
ser arrastado com a rotação do universo. Com efeito, o fogo [está em
continuidade] com o elemento de cima 79, enquanto o ar com o fogo.
Por conseguinte, também por causa do movimento, [o ar] é impedido de
se condensar em água; mas qualquer parte sua que se torne pesada, pelo
facto de o quente ser empurrado para o lugar de cima, move-se sempre
para baixo, enquanto outras [partes] são levadas aos poucos para cima,
juntamente com o fogo que exala, e, deste modo, continuamente, uma
[parte] 80 fica cheia de ar e a outra de fogo e cada uma delas 81 torna-se
sempre outra e outra 82.
10 Acerca do facto de não se formarem nuvens [no lugar de cima] nem
condensação em água e de como é preciso compreender o lugar inter-
médio entre os astros e a terra e de que corpo está pleno, seja, pois,
suficiente quanto dito.
Acerca do calor que se forma — que o sol proporciona —, convém
tratar, antes, por ele mesmo e de maneira mais precisa, nos [estudos]
sobre a sensação 83, pois o quente é uma certa afeção 84 da sensação.
Mas é preciso dizer, desde já, por que causa [o calor] se gera, uma vez
que aqueles 85 não são, quanto à [sua] natureza, assim 86. Vemos decerto
que o movimento é capaz de dissolver e de inflamar o ar, a um ponto
tal que inclusive os [corpos] que se deslocam muitas vezes fundem-se
20 de modo manifesto 87. Ora, só o deslocamento do sol é suficiente para
77. Com efeito, os ventos seja a dupla de elementos 83. O autor não parece visar
serão tratados apenas no acima mencionada, ar e a obra que temos sob o
Livro II, capítulos 4‑6. fogo. nome de Sobre os sentidos
e os sensíveis. A sensação
78. Ou seja, as regiões 82. Noutras palavras, essa tátil é tratada em De an. ii
baixas. metade superior do mundo 11, mas tão‑pouco aí há
sublunar (ver as notas 80 uma abordagem especial
79. Isto é, o éter.
e 81 ao Livro I) está, sim, do calor.
80. Da metade superior do cheia de ar e fogo, mas não
mundo sublunar, que é dividida em duas camadas 84. Em grego, pathos.
constituída por ar e fogo e estáticas. Não só há uma
85. Isto é, os astros.
está situada entre a metade troca constante entre elas,
inferior do mundo sublunar, mas em cada uma há 86. Isto é, quentes.
constituída por terra e movimentos horizontais: na
água, e o céu, constituído camada inferior os ventos
e na superior o movimento 87. Ver Cael. ii 7, 289a19‑28.
por éter.
circular provocado pela
81. Ou então, «cada um rotação do universo.
deles», caso o antecedente
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4 . f e n ó m e n o s at m o s f é r i c o s l u m i n o s o s
Feitas essas distinções, digamos por que causa aparecem no céu as 341b
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95. Há quem sustente que atribuição pode ser devida, 100. Ver adiante, no
o autor aluda a Platão, antes, a uma influência do Livro III, o capítulo 1
Timeu 56d, mas há também aristotelismo na transmissão (371a33‑b1) e, no Livro IV,
quem pense em Heraclito das teses heraclitianas. o capítulo 9 (388a2). Ver
(DK 22 B 1, 9 = Diógenes também GC ii 4, 331b25‑26.
Laércio ix 9). 97. Isto é, da translação dos
astros. 101. Isto é, do elemento
96. Trata‑se da primeira inflamável.
formulação explícita da 98. Sobre a denominação
teoria da dupla exalação, dos corpos elementares, ver, 102. Isto é, caso a largura
que subjaz a todo o acima, a nota 28 ao Livro I. e o comprimento sejam
tratado. A sua paternidade consideráveis.
é, porém, controvertida. 99. Aqui, como noutras
Segundo uma certa tradição, passagens, phusis designa 103. Isto é, uma chama
cabe a Heraclito, mas tal simplesmente o corpo. ardente.
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os caroços entre os dedos, de modo que [as] observamos caírem tanto para
a terra como para o mar, quer à noite quer de dia, e quando o céu está
limpo. E são projetadas para baixo pelo facto de a densificação que [as]
rechaça tender para baixo. Por isso também os raios caem para baixo 111.
Com efeito, a geração de todos esses [fenómenos] é não uma combustão,
mas uma expulsão pela ação do empurrão, uma vez que todo o quente
é naturalmente constituído para deslocar-se, por natureza, para cima 112.
51
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113. O autor não precisa que o princípio acima 119. Ver, supra, a nota 38 ao
se se trata da seca ou da invocado jamais é aplicado Livro I.
húmida. ao movimento circular, isto
é, em volta do centro, que, 120. Isto é, lançados.
114. Ou seja, que esteja para Aristóteles, é simples,
em posição horizontal ou exatamente como o retilíneo 121. Em grego, phasmata.
vertical. para cima ou para baixo,
isto é, respetivamente, para 122. A identificação desses
115. Ou então, pode fenómenos luminosos é
subentender‑se a exalação o centro e a partir do centro
(Cael. i 2, 268b17‑24). controvertida. Segundo
seca. alguns, o autor refere‑se à
117. Trata‑se sem dúvida da aurora boreal, mas outros
116. Poder‑se‑ia perguntar
exalação seca. sustentam que se refere a
se Aristóteles conhecia
variações cromáticas das
a lei de composição das
118. Isto é, dos astros. nuvens. É possível que se
forças, mas há que precisar
trate de ambas as coisas.
52
aristóteles
E para estas a causa é a mesma 123. Com efeito, já que é manifesto que o 342b
53
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6 . o s c o m e ta s ( e x p o s i ç ã o e c r í t i c a
da opinião d os predecessores)
54
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55
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também sem cauda, dado que, embora sejam deixados para trás [indo]
30 para outros lugares, nem em toda a parte possuem a cauda. Ora, na
realidade, nenhum planeta é visto além dos cinco 160 e estes muitas
vezes aparecem todos ao mesmo tempo, elevados 161 acima do horizonte.
Mas, quer todos estejam visíveis, quer nem todos apareçam — pelo facto
de alguns estarem perto do sol —, os cometas, não obstante, aparecem
muitas vezes. E tão-pouco é verdade que um cometa surja apenas no
343b lugar para o norte, ao mesmo tempo que o sol está no solstício de verão
também. Com efeito, o grande cometa, aquele que surgiu no tempo do
abalo [de terra] e da irrupção da onda na Acaia 162, levantou-se a partir
do oeste equinocial 163; e já se produziram muitos no sul. Quando em
Atenas era arconte Eucleio, [filho] de Mólon 164, surgiu um cometa pelo
norte durante o mês de Gamélion 165, estando o sol perto do solstício de
inverno. No entanto, que haja reflexo a uma tal distância, eles próprios 166
dizem que é impossível.
[Uma impossibilidade] comum tanto a estes 167 quanto aos que di-
zem que é o contacto 168 é, em primeiro lugar, o facto de alguns dos
10 [astros] não-errantes 169 também adquirirem cauda 170. E quanto a isso
não devemos apenas acreditar nos Egípcios, embora estes o digam, pois
também nós mesmos [o] observámos 171. Com efeito, um certo astro de
entre os [que se encontram] no quadril do Cão 172 tinha cauda, ainda
56
aristóteles
como se se tivesse posto antes do sol, mas foi visto na [noite] seguinte,
pois foi deixado para trás o menor tempo possível e baixou logo. A sua
luminosidade estendeu-se a um terço do céu qual uma torrente 175 e
por isso foi chamado «caminho». Elevou-se até à cintura de Oríon e
aí foi dissolvido.
Todavia, Demócrito combateu insistentemente pela sua opinião.
Com efeito, diz que foram vistos alguns astros aquando da dissolução
dos cometas. Ora, seria preciso que isso acontecesse não algumas vezes
sim, outras não, mas sim sempre. Para além disso, não só os Egípcios
dizem que também ocorrem encontros 176 de planetas — quer entre si,
quer com os astros não-errantes 177 —, como nós próprios já vimos 178 o 30
57
meteorológicos
7 . o s c o m e ta s ( e x p l i c a ç ã o
de aristóteles)
58
aristóteles
uma exalação bem temperada, isso torna-se um «astro cabeludo» , con- 195
190. Ver acima, no capítulo 3 193. Isto é, uma centelha. 199. A ideia parece ser que
(340b33‑34). os cometas e as estrelas
194. Ver acima, capítulo 4, cadentes têm um mesmo
191. Em grego, eukratos. a propósito das estrelas princípio explicativo,
cadentes, archotes e cabras. mas enquanto nestas a
192. «Dispersos» traduz inflamação alastra e espalha
sporades. Trata‑se das 195. Aster kometes, isto é, ‑se, naqueles a inflamação
estrelas cadentes: ver acima, um cometa. mantém‑se concentrada, de
no capítulo 4 (341b18‑35). tal modo que se pode dizer
Segundo Olimpiodoro 196. Kometes.
que o seu início e o seu
(77.21‑22), esses astros termo (espaciais) coincidem.
são assim chamados por 197. Cf. acima, capítulo 4
não formarem nenhuma (341b26‑27).
200. Isto é, fixos, estrelas.
constelação, eidolon
198. Isto é, estrelas cadentes.
(«imagem»). 201. Isto é, planetas.
59
meteorológicos
60
aristóteles
e secas. Com efeito, é evidente que se formam por ser tanta a excreção
desse tipo 215, de modo que necessariamente o ar é mais seco e o húmido
que se evapora desagrega-se e é dissolvido pela grande quantidade de
exalação quente, de maneira que não se condensa facilmente em água. Mas
falaremos de maneira mais precisa sobre esse fenómeno também, quando
for o momento de falar igualmente sobre ventos 216. Quando, pois, [os
cometas] aparecem concentrados 217 e em maior número, como dizemos,
os anos fazem-se manifestamente secos e ventosos. Mas quando são mais
dispersos e mais dificilmente distinguíveis quanto ao tamanho, tal não
acontece, ainda que no mais das vezes se forme um excesso de vento, em 30
61
meteorológicos
8. a via l áctea
10 Digamos, pois, como e por que causa se forma e o que é a via láctea 226.
Mas antes disso exponhamos primeiro, sobre este assunto também, o que
foi dito pelos outros.
De entre os chamados «pitagóricos», alguns dizem que ela é um
caminho: uns dizem que é [o caminho] de um dos astros que caíram
aquando da falada aniquilação de Faetonte 227, enquanto outros dizem que
antigamente o sol percorria esse círculo, de modo que esse lugar ficou
queimado ou sofreu algum outro fenómeno semelhante por ação do
deslocamento deles 228. Mas é absurdo não compreender que, se realmente
62
aristóteles
modo que não são iluminados pelo sol, é que eles dizem que é a via
láctea 230. Mas é claro que também isso é impossível. Com efeito, a via
láctea é sempre a mesma e está nos mesmos astros (é manifestamente
um círculo grandíssimo 231), enquanto os que não são iluminados pelo
sol são sempre diferentes, pelo facto de ele não permanecer no mesmo
lugar. E seria necessário que, ao mover-se o sol, também se movesse a
via láctea. Mas, de facto, isso manifestamente não acontece. Ademais, se, 345b
63
meteorológicos
64
aristóteles
tipo o que justamente se refere àquelas coisas 243, quando se gera uma tal 346a
excreção, não por si mesma e sozinha, mas por efeito de algum dos astros,
seja das estrelas ou dos planetas 244. Estes aparecem, então, cabeludos 245,
pelo facto de [uma tal excreção] os seguir no seu deslocamento, assim
como uma tal aglomeração [segue] o sol, [aglomeração] a partir da qual,
dizemos nós, aparece o halo devido ao reflexo, quando calha que o ar
se encontre temperado 246. É preciso compreender que o que ocorre a
um só desses astros acontece por todo o céu e todo o deslocamento de
cima. Com efeito, é lógico pensar que, se o movimento de um só astro
produz efetivamente algo desse tipo, também o movimento de todos
[os astros] o produzirá, inflamando o ar e desagregando[-o], devido ao
tamanho do círculo 247, e mais ainda no lugar em que sucede estarem os 10
243. O autor refere‑se necessário que o iminente vez, uma glosa secundária,
provavelmente à via láctea. deslocamento dos que explicitaria a correlação,
próprios círculos maiores sugerida pela primeira,
244. Literalmente, «quer maximamente produza entre o tamanho da esfera
dos [astros] fixos quer dos isso... Isso é preciso e a sua capacidade de
[astros] errantes». para que se gere muito inflamar a camada superior
movimento, devido ao da atmosfera.
245. Isto é, como cometas. tamanho [do círculo],
e produza o incêndio.» 248. Ver acima, no capítulo 7
246. Em grego, kekramenos. (345a6‑8).
Ademais, os manuscritos E,
247. Aqui, inserir‑se‑iam as J e W, bem como o texto 249. Isto é, cauda.
linhas 346a9a‑d da edição comentado por Alexandre
de Fobes, que este tirou de de Afrodísias e João 250. Trata‑se das estrelas
dois lemmata do comentário Filópono, omitem «o ar e cadentes; ver acima, nos
de Olimpiodoro (In [o] desagregue, devido ao
capítulos 6 (344a15) e 4
Mete. 77.3‑4 e 7‑8 Stüve), tamanho do círculo» (346a9
(341b18‑35).
acolhendo‑as no texto ‑9ª; cf. capítulo 7, 345a8‑10).
entre parênteses angulares. Por isso, Groisard considera
Não aceitamos esse essas palavras uma glosa, da
acréscimo, mas aqui está qual as linhas acrescentadas
a tradução: «É certamente por Fobes seriam, por sua
65
meteorológicos
ver claramente até mesmo com os olhos), de modo que, por causa deles,
essa aglomeração concentra-se toda aí sempre e continuamente. E aqui está
um sinal: a luz do próprio círculo é maior naquele dos dois semicírculos
que tem o desdobramento 251. Neste, os astros são mais numerosos e mais
densos do que no outro [semicírculo], já que a luminosidade não se forma
devido a nenhuma outra causa senão ao deslocamento dos astros. Com
efeito, se [a luz] se forma naquele círculo onde está a maior parte dos
astros e, dentro dele, naquela parte onde parecem estar concentrados os
30 astros, por tamanho e por número, é plausível assumir que esta seja a
causa mais apropriada do fenómeno.
Observe-se o círculo, bem como os astros dentro dele, a partir do
desenho 252. Quanto aos [astros] chamados «dispersos», não é possível
situá[-los] na esfera deste modo pelo facto de nenhum deles ter, cada
um, uma posição completamente manifesta 253, ainda que sejam visíveis
para os que olham para o céu. De entre os círculos, apenas neste os
espaços intermédios estão repletos de astros deste tipo, enquanto nos
346b outros manifestamente [esses astros] deixam intervalos vagos 254. Por
conseguinte, se para o aparecimento dos cometas aceitamos essa causa
como razoável, também em relação à via láctea devemos julgar do mes-
mo modo. Com efeito, lá a cabeleira 255 é um fenómeno [que se produz]
à volta de um único [astro], [enquanto aqui] esse mesmo [fenómeno]
acontece à volta de um certo círculo. Ou seja, a via láctea é, para dar
como que uma definição, uma cabeleira do círculo maior devida à
66
aristóteles
Falemos sobre o lugar que, por posição, é segundo depois deste 259, mas
primeiro à volta da terra. Ele é um lugar comum à água, ao ar e às coisas
que ocorrem na geração dela 260 no alto 261. Deve-se também compreender
os princípios e as causas de todas estas coisas do mesmo modo 262. 20
256. Em suma, como já das esferas celestes, zona fenómenos semelhantes (ii
acontecera, no capítulo em que se verificam os 9‑iii 1).
anterior, com os cometas, fenómenos tratados nos
ou pelo menos com um capítulos 4‑8. 262. Tal como se
certo tipo de cometas, compreenderam do mesmo
justamente aqueles que se 260. Isto é, da água. modo os princípios e causas
produzem à volta de certos dos fenómenos da região
astros, a inclusão da via 261. O presente capítulo superior, todos resultantes
láctea no mundo sublunar, abre a grande secção sobre da exalação seca.
mais precisamente na sua «a região comum à água e
esfera extrema (logo, no ao ar» que se estende até
âmbito meteorológico), não ao capítulo 1 do Livro III
é total. Para dizer doutro e, de facto, termina o
modo, Aristóteles admite programa anunciado no
um componente estrelar capítulo 1, se excluirmos
(logo, de competência da uma possível referência ao
astronomia) na composição Livro IV aí presente. Essa
da via láctea. abordagem subdivide‑se do
seguinte modo: orvalho e
257. Ver acima, no capítulo 7 geada (i 10); chuva, neve
(345a8‑10). e granizo (i 11‑12); rios
(i 13); mudanças climáticas
258. A região da via láctea e ciclo da inversão entre
para onde se liberta a terra e mar (i 14); mar (ii
excreção dos astros. 1‑3); ventos (ii 4‑6); sismos,
259. Ou seja, da zona do que fariam parte dos ventos
mundo à volta da terra (ii 7‑8), furacões e outros
que é contígua à região
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o c i c l o d a á g ua e d o a r
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c h u va s
1 0 . o o r va l h o e a g e a d a
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70
aristóteles
seu frio, concentra-o de tal forma que este se evapora muito mais. Mas
é possível ver isso acontecer muitas vezes mesmo em lugares fora [do
Ponto]: os poços evaporam-se mais com o vento do norte do que com
o do sul. Mas os ventos do norte extinguem [a exalação] antes que uma 10
1 1 . a c h u va , a n e v e e o g r a n i z o
277. Da região das nuvens, presente capítulo. Lembramos 279. Em grego, uetos.
que acabou de ser que, embora tradicional, a
mencionada. Com efeito, a divisão em capítulos não é 280. Ver acima, no
presente frase pode também obra do seu autor. capítulo 10 (347a13‑16).
ser considerada o final
do capítulo anterior, ou a 278. Em grego, hudor,
anterior como início do «água» ou «chuva».
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meteorológicos
1 2 . o g r a n i z o ( c o n t i n uaç ão )
281. Em grego, sumbainonta. apenas num segundo uma quinta estação, como
momento: ver 348a14 observa Louis, ver o final
282. Em grego, paraloga. e seg.), mas sim uma do capítulo (348b27‑30).
Como observam alguns dificuldade posta pelo
exegetas, o ponto de próprio fenómeno a ser 284. Em grego, meteoron.
partida, aqui, não é uma compreendido.
controvérsia (no caso 285. Cf. Cael. iv 6, onde se
do granizo, a opinião de 283. «Fim do verão» traduz critica Demócrito (= DK 68
predecessores é examinada opóra, considerada quase A 62).
72
aristóteles
para cima, mais longe da terra. Ora, acontece que é nas terras muito altas
que menos se produzem granizadas. No entanto, deveriam [formar-se aí
sobretudo], como é sobretudo nas terras muito altas que vemos formar-se
a neve também. Ademais, muitas vezes veem-se nuvens deslocarem-se,
com estrondo, bem perto da própria terra, tanto que é amedrontador
para aqueles que ouvem e veem, porque 287 virá algo maior. Às vezes,
porém, mesmo quando essas nuvens são vistas sem estrondo, forma-se
muito granizo, e de tamanho inacreditável, bem como de figuras não
arredondadas, pelo facto de o seu deslocamento não durar muito tempo,
porque 288 a solidificação se deu perto da terra e não como aqueles dizem. 30
projetada para o lugar de cima, [que é] frio, está claro. Mas, como vimos
que o quente e o frio se compelem 289 um ao outro (por isso, nas esta-
ções quentes, os subterrâneos estão frios e, nas frias, quentes), é preciso
considerar que isso se dá também no lugar de cima, de modo que, nas
estações mais quentes, o frio, compelido para o interior por causa do calor
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os ventos
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mesmos .
312
os rios
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aristóteles
Isto fica claro para quem observa os mapas da terra 321: quanto àqueles 322
que os relatores 323 porventura não viram por si mesmos, desenharam[-nos]
deste modo a partir das informações obtidas de 324 cada um deles 325.
Na Ásia 326, então, vê-se a maioria dos grandes rios fluir a partir do
monte chamado Parnaso 327 e é aceite que este é o maior monte de todos 20
321. A expressão grega que é mostrado aos seus ficamos sem saber se
é hai tes ges periodoi, ouvintes, o que confirma se trata de um viajante
mais literalmente, «os o caráter didático da obra: ‑geógrafo e/ou de um
contornos [ou «as zonas»] ver, supra, a nota 252 ao membro da escola…
da terra». O termo periodos Livro I. O códice Matritensis
é polissémico, mas essa Bibl. Reg. 41 (M, século xii)326. Aristóteles começa a
expressão já adquirira, na contém uma ilustração no sua, por assim dizer, volta
época, o sentido de «mapa verso de um folio (Graux e ao mundo, subentendendo a
da terra»; mas também o Martin 1900). divisão tradicional da Terra
de «viagem», «relato de habitada em Ásia, Europa e
viagem» ou «descrição 322. O antecedente de Líbia (Heródoto ii 16‑17;
da terra» (Política ii 3, tautas (350a16), por iv 42) e tendo como ponto
1262a19; Retórica i 4, sua vez antecedente de de referência das direções
1360a34). Heródoto (v 49, hoson (350a17), pode ser mencionadas a Grécia. Esta
3‑5) fala de «uma tábua o termo que o precede última é, contudo, tratada à
de bronze em que estava imediatamente (periodous), parte, como em Política vii
gravado um mapa (periodos) entendido como «zonas 7, onde, porém, o resto do
da terra inteira, bem como (da terra)» (ver a nota mundo parece constituído
todos os mares e todos os precedente), ou os acidentes apenas por Ásia e Europa.
rios»; ver também iv 36 e geográficos mencionados
Aristófanes, Nuvens 206. pouco antes, a saber, rios e 327. Não se trata, é claro,
Para a tradição, o primeiro montanhas. do Parnaso situado na
mapa da terra deve‑se a Grécia, perto de Delfos,
Anaximandro de Mileto 323. Em grego, legontas. mas sim, provavelmente, da
(ver, supra, a nota 272 ao cordilheira do Paropamisos,
Livro I), e ao seu discípulo 324. O texto apresenta a conhecida hoje como
e concidadão Hecateu preposição para (350a16), Hindu Kush, nos atuais
o primeiro tratado de que faz pensar numa Afeganistão e Paquistão.
geografia, periodos ges pessoa como fonte das Cf. Estrabão xi 8, 1, 22.
(Estrabão i 1, 1; 11; informações, mas o autor
328. Para o sudeste.
xii 3, 14‑17; Diógenes parece entender, na verdade,
Laércio ii 2). O testamento os próprios elementos 329. Esse nome não designa
de Teofrasto, sucessor de geográficos. Teria havido necessariamente o Atlântico.
Aristóteles na direção do uma troca de peri, «acerca Poderia tratar‑se do
Liceu, atesta a posse de de», por para? Índico. Olimpiodoro (In
tábuas contendo mapas da Mete. 107.22‑108.2 Stüve)
terra por parte da escola 325. O antecedente é identifica‑o com o mar
(Diógenes Laércio v 51). provavelmente o mesmo Vermelho.
De qualquer forma, a de hoson‑tautas: ver, supra,
continuação do presente a nota 322 ao Livro I. O
texto deixa claro que o mapa seria, pois, fruto
autor se refere a um mapa de uma compilação, mas
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aristóteles
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20 como prova 353 mencionamos estes. Mesmo [no caso d]aqueles que fluem de
pântanos, acontece que os pântanos, por sua vez, encontram-se quase todos
no sopé de montanhas ou em lugares que se elevam gradualmente.
Que não se deva, pois, considerar que as origens dos rios se formam
assim, isto é, como que de cavidades já definidas, está claro. Com efeito,
nem, por assim dizer, [todo] o espaço da terra seria suficiente 354, como
tão-pouco o das nuvens, se devesse fluir apenas a [água] existente, sem
que uma parte fosse embora e outra fosse gerada, mas sempre se extraísse
de [água] existente 355. E o facto de terem as suas fontes no sopé das
montanhas prova que o lugar dispensa [água] pela confluência lenta e
30 paulatina, a partir de muitas transpirações; e assim se formam as fontes
dos rios 356.
Não obstante, [considerar] que existam tais lugares com uma grande
massa de água, como que lagos, não é absurdo, exceto que não são tão
grandes para que tal aconteça 357; como tão-pouco [seriam] se alguém
achasse que [o] são as fontes visíveis dos rios, já que a quase maioria
[dos rios] flui a partir de nascentes. Dá, pois, na mesma considerar que
aqueles ou que estas são o corpo todo da água 358.
351a Que existem tais precipícios e brechas na terra, mostram-no os rios
que são engolidos. Isso sucede em muitos lugares da terra: por exemplo,
no Peloponeso, na região da Arcádia, há muitíssimas coisas desse género
e a causa é que, sendo montanhosa, [a Arcádia] não possui saídas dos
[lugares] côncavos para o mar; esses lugares que se enchem [de água]
e que não têm escoamento para si acham uma passagem para as pro-
353. Ou: «para dar alguns 357. Para que deem origem «lagos» subterrâneos seria,
exemplos» (marturiou a todos os cursos de água. assim, uma generalização
kharin). das fontes, generalização
358. «Aqueles» são os lagos indevida na medida em que
354. Ver acima, no subterrâneos e «estas», as a maioria dos rios tem, em
capítulo 13, 349b15‑19. fontes visíveis. Aristóteles seu entender, nascentes e
parece distinguir, aqui, entre não fontes.
355. Ver acima, no nascentes, krenai, o lugar
capítulo 13, 349b21‑27. de onde os rios jorram da
terra, e fontes, pegai, isto
356. Ver acima, no é, bacias onde certos rios
capítulo 13, 349b27‑35. têm origem; a tese dos
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fundezas, sob a força exercida pela água que chega de cima. Na zona da
Grécia, casos desse tipo são bastante pequenos, mas [há] pelo menos o
lago no sopé do Cáucaso, que os de lá chamam «mar» 359: com muitos
rios grandes desaguando [e] não tendo ele escoamento visível, desem- 10
1 4 . a s m u d a n ç a s c l i m át i c a s
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não fosse tão grande. E é plausível que assim seja , pois os lugares
370
367. A mais ocidental: o prosphatos, «recente», nesta 2200 a. C., mas na época
nome vem da cidade de passagem: cf. Retórica ii em questão perdera parte
Canopo. Cf. Heródoto ii 15. Tebas era uma cidade da sua importância. Ver
10 e seg. importante em 1200 a. C., Heródoto ii 99, 15‑18.
data plausível para a Guerra
368. Cf. Heródoto ii 15, de Troia. 371. Isto é, os que se
20‑21. A cidade de Tebas formaram por último.
erguia‑se nas proximidades
370. Na realidade, Mênfis,
da atual Luxor. 372. Em grego, eukraeis.
cidade muito antiga, já
369. Há uma discussão existia e fora capital do
sobre o significado exato de Antigo Reino entre 2600 e
85
meteorológicos
o grande inverno
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quer que haja, pois, um tal excesso de chuvas, deve presumir-se que
será suficiente por muito tempo. E tal como, agora, alguns dizem que a
causa do facto de, entre os rios, alguns serem perenes e outros não, é o
tamanho das voragens 381 debaixo da terra, enquanto nós dizemos que é o
tamanho dos lugares elevados, bem como a sua grande densidade e frieza
(com efeito, estas acolhem, conservam e produzem a maior quantidade
de água, e [nós dizemos que a água] abandona prematuramente aquelas
em que assenta uma pequena ou porosa, rochosa e argilosa constituição 10
s e d i m e n ta ç ã o
dos homens, os Egípcios , foi e é toda ela obra do rio. E isso é claro
385
para quem observa a própria região, bem como é prova suficiente o que
aconteceu com o mar Vermelho: um dos reis tentou escavar um canal
até aí (com efeito, não seria de pouco proveito para eles se o lugar se
tornasse todo navegável; e diz-se que Sesóstris 386 foi o primeiro dos antigos
a empreender [essa obra]), mas encontraram o mar mais alto do que a
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89
livro ii
1. os mares
Acerca do mar, digamos tanto qual [é] a sua natureza, como por que
causa uma tal massa de água é salgada e, ainda, a sua formação desde
o princípio.
Os antigos, isto é, os que passavam o tempo com as histórias sobre os
deuses 1, atribuíam-lhe fontes, para assegurarem princípios e raízes, quer 353b
para a terra quer para o mar . Com efeito, provavelmente julgavam que
2
falar assim era mais grave 3, mais solene 4, na convicção de que isso 5
fosse uma grande parte do todo 6 e o resto do universo estivesse todo
constituído ao redor e em função desse lugar, como se fosse a coisa mais
honrada e [o] princípio [de tudo] 7.
Já os que eram mais sábios em saber humano atribuíram-lhe um
nascimento: dizem que, primeiro, o lugar ao redor da terra era todo
húmido, mas que a [parte] que se evaporou, secando por efeito do sol,
produziu os ventos, bem como as variações de percurso 8 do sol e da
1. Em grego, peri tas 5. Isto é, a terra e o mar. realmente geocêntrico, assim
theologias. Na Metafísica (vi como não é antropocêntrico:
1, 1026a19; xi 7, 1064b3), o 6. Em grego, tou pantos, isto ver EN vi 7, 1141a21‑23.
adjetivo theologike qualifica é, do universo.
philosophia, «ciência»: a 8. Em grego, tropas. Em
theologike é a «filosofia 7. Na teoria aqui exposta, geral, o termo é traduzido
primeira», enquanto a a terra e o mar parecem por «fases» (tradução, talvez,
phusike, (ciência) natural, constituir uma parte excessivamente restritiva),
é a «filosofia segunda». importante do universo, mas há uma discussão
Mas é improvável que tanto do ponto de vista entre os intérpretes sobre
as theologiai da presente quantitativo, quanto do o significado exato, nesta
passagem façam referência ponto de vista valorativo. passagem, de trope, que nos
Ora, Aristóteles já afirmou
a isso. Trata-se, antes, grosso Meteorológicos normalmente
modo, de «mitos», enquanto no capítulo 3 do Livro I designa o solstício (ver
opostos a discursos (340a6‑8) que a terra e a a nota de Pepe); alguns
científico‑demonstrativos; água que a rodeia são uma pretendem até corrigir o
pouco abaixo (353b6), serão parte ínfima do universo. texto (353b8) com trophas,
opostas a «saber humano», E agora deixa entender «alimentações»: cf. adiante,
anthropine sophia. Cf. o mesmo no plano do no capítulo 2 (354b35).
Metaph. i 3, 983b27; iii 4, valor. Com efeito, apesar
1000a9; xii 6, 1071b27. de sustentar que a Terra
está, imóvel, no centro do
2. Ver, por exemplo, universo, Aristóteles não
Hesíodo, Teogonia 280‑283; faz coincidir essa posição
727‑728; Homero, Ilíada central geométrica com uma
xxi 195‑197. Ver também, posição central no plano
supra, a nota 272 ao Livro I. do princípio e do valor; ele
distingue explicitamente
3. Em grego, tragikoteron, dois sentidos do termo
literalmente «mais trágico». meson, «centro» ou «meio»
(Cael. ii 13, 293b1‑13).
4. Cf. Rh. iii 3, 1406b5‑19. Assim, Aristóteles não é
93
meteorológicos
10 lua, enquanto a que ficou é mar. Por isso, também acreditam que [o mar],
ao secar, está a tornar-se mais pequeno e no fim ficará todo seco, um
dia 9. Alguns de entre eles 10 dizem que, quando a terra fica aquecida
pelo sol, forma-se como que um suor; por isso, também [o mar] é salgado,
pois o suor também é salgado. Outros 11 dizem que a terra é causa da
salinidade: assim como o que se filtra através da cinza se torna salgado,
do mesmo modo também ele 12 é salgado porque se lhe mistura terra
com essa característica.
Ora, que é impossível que o mar tenha fontes, há que observar atra-
vés dos [elementos] já disponíveis. Acontece que, das águas que existem
sobre a terra, umas são correntes e outras paradas. As [águas] correntes
20 provêm todas de fontes — e sobre as fontes já dissemos antes 13 que é
preciso considerar que o princípio é fonte não no sentido em que se
extrai [água] de um vaso, mas [no sentido em que a água] que está
sempre a formar-se e confluir [se reúne] inicialmente num único [lu-
gar]. Das águas paradas, algumas são resultado de acumulação e são
depósitos (como as pantanosas 14 e todas as lacustres 15, que diferem por
quantidade, grande ou pequena), outras provêm de fontes. Mas estas
são todas artificiais (entendo, por exemplo, as chamadas «águas de
poço»), pois a fonte de todas [as águas] 16 deve estar numa posição mais
elevada do que a corrente. Por isso, enquanto algumas [águas], como
as nascentes e os rios, correm espontaneamente, aquelas 17 precisam de
30 uma técnica que realize. Tais e tantas são, pois, as diferenças entre as
águas. Ora, estabelecidas essas diferenças, é impossível que haja fontes
94
aristóteles
para o mar, pois ele não pode estar em nenhum desses dois géneros 18:
[o mar] nem flui a partir de algum lugar 19 nem é obra da mão [humana],
enquanto todas as [águas] provenientes de fontes têm uma dessas duas
características. Tão-pouco vemos [água] proveniente de fonte que fique
espontaneamente parada em tanta quantidade. Ademais, há mais mares
que não se misturam uns com os outros em nenhum lugar: manifesta- 354a
correntes marinhas
Vê-se o mar fluir junto aos estreitos, se por acaso [a sua água] é
conduzida, devido à terra circundante, de um mar grande para um pe-
queno, por balançar 22 de um lado para o outro muitas vezes 23. Isso não
é evidente numa ampla extensão de mar. Mas onde, devido à estreiteza da 10
terra, vem a ocupar pouco lugar, o balanço, que era pequeno em [alto]
mar, aparece aí necessariamente grande. Todo o [mar] de dentro das
Colunas de Héracles 24 flui devido à concavidade da terra e ao número
de rios 25: o Meótis 26 flui para o Ponto 27 e este para o Egeu, enquanto
os mares [que] já [estão] fora destes fazem-no menos claramente. E isso
95
meteorológicos
acontece com aqueles 28 pelo número de rios (com efeito, são mais os
rios que fluem para o Euxino 29 e para o Meótis do que para a região
muitas vezes maior do que [a d]ele 30) e devido à sua profundidade ser
20 menor. Pois é manifesto que o mar é cada vez mais profundo: o Ponto
mais do que o Meótis, o Egeu mais do que aquele 31, o da Sicília mais
do que o Egeu e o da Sardenha e o Tirreno são os mais profundos de
todos 32. As zonas que ficam fora das Colunas 33 são rasas 34 devido ao
lodo, mas são desprovidas de vento, pelo facto de esse mar se situar
numa concavidade.
Assim, pois, tal como se vê, no particular, os rios fluírem a partir
de regiões altas, assim também, no caso da terra inteira, [se vê] a maior
parte do fluxo [fluir] a partir das regiões mais altas, situadas no norte,
de modo que alguns [mares], devido ao escoamento [das suas águas],
não são profundos, enquanto outros, como os mares exteriores, são mais
profundos. Quanto ao facto de as [regiões] situadas ao norte serem as
mais altas da terra, algum sinal é também que muitos dos antigos que
trataram dos fenómenos celestes 35 estavam convencidos de que o sol não
30 se desloca por debaixo da terra, mas à volta da terra e desse lugar 36, e
desaparece, produzindo a noite, pelo facto de a terra ser mais elevada
no norte 37.
Fique, pois, estabelecido por nós que não pode haver fontes do mar
e por que causa se vê o mar fluir.
96
aristóteles
2 . d i f i c u l d a d e s r e l at i va s a o m a r
38. O kai da linha 354b2, contrários doce e amargo o Oceano é a origem dos
aqui traduzido por «e», (18‑21). rios, dos mares, das fontes e
talvez seja explicativo: dos poços (Homero, Ilíada
«da sua salinidade, isto é, 39. A tese é apresentada xxi 195‑197); ver a nota
amargura». Com efeito, de novo mais adiante 272 ao Livro I. Já se pensou
Aristóteles considera que (354b16‑18). O autor também em Tales e Hípon.
o salgado e o amargo são deve visar pelo menos
praticamente idênticos Xenófanes (DK 21 B 30 = 40. Aristóteles tratará da
(Sens. 4, 442a17‑18). Em Aécio iii 4, 4). A posição salinidade do mar no
todo o caso, o salgado deste último não deve, próximo capítulo.
seria um dos cinco sabores porém, ser confundida com
intermediários entre os a ideia tradicional de que
97
meteorológicos
98
aristóteles
ter-se levantado esta dificuldade (pois não é razoável que não haja um
lugar da água, como há dos outros elementos) e que a solução é esta: o
lugar que vemos o mar ocupar não é do mar, mas, antes, da água. Parece
ser do mar, porque a [água] salgada permanece em baixo devido ao
peso, enquanto a doce e potável é conduzida para cima devido à leveza,
assim como nos corpos dos animais: também nestes, mesmo sendo doce
99
meteorológicos
100
aristóteles
crítica ao fédon
um certo volume de água que fica no centro [da terra], donde brotam
todas as águas 70, quer correntes quer não 71. E produz o fluxo para cada
um dos cursos de água devido à agitação permanente do princípio e da
primeira [massa de água]. Com efeito, ele não tem sede fixa 72, mas vai
sempre à volta do centro e, movendo-se para cima e para baixo, produz
o derramamento dos cursos de água 73. Alguns estagnam em muitas
partes, como o mar que está junto a nós 74, mas todos giram em círculo,
de volta ao princípio donde começaram a fluir: muitos no mesmo lugar,
enquanto outros também no lado contrário, em posição, ao do efluxo 75 10
101
meteorológicos
Mas, segundo tal discurso, acontece que os rios nem sempre fluem para
o mesmo [lugar]: uma vez que afluem para o centro donde justamente
efluíram, não fluirão mais de baixo [para cima] do que de cima [para
baixo], mas sim em qualquer dos dois sentidos para os quais o Tártaro,
flutuando, se incline. Todavia, se isso acontecesse, dar-se-ia o que se
conta dos rios [que fluem] para cima 79, o que justamente é impossível.
20 Ademais, donde virá a água que se forma e é de novo conduzida para
cima 80? Com efeito, é necessário eliminar 81 toda [essa água], se de facto
se conserva sempre a igualdade: tudo o que flui para fora flui de novo
para o princípio. Todavia, é evidente que todos os rios terminam no
mar (salvo os que [terminam] uns nos outros), mas nenhum na terra; e,
mesmo se desaparecessem [sob a terra], de novo emergiriam. Por outro
lado, os rios que se tornam grandes são os que fluem, por uma grande
extensão, através de um vale, pois recebem os caudais de muitos [outros]
rios, cujo caminho aqueles obstaculam devido ao seu lugar 82 e à sua
extensão. Justamente por isso, o Istro 83 e o Nilo são os maiores de entre
os rios que vão ter a este mar 84. E quanto às fontes de cada um dos rios,
30 outros fornecem outras causas 85, pelo facto de muitos [rios] desaguarem
no mesmo. Mas é evidentemente impossível que tudo isto 86 aconteça,
sobretudo se o mar tira o seu princípio de lá 87.
Fique, pois, estabelecido por nós que esse lugar é da água e não do
mar, por que causa a [água] potável não é percetível a não ser quando
corrente, enquanto a restante é parada, bem como porque é que o mar é
356b fim, mais do que princípio, da água, como nos corpos o resíduo de todo
o alimento, sobretudo do húmido.
102
aristóteles
3. a salinidade d o mar
88. DK 68 A 100. Cf., marinho por Zeus e vivia 92. É sempre muthos
no Livro I, o capítulo 14 no Estreito de Messina, o termo empregue.
(352a19‑25) e, no Livro II, que separa a Sicília do Mito tradicional ou
o capítulo 1 (353b9‑11). continente; a Caríbdis história inventada por
está associado um outro Esopo, o conto é de
89. Ou «histórias», muthoi. monstro marinho, Cila, imediato desconsiderado,
que vivia do outro lado contrariamente ao que
90. Esopo 19 Halm. do estreito. Homero acontece no capítulo
(Odisseia xii 105) conta que anterior com o Fédon de
91. Segundo certa Caríbdis sugava e vomitava Platão.
tradição, filha da Terra a água do mar três vezes
e de Poseidon, que foi por dia. Aristóteles refere‑se
transformada em monstro a uma outra versão do mito.
103
meteorológicos
cipitar-se-á de novo para baixo, para o mesmo [lugar]. Com efeito, não
faz diferença dizer que isso acontece uma ou muitas vezes 93. E se alguém
impedir, assim, o sol de se deslocar, o que haverá para secar? Mas, se se
deixa o seu deslocamento circular acontecer, então, cada vez que [o sol]
30 se aproximar, conduzirá para cima a água potável, como dissemos 94, e
cada vez que se distanciar, de novo a deixará cair.
Eles tiraram aquela ideia 95 sobre o mar do facto de muitos lugares
parecerem ser mais secos agora do que dantes, de que já dissemos a
causa 96, [a saber,] que este [facto] é o efeito dos excessos de chuva que
se verificam de tempos a tempos, e não [se dá] devido à génese do todo
357a ou das suas partes. Ora, o contrário acontecerá, por sua vez, e, quando
acontecer, [o mar] voltará a secar; e necessariamente isso prossegue sempre
assim, segundo um ciclo. Com efeito, é mais razoável julgar isto do que
[julgar] que, por este motivo, o universo inteiro muda. Mas a [nossa]
exposição já se atardou nisto mais do que merecia.
Relativamente à salinidade, para aqueles que engendraram [o mar]
de uma só vez — ou que pura e simplesmente [o] engendraram — 97,
é impossível fazê-lo salgado 98. Com efeito, se o que restou de todo o
húmido existente sobre a terra e que foi conduzido para cima por efeito
do sol veio a ser mar e, ainda, se tanto sabor estava presente na grande
10 quantidade de água doce pelo facto de se ter misturado nela alguma
terra de tal qualidade, não é menos necessário, como a água que se tinha
evaporado volta e a quantidade é igual, [que o mar tenha sido salgado]
também no início. Ou então, se não [era] no início, tão-pouco poderá
ser salgado depois. Mas se [o] era desde o início 99, é preciso dizer qual
é a causa e, ao mesmo tempo, porque é que, se então era conduzido para
cima, o mesmo não lhe acontece também agora.
104
aristóteles
Decerto [há] também aqueles que dão como responsável da sua sali-
nidade a terra que se lhe mistura: dizem que ela tem muitos sabores, de
modo que, arrastada pelos rios, faz [o mar] salgado devido à mistura.
[Mas] é estranho[, nesse caso,] que os rios também não sejam salgados:
como é possível fazer a mistura com a terra de tal qualidade tão evidente 20
numa grande quantidade de água, mas não em cada um [dos rios]? Pois
é claro que o mar é toda a água fluvial e em nada difere dos rios, a não
ser no facto de ser salgado. E isso 100 advém-lhes 101 no lugar para o qual
fluem juntos 102.
Seria igualmente ridículo se alguém, tendo dito que o mar é suor
da terra, como Empédocles, 103 julgasse ter dito algo de claro. Para uma
composição [poética], ao dizer isso, talvez [se] tenha dito o suficiente
(com efeito, a transposição é algo de poético), mas, para o conhecimento
da natureza, não é suficiente 104. Nem sequer está claro aqui como o suor
derivado de uma bebida doce se torna salgado, se apenas pelo facto de 30
algo, por exemplo, o mais doce, dela se separar, ou se pelo facto de algo
se misturar, como nas águas filtradas através da cinza. A causa parece ser
a mesma que para o resíduo que é reunido na bexiga, pois também este
é amargo e salgado, ainda que sejam doces o que se bebeu e o húmido
presente no alimento. Se, pois, da mesma forma que a água filtrada através 357b
do pó de cal 105
se torna amarga, também tais coisas [se tornam amargas
e salgadas] porque alguma potência 106 — tal qual a salsugem que se vê
105
meteorológicos
depositar-se nos vasos 107 — ou, num caso, se deixa levar com a urina
ou, noutro, é expulsa das carnes com o suor — já que o húmido que
sai do corpo [o] lava de uma [substância] desse tipo 108—, é claro que
também no mar a causa da salinidade é aquilo que da terra se mistura
com o húmido.
No corpo, o resíduo do alimento torna-se, pois, uma [substância] des-
se tipo por causa da incocção 109. Mas é preciso dizer de que modo [uma
10 substância desse tipo] se encontra na terra. De forma geral, como é possível
que uma quantidade tão grande de água tenha sido expulsa [de uma terra]
ressequida e aquecida? Com efeito, é preciso que isto seja uma parte mínima
do [húmido] que ficou na terra. Ademais, porque é que não sua também
agora, quando calha que, por uma extensão grande ou pequena, a terra esteja
a secar? <Com efeito, a humidade, isto é, o suor, torna-se amargo.> 110 Com
efeito, se de facto [isso acontecia] então, também agora deveria [acontecer].
Mas manifestamente isso não acontece agora: estando seca, humidifica-se,
enquanto, estando húmida, não sofre nada desse tipo 111. Então, como é pos-
sível que, aquando da sua primeira formação, estando húmida a terra, tenha
suado, ao secar-se? Ora, é mais plausível que, como afirmam alguns 112, tendo
20 ido embora a maior parte do húmido, devido ao sol, e ficado suspensa 113
107. Em grego, en tois Pr. x 43, 895b6‑7. Thillet e entre parênteses retos
aggeiois. A interpretação sustenta que é tardio o uso em Louis, aparece como
desta passagem varia: de aggeion para designar estranha ao contexto; na
salmoira que se deposita um vaso sanguíneo: ver tradução, entendemos o kai
nos recipientes, substância Nemésio, Sobre a natureza como explicativo, dado que
salgada que se deposita do homem 23, 16. o verbo está no singular
nos vasos de noite ou e o predicativo concorda
humor salgado que se 108. O termo «substância» com o segundo termo.
deposita nos vasos do não é empregue segundo o Provavelmente, é uma nota
corpo. Apesar da presença, sentido técnico aristotélico. marginal inserida no texto
no corpus aristotélico, de Na verdade, em grego ou, pelo menos, está fora
comparações entre partes temos aqui, em 357b5, do lugar.
do corpo e vasos (PA ii 3, assim como na linha 8,
650b7‑8; HA iii 2, 511b17) apenas to toiouton, «algo 111. Ou seja, nada que
e de uma passagem que desse género». se pareça com uma
lembra a presente e que transpiração.
pode parecer designar 109. O termo grego é
uma parte do corpo por 112. Ver acima, no Livro II,
apepsia; literalmente, «falta
aggeion, «vaso» (PA iv o capítulo 1 (353b6‑9).
de cocção». Isto é, falta de
1, 676a35), entendemos digestão; ver a nota 14 ao 113. Em grego,
que, aqui, se trata de uma Livro IV. meteoristhentos.
substância salgada que
se deposita nos vasos de 110. Esta frase (357b14),
noite: cf. [Aristóteles], entre parênteses em Fobes
106
aristóteles
nos ares, o que permaneceu seja mar. Mas é impossível que, estando húmida,
[a terra] sue.
As mencionadas causas da salinidade parecem, pois, subtrair-se à razão.
Mas falemos nós, tomando o mesmo princípio que [tomámos] antes 114.
Uma vez que ficou estabelecido que a exalação é dupla, uma húmida e
outra seca, é evidente que devemos acreditar que esta [última] é princí-
pio de tais [fenómenos]. E, em particular, antes, é necessário [falarmos]
do que causa dificuldades, a saber, se também o mar continua sempre a
ser constituído pelas mesmas partes em número, ou em forma e quanti
dade 115, com as partes sempre mudando, como [sucede com] o ar, a água
potável e o fogo: cada um destes está sempre a tornar-se outra coisa, 30
É, pois, evidente, por muitos indícios, que esse sabor se forma devido à
mistura de algo. Por exemplo, nos corpos, o que há de menos cozido 119 é
salgado e amargo, como já antes dissemos 120: o menos cozido é o resíduo
107
meteorológicos
108
aristóteles
Por isso, são também mais salobras as chuvas trazidas pelo vento sul,
bem como as primeiras do outono: quer pela sua extensão quer pelo seu
sopro, o vento sul é o mais quente e sopra a partir de lugares secos e 30
quentes, portanto com pouco vapor. Por isso justamente é quente. E mesmo
que não fosse assim 135, mas [fosse] frio o [lugar] donde ele começa a
soprar, não seria menos quente ao avançar, por recolher muita exalação
seca a partir dos lugares vizinhos. Já o vento norte, uma vez que sopra de
lugares húmidos, é vaporoso [e] por isso frio. E, por afastar [as nuvens], é 358b
109
meteorológicos
110
aristóteles
Que o salgado consista numa mistura de algo, fica evidente não só pelo
que dissemos como ainda [pelo seguinte:] se alguém, tendo moldado um
vasilhame de cera, [o] colocar sobre o mar, atando o gargalo de tal forma 359a
que não penetre [água] do mar, a água que entra através das paredes de
cera torna-se potável, pois o terroso, ou seja, o que produz a salinidade
pela sua mistura, fica separado, como através de um filtro 151. E isto é
causa tanto do peso (a água salgada pesa mais do que a potável) como da
densidade. Com efeito, a densidade difere tanto que os barcos contendo
o mesmo peso de carga por pouco se afundam nos rios, enquanto no
mar ficam em condições razoavelmente apropriadas à navegação. Justa- 10
mente por isso, alguns dos que carregam nos rios tiveram perdas, por
tal ignorância 152. E uma prova de [haver] algo misturado é o facto de a
massa ser mais densa: se alguém fizesse água salgada misturando muito
sal, os ovos flutuariam nela ainda que cheios, pois a água torna-se quase
como lodo 153. O mar tem massa corpórea 154 em tal quantidade 155. Fazem
o mesmo nas salgas 156. E se [de facto] existe na Palestina, como alguns
contam, um lago tal que, se alguém atira nele um homem ou animal de
carga amarrado, este flutua e não se afoga na água, [tal] seria também
algum testemunho do que dissemos 157. Com efeito, dizem que o lago é 20
111
meteorológicos
tão amargo e salgado que nenhum peixe nasce nele e que as roupas ficam
limpas quando alguém, depois de as imergir, as sacode 158.
Também todas as coisas desse tipo são indícios de quanto foi dito,
a saber, que um certo corpo produz o salgado e que o [corpo] que está
presente é terroso. Por exemplo, na Caónia 159 existe uma certa nascente
de água mais salobra, que flui para um rio próximo, que é, sim, doce,
mas não tem peixe. Com efeito, como contam os de lá, tendo[-lhes]
Héracles dado permissão [para escolher], quando por lá passou condu-
zindo os bois da Eriteia 160, [estes,] em vez dos peixes, escolheram sais,
30 que saem da nascente. É que, depois de ferver essa água, põem [de lado]
uma parte e, arrefecendo [esta], quando o húmido se evapora ao mesmo
tempo que o quente, formam-se sais, não granulados, mas leves e finos
como neve. Quanto ao poder, são mais fracos do que os outros [sais]
e temperam [só] quando usados em grande quantidade; e quanto à cor,
não são igualmente brancos. Outra coisa desse tipo dá-se também no
359b país dos Úmbrios 161. Existe aí um certo lugar onde crescem naturalmente
canas e juncos. Eles queimam parte destes e, lançando a cinza em água,
fervem-na: quando deixam [apenas] um bocado de água, esta, uma vez
arrefecida, forma-se uma quantidade de sal 162.
Deve considerar-se que a maioria das correntes dos rios e das nascen-
tes que são salgadas foram outrora quentes; depois extinguiu-se [nelas]
o princípio do fogo, mas a terra através da qual coam ainda continua a
ser como que pó 163 e cinza. E em muitas partes existem tanto nascen-
tes como correntes de rios com todo o tipo de sabores, cuja causa, de
10 todos eles, deve ser atribuída à potência do fogo que neles existe ou se
gera. Com efeito, a terra queimada, em maior ou menor grau, assume
158. A saber, como se as essa ilha no Oceano, para noutros lugares e noutras
roupas tivessem ficado sujas além das Colunas de épocas: ver Varrão, Sobre
de pó, com a quantidade de Héracles; provavelmente a agricultura i 7, 8. Ver
sal, matéria sólida, contida a pequena ilha de León, também http://www.inrap.
na água. na Baía de Cádiz. Mas fr/archeologie‑preventive/
Aristóteles parece basear‑se Ressources‑multimedias/
159. Região dos Caónios, noutra tradição. Dossiers‑multimedias/
população do norte do Archeologie‑du‑sel/p‑8577
Epiro, a noroeste da Grécia, 161. Região do centro de ‑Archeologie‑du‑sel.htm
atualmente na Albânia. Itália.
163. Em grego, konia.
160. Hesíodo 162. A obtenção de sal
(Teogonia 287‑294) e a partir de cinzas de
Heródoto (iv 8) situam plantas verifica‑se também
112
aristóteles
4. os ventos
113
meteorológicos
114
aristóteles
maneira, nem que tenha uma grande quantidade, mas é necessário que
o que flui provenha de fontes. Com efeito, as coisas também se passam
assim com os ventos: uma grande massa de ar pode ser movida pela
queda de algo grande, sem ter princípio nem fonte 179.
E os factos testemunham o que dissemos. Uma vez que a exalação 360b
toda uma [região], em geral, recebe chuvas moderadas, ou até uma seca,
numa certa parte recebe chuva em abundância. A causa disso é que, na
maior parte das vezes, é verosímil que o mesmo fenómeno se estenda
pela maior parte de uma região, pelo facto de as regiões vizinhas estarem
numa posição parecida em relação ao sol, a não ser que tenham algo
de diferente, de particular. Porém, às vezes, numa parte é a exalação
seca que se torna maior, enquanto na outra é a vaporosa; e, às vezes,
é o contrário. E a causa desse próprio [fenómeno] é que cada uma das
115
meteorológicos
180. O verbo grego é enquanto a inferior pelo outro: ver acima (360b25‑26)
metapiptein. resto do tubo digestivo. e a nota 276 ao Livro I,
capítulo 10 (347b5‑7).
181. Isto é, é levada pelos 183. Isto é, alternam‑se.
sopros para algum lugar «Compelir‑se» traduz 186. O grego tem palavras
distante. antiperiisthai; sobre essa específicas para o vento
ação de cada contrário norte e o vento sul,
182. Sobre a distinção sobre o outro, ver a respetivamente boreas e
entre cavidade, koilia nota 276 ao Livro I, notos, que aparecem, entre
(normalmente traduzido capítulo 10 (347b5‑7). parênteses, como nomes
por «intestino»), superior próprios dos ventos que
184. Ver, no Livro I, os
e inferior do tronco, ver sopram do norte, tes arktou,
capítulos 3 (340a30‑32) e 9
PA ii 13, 650a13‑14; HA i 2, e do sul, [tes] mesembrias.
(346b23‑31).
489a1‑8. Talvez a cavidade Ver o final deste parágrafo e
superior seja constituída 185. Nova referência à ação cf., no Livro II, o capítulo 6,
pelo peito e pelo estômago, de cada contrário sobre o 364a13‑19.
116
aristóteles
o sol não passa, mas [passa] sempre perto ou longe deles, enquanto se
desloca entre ocidente e oriente. Por isso, as nuvens concentram-se nos 10
lados
187
e, quando [o sol] se aproxima, forma-se a exalação do húmido;
quando se afasta para o lugar contrário 188, [formam-se] chuvas e mau
tempo. É, pois, devido ao deslocamento para os solstícios e a partir dos
solstícios que se formam verão e inverno e que a água é conduzida para
cima e se forma de novo. Mas, uma vez que a maior parte da água se
precipita nesses lugares para os quais e a partir dos quais [o sol] se vira
— e estes são os que [ficam] para o norte e [para o] sul —, que, onde
a terra recebe a maior quantidade de água, aí necessariamente se forma
a maior quantidade de exalação — mais ou menos como o fumo pro-
veniente de madeiras verdes — e[, enfim,] que essa exalação é vento, é, 20
pois, razoável que daí venha a maior parte dos sopros e os mais fortes.
Os [ventos] provenientes do norte chamam-se «bóreas», os provenientes
do sul, «notos».
O seu deslocamento é oblíquo. Com efeito, os ventos sopram em redor
da terra (embora a exalação se forme em [ângulo] reto 189), porque todo
o ar [disposto] em círculo segue o deslocamento [circular] 190. Por isso,
poder-se-ia ficar sem saber de qual dos dois lugares [vem] o princípio
dos sopros, isto é, se [vem] de cima ou de baixo. Ora, o movimento
vem de cima, mesmo antes de haver sopro, e o ar é [disso] revelador,
especialmente se há nuvens ou nevoeiro, pois indica que um princípio
de sopro está a mover-se antes mesmo de o vento chegar de modo per-
cetível, porque o princípio deles vem de cima 191. Uma vez que o vento 30
117
meteorológicos
Para onde houver de fluir o que se eleva, daí [virá] a causa. Com efeito,
o deslocamento dos [corpos] para além da terra é dominante. E, ao
mesmo tempo, de baixo [a exalação] desloca-se para cima em [ângulo]
reto 193 — de perto, tudo é mais forte —, e é evidente que o princípio
361b da geração vem da terra.
Que [os ventos se formam] a partir de muitas exalações que se reúnem
aos poucos — como os princípios dos rios se formam quando a terra se
humedece 194—, é também evidente a partir dos factos: lá donde cada vez
sopram, todos [os ventos] são fraquíssimos, mas, ao avançar, cada vez
mais longe, sopram impetuosos. Ademais, também as regiões do norte
estão calmas e sem sopro no inverno, naquele lugar mesmo. Mas o sopro
que daí sopra aos poucos e passa despercebido [no início] já se torna
impetuoso quando avança para fora.
Dissemos, pois, qual é a natureza do vento e como se forma, tendo
10 falado ainda das secas e dos temporais, por que causa [os ventos] tanto
cessam como se formam depois das tempestades e porque os do norte
e do sul perfazem a maioria dos ventos. Além disso, [falámos] do des-
locamento deles.
5 . o s v e n t o s ( c o n t i n uaç ão )
vento e bonança
Mas o sol tanto faz cessar como impulsiona 195 os sopros. Com efeito,
[o sol] extingue as exalações, quando são fracas e poucas, e 196 desagrega,
com o seu maior calor, o [calor] que está na exalação, que é menor 197.
118
aristóteles
Ademais, seca a própria terra antes que se forme uma excreção compac-
ta (tal como, se um pouco de combustível cair em muito fogo, muitas
vezes fica queimado antes de produzir fumo). Por todas estas causas, o 20
põe 202
quer quando se levanta, pelo facto de a sua ascensão e o seu ocaso
acontecerem na mudança de estação, no verão ou no inverno, e, devido
ao tamanho do astro 203, forma-se ao longo de muitos dias. As mudanças
de todas as coisas são turbulentas, devido à indeterminação 204.
119
meteorológicos
etésios
120
aristóteles
pelo facto de o sol, por estar longe, ter menos força. E tão-pouco so-
pram de modo contínuo, porque então é segregado [apenas] o que é
superficial e fraco 210, enquanto o que está mais solidificado precisa de
maior calor. Por isso, os «ventos das aves» sopram intermitentemente,
até que, na altura do solstício de verão, soprem outra vez os etésios, 30
zonas da terra
traçadas a partir do centro dela e produzem dois cones: um tem por base
o trópico e o outro o [círculo] que é sempre visível 216, [ficando] o vértice
[dos dois cones] no meio da terra 217), do mesmo modo, no polo de baixo,
E I
212. Literalmente, a «outra 217. Acredita‑se que uma E I
Ursa», mas o nome grego figura representando a terra
«Ursa», arktos, designa A N T
ilustrasse a exposição de A N T
também o norte ou o polo Aristóteles: ver a referência
norte. Portanto, trata‑se a desenhos um pouco Z
Z K
K
aqui do sul, ou do que hoje adiante (362b12‑14). De
chamamos polo sul. o M
facto, os códices apresentam Θo M
um desenho. Reproduzimos
213. Cf. Cael. ii 2, abaixo o desenho que,
285b14‑31. segundo Louis, aparece na
maioria dos manuscritos.
214. Aristóteles parece
Nele, os pontos Α, Γ, Β e
desconhecer, para os polos,
Δ indicam, respetivamente,
os qualificativos arktikos
o norte, o sul, o leste e
e antarktikos (ver também
o oeste, de modo que o
Cael. ii 2, 285b9‑10),
semicírculo da esquerda
que aparecem no tratado
representa o hemisfério
pseudoaristotélico Sobre o
norte e o da direita, o
mundo (Mu. 2, 392a1‑5).
121
meteorológicos
outros dois cones formam secções da terra 218. Essas 219 são as únicas que
é possível habitar e não as que estão para além dos solstícios 220 (pois aí a
sombra não se projetaria para o norte 221; e, de facto, os lugares tornam-se
já desabitados antes que a sombra os abandone 222 ou mude em direção
ao sul 223), nem as que estão abaixo do polo norte 224, desabitadas devido
10 ao frio. Desloca-se também a coroa nesse lugar, pois manifestamente se
forma sobre a nossa cabeça quando está no nosso meridiano 225.
Por isso, é até mesmo ridículo o modo como desenham os mapas da
terra 226 atualmente, pois desenham redonda a [terra] habitada 227. Mas isso
é impossível tanto segundo o que aparece 228 como segundo o raciocínio.
Com efeito, o que o raciocínio mostra [é] que [a região habitável] é, sim,
limitada em largura 229, mas [que] é possível reuni-la num círculo pelo
temperamento 230, pois o calor e o frio não excedem em comprimento 231,
218. As duas regiões em hemisfério sul ser habitado; Atenas (38° N): ver Dicks
questão, que apresentam a cf. Gémino, Introdução aos 1976, p. 209.
configuração de um tambor, fenómenos xvi 19. A sua
são as determinadas pelas tese é, antes, a de que não 226. Ou as «zonas da terra»:
bases dos cones, isto é, no se pode habitar regiões periodoi tes ges, quase como
desenho, os segmentos ΕΖ onde não haja sombra, isto no Livro I, capítulo 13
e ΗΘ, no semicírculo da é, onde o sol se encontre (350a16). Ver nota 321 ao
esquerda, e IK e ΛΜ, no sempre acima dos objetos; Livro I.
da direita. Bem entendido, essas regiões seriam
a Terra é esférica para demasiado quentes devido à 227. Cf. Heródoto iv 36.
Aristóteles; ver adiante constante presença do sol. Ver, supra, a nota 218 e,
no Livro II, capítulo 7 adiante, a nota 249, ambas
(365a31), assim como 222. Pelo menos no ao Livro II, bem como
Cael. ii 14, 297b30‑32. Por hemisfério norte, a zona a nota 326 ao Livro I.
conseguinte, não se deve habitável terminaria antes «Redonda» traduz kuklotere
absolutamente confundir a mesmo do trópico, isto é, (362b13), termo que em
posição de Aristóteles com um pouco mais ao norte do Cael. ii 13, 294a8, significa,
a daqueles que acreditam que o trópico de Câncer. porém, «esférica».
que a Terra tem, no seu
conjunto, a forma de um 223. Ou seja, ao sul do 228. Em grego, kata ta
tamborim, posição que ele trópico de Capricórnio. phainomena; ou seja,
justamente rejeita (Cael. ii segundo a observação.
13, 293b33‑294a1). 224. Ou da Ursa Maior.
229. Em grego, epi platos.
219. As duas figuras 225. O último período Isto é, por diferentes
delimitadas pelos pontos parece fora do contexto paralelos, segundo a
ΕΗΘΖ e ΙΛΜΚ. e alguns comentadores latitude.
consideram‑no uma
220. Isto é, os trópicos: interpolação, embora a 230. Em grego, dia ten
tropai. passagem seja comentada krasin. Isto é, com base no
por Alexandre de caráter temperado do clima.
221. Pode parecer que, Afrodísias (104, 11‑24). O autor parece entender
segundo Aristóteles, apenas De qualquer forma, não se que, em cada hemisfério,
é possível habitar as regiões compreende ao certo o que a zona temperada, isto é,
da terra onde a sombra dos seria essa coroa nem a que aquela que se situa entre o
objetos se projeta sempre lugar exatamente se refere o trópico e o círculo polar,
para o norte, mas essa texto. É possível que se trate pode dar a volta completa e,
impressão é devida ao facto da constelação chamada assim, juntar‑se a si mesma.
de que o interessa, aqui, «Coroa Boreal». Por volta
apenas o hemisfério norte; de 350 a. C., a declinação 231. Em grego, kata mekos.
ver abaixo (362b30‑33). Por de α da Coroa Boreal estava Isto é, com os diferentes
outras palavras, o texto não a + 36°6, de modo que meridianos, segundo a
exclui a possibilidade de o podia estar quase acima de longitude.
122
aristóteles
Uma vez que é necessário que um certo lugar esteja em relação ao outro
polo do mesmo modo como aquela que nós habitamos está em relação
ao [polo] acima de nós, é claro que a situação dos ventos e as demais
coisas terão um análogo: da mesma forma que cá existe um vento norte,
também chega até eles algum vento que é assim, vindo do polo norte
de lá 235, o qual não é absolutamente capaz de chegar até aqui, pois nem
este vento norte 236 [alcança] toda a [região] habitada daqui. Com efeito, 363a
região habitada ficar para o polo norte, sopram aqui muitos ventos norte.
123
meteorológicos
Todavia, mesmo aqui falham e não são capazes de avançar para longe,
dado que na região do mar do sul, para além da Líbia 239, tal como cá
sopram os ventos norte e os ventos sul, assim sopram lá sempre os euros
e os zéfiros 240, revezando-se continuamente.
É, pois, evidente que o [nosso] vento sul não é o vento que sopra
do outro polo 241. Nem esse nem o que sopra a partir do solstício de
10 inverno 242. (Com efeito, deveria haver um outro proveniente do solstício
de verão, pois assim se fornece o análogo, mas, de facto, não há: mani-
festamente, apenas sopra a partir daquelas paragens.) Por conseguinte,
é necessário que vento sul seja o vento que sopra da região tórrida.
E essa região, devido à proximidade do sol, não tem água nem pastos 243
que produzam ventos etésios 244, devido à solidificação 245. Mas, por ser
esse lugar muito maior e aberto, o vento sul é um vento maior, mais
frequente e mais quente do que o vento norte e chega mais até aqui do
que este até lá 246.
20 Dissemos, pois, qual é a causa desses ventos e como se relacionam
uns com os outros.
239. O termo designa todo 242. Isto é, do trópico de não dia ten texin, «devido
o norte de África, mas não Capricórnio. à liquefação», lição dos
se sabe como identificar manuscritos, mas muitos
esse mar: já se pensou no 243. Lendo, nas em rasura.
oceano Índico e no oceano linhas 363a14‑15, nomas,
Atlântico, mas na tradição segundo os manuscritos, 246. Isto é, até ao sul.
são a mesma coisa, o seguidos por Fobes. Mas
Oceano: ver as notas 272 e alguns intérpretes corrigem
347 ao Livro I. o texto para khionas,
«neves», que parece fazer
240. Respetivamente, ventos mais sentido: cf. acima neste
do leste e do oeste. capítulo (362a5 e 18‑19) e
no capítulo 6 (364a8).
241. A saber, o denominado
«vento sul» não provém do 244. Frios.
polo sul, mas do trópico de
245. Lendo, na linha 362a15,
Câncer.
com Fobes, dia ten pexin e
124
aristóteles
tos calha que sejam e, além disso, as outras propriedades de que não se
tenha chegado a falar nos problemas particulares 247.
Acerca da posição, é preciso, ao mesmo tempo, julgar os argumentos
com base no esquema 248. Desenhou-se, pois, para que se veja mais clara
mente, o círculo do horizonte; por isso também, [é] redondo 249. Mas é
preciso pensá-lo como uma das duas secções, a que é habitada por nós 250:
será possível dividir a outra da mesma forma 251. 30
125
meteorológicos
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127
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128
aristóteles
bom tempo. Com efeito, se forem mais frios do que intensos, solidificam
[as nuvens] antes de [as] empurrar para a frente. O cécias não traz bom
tempo, uma vez que se vira para si mesmo 278. Daí inclusive o provérbio
que diz: «atraindo para si, como o cécias, as nuvens» 279.
Quando eles 280 cessam, dão-se as rotações em direção aos [que lhes
são] contíguos, no sentido do afastamento do sol 281, pelo facto de se
mover mais o que está contíguo ao [seu] princípio. E o princípio dos
sopros move-se como o sol 282.
Os [ventos] contrários produzem ou o mesmo [efeito], ou o contrá-
rio: por exemplo, são húmidos o lips e o cécias, a que alguns chamam
«helespontias» 283, bem como o euro, a que [alguns chamam] «apeliote» 284;
e são secos o argetes e o euro — mas este é seco no início, enquanto [é] 20
277. O termo grego é horme. 24), que indica Aristóteles pela sua formação, a
Provavelmente no sentido como fonte. exalação seca segue os
de «lugar de origem»; movimentos do sol.
cf. acima, no Livro II, o 280. Isto é, os ventos.
capítulo 4 (361a35‑36). 283. Ou seja, helespontíaco,
281. «Rotações» traduz vento do Helesponto,
278. Em grego, anakamptei peristaseis (364b14). atualmente Dardanelos,
eis auton. Cf. Teofrasto, De facto, trata‑se de estreito situado na parte
De ventis 57 Coutant rotatividade: quando nordeste do mar Egeu, que
‑Eichenlaub. Outros um vento cessa, outro, liga este último ao mar de
tradutores entendem, antes, contíguo àquele na «rosa Mármara.
«curva [as nuvens] em ‑dos‑ventos», começa a
direção a si mesmo». soprar. Diferentemente, 284. Mas os dois foram
Teofrasto, De ventis 2 distinguidos acima
279. Ver Pr. xxvi 1, Coutant‑Eichenlaub. (364a16‑17).
940a18‑19 e 29, 934a33‑34.
Esse provérbio é citado (em 282. O princípio dos ventos
grego) também por Aulo é a exalação seca, mas,
Gélio (Noites Áticas ii 22, como o sol é responsável
129
meteorológicos
130
aristóteles
131
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300. Ou «causa». O termo 303. Ver Cael. ii 14, 305. DK 68 A 97; cf. A 98.
grego é aitia. 297b30‑32.
306. DK 13 A 21. A tese
301. Interpretando kai como aqui exposta é atribuída
epexegético. 304. Assim também em
Hipólito, A refutação a Anaximandro por
302. Ou seja, é ingénuo de todas as heresias i, 8, Amiano Marcelino xvii
não considerar alto e baixo 3, 1‑3 (= DK 59 A 42, 7, 12 (= DK 12 A 28),
como os lugares para os 3). Mas em Cael. ii 13, enquanto Séneca, Problemas
quais, em cada ponto da 294b13‑14 (= DK 59 A Naturais vi 10 (= DK 13 A
terra, se dirige naturalmente 89), Aristóteles afirma que, 21) atribui a Anaxímenes
o movimento dos corpos para Anaxágoras (bem uma tese diferente: os
leves e o dos corpos como para Anaxímenes e sismos seriam devidos ao
pesados, como sucede nos Demócrito), a estabilidade envelhecimento da Terra.
termos da doutrina de da Terra é devida à sua
Aristóteles. forma achatada.
132
aristóteles
em certos lugares, que, em relação aos outros, não diferem por nenhum
excesso desse tipo? E, no entanto, seria preciso. De forma geral, para os
que sustentam isto, [seria] necessário [ainda] afirmar que os abalos se dão
cada vez menos e que, no final, um dia, [a terra] há de deixar de abalar,
pois o que se enche tem tal natureza. Assim, se isso é impossível 307, é
claro que é também impossível que seja aquela a causa. 20
8 . o s s i s m o s ( c o n t i n ua ç ã o ) : a e x p l i c a ç ã o
133
meteorológicos
311. O termo grego é horme. (thateros), visto que o seu antiga atribui a Aristóteles
antecedente é anemous uma explicação desse
312. O verbo grego é (masculino acusativo plural), fenómeno pelo sol e
hormao. «ventos». Pode tratar‑se de pelo vento ([Plutarco],
um simples erro, mas o Opiniões dos filósofos iii 17,
313. Assim, no primeiro autor poderia ter na mente 897B). Todavia, as marés
caso, dá‑se o sismo e, no pneumata, «sopros», que é seriam invocadas, aqui, nos
segundo, o vento, que neutro. De qualquer forma, Meteorológicos, apenas como
normalmente flui acima da a lição de H e N (thateros) termo de comparação. De
superfície. é sem dúvida devida a uma qualquer forma, Aristóteles
correção de copista. não demonstra conhecer
314. A última frase, que está
a relação das marés com
no genitivo absoluto (kai 317. «Refluxo» traduz a lua, relação que aparece,
pneumatos ontos, 366a8‑9), ampotis e «fluxo», logo porém, em textos do corpus
subentende «sobre a terra»; em seguida, plemmuris
geralmente considerados
aqui, pneuma designa sem (366a19‑20). Esses termos inautênticos: ver Mu. 4,
dúvida o vento que sopra à designam usualmente
396a25‑27, e Mir. 55
superfície. o fluxo e o refluxo das (834b3‑4).
marés: ver, por exemplo,
315. Ver acima, no Livro II,
Heródoto ii 11, 2‑3; viii
o capítulo 6 (364a27‑32).
129, 2‑3. Aristóteles parece,
316. «Um dos dois»: em pois, ter conhecimento
366a10, a maior parte dos desse fenómeno; ver acima,
códices traz um neutro no Livro II, o capítulo 1
(thateron) quando se (354a7‑8) e a nota 23.
esperaria um masculino Ademais, a doxografia
134
aristóteles
mude [de sentido] para o interior, como o Euripo 318, [isso] faz o abalo
mais forte, devido à grande massa.
Ademais, os mais fortes dos abalos formam-se em lugares desse tipo,
nos quais o mar tem uma corrente forte ou nos quais a região é mais
porosa e cavernosa. Por isso, [tais abalos formam-se] no Helesponto 319, na
Acaia 320, na Sicília 321 e nesses lugares da Eubeia 322, pois [aí] o mar parece
enfiar-se debaixo da terra através de canais. Por isso também, devido à
mesma causa, formaram-se as [águas] quentes na zona de Edepso 323.
Nos lugares [acima] mencionados, os abalos formam-se princi- 30
135
meteorológicos
329. Cf. Hipócrates,
Morb. iii 12, 1.
136
aristóteles
e ru p ç õe s v u l c â n i c as
é uma das ilhas chamadas de Eolo 332. Aqui, com efeito, uma parte da terra
inchava e erguia-se, com estrondo, uma massa, como que parecida com um
monte. No fim, quando se rompeu, saiu muito sopro e [este] lançou para
o alto faúlhas e cinzas, cobriu de cinzas toda a cidade de Lipari, que não
fica longe 333, e atingiu algumas cidades de Itália. E ainda hoje está visível
[o lugar] onde essa erupção se deu 334. Justamente por isso, é preciso crer
que a causa do fogo que se dá na terra é esta: quando, ao ser golpeado, 10
137
meteorológicos
E o facto de, [mesmo] sem nuvens, o sol ficar fosco e mais indistin-
to e de, antes dos abalos matutinos, [haver], às vezes, uma ausência de
ventos e um frio mais forte, [também] é um indício da causa [acima]
referida. Quando o sopro que dissolve e decompõe o ar começa a descer
para debaixo da terra, necessariamente o sol fica fosco e indistinto e há
frio e ausência de ventos na madrugada e pela manhã. É necessário que,
no mais das vezes, ocorra uma ausência de vento [sobre a terra], como
já foi dito antes 340, porque se dá como que uma mudança de fluxo do
sopro para dentro [da terra] e mais antes dos grandes abalos. Quando
30 [o sopro] não se divide numa parte que vai para fora e noutra que vai
para dentro, mas se desloca todo junto, necessariamente é mais forte. E o
frio acontece pelo facto de a exalação, que em si mesma é por natureza
quente, virar para dentro [da terra]. Mas os ventos não parecem ser
quentes, devido a moverem o ar, o qual está cheio de muito vapor frio,
367b como o sopro emitido pela boca: este também é quente de perto — por
exemplo quando expiramos, embora, por ser pouco, não seja igualmente
evidente —, enquanto de longe é frio pela mesma causa que os ventos.
Quando, pois, uma tal substância 341 desaparece na terra, o fluxo vaporoso,
reunindo-se, devido à humidade 342, produz frio nos lugares em que esse
fenómeno ocorre.
A mesma [coisa] é causa também do sinal que costuma dar-se, às
vezes, antes dos abalos. Durante o dia ou pouco depois do pôr-do-sol,
10 se o céu está claro, vemos estender-se uma nuvenzinha fina e com-
prida, como que uma extensão de linha reta perfeita, uma vez que o
sopro se enfraquece devido à mudança de lugar 343. Algo semelhante
acontece também no mar, junto às praias: quando, inchando, se projeta,
as bordas 344 tornam-se extremamente espessas e tortuosas, enquanto,
quando há calmaria, pelo facto de a secreção ser produzida em pouca
138
aristóteles
quantidade 345, são finas e retilíneas. Aquilo mesmo, então, que o mar faz
com a terra, o sopro faz com o nevoeiro no ar, de modo que, quando
há ausência de vento, a nuvem torna-se completamente retilínea e fina,
como se fosse uma borda do ar.
s i s m o s e e c l i p s e s d e l ua
Por isso, acontece também que, aquando dos eclipses da lua, se forme, 20
139
meteorológicos
réplicas
140
aristóteles
ondas e não estas a causa dos ventos. Ora, [se fosse] assim, poder‑se-ia
atribuir a causa do fenómeno à terra também. Com efeito, quando sacu-
dida, [a terra] vira-se, como a água do mar: o transbordamento também
é uma espécie de virada. Mas estas 356 são, ambas, causas como matéria
(pois sofrem, mas não agem 357), enquanto o sopro [é causa] como prin-
cípio [do movimento].
onda
Onde se forma uma onda juntamente com um abalo 358, [a] causa são
os sopros, caso venham a ser contrários. E isso acontece caso o sopro que 368b
141
meteorológicos
também na Acaia 360. O vento sul estava fora e, lá, estava o vento norte:
quando se deu a ausência de vento, isto é, quando o vento sul fluiu para
dentro [da terra], geraram-se a onda e o abalo ao mesmo tempo, ainda
10 mais [fortes] porque o mar não dava passagem ao vento impulsionado
debaixo da terra, antes se lhe opunha. Coagido um pelo outro, o sopro
produziu o abalo, enquanto o acúmulo da onda, a enchente.
Os abalos da terra dão-se localmente, e muitas vezes num lugar
pequeno, mas os ventos não; localmente, quando as exalações do próprio
lugar e do [lugar] vizinho convergem numa única [direção], tal como
também dissemos 361 que se formam as secas e as chuvas abundantes
locais. Os abalos, sim, formam-se, pois, dessa maneira, mas os ventos
não. Com efeito, uns 362 têm o [seu] princípio dentro da terra, de modo
20 tal que todas [as exalações] se lançam 363 para um [ponto] só. Ora, o sol
não é igualmente capaz, mas [é-o] mais com aquelas [exalações] que
estão suspensas no alto 364, de modo que — caso já tenham recebido
[o seu] princípio do deslocamento do sol, consoante as diferenças dos
lugares — fluem para um [ponto] só 365.
a b a l o s h o r i z o n ta i s e a b a l o s v e r t i c a i s
142
aristóteles
também, [o sopro] sacode menos vezes dessa maneira: não 368 é fácil que
tanto princípio [motor] 369 se reúna assim, pois a secreção é muito maior
em comprimento do que a partir da profundidade. Mas onde se dá um
abalo desse tipo, vem à tona uma grande quantidade de pedras, como
quando se agitam nas peneiras. Com efeito, quando se deu um abalo dessa 30
9 . o t r o vã o e o r e l â m pa g o
racão e o raio .
373
143
meteorológicos
144
aristóteles
145
meteorológicos
391. DK 59 A 84, que inclui 394. Ver, supra, a nota 383 401. Em grego (369b27)
Aécio iii 3, 4, e Séneca, ao Livro II. há o advérbio apragmonos:
Problemas Naturais ii 12, 3, cf. a citação do Filoctetes
395. O que distingue a
e 19; cf. 59 A 1, 9 de Eurípides (frag. 787
posição de Empédocles e a
(= Diógenes Laércio ii 9) Nauck; 2 Jouan) em EN vi
de Anaxágoras seria apenas
e 59 A 42, 11 9, 1141b32‑1142a6.
a natureza do fogo.
(= Hipólito, Refutação de
todas as heresias i 8, 1, 11), 396. O termo grego é 402. Ou seja, como
bem como Aristófanes, emperilepsis. escreve Alexandre de
Nuvens 403‑407. Afrodísias (130, 8‑10),
397. Isto é, nas posições de «algo de distinto e separado,
392. Na linha 369b15, Empédocles e Anaxágoras. previamente disponível,
a nossa tradução segue que já é em ato algo de
os editores que inserem 398. Esta última é a posição determinado (tode ti) e que
uma vírgula depois de de Anaxágoras. está contido na nuvem».
pur, «fogo». Segundo
399. Cf., acima, o capítulo 7 403. Isto é, a água da chuva,
Aristóteles, «étér» e «fogo»
(365a19‑21). Tal é o a neve e o granizo.
designam a mesma coisa em
movimento natural do fogo,
Anaxágoras: ver, no Livro I,
para Aristóteles: ver acima,
o capítulo 3 (339b22‑23).
com a nota 297 ao Livro II.
393. A expressão «brilho 400. É a posição de
através» traduz dialampsis. Empédocles.
146
aristóteles
147
meteorológicos
melhante que acontece também quando alguém golpeia o mar com uma
vara: durante a noite, a água aparece brilhando. [Afirmam que,] assim, o
relâmpago é a aparência 415 do brilho quando o húmido é fustigado nas
nuvens. Mas estes ainda não estavam familiarizados com as doutrinas
sobre o reflexo 416, o qual parece ser justamente a causa do fenómeno 417.
Com efeito, a água parece brilhar quando é golpeada, porque a vista 418
é desviada dela 419 para algo de brilhante. Por isso, aliás, isso dá-se mais
20 durante a noite: durante o dia não aparece, pelo facto de a luz do dia,
sendo maior, esconder [o fenómeno].
Em suma, eis quanto é dito pelos outros sobre o trovão e o relâm-
pago: uns, que o relâmpago é um reflexo 420, outros 421, que o relâmpago
é um brilho de fogo através [das nuvens], enquanto o trovão é [a sua]
extinção, sendo que o fogo não se gera em cada um dos fenómenos, mas
está disponível de antemão. Já nós afirmamos que a mesma natureza é,
sobre a terra, vento, dentro da terra, abalo, e, nas nuvens, trovão. Todas
essas coisas são, quanto à essência 422, o mesmo: exalação seca, a qual,
quando flui de um certo modo, é vento, [quando flui] de outro modo,
30 produz os abalos e, mudando nas nuvens e sendo segregada, quando
estas se reúnem e se condensam em água, [produz] trovões, relâmpagos
e, além disso, todos os demais [fenómenos] que são da mesma natureza
que eles 423.
Falou-se tanto sobre o trovão como [sobre] o relâmpago 424.
415. Na linha 370a15, 420. Aristóteles refere‑se de. Por isso, pode hesitar‑se
a edição de Fobes, que à tese de Clidemo, mas quanto à sua colocação.
segue o manuscrito J, tem distorcendo‑a de algum De qualquer forma, isso
phantasin. O manuscrito modo, pois acabou de dizer mostra a continuidade
E traz phantasian, acusativo que este último ignorava o temática entre o Livro II e
do termo mais comum funcionamento do reflexo. o capítulo 1 do Livro III.
phantasia.
421. Empédocles e
416. «Doutrina» traduz Anaxágoras.
doxa e «reflexo» anaklasis
(370a17). 422. O termo grego é ousia
(370a28).
417. Cf. Sobre as sensações e
os sentidos 2, 438a9‑10. 423. Ver, no Livro III, o
capítulo 1.
418. O significado exato do
termo aqui empregue, opsis, 424. A última frase contém
é objeto de discussão. Ver as a partícula men, que a
notas 28 e 40 ao Livro III. liga à primeira frase do
capítulo 1 do Livro III,
419. Isto é, da água. que justamente contém a
partícula correspondente,
148
livro iii
1. os furacões e outros fenómenos
semelhantes
151
meteorológicos
redemoinhos
9. O termo grego é dine 12. Por ser impedido de «turbilhão»: ver abaixo
(370b22). sair da nuvem, de acordo (371a17).
com a comparação feita no
10. Ver, supra, a nota 4 ao parágrafo anterior. 15. Em grego, apeptos
Livro III. (371a3), literalmente «não
13. Ver, no Livro II, o cozido»; sobre esse conceito,
11. Pepe não traduz o tou capítulo 9 (369a17‑21), a ver o Livro IV. Um furacão
nephous, «da nuvem», da propósito da dispersão do seria imaturo na medida
linha 370b31, seguindo, calor no alto. em que não consegue sair
assim, a proposta de da nuvem, como se deixa
eliminação feita por 14. Se, ao contrário, entender abaixo (371a9‑10).
Thurot: ver o aparato de é colorido, chama‑se
Fobes.
152
aristóteles
153
meteorológicos
154
aristóteles
155
meteorológicos
todos esses [fenómenos] se dão pelas mesmas causas, uns para os outros 30.
Mas, primeiro, devemos estabelecer as propriedades e as circunstâncias 31
que rodeiam cada um deles.
Do halo, muitas vezes aparece um círculo inteiro e forma-se à volta
do sol, da lua e dos astros brilhantes, não menos à noite do que de dia,
à volta do meio-dia ou à tarde; menos frequentemente de madrugada e
ao pôr-do-sol.
Já do arco-íris jamais se forma um círculo, nem uma secção maior
do que um semicírculo. Quando o sol se põe ou se eleva, sendo mínimo
o círculo, máximo é o arco 32; mas, quando o sol está mais alto, sendo
30 maior o círculo, o arco é menor. Depois do equinócio de outono 33, nos
dias mais curtos, forma-se a qualquer hora do dia, enquanto nos dias de
verão não se forma à volta do meio-dia. E não se formam simultanea-
372a mente mais do que dois arco-íris 34. Destes, cada um é tricolor 35 e para
ambos as cores são as mesmas e iguais em número, mas mais ténues
no de fora e dispostas ao contrário, quanto à posição. Com efeito, o de
dentro tem a primeira circunferência, a maior, vermelha, enquanto o de
fora [tem vermelha] a mais pequena mais próxima daquela; e as outras
[cores dispõem-se de modo] análogo. Estas cores são praticamente as
únicas que os pintores não conseguem produzir. Com efeito, algumas
eles obtêm misturando, mas o vermelho, o verde e o roxo não se formam
156
aristóteles
Parélios e traços de luz formam-se sempre ao lado [do sol], mas não
acima [dele], nem para a terra 37, nem do lado oposto [do sol], nem,
é claro, de noite, mas sempre perto do sol e, ademais, quando este se
levanta ou se põe, embora a maior parte das vezes durante o pôr-do
‑sol; raramente, se é que alguma vez, quando o sol está no zénite, como
ocorreu uma vez no Bósforo: dois parélios que se levantaram [com o sol]
permaneceram durante o dia todo, até ao pôr-do-sol.
Estas são, pois, as circunstâncias que rodeiam cada um deles. E a
causa de todos eles é a mesma: estes [fenómenos] são todos reflexo, mas
diferem nos modos e nas coisas a partir das quais [o reflexo se produz],
bem como conforme aconteça que o reflexo se forme na direção do sol 20
36. Costuma notar‑se que, geração das cores, a saber, fora do lugar e invertem a
apesar de demonstrar justaposição, sobreposição e ordem deste parágrafo e do
familiaridade com a mistura, sendo esta última anterior.
mistura das cores por a que ele adota como causa
parte dos pintores, o principal. Todavia, a rigor, 39. Provavelmente não se
autor se confunde na segundo esse texto, todas as trata de observação pessoal
identificação das cores cores derivam da mistura do autor, pois, que ele seja
primárias. Mas ele pode do branco e do negro (4, ou não Aristóteles (que
querer dizer simplesmente 442a12 seg.). É verdade teria morrido entre os 60
que as principais cores e 70 anos: ver Mesquita
que os pintores não sabem
intermediárias seriam o 2005, p. 172), tal lembrança
reproduzir, por mistura
vermelho, o roxo, o verde e deveria remontar à sua
de cores artificiais, o
o azul, mas o amarelo é de infância, o que seria
brilho ou o tom de certas
algum modo assimilado ao estranho. Tratar‑se‑ia, assim,
cores naturais, como
branco, do mesmo modo de experiência coletiva e a
sugere Brécoulaki 2006, informação teria sido obtida
que o cinza ao preto.
pp. 447‑450, bem como a partir do testemunho de
Thillet. É costume também 37. Isto é, abaixo do sol. pessoas mais velhas.
remeter para Sens. 3‑4,
onde Aristóteles levanta 38. Alguns consideram que
três hipóteses sobre a as linhas 372a21‑29 estão
157
meteorológicos
40. Em grego, opsis (372a29). posterior, que justamente compõe, ele mesmo, um
Em Aristóteles, este aceitava a teoria da «vista tratado completo de óptica
termo designa sobretudo externa»: ver «Introdução», geométrica pode confiar
a vista, entendida como pp. 20‑26. nos tratados que tem à sua
capacidade de ver, mas disposição», mas sim que,
também pode designar 41. No corpus aristotélico apesar da existência de uma
outras coisas relacionadas, que possuímos, não parece certa divisão do trabalho
tais como a visão (o ato haver uma passagem que intelectual (até mesmo
de ver), a aparição (o facto realmente corresponda a no interior do Liceu), um
de ser visto), a própria esta referência. Tratar‑se‑ia, «filósofo» pode não confiar
coisa vista e até mesmo o então, de uma remissão cegamente nos estudos
olho; como o português a tratados de óptica de especializados de outrem e
«vista» também admite outros autores, anteriores ou questioná‑los, pelo menos
uma certa polissemia, contemporâneos? É possível; quando estes defendem
resolveu‑se manter esta de resto, temos notícias teses que extrapolam a
tradução. Alguns intérpretes sobre a existência de tais sua especialidade e que
observam que, aqui, se estudos. Por exemplo, em lhe parecem aberrantes.
trata precisamente do «raio Metaph. xii 8, 1073b1‑7, De qualquer forma, a
visual que sai do olho» ou Aristóteles delega aos explicação geométrica da
«vista externa». Neste caso, matemáticos a determinação forma do halo e do arco‑íris
haveria uma contradição do número exato de que será fornecida nos
clara com a teoria da «esferas celestes». Todavia, próximos capítulos e que
visão exposta em De an. se os estudos especializados justamente se baseia na
ii 7 (cf. iii 12, 435a4‑10) de óptica disponíveis teoria dos «raios visuais»
e principalmente em Sens. se baseavam na teoria constitui o único texto de
2 (437a10 seg.), onde da «vista externa», uma óptica geométrica anterior
Aristóteles critica duramente remissão sem mais a tais à Óptica e à Catóptrica
a teoria dos «raios visuais» estudos seria surpreendente, atribuídas a Euclides que
exposta por Platão no já que Aristóteles condena tenha chegado até nós.
Timeu (45b‑e), teoria que essa teoria noutros
Aristóteles parece atribuir trabalhos; ver, supra, as 42. Ver Sens. 6, 446a4‑16,
também a Empédocles, notas 28 e 40 ao Livro assim como [Aristóteles],
assim como ao matemático III. E se efetivamente Pr. i 51, 865b11‑14.
Hipócrates de Quios: Aristóteles não é o autor
ver acima, no Livro I, os da presente abordagem 43. Frase obscura.
capítulos 6 (342b35‑343a20) dos fenómenos devidos ao
reflexo da «vista externa», 44. Isto é, a figura.
e 8 (345b9‑12). Em nosso
entender, toda a parte os Meteorológicos ensinam,
central do Livro III (2‑6) é não, como pretende
inautêntica. O autor pode Merker 2002, p. 187, que
ser um membro do Liceu, «na época de Aristóteles,
contemporâneo e/ou pouco um filósofo que não
158
aristóteles
A cor dos [corpos] brilhantes ora aparece brilhante, ora, por se misturar
com a do espelho ou pela fraqueza da vista, produz aí uma aparição 45
de outra cor.
Mas, sobre isso, valha o que foi considerado por nós nos [estudos] 10
3. o halo
159
meteorológicos
51. Ver ii 4, 361a26‑29.
I L J
opsis (olho) helios (sol)
160
aristóteles
ΔE. Estas [são] então iguais, já que [estão] em triângulos iguais, e todas
num único plano, pois [estão] todas em [ângulos] retos em relação à
[linha] AEB e juntam-se num único ponto, E. Por conseguinte, a [linha]
que se desenha será um círculo, cujo centro é o [ponto] E. O [ponto] B
é o sol, o A, a vista 53 e a circunferência [que passa] por ΓZΔ, a nuvem
a partir da qual a vista se reflete em direção ao sol 54.
Devemos pensar os espelhos como um contínuo; todavia, devido à
pequenez, cada um é invisível, enquanto o [conjunto] de todos parece 20
O branco 56 [do halo], [isto é,] o sol — que aparece num círculo
contínuo, em cada um dos espelhos, e sem nenhuma divisão percetí-
vel 57 —, aparece mais junto à terra, pelo facto de haver menos ventos;
com efeito, quando há sopro, é manifesto que não há estabilidade. Ao
lado dele, escura, a circunferência contígua parece ser [ainda] mais escura
devido à brancura da outra.
Os halos formam-se mais vezes à volta da lua, porque o sol, sendo mais
quente, dissolve mais rapidamente as condensações do ar. E formam-se à
volta dos [outros] astros pelas mesmas causas, mas não [são] igualmente 30
4. o arco-íris
Foi dito antes que o arco-íris é um reflexo 59, mas digamos agora que
reflexo é e como e por que causa se forma cada uma das circunstâncias
que o rodeiam. A vista é, pois, manifestamente refletida a partir de todas
as coisas lisas e destas fazem parte tanto o ar como a água. E [isso] dá-se 373b
161
meteorológicos
como um fenómeno que certa vez acontecia a alguém que via fracamente
e sem acuidade 60: parecia-lhe sempre que, enquanto andava, um vul
to 61 — que olhava para ele de frente — o precedia. Isso sucedia[-lhe]
pelo facto de a vista se refletir em direção a ele. Com efeito, [a vista] era
tão fraca e tão completamente rarefeita, devido à doença, que mesmo o
ar circundante se tornava um espelho e ela não [o] conseguia rechaçar,
à semelhança do [que nos acontece quando olhamos para o que está]
10 longe e denso. Por isso mesmo, vemos os promontórios elevarem-se no
mar e [vemos] maior o tamanho de tudo quando sopram os ventos do
leste, como também através da névoa 62: por exemplo, o sol e os astros,
quando se erguem e se põem, [são] mais [visíveis] do que quando estão
no alto. [A vista] reflete-se principalmente a partir da água — e a partir
da água que começa a formar-se mais ainda do que no ar. Com efeito,
cada uma das partículas que, ao condensarem-se, formam a gota de água
é necessariamente mais espelho do que a névoa. E uma vez que é evidente
— e já foi dito antes 63 — que em tais espelhos aparece somente a cor,
20 enquanto a figura é invisível, é necessário que, quando a chuva começa a
formar-se e o ar [presente] nas nuvens já se condensa em gotas de água,
mas ainda não chove — e se do lado oposto está o sol ou outro [corpo]
suficientemente brilhante para que a nuvem se torne espelho e o reflexo
se forme do lado oposto em relação ao [corpo] brilhante —, se forme
uma aparição de cor, mas não de figura. Já que cada um dos espelhos é
pequeno e invisível, mas se vê a continuidade da extensão constituída por
todos eles, necessariamente aparece uma extensão contínua da mesma cor.
Com efeito, cada um dos espelhos devolve a mesma cor que o contínuo.
30 Por conseguinte, uma vez que é possível que isto aconteça, quando o
sol e a nuvem se encontrarem assim 64 e nós estivermos no meio deles,
haverá, devido ao reflexo, uma certa aparição. E é então e não em outras
[circunstâncias] que vemos formar-se o arco-íris.
60. Ou «que aos poucos pois aí não está em questão 62. Cf. [Aristóteles],
via sem acuidade». Alguns um problema de vista: ver Pr. xxvi 53, 948a33‑34.
intérpretes identificam esse Veloso 2002, pp. 104‑105.
63. Ver, no Livro III, o
indivíduo com o Antiferonte capítulo 2 (372a33‑372b6).
de Oreu de que fala 61. «Vulto» traduz eidolon
Mem. 1, 451a, 8‑12, mas (373b5). 64. Isto é, em frente um do
a identificação é gratuita, outro.
162
aristóteles
da água, isto é, de algo escuro e longe [do sol], enquanto, no outro, perto
[do sol] e a partir do ar, mais branco na sua natureza.
O que brilha através do escuro ou no escuro (não há diferença ne-
nhuma 65) aparece vermelho; pode ver-se o fogo, pelo menos de lenha
verde, porque tem chama vermelha, pelo facto de o fogo, que é brilhan-
te e branco, estar misturado com muito fumo. Também o sol aparece
vermelho devido à névoa e ao fumo 66. Por isso, o reflexo do arco-íris,
o primeiro 67, parece ter uma tal coloração (pois o reflexo forma-se
sempre de pequenas gotas), enquanto o do halo não. Sobre as outras 10
163
meteorológicos
164
aristóteles
cações daquelas são próprias destas 78. Mas agora falemos disto apenas
na medida do necessário.
É, pois, por esta causa que as coisas distantes aparecem mais escuras,
mais pequenas e mais lisas, bem como as coisas nos espelhos, e que as 20
nuvens [aparecem] mais escuras aos que olham para a água do que [aos
que olham] para as próprias nuvens. E isto é de todo evidente: devido
ao reflexo, são observadas com pouca vista 79. E não faz diferença que
mude aquilo que é visto ou a vista, pois de ambas as maneiras será o
mesmo 80. Para além disso, não devemos esquecer também o seguinte:
acontece que, quando a nuvem está perto do sol, não aparece, absolu-
tamente, colorida a quem olha, mas sim branca, enquanto, para quem
observa isso mesmo na água, tem alguma cor do arco-íris. Fica evidente
assim que a vista, quando se quebra [por causa do reflexo], devido à
[sua] fraqueza, faz aparecer o negro mais negro e o branco menos 30
branco, isto é, aproxima-o do negro. A vista mais forte muda, pois, uma
cor para o vermelho, enquanto a que vem depois 81, para o verde, e a
ainda mais fraca, para o roxo. Mas, além [dessas cores], não aparecem
mais; é no três que têm o seu limite, como também na maioria das ou-
tras coisas 82. E a mudança das outras [cores] é impercetível. Por isso, 375a
165
meteorológicos
166
aristóteles
como algo [que está] mais longe, e do mesmo modo o [que está] aqui.
O reflexo proveniente do [arco] exterior torna-se, pois, mais fraco pelo 375b
facto de o reflexo se produzir mais longe, de modo que, por incidir me-
nos [sobre o sol], faz as cores aparecerem mais indistintas. E em ordem
inversa, porque [a vista] incide mais sobre o sol desde a circunferência
menor, isto é, desde a [circunferência] interior. Estando 91 mais próxima
da vista, reflete-se desde a circunferência mais próxima do primeiro
arco-íris 92. Ora, a [circunferência] mais próxima, no arco-íris exterior, é
a circunferência mais pequena, de modo que esta terá a cor vermelha; e,
segundo [esse mesmo] princípio, a seguinte e a terceira.
O arco-íris exterior é B; o interior, o primeiro, é A. Quanto às co- 10
5. explicação geométrica
d a f o r m a - ta m a n h o d o a r c o - í r i s
91. O manuscrito E omite o 93. Os manuscritos trazem pelo manuscrito E (fol. 164 v),
particípio ousa. um desenho próximo mas não contém acréscimos
deste, que reproduz o do devidos às prováveis
92. Texto problemático. manuscrito J, fol. 125 v: interpolações presentes no
Como observa Groisard, texto a partir de 375b30.
os sujeitos estão B
indeterminados e não A
poderiam ser o mesmo, já M
A
que o que está mais perto
da vista, isto é, do olho, é
E T T E
a faixa inferior do segundo
H
Z Z
N
arco‑íris, enquanto o que é K O
refletido a partir desta é a 94. Os manuscritos trazem
própria «vista», entendida diagramas diferentes: ver
como «raio que sai do Louis, ad loc. O diagrama N
olho». abaixo inspira‑se no fornecido
167
meteorológicos
p r i m e i r o c a s o : n o l e va n ta r - s e d o a s t r o
168
aristóteles
Com efeito 108, uma vez que são dados os pontos K e H, tal como a 4
107. Aqui, o círculo A é
efetivamente «reduzido» ao
semicírculo que se encontra
acima da linha HK. Na
figura, o ponto N garante a
mesma proporção:
HN/NK = HM/MK.
169
meteorológicos
t e o r e m a d i t o d e a p o l ó n i o 1 0 9
d e m o n s t r a ç ã o ( pa r c i a l ) d o t e o r e m a
dito de apolónio
10 112 Seja, então, proposta [fora do desenho] uma certa linha ΔB e seja
cortada de modo que a [linha] Δ esteja para a [linha] B como MH está
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meteorológicos
172
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s e g u n d o c a s o : q ua n d o o a s t r o
e s tá a c i m a d o h o r i z o n t e
173
meteorológicos
174
aristóteles
6 . pa r é l i o s e t r a ç o s d e l u z
175
meteorológicos
176
aristóteles
r o c h a s e m e ta i s
177
meteorológicos
178
l i v r o i v 1
1. O Livro IV foi e é objeto Quanto a nós, aceitamos presente estudo: ver, no
de muitas controvérsias. a sua autenticidade e o Livro I, o capítulo 1, com a
Dada a sua discontinuidade seu papel de ponte entre a nota 20, e a «Introdução»,
com o resto do tratado, meteorologia e a biologia, pp. 9‑33.
inclusive com iii 6, discute mas não a sua inclusão na
‑se a sua autenticidade, a meteorologia, pelo menos
sua efetiva pertença aos não segundo o plano inicial,
Meteorológicos e a sua que justamente não parece
integração no corpus físico. conter uma referência ao
1 . c a u s a s at i va s e pa s s i va s : g e r a ç ã o
e c orrup ção
Uma vez que se distinguem quatro causas dos elementos, pelo em- 378b10
181
meteorológicos
11. A geração absoluta (ou molunsis, lição acolhida cozinhado, seriam formas
sem mais) é a geração por Fobes. O sentido de cocção. Mais adiante,
que diz respeito à própria exato dessa palavra não pepsis designa também a
substância e não apenas a está claro, mas ela aparece digestão dos alimentos no
uma das suas propriedades; numa passagem semelhante, corpo, na medida em que
ver, por exemplo, GC i 3‑4. GA iv 7, 776a7‑8, onde também este é considerado
«Corrupção» é a tradução se diz que se trata de um processo em que o
consagrada de phthora uma certa falta de cocção, calor provoca a alteração
(379a4), que designa apepsia; ver a nota abaixo. das coisas.
propriamente a destruição; Talvez se deva entender
o verbo correspondente será um tipo de cozimento 15. O termo grego é auansis
quase sempre traduzido por como o do guisado, ou (379a5), que designa, nas
«corromper‑se». «Potência» então de ebulição rápida ou plantas, o análogo da
é também uma tradução incompleta como a que se velhice nos animais: ver
consagrada, de dunamis, efetua para fazer um ovo Resp. 23 (17), 478b27‑28.
tradução que se impõe quente ou escalfado. Com E a velhice seria uma
quando o termo grego efeito, aqui tem início o doença natural, enquanto
tem o seu sentido técnico uso de uma série de termos a doença seria uma velhice
de modalidade do ser ou «culinários», que sugerem «adquirida»: ver GA v 4,
quando parece designar justamente uma espécie de 784b32‑34.
corpos ou características «cozinha natural».
corpóreas, como é o caso 16. O termo grego é telos
na presente passagem. 14. Em grego, apepsia (379a5).
No entanto, dunamis será (379a2). Isto é, uma
traduzido, às vezes, por falta de pepsis, «cocção», 17. Assim em Fobes, que,
«capacidade». termo muito abrangente em 379a5, adota a lição
que designaria todos do manuscrito J. Alguns
12. Isto é, a geração e a os processos em que tradutores preferem a lição
corrupção naturais. a alteração acontece da segunda mão de E, que
devido ao calor. Quer daria «todas estas coisas».
13. Em 379a2, a primeira processos naturais, como
mão do manuscrito E o amadurecimento de 18. Isto é, do húmido e do
tem molusis (com ómega), um fruto, quer processos seco.
«ebulição», corrigido por artificiais, como o
182
aristóteles
comum tanto a um frio próprio quanto a um calor alheio. Por isso, todas
as coisas que apodrecem tornam-se também mais secas e o termo [delas]
é a terra e o esterco. Com efeito, quando o calor próprio sai, evapora-se
com [ele] a humidade natural e já não há nada que possa absorver a
humidade: é o calor próprio que, ao puxar, traz [a humidade].
E no tempo frio [as coisas] apodrecem menos do que no tempo
quente; com efeito, no inverno, há pouco calor no ar circundante e na
água, de modo que não tem força, enquanto no verão [há] mais. E tão
‑pouco [apodrece] o que está congelado (pois [é] algo frio mais do que 30
causa também [faz] que o muito apodreça menos do que o pouco, pois
no mais há fogo próprio e frio demais para as potências do [meio] cir-
cundante [os] dominarem. Por isso, o mar apodrece rapidamente quando
está dividido em partes, mas não no seu conjunto; e o mesmo vale para
183
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184
aristóteles
185
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3 . a m a d u re c i m e n t o e c ru e z a , f e rv u r a
e cozedura, assadura e chamuscadura
amadurecimento
186
aristóteles
o calor ser pouco, ou por o delimitado ser muito. Por isso, também os
sumos das coisas cruas são rarefeitos e frios (antes que quentes), bem
como incomíveis e imbebíveis. Tal como «amadurecimento», também
«crueza» se diz em vários sentidos 47. Daí dizer-se [serem] crus tanto
a urina quanto as fezes e os catarros, pela mesma razão. Com efeito,
todas as coisas são chamadas [«cruas»] por não terem sido dominadas
por efeito do calor nem terem adquirido consistência. Indo mais longe,
também se diz que é crua a argila, cru o leite e [cruas] muitas outras
coisas, se, mesmo podendo mudar e adquirir consistência devido ao 10
calor, não padecerem [tais afeções]. Por isso, diz-se, sim, que a água está
fervida, mas não que está crua, já que não se torna densa. Dissemos,
pois, o que são amadurecimento e crueza, bem como por que motivo
[se dá] cada um deles.
f e rv u r a
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188
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cozedura
isto é, cozinhar por igual. Por isso, as coisas que sofrem cozedura são mais
duras do que as fervidas e as [partes] húmidas distinguem-se mais. Falá-
mos, pois, sobre a fervura e a cozedura, sobre o que são e porque se dão.
assadura
A assadura é uma cocção pelo calor seco e alheio. Por isso, mesmo
se alguém fizer mudar, isto é, cozinhar fervendo, não pelo calor de um
líquido, mas pelo do fogo, diz-se, no final, que [a coisa] ficou assada e
não [que ficou] fervida; e, em caso de excesso, diz-se que ficou queimada.
[Isto] dá-se por efeito do calor seco, quando [a coisa] acaba por ficar
mais seca. Por isso, também as [partes] de fora [ficam] mais secas do
que as de dentro, enquanto, [no caso d]as coisas fervidas, é o contrário. 30
189
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chamuscadura
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5. solidificação e secagem
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93. O termo grego é poiein 96. Ver acima, no Livro IV, 101. Em grego,
(382a31). o capítulo 1. antiperiistanai (382b10). Ver
a nota 276 ao Livro I.
94. Assim em Fobes, em 97. Ver o capítulo 4
382a31, segundo J e outros (382a3‑4). 102. Isto é, «adventícia»,
manuscritos. O manuscrito «vinda do exterior».
E tem, em seguida, to 98. Ver o capítulo 1 O termo grego é epakton
paskhon, «o paciente», (379a19‑22). (382b11).
mas Groisard observa que,
aqui, agente e paciente 99. Ou «por concomitante». 103. Isto é, uma peça de
coincidem, já que se trata Em grego, kata sumbebekos roupa molhada de água
da solidificação pela ação (382b7). quente.
do calor natural do corpo
100. Ver o Livro I, capítulos 104. Ou seja, se o
que, assim, adquire uma
10 (347b4‑7) e 12 (348b6‑8; húmido não faz parte da
delimitação.
15‑16; 349a7‑9). constituição natural do
95. «Propriedade» traduz corpo em questão.
pathema (382a32).
193
meteorológicos
6 . s o l i d i f i c aç ão e l i q u e faç ão
194
aristóteles
solidifica quando o húmido sai, como a argila que está a ser assada.
Contudo, densificam-se também todos os [corpos] mistos 108 [que são]
húmidos, como o leite. E muitos — todos os que ficaram previamente
densos ou duros por efeito do frio — também se liquefazem primeiro,
como a argila, que, ao começar a ser assada, exala vapor e se torna mais
mole; por isso, também se deforma no forno.
De entre os [corpos que são] mistos de terra e água, mas que contêm
mais terra [e] que se solidificam com o frio, alguns — os que fundem
com o calor quando este volta a entrar neles outra vez — solidificam-se
pelo facto de o calor se escapar, como a lama quando gela, enquanto
os [que se solidificam] por arrefecimento são insolúveis quando todo o 30
húmido 109
se evapora — a não ser por efeito de um calor excessivo —,
mas amolecem, como o ferro e o corno. Também se funde o ferro traba-
lhado, ao ponto de se tornar líquido e se solidificar de novo. E é assim
que produzem os metais temperados 110: a escória deposita-se no fundo e
é eliminada 111 em baixo. Quando [o metal] sofre [este processo] muitas 383b
107. O termo que traduz 109. Em 383a30, segundo a 110. A expressão «metais
«mistos» é koina (383a13), correção feita pela primeira temperados» traduz ta
mais literalmente «comuns», mão de E e não segundo stomomata (383a33‑34).
mas, neste caso, com o o texto anterior a essa
sentido de compostos de correção, «quente», que 111. Em grego,
ambos ou, justamente, é também a lição de J, apokathairetai (383a34),
mistos. seguida por Fobes e Louis. com o sentido frequente
Cf. Livro IV, capítulos 1 de «purificação» ou
108. Compostos de água e (379a23‑24) e 5 (382b20‑21; «refinação». Cf. a ocorrência
terra. 24‑25). de «puro» (katharos) logo a
seguir (383b1).
195
meteorológicos
vezes e fica puro, este torna-se temperado. Não o fazem muitas vezes
por a perda ser grande e o peso ser inferior ao [do] que é eliminado.
E é melhor o ferro que implica menos eliminação.
Funde-se também a pedra resistente ao fogo, ao ponto de gotejar
e fluir. Quando flui, o que se solidifica torna-se duro outra vez. E as
mós 112 também se fundem até fluir. E o que flui, ao solidificar-se, [tem]
uma cor escura, mas torna-se semelhante à cal 113. Também se solidifica
a lama e a terra 114.
10 De entre os [corpos] que se solidificam com quente seco, uns são
insolúveis e outros solúveis com líquido. A argila 115 e alguns géneros de
pedras[, isto é,] todas as que se formam quando a terra é queimada pelo
fogo, como as mós 116, são, pois, solúveis. Porém, a soda e os sais são
solúveis com líquido, não com todo [o líquido], mas sim com [líquido]
frio. Por isso, fundem-se com água e com todas as formas de água 117,
mas não se fundem com azeite 118. Com efeito, o frio húmido é contrário
ao quente seco. Se um consolida, o outro dissolve, pois os contrários são
causas dos contrários119.
7. a solidificação e a dissolução
196
aristóteles
[feito] de ar. Porém, a [sua] água não seca nem ferve por efeito do fogo,
porque não se evapora, devido à viscosidade 126.
Convém falar de todos os [corpos] mistos de água e de terra de acordo
com a quantidade de cada uma das duas. Com efeito, uma espécie de
vinho solidifica-se e também ferve, como o mosto 127. E a água escapa-se
de todos os [corpos] desse tipo quando secam. Um sinal de que é a água:
o vapor condensa-se em água, se se quiser recolher 128. Por conseguinte,
em todos os [casos] em que resta algo, isso [que resta] é de terra. Alguns
desses [corpos] também se densificam e secam, como se disse 129, por
efeito do frio. É que o frio não apenas solidifica como também seca a 10
197
meteorológicos
198
aristóteles
pelo frio. Com efeito, acontece que, quando o quente, escapando-se, fez
evaporar a maior parte do húmido, estes ficam outra vez comprimidos
pelo frio, ao ponto de não darem passagem ao húmido. Por causa disso,
nem o quente dissolve [esses corpos], pois [o quente] dissolve os que se
solidificam apenas pelo frio, nem [são dissolvidos] pela água, pois [esta]
não dissolve os que são solidificados pelo frio, mas apenas os que [são
solidificados] pelo quente seco. O ferro, fundido pelo calor, solidifica-se
ao ser arrefecido. As madeiras são de terra e de ar: por isso, são com-
bustíveis e não fusíveis nem amolecíveis; e flutuam sobre a água, exceto
o ébano — este não, pois as outras têm mais ar, mas o ar dissipou-se
do ébano, que é negro 136, e nele há mais terra. Já a argila 137 [é] só de 20
terra, pelo facto de, ao secar, se solidificar aos poucos. Com efeito, nem
a água tem entrada [nas passagens] pelas quais escapou apenas sopro 138,
nem o fogo, pois foi ele mesmo que [a] solidificou.
Dissemos, pois, o que são a solidificação e a fundição, bem como por
que [causas] e em que [corpos] se dão.
8 . q ua l i da d e s d o s c o r p o s
A partir disto, fica claro que os corpos são constituídos pelo quente e
pelo frio e que estes fazem o seu trabalho sobre aqueles densificando[-os]
e solidificando[-os]. E pelo facto de os [corpos] serem forjados 139 por
estes, em todos há calor e nalguns também frio, na medida em que falta
199
meteorológicos
[calor]. Por conseguinte, uma vez que estes 140 estão presentes pelo facto
de agirem — enquanto o húmido e o seco pelo facto de padecerem —,
os [corpos] mistos 141 participam deles todos 142.
30 Os corpos homeómeros 143 — quer nas plantas, quer nos animais, quer
ainda nos minerais 144, tais como ouro, prata e todos os demais desse
tipo — são, pois, constituídos, de água e terra, tanto por elas mesmas 145
como pela exalação que está encerrada numa das duas, como se disse
385a noutro sítio 146. Mas estes [corpos] diferem todos uns dos outros, tanto
pelas [afeções] próprias em relação às sensações, por serem capazes de
produzir algo 147 ([um corpo] é branco, odorante, sonoro, doce, quente e
frio, por ser capaz de produzir algo quanto à sensação), como também
por outras afeções mais intrínsecas que contam [como afeções] pelo facto
de [os corpos as] padecerem, entendo, por exemplo, o [ser] fundível,
solidificável, flexível e todas as outras [afeções] desse tipo; pois todas elas
[são] passivas, exatamente como o húmido e o seco. E por elas já diferem
10 osso, carne, tendão, madeira, cortiça, pedra e cada um dos demais corpos
naturais homeómeros.
200
aristóteles
s o l i d i f i c áv e l e f u n d í v e l
201
meteorológicos
9 . q ua l i da d e s d o s c o r p o s
( c o n t i n uaç ão )
amolecível
202
aristóteles
e [que] não exalaram todo o húmido (como na soda e nos sais), nem
têm [água e terra] de modo irregular (como a argila), senão que são ou 10
a m a c i áv e l
203
meteorológicos
flexível
q u e b r áv e l e f r a g m e n táv e l
160. Isto é, cerâmica. não, como Fobes e Louis, 166. Isto é, até onde ficam
taûta, «esses». os poros.
161. Ou «dobrados».
164. Ou «despedaçáveis».
162. Assim no original.
163. Em 386a6, com 165. Em grego, parallattontas
Groisard, lemos tautá, e porous (386a15). Cf., acima,
385b25.
204
aristóteles
e s m a g áv e l e m o l d áv e l
compressível
205
meteorológicos
e s t i c áv e l
206
aristóteles
m a l e áv e l
fendível
fendíveis todos os [corpos] que não podem sofrer isso. Algo mole não
é fendível — falo dos [corpos] moles em absoluto e não [dos que o
são] em relação a outras coisas, pois senão até o ferro será mole 186. Mas
nem todos os [corpos] duros [são fendíveis], mas sim [apenas] aqueles 387a
207
meteorológicos
c o r táv e l
viscoso
208
aristóteles
p r e n s áv e l
combustível e exalante
do que o fogo nos poros [dispostos] em linha reta. Todos os que 192
não
têm [poros desse tipo] ou [que têm uma humidade] mais forte, como o
gelo e as plantas muito verdes, [são] incombustíveis.
De entre os corpos, são exalantes 193 todos aqueles que têm humida-
de, mas de tal forma que esta não se evapora separadamente do que é
queimado pelo fogo. Com efeito, o vapor é a excreção 194 capaz de molhar
proveniente de um líquido [transformado] em ar e sopro por efeito de um
calor capaz de queimar. Com o tempo, os [corpos] exalantes [também]
excretam ar e uns desvanecem ao secarem, outros tornam-se terra. Mas
essa excreção é diferente [do vapor], porque não molha, nem se torna
sopro. O sopro é um fluxo contínuo do ar em comprimento. Já a exalação 30
209
meteorológicos
210
aristóteles
[corpos] exalantes, todos os que não são fundíveis por serem mais de
terra. (Com efeito, têm o seco junto com o fogo: quando, então, esse 388a
seco se torna quente, forma-se fogo; por isso, a chama é sopro ou fumo
queimado 205). A exalação da madeira é, pois, fumo, enquanto a da cera,
do incenso e dos [corpos] desse tipo, do pez e de todos os que contêm
pez ou coisas desse tipo é fuligem. A do azeite e de todos os [corpos]
oleosos [é] fumo denso, assim como a daqueles que sozinhos queimam
pouquíssimo — porque têm pouco de seco e a mudança [sucede] devido
a isso 206 —, mas [queimam] rapidamente quando com outra coisa — pois
é isso a gordura: seco oleoso. De entre os [corpos] húmidos, os que
exalam 207 [são] mais de húmido, como o azeite e o pez, enquanto os
que se queimam [são mais] de seco.
como foi dito , diferem uns dos outros quanto ao tato e ainda por
208
211
meteorológicos
ossos, tendão, pele, vísceras, cabelos, fibras, veias — a partir dos quais
[são], por sua vez, constituídos os não homeómeros, como rosto, mão,
pé e os demais desse tipo —, bem como, nas plantas, madeira, cortiça,
20 folha, raiz e todos os desse tipo 209. Uma vez que aqueles 210 se constituem
por uma outra causa 211, mas os [corpos] a partir dos quais eles [são
constituídos] 212 [são], por um lado, matéria, o seco e húmido (logo, água
e terra, pois estes têm, cada um, uma dessas duas potências de maneira
evidentíssima), por outro, os agentes, o quente e frio (pois estes constituem
e solidificam [os corpos] a partir daqueles 213), estabeleçamos, de entre
os homeómeros, quais são [as] formas [constituídas] de terra, quais [as]
de água e quais [são] mistos.
De entre os corpos forjados 214, uns são húmidos, outros moles, outros
ainda duros. Destes — foi dito antes 215 —, todos os que são duros ou
moles [são-no] por solidificação.
30 De entre os húmidos 216, os que se evaporam [são] de água, enquanto
os que não [se evaporam] ou [são] de terra, ou [são] mistos de terra e
de água, como o leite, ou de terra e de ar, como a madeira 217, ou de água
e de ar, como o azeite 218. E todos aqueles que se densificam por efeito
do quente são mistos. (Poder-se-ia levantar uma dificuldade, de entre
388b os húmidos, acerca do vinho, pois este tanto pode evaporar-se como se
212
aristóteles
213
meteorológicos
214
aristóteles
contém fibras [é] mais de terra (por isso, solidifica-se por arrefecimento
e funde-se com água), enquanto os que não contêm fibras [são] mais de
água (por isso tão-pouco se solidificam) 243. Já o esperma solidifica-se por
arrefecimento 244, pelo facto de o húmido sair com o quente.
240. Ou «soro do sangue». sangue e a coagulação, ver faz uma distinção entre
Em grego, ikhor (389a10). HA iii 6. gone e sperma: o primeiro
termo designaria o líquido
241. Ver acima, no Livro IV, 244. «Esperma» traduz gone seminal, enquanto o
o capítulo 10 (388b19) e a (389a19). Esta passagem segundo, a união inicial
nota 229. parece em contradição com que contém os princípios
o Geração dos Animais, provenientes dos dois sexos:
242. Com Thillet, onde se diz que, ao sair ver GA i 18, 724b12‑19.
entendemos a segunda do animal, o esperma, Todavia, na passagem
conjunção kai da sperma, é espesso e branco, anterior sperma parece
linha 389a14 como mas que, ao arrefecer, designar o líquido seminal.
explicativa, apesar do se torna líquido como
singular que se segue. água e da cor da água 245. Ou «fluidos». Ver,
(GA ii 2, 735a30‑32; acima, no capítulo 11,
243. Sobre a presença e cf., porém, 735b35). É 389a2‑7.
a ausência de fibras no verdade que Aristóteles
215
meteorológicos
Os que são de água [são], então, no mais das vezes, frios, caso não
contenham calor alheio 246, como a lixívia, a urina e o vinho, enquanto
os que são de terra [são], no mais das vezes, quentes, por terem sido
forjados 247 com o quente, como a cal e a cinza. Mas é preciso entender
30 que a matéria é um certo frio 248. Com efeito, uma vez que o seco e o
húmido [são] matéria (pois estes são passivos 249) e os corpos de que estes
são maximamente [inerentes] são terra e água (pois estas são definidas
pel[o] frio), é claro que todos os corpos que são, sem mais, de cada
389b um destes dois elementos são, antes 250, frios, caso não contenham calor
alheio, como a água em ebulição ou a que é filtrada através de cinza; pois
então ela recebe o calor da cinza. Com efeito, em todos os [corpos] que
sofreram a ação do fogo há, mais ou menos, calor 251. Por isso geram-se
animais mesmo nos [corpos] podres 252, pois neles está presente um calor
que destrói o calor próprio 253 de cada um.
Os [corpos] que [são] mistos [de terra e água] 254 contêm calor, pois,
na sua maior parte, foram constituídos por um calor que [os] cozinhou.
E alguns são apodrecimentos, como os resíduos de dissolução 255. Assim,
10 enquanto mantiverem a [sua] natureza 256, o sangue, o esperma, a medula,
216
aristóteles
o soro e todos os [corpos] desse tipo [são] quentes, mas não [o são] mais
quando se corrompem e afastam da [sua] natureza. Com efeito, [nesse
caso,] resta [apenas] a matéria, que é terra ou 257 água. Por isso, [aqueles
corpos] parecem [ser] ambas as coisas às pessoas: uns afirmam que eles
são frios, outros, quentes, por verem que, quando estão na [sua] natureza,
[são] quentes, mas que, quando se separam, ficam solidificadas 258. As coisas
são, pois, deste modo. Entretanto, como foi distinguido 259, os [corpos]
em que a matéria [é] de água [são], na maior parte, frios 260 (pois esta
opõe-se maximamente ao fogo), enquanto aqueles em que [a matéria é, na
maior parte,] de terra ou de ar, [são] mais quentes. Acontece, porém, que,
às vezes, os mesmos [corpos] se tornam muito frios ou muito quentes,
devido a um calor alheio. Com efeito, os que mais ficam solidificados, 20
isto é, [os que] são rigidíssimos, tanto ficam maximamente frios, quando
privados de calor, como maximamente queimam, se sofrem a ação do
fogo: por exemplo, a água queima mais do que o fumo e a pedra mais
do que a água.
1 2 . m at é r i a e d e f i n i ç ã o d o s c o r p o s
n at u r a i s ( s i m p l e s , h o m e ó m e r o s
e não homeómeros)
217
meteorológicos
218
aristóteles
cumprir a sua função são, cada um, verdadeiramente [o que são]: por
exemplo, o olho, se vê 276; e o que não é capaz [de ver é olho apenas]
por homonímia, como o [olho] morto ou o de pedra. Tão-pouco a serra
de madeira [é serra] 277, senão como simulacro 278. Assim, então, também
a carne 279, mas a sua função é menos evidente do que a da língua.
219
meteorológicos
220
aristóteles
rumo ao e st u d o d o s se re s v i vo s
Uma vez que sabemos, pois, de que género [é] cada um dos homeó
meros, é preciso compreender, em cada [caso], o que [ele] é: o que é
sangue 288, carne, esperma e cada um dos outros. Com efeito, sabemos,
para cada [caso], porque [é] e o que é do seguinte modo: se soubermos
ou a matéria ou a fórmula [definicional] 289 — mas principalmente quando
221
meteorológicos
222
glossários
gl ossário grego-p ortuguês
Aêr: ar.
Aithêr: éter.
Akampton: inflexível.
Akatakton: inquebrável.
Akauston: incombustível.
Amalakton: não-amolecível.
Anêlaton: imaleável.
Anelkton: inesticável.
Anemos: vento.
Apêkton: não-solidificável.
Apepsia: incocção.
Apieston: incompressível.
Apilêton: não-prensável.
Aplaston: não-moldável.
Arkhê: princípio.
Arktos: norte.
Askhiston: não-fendível.
Astêr: estrela.
Asteres diatheontes: estrelas cadentes.
Astrapê: relâmpago.
Ategkton: não-amaciável.
Atêkton: não-fundível.
Athlaston: não-esmagável.
Athrauston: não-fragmentável.
Athumiaton: não-exalante.
Atmêton: não-cortável.
Atmis: vapor.
Brontê: trovão.
Dinê: redemoinho.
Drosos: orvalho.
Dunamis: poder; potência; capacidade; (raramente) substância.
Dusmê: oeste (ver também hespera).
Ear: primavera.
225
glossário grego-português
Eidolon: imagem.
Eidos: forma.
Ekleipsis: eclipse.
Eknephias: furacão.
Elaton: maleável.
Gala: via láctea.
Gê: terra.
Gignesthai: formar-se; gerar-se.
Gliskhron: viscoso.
Halôs: halo.
Helkton: esticável.
Hepsêsis: fervura.
Hespera: oeste (ver também dusmê).
Hudôr: água; chuva.
Huetos: chuva.
Hugrainesthai: liquefação; liquefazer-se.
Hugros: húmido.
Hulê: matéria.
Iris: arco-íris.
Kampton: flexível.
Katakton: quebrável.
Kauston: combustível.
Keraunos: raio.
Khalaza: granizo.
Khiôn: neve.
Komê: cauda (do cometa).
Komêtês (aster): cometa; (literalmente) astro cabeludo.
Kuma: onda.
Malakos: mole.
Malakton: amolecível.
Metalleuton: metal.
Methodos: investigação.
Metopôron: outono.
Mimeisthai: imitar.
Molunsis: cozedura.
Nephos: nuvem.
226
aristóteles
Notos: sul.
Ômotês: crueza.
Opsis: vista.
Optêsis: assadura.
Orukton: minério.
Pakhnê: geada.
Parêlios: parélio.
Pathos: fenómeno; propriedade; afeção.
Pêgnusthai: solidificação; solidificar-se.
Pêkton: solidificável.
Pepansis: amadurecimento.
Pepsis: cocção.
Pêxis: solidificação.
Pieston: compressível.
Pilêton: prensável.
Planês, planêtes asteres: planeta.
Plaston: moldável.
Pneuma: sopro; vento.
Poiein: produzir; agir.
Potamos: rio.
Prêstêr: turbilhão; furacão.
Psathuron: friável.
Psukhros: frio.
Pur: fogo.
Rhabdos: traço de luz.
Seismos; abalo de terra, sismo.
Skhiston: fendível.
Sklêros: duro.
Stateusis: chamuscadura.
Tegkton: amaciável.
Têkton: fundível.
Têxis: fusão; liquefação.
Thalassa: mar.
Thermos: quente.
Thlaston: esmagável.
Thrauston: fragmentável.
227
glossário grego-português
Thumiaton: exalante.
Tmêton: cortável.
Tuphôs: tufão.
Xêrainesthai: secagem; secar.
Xêron: seco.
228
gl ossário p ortuguês-grego
229
glossário português-grego
Fogo: pur.
Forma: eidos.
Formar-se: gignesthai.
Fragmentável: thrauston.
Friável: psathuron.
Frio: psukhros.
Fundível: têkton.
Furacão: eknephias; prêstêr.
Fusão: têxis.
Geada: pakhnê.
Gerar-se: gignesthai.
Granizo: khalaza.
Halo: halôs.
Húmido: hugros.
Imagem: eidolon.
Imaleável: anêlaton.
Imitar: mimeisthai.
Incocção: apepsia.
Incombustível: akauston.
Incompressível: apieston.
Inesticável: anelkton.
Inflexível: akampton.
Inquebrável: akatakton.
Investigação: methodos.
Liquefação: têxis; hugrainesthai.
Maleável: elaton.
Mar: thalassa.
Matéria: hulê.
Metal: metalleuton.
Minério: orukton.
Moldável: plaston.
Mole: malakos.
Não-amaciável: ategkton.
Não-amolecível: amalakton.
Não-cortável: atmêton.
Não-esmagável: athlaston.
230
aristóteles
Não-exalante: athumiaton.
Não-fendível: askhiston.
Não-fragmentável: athrauston.
Não-fundível: atêkton.
Não-moldável: aplaston.
Não-prensável: apilêton.
Não-solidificável: apêkton.
Neve: khiôn.
Norte: arktos.
Nuvem: nephos.
Oeste: dusmê; hespera.
Onda: kuma.
Orvalho: drosos.
Outono: metopôron.
Parélio: parêlios.
Planeta: planês, planêtes asteres.
Poder: dunamis.
Potência: dunamis.
Prensável: pilêton.
Primavera: ear.
Princípio: arkhê.
Produzir: poiein.
Propriedade: pathos.
Quebrável: katakton.
Quente: thermos.
Raio: keraunos.
Redemoinho: dinê.
Relâmpago: astrapê.
Resíduo: perittoma.
Rio: potamos.
Secagem: xêrainesthai.
Seco: xêron.
Sismo: seismos.
Solidificação: pêxis; pêgnusthai.
Solidificável: pêkton.
Sopro: pneuma.
231
glossário português-grego
Sul: notos.
Terra: gê.
Traço de luz: rhabdos.
Trovão: brontê.
Tufão: tuphôs.
Turbilhão: prêstêr.
Vapor: atmis.
Vento: anemos; pneuma.
Via láctea: gala.
Viscoso: gliskhron.
Vista: opsis.
232
b i b l i o g r a f i a 1
i . e d i ç õ e s e t r a d u ç õ e s ( c o m p l e ta s
e pa r c i a i s ) d o s m e t e o r o l ó g i c o s
de aristóteles
editio princeps
o u t r a s e d i ç õ e s r e n a s c e n t i s ta s
e s e i s c e n t i s ta s
1. O asterisco que precede esse sinal. Em certos casos, Viano 2002 e 2006, bem
alguns itens indica que não lemos somente uma parte como em Thillet 2008,
tivemos acesso, de modo do texto; noutros casos, de que, aliás, tirámos
algum, ao texto em questão: apenas tivemos o texto muitas informações. No que
noutros termos, em mãos, ou ainda apenas concerne ao comentarismo,
* = non vidimus. Contudo, vimos a sua reprodução mencionamos apenas a
isso não significa que lemos, digital. O leitor pode edição mais recente de que
na íntegra, todos os itens encontrar a indicação de temos conhecimento.
que não são precedidos por outros trabalhos ainda em
233
bibliografia
traduções modernas
alemão
e s pa n h o l
francês
inglês
234
aristóteles
i ta l i a n o
inglês
i ta l i a n o
i i . c o m e n ta r i s m o g r e g o a n t i g o s o b r e
os meteorológicos de aristóteles
t r a d u ç ã o l at i n a m e d i e va l
235
bibliografia
t r a d u ç õ e s m o d e r n a s ( pa r c i a i s )
francês
inglês
i i i . t r a d u ç õ e s m e d i e va i s
dos meteorológicos de aristóteles
t r a d u ç õ e s s e m í t i c a s e s e m í t i c o - l at i n a
árabe
hebraico
236
aristóteles
l at i m
t r a d u ç ã o g r e c o - l at i n a
t r a d u ç õ e s e m l í n g ua v u l g a r
f r a n c ê s m e d i e va l
florentino
i v. c o m e n ta r i s m o m e d i e va l s o b r e
os meteorológicos de aristóteles
c o m e n ta r i s m o b i z a n t i n o
t r a d u ç ã o l at i n a
237
bibliografia
c o m e n ta r i s m o á r a b e
i b n S u wa r e Av e m pa c e
av e r r ó i s
c o m e n tá r i o m é d i o
pa r á f r a s e
pseudo-olimpiodoro
c o m e n ta r i s m o l at i n o
alfredo de sareshel
238
aristóteles
t o m á s d e a q u i n o e p e d r o d e a lv e r n h a
v. c o m e n ta r i s m o r e n a s c e n t i s ta
e s e i s c e n t i s ta
v i . l i t e r at u r a s e c u n d á r i a e o u t r a s
referências bibliográficas
239
bibliografia
240
aristóteles
241
bibliografia
Graux, Ch. e Martin, A., «Figures tirées d’un manuscrit des Météo-
rologiques d’Aristote», Revue de philologie 24 (1900), pp. 15-18 + 3 tábuas,
entre as pp. 88 e 89.
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242
aristóteles
243
bibliografia
244
aristóteles
245
índice
introdução 9
meteorológicos 35
livro i 37
1. introdução 39
2. alguns pressupostos da investigação 41
3. os quatro elementos 42
4. fenómenos atmosféricos luminosos 49
5. fenómenos luminosos noturnos no céu 52
6. os cometas (exposição e crítica da opinião dos predecessores) 54
7. os cometas (explicação de aristóteles) 58
8. a via láctea 62
9. fenómenos que ocorrem na região comum do ar e da água 67
os ventos 76
os rios 77
demonstração cartográfica 79
conclusão sobre os rios 82
247
índice
livro ii 91
1. os mares 93
4. os ventos 113
5. os ventos (continuação) 118
redemoinhos 152
tufões, turbilhões e raios 152
248
aristóteles
livro iv 179
amadurecimento 186
crueza 186
fervura 187
cozedura 189
assadura 189
chamuscadura 190
amolecível 202
amaciável 203
flexível 204
quebrável e fragmentável 204
249
índice
glossários 223
bibliografia 233
250