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Vol. XLI-XLII
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aícóvwv aceitamos a interpretação de G. Bõhme, Zeit und Zahl. Studien zur Zeittheorie
bei Platon, Aristóteles, Leibniz und Kant, Frankfurt, 1974, pp. 69 sqq., de que o adjec-
tivo significa não 'eterno', no mesmo sentido de âíôiov, mas 'que participa da natureza
do aiôn' — ou seja, do seu modelo.
Para um estudo sistematizado da noção de chronos e aion em Platão, vide
C. Eggers Lan, Las nociónes de tiempo y eternidad de Homero a Platón, Univ. Autó-
noma de México, 1984.
(3) Esta duplicidade na natureza do eikôn platónico mereceu a atenção de
G. Bõhme, op. cit. pp. 17-67. É de louvar o método seguido pelo autor ao tentar
compreender o passo à luz de uma teoria geral da representação no filósofo em
causa. Os seus resultados, que utilizamos no presente trabalho, apresentam-se bem
mais profíquos que os trazidos por um método retrospectivo que parta da recepção
do passo em autores posteriores para a compreensão do texto em causa.
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(4) E. Degani, Aion da Omero adAristotele, Padova, 1961, no inicio do cap. VI,
dedicado ao conceito em Platão e Aristóteles, ao opô-lo a chronos, estabelece uma
certa semelhança entre o aiôn platónico e a definição de Ser em Parménides, 28B,
DK,5-6. A mesma aproximação é feita por W. von Leyden, «Time, Number and
Eternity in Plato and Aristotle», Ph Q, 14,1964, 36 sqq. C. Eggers Lan, Las nociones
de tiempo y eternidad de Homero a Platon, Mexico, 1984, pp. 14-15, vai mais longe,
ao afirmar que a relação platónica aiôn-chronos representa uma conciliação entre
a ideia de permanência, própria de Parménides, e a de fluidez, patente em Heraclito.
Discutívei é já a radical oposição, defendida por Degani, de aiôn, como tempo
divino, a chronos como tempo profano, aritmetizado, típico de ciência. Como
veremos, entender a aritmetização do tempo platónico como empobrecimento
parece-nos ser um anacronismo provindo da concepção de fiéorj %QóVOV como um
quantum, sem ter em conta que o modelo de chronos é o próprio aiôn. A mesma
crítica fazemos a A. E. Taylor, Plato's Timaeus, Oxford, 1928, pp. 678-691.
W. Hirsh, Platons Weg zum Mythos, Berlin, 1971, pp. 168 sqq., salienta precisa-
mente a transição, que se deve ter em conta na filosofia platónica, de uma noção
de mundo das ideias imóvel, em concordância com as condições do logos, para a
de movimento e vida que anima as ideias e se traduz no número. Do mesmo modo,
o logos se converte em dialéctica (também ela, afinal, movimento). Assim (p. 170),
«der Gedanke eines lebendigen Ideenkosmos ermõglicht es, das griindende Verhãltnis
des Anblick-Bildens vom Einzelnen auf das Ganze einsichtig zu ubertragen. Die
einzige Ordnung der sinnlichen Welt, der Kosmos Aisthetos, ist selbst «Bild» der
einigen Ordnung des Kosmos Noetos, und die Weile ihres Wandels, die Zeit, ist
«Bild» des Immerseins der Ideen, die Reproduzibilitãt der bleibenden Anwesenheit.
Das «Leben» des Sinnlich-Lebendigen ist selbst Bild des Lebens der Ideen, und es
ist nur ais Bild.
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(5) Entendemos, pois, que o céu é o meio material através do qual o tempo,
visualizado, se torna representação. O céu ganha sentido na ordenação, pare-
cendo-nos irrelevante o problema da sua anterioridade. Para J. C. Fraisse, «L'uni-
cité du monde dans le Tintée de Platon», R Philos, 172 1982, 249-259 essa ordem
existente no cosmos converte-o de imediato, num inteligível, cujo modelo lhe é ima-
nente. O que nos parece forçar um pouco a leitura do texto.
(6) Op. cit. pp. 101 sqq. ; interpretação já sugerida, de certo modo, pelas
reflexões de W. von Leyden, pp. cit. pp. 39-42.
SOBRE O DIA NO--TIMEU 69
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movimentos astrais, chamando-se essa força eros. Para a relação entre harmonia,
desarmonia e eros veja-se a introdução à tradução de O Banquete, Lisboa, Verbo,
1973, feita por M. T. Schiappa de Azevedo (p. 202).
(8) «Le sens philosophique du mot Aion», PP, 4, 1949, 172-189.
(9) Zahl und Gestalt, Darmstadt, 1959°. V. Hõsle, «Zu Platons Philosophie
der Zahlen und deren mathematischer und philosophischer Bedeutung Th & Ph 59,
1984, 321-355 vê na noção platónica de número a possibilidade de compreender e
reduzir a multiplicidade infinita à dualidade.
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(10) Estranhamos que Festugière, op. cit. p. 175, fale ainda do sentido primi-
tivo de aiôn como «temps que dure la vie d'un chacun». Já C. Lackeit, em 1916,
p. 9 do seu trabalho Aion: Zeií und Ewigkeit in Sprache unci Religion der Griechen,
diss. Kõnigsberg, vê como sentido primeiro da palavra o de 'Lebenskraft' e imediata-
mente daí derivado o de 'Leben', referido ao seu conteúdo, não à distensão temporal,
ambos presentes na poesia homérica (cf. respectivamente //. 5.685, 16.453; Od. 7.244,
9.523 e Od. 5.152, 160, 18.204).
(11) E. Vollrath, «Platons Lehre von der Zeit im Timaeus», Ph J, 76, 260-261
vê na oposição aiôn-chronos uma oposição entre duas formas de presença: a do
noético, total e completa, que faz parte da natureza deste — e é nesse sentido que
entende 'eternidade' — e a do sensível, incompleta e processada por fases. W. von
Leyden, no citado trabalho, define a eternidade do aiôn fundamentalmente como
um modo de existência incondicionado pelo tempo, ao contrário do eterno aristo-
télico, sinónimo de existência contínua ou sempiterna.
(12) Pp. 176 sqq. Note-se, no entanto, que o facto de não ter tomado em
conta o verdadeiro sentido primitivo da palavra mas um seu derivado ('tempo de
vida') o conduz a uma compreensão empobrecida da eternidade apenas como 'tempo
de duração da vida do modelo noético' que, desta feita, não tem começo nem fim:
logo, é eterno.
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(17) K. Gaiser, Platon und die Gesckichte, Stuttgart, 1961, tem, do mito do
Político, uma perspectiva diferente. Entende que ele não exclui, do acontecer humano,
um sentido histórico-temporal, já que do histórico faz parte a tensão entre acaso
e determinação e a aliança entre tradição e novidade. Pensamos, no entanto, que a
associação do progresso à queda e do retrocesso à razão divina ordenadora, que
assim anula ciclicamente a acção humana, se não deixam interpretar por esta pers-
pectiva. Também o facto de o destino humano ser visto apenas como mero ele-
mento do acontecer cósmico, sujeito às mesmas catástrofes periódicas da Natureza,
como afirma o próprio Gaiser, op. cit. p. 14, nos parece amortecer a possibilidade
de valorização de dimensões próprias do histórico, e muito menos ver em Platão
o fundador da história como ciência {id. ibid. p. 24) pelo facto de ter recorrido a
elementos de causalidade. Sobre o progresso nas artes e na sophia, M. T. Shiappa
de Azevedo, Hípias Maior Platão, Coimbra 1985, p. 22.
(18) Op. cit. pp. 247 sqq. Para a função diversa do relato do mito do Pro-
tágoras, não identificável com o ponto de vista de Sócrates, chama o autor a atenção.
De resto, nota O. Gigon, «Studien zu Platons Protagoras», Stuáien zur antiken
Literatur, Berlin, 1972, pp. 105-106, é no Protágoras que excepcionalmente o mito
não é posto na boca de Sócratas nem de quem o representa.
(19) Timeu, 88 e. Cf. Banquete, 186b, sqq.
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