Esta é a revelação do Santo Apóstolo Paulo a respeito das
coisas que lhe foram reveladas quando ele foi transladado ao terceiro céu, e ao Paraíso de Deus , e ouviu palavras inefáveis que não podem ser compreendidas pelo homem natural .
1-Durante o consulado de Teodósio Augusto o Jovem, e do
venerável Graciano, certo homem que vivia em Tarso, na casa que antes havia pertencido a Paulo, um anjo apareceu a ele à noite e entregou-lhe uma revelação e ordenou que ele desfizesse os fundamentos da casa e a reconstruisse de acordo com o que lhe seria mostrado. Porém, ele imaginou que estivesse sonhando. 2- Mas o anjo insistiu, e apareceu-lhe a segunda e a terceira vezes, ordenando-lhe a revolver os alicerces da casa, e enquanto ele a escavava, encontrou uma caixinha de mármore que continha a revelação de Paulo, bem como as sandálias que ele costumava usar quando saía para ensinar a Palavra de Deus. Esse homem ficou muito apavorado, de sorte que tomou a caixa e foi mostrá-la ao mandatário da cidade. Aconteceu que, quando o magistrado a recebeu, imediatamente a enviou ao imperador Teodósio, selada como estava com um lacre de chumbo, pois temia que o seu conteúdo pudesse ser mais importante do que parecia. E, abrindo-a o imperador, descobriu que nela havia a Revelação do Apóstolo Paulo. E o imperador mandou que fizessem uma cópia e enviou o manuscrito original para Jerusalém. E nele estava escrito assim: 3- A palavra do Senhor veio a mim, dizendo: Dize a este povo: Até quando pecareis, e adicionareis culpa ao vosso pecado para provocar a ira de Deus, que tendo-vos criado, agora diz: Vós dizeis serdes filhos de Abraão, mas fazeis as obras de Satanás, e prosseguis falando mal contra Deus, gloriando-vos em vossos discursos? A palavra de Deus está sempre nos vossos lábios, e ainda assim sois miseráveis, porquanto estás conformados à vossa vã maneira de viver. Saibais disto, que toda a natureza se sujeita a Deus, mas os filhos dos homens vive a pecar, provocando assim a ira do Senhor. 4 – O sol que tantas vezes vos dá a luz me tem dito: Ó Senhor Todo-Poderoso, como me aflige testemunhar as iniqüidades e injustiças dos homens! Permita-me tratá-los segundo as suas obras e deixes que os abrase com o meu calor a fim de que reconheçam que apenas Tu és Deus. E eis que saiu uma voz a dizer: Eu sei todas estas coisas, pois os meus olhos vêem e os meus ouvidos ouvem, mas pela minha paciência espero até que se arrependam e se convertam. Todavia, Eu os julgarei se não tornarem para mim. 5 – Do mesmo modo, a lua e as estrelas muitas vezes se curvam diante do Senhor, e dizem: Ó Senhor Todo- Poderoso, Tu nos deste poder sobre a escuridão. Até quando testemunharemos as impiedades, fornicações e assassinatos que os homens cometem durante a noite? Permita-nos tratá-los de acordo com o que eles merecem e assim hão de saber que só Tu és Deus. E eis que novamente saiu a voz que eu havia escutado, a qual dizia: Todas estas coisas são do meu conhecimento, pois os meus olhos as vêem, e os meus ouvidos as escutam, mas pela minha paciência tenho esperado que se arrependam e se convertam. Mas se não se arrependerem, eis que com juízos virei sobre todos eles. 6 – O mar também tem gritado, e com a sua voz tem protestado: Ó Senhor Todo-Poderoso, os homens têm profanado o teu nome. Dê-me a permissão e levantarei as minhas ondas de modo a cobrir a vastidão da Terra; assim varrerei essa geração pecadora de diante da tua face. Mas eis que escutei uma voz a dizer: Eu sei de tudo o que está acontecendo, porque os meus olhos vêem e os meus ouvidos ouvem tudo, mas na minha longanimidade espero até que se arrendam e se convertam a mim. Mas se não se arrependerem, Eu os castigarei. A Terra também clamam ao Senhor contra a raça humana, dizendo: Ó Senhor Todo- Poderoso, eis que sofro mais do que todas as coisas criadas, porque é sobre mim que são praticadas todas as fornicações, e adultérios, e assassinatos, e roubos, e falsos juramentos, e feitiçarias, e bruxarias dos homens, e todo o mal que eles cometem, de modo que o pai se levanta contra o filho, e o filho se levanta contra o pai; o estranho se arma contra outro estranho, e cada um cobiça a mulher do seu próximo. O pai profana o leito do filho, e o filho igualmente se deita na cama do seu pai, e até aquele que oferece os teus sacrifícios tem contaminado a tua casa com atos impuros. Portanto, eu sofro mais que toda a criação, e embora contra a minha vontade, ainda os abençoou com o trigo e todos os bons frutos da terra. Mas se Tu me permitires hei de negar-lhes o sustento de pão. Nisso saiu uma voz que dizia: Eu bem sei de todas estas coisas, pois não há ninguém que possa ocultar de mim os seus ocultar os seus pecados. Mas a minha santidade há de esperar até que se arrependam. E se eles não se converterem então entrarei com eles em juízo. 7- Sabei então, ó filhos dos homens: toda a natureza teme a Deus, vós, porém, não quereis vos sujeitar-vos a Ele. Portanto, sabei que as misericórdias do Senhor são imensuráveis todo o tempo, especialmente ao entardecer, porque é neste momento que os anjos comparecem diante do Senhor para louvá-lo e e contar sobre os feitos dos homens, sejam estes feitos bons ou maus.Por isso então vos digo: temei a Deus e bendizei-o a todos instante, pois a sua misericódria não tem fim. 8- Portanto, é nessa determinada hora que todos os anjos comparecem diante de Deus, para adorá-lo. É nesse momento que vem a voz do Espírito e diz aos anjos: Que novas me trazeis desde o mundo dos homens? 9- E em resposta eles dizem: Eis que viemos daqueles que por amor do teu Nome têm renunciado o mundo, ali vivem como estranhos, habitando em cavernas e rochedos. Estes são os que choram sobre a terra, pois padecem sede e fome por amor ao teu Nome. Eles trazem os lombos cingidos e em seus corações ofertam um incenso de louvor, eles oram e bendizem a todo instante e assim aliviam a aflição da carne. Eles choram e lamentam mais do que todos aqueles que habitam sobre a Terra. E nós também lamentamos com eles até que venha o tempo da recompensa dos justos. Então veio a eles a voz de Deus, dizendo: Eis que desde agora a minha graça é derramada sobre vós, e o socorro sobre aqueles que são do meu Amado Filho. Ele os guiará em todo o tempo e lhes servirá e não os desamparará, embora vivam nas cavernas da Terra. Já os tenho guardado e ainda os guardarei no meu reino, onde nenhum mal os tocará. 10 – E havendo estes anjos saído, eis que vieram outros para adorar na presença da Majestade. Espírito de Deus veio até eles, a voz de Deus lhes falou: Que pesares acodem aos santos de onde vós viestes? E eles responderam ao Senhor: Eis que viemos de entre aqueles que invocam o teu Nome e que se dizem cristão, os que vivem de acordo com o mundo e tornam-se miseráveis por jamais fazerem a ti uma oração sequer. Por que devemos nós viver em companhia de pessoas tão pecadoras? Então veio a eles a palavra do Senhor, dizendo: Deveis servi-los até que se arrependam e convertam. Mas se não se converterem, então Eu os julgarei.Sabei então, ó filhos dos homens, que os anjos reportam diante de Deus todas as obras que vós praticais, sejam elas boas ou más. 11 – E depois disso eu vi um dos seres espirituais que estavam ao meu lado, e ele me tomou em espírito e me levou ao Terceiro Céu. Então ele me disse: Segue-me, e eu te mostrarei o lugar para onde são trazidos os justos depois que eles morrem. Depois te levarei ao abismo e te mostrarei as almas dos pecadores e o tipo de lugar ao qual são conduzidos depois que eles morrem. Então acompanhei o anjo e ele me levou ao Céu e me mostrou o firmamento e todas as suas potestades, e a negligência a qual engana e seduz os corações dos homens, e o espírito da calúnia, e o espírito da fornicação, e o espírito da ira, e o espírito da presunção, todos eles estava ali. Os principados do mal estavam ali. Eu os vi debaixo do firmamento do Céu. E novamente olhei e vi anjos cruéis, espíritos vorazes; suas faces eram furiosas e das suas bocas sobressaíam os dentes; seus olhos flamejavam como a estrela da manhã que brilha no oriente, e dos seus cabelos e das suas bocas saíam faíscas de fogo. Então perguntei ao anjo que estava comigo: Quem são estes? E o anjo me respondeu: Estes são indicados para as almas dos ímpios quando eles mais precisam, pois não creêm que o Senhor seja o ajudador daqueles que Nele confiam. 12 – Nisso olhei para o alto e vi outros anjos cujas faces resplandeciam como o Sol; eles usavam grinaldas de ouro e tinham palmas em suas mãos e também possuíam o sinal de Deus. E eles usavam vestes nas quais estava escrito o nome do Filho de Deus; cheios de bondade e piedade. Então falei ao anjo que me conduzia: E estes, quem são? E por que possuem tanta beleza e piedade? E o anjo me respondeu: Estes são os mensageiros da justiça. Eles são os que conduzem as almas dos justos na hora de sua maior necessidade, pois aceitaram o Senhor com ajudador das suas almas. Então eu lhe falei: Precisam os justos e os ímpios igualmente apresentarem as suas testemunhas depois que eles morrem? Ao que o anjo me respondeu: Não há nenhum meio pelo qual o homem possa escapar de Deus, todavia, os justos têm um Santo Ajudador, pelo que não encontrarão problemas quando tiverem de comparecer perante Deus. 13 – Então novamente falei ao anjo: Eu desejo ver as almas dos justos e dos pecadores no momento em que elas são tiradas do mundo. Então o anjo me falou: Olhe para a Terra lá em baixo. E eu fiz como ele me ordenou e vi que o mundo inteiro era como nada perante a minha vista. E vi quão banais são os filhos dos homens. Eu estava bastante admirado, pelo que falei ao anjo: É esta a grandeza humana? E ele me respondeu, dizendo: Sim, e esta é a sua vida desde a manhã até ao entardecer. Então olhei novamente e vi uma grande nuvem de fogo que ia cobrindo toda a face da Terra, e disse ao anjo: O que é isto, senhor? E ele me falou: Esta é a grande injustiça que vem sendo trabalhada para levar os homens à destruição. 14 – Ao ouvir isso, eu suspirei e chorei; e falei ao anjo: Gostaria de esperar para ver as almas dos justos e as almas dos pecadores a saber que caminho elas tomam depois que deixam o corpo. O anjo me falou: Olhe outra vez para a Terra lá em baixo. Então olhei e vi toda a vastidão do mundo, e eis que os homens eram como nada perante os meus olhos. E continuei a observar até que descobri um homem a um canto da Terra. Então o anjo me falou: Este homem que vês é um justo. Eu continuei a olhar e vi todos os feitos que esse homem havia praticado em nome de Deus; e todos os seus desejos, os que ele se lembrava e os que ele já havia se esquecido; tudo estava perante ele no momento em que a sua alma abandonou o corpo. Eu notei que os justos prosperavam e encontravam refrigério nessa hora, e que tão logo eles deixavam este mundo os anjos do bem e os anjos do mal vinham estar juntamente ao lado deles. Eu via todos eles, porém os anjos do mal não tinham nenhuma autoridade sobre os justos, mas os santos anjos, sim, estes podiam conduzir as suas almas depois que elas abandonavam seus corpos. Eles apresentavam estas almas, dizendo: Alma, toma conhecimento do corpo ao qual tu deixaste, porque no dia da ressurreição deverás retornar a este mesmo corpo a fim de que recebas o que foi prometido aos justos. Então eles recebem a alma que deixou o corpo e a osculam como se fossem velhos conhecidos, e dizem-lhe: Eis que cumpriste a vontade de Deus durante o tempo em que estiveste no mundo, portanto, sê de um bom coração. E o anjo que a assistia a cada dia veio encontrá-la, e disse- lhe: Sê de um bom coração, pois afirmo que me alegro sobre ti por haveres feito a vontade de Deus sobre a Terra. E eu mesmo tenho reportado quais têm sido as tuas obras. E do mesmo modo o espírito avançou para encontrá-la, e disse: Alma, não temas nem te perturbes, pois hás de ir a um lugar ao qual jamais conheceste, e eu serei o teu ajudador, visto que encontrei em ti um lugar de refrigério enquanto estive contigo sobre a Terra. Então seu espírito se encheu de força e o anjo o tomou e o elevou ao Céu. Nisso o anjo lhe falou: Eis que a ti virão os espíritos do mal que povoam as regiões celestiais. São espíritos do engano que hão de dizer-te: Alma, que fizeste para mereceres o Céu? Espera, pois veremos se em ti não há alguma coisa de nós. Então a alma ficou detida ali, pois houve uma grande luta entre os anjos do bem e os anjos do mal. Porém, quando os espíritos do enganos examinaram aquela alma, eis que gritaram com forte voz: Eis que não encontramos nada de nós em ti! E, além do mais, todos os anjos e espíritos saíram em teu socorro e não permitem que nos apossemos de ti, portanto estás livre para passares de nós. Mas em seguida veio outro espírito, um espírito de calúnia e um espírito de fornicação, e eis que ficaram parados diante daquela alma. E quando a viram, choraram e disseram: Como puderam arrebatar esta alma das nossas mãos? Ela deve ter cumprido a vontade de Deus sobre a Terra e por isso os seus anjos a ajudam, permitindo que passem por nós sem ser incomodada. Então todos as potestades do mal saíram a encontrá-la, mas não puderam evitar que ela subisse, pois não encontraram nenhum dos seus defeito sobre ela. Pelo que rangiam os seus dentes contra essa alma, dizendo: Como pudeste escapar de nós? Nisso o anjo que a conduzia lhes respondeu: Tornai-vos em confusão, pois usaste de toda a vossa astúcia para arrastá- la ao mal; vós a tentaste de todas as formas enquanto esteve no mundo, mas ela não quis dar-vos ouvidos. Então ouvi a voz de miríades de miríades de santos anjos que diziam: Alegra-te e exulta, ó alma, sê forte e não temas coisas alguma. E eles estavam muito admirados que aquela alma tivesse sustentando o sinal do Deus Vivo. Assim eles a enconrajavam e chamavam-na bem-aventurada e diziam: Muito nos alegramos em ti, pois fizeste a vontade do nosso Deus. Então eles mesmos a conduziram para que pudesse adorar a Deus em sua presença. E tão logo eles cessaram de adorar, eis que veio Miguel e todas as hostes de anjos, e se prostraram para apresentar a alma, dizendo: Este é o Deus de todos, o qual os fez a sua imagem e semelhança. Nisso apareceu um anjo que se adiantou a dizer: Senhor, lembra-te dos seus feitos, pois esta é a alma cujos feitos te foram reportados a cada dia, agindo segundo os teus juízos. E do mesmo modo outro espírito dizia: Eu sou o espírito da vivificação que lhe dava o fôlego. Eu tive refrigério enquanto habitei o seu corpo, de modo que pude me comportar segundo os teus santos preceitos. Então se ouviu a grande voz de Deus que dizia: Assim como esta alma não me fez agravo, Eu também não a agravarei; ela usou de compaixão, então Eu serei compassivo com ela. Deixai então que Miguel, o anjo do concerto a conduza ao Paraíso da felicidade, a fim de que possa permanecer ali até ao dia da ressurreição. Então escutei a voz de milhares de anjos, arcanjos e querubins, e os vinte e quatro anciãos que entoavam hinos a Deus, dizendo: Justo és tu, Senhor, e justos sãos os teus julgamentos. Em Ti não há aceitação de pessoas, pois retribuis aos homens segundo os seus feitos merecem. Depois destas coisas o anjo me falou: Tens tu crido e compreendido tudo o que vos acontece depois que a alma abandona o corpo, e que Ele vos assiste nesta hora de necessidade? E eu lhe respondi: Sim, Senhor. 15- Nisso Ele me disse: Olhe novamente para a terra lá em baixo e espere para ver outra alma de um homem ímpio que está deixando o corpo. Trata-se de um homem mau que viveu a provocar a ira do Senhor noite e dia, porque dizia: Eu não conheço outro mundo além deste; é por isso que eu como e bebo e aproveito tudo o que existe aqui. Por que quem foi que desceu ao inferno e depois voltou para provar que ali as almas são atormentadas? E eu olhei e vi todo o escárnio deste pecador diante de tudo o que ele tinha praticado e como agora se comportava na hora de sua morte. Eu que notei que aquela hora estava sendo mais amarga do que o seu futuro julgamento, porquanto ele assim se lastimava: Ó, qual tem sido a minha vida no mundo! Desde então vi se aproximarem os anjos, bons e maus, e aquela alma pecadora também os via se aproximar, mas os santos anjos não haviam encontrado lugar no seu coração, pelo que os anjos maus possuíam totais poderes sobre ela. E aconteceu que enquanto os anjos maus arrancavam aquela alma do corpo, eis que os anjos de Deus lhes falaram por três vezes, dizendo: Miserável alma, olha agora para o corpo ao qual hás de abandonar, porque no dia da ressurreição tu terás de retornar a esta carne para receberes a paga pelos teus feitos de impiedade! 16 – E quando eles a deixaram, eis que o seu anjo particular lhe falou: Miserável alma, eu sou o anjo que te acompanha e que reportava perante o Senhor todas as obras impuras que praticavas dia e noite. E eis que te digo que se dependesse de mim eu não teria te assistido um único dia da tua vida. Porém, não está no meu poder decidir sobre estas coisas. Deus é o misericordioso e justo Juiz e ordenou a que eu não te abandonassem nem por um momento, a fim de que algum dia tu viesses ao arrependimento. Mas eis que hoje tenho me libertado de ti e já te sou um estranho, e tu também te tornaste um estranho para mim. Que venha então o justo Juiz. Então o espírito se afligiu e o anjo se perturbou, porque enquanto ele (a alma?) se preparava para entrar no Céu, eis que foram- lhe lançados fardos sobre fardos. Porque o Erro, a Negligência e o espírito da Fornicação e o os demais espíritos o encontraram e disseram: Aonde pensas que estás indo, alma pecadora? Por acaso pensas que entrarás no Céu? Pare aí mesmo e deixe-nos ver se tu não nos pertence, pois já notamos que não existe nenhum santo ajudador contigo. E havendo eles o examinado, eis que se alegraram grandemente, e disseram: Mas é claro! Tu nos pertences totalmente. Agora sabemos que nem o teu anjo será capaz de te arrancar das nossas mãos. Porém, o anjo respondeu: Saibas que esta alma foi feita a imagem de Deus, e eu hei de deixar a imagem de Deus nas mãos do diabo. Porque aquele que me susteve durante todos os dias de vida desta alma pode sustê-la ainda e eu não a abandonarei até que ela suba até o trono de Deus lá no alto. Quando Ele a vir, há de decidir segundo a sua vontade. Logo em seguida eu escutei vozes desde os céus, que diziam: Pobre e miserável alma, apresenta-te ao Senhor, para que conheças o Deus ao qual tu desprezaste. E havendo ela adentrado ao Céu, eis que milhares de anjos se lamentaram ao vê-la, e em uma voz exclamaram: Ai de ti, miserável alma, por causa das obras que praticaste sobre a terra! Que hás de responder a Deus, quando enfim estiveres na sua presença? E o anjo que a acompanhava disse: Lamentai comigo, servos do Senhor, pois não encontrei boa morada junto desta alma! Ao que os outros anjos responderam: Aparta esta alma do nosso meio, porque a sua presença tem contaminado este ambiente. Então aquela alma foi conduzida à presença de Deus e o anjo mostrou-lhe o Senhor que a havia criado segundo a sua imagem e semelhança. Em seguida, o anjo que a conduzia correu adiante e falou: Deus Todo-Poderoso, eu sou o anjo que assistia esta alma e que reportava os seus feitos dia e noite. Eis que ela não se comportou segundo os teus mandamentos. Portanto, agora, lida com ela conforme os teus justos julgamentos. E da mesma maneira dizia o espírito: Eu sou o espírito que habitava o seu corpo, mas ela nunca obedeceu a minha vontade. Por isso, julga-a, Senhor, segundo a tua justiça. Então ouviu-se a voz de Deus, que dizia: Que tens tu feito com todas as boas dádivas que te foram dadas desde a tua criação? Acaso tenho Eu te negado os favores dispensados aos justos? E não tenho Eu feito o sol se levantar sobre ti assim como o sobre o justo? Mas aquela alma se calou, porque não tinha o que responder. Então Deus lhe falou novamente: Os julgamentos de Deus são perfeitos, pois Ele não faz acepção de pessoas, porque todo aquele que fizer misericórdia, misericórdia alcançará, e qualquer um que não fizer misericórdia também não será poupado perante o Senhor. Portanto, entregai esta alma ao anjo do Abismo (Tártaro), o qual se encarregará da sua punição. Então vi aquela alma ser lançada nas trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes, onde deverá permanecer até o dia do juízo final. Depois disso escutei a voz de anjos e arcanjos que diziam: Justo és tu, ó Senhor, e justos são os teus juízos. 17- Eu olhei novamente, e eis que dois anjos traziam uma alma que clamava: Tem misericórdia de mim, ó Deus, justo juiz!Porque há sete dias que tenho deixado o meu corpo e estou sendo arrastado por estes dois anjos e eles estão me levando por lugares aos quais desconheço. Então Deus, o justo juiz, lhe disse: Que tens tu feito? Tu jamais mostraste misericórdia, e é por isto que estás sendo atormentado pela presença dos anjos que não se apiedam de ti. Tu jamais praticaste o que era direito, como esperas que tenham compaixão de ti? Portanto, confessa os pecados os quais tu praticaste enquanto estavas no mundo. Ao que aquela alma respondeu e disse: Mas Senhor, eu não tenho cometido pecados! Mas a ira do Senhor se acendeu sobre ela por haver dito: “Eu não tenho pecados.” Pelo que Deus assim lhe falou: Acaso pensas que ainda estás no mundo, onde cada um dos teus pecados eram encobertos aos olhos dos homens? Porém aqui nada fica em oculto. Saibas que quando uma alma sobe à minha presença todos os seus atos são declarados, sejam eles bons ou maus. Ao ouvir isto, a alma caiu em silêncio, porque não tinha como responder. E eu escutei o Senhor Deus, o justo juiz a se pronunciar outra vez: Vem, anjo que conduzes esta alma; fica entre ela e Eu. Então o condutor daquela alma pecadora se aproximou, trazendo o rolo de um livro em suas mãos. E eis que ele disse: Senhor, eis que tenho em minhas mãos os registros de todos os pecados que esta alma praticou desde a sua mocidade até ao dia de hoje; ou mais que isto, desde o dia em que nascera até agora. E se tu ordenares, Senhor, eu narrarei todos os seus feitos desde quando tinha quinze anos de idade. E o Senhor Deus, o justo juiz, falou: Eis que te digo, anjo, que não me hás de narrar os seus pecados a partir dos quinze anos, mas exponhas tão somente aqueles que ela cometeu nos seus últimos cinco anos de vida. E em seguida o senhor, o justo juiz, falou: Eu juro por mim mesmo e pelos santos anjos do meu poder que se esta alma houve se arrependido ao menos uma vez durante estes últimos cinco anos, que a perdoarei assim como se perdoa o mal praticado por uma criança de um ano de idade. Mas ao contrário, que ela pereça para sempre. E o anjo daquela alma pecadora respondeu e disse: Determina, Senhor, que o anjo faça vir as tuas almas. E naquele mesmo instante umas almas foram trazidas para perto e aquela alma pecadora as reconheceu imediatamente. E o Senhor falou à alma pecadora: Eis que te digo, alma: confessa todos os crimes que tu cometeste contra estas almas quando elas também estavam no mundo. Então ela respondeu e disse: Senhor, ainda não se passou nem um ano desde que assassinei esta alma, derramando o seu sangue sobre a terra. Quanto à outra, eis que com ela cometi fornicação. Porém, isto não é tudo; porque eu também pratiquei injúrias e me apropriei dos bens de outrem. Ao ouvir isto, o Senhor, o justo juiz disse: Sabias tu que que quando uma pessoa faz violência à outra, se esta pessoa que sofreu a violência morrer primeiro, é mantida neste lugar até ao dia em que o seu agressor morra, para que ambas compareçam juntas perante o juiz para que cada uma receba o que os seus feitos merecem? Então escutei uma voz que dizia: Tomai esta alma e entregai-a nas mãos do Tártaro para que seja precipitada nas regiões mais baixas da terra. Encerrai-a em prisões escuras para que seja atormentada até ao dia do juízo. E novamente eu ouvi milhares e milhares de anjos que clamavam: Justo és tu, Senhor, e justos são os teus juízos. 19 – E o anjo me disse: Tens tu entendido todas estas coisas? Ao que eu respondi: Sim, senhor. Então ele me falou novamente: Segue-me de novo, e eu te levarei para que conheças a cidade dos justos. Eu o acompanhei e ele me elevou acima do terceiro céu e me fez estar perante a entrada de um portão. E eu notei que se tratava de um grande portão de ouro e que havia dois pilares de ouro diante dele e que sobre estes pilares existiam duas placas douradas nas quais estavam gravadas várias inscrições. Em seguida, o anjo se voltou para mim e disse: Bem- aventurado serás se conseguires passar para além destes portões, pois apenas aqueles que possuem um coração puro é que podem entrar ali. Então perguntei ao anjo: Senhor, por que razão estão escritas estas coisas em ambas as placas de ouro? Ao que ele me respondeu: Estes são os nomes daquelas pessoas justas que serviram fielmente a Deus enquanto estavam no mundo. Mas eu lhe falei outra vez: Então os seus nomes já estavam escritos no Céu, embora ainda estivessem vivendo no mundo? E o anjo me respondeu: Não apenas os seus nomes, mas até as suas faces já haviam sido gravadas, porque todo aquele que serve a Deus de todo o coração é bem conhecido diante dos seus anjos. 20 – Então adentramos. E havendo eu atravessado os portões do Paraíso, se aproximou de mim um ancião cuja face resplandecia como o sol. Ele me abraçou e disse: Sê bem-vindo, Paulo, querido e amado de Deus. E foi com um belo sorriso no rosto que ele me beijou e logo se pôs a chorar. Eu, porém, lhe disse: Por que choras, meu Pai? Mas ele suspirou e logo voltou a chorar. E disse: Eis que choro porque somos injuriados pelos homens que desconhecem todas estas coisas maravilhosas que Deus tem preparado para aqueles que o amam. E eis que são firmes as suas promessas, porém eles não a creem. Por causa disso eu voltei a falar ao anjo, e lhe perguntei: Quem é este, senhor? Ao que ele me respondeu imediatamente: Este é Enoque, a fiel testemunha dos últimos dias. E no mesmo instante o anjo me falou: Eis que não deves reportar aos homens nada do que eu te mostrar enquanto estivermos neste lugar. Mas eu prossegui e logo adiante avistei Elias. Ele me saudou com grande alegria. Mas em seguida se afastou um pouco e me disse: Paulo, esforça-te para alcançares a tua recompensa pelas obras que realizas entre os homens. Quanto a mim, eis que tenho visto as grandiosas dádivas que o Senhor tem preparado para os seus justos, e as suas promessas são grandiosas, ainda que a maioria dos seres humanos as tenham rejeitado. Porém, importa que através de muitas tribulações entremos no Reino dos Céus. 21 – Nisso o anjo me disse: Tudo o que eu te mostrar e tudo o que tu aqui escutares não o deverás contar a ninguém sobre a terra. Então ele me levou me mostrou coisas inefáveis, a respeito das quais não estou autorizado a falar. E outra vez ele me disse: Segue-me e te mostrarei as coisas a respeito das quais terás a permissão de falar. E ele me fez descer ao segundo céu e me pôs outra vez naquele firmamento, e dali me mostrou os portões do paraíso. Ele me vez ver uma pequena abertura onde me foi possível contemplar o começo de suas fundações sobre um rio cujas águas desciam até a terra. Então perguntei ao anjo: Senhor, o que é este rio de água? Ao que ele me respondeu: Este é o Oceano. De repente, dirigi minha atenção ao céu e percebi que de lá emanava uma luz que iluminava a terra em baixo. Entretanto, aquela terra era sete vezes mais brilhante do que a prata. E eu novamente me dirigi ao anjo e lhe perguntei: Senhor, que lugar é este? Ele logo me respondeu: Esta é a terra da promessa. A caso tu ainda não leste o que acerca dela está escrito: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra?” As almas dos justos, depois que elas saem do seu corpo,permanecem aqui durante algum tempo. Eu outra vez falei ao anjo: Enfim, a partir de quando esta terra há de ser revelada aos olhos dos homens? E o anjo me respondeu: Quando o Cristo, cujo Nome vós proclamais, enfim vier para reinar, então a luz vinda de Deus destruirá a primeira terra e a dissolverá. Depois disso, a terra da promessa será revelada; ela descerá do céu tal como o orvalho que desce das nuvens. Nesse mesmo tempo o Senhor Jesus Cristo, o eterno rei, se revelará juntamente com os seus santos, para habitar sobre a terra e reinar ali durante mil anos. Estes hão de comer das delícias as quais hei de te mostrar logo mais. 22- Continuei admirando aquela terra e vi um rio que transbordava leite e mel. Nas margens deste rio cresciam árvores cheias de belos frutos. Cada árvore dava o seu fruto doze vezes por ano, sendo eles vários e diferentes. Também vi a obra da criação e todos os feitos de Deus. Ali eu vi palmeiras, algumas delas mediam vinte côvados e outras mediam dez. E como eu já disse, aquela terra resplandecia sete vezes mais do que a prata refinada. As videiras deste país estão cheias de frutos, desde as raízes até ao topo. Cada uma delas tem até dez mil galhos e em cada galho dez mil cachos, em cada cacho dez mil uvas. Mas existem outros tipos de árvores ali.Milhares e milhares delas e os seus frutos nascem na mesma proporção daqueles das videiras. Voltei-me para o anjo e lhe falei: Por que é que as árvore aqui dão tantos frutos? A sua resposta foi: É porque o Senhor Deus da abundância distribui as suas dádivas abundantemente àqueles qua são merecedores, pois que estando eles no mundo, de tudo se privaram por amor ao seu santo Nome. Mas eu ainda insistia com o anjo: Senhor, são estas as promessas que o Senhor Deus tem feito aos santos? E ele imediatamente respondeu: Não! Na verdade, existem promessas sete vezes maiores do que estas! Porque eis que te faço saber que todas as vezes que morre um santo e a sua alma vem a este lugar e contempla as promessas e todas estas boas dádivas que Deus tem preparado para os santos, ela contempla,se emociona e chora, dizendo: “Como foi que eu pude abrir a minha boca para pronunciar coisas irritantes ao meu próximo? (Não deveria, em vez disso, ter gasto o meu tempo falando destas coisas maravilhosas?)”. Voltei então a indagar do anjo: Estas são as únicas promessas de Deus? A resposta logo veio: O que tu acabaste de ver são bênçãos reservadas ao marido que soube manter o seu casamento em pureza e castidade. Mas para as virgens e para aqueles que têm fome e sede de justiça, e aos que afligem a sua alma por amor ao Senhor, eis que Ele lhes recompensará com promessas sete vezes maiores do que estas que tu agora contemplas. Havendo ele me tomado do lugar onde eu tinha visto estas coisas, eis que surgiu um rio cujas águas eram branquíssimas, mais alvas do que o leite! Ao contemplá-lo, eu logo falei ao anjo: O que é isto? E assim ele me respondeu: Este é o Lago Akerusian, onde está a cidade de Cristo, porém, a nenhum homem é dada a permissão para lá entrar.Este é o caminho que conduz a Deus, e se alguém,sendo fornicário ou ímpio, volta e se arrepende de suas obras más e produz frutos dignos de arrependimento, ao deixar o corpo, primeiramente ele é trazido para este lugar, para adorar a Deus, e o Senhor ordena ao anjo Miguel que o batize nas águas do Lago Akerusian. Assim, ele conduz esta alma à cidade de Cristo, onde já estão aqueles que o adoram sem pecados. Eu estava boquiaberto diante do que via, pelo que louvei ao Senhor por tudo o que Ele me havia mostrado. 23 – Mas outra vez o anjo me falou: Segue-me, pois irei te conduzir para dentro da cidade de Cristo. Então ele ficou de pé no Lago Akerusian e me pôs em um barco de ouro. Desde então eu vi três mil anjos que cantavam um hino diante de mim enquanto íamos nos aproximando da cidade de Cristo. Agora os habitantes daquela cidade se alegravam grandemente ao verem que eu iam me acercando deles. Então entrei e contemplei a cidade de Cristo. E eis que ela estava totalmente edificada em ouro. Tinha doze muros e doze torres; uma torre em cada muro, mas no meio dela havia doze mil torres fortificadas. Cada torre distava da outra cerca de um estádio (180 a 220 metros). Então eu perguntei ao anjo: Senhor, quanto mede um estádio aqui no Céu? Ele me responde e disse: é tão grande quanto a distância entre Deus e os homens quando estão na terra. Não te admires quanto a isto, pois a cidade de Deus é incomparavelmente grande. Em volta da cidade eu vi doze portões de rara beleza, e avistei quatro rios que a rodeavam. O primeiro rio era de mel. O segundo era de leite. O terceiro era de vinho e o quarto era de azeite. Fiquei grandemente admirado, e falei ao anjo: Que rios são estes que circundam a cidade? Ao que ele me disse: Estes são os rios que fluem abundantemente para aqueles que vierem morar nesta grande cidade. E estes são os seus nomes: O rio de mel se chama Phison; o rio de leite se chama Eufrates; o rio de vinho se chama Tigre e o rio de azeite se chama Gion. Os justos, quando estão no mundo, padecem muitas privações e voluntariamente se abstém destas coisas por amor ao Senhor. Portanto, quando eles aqui chegarem, hão de ser recompensados com bênçãos sem medidas. 24 – Ao passar por um dos portões eu vi diante da cidade umas árvores enormes as quais não davam frutos, mas apenas folhas. Vi alguns homens dispersos entre estas árvores e eles choravam muito ao verem alguém passar para dentro da cidade. Mas aquelas grandes árvores não se compadeciam deles, antes zombavam de sua dor. Eu me compadeci deles e chorei. Em seguida, perguntei ao ano que me conduzia: Senhor, quem são estes que não recebem permissão para entrar na cidade de Cristo? E o anjo me respondeu: Estes são aquelas pessoas que jejuavam dia e noite e que tinham grande zelo pela renúncia, mas que nunca removeram o orgulho do coração. Eles viviam de aparência a fim de receberem os elogios dos homens, porém, eram incapazes de fazer qualquer coisa em favor do próximo. Quando encontravam alguém pelo caminho, eles só o saudavam se este fosse um dos seus amigos. E para aqueles a quem queriam bem eles abriam a porta da sua casa, e se fizessem um pequeno favor a quem quer que fosse, eles logo saíam anunciando aos quatro ventos. Ao escutar este relato eu indaguei o anjo: Que será então, senhor? O orgulho que praticavam foi capaz de privá-los de entrar na cidade de Cristo? O anjo me disse: O orgulho é a raiz de toda a maldade. Acaso são eles melhores do que o Filho de Deus, o qual andou entre os judeus em grande humildade? Mas eu novamente lhe perguntei: Por que então aquelas grandes árvores os desprezam, acrescentando-lhes o infortúnio? E o anjo com paciência me respondeu: Todo o tempo que estiveram sobre a terra eles serviam a Deus com jejuns fingidos e não se incomodavam de saber que todos conheciam o seu fingimento e que os reprovavam por isso. Eles não se importaram, não se arrependeram nem desistiram de ser orgulhosos. É por esta razão que as árvores agora zombam deles. Fiz outra pergunta ao anjo: Mas se foram orgulhosos, por que motivo receberam a permissão de adentrarem aos portões da cidade? A esta questão o anjo me deu a seguinte resposta: É por causa da grande bondade de Deus. Eles ficarão ali até ao dia da chegada de Cristo com todos os seus santos. Quando o Senhor vier com todos os seus redimidos, então eles terão permissão para entrar na cidade santa. Mas por enquanto devem permanecer ali, até que Cristo, o Rei Eterno, venha com todos os seus santos e justos. Quando Ele vier, os santos pedirão por estes e o Senhor os ouvirá e permitirá que os tais entrem na cidade. Mas isto só deve acontecer depois que eles contemplarem aqueles que servem a Deus com jejuns sinceros e que levam uma vida de real santificação. 25 – Dali eu fui conduzido pelo anjo até o rio cujas correntes são de mel. Ali eu vi os profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel, Amós, Mequéias e Zacarias. Enfim, todos os profetas, maiores e menores. Eles me saudaram quando ali cheguei. Então falei ao anjo: Que caminho é este que vejo? Ele assim me respondeu: Este é o caminho dos profetas. Todos aqueles que negam a si mesmos para fazer a vontade de Deus, ao saírem do mundo são trazidos para adorar na sua presença. Então o Senhor ordena a Miguel que os leve para dentro da cidade, a este lugar onde ficam os profetas. E os profetas os recebem com grande alegria como a verdadeiros amigos, pois eles também cumpriram a vontade de Deus. 26 - E Outra vez ele me tomou, e levou-me a um lugar onde havia um rio de leite. Então naquele vi vi todas as crianças que por amor ao nome de Cristo foram assassinadas por ordem do rei Herodes, e eis que elas me saudaram. Então me disse o anjo: Todos aqueles que se guardam em castidade e pureza, quando abandonam seus corpos são conduzidos a Miguel tão logo adoram perante a face do Senhor Deus, depois são apresentados aos filhos, que os cumprimentam, dizendo: Vós sois nossos irmãos e amigos. E eis que uns e outros tomam posse da mesma herança e promessa que lhes fez o Senhor. 27 – E outra vez me tomou, e me conduziu ao leste da cidade e me levou ao lugar no qual havia um rio de vinho. Então vi Abraão, Isaque e Jacó, e Ló, e Jó e outros santos com eles. E eles me saudaram. Então perguntei ao anjo que estava comigo: Que lugar é este, senhor?. E o anjo me respeondeu e disse: Todos aqueles que foram hospitaleiros, e receberam os estrangeiros, quando vêm do mundo para este lugar, preimeiro adoram ao Senhor e depois são entregues nas mãos de Miguel, que os traz para cá, e aqui são cumprimentados por todos os justos, os quais os chamam de de filhos e de irmãos, porque dizem: Porquanto guaradaste a humanidade e a hospitalidade aos estrangeiros, vinde, e recebei herança na cidade do nosso Deus. Assim, todo homem justo recebe as boas dádivas de Deus de acordo com o seu comportamento em relação ao próximo. 28 – E novamente me levou a um rio de óleo, ao leste da cidade, e ali contemplei homens que se regozijavam cantando salmos. Então perguntei: Senhor, e estes que estão felizes, quem são? Então o anjo me respondeu: Estes são aqueles que se consagraram a Deus de todo o coração, despojando-se do orgulho. Porque todos aqueles que se alegram no Senhor Deus e cantam louvores ao seu nome são trazidos para esta cidade. 29 – Depois disso, o anjo me levou para o meio da cidade, junto ao duodécimo muro. E eis que este lugar era mais elevado do que os outros. E eu perguntei ao anjo: Por acaso existe na cidade de Cristo outro lugar cuja glória seja superior a deste muro? Ao que me respondeu o anjo: Eis que o segundo lugar é superior ao primeiro, e da mesma forma, o terceiro é superior ao segundo, porque cada um vai superando ao outro em glória desde o primeiro muro até ao duodécimo. Então falei: E por quê, senhor, cada um vai superando o outro em glória e em honra? Por favor, explique isso para mim. Então ele me falou: Entenda que todo aquele que em si mesmo conservar um pouco de calúnia, de inveja ou orgulho há de perder um pouco da própria glória, muito embora não fique de fora da cidade de Cristo. Mas olhe para trás de ti e veja. Então me voltei, e vi tronos de ouro nos quais havia vários portões, e diante deles estavam varões com diademas de ouro e pedras preciosas sobre as suas cabeças. Então olhei e vi, entre os doze varões, tronos que estavam postos em ordem, os quais me pareceram ser de uma glória mui grande, tão magníficos que nenhuma língua humana é capaz de descrevê-los. Então outra vez indaguei ao anjo: Senhor, para quem são estes tronos? E o anjo me respondeu: Esses tronos são para aqueles que possuíam bondade e entendimento de coração, mas que se fizeram loucos por amor ao seu Deus, pois embora não conhecendo muita coisa acerca das Escrituras, nem sabendo recitar muitos salmos, ainda assim deram ouvidos aos mandamentos de Deus e procederam em conformidade com as ordenanças do Senhor, demonstrando grande zelo perante o Senhor Deus. Porque a estes, até mesmo os santos que estão diante de Deus admiram, porquanto dizem uns para aos outros: Contemplai estes homens tão simples, que não possuem entendimento e que apesar disso são dignos de de vestes de glória tão magníficas. Nisso, vi bem no meio da cidade um grande e mui sublime altar, e havia, de pé diante do altar, um cuja face resplandecia como o sol o qual trazia um saltério e uma harpa nas mãos, e que, cantando, dizia: Aleluia! E eis que a sua voz ecoou por toda a grande cidade. E de tal modo ecoou a sua voz que todos os que estavam nas torres e nos portões a escutaram, e por isso responderam: Aleluia! Então os fundamentos da cidade foram sacudidos. E eu perguntei ao anjo: Quem é este cuja voz é tão poderosa? O anjo me respondeu, e disse: Esse é Davi, e esta é a cidade de Jerusalém. Porém, quando Cristo, o Rei da eternidade, vier com os santos no Seu reino, ele novamente se levantará e para cantar, e em resposta ao seu canto todos os justos dirão a uma só voz: Aleluia! Eu escutei isso, e logo indaguei: Mas, senhor, de onde vem que Davi seja o primeiro a cantar e que depois deles cantem todos os santos e justos? E em resposta o anjo me disse: É por que Cristo, o Filho de Deus, está assentado à destra do Pai, então Davi, em saudação, entoará um canto diante Dele no sétimo céu. Então, depois que Davi houver louvado ao Senhor no Céu, eis que toda a terra em baixo fará o mesmo. De outro modo, não se usa oferecer sacrifícios a Deus sem que primeiro se ouça um dos cãnticos de Davi. Mesmo, durante a celebração do corpo e do sangue do Senhor faz-se necessário cantar os seus salmos. Assim, quando a sua harpa é tocada no Céu, importa que seja Ele também louvado na terra. 30 – Ao ouvir isso eu disse ao anjo: Senhor, o que significa o Aleluia? E o anjo me respondeu: Eis que muitas são as tuas perguntas, pois a tudo desejas conhecer. Então me explicou: Eis que Aleluia é uma palavra do idioma dos hebreus, a língua falada por Deus e seus anjos. E o seu significado é: Tekel, Kat, Marith, Macha. Mas eu fiquei ainda mais curioso, porquanto perguntei: Senhor, qual é o significado de Tekel, Kat, marith, Macha? E ele me respondeu: Eis que te farei saber o significado das palavras Tekel, Kat, Marith, Macha: Bendizei ao Senhor todos juntos. E eu insisti em perguntar ao anjo: Mas, senhor, todos aqueles que dizem Aleluia estão de fato bendizendo o nome do Senhor? Ele então me deu a sua resposta: De modo algum! Mas eis que te digo que se em uma reunião de santos estiverem cantando Aleluia e entre os presentes houver alguém que não estiver cantando ao mesmo tempo, o tal comete pecado, porquanto não se ajuntou àqueles que celebram ao Senhor. Devido a estas palavras, eu perguntei ao anjo: Senhor, e se acontecer de esta pessoa possuir alguma deficiência, ou se for já muito idoso, estará pecando do mesmo jeito? O anjo não me negou a sua resposta, mas disse: Claro que não! Porém, se alguém está em perfeita saúde e não se une ao canto do Senhor, tu decerto sabes que o tal é profano e não respeita a palavra (Aleluia). Por outro lado, é imperdoável que alguém não louve e engrandeça o nome do Senhor Deus e seu Criador. 31- Havendo o anjo acabado de falar comigo, logo me conduziu para fora da cidade, e caminhamos ao longo de uma senda por entre um arvoredo. Assim, retornamos dos lugares da terra das beatitudes, e ele me fez voar por sobre aquele rio de leite e mel. Depois ele me levou ao oceano no qual jazem os fundamentos dos céus. Ali o anjo se voltou para nem, e perguntou: Compreendes que estás sendo transportado para bem longe daqui? . E eu lhe disse: Sim, senhor. Então ele outra vez me dirigiu a palavra, dizendo-me: Vem e segue-me, pois hei de mostrar as almas dos ímpios e pecadores para que tu saibas que lugar é esse. Assim, eu me detive com o anjo e ele me conduziu ao lugar do estabelecimento do sol , onde pude ver o início do céu, cujos fundamentos estão em rio grande rio rio de águas. Ali eu perguntei: Que rio de águas é este? Ao que ele me respondeu: Este é o mar que circunda toda a terra. E seguindo eu para além daquele oceano, olhei, mas eis que não vi luz alguma naquele lugar, senão trevas, infortúnio e perturbações. Foi ali mesmo que eu vi um rio cujas águas borbulhavam em chamas de fogo, e nele vi uma multidão de homens e mulheres imersos até aos joelhos, bem como outras pessoas ainda mais afundadas; umas estavam imersas até os lábios, e outras até o alto da cabeça. Perguntei ao anjo: Quem são estas pessoas que jazem no rio de fogo? O anjo assim me respondeu: Estes são aqueles que não eram nem quentes nem frios, porque não foram contados nem entre os justos nem entre o número dos ímpios. Estes são daqueles que passam alguns dias da vida em orações, mas que gastam muito tempo se divertindo com o pecado da fornicação. Novamente me volto e pergunto ao anjo: E por que alguns deles estão mergulhados no fogo até aos joelhos? E ele me falou: Estes são aqueles que quando iam à igreja gastavam o seu tempo em discussões banais e profanas. Quanto àqueles cujo nível do fogo está mais acima, são daqueles que após participarem do corpo e do sangue do Senhor, seguiam para direto para os seus encontros adulterinos, os quais viveram nesse pecado até que morreram. Já aqueles que estão aprofundados até aos lábios,são do número dos que quando iam à igreja de Deus, se atinham a criticar e a se difamar mutuamente. Os que estão imersos até às sobrancelhas,são os que se cumprimentavam mutuamente pelo caminho, mas que no secreto tramavam o mal contra o próximo. 32 – E eis que ao norte daquele lugar eu vi postos de variadas e distintas punições; ali também padeciam tanto homens quanto mulheres. E vi que um rio de fogo derramava suas águas sulfurosas sobre estes. Então olhei e vi diversos poços muito profundos e neles jaziam muitíssimas almas, e a profundidade daqueles abismos era de até três mil côvados. Ali escutei vozes que gemiam e choravam entre rangeres de dentes, as quais diziam: Senhor, tem misericórdia de nós! Porém, não havia quem delas se apiedasse. Dada esta razão, eu indaguei do anjo: Quem são estas pessoas, senhor? E ele me respondeu: Estas são as almas daquelas pessoas que clamaram a Deus, mas que não tiveram paciência de esperar por sua ajuda. Ao ouvir isso, eu observei: Senhor, se estas almas permanecerem por trinta ou quarenta gerações assim amontoadas umas sobre as outras, eu creio que os abismos acabarão ficando cheios, a menos, é claro, que estas almas sejam transportadas a um abismo ainda mais profundo. O anjo me disse então: Estes abismos são imensuráveis, e de outro modo, eles seguem para um fosso que está logo abaixo.É como se alguém atirasse uma pedra em um poço tão profundo que apenas depois de algumas horas ele viesse a tocar o solo; tal é esse abismo também. Assim, quando uma alma é arremessada para dentro de um destes abismos, ela atinge o fundo apenas depois de passados quinhentos anos. 33 – Após haver escutados estas coisas, eu chorei e lamentei pela raça humana. Porém, ao me ver chorando, eis que o anjo perguntou:: Por que choras? Acaso a tua compaixão é maior que a de Deus? Seria o caso de não saberes o quanto Deus é bom e que devido a esta bondade Ele espera pacientemente a fim de que os homens se arrependam e não entrem em condenação? E é por ser bom que Deus permite ao ser humano escolher o seu próprio destino durante os dias de sua vida sobre a terra. 34 – Eu olhei novamente para o rio de fogo e vi um homem que estava sendo estrangulado pelos anjos responsáveis pelo Tártaro, os quais tinham em suas mãos um tridente de ferro com o qual perfuravam as vísceras daquele homem idoso. Impressionado, eu perguntei ao anjo: Senhor, quem é este homem idoso no qual estão sendo aplicados tão severos tormentos? Ao que o anjo me respondeu: Aquele que tu viste é o presbítero que não cumpriu com o seu ministério legitimamente. Porque embora vivendo em comilanças, bebedeiras e fornicações, ele jamais deixou de pregar a palavra de Deus sobre o seu santo altar. 35 – Não muito distante dali, eu vi outro velhinho que estava sendo arrastado por quatro anjos maus, os quais o emergiam no rio de fogo até aos joelhos e depois o arremetiam contra as rochas; no mais, eles envolviam em um grande tumulto, afim de que a sua voz fosse abafada e não pudesse ser ouvido enquanto clamava por misericórdia. E eu perguntei ao anjo que estava comigo acerca de quem era aquele senhor, e ele me disse: O homem que agora vês foi um bispo que não executou o seu episcopado com a devida dignidade; ele de fato recebeu um grande título, porém, não viveu segundo a santidade que convém aos que ocupam tal cargo. Ele não obrou com justiça e nem teve compaixão de órfãos e de viúvas. Portanto, ele agora está sendo punido segundo o merecimento dos seus feitos. 36- Nisso, eu vi outro homem que estava sendo supliciado no rio cujas águas de fogo lhe davam nos joelhos. E eis que as suas mãos estavam sendo puxadas para fora do corpo, enquanto os vermes afluíam de sua boca e narinas. Ele gemia e chorava aos gritos, dizendo: Tem misericórdia de mim, que sofro mais do que todos os que estão sendo castigados! Fiquei abismado ante a cena, e, por isso, indaguei: Quem é este homem, senhor? Ao que ele me disse: esse a quem tu vês foi um diácono que comia do que era sacrificado aos ídolos, cometendo fornicação e não fazendo o que era reto aos olhos do Senhor. A sua pena é, portanto, ser atormentado dia e noite. Continuei olhando e vi ao seu lado um homem que foi apanhado por um tridente para ser atirado no rio de fogo, e, assim como outros, ele ficou imerso até aos joelhos. E veio o anjo que estava preparado para para executar aquele suplício, ele tinha uma lâmina flamejante com a qual lacerava os lábios daquele homem, e fazia o mesmo com a sua língua. Foi com um suspiro que eu chorei e perguntei: Senhor, quem é esse homem? E ele me disse: O homem que agora vês era um pregador que ensinava ao povo, mas que ele mesmo não se importava de viver em conformidade com aquilo que ele pregava. Agora ele está sendo atormenta, pois assim mereceram os seus feitos. 37- Ali mesmo eu vi um poço de abismo que estava no meio de um rio onde já estava uma multidão de homens e mulheres aos quais devoravam os vermes. Ao ver essa cena eu chorei, e com um suspiro falei ao anjo que me acompanhava: E estes, senhor, quem são? E ele me falou: estes são os que emprestavam com usura e que só confiavam em suas riquezas, desprezando assim a providência de Deus. Então olhei novamente e vi outro lugar, o qual era muitíssimo estreito, e eis que na sua extremidade havia algo como um muro de fogo. Nele eu vi uma multidão de homens e mulheres que mordiam a língua. Eu perguntei: Quem são estes, senhor? E ele me disse: Estes são daqueles que não reverenciavam a palavra quando estava sendo pregada na igreja, pois não prestavam atenção no culto e assim desprezavam a Deus e aos seus anjos.Eles praticavam os mesmos pecados, e é por isso que recebem a mesma punição. 38 – E olhei, e eis um buraco bem abaixo do abismo, e eis que dele jorrava algo semelhante ao sangue. E perguntei ao anjo: Senhor, que lugar é esse? Ele me respondeu prontamente: Este é o lugar onde todos os suplícios se misturam. Ali eu vi homens e mulheres que estavam , mergulhados até à altura dos lábios. Ao vê-los, perguntei: E estes, senhor, quem são? Ele me disse assim: Estes são os feiticeiros que usavam encantamentos sobre homens e mulheres, a fim de que estes não encontrassem a paz até ao fim de suas vidas. E logo após, eu vi uma multidão de homens e mulheres com as faces bastante enegrecidas, dentro do poço do abismo; e entre soluços eu falei ao anjo: Seria o caso de também me dizeres quem são estes? O anjo não me negou a resposta, mas disse: Estes são os fornicários e adúlteros, os quais, tendo suas esposas ou maridos, jamais deixaram de macular o seu próprio leito. Portanto, essa é a punição reservado aos que praticam tal pecado. 39 – Depois disso, vi umas moças que estavam trajando vestes negras, e quatro anjos terríveis que traziam cadeias de fogo em suas mãos. Eles vieram e puseram as cadeias em seus pescoços para em seguida atirá-las às trevas. Eu chorei novamente e supliquei ao anjo: Quem são estes, senhor? O anjo então me disse: Estas são aquelas que se faziam passar por virgens, embora houvessem se corrompido, desonrando seus pais. É por essa razão que estão padecendo particular infortúnio. Então olhei, e vi pessoas que estavam penduradas sobre um canal de águas e suas línguas estavam bastante ressecadas, e vi que havia abundância de frutas diante delas, mas as mesmas estavam impossibilitadas de tocá-las ou de comê-las. Vendo isso, perguntei: Quem são estas pessoas? Ao que me respondeu o anjo: Estes são os cristãos inconstantes, que quebravam o jejum antes da hora apropriada, e assim são penalizadas, pois estão sempre diante dos alimentos, mas sem poderem tocá-los jamais. Em seguida, vi outros homens e mulheres suspensos por suas sobrancelhas e cabelos, tendo abaixo o rio de fogo que os atraía. Vendo-os assim, eu perguntei: Podes me dizer quem são estes? Ao que ele me respondeu: Estes são aqueles se negavam aos seus cônjuges, a fim de se preservarem para o adultério. Para os tais também existe uma particular condenação. Nisso, vi ainda outros homens e mulheres que estavam cobertos de pó, e os seus rostos estavam vermelhos como o sangue, e eis que eles estavam em um poço (cheio de alcatrão?), e eles corriam em um rio de fogo. Eu logo perguntei ao anjo: Quem são eles? Ao que me disse: Estes são os que praticaram os costumes de Sodoma e de Gomorra, pois se uniram o homem com outro homem, e a mulher com outra mulher. Essa, portanto, é a pena que eles padecem incessantemente. 40- E logo olhei e avistei homens e mulheres que se vestiam com trajes de luz, porém, eles eram cegos, e estavam postos em um poço de fogo. Me voltei para o anjo e perguntei: Quem são eles, senhor? E ele me disse: Estes são os pagãos, os quais davam esmolas, mas que não conheceram a Deus. Eles também padecem em sua própria condenação. Passadas estas coisas, vi outros homens e mulheres encerrados em uma pirâmide ardente onde eram despedaçados por feras selvagens. Embora em tormentos, eles estavam proibidos de clamar pela misericórdia de Deus. E vi o anjo da condenação que lhes aplicava os mais duros suplícios, e dizia-lhes: Reconhecei que este é o juízo que vos dá o Filho de Deus! Porque vós fostes devidamente avisados, enquanto a divina palavra era pregada diante de vós, porém, não lhes deste atenção. Portanto, justo é esse juízo que vos faz o Senhor Deus; mesmo, as vossas más obras não merecem condenação que não seja essa! Todavia, eu lamentava e chorava. Pelo que falei: Quem são estes homens e estas mulheres que padecem em tal condenação? E o anjo me respondeu: Estas são as mulheres que corromperam a condição que Deus lhes tinha preparado, quando geraram filhos desde o ventre, e estes são os homens que se deitaram com elas. Entretanto, seus filhos reclamam perante Deus, e os anjos responsáveis por aqueles suplícios, dizem: Defende-nos de nossos pais, pois eles modificaram a natureza à qual Deus lhes tinha conformado; eis que eles de fato têm o nome de Deus, porém, não guardam os seus mandamentos! Eles nos deram por alimento aos cães, e para sermos pisados pelos porcos. Assim, eles arremessaram outros naquele rio, porém, aqueles filhos foram entregues ao anjo do Tártaro, o qual tem a responsabilidade pela aplicação das penalidades, e assim eles foram levados a um lugar de misericórdia. Quanto a seus pais e mães, foram encerrados em um lugar de eterna condenação. Mas depois disso, eu vi homens e mulheres vestidos de trapos embebidos de ácido sulfuroso, e vi que vieram serpentes que feriam os seus pescoços, ombros e pés. E havia uns anjos cujos chifres eram de fogo ardente que oprimiam àquelas pessoas, ferindo-as nas narinas, e dizia- lhes: Por que não reconhecestes o tempo que Deus vos deu para o vosso arrependimento e para servi-lo? Ouvindo isso, eu perguntei: E estes, senhor, quem são? E ele me disse: Eles são aqueles que fingiam ter renunciado o mundo, mas que, vindo as tribulações da vida, eles se tornaram miseráveis, de modo que jamais sentiram o verdadeiro ágape, e nunca tiveram compaixão das viúvas e dos órfãos, desprezavam os estrangeiros e aos peregrinos não acolhiam, porquanto eram incapazes de demonstrar qualquer ato de piedade ao próximo. De todas as vezes que oravam, não houve sequer uma ocasião em que a sua voz subiu pura aos ouvidos de Deus. O mais grave de tudo ainda te direi: eles viravam as costas para Deus quando vinham as tribulações da vida, e em tais ocasiões se tornavam tão amargos de espírito que não conseguiam praticar as menores obras de justiça. Então vi se aproximarem os anjos, os quais os levaram ao lugar de sua punição. E aqueles que já estavam sob a condenação no mesmo lugar, disseram, ao vê-los se aproximar: Estando nós ainda no mundo, negávamos o nome do Senhor e fomos negligentes quanto aos seus santos conselhos; mas vós, por que fizestes o mesmo? Dali eles foram levados a outro lugar, mas os que lá estavam também lhes falavam da mesma maneira: Nós, enquanto estávamos no mundo, tínhamos consciência de que éramos pecadores, e vos víamos vestidos de santidade, e dizíamos que ereis felizes, porquanto exaltávamos à vossa condição, dizendo: Estes são os justos, os santos servos de Deus! Porém, agora reconhecemos que vós usáveis o nome de Deus em vão e neste dia pagareis pelas vossas iniqüidades. Nesse instante eu chorei, e disse: Ai dos homens! Ai dos pecadores! Melhor vos teria sido se não tivestes vindo ao mundo! Mas o anjo me escutou, e por isso falou: Por que choras ainda? Continuas te achando mais misericordioso do que Deus, que é bendito para sempre e que tem preparado o juízo e permite que todos os homens escolham entre as boas e as más obras? Mas ao ouvir isso eu chorei mais veementemente. O anjo me disse, porém: Hei te mostrado as punições menores , e choras tanto; que farás quando te forem mostradas condenações ainda maiores? Segue-me, e verás que existem tormentos sete vezes maiores que estes. 41 – Então me conduziu ao norte, ao lugar de todas as punições, e ele me pôs acima de um poço que estava selado com sete selos. E o anjo que estava comigo falou ao anjo responsável por aquele lugar: Abre a boca do poço para que Paulo, o amado de Deus, possa olhar para dentro dele, porquanto Deus lhe tem dado autoridade para ver todas as punições comas quais são punidos os que jazem no submundo. Então me falou o guardião daquele lugar: Põe-te em pé à boa distância, pois tu não podes suportar o odor pútrido deste lugar. E sendo aberto aquele poço, eis que de imediato subiu um cheiro forte e mui desagradável, o qual era, na verdade, excedia todos os suplícios. E olhando eu para dentro do poço, vi algo como que umas massas que ardiam por todos os lados. E eis que a boca desse abismo era tão estreita que permitia apenas a passagem de um homem de cada vez. Nisso, o anjo me falou: Se acontecer de alguém ser lançado no poço deste abismo, nunca mais se fará menção dele diante do Pai, do Filho ou do Espírito Santo, ou mesmo do anjos. Eu lhe perguntei então: Mas senhor, que tipo de pessoas são lançadas nesse abismo? Ao que ele me respondeu: Para cá virão todos aqueles que não confessam que Cristo veio em carne e que foi nascido de uma virgem. Os que negam que o pão e o vinho da comunhão não são o corpo e o sangue do Senhor também virão para este lugar. 42 – Do norte, voltei o meu olhar para o oeste e lá vi os vermes que não morrem jamais. E eis que ali havia ranger de dentes, e ali os vermes tinham o tamanho de um côvado e cada um deles possuía duas cabeças. Ali eu vi homens e mulheres que choram e rangiam os dentes. E perguntei: Senhor, quem os que padecem nesse lugar? Ele me respondeu assim: Eles são os que negaram a ressurreição do Senhor. E eu falei novamente: Mas senhor, por que não existe nem fogo nem calor neste lugar? Ao que ele me respondeu: Neste lugar não existe outra coisa além do frio e da neve. E ainda que o sol se levantasse sobre os que aqui estão, nem assim poderiam morrer os seus vermes, porquanto o gelo deste lugar não pode ser desfeito jamais. Ao ouvir isso, eu estendi as minhas mãos e chorei entre lamentos, porque dizia: Melhor nos seria se nós, os pecadores, não tivéssemos vindo ao mundo. 43 – Entretanto, quando aquelas pessoas me viram chorando junto ao anjo, elas gritaram e também choraram, dizendo: Senhor Deus, tem misericórdia de nós! E logo depois, eu vi o céu aberto e o arcanjo Miguel que descia com um exército de anjos. Eles desceram até aos que estavam naquele lugar de tormento, o que, ao vê-los se aproximar, aquelas pessoas gritaram ainda mais alto: Tem misericórdia de nós, arcanjo Miguel! Tem piedade da raça humana, porquanto é grande o nosso clamor sobre a terra. E já agora havemos reconhecido as justiças de Deus e conhecemos o seu Filho! E em verdade confessamos que só viemos parar neste lugar porque antes disso não nos foi possível conhecer a justiça divina, porquanto jamais havíamos ouvido que depois da morte há um juízo. Ademais, a vida atribulada que tivemos não nos permitiu encontrar arrependimento. Mas assim lhes falou o arcanjo Miguel: Ouçam o que diz Miguel: Eu sou aquele que assiste na presença de Deus a todo instante. Vive o senhor, em cuja presença estou, que não há um só dia ou noite que eu não interceda pela raça humana. Mesmo assim, os homens não cessam de praticar iniqüidades e fornicações e não me ajudam, praticando boas obras que reforcem as minhas orações em seu favor. Quanto a vós, tivestes tempo suficiente para vos arrepender e praticar o que era reto aos olhos do senhor, mas preferistes viver segundo a vaidade do mundo. Eu, todavia, continuo intercedendo pelos homens, para que Deus lhes dê a chuva sobre a terra e ela não deixe de dar os seus frutos. No mais, asseguro que se alguém vier a praticar o que é bom, eu mesmo o protegerei e o ensinarei a escapar do juízo e da condenação.Mas onde estão as vossas orações? Onde foi parar o vosso arrependimento? Acaso não desperdiçastes o tempo que vos foi dispensado em vida? Portanto, agora vós chorais, e eu convosco choro, como também choram os santos anjos que estão comigo e com o amado Paulo, a ver se assim se apiedará de vós o misericordioso Deus. Havendo aquelas pessoas escutado tais palavras, eis que clamaram e choraram mais ainda, e disseram todos juntos: Filho de Deus! Tem misericórdia de nós! Então eu, Paulo, suspirei e disse: Senhor Deus, tem misericórdia daqueles que Tu criaste, e tem misericórdia dos filhos dos homens, pois são a tua imagem e semelhança! 44- Então olhei, e vi que os céus se moviam como uma árvore quando é agitada por um forte vento. Em seguida, vi os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes que adoravam a Deus diante do seu trono. Então vi o altar, e o véu e o trono, e eis que todos se regozijavam. E o cheiro de um bom incenso subia do altar que estava diante do trono de Deus, logo após, ouvi uma forte forte voz que dizia: Que razões tendes vós para louvar, ó anjos ministradores? Ao que eles responderam: Nós cantamos porque havemos visto a grande bondade de Deus para com a humanidade. Depois disso, vi o Filho de Deus que descia desde o céu, tendo uma diadema sobre a sua cabeça. Aconteceu que quando aqueles que estavam nos lugares de tormentos viram-no, eis que clamaram: Tem misericórdia de nós, Filho do Deus Altíssimo! Tu que tens dado repouso ao que habitam o céu, fazei o mesmo por nós, pois bastou que víssemos a tua glória e já um pouco de alívio se nos foi dado. Uma voz então saiu desde o trono do Filho de Deus, a qual dizia: Quais foram as tuas obras, para que me venhas implorar por alívio? Meu sangue derramei por amor de vós, mas nem assim vos arrependestes. Por amor de vós, recebi uma coroa de espinhos sobre a cabeça; foi por vós que suportei os bofetões na face, e nem isso foi suficiente para convencer-vos dos vossos pecados. Fui levantado sobre a cruz, e quando tive sede, vinagre me destes em vez de água, e como se não bastasse, fui perfurado do lado por uma lança. Por amor meu nome foram assassinados os meus servos, os profetas e justos, mas em todas estas coisas Eu dava oportunidade de arrepender-vos, mas vós não o aceitaste. Portanto, desde agora, por amor de Miguel, que é o anjo do meu pacto, e também dos anjos que estão com ele, nem como por amor ao amado Paulo a qual não pretendo entristecer, e por amor aos seus irmãos que estão no mundo, por amor aos seus filhos, visto que guardam os meus mandamentos, e até mesmo pela minha grande bondade, Eu prometo a vós que estais sendo punidos que darei uma dia e uma noite de repouso para sempre. A estas palavras, todos eles ergueram a voz de uma só vez e disseram: Nós te louvamos, ó Filho de Deus, porquanto nos prometes dar um dia e uma noite sem tormentos. E sabemos que para nós esse único dia de descanso há de ser melhor do que todos os dias de nossas vidas, pois se de antemão houvéssemos reconhecido que existe um lugar onde os pecadores são atormentados, decerto que teríamos evitado todas as más obras do mundo. Mas agora também entendemos: que necessidade teríamos de vir ao mundo? Porquanto, agora que o nosso orgulho foi quebrado, podemos compreender quão mal obrávamos quando abríamos a boca contra o nosso próximo. Agora, angústias e lágrimas, e estes vermes que estão sobre nós, os quais nos atormentam...(texto corrompido) Havendo eles dito estas coisas, os anjos maus e aqueles que estavam encarregados pelas punições ficaram furiosos, e disseram: Até quando chorareis e lamentareis? Não haverá misericórdia para vós, porquanto não se fará misericórdia àqueles que não foram misericordiosos. Mas agora vós recebestes esse grande favor – descansar dos suplícios por um dia e uma noite, porquanto assim vos faz o Senhor por amor de Paulo! 45 – Passadas estas coisas, o anjo me falou: Viste todas estas coisas? E eu respondi: Sim, senhor. E me disse ele então: Segue-me e eu te levarei ao Paraíso para que os santos que ali estão te possam ver, pois estão desejosos de te ver, e eis que já estão prontos para se encontrar contigo, pois que com grande exultação te aguardam. Foi impelido pelo Espírito Santo que eu segui o anjo e ele me arrebatou ao Paraíso, e em lá chegando me disse: Este é o Paraíso onde Adão e sua esposa pecaram. Assim, entrei no Paraíso e vi a nascente das águas. Ali o anjo acessou para mim e disse: Estás vendo estas águas? Esse é o rio Pison, o qual circunda toda a terra de Avilá, e esse outro é o Gion, o qual contorna as terras do Egito e da Etiópia. O terceiro rio é o Tigre, que corta a terra da Assíria, e o outro rio é o Eufrates, cujas águas banham as terras da Mesopotâmia. Seguindo adiante, vi uma árvore cujas raízes se banhavam no leito de um rio, e eis que daquela fonte fluíam as águas que formavam os quatro grandes rios. O espírito de Deus repousava sobre aquela árvore, e acontecia que, soprando o Espírito, eis que as águas jorravam da fonte. Então eu disse: Senhor, é essa árvore que faz com que jorrem as águas da fonte? E ele me respondeu: Não necessariamente, acontece que no princípio, antes de existirem o céu e a terra, já o Espírito de Deus repousava sobre esta fonte de águas, mas uma vez que pelo mandamento de Deus vieram a existir todas estas coisas, o Espírito veio repousar sobre essa árvore. Portanto, todas as vezes que o Espírito dá o seu sopro, as águas jorram da árvore. Dizendo isso, ele tomou a minha mão e me levou para ver a árvore do conhecimento do bem e do mal. E me falou: Essa é a árvore pela qual a morte foi introduzida no mundo; porque Adão, havendo recebido e comido do fruto que a sua mulher lhe deu, permitiu que entrasse no mundo a morte. Depois disso, ele me mostrou outra árvore, a qual estava no meio do Paraíso. E disse-me: Esta é a árvore da vida. 46 –Estando eu ainda admirando àquela árvore, vi uma virgem que vinha ao longe e duzentos anjos que cantavam diante dela. Perguntei ao anjo: Quem é esta que vem em tão grande glória? E ele me respondeu: Esta é a virgem Maria, mãe do Senhor. E havendo ela se aproximado de mim, eis que me cumprimentou: Paulo, amado de Deus, e dos anjos, e dos homens, eu te saúdo. Muitos santos têm implorado a meu filho Jesus, que também é meu Senhor, para que no corpo possam vir aqui, e assim possam te ver antes do teu regresso ao mundo. Mas o Senhor lhes tem dito: Esperai, e sede pacientes. Porque só mais um pouquinho de tempo e podereis vê-lo, pois estará convosco para sempre E eles novamente levantaram a voz em coro, e disseram: Não nos entristeças, porquanto muito desejamos vê-lo enquanto ainda está na carne, pois tem te glorificado grandemente com suas obras sobre o mundo, de modo que todas as vezes que os santos são trazidos para este lugar e lhes perguntamos: Quem vos ensinou o caminho do Céu? E eles prontamente respondem: Houve um homem chamado Paulo, o qual nos proclamou a Cristo, e nós o cremos. Por causa do poder e do testemunho de sua palavra, muitos têm entrado para o Reino. Portanto, Paulo, grande é o número de santos que vêm após mim e estão desejosos de te conhecer. Porém, eu afirmo que vim na frente a encontrar os que fizeram a vontade do meu filho e Senhor Jesus Cristo. Eu saio a recebê-los para que não compareçam como estranhos diante do Senhor e assim sejam recebidos em paz. 47 – Estando ela ainda a falar, eu vi se aproximarem três homens muito vistosos, se pareciam com Cristo, com formas radiosas e anjos que os rodeavam. E ao vê-los, eu disse: Quem são eles, senhor? Ao que ele me disse: Tu não os reconheces? E eu respondei: Não, senhor. Ele então me falou: Estes são os pais do povo: Abraão, Isaque e Jacó. Aconteceu que se aproximando eles de mim, eis que me cumprimentaram, e disseram: saudações, Paulo, amado de Deus e dos homens. Benditos és, pois suportaste a violência do mundo por amor ao Senhor. Abraão me disse: Esse é o meu filho Isaque, e o outro é o mui amado Jacó. Nós também havemos conhecido ao Senhor e o seguimos. Bem-aventurado é todo aquele que crê na sua palavra, para que possam ter direito à herança de Deus por meio das boas obras, e da renúncia, e da santidade, e da humildade, e do amor, e da bondade e da reta justiça em Deus. Nós também havemos nos devotado ao Deus ao qual tu pregas, e como atestado está, nós também serviremos ao santos que creem no Salvador, como os pais que servem aos seus filhos. Enquanto eles estavam a falar, eu vi outros doze que vinham com grande honra. E ao vê-los, eu falei: E estes , quem são? Assim ele me respondeu: estes são os patriarcas. Eles então pararam diante de me e me cumprimentaram, dizendo: saudações, Paulo, tu que és amado de Deus e dos homens. O Senhor nos deu a alegria de vermos-te enquanto tu ainda estás no corpo e antes de retornares ao mundo de onde vieste. E cada um deles veio, e segundo a ordem foram pronunciando os seus nomes, desde Rubem até Benjamin. Por fim, José me falou: Eu sou aquele que foi vendido, e afirmo que apesar de todo o mal que os meus irmãos fizeram contra mim, eu me guardei de lhes retribuir com o mal. Bendito é aquele que por amor ao Senhor padece injúrias e perseguições e as suporta, pois quando deixar o mundo, o Senhor o recompensará imensamente. 48- Ainda estavam a falar, quando vi que à distância vinha um varão que trajava vestes de gloriosa beleza. Quando o avistei perguntei ao anjo: Quem é este que se aproxima, cuja face está brilhando? Ele me respondeu: Tu não o reconheces? E eu lhe disse: Não, senhor. Logo, ele me explicou: Este é Moisés, o legislador ao qual Deus entregou a sua Lei. Porém, quando ele se aproximou de mim, eis que começou a chorar, mas me cumprimentou enfim. E eu lhe falei: Por que estás a chorar, tu que excedes a todos os homens em mansidão? Ao que ele me respondeu: Eu choro por aqueles que com dificuldades plantei, pois eles não deram nenhum fruto nem progrediram. Mesmo, tenho visto todas as ovelhas que pastoreei, e eis que hoje elas vivem como ovelhas que não têm pastor. Quanto ao meu labor e cuidado sobre Israel têm sido reputados por nada, porquanto não compreenderam nem creram nos grandes feitos que entre eles realizei. Por outro lado, estou maravilhado que os gentios e incircuncisos e os adoradores de ídolos tenham se convertido e entrado para as promessas de Deus, enquanto Israel está de fora. E eu te digo, irmão Paulo, que naquele momento quando o povo crucificou a Jesus, a quem tu pregas, Deus, o Pai de todos, que me revelou a lei, e Miguel e todos os anjos e arcanjos, e Abraão e Isaque e Jacó e todos os justos choraram. E naquele instante todos os santos se voltaram para mim e dissera: Vê, Moisés o que os do teu povo fizeram ao Filho de Deus. Portanto, bendito és tu, Paulo, e bendita é a geração e o povo que receberam a tua pregação. 49- Enquanto ele ainda falava, outros doze vieram, e quando me viram, disseram: És tu Paulo? Aquele que é reconhecido no céu e na terra? E eu respondi com outra pergunta: Quem sois vós? Um deles se antecipou, e me disse: Eu sou Isaías, aquele a quem o rei Manassés mandou cerrar ao meio com uma serra de carpinteiro. E o segundo me disse semelhantemente: Eu sou Jeremias, a quem os filhos de Israel apedrejaram até à morte. E o terceiro me disse: Eu sou Ezequiel, que fui pendurado pelos pés sobre uma montanha de modo que a minha cabeça ficou a bater sobre as rochas. Nós suportamos todos estes sofrimentos simplesmente por havermos desejado salvar a Israel. E eu afirmo-te que mesmo depois dos sofrimentos que os filhos de Israel me causaram, eu lancei a minha face em terra perante o Senhor e orei por eles, e estive de joelhos até que Miguel veio e me ergueu. Bendito és tu, Paulo, assim como são benditos aqueles que por teu intermédio têm entrado para o Reino. Depois que eles passaram, eu vi achegar outro cujo rosto estava tomado de grande beleza. Então perguntei: Quem é ele, senhor?. O anjo, porém, me falou: Este é Ló, o único homem justo em Sodoma. E quando o mesmo me viu, eis que sorriu com grande alegria, e se aproximando de mim, falou: Bendito és tu, Paulo, e bendita é a geração à qual tu tens servido! Porém, eu lhe perguntei: És tu Ló, que foste encontrado justo em Sodoma? Ao que ele me disse: Eu recebi anjos de Deus na minha casa como a forasteiros, e quando os habitantes daquela cidade se reuniram para violentá-los, eu lhes ofereci minhas duas filhas virgens, dizendo-lhes: Usem-nas como bem quiserem, porém, não façais nenhum mal a estes homens, porquanto estão hospedados sob o teto da minha casa. Portanto, deve-se ter confiança, e crer que se alguém faz o bem, Deus o retribuirá muitíssimas vezes. Bendito és tu, Paulo, e bendita é a geração que creu na tua palavra. Terminando ele de falar, vi se aproximar um homem que sorria. E vi anjos que o acompanhavam cantando hinos. Então falei ao anjo que estava comigo: Cada justo tem um anjo que o acompanha? Ele me disse: Cada um dentre os santos tem o seu próprio anjo que o ajuda e canta um hino, e aonde um vai, o outro o segue. Eu disse: Quem é ele, senhor? Me respondeu o anjo: Este é Jó. Assim, ele se aproximou e me cumprimentou, dizendo: Irmão Paulo, eis que grande é a tua honra perante Deus e os homens. Eu sou Jó, aquele que durante trinta anos sofri, vendo apodrecer a minha pele com feridas e pus. No começo as chagas vieram ao meu corpo como se fossem grãos de trigo, mas ao terceiro dia já eram do tamanho da pata de um asno, e quão grandes eram os vermes que me atormentavam! Como se não bastasse, o demônio apareceu para mim três vezes e me disse: Amaldiçoa logo o teu Deus e morre! Mas eu lhe respondi desta maneira: Se for da vontade de Deus que eu esteja nessa aflição até ao dia da minha morte, ainda assim eu o louvarei, pois tenho certeza de que Ele me recompensará. Porque eu sei que os sofrimentos do mundo nada são se comparados à consolação que presto virá. Portanto, Paulo, bendito és tu, e benditos os homens que creram através da tua pregação. 50- Ele ainda estava a falar, quando vi que vinha um homem a gritar: Bendito és tu, Paulo, e bendito sou eu, porquanto hoje te vejo, ó amado do Senhor! Vi-o, e perguntei ao anjo: Quem é ele, senhor? O anjo me respondeu: Esse Noé que sobreviveu ao dilúvio. E logo em seguida nos cumprimentamos, e foi com grande alegria que ele me disse: Tu és Paulo, aquele a quem Deus ama! E eu lhe perguntei: Quem és tu, meu irmão? Ao que ele me disse: Eu sou Noé, aquele que viveu na época da grande inundação do mundo. Eu te direi, Paulo, que durante cem anos da minha vida estive dedicado à construção da arca e durante todo esse tempo eu não mudei a roupa do meu corpo nem deixei cortar os cabelos da minha cabeça. E da mesma maneira eu me comportava em relação à minha esposa, pois me abstive de minhas obrigações conjugais. Durante aqueles cem anos o cabelo não me cresceu sobre a cabeça, nem se sujaram as minhas roupas sobre o corpo. Todo o tempo eu me esforçava para convencer os homens, dizendo-lhes: Arrependei-vos, a fim de que não pereçais sob o dilúvio que presto virá sobre os homens! Mas eles me ridicularizavam e faziam pouco das minhas palavras. No mais, eles ainda me provocavam, dizendo: Melhor tempo não há para se divertir e para cometer toda a sorte de pecados, pois Deus não vê e não sabe das coisas que entre nós estão acontecendo! E agora só nos falta essa de acreditar que Ele enviará um dilúvio de águas sobre o mundo para punir-nos por nossas obras de iniqüidade! Assim eles procediam, e não se arrependeram, até que Deus enviou o dilúvio com o qual destruiu toda a carne na qual havia espírito de vida. No entanto, sei que Deus se importa mais com um justo do que com uma geração inteira de pecadores incorrigíveis. Portanto, tu, Paulo, és bendito, assim como é bendito o povo que creu na palavra da tua pregação. 51 – E me voltei a tempo de ver outros justos e santos que vinham se aproximando. Ao percebê-los, indaguei ao anjo: Quem são estes, senhor? E ele prontamente me respondeu: Estes são Elias e Eliseu. Logo eles se acercaram de mim e me saudaram. Eu perguntei a um deles: Quem és tu? E assim me respodeu ele: Sou Elias, o profeta de Jeová. Tu me conheces, pois eu sou aquele que orou a Deus pedindo-lhe que por três anos e meio não houvesse chuva sobre a terra. Quanto a Deus, que atendeu a oração desse servo, é Justo e Verdadeiro, pois naquele tempo os anjos suplicaram-lhe para que a chuva voltasse a cair sobre a terra, mas o Senhor lhes disse para serem pacientes e esperassem até que o seu profeta orasse novamente, pedindo-lhe que enviasse a chuva.
Se formos pacientes e suportarmos as tribulações do
mundo por amor a Deus, Ele certamente nos recompensará com o dobro de bênçãos. Bendito és tu, Paulo, e bendito é o povo que creu através da tua pregação. Assim, ele se foi, e o justo Enoque veio me cumprimentar, dizendo: Se um homem suportar as adversidades da vida por amor a Deus, o tal não será esquecido quando enfim tiver de deixar esse mundo para estar na eternidade. Ele prosseguiu falando, e eis que vieram outros dois e mais um que vinha logo atrás, gritando: Esperai por mim, a fim de que juntos possamos ver a Paulo, esse homem ao qual Deus ama! Acaso não sabeis que ele há de ser tirado de nós? Bom nos será vê-lo enquanto ainda está no seu corpo! Nisso, eu falei ao falou: Meu senhor, quem são estes? E ele me disse: Este é Zacarias e o outro é o seu filho João Batista. Mas ainda falei ao anjo: E aquele outro que vem correndo após eles, quem é? O anjo me disse assim: O terceiro homem é Abel, que foi assassinado por Caim. Os três se reuniram e vieram me saudar, dizendo: Bendito és tu, Paulo, pois és justo em todas as tuas obras. João disse: Eu sou aquele cuja cabeça foi decepada na prisão a pedido de uma mulher que dançava durante um banquete. Depois veio Zacarias e disse: Eu sou aquele que foi morto enquanto ofertava sacrifícios a Deus. E quando os anjos vieram ao lugar do sacrifício, eles tomaram o meu corpo para apresentar a Deus, de modo que até hoje ninguém sabe onde o meu corpo foi sepultado. Nisso, veio Abel e falou: Eu fui assassinado por Caim enquanto apresentava a minha oferta a Deus. Todos os sofrimentos que suportamos por amor ao Senhor nós os reputamos como nada, pois já não nos afetam.
Depois disso, vieram os justos e os anjos e se
acercaram de mim, e eis que eles estavam radiantes de alegria por haverem me contemplado ainda no meu corpo animal. Mas vi ainda outro salvo que desfrutava daquela glória e beleza. E ao vê-lo, perguntei ao anjo: Quem é este, senhor? E ele me disse; Este é Adão, o pai da raça humana. Havendo ele o declarado, eis que Veio Adão e me saudou com imensa satisfação. Ele me disse: Tende bom ânimo, Paulo, tu que que levaste uma incontável multidão de homens e de mulheres à fé em Deus pelo arrependimento, tal como eu mesmo, que pequei, mas que encontrei o favor divino ao me arrepender.
ADENDO
Depois disso, o anjo do Senhor me tomou e me trouxe ao
Monte das Oliveiras. Assim, eu, Paulo, fui me reunir com os apóstolos. Eu os cumprimentei e depois lhes relatei todas as coisas que me haviam acontecido, bem como aquilo que eu vira em relação à recompensa dos justos e à condenação dos ímpios. Os apóstolos me ouviram e ficaram tomados de mui grande alegria, pelo que louvaram a Deus, e eles mesmos concordaram em que Marcos e Timóteo, meus auxiliares anotassem em um livro as palavras desta revelação para edificação e consolo de todos quantos o lerem ou ouvirem. E aconteceu que estando os apóstolos a falar conosco, apareceu o Salvador em uma carruagem com querubins, e Ele nos disse: Saudações, santos discípulos aos quais hei escolhido e enviado ao mundo! Saudações, Pedro, coroa dos apóstolos! Saudações, João, meu amado! Saudações a vós, meus santos apóstolos! Que a paz de meu pai seja convosco.
Depois disso, Ele firmou o olhar sobre os pais e disse-
lhes: Saudações, Paulo, honrado autor de tantas epístolas! Saudações, Paulo, mediador do santo concerto! Saudações, Paulo, teto e fundação da igreja. Desde agora estás cheio de convicções a respeito de tudo o que te foi mostrado? Já está convencido de tudo quanto escutaste?
E eu respondi: Sim, meu Senhor, porquanto a tua
graça e o teu amor me têm feito um mui grande bem. O salvador então me falou: Ó Paulo, amado do Pai, Eu te digo que tudo o que te foi mostrado nesta revelação deve ser escrito em um livro e posto como testemunho para as gerações que ainda virão, a fim de que os homens saibam o que se passa no submundo com suas amarguras e lágrimas. E há de ser que todo aquele que o ler com fé, Eu o abençoarei em toda a sua casa. Porém, se alguém não o crer e ainda escarnecer das palavras deste apocalipse, Eu o castigarei. E os homens não o entenderão até que se passem os dias, porquanto nele te foram revelados os mistérios da minha divindade. Eis que Eu já os tenho tornado conhecidos diante de ti. Portanto, agora vai, e prega o Evangelho do meu Reino, pois em verdade se aproxima o final do teu caminho. No entanto, tu mesmo, meu escolhido, concluirás a carreira que te foi proposta e o amado Pedro seguirá o mesmo caminho, ao dia cinco do sexto mês e assim estarás no meu Reino para sempre. O meu poder será sobre ti.
Logo em seguida, Ele ordenou às nuvens para que
tomassem os discípulos e lhes mostrassem como estariam divididos os países do mundo de acordo com a missão evangelizadora de cada um deles. Foi assim que eles saíram a pregar o Evangelho do reino do Céu em toda parte. Sim, eles saíram a pregar, movidos pelo amor que Jesus Cristo, nosso Senhor, tem pelas almas dos homens. A Ele seja a glória, e ao seu gracioso Pai, e ao Espírito Santo para todo o sempre.