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Apocalipse Copta de Paulo - Obra completa

Esta é a revelação do Santo Apóstolo Paulo a respeito das


coisas que lhe foram reveladas quando ele foi transladado
ao terceiro céu, e ao Paraíso de Deus , e ouviu palavras
inefáveis que não podem ser compreendidas pelo homem
natural .

1-Durante o consulado de Teodósio Augusto o Jovem, e do


venerável Graciano, certo homem que vivia em Tarso, na
casa que antes havia pertencido a Paulo, um anjo apareceu
a ele à noite e entregou-lhe uma revelação e ordenou que
ele desfizesse os fundamentos da casa e a reconstruisse de
acordo com o que lhe seria mostrado. Porém, ele imaginou
que estivesse sonhando.
2- Mas o anjo insistiu, e apareceu-lhe a segunda e a
terceira vezes, ordenando-lhe a revolver os alicerces da
casa, e enquanto ele a escavava, encontrou uma caixinha
de mármore que continha a revelação de Paulo, bem como
as sandálias que ele costumava usar quando saía para
ensinar a Palavra de Deus. Esse homem ficou muito
apavorado, de sorte que tomou a caixa e foi mostrá-la ao
mandatário da cidade. Aconteceu que, quando o
magistrado a recebeu, imediatamente a enviou ao
imperador Teodósio, selada como estava com um lacre de
chumbo, pois temia que o seu conteúdo pudesse ser mais
importante do que parecia. E, abrindo-a o imperador,
descobriu que nela havia a Revelação do Apóstolo Paulo. E
o imperador mandou que fizessem uma cópia e enviou o
manuscrito original para Jerusalém. E nele estava escrito
assim:
3- A palavra do Senhor veio a mim, dizendo: Dize a este
povo: Até quando pecareis, e adicionareis culpa ao vosso
pecado para provocar a ira de Deus, que tendo-vos criado,
agora diz: Vós dizeis serdes filhos de Abraão, mas fazeis as
obras de Satanás, e prosseguis falando mal contra Deus,
gloriando-vos em vossos discursos? A palavra de Deus está
sempre nos vossos lábios, e ainda assim sois miseráveis,
porquanto estás conformados à vossa vã maneira de viver.
Saibais disto, que toda a natureza se sujeita a Deus, mas os
filhos dos homens vive a pecar, provocando assim a ira do
Senhor.
4 – O sol que tantas vezes vos dá a luz me tem dito: Ó
Senhor Todo-Poderoso, como me aflige testemunhar as
iniqüidades e injustiças dos homens! Permita-me tratá-los
segundo as suas obras e deixes que os abrase com o meu
calor a fim de que reconheçam que apenas Tu és Deus. E
eis que saiu uma voz a dizer: Eu sei todas estas coisas, pois
os meus olhos vêem e os meus ouvidos ouvem, mas pela
minha paciência espero até que se arrependam e se
convertam. Todavia, Eu os julgarei se não tornarem para
mim.
5 – Do mesmo modo, a lua e as estrelas muitas vezes se
curvam diante do Senhor, e dizem: Ó Senhor Todo-
Poderoso, Tu nos deste poder sobre a escuridão. Até
quando testemunharemos as impiedades, fornicações e
assassinatos que os homens cometem durante a noite?
Permita-nos tratá-los de acordo com o que eles merecem e
assim hão de saber que só Tu és Deus. E eis que
novamente saiu a voz que eu havia escutado, a qual dizia:
Todas estas coisas são do meu conhecimento, pois os meus
olhos as vêem, e os meus ouvidos as escutam, mas pela
minha paciência tenho esperado que se arrependam e se
convertam. Mas se não se arrependerem, eis que com
juízos virei sobre todos eles.
6 – O mar também tem gritado, e com a sua voz tem
protestado: Ó Senhor Todo-Poderoso, os homens têm
profanado o teu nome. Dê-me a permissão e levantarei as
minhas ondas de modo a cobrir a vastidão da Terra; assim
varrerei essa geração pecadora de diante da tua face. Mas
eis que escutei uma voz a dizer: Eu sei de tudo o que está
acontecendo, porque os meus olhos vêem e os meus
ouvidos ouvem tudo, mas na minha longanimidade espero
até que se arrendam e se convertam a mim. Mas se não se
arrependerem, Eu os castigarei. A Terra também clamam
ao Senhor contra a raça humana, dizendo: Ó Senhor Todo-
Poderoso, eis que sofro mais do que todas as coisas
criadas, porque é sobre mim que são praticadas todas as
fornicações, e adultérios, e assassinatos, e roubos, e falsos
juramentos, e feitiçarias, e bruxarias dos homens, e todo o
mal que eles cometem, de modo que o pai se levanta
contra o filho, e o filho se levanta contra o pai; o estranho
se arma contra outro estranho, e cada um cobiça a mulher
do seu próximo. O pai profana o leito do filho, e o filho
igualmente se deita na cama do seu pai, e até aquele que
oferece os teus sacrifícios tem contaminado a tua casa com
atos impuros. Portanto, eu sofro mais que toda a criação, e
embora contra a minha vontade, ainda os abençoou com o
trigo e todos os bons frutos da terra. Mas se Tu me
permitires hei de negar-lhes o sustento de pão. Nisso saiu
uma voz que dizia: Eu bem sei de todas estas coisas,
pois não há ninguém que possa ocultar de mim os seus
ocultar os seus pecados. Mas a minha santidade há de
esperar até que se arrependam. E se eles não se
converterem então entrarei com eles em juízo.
7- Sabei então, ó filhos dos homens: toda a natureza teme a
Deus, vós, porém, não quereis vos sujeitar-vos a Ele.
Portanto, sabei que as misericórdias do Senhor são
imensuráveis todo o tempo, especialmente ao entardecer,
porque é neste momento que os anjos comparecem diante
do Senhor para louvá-lo e e contar sobre os feitos dos
homens, sejam estes feitos bons ou maus.Por isso então vos
digo: temei a Deus e bendizei-o a todos instante, pois a sua
misericódria não tem fim.
8- Portanto, é nessa determinada hora que todos os anjos
comparecem diante de Deus, para adorá-lo. É nesse
momento que vem a voz do Espírito e diz aos anjos: Que
novas me trazeis desde o mundo dos homens?
9- E em resposta eles dizem: Eis que viemos daqueles que
por amor do teu Nome têm renunciado o mundo, ali vivem
como estranhos, habitando em cavernas e rochedos. Estes
são os que choram sobre a terra, pois padecem sede e
fome por amor ao teu Nome. Eles trazem os lombos
cingidos e em seus corações ofertam um incenso de louvor,
eles oram e bendizem a todo instante e assim aliviam a
aflição da carne. Eles choram e lamentam mais do que
todos aqueles que habitam sobre a Terra. E nós também
lamentamos com eles até que venha o tempo da
recompensa dos justos. Então veio a eles a voz de Deus,
dizendo: Eis que desde agora a minha graça é derramada
sobre vós, e o socorro sobre aqueles que são do meu
Amado Filho. Ele os guiará em todo o tempo e lhes servirá
e não os desamparará, embora vivam nas cavernas da
Terra. Já os tenho guardado e ainda os guardarei no meu
reino, onde nenhum mal os tocará.
10 – E havendo estes anjos saído, eis que vieram outros
para adorar na presença da Majestade. Espírito de Deus
veio até eles, a voz de Deus lhes falou: Que pesares
acodem aos santos de onde vós viestes? E eles
responderam ao Senhor: Eis que viemos de entre aqueles
que invocam o teu Nome e que se dizem cristão, os que
vivem de acordo com o mundo e tornam-se miseráveis por
jamais fazerem a ti uma oração sequer. Por que devemos
nós viver em companhia de pessoas tão pecadoras? Então
veio a eles a palavra do Senhor, dizendo: Deveis servi-los
até que se arrependam e convertam. Mas se não se
converterem, então Eu os julgarei.Sabei então, ó filhos dos
homens, que os anjos reportam diante de Deus todas as
obras que vós praticais, sejam elas boas ou más.
11 – E depois disso eu vi um dos seres espirituais que
estavam ao meu lado, e ele me tomou em espírito e me
levou ao Terceiro Céu. Então ele me disse: Segue-me, e eu
te mostrarei o lugar para onde são trazidos os justos depois
que eles morrem. Depois te levarei ao abismo e te
mostrarei as almas dos pecadores e o tipo de lugar ao qual
são conduzidos depois que eles morrem. Então acompanhei
o anjo e ele me levou ao Céu e me mostrou o firmamento e
todas as suas potestades, e a negligência a qual engana e
seduz os corações dos homens, e o espírito da calúnia, e o
espírito da fornicação, e o espírito da ira, e o espírito da
presunção, todos eles estava ali. Os principados do mal
estavam ali. Eu os vi debaixo do firmamento do Céu. E
novamente olhei e vi anjos cruéis, espíritos vorazes; suas
faces eram furiosas e das suas bocas sobressaíam os
dentes; seus olhos flamejavam como a estrela da manhã
que brilha no oriente, e dos seus cabelos e das suas bocas
saíam faíscas de fogo. Então perguntei ao anjo que estava
comigo: Quem são estes? E o anjo me respondeu: Estes são
indicados para as almas dos ímpios quando eles mais
precisam, pois não creêm que o Senhor seja o ajudador
daqueles que Nele confiam.
12 – Nisso olhei para o alto e vi outros anjos cujas faces
resplandeciam como o Sol; eles usavam grinaldas de ouro e
tinham palmas em suas mãos e também possuíam o sinal
de Deus. E eles usavam vestes nas quais estava escrito o
nome do Filho de Deus; cheios de bondade e piedade.
Então falei ao anjo que me conduzia: E estes, quem são? E
por que possuem tanta beleza e piedade? E o anjo me
respondeu: Estes são os mensageiros da justiça. Eles são
os que conduzem as almas dos justos na hora de sua maior
necessidade, pois aceitaram o Senhor com ajudador das
suas almas. Então eu lhe falei: Precisam os justos e os
ímpios igualmente apresentarem as suas testemunhas
depois que eles morrem? Ao que o anjo me respondeu:
Não há nenhum meio pelo qual o homem possa escapar de
Deus, todavia, os justos têm um Santo Ajudador, pelo que
não encontrarão problemas quando tiverem de comparecer
perante Deus.
13 – Então novamente falei ao anjo: Eu desejo ver as almas
dos justos e dos pecadores no momento em que elas são
tiradas do mundo. Então o anjo me falou: Olhe para a Terra
lá em baixo. E eu fiz como ele me ordenou e vi que o
mundo inteiro era como nada perante a minha vista. E
vi quão banais são os filhos dos homens. Eu estava
bastante admirado, pelo que falei ao anjo: É esta a
grandeza humana? E ele me respondeu, dizendo: Sim, e
esta é a sua vida desde a manhã até ao entardecer. Então
olhei novamente e vi uma grande nuvem de fogo que ia
cobrindo toda a face da Terra, e disse ao anjo: O que é isto,
senhor? E ele me falou: Esta é a grande injustiça que vem
sendo trabalhada para levar os homens à destruição.
14 – Ao ouvir isso, eu suspirei e chorei; e falei ao anjo:
Gostaria de esperar para ver as almas dos justos e as almas
dos pecadores a saber que caminho elas tomam depois que
deixam o corpo. O anjo me falou: Olhe outra vez para a
Terra lá em baixo. Então olhei e vi toda a vastidão do
mundo, e eis que os homens eram como nada perante os
meus olhos. E continuei a observar até que descobri um
homem a um canto da Terra. Então o anjo me falou: Este
homem que vês é um justo. Eu continuei a olhar e vi todos
os feitos que esse homem havia praticado em nome de
Deus; e todos os seus desejos, os que ele se lembrava e os
que ele já havia se esquecido; tudo estava perante ele no
momento em que a sua alma abandonou o corpo. Eu notei
que os justos prosperavam e encontravam refrigério nessa
hora, e que tão logo eles deixavam este mundo os anjos do
bem e os anjos do mal vinham estar juntamente ao lado
deles. Eu via todos eles, porém os anjos do mal não tinham
nenhuma autoridade sobre os justos, mas os santos anjos,
sim, estes podiam conduzir as suas almas depois que elas
abandonavam seus corpos. Eles apresentavam estas almas,
dizendo: Alma, toma conhecimento do corpo ao qual tu
deixaste, porque no dia da ressurreição deverás retornar a
este mesmo corpo a fim de que recebas o que foi prometido
aos justos. Então eles recebem a alma que deixou o corpo e
a osculam como se fossem velhos conhecidos, e dizem-lhe:
Eis que cumpriste a vontade de Deus durante o tempo em
que estiveste no mundo, portanto, sê de um bom coração.
E o anjo que a assistia a cada dia veio encontrá-la, e disse-
lhe: Sê de um bom coração, pois afirmo que me alegro
sobre ti por haveres feito a vontade de Deus sobre a Terra.
E eu mesmo tenho reportado quais têm sido as tuas obras.
E do mesmo modo o espírito avançou para encontrá-la, e
disse: Alma, não temas nem te perturbes, pois hás de ir a
um lugar ao qual jamais conheceste, e eu serei o teu
ajudador, visto que encontrei em ti um lugar de refrigério
enquanto estive contigo sobre a Terra. Então seu espírito
se encheu de força e o anjo o tomou e o elevou ao Céu.
Nisso o anjo lhe falou: Eis que a ti virão os espíritos do mal
que povoam as regiões celestiais. São espíritos do engano
que hão de dizer-te: Alma, que fizeste para mereceres o
Céu? Espera, pois veremos se em ti não há alguma coisa de
nós. Então a alma ficou detida ali, pois houve uma grande
luta entre os anjos do bem e os anjos do mal. Porém,
quando os espíritos do enganos examinaram aquela alma,
eis que gritaram com forte voz: Eis que não encontramos
nada de nós em ti! E, além do mais, todos os anjos e
espíritos saíram em teu socorro e não permitem que nos
apossemos de ti, portanto estás livre para passares de nós.
Mas em seguida veio outro espírito, um espírito de calúnia
e um espírito de fornicação, e eis que ficaram parados
diante daquela alma. E quando a viram, choraram e
disseram: Como puderam arrebatar esta alma das nossas
mãos? Ela deve ter cumprido a vontade de Deus sobre a
Terra e por isso os seus anjos a ajudam, permitindo que
passem por nós sem ser incomodada. Então todos as
potestades do mal saíram a encontrá-la, mas não puderam
evitar que ela subisse, pois não encontraram nenhum dos
seus defeito sobre ela. Pelo que rangiam os seus dentes
contra essa alma, dizendo: Como pudeste escapar de nós?
Nisso o anjo que a conduzia lhes respondeu: Tornai-vos em
confusão, pois usaste de toda a vossa astúcia para arrastá-
la ao mal; vós a tentaste de todas as formas enquanto
esteve no mundo, mas ela não quis dar-vos ouvidos. Então
ouvi a voz de miríades de miríades de santos anjos que
diziam: Alegra-te e exulta, ó alma, sê forte e não temas
coisas alguma. E eles estavam muito admirados que aquela
alma tivesse sustentando o sinal do Deus Vivo. Assim eles a
enconrajavam e chamavam-na bem-aventurada e diziam:
Muito nos alegramos em ti, pois fizeste a vontade do nosso
Deus. Então eles mesmos a conduziram para que pudesse
adorar a Deus em sua presença. E tão logo eles cessaram
de adorar, eis que veio Miguel e todas as hostes de anjos, e
se prostraram para apresentar a alma, dizendo: Este é o
Deus de todos, o qual os fez a sua imagem e semelhança.
Nisso apareceu um anjo que se adiantou a dizer: Senhor,
lembra-te dos seus feitos, pois esta é a alma cujos feitos te
foram reportados a cada dia, agindo segundo os teus
juízos. E do mesmo modo outro espírito dizia: Eu sou o
espírito da vivificação que lhe dava o fôlego. Eu tive
refrigério enquanto habitei o seu corpo, de modo que pude
me comportar segundo os teus santos preceitos. Então se
ouviu a grande voz de Deus que dizia: Assim como esta
alma não me fez agravo, Eu também não a agravarei; ela
usou de compaixão, então Eu serei compassivo com ela.
Deixai então que Miguel, o anjo do concerto a conduza ao
Paraíso da felicidade, a fim de que possa permanecer ali
até ao dia da ressurreição. Então escutei a voz de milhares
de anjos, arcanjos e querubins, e os vinte e quatro anciãos
que entoavam hinos a Deus, dizendo: Justo és tu, Senhor, e
justos sãos os teus julgamentos. Em Ti não há aceitação de
pessoas, pois retribuis aos homens segundo os seus feitos
merecem. Depois destas coisas o anjo me falou: Tens tu
crido e compreendido tudo o que vos acontece depois que
a alma abandona o corpo, e que Ele vos assiste nesta hora
de necessidade? E eu lhe respondi: Sim, Senhor.
15- Nisso Ele me disse: Olhe novamente para a terra lá em
baixo e espere para ver outra alma de um homem ímpio
que está deixando o corpo. Trata-se de um homem mau que
viveu a provocar a ira do Senhor noite e dia, porque dizia:
Eu não conheço outro mundo além deste; é por isso que eu
como e bebo e aproveito tudo o que existe aqui. Por que
quem foi que desceu ao inferno e depois voltou para provar
que ali as almas são atormentadas? E eu olhei e vi todo o
escárnio deste pecador diante de tudo o que ele tinha
praticado e como agora se comportava na hora de sua
morte. Eu que notei que aquela hora estava sendo mais
amarga do que o seu futuro julgamento, porquanto ele
assim se lastimava: Ó, qual tem sido a minha vida no
mundo! Desde então vi se aproximarem os anjos, bons e
maus, e aquela alma pecadora também os via se aproximar,
mas os santos anjos não haviam encontrado lugar no seu
coração, pelo que os anjos maus possuíam totais poderes
sobre ela. E aconteceu que enquanto os anjos maus
arrancavam aquela alma do corpo, eis que os anjos de
Deus lhes falaram por três vezes, dizendo: Miserável alma,
olha agora para o corpo ao qual hás de abandonar, porque
no dia da ressurreição tu terás de retornar a esta carne
para receberes a paga pelos teus feitos de impiedade!
16 – E quando eles a deixaram, eis que o seu anjo
particular lhe falou: Miserável alma, eu sou o anjo que te
acompanha e que reportava perante o Senhor todas as
obras impuras que praticavas dia e noite. E eis que te digo
que se dependesse de mim eu não teria te assistido um
único dia da tua vida. Porém, não está no meu poder
decidir sobre estas coisas. Deus é o misericordioso e justo
Juiz e ordenou a que eu não te abandonassem nem por um
momento, a fim de que algum dia tu viesses ao
arrependimento. Mas eis que hoje tenho me libertado de ti
e já te sou um estranho, e tu também te tornaste um
estranho para mim. Que venha então o justo Juiz.
Então o espírito se afligiu e o anjo se perturbou, porque
enquanto ele (a alma?) se preparava para entrar no Céu,
eis que foram- lhe lançados fardos sobre fardos. Porque o
Erro, a Negligência e o espírito da Fornicação e o os
demais espíritos o encontraram e disseram: Aonde pensas
que estás indo, alma pecadora? Por acaso pensas que
entrarás no Céu? Pare aí mesmo e deixe-nos ver se tu não
nos pertence, pois já notamos que não existe nenhum santo
ajudador contigo.
E havendo eles o examinado, eis que se alegraram
grandemente, e disseram: Mas é claro! Tu nos pertences
totalmente. Agora sabemos que nem o teu anjo será capaz
de te arrancar das nossas mãos.
Porém, o anjo respondeu: Saibas que esta alma foi feita a
imagem de Deus, e eu hei de deixar a imagem de Deus nas
mãos do diabo. Porque aquele que me susteve durante
todos os dias de vida desta alma pode sustê-la ainda e eu
não a abandonarei até que ela suba até o trono de Deus lá
no alto. Quando Ele a vir, há de decidir segundo a sua
vontade.
Logo em seguida eu escutei vozes desde os céus, que
diziam: Pobre e miserável alma, apresenta-te ao Senhor,
para que conheças o Deus ao qual tu desprezaste. E
havendo ela adentrado ao Céu, eis que milhares de anjos
se lamentaram ao vê-la, e em uma voz exclamaram: Ai de
ti, miserável alma, por causa das obras que praticaste
sobre a terra! Que hás de responder a Deus, quando enfim
estiveres na sua presença? E o anjo que a acompanhava
disse: Lamentai comigo, servos do Senhor, pois não
encontrei boa morada junto desta alma! Ao que os outros
anjos responderam: Aparta esta alma do nosso meio,
porque a sua presença tem contaminado este ambiente.
Então aquela alma foi conduzida à presença de Deus e o
anjo mostrou-lhe o Senhor que a havia criado segundo a
sua imagem e semelhança. Em seguida, o anjo que a
conduzia correu adiante e falou: Deus Todo-Poderoso, eu
sou o anjo que assistia esta alma e que reportava os seus
feitos dia e noite. Eis que ela não se comportou segundo os
teus mandamentos. Portanto, agora, lida com ela conforme
os teus justos julgamentos. E da mesma maneira dizia o
espírito: Eu sou o espírito que habitava o seu corpo, mas
ela nunca obedeceu a minha vontade. Por isso, julga-a,
Senhor, segundo a tua justiça.
Então ouviu-se a voz de Deus, que dizia: Que tens tu feito
com todas as boas dádivas que te foram dadas desde a tua
criação? Acaso tenho Eu te negado os favores dispensados
aos justos? E não tenho Eu feito o sol se levantar sobre ti
assim como o sobre o justo? Mas aquela alma se calou,
porque não tinha o que responder. Então Deus lhe falou
novamente: Os julgamentos de Deus são perfeitos, pois Ele
não faz acepção de pessoas, porque todo aquele que fizer
misericórdia, misericórdia alcançará, e qualquer um que
não fizer misericórdia também não será poupado perante o
Senhor. Portanto, entregai esta alma ao anjo do Abismo
(Tártaro), o qual se encarregará da sua punição.
Então vi aquela alma ser lançada nas trevas exteriores,
onde há pranto e ranger de dentes, onde deverá
permanecer até o dia do juízo final. Depois disso escutei
a voz de anjos e arcanjos que diziam: Justo és tu, ó Senhor,
e justos são os teus juízos.
17- Eu olhei novamente, e eis que dois anjos traziam uma
alma que clamava: Tem misericórdia de mim, ó Deus, justo
juiz!Porque há sete dias que tenho deixado o meu corpo e
estou sendo arrastado por estes dois anjos e eles estão me
levando por lugares aos quais desconheço.
Então Deus, o justo juiz, lhe disse: Que tens tu feito? Tu
jamais mostraste misericórdia, e é por isto que estás sendo
atormentado pela presença dos anjos que não se apiedam
de ti. Tu jamais praticaste o que era direito, como esperas
que tenham compaixão de ti? Portanto, confessa os
pecados os quais tu praticaste enquanto estavas no mundo.
Ao que aquela alma respondeu e disse:
Mas Senhor, eu não tenho cometido pecados!
Mas a ira do Senhor se acendeu sobre ela por haver dito:
“Eu não tenho pecados.” Pelo que Deus assim lhe falou:
Acaso pensas que ainda estás no mundo, onde cada um dos
teus pecados eram encobertos aos olhos dos homens?
Porém aqui nada fica em oculto. Saibas que quando uma
alma sobe à minha presença todos os seus atos são
declarados, sejam eles bons ou maus.
Ao ouvir isto, a alma caiu em silêncio, porque não tinha
como responder. E eu escutei o Senhor Deus, o justo juiz a
se pronunciar outra vez: Vem, anjo que conduzes esta
alma; fica entre ela e Eu. Então o condutor daquela alma
pecadora se aproximou, trazendo o rolo de um livro em
suas mãos. E eis que ele disse: Senhor, eis que tenho em
minhas mãos os registros de todos os pecados que esta
alma praticou desde a sua mocidade até ao dia de hoje; ou
mais que isto, desde o dia em que nascera até agora. E se
tu ordenares, Senhor, eu narrarei todos os seus feitos
desde quando tinha quinze anos de idade.
E o Senhor Deus, o justo juiz, falou: Eis que te digo, anjo,
que não me hás de narrar os seus pecados a partir dos
quinze anos, mas exponhas tão somente aqueles que ela
cometeu nos seus últimos cinco anos de vida. E em seguida
o senhor, o justo juiz, falou: Eu juro por mim mesmo e
pelos santos anjos do meu poder que se esta alma houve se
arrependido ao menos uma vez durante estes últimos cinco
anos, que a perdoarei assim como se perdoa o mal
praticado por uma criança de um ano de idade. Mas ao
contrário, que ela pereça para sempre.
E o anjo daquela alma pecadora respondeu e disse:
Determina, Senhor, que o anjo faça vir as tuas almas.
E naquele mesmo instante umas almas foram trazidas para
perto e aquela alma pecadora as reconheceu
imediatamente. E o Senhor falou à alma pecadora: Eis que
te digo, alma: confessa todos os crimes que tu cometeste
contra estas almas quando elas também estavam no
mundo. Então ela respondeu e disse: Senhor, ainda não se
passou nem um ano desde que assassinei esta alma,
derramando o seu sangue sobre a terra. Quanto à outra,
eis que com ela cometi fornicação. Porém, isto não é tudo;
porque eu também pratiquei injúrias e me apropriei dos
bens de outrem.
Ao ouvir isto, o Senhor, o justo juiz disse: Sabias tu que que
quando uma pessoa faz violência à outra, se esta pessoa
que sofreu a violência morrer primeiro, é mantida neste
lugar até ao dia em que o seu agressor morra, para que
ambas compareçam juntas perante o juiz para que cada
uma receba o que os seus feitos merecem?
Então escutei uma voz que dizia: Tomai esta alma e
entregai-a nas mãos do Tártaro para que seja precipitada
nas regiões mais baixas da terra. Encerrai-a em prisões
escuras para que seja atormentada até ao dia do juízo.
E novamente eu ouvi milhares e milhares de anjos que
clamavam: Justo és tu, Senhor, e justos são os teus juízos.
19 – E o anjo me disse: Tens tu entendido todas estas
coisas? Ao que eu respondi: Sim, senhor. Então ele me
falou novamente: Segue-me de novo, e eu te levarei para
que conheças a cidade dos justos. Eu o acompanhei e ele
me elevou acima do terceiro céu e me fez estar perante a
entrada de um portão. E eu notei que se tratava de um
grande portão de ouro e que havia dois pilares de ouro
diante dele e que sobre estes pilares existiam duas placas
douradas nas quais estavam gravadas várias inscrições.
Em seguida, o anjo se voltou para mim e disse: Bem-
aventurado serás se conseguires passar para além destes
portões, pois apenas aqueles que possuem um coração
puro é que podem entrar ali.
Então perguntei ao anjo: Senhor, por que razão estão
escritas estas coisas em ambas as placas de ouro? Ao que
ele me respondeu: Estes são os nomes daquelas pessoas
justas que serviram fielmente a Deus enquanto estavam no
mundo. Mas eu lhe falei outra vez: Então os seus nomes já
estavam escritos no Céu, embora ainda estivessem vivendo
no mundo? E o anjo me respondeu: Não apenas os seus
nomes, mas até as suas faces já haviam sido gravadas,
porque todo aquele que serve a Deus de todo o coração é
bem conhecido diante dos seus anjos.
20 – Então adentramos. E havendo eu atravessado os
portões do Paraíso, se aproximou de mim um ancião cuja
face resplandecia como o sol. Ele me abraçou e disse: Sê
bem-vindo, Paulo, querido e amado de Deus. E foi com um
belo sorriso no rosto que ele me beijou e logo se pôs a
chorar. Eu, porém, lhe disse: Por que choras, meu Pai? Mas
ele suspirou e logo voltou a chorar. E disse: Eis que choro
porque somos injuriados pelos homens que desconhecem
todas estas coisas maravilhosas que Deus tem preparado
para aqueles que o amam. E eis que são firmes as suas
promessas, porém eles não a creem.
Por causa disso eu voltei a falar ao anjo, e lhe perguntei:
Quem é este, senhor? Ao que ele me respondeu
imediatamente: Este é Enoque, a fiel testemunha dos
últimos dias. E no mesmo instante o anjo me falou: Eis que
não deves reportar aos homens nada do que eu te mostrar
enquanto estivermos neste lugar.
Mas eu prossegui e logo adiante avistei Elias. Ele me
saudou com grande alegria. Mas em seguida se afastou um
pouco e me disse: Paulo, esforça-te para alcançares a tua
recompensa pelas obras que realizas entre os homens.
Quanto a mim, eis que tenho visto as grandiosas dádivas
que o Senhor tem preparado para os seus justos, e as suas
promessas são grandiosas, ainda que a maioria dos seres
humanos as tenham rejeitado. Porém, importa que através
de muitas tribulações entremos no Reino dos Céus.
21 – Nisso o anjo me disse: Tudo o que eu te mostrar e
tudo o que tu aqui escutares não o deverás contar a
ninguém sobre a terra. Então ele me levou me mostrou
coisas inefáveis, a respeito das quais não estou autorizado
a falar. E outra vez ele me disse: Segue-me e te mostrarei
as coisas a respeito das quais terás a permissão de falar.
E ele me fez descer ao segundo céu e me pôs outra
vez naquele firmamento, e dali me mostrou os portões do
paraíso. Ele me vez ver uma pequena abertura onde me foi
possível contemplar o começo de suas fundações sobre um
rio cujas águas desciam até a terra. Então perguntei ao
anjo: Senhor, o que é este rio de água? Ao que ele me
respondeu: Este é o Oceano. De repente, dirigi minha
atenção ao céu e percebi que de lá emanava uma luz que
iluminava a terra em baixo.
Entretanto, aquela terra era sete vezes mais brilhante
do que a prata. E eu novamente me dirigi ao anjo e lhe
perguntei: Senhor, que lugar é este? Ele logo me
respondeu: Esta é a terra da promessa. A caso tu ainda não
leste o que acerca dela está escrito: “Bem-aventurados os
mansos, porque eles herdarão a terra?” As almas dos
justos, depois que elas saem do seu corpo,permanecem
aqui durante algum tempo.
Eu outra vez falei ao anjo: Enfim, a partir de quando
esta terra há de ser revelada aos olhos dos homens? E o
anjo me respondeu: Quando o Cristo, cujo Nome vós
proclamais, enfim vier para reinar, então a luz vinda de
Deus destruirá a primeira terra e a dissolverá. Depois
disso, a terra da promessa será revelada; ela descerá do
céu tal como o orvalho que desce das nuvens. Nesse
mesmo tempo o Senhor Jesus Cristo, o eterno rei, se
revelará juntamente com os seus santos, para habitar
sobre a terra e reinar ali durante mil anos. Estes hão de
comer das delícias as quais hei de te mostrar logo mais.
22- Continuei admirando aquela terra e vi um rio que
transbordava leite e mel. Nas margens deste rio cresciam
árvores cheias de belos frutos. Cada árvore dava o seu
fruto doze vezes por ano, sendo eles vários e diferentes.
Também vi a obra da criação e todos os feitos de Deus. Ali
eu vi palmeiras, algumas delas mediam vinte côvados e
outras mediam dez. E como eu já disse, aquela terra
resplandecia sete vezes mais do que a prata refinada. As
videiras deste país estão cheias de frutos, desde as raízes
até ao topo. Cada uma delas tem até dez mil galhos e em
cada galho dez mil cachos, em cada cacho dez mil uvas.
Mas existem outros tipos de árvores ali.Milhares e
milhares delas e os seus frutos nascem na mesma
proporção daqueles das videiras. Voltei-me para o anjo e
lhe falei: Por que é que as árvore aqui dão tantos frutos? A
sua resposta foi: É porque o Senhor Deus da abundância
distribui as suas dádivas abundantemente àqueles qua são
merecedores, pois que estando eles no mundo, de tudo se
privaram por amor ao seu santo Nome.
Mas eu ainda insistia com o anjo: Senhor, são estas as
promessas que o Senhor Deus tem feito aos santos? E ele
imediatamente respondeu: Não! Na verdade, existem
promessas sete vezes maiores do que estas! Porque eis que
te faço saber que todas as vezes que morre um santo e a
sua alma vem a este lugar e contempla as promessas e
todas estas boas dádivas que Deus tem preparado para os
santos, ela contempla,se emociona e chora, dizendo:
“Como foi que eu pude abrir a minha boca para
pronunciar coisas irritantes ao meu próximo? (Não deveria,
em vez disso, ter gasto o meu tempo falando destas coisas
maravilhosas?)”.
Voltei então a indagar do anjo: Estas são as únicas
promessas de Deus? A resposta logo veio: O que tu
acabaste de ver são bênçãos reservadas ao marido que
soube manter o seu casamento em pureza e castidade. Mas
para as virgens e para aqueles que têm fome e sede de
justiça, e aos que afligem a sua alma por amor ao Senhor,
eis que Ele lhes recompensará com promessas sete vezes
maiores do que estas que tu agora contemplas.
Havendo ele me tomado do lugar onde eu tinha visto
estas coisas, eis que surgiu um rio cujas águas eram
branquíssimas, mais alvas do que o leite!
Ao contemplá-lo, eu logo falei ao anjo: O que é isto? E
assim ele me respondeu: Este é o Lago Akerusian, onde
está a cidade de Cristo, porém, a nenhum homem é dada a
permissão para lá entrar.Este é o caminho que conduz a
Deus, e se alguém,sendo fornicário ou ímpio, volta e se
arrepende de suas obras más e produz frutos dignos de
arrependimento, ao deixar o corpo, primeiramente ele é
trazido para este lugar, para adorar a Deus, e o Senhor
ordena ao anjo Miguel que o batize nas águas do Lago
Akerusian. Assim, ele conduz esta alma à cidade de Cristo,
onde já estão aqueles que o adoram sem pecados.
Eu estava boquiaberto diante do que via, pelo que louvei
ao Senhor por tudo o que Ele me havia mostrado.
23 – Mas outra vez o anjo me falou: Segue-me, pois irei te
conduzir para dentro da cidade de Cristo. Então ele ficou
de pé no Lago Akerusian e me pôs em um barco de ouro.
Desde então eu vi três mil anjos que cantavam um hino
diante de mim enquanto íamos nos aproximando da cidade
de Cristo. Agora os habitantes daquela cidade se
alegravam grandemente ao verem que eu iam me
acercando deles. Então entrei e contemplei a cidade de
Cristo. E eis que ela estava totalmente edificada em ouro.
Tinha doze muros e doze torres; uma torre em cada muro,
mas no meio dela havia doze mil torres fortificadas. Cada
torre distava da outra cerca de um estádio (180 a 220
metros). Então eu perguntei ao anjo: Senhor, quanto mede
um estádio aqui no Céu? Ele me responde e disse: é tão
grande quanto a distância entre Deus e os homens quando
estão na terra. Não te admires quanto a isto, pois a cidade
de Deus é incomparavelmente grande.
Em volta da cidade eu vi doze portões de rara beleza, e
avistei quatro rios que a rodeavam. O primeiro rio era de
mel. O segundo era de leite. O terceiro era de vinho e o
quarto era de azeite. Fiquei grandemente admirado, e falei
ao anjo: Que rios são estes que circundam a cidade? Ao
que ele me disse: Estes são os rios que fluem
abundantemente para aqueles que vierem morar nesta
grande cidade. E estes são os seus nomes: O rio de mel se
chama Phison; o rio de leite se chama Eufrates; o rio de
vinho se chama Tigre e o rio de azeite se chama Gion. Os
justos, quando estão no mundo, padecem muitas privações
e voluntariamente se abstém destas coisas por amor ao
Senhor. Portanto, quando eles aqui chegarem, hão de ser
recompensados com bênçãos sem medidas.
24 – Ao passar por um dos portões eu vi diante da cidade
umas árvores enormes as quais não davam frutos, mas
apenas folhas. Vi alguns homens dispersos entre estas
árvores e eles choravam muito ao verem alguém passar
para dentro da cidade. Mas aquelas grandes árvores não se
compadeciam deles, antes zombavam de sua dor. Eu me
compadeci deles e chorei. Em seguida, perguntei ao ano
que me conduzia: Senhor, quem são estes que não
recebem permissão para entrar na cidade de Cristo? E o
anjo me respondeu: Estes são aquelas pessoas que
jejuavam dia e noite e que tinham grande zelo pela
renúncia, mas que nunca removeram o orgulho do
coração. Eles viviam de aparência a fim de receberem os
elogios dos homens, porém, eram incapazes de fazer
qualquer coisa em favor do próximo. Quando encontravam
alguém pelo caminho, eles só o saudavam se este fosse um
dos seus amigos. E para aqueles a quem queriam bem eles
abriam a porta da sua casa, e se fizessem um pequeno
favor a quem quer que fosse, eles logo saíam anunciando
aos quatro ventos.
Ao escutar este relato eu indaguei o anjo: Que será
então, senhor? O orgulho que praticavam foi capaz de
privá-los de entrar na cidade de Cristo? O anjo me disse: O
orgulho é a raiz de toda a maldade. Acaso são eles
melhores do que o Filho de Deus, o qual andou entre os
judeus em grande humildade?
Mas eu novamente lhe perguntei: Por que então
aquelas grandes árvores os desprezam, acrescentando-lhes
o infortúnio? E o anjo com paciência me respondeu: Todo o
tempo que estiveram sobre a terra eles serviam a Deus
com jejuns fingidos e não se incomodavam de saber que
todos conheciam o seu fingimento e que os reprovavam por
isso. Eles não se importaram, não se arrependeram nem
desistiram de ser orgulhosos. É por esta razão que as
árvores agora zombam deles.
Fiz outra pergunta ao anjo: Mas se foram orgulhosos,
por que motivo receberam a permissão de adentrarem aos
portões da cidade? A esta questão o anjo me deu a
seguinte resposta: É por causa da grande bondade de
Deus. Eles ficarão ali até ao dia da chegada de Cristo com
todos os seus santos. Quando o Senhor vier com todos os
seus redimidos, então eles terão permissão para entrar na
cidade santa. Mas por enquanto devem permanecer ali, até
que Cristo, o Rei Eterno, venha com todos os seus santos e
justos. Quando Ele vier, os santos pedirão por estes e o
Senhor os ouvirá e permitirá que os tais entrem na cidade.
Mas isto só deve acontecer depois que eles contemplarem
aqueles que servem a Deus com jejuns sinceros e que
levam uma vida de real santificação.
25 – Dali eu fui conduzido pelo anjo até o rio cujas
correntes são de mel. Ali eu vi os profetas Isaías, Jeremias,
Ezequiel, Amós, Mequéias e Zacarias. Enfim, todos os
profetas, maiores e menores. Eles me saudaram quando ali
cheguei. Então falei ao anjo: Que caminho é este que
vejo? Ele assim me respondeu: Este é o caminho dos
profetas. Todos aqueles que negam a si mesmos para fazer
a vontade de Deus, ao saírem do mundo são trazidos para
adorar na sua presença. Então o Senhor ordena a Miguel
que os leve para dentro da cidade, a este lugar onde ficam
os profetas. E os profetas os recebem com grande alegria
como a verdadeiros amigos, pois eles também cumpriram a
vontade de Deus.
26 - E Outra vez ele me tomou, e levou-me a um lugar
onde havia um rio de leite. Então naquele vi vi todas as
crianças que por amor ao nome de Cristo foram
assassinadas por ordem do rei Herodes, e eis que elas me
saudaram. Então me disse o anjo: Todos aqueles que se
guardam em castidade e pureza, quando abandonam seus
corpos são conduzidos a Miguel tão logo adoram perante a
face do Senhor Deus, depois são apresentados aos filhos,
que os cumprimentam, dizendo: Vós sois nossos irmãos e
amigos. E eis que uns e outros tomam posse da mesma
herança e promessa que lhes fez o Senhor.
27 – E outra vez me tomou, e me conduziu ao leste da
cidade e me levou ao lugar no qual havia um rio de vinho.
Então vi Abraão, Isaque e Jacó, e Ló, e Jó e outros santos
com eles. E eles me saudaram. Então perguntei ao anjo
que estava comigo: Que lugar é este, senhor?. E o anjo me
respeondeu e disse: Todos aqueles que foram hospitaleiros,
e receberam os estrangeiros, quando vêm do mundo para
este lugar, preimeiro adoram ao Senhor e depois são
entregues nas mãos de Miguel, que os traz para cá, e aqui
são cumprimentados por todos os justos, os quais os
chamam de de filhos e de irmãos, porque dizem: Porquanto
guaradaste a humanidade e a hospitalidade aos
estrangeiros, vinde, e recebei herança na cidade do nosso
Deus. Assim, todo homem justo recebe as boas dádivas de
Deus de acordo com o seu comportamento em relação ao
próximo.
28 – E novamente me levou a um rio de óleo, ao leste
da cidade, e ali contemplei homens que se regozijavam
cantando salmos. Então perguntei: Senhor, e estes que
estão felizes, quem são? Então o anjo me respondeu: Estes
são aqueles que se consagraram a Deus de todo o coração,
despojando-se do orgulho. Porque todos aqueles que se
alegram no Senhor Deus e cantam louvores ao seu nome
são trazidos para esta cidade.
29 – Depois disso, o anjo me levou para o meio da
cidade, junto ao duodécimo muro. E eis que este lugar era
mais elevado do que os outros. E eu perguntei ao anjo: Por
acaso existe na cidade de Cristo outro lugar cuja glória
seja superior a deste muro? Ao que me respondeu o anjo:
Eis que o segundo lugar é superior ao primeiro, e da
mesma forma, o terceiro é superior ao segundo, porque
cada um vai superando ao outro em glória desde o primeiro
muro até ao duodécimo. Então falei: E por quê, senhor,
cada um vai superando o outro em glória e em honra? Por
favor, explique isso para mim. Então ele me falou: Entenda
que todo aquele que em si mesmo conservar um pouco de
calúnia, de inveja ou orgulho há de perder um pouco da
própria glória, muito embora não fique de fora da cidade
de Cristo. Mas olhe para trás de ti e veja.
Então me voltei, e vi tronos de ouro nos quais havia
vários portões, e diante deles estavam varões com
diademas de ouro e pedras preciosas sobre as suas
cabeças. Então olhei e vi, entre os doze varões, tronos que
estavam postos em ordem, os quais me pareceram ser de
uma glória mui grande, tão magníficos que nenhuma língua
humana é capaz de descrevê-los. Então outra vez indaguei
ao anjo: Senhor, para quem são estes tronos?
E o anjo me respondeu: Esses tronos são para aqueles que
possuíam bondade e entendimento de coração, mas que se
fizeram loucos por amor ao seu Deus, pois embora não
conhecendo muita coisa acerca das Escrituras, nem
sabendo recitar muitos salmos, ainda assim deram ouvidos
aos mandamentos de Deus e procederam em conformidade
com as ordenanças do Senhor, demonstrando grande zelo
perante o Senhor Deus. Porque a estes, até mesmo os
santos que estão diante de Deus admiram, porquanto
dizem uns para aos outros: Contemplai estes homens tão
simples, que não possuem entendimento e que apesar disso
são dignos de de vestes de glória tão magníficas.
Nisso, vi bem no meio da cidade um grande e mui
sublime altar, e havia, de pé diante do altar, um cuja face
resplandecia como o sol o qual trazia um saltério e uma
harpa nas mãos, e que, cantando, dizia: Aleluia! E eis que a
sua voz ecoou por toda a grande cidade. E de tal modo
ecoou a sua voz que todos os que estavam nas torres e nos
portões a escutaram, e por isso responderam: Aleluia!
Então os fundamentos da cidade foram sacudidos. E eu
perguntei ao anjo: Quem é este cuja voz é tão poderosa? O
anjo me respondeu, e disse: Esse é Davi, e esta é a cidade
de Jerusalém. Porém, quando Cristo, o Rei da eternidade,
vier com os santos no Seu reino, ele novamente se
levantará e para cantar, e em resposta ao seu canto todos
os justos dirão a uma só voz: Aleluia!
Eu escutei isso, e logo indaguei: Mas, senhor, de onde
vem que Davi seja o primeiro a cantar e que depois deles
cantem todos os santos e justos? E em resposta o anjo me
disse: É por que Cristo, o Filho de Deus, está assentado à
destra do Pai, então Davi, em saudação, entoará um canto
diante Dele no sétimo céu. Então, depois que Davi houver
louvado ao Senhor no Céu, eis que toda a terra em baixo
fará o mesmo. De outro modo, não se usa oferecer
sacrifícios a Deus sem que primeiro se ouça um dos
cãnticos de Davi. Mesmo, durante a celebração do corpo e
do sangue do Senhor faz-se necessário cantar os seus
salmos. Assim, quando a sua harpa é tocada no Céu,
importa que seja Ele também louvado na terra.
30 – Ao ouvir isso eu disse ao anjo: Senhor, o que
significa o Aleluia? E o anjo me respondeu: Eis que muitas
são as tuas perguntas, pois a tudo desejas conhecer. Então
me explicou: Eis que Aleluia é uma palavra do idioma dos
hebreus, a língua falada por Deus e seus anjos. E o seu
significado é: Tekel, Kat, Marith, Macha. Mas eu fiquei
ainda mais curioso, porquanto perguntei: Senhor, qual é o
significado de Tekel, Kat, marith, Macha? E ele me
respondeu: Eis que te farei saber o significado das palavras
Tekel, Kat, Marith, Macha: Bendizei ao Senhor todos
juntos.
E eu insisti em perguntar ao anjo: Mas, senhor, todos
aqueles que dizem Aleluia estão de fato bendizendo o nome
do Senhor? Ele então me deu a sua resposta: De modo
algum! Mas eis que te digo que se em uma reunião de
santos estiverem cantando Aleluia e entre os presentes
houver alguém que não estiver cantando ao mesmo tempo,
o tal comete pecado, porquanto não se ajuntou àqueles que
celebram ao Senhor.
Devido a estas palavras, eu perguntei ao anjo: Senhor,
e se acontecer de esta pessoa possuir alguma deficiência,
ou se for já muito idoso, estará pecando do mesmo jeito? O
anjo não me negou a sua resposta, mas disse: Claro que
não! Porém, se alguém está em perfeita saúde e não se une
ao canto do Senhor, tu decerto sabes que o tal é profano e
não respeita a palavra (Aleluia). Por outro lado, é
imperdoável que alguém não louve e engrandeça o nome
do Senhor Deus e seu Criador.
31- Havendo o anjo acabado de falar comigo, logo me
conduziu para fora da cidade, e caminhamos ao longo de
uma senda por entre um arvoredo. Assim, retornamos dos
lugares da terra das beatitudes, e ele me fez voar por
sobre aquele rio de leite e mel. Depois ele me levou ao
oceano no qual jazem os fundamentos dos céus. Ali o anjo
se voltou para nem, e perguntou: Compreendes que estás
sendo transportado para bem longe daqui? .
E eu lhe disse: Sim, senhor. Então ele outra vez me
dirigiu a palavra, dizendo-me: Vem e segue-me, pois hei de
mostrar as almas dos ímpios e pecadores para que tu
saibas que lugar é esse. Assim, eu me detive com o anjo e
ele me conduziu ao lugar do estabelecimento do sol , onde
pude ver o início do céu, cujos fundamentos estão em rio
grande rio rio de águas. Ali eu perguntei: Que rio de águas
é este? Ao que ele me respondeu: Este é o mar que
circunda toda a terra.
E seguindo eu para além daquele oceano, olhei, mas
eis que não vi luz alguma naquele lugar, senão trevas,
infortúnio e perturbações. Foi ali mesmo que eu vi um rio
cujas águas borbulhavam em chamas de fogo, e nele vi
uma multidão de homens e mulheres imersos até aos
joelhos, bem como outras pessoas ainda mais afundadas;
umas estavam imersas até os lábios, e outras até o alto da
cabeça.
Perguntei ao anjo: Quem são estas pessoas que jazem
no rio de fogo? O anjo assim me respondeu: Estes são
aqueles que não eram nem quentes nem frios, porque não
foram contados nem entre os justos nem entre o número
dos ímpios. Estes são daqueles que passam alguns dias da
vida em orações, mas que gastam muito tempo se
divertindo com o pecado da fornicação.
Novamente me volto e pergunto ao anjo: E por que
alguns deles estão mergulhados no fogo até aos joelhos? E
ele me falou: Estes são aqueles que quando iam à igreja
gastavam o seu tempo em discussões banais e profanas.
Quanto àqueles cujo nível do fogo está mais acima, são
daqueles que após participarem do corpo e do sangue do
Senhor, seguiam para direto para os seus encontros
adulterinos, os quais viveram nesse pecado até que
morreram. Já aqueles que estão aprofundados até aos
lábios,são do número dos que quando iam à igreja de Deus,
se atinham a criticar e a se difamar mutuamente. Os que
estão imersos até às sobrancelhas,são os que se
cumprimentavam mutuamente pelo caminho, mas que no
secreto tramavam o mal contra o próximo.
32 – E eis que ao norte daquele lugar eu vi postos de
variadas e distintas punições; ali também padeciam tanto
homens quanto mulheres. E vi que um rio de fogo
derramava suas águas sulfurosas sobre estes. Então olhei e
vi diversos poços muito profundos e neles jaziam
muitíssimas almas, e a profundidade daqueles abismos era
de até três mil côvados. Ali escutei vozes que gemiam e
choravam entre rangeres de dentes, as quais diziam:
Senhor, tem misericórdia de nós! Porém, não havia quem
delas se apiedasse.
Dada esta razão, eu indaguei do anjo: Quem são estas
pessoas, senhor? E ele me respondeu: Estas são as almas
daquelas pessoas que clamaram a Deus, mas que não
tiveram paciência de esperar por sua ajuda. Ao ouvir isso,
eu observei: Senhor, se estas almas permanecerem por
trinta ou quarenta gerações assim amontoadas umas sobre
as outras, eu creio que os abismos acabarão ficando cheios,
a menos, é claro, que estas almas sejam transportadas a
um abismo ainda mais profundo.
O anjo me disse então: Estes abismos são imensuráveis,
e de outro modo, eles seguem para um fosso que está logo
abaixo.É como se alguém atirasse uma pedra em um poço
tão profundo que apenas depois de algumas horas ele
viesse a tocar o solo; tal é esse abismo também. Assim,
quando uma alma é arremessada para dentro de um destes
abismos, ela atinge o fundo apenas depois de passados
quinhentos anos.
33 – Após haver escutados estas coisas, eu chorei e
lamentei pela raça humana. Porém, ao me ver chorando,
eis que o anjo perguntou:: Por que choras? Acaso a tua
compaixão é maior que a de Deus? Seria o caso de não
saberes o quanto Deus é bom e que devido a esta bondade
Ele espera pacientemente a fim de que os homens se
arrependam e não entrem em condenação? E é por ser
bom que Deus permite ao ser humano escolher o seu
próprio destino durante os dias de sua vida sobre a terra.
34 – Eu olhei novamente para o rio de fogo e vi um
homem que estava sendo estrangulado pelos anjos
responsáveis pelo Tártaro, os quais tinham em suas mãos
um tridente de ferro com o qual perfuravam as vísceras
daquele homem idoso. Impressionado, eu perguntei ao
anjo: Senhor, quem é este homem idoso no qual estão
sendo aplicados tão severos tormentos? Ao que o anjo me
respondeu: Aquele que tu viste é o presbítero que não
cumpriu com o seu ministério legitimamente. Porque
embora vivendo em comilanças, bebedeiras e fornicações,
ele jamais deixou de pregar a palavra de Deus sobre o seu
santo altar.
35 – Não muito distante dali, eu vi outro velhinho que
estava sendo arrastado por quatro anjos maus, os quais o
emergiam no rio de fogo até aos joelhos e depois o
arremetiam contra as rochas; no mais, eles envolviam em
um grande tumulto, afim de que a sua voz fosse abafada e
não pudesse ser ouvido enquanto clamava por
misericórdia. E eu perguntei ao anjo que estava comigo
acerca de quem era aquele senhor, e ele me disse: O
homem que agora vês foi um bispo que não executou o seu
episcopado com a devida dignidade; ele de fato recebeu
um grande título, porém, não viveu segundo a santidade
que convém aos que ocupam tal cargo. Ele não obrou com
justiça e nem teve compaixão de órfãos e de viúvas.
Portanto, ele agora está sendo punido segundo o
merecimento dos seus feitos.
36- Nisso, eu vi outro homem que estava sendo
supliciado no rio cujas águas de fogo lhe davam nos
joelhos. E eis que as suas mãos estavam sendo puxadas
para fora do corpo, enquanto os vermes afluíam de sua
boca e narinas. Ele gemia e chorava aos gritos, dizendo:
Tem misericórdia de mim, que sofro mais do que todos os
que estão sendo castigados!
Fiquei abismado ante a cena, e, por isso, indaguei:
Quem é este homem, senhor? Ao que ele me disse: esse a
quem tu vês foi um diácono que comia do que era
sacrificado aos ídolos, cometendo fornicação e não fazendo
o que era reto aos olhos do Senhor. A sua pena é, portanto,
ser atormentado dia e noite.
Continuei olhando e vi ao seu lado um homem que foi
apanhado por um tridente para ser atirado no rio de fogo,
e, assim como outros, ele ficou imerso até aos joelhos. E
veio o anjo que estava preparado para para executar
aquele suplício, ele tinha uma lâmina flamejante com a
qual lacerava os lábios daquele homem, e fazia o mesmo
com a sua língua. Foi com um suspiro que eu chorei e
perguntei: Senhor, quem é esse homem? E ele me disse: O
homem que agora vês era um pregador que ensinava ao
povo, mas que ele mesmo não se importava de viver em
conformidade com aquilo que ele pregava. Agora ele está
sendo atormenta, pois assim mereceram os seus feitos.
37- Ali mesmo eu vi um poço de abismo que estava no
meio de um rio onde já estava uma multidão de homens e
mulheres aos quais devoravam os vermes. Ao ver essa cena
eu chorei, e com um suspiro falei ao anjo que me
acompanhava: E estes, senhor, quem são? E ele me falou:
estes são os que emprestavam com usura e que só
confiavam em suas riquezas, desprezando assim a
providência de Deus.
Então olhei novamente e vi outro lugar, o qual era
muitíssimo estreito, e eis que na sua extremidade havia
algo como um muro de fogo. Nele eu vi uma multidão de
homens e mulheres que mordiam a língua. Eu perguntei:
Quem são estes, senhor? E ele me disse: Estes são
daqueles que não reverenciavam a palavra quando estava
sendo pregada na igreja, pois não prestavam atenção no
culto e assim desprezavam a Deus e aos seus anjos.Eles
praticavam os mesmos pecados, e é por isso que recebem a
mesma punição.
38 – E olhei, e eis um buraco bem abaixo do abismo, e
eis que dele jorrava algo semelhante ao sangue. E
perguntei ao anjo: Senhor, que lugar é esse? Ele me
respondeu prontamente: Este é o lugar onde todos os
suplícios se misturam. Ali eu vi homens e mulheres que
estavam , mergulhados até à altura dos lábios. Ao vê-los,
perguntei: E estes, senhor, quem são? Ele me disse assim:
Estes são os feiticeiros que usavam encantamentos sobre
homens e mulheres, a fim de que estes não encontrassem a
paz até ao fim de suas vidas.
E logo após, eu vi uma multidão de homens e
mulheres com as faces bastante enegrecidas, dentro do
poço do abismo; e entre soluços eu falei ao anjo: Seria o
caso de também me dizeres quem são estes? O anjo não me
negou a resposta, mas disse: Estes são os fornicários e
adúlteros, os quais, tendo suas esposas ou maridos, jamais
deixaram de macular o seu próprio leito. Portanto, essa é a
punição reservado aos que praticam tal pecado.
39 – Depois disso, vi umas moças que estavam
trajando vestes negras, e quatro anjos terríveis que
traziam cadeias de fogo em suas mãos. Eles vieram e
puseram as cadeias em seus pescoços para em seguida
atirá-las às trevas. Eu chorei novamente e supliquei ao
anjo: Quem são estes, senhor? O anjo então me disse: Estas
são aquelas que se faziam passar por virgens, embora
houvessem se corrompido, desonrando seus pais. É por
essa razão que estão padecendo particular infortúnio.
Então olhei, e vi pessoas que estavam penduradas
sobre um canal de águas e suas línguas estavam bastante
ressecadas, e vi que havia abundância de frutas diante
delas, mas as mesmas estavam impossibilitadas de tocá-las
ou de comê-las. Vendo isso, perguntei: Quem são estas
pessoas? Ao que me respondeu o anjo: Estes são os
cristãos inconstantes, que quebravam o jejum antes da
hora apropriada, e assim são penalizadas, pois estão
sempre diante dos alimentos, mas sem poderem tocá-los
jamais.
Em seguida, vi outros homens e mulheres suspensos
por suas sobrancelhas e cabelos, tendo abaixo o rio de fogo
que os atraía. Vendo-os assim, eu perguntei: Podes me
dizer quem são estes? Ao que ele me respondeu: Estes são
aqueles se negavam aos seus cônjuges, a fim de se
preservarem para o adultério. Para os tais também existe
uma particular condenação.
Nisso, vi ainda outros homens e mulheres que estavam
cobertos de pó, e os seus rostos estavam vermelhos como o
sangue, e eis que eles estavam em um poço (cheio de
alcatrão?), e eles corriam em um rio de fogo. Eu logo
perguntei ao anjo: Quem são eles? Ao que me disse: Estes
são os que praticaram os costumes de Sodoma e de
Gomorra, pois se uniram o homem com outro homem, e a
mulher com outra mulher. Essa, portanto, é a pena que
eles padecem incessantemente.
40- E logo olhei e avistei homens e mulheres que se
vestiam com trajes de luz, porém, eles eram cegos, e
estavam postos em um poço de fogo. Me voltei para o anjo
e perguntei: Quem são eles, senhor? E ele me disse: Estes
são os pagãos, os quais davam esmolas, mas que não
conheceram a Deus. Eles também padecem em sua própria
condenação.
Passadas estas coisas, vi outros homens e mulheres
encerrados em uma pirâmide ardente onde eram
despedaçados por feras selvagens. Embora em tormentos,
eles estavam proibidos de clamar pela misericórdia de
Deus. E vi o anjo da condenação que lhes aplicava os mais
duros suplícios, e dizia-lhes: Reconhecei que este é o juízo
que vos dá o Filho de Deus! Porque vós fostes devidamente
avisados, enquanto a divina palavra era pregada diante de
vós, porém, não lhes deste atenção. Portanto, justo é esse
juízo que vos faz o Senhor Deus; mesmo, as vossas más
obras não merecem condenação que não seja essa!
Todavia, eu lamentava e chorava. Pelo que falei: Quem
são estes homens e estas mulheres que padecem em tal
condenação? E o anjo me respondeu: Estas são as
mulheres que corromperam a condição que Deus lhes tinha
preparado, quando geraram filhos desde o ventre, e estes
são os homens que se deitaram com elas. Entretanto, seus
filhos reclamam perante Deus, e os anjos responsáveis por
aqueles suplícios, dizem: Defende-nos de nossos pais, pois
eles modificaram a natureza à qual Deus lhes tinha
conformado; eis que eles de fato têm o nome de Deus,
porém, não guardam os seus mandamentos! Eles nos
deram por alimento aos cães, e para sermos pisados pelos
porcos.
Assim, eles arremessaram outros naquele rio, porém,
aqueles filhos foram entregues ao anjo do Tártaro, o qual
tem a responsabilidade pela aplicação das penalidades, e
assim eles foram levados a um lugar de misericórdia.
Quanto a seus pais e mães, foram encerrados em um lugar
de eterna condenação.
Mas depois disso, eu vi homens e mulheres vestidos
de trapos embebidos de ácido sulfuroso, e vi que vieram
serpentes que feriam os seus pescoços, ombros e pés. E
havia uns anjos cujos chifres eram de fogo ardente que
oprimiam àquelas pessoas, ferindo-as nas narinas, e dizia-
lhes: Por que não reconhecestes o tempo que Deus vos deu
para o vosso arrependimento e para servi-lo? Ouvindo isso,
eu perguntei: E estes, senhor, quem são?
E ele me disse: Eles são aqueles que fingiam ter
renunciado o mundo, mas que, vindo as tribulações da
vida, eles se tornaram miseráveis, de modo que jamais
sentiram o verdadeiro ágape, e nunca tiveram compaixão
das viúvas e dos órfãos, desprezavam os estrangeiros e aos
peregrinos não acolhiam, porquanto eram incapazes de
demonstrar qualquer ato de piedade ao próximo. De todas
as vezes que oravam, não houve sequer uma ocasião em
que a sua voz subiu pura aos ouvidos de Deus. O mais
grave de tudo ainda te direi: eles viravam as costas para
Deus quando vinham as tribulações da vida, e em tais
ocasiões se tornavam tão amargos de espírito que não
conseguiam praticar as menores obras de justiça.
Então vi se aproximarem os anjos, os quais os levaram
ao lugar de sua punição. E aqueles que já estavam sob a
condenação no mesmo lugar, disseram, ao vê-los se
aproximar: Estando nós ainda no mundo, negávamos o
nome do Senhor e fomos negligentes quanto aos seus
santos conselhos; mas vós, por que fizestes o mesmo?
Dali eles foram levados a outro lugar, mas os que lá
estavam também lhes falavam da mesma maneira: Nós,
enquanto estávamos no mundo, tínhamos consciência de
que éramos pecadores, e vos víamos vestidos de santidade,
e dizíamos que ereis felizes, porquanto exaltávamos à
vossa condição, dizendo: Estes são os justos, os santos
servos de Deus! Porém, agora reconhecemos que vós
usáveis o nome de Deus em vão e neste dia pagareis pelas
vossas iniqüidades.
Nesse instante eu chorei, e disse: Ai dos homens! Ai
dos pecadores! Melhor vos teria sido se não tivestes vindo
ao mundo! Mas o anjo me escutou, e por isso falou: Por que
choras ainda? Continuas te achando mais misericordioso
do que Deus, que é bendito para sempre e que tem
preparado o juízo e permite que todos os homens escolham
entre as boas e as más obras?
Mas ao ouvir isso eu chorei mais veementemente. O
anjo me disse, porém: Hei te mostrado as punições
menores , e choras tanto; que farás quando te forem
mostradas condenações ainda maiores? Segue-me, e verás
que existem tormentos sete vezes maiores que estes.
41 – Então me conduziu ao norte, ao lugar de todas as
punições, e ele me pôs acima de um poço que estava selado
com sete selos. E o anjo que estava comigo falou ao anjo
responsável por aquele lugar: Abre a boca do poço para
que Paulo, o amado de Deus, possa olhar para dentro dele,
porquanto Deus lhe tem dado autoridade para ver todas as
punições comas quais são punidos os que jazem no
submundo.
Então me falou o guardião daquele lugar: Põe-te em pé
à boa distância, pois tu não podes suportar o odor pútrido
deste lugar. E sendo aberto aquele poço, eis que de
imediato subiu um cheiro forte e mui desagradável, o qual
era, na verdade, excedia todos os suplícios. E olhando eu
para dentro do poço, vi algo como que umas massas que
ardiam por todos os lados. E eis que a boca desse abismo
era tão estreita que permitia apenas a passagem de um
homem de cada vez.
Nisso, o anjo me falou: Se acontecer de alguém ser
lançado no poço deste abismo, nunca mais se fará menção
dele diante do Pai, do Filho ou do Espírito Santo, ou mesmo
do anjos. Eu lhe perguntei então: Mas senhor, que tipo de
pessoas são lançadas nesse abismo? Ao que ele me
respondeu: Para cá virão todos aqueles que não confessam
que Cristo veio em carne e que foi nascido de uma virgem.
Os que negam que o pão e o vinho da comunhão não são o
corpo e o sangue do Senhor também virão para este lugar.
42 – Do norte, voltei o meu olhar para o oeste e lá vi os
vermes que não morrem jamais. E eis que ali havia ranger
de dentes, e ali os vermes tinham o tamanho de um côvado
e cada um deles possuía duas cabeças. Ali eu vi homens e
mulheres que choram e rangiam os dentes. E perguntei:
Senhor, quem os que padecem nesse lugar? Ele me
respondeu assim: Eles são os que negaram a ressurreição
do Senhor. E eu falei novamente: Mas senhor, por que não
existe nem fogo nem calor neste lugar? Ao que ele me
respondeu: Neste lugar não existe outra coisa além do frio
e da neve. E ainda que o sol se levantasse sobre os que
aqui estão, nem assim poderiam morrer os seus vermes,
porquanto o gelo deste lugar não pode ser desfeito jamais.
Ao ouvir isso, eu estendi as minhas mãos e chorei
entre lamentos, porque dizia: Melhor nos seria se nós, os
pecadores, não tivéssemos vindo ao mundo.
43 – Entretanto, quando aquelas pessoas me viram
chorando junto ao anjo, elas gritaram e também choraram,
dizendo: Senhor Deus, tem misericórdia de nós! E logo
depois, eu vi o céu aberto e o arcanjo Miguel que descia
com um exército de anjos. Eles desceram até aos que
estavam naquele lugar de tormento, o que, ao vê-los se
aproximar, aquelas pessoas gritaram ainda mais alto: Tem
misericórdia de nós, arcanjo Miguel! Tem piedade da raça
humana, porquanto é grande o nosso clamor sobre a terra.
E já agora havemos reconhecido as justiças de Deus e
conhecemos o seu Filho! E em verdade confessamos que só
viemos parar neste lugar porque antes disso não nos foi
possível conhecer a justiça divina, porquanto jamais
havíamos ouvido que depois da morte há um juízo.
Ademais, a vida atribulada que tivemos não nos permitiu
encontrar arrependimento.
Mas assim lhes falou o arcanjo Miguel: Ouçam o que
diz Miguel: Eu sou aquele que assiste na presença de Deus
a todo instante. Vive o senhor, em cuja presença estou, que
não há um só dia ou noite que eu não interceda pela raça
humana. Mesmo assim, os homens não cessam de praticar
iniqüidades e fornicações e não me ajudam, praticando
boas obras que reforcem as minhas orações em seu favor.
Quanto a vós, tivestes tempo suficiente para vos
arrepender e praticar o que era reto aos olhos do senhor,
mas preferistes viver segundo a vaidade do mundo.
Eu, todavia, continuo intercedendo pelos homens,
para que Deus lhes dê a chuva sobre a terra e ela não
deixe de dar os seus frutos. No mais, asseguro que se
alguém vier a praticar o que é bom, eu mesmo o protegerei
e o ensinarei a escapar do juízo e da condenação.Mas onde
estão as vossas orações? Onde foi parar o vosso
arrependimento? Acaso não desperdiçastes o tempo que
vos foi dispensado em vida? Portanto, agora vós chorais, e
eu convosco choro, como também choram os santos anjos
que estão comigo e com o amado Paulo, a ver se assim se
apiedará de vós o misericordioso Deus.
Havendo aquelas pessoas escutado tais palavras, eis
que clamaram e choraram mais ainda, e disseram todos
juntos: Filho de Deus! Tem misericórdia de nós! Então eu,
Paulo, suspirei e disse: Senhor Deus, tem misericórdia
daqueles que Tu criaste, e tem misericórdia dos filhos dos
homens, pois são a tua imagem e semelhança!
44- Então olhei, e vi que os céus se moviam como uma
árvore quando é agitada por um forte vento. Em seguida, vi
os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes que
adoravam a Deus diante do seu trono. Então vi o altar, e o
véu e o trono, e eis que todos se regozijavam. E o cheiro de
um bom incenso subia do altar que estava diante do trono
de Deus, logo após, ouvi uma forte forte voz que dizia: Que
razões tendes vós para louvar, ó anjos ministradores? Ao
que eles responderam: Nós cantamos porque havemos
visto a grande bondade de Deus para com a humanidade.
Depois disso, vi o Filho de Deus que descia desde o
céu, tendo uma diadema sobre a sua cabeça. Aconteceu
que quando aqueles que estavam nos lugares de tormentos
viram-no, eis que clamaram: Tem misericórdia de nós,
Filho do Deus Altíssimo! Tu que tens dado repouso ao que
habitam o céu, fazei o mesmo por nós, pois bastou que
víssemos a tua glória e já um pouco de alívio se nos foi
dado.
Uma voz então saiu desde o trono do Filho de Deus, a
qual dizia: Quais foram as tuas obras, para que me venhas
implorar por alívio? Meu sangue derramei por amor de vós,
mas nem assim vos arrependestes. Por amor de vós, recebi
uma coroa de espinhos sobre a cabeça; foi por vós que
suportei os bofetões na face, e nem isso foi suficiente para
convencer-vos dos vossos pecados. Fui levantado sobre a
cruz, e quando tive sede, vinagre me destes em vez de
água, e como se não bastasse, fui perfurado do lado por
uma lança. Por amor meu nome foram assassinados os
meus servos, os profetas e justos, mas em todas estas
coisas Eu dava oportunidade de arrepender-vos, mas vós
não o aceitaste. Portanto, desde agora, por amor de
Miguel, que é o anjo do meu pacto, e também dos anjos
que estão com ele, nem como por amor ao amado Paulo a
qual não pretendo entristecer, e por amor aos seus irmãos
que estão no mundo, por amor aos seus filhos, visto que
guardam os meus mandamentos, e até mesmo pela minha
grande bondade, Eu prometo a vós que estais sendo
punidos que darei uma dia e uma noite de repouso para
sempre.
A estas palavras, todos eles ergueram a voz de uma só
vez e disseram: Nós te louvamos, ó Filho de Deus,
porquanto nos prometes dar um dia e uma noite sem
tormentos. E sabemos que para nós esse único dia de
descanso há de ser melhor do que todos os dias de nossas
vidas, pois se de antemão houvéssemos reconhecido que
existe um lugar onde os pecadores são atormentados,
decerto que teríamos evitado todas as más obras do
mundo. Mas agora também entendemos: que necessidade
teríamos de vir ao mundo?
Porquanto, agora que o nosso orgulho foi quebrado,
podemos compreender quão mal obrávamos quando
abríamos a boca contra o nosso próximo. Agora, angústias
e lágrimas, e estes vermes que estão sobre nós, os quais
nos atormentam...(texto corrompido)
Havendo eles dito estas coisas, os anjos maus e
aqueles que estavam encarregados pelas punições ficaram
furiosos, e disseram: Até quando chorareis e lamentareis?
Não haverá misericórdia para vós, porquanto não se fará
misericórdia àqueles que não foram misericordiosos. Mas
agora vós recebestes esse grande favor – descansar dos
suplícios por um dia e uma noite, porquanto assim vos faz o
Senhor por amor de Paulo!
45 – Passadas estas coisas, o anjo me falou: Viste todas
estas coisas? E eu respondi: Sim, senhor. E me disse ele
então: Segue-me e eu te levarei ao Paraíso para que os
santos que ali estão te possam ver, pois estão desejosos de
te ver, e eis que já estão prontos para se encontrar contigo,
pois que com grande exultação te aguardam.
Foi impelido pelo Espírito Santo que eu segui o anjo e
ele me arrebatou ao Paraíso, e em lá chegando me disse:
Este é o Paraíso onde Adão e sua esposa pecaram. Assim,
entrei no Paraíso e vi a nascente das águas. Ali o anjo
acessou para mim e disse: Estás vendo estas águas? Esse é
o rio Pison, o qual circunda toda a terra de Avilá, e esse
outro é o Gion, o qual contorna as terras do Egito e da
Etiópia. O terceiro rio é o Tigre, que corta a terra da
Assíria, e o outro rio é o Eufrates, cujas águas banham as
terras da Mesopotâmia.
Seguindo adiante, vi uma árvore cujas raízes se
banhavam no leito de um rio, e eis que daquela fonte
fluíam as águas que formavam os quatro grandes rios. O
espírito de Deus repousava sobre aquela árvore, e
acontecia que, soprando o Espírito, eis que as águas
jorravam da fonte. Então eu disse: Senhor, é essa árvore
que faz com que jorrem as águas da fonte? E ele me
respondeu: Não necessariamente, acontece que no
princípio, antes de existirem o céu e a terra, já o Espírito
de Deus repousava sobre esta fonte de águas, mas uma vez
que pelo mandamento de Deus vieram a existir todas estas
coisas, o Espírito veio repousar sobre essa árvore.
Portanto, todas as vezes que o Espírito dá o seu sopro, as
águas jorram da árvore.
Dizendo isso, ele tomou a minha mão e me levou para
ver a árvore do conhecimento do bem e do mal. E me falou:
Essa é a árvore pela qual a morte foi introduzida no
mundo; porque Adão, havendo recebido e comido do fruto
que a sua mulher lhe deu, permitiu que entrasse no mundo
a morte.
Depois disso, ele me mostrou outra árvore, a qual
estava no meio do Paraíso. E disse-me: Esta é a árvore da
vida.
46 –Estando eu ainda admirando àquela árvore, vi uma
virgem que vinha ao longe e duzentos anjos que cantavam
diante dela. Perguntei ao anjo: Quem é esta que vem em
tão grande glória? E ele me respondeu: Esta é a virgem
Maria, mãe do Senhor. E havendo ela se aproximado de
mim, eis que me cumprimentou: Paulo, amado de Deus, e
dos anjos, e dos homens, eu te saúdo. Muitos santos têm
implorado a meu filho Jesus, que também é meu Senhor,
para que no corpo possam vir aqui, e assim possam te ver
antes do teu regresso ao mundo. Mas o Senhor lhes tem
dito: Esperai, e sede pacientes. Porque só mais um
pouquinho de tempo e podereis vê-lo, pois estará convosco
para sempre
E eles novamente levantaram a voz em coro, e
disseram: Não nos entristeças, porquanto muito desejamos
vê-lo enquanto ainda está na carne, pois tem te glorificado
grandemente com suas obras sobre o mundo, de modo que
todas as vezes que os santos são trazidos para este lugar e
lhes perguntamos: Quem vos ensinou o caminho do Céu? E
eles prontamente respondem: Houve um homem chamado
Paulo, o qual nos proclamou a Cristo, e nós o cremos. Por
causa do poder e do testemunho de sua palavra, muitos
têm entrado para o Reino.
Portanto, Paulo, grande é o número de santos que vêm
após mim e estão desejosos de te conhecer. Porém, eu
afirmo que vim na frente a encontrar os que fizeram a
vontade do meu filho e Senhor Jesus Cristo. Eu saio a
recebê-los para que não compareçam como estranhos
diante do Senhor e assim sejam recebidos em paz.
47 – Estando ela ainda a falar, eu vi se aproximarem
três homens muito vistosos, se pareciam com Cristo, com
formas radiosas e anjos que os rodeavam. E ao vê-los, eu
disse: Quem são eles, senhor? Ao que ele me disse: Tu não
os reconheces? E eu respondei: Não, senhor. Ele então me
falou: Estes são os pais do povo: Abraão, Isaque e Jacó.
Aconteceu que se aproximando eles de mim, eis que me
cumprimentaram, e disseram: saudações, Paulo, amado de
Deus e dos homens. Benditos és, pois suportaste a
violência do mundo por amor ao Senhor.
Abraão me disse: Esse é o meu filho Isaque, e o outro é
o mui amado Jacó. Nós também havemos conhecido ao
Senhor e o seguimos. Bem-aventurado é todo aquele que
crê na sua palavra, para que possam ter direito à herança
de Deus por meio das boas obras, e da renúncia, e da
santidade, e da humildade, e do amor, e da bondade e da
reta justiça em Deus. Nós também havemos nos devotado
ao Deus ao qual tu pregas, e como atestado está, nós
também serviremos ao santos que creem no Salvador,
como os pais que servem aos seus filhos.
Enquanto eles estavam a falar, eu vi outros doze que
vinham com grande honra. E ao vê-los, eu falei: E estes ,
quem são? Assim ele me respondeu: estes são os
patriarcas. Eles então pararam diante de me e me
cumprimentaram, dizendo: saudações, Paulo, tu que és
amado de Deus e dos homens. O Senhor nos deu a alegria
de vermos-te enquanto tu ainda estás no corpo e antes de
retornares ao mundo de onde vieste.
E cada um deles veio, e segundo a ordem foram
pronunciando os seus nomes, desde Rubem até Benjamin.
Por fim, José me falou: Eu sou aquele que foi vendido, e
afirmo que apesar de todo o mal que os meus irmãos
fizeram contra mim, eu me guardei de lhes retribuir com o
mal. Bendito é aquele que por amor ao Senhor padece
injúrias e perseguições e as suporta, pois quando deixar o
mundo, o Senhor o recompensará imensamente.
48- Ainda estavam a falar, quando vi que à distância
vinha um varão que trajava vestes de gloriosa beleza.
Quando o avistei perguntei ao anjo: Quem é este que se
aproxima, cuja face está brilhando? Ele me respondeu: Tu
não o reconheces? E eu lhe disse: Não, senhor. Logo, ele
me explicou: Este é Moisés, o legislador ao qual Deus
entregou a sua Lei.
Porém, quando ele se aproximou de mim, eis que
começou a chorar, mas me cumprimentou enfim. E eu lhe
falei: Por que estás a chorar, tu que excedes a todos os
homens em mansidão? Ao que ele me respondeu: Eu choro
por aqueles que com dificuldades plantei, pois eles não
deram nenhum fruto nem progrediram. Mesmo, tenho visto
todas as ovelhas que pastoreei, e eis que hoje elas vivem
como ovelhas que não têm pastor. Quanto ao meu labor e
cuidado sobre Israel têm sido reputados por nada,
porquanto não compreenderam nem creram nos grandes
feitos que entre eles realizei. Por outro lado, estou
maravilhado que os gentios e incircuncisos e os adoradores
de ídolos tenham se convertido e entrado para as
promessas de Deus, enquanto Israel está de fora.
E eu te digo, irmão Paulo, que naquele momento
quando o povo crucificou a Jesus, a quem tu pregas, Deus,
o Pai de todos, que me revelou a lei, e Miguel e todos os
anjos e arcanjos, e Abraão e Isaque e Jacó e todos os justos
choraram. E naquele instante todos os santos se voltaram
para mim e dissera: Vê, Moisés o que os do teu povo
fizeram ao Filho de Deus. Portanto, bendito és tu, Paulo, e
bendita é a geração e o povo que receberam a tua
pregação.
49- Enquanto ele ainda falava, outros doze vieram, e
quando me viram, disseram: És tu Paulo? Aquele que é
reconhecido no céu e na terra? E eu respondi com outra
pergunta: Quem sois vós? Um deles se antecipou, e me
disse: Eu sou Isaías, aquele a quem o rei Manassés mandou
cerrar ao meio com uma serra de carpinteiro. E o segundo
me disse semelhantemente: Eu sou Jeremias, a quem os
filhos de Israel apedrejaram até à morte. E o terceiro me
disse: Eu sou Ezequiel, que fui pendurado pelos pés sobre
uma montanha de modo que a minha cabeça ficou a bater
sobre as rochas. Nós suportamos todos estes sofrimentos
simplesmente por havermos desejado salvar a Israel. E eu
afirmo-te que mesmo depois dos sofrimentos que os filhos
de Israel me causaram, eu lancei a minha face em terra
perante o Senhor e orei por eles, e estive de joelhos até
que Miguel veio e me ergueu. Bendito és tu, Paulo, assim
como são benditos aqueles que por teu intermédio têm
entrado para o Reino.
Depois que eles passaram, eu vi achegar outro cujo
rosto estava tomado de grande beleza. Então perguntei:
Quem é ele, senhor?. O anjo, porém, me falou: Este é Ló, o
único homem justo em Sodoma. E quando o mesmo me viu,
eis que sorriu com grande alegria, e se aproximando de
mim, falou: Bendito és tu, Paulo, e bendita é a geração à
qual tu tens servido!
Porém, eu lhe perguntei: És tu Ló, que foste
encontrado justo em Sodoma? Ao que ele me disse: Eu
recebi anjos de Deus na minha casa como a forasteiros, e
quando os habitantes daquela cidade se reuniram para
violentá-los, eu lhes ofereci minhas duas filhas virgens,
dizendo-lhes: Usem-nas como bem quiserem, porém, não
façais nenhum mal a estes homens, porquanto estão
hospedados sob o teto da minha casa. Portanto, deve-se ter
confiança, e crer que se alguém faz o bem, Deus o
retribuirá muitíssimas vezes. Bendito és tu, Paulo, e
bendita é a geração que creu na tua palavra.
Terminando ele de falar, vi se aproximar um homem
que sorria. E vi anjos que o acompanhavam cantando
hinos. Então falei ao anjo que estava comigo: Cada justo
tem um anjo que o acompanha? Ele me disse: Cada um
dentre os santos tem o seu próprio anjo que o ajuda e
canta um hino, e aonde um vai, o outro o segue.
Eu disse: Quem é ele, senhor? Me respondeu o anjo:
Este é Jó. Assim, ele se aproximou e me cumprimentou,
dizendo: Irmão Paulo, eis que grande é a tua honra perante
Deus e os homens. Eu sou Jó, aquele que durante trinta
anos sofri, vendo apodrecer a minha pele com feridas e
pus. No começo as chagas vieram ao meu corpo como se
fossem grãos de trigo, mas ao terceiro dia já eram do
tamanho da pata de um asno, e quão grandes eram os
vermes que me atormentavam!
Como se não bastasse, o demônio apareceu para mim
três vezes e me disse: Amaldiçoa logo o teu Deus e morre!
Mas eu lhe respondi desta maneira: Se for da vontade de
Deus que eu esteja nessa aflição até ao dia da minha
morte, ainda assim eu o louvarei, pois tenho certeza de que
Ele me recompensará. Porque eu sei que os sofrimentos do
mundo nada são se comparados à consolação que presto
virá. Portanto, Paulo, bendito és tu, e benditos os homens
que creram através da tua pregação.
50- Ele ainda estava a falar, quando vi que vinha um
homem a gritar: Bendito és tu, Paulo, e bendito sou eu,
porquanto hoje te vejo, ó amado do Senhor! Vi-o, e
perguntei ao anjo: Quem é ele, senhor? O anjo me
respondeu: Esse Noé que sobreviveu ao dilúvio. E logo em
seguida nos cumprimentamos, e foi com grande alegria
que ele me disse: Tu és Paulo, aquele a quem Deus ama!
E eu lhe perguntei: Quem és tu, meu irmão? Ao que ele
me disse: Eu sou Noé, aquele que viveu na época da
grande inundação do mundo. Eu te direi, Paulo, que
durante cem anos da minha vida estive dedicado à
construção da arca e durante todo esse tempo eu não
mudei a roupa do meu corpo nem deixei cortar os cabelos
da minha cabeça. E da mesma maneira eu me comportava
em relação à minha esposa, pois me abstive de minhas
obrigações conjugais. Durante aqueles cem anos o cabelo
não me cresceu sobre a cabeça, nem se sujaram as minhas
roupas sobre o corpo.
Todo o tempo eu me esforçava para convencer os
homens, dizendo-lhes: Arrependei-vos, a fim de que não
pereçais sob o dilúvio que presto virá sobre os homens!
Mas eles me ridicularizavam e faziam pouco das minhas
palavras. No mais, eles ainda me provocavam, dizendo:
Melhor tempo não há para se divertir e para cometer toda
a sorte de pecados, pois Deus não vê e não sabe das coisas
que entre nós estão acontecendo! E agora só nos falta essa
de acreditar que Ele enviará um dilúvio de águas sobre o
mundo para punir-nos por nossas obras de iniqüidade!
Assim eles procediam, e não se arrependeram, até que
Deus enviou o dilúvio com o qual destruiu toda a carne na
qual havia espírito de vida. No entanto, sei que Deus se
importa mais com um justo do que com uma geração
inteira de pecadores incorrigíveis. Portanto, tu, Paulo, és
bendito, assim como é bendito o povo que creu na palavra
da tua pregação.
51 – E me voltei a tempo de ver outros justos e santos
que vinham se aproximando. Ao percebê-los, indaguei ao
anjo: Quem são estes, senhor? E ele prontamente me
respondeu: Estes são Elias e Eliseu. Logo eles se
acercaram de mim e me saudaram. Eu perguntei a um
deles: Quem és tu? E assim me respodeu ele: Sou Elias, o
profeta de Jeová. Tu me conheces, pois eu sou aquele que
orou a Deus pedindo-lhe que por três anos e meio não
houvesse chuva sobre a terra. Quanto a Deus, que atendeu
a oração desse servo, é Justo e Verdadeiro, pois naquele
tempo os anjos suplicaram-lhe para que a chuva voltasse a
cair sobre a terra, mas o Senhor lhes disse para serem
pacientes e esperassem até que o seu profeta orasse
novamente, pedindo-lhe que enviasse a chuva.

Se formos pacientes e suportarmos as tribulações do


mundo por amor a Deus, Ele certamente nos recompensará
com o dobro de bênçãos. Bendito és tu, Paulo, e bendito é o
povo que creu através da tua pregação.
Assim, ele se foi, e o justo Enoque veio me
cumprimentar, dizendo: Se um homem suportar as
adversidades da vida por amor a Deus, o tal não será
esquecido quando enfim tiver de deixar esse mundo para
estar na eternidade.
Ele prosseguiu falando, e eis que vieram outros dois e
mais um que vinha logo atrás, gritando: Esperai por mim, a
fim de que juntos possamos ver a Paulo, esse homem ao
qual Deus ama! Acaso não sabeis que ele há de ser tirado
de nós? Bom nos será vê-lo enquanto ainda está no seu
corpo!
Nisso, eu falei ao falou: Meu senhor, quem são estes?
E ele me disse: Este é Zacarias e o outro é o seu filho João
Batista. Mas ainda falei ao anjo: E aquele outro que vem
correndo após eles, quem é? O anjo me disse assim:
O terceiro homem é Abel, que foi assassinado por Caim.
Os três se reuniram e vieram me saudar, dizendo:
Bendito és tu, Paulo, pois és justo em todas as tuas obras.
João disse: Eu sou aquele cuja cabeça foi decepada na
prisão a pedido de uma mulher que dançava durante um
banquete. Depois veio Zacarias e disse: Eu sou aquele que
foi morto enquanto ofertava sacrifícios a Deus. E quando
os anjos vieram ao lugar do sacrifício, eles tomaram o meu
corpo para apresentar a Deus, de modo que até hoje
ninguém sabe onde o meu corpo foi sepultado. Nisso, veio
Abel e falou: Eu fui assassinado por Caim enquanto
apresentava a minha oferta a Deus. Todos os sofrimentos
que suportamos por amor ao Senhor nós os reputamos
como nada, pois já não nos afetam.

Depois disso, vieram os justos e os anjos e se


acercaram de mim, e eis que eles estavam radiantes de
alegria por haverem me contemplado ainda no meu corpo
animal. Mas vi ainda outro salvo que desfrutava daquela
glória e beleza. E ao vê-lo, perguntei ao anjo: Quem é este,
senhor? E ele me disse; Este é Adão, o pai da raça humana.
Havendo ele o declarado, eis que Veio Adão e me saudou
com imensa satisfação. Ele me disse: Tende bom ânimo,
Paulo, tu que que levaste uma incontável multidão de
homens e de mulheres à fé em Deus pelo arrependimento,
tal como eu mesmo, que pequei, mas que encontrei o favor
divino ao me arrepender.

ADENDO

Depois disso, o anjo do Senhor me tomou e me trouxe ao


Monte das Oliveiras. Assim, eu, Paulo, fui me reunir com os
apóstolos. Eu os cumprimentei e depois lhes relatei todas
as coisas que me haviam acontecido, bem como aquilo que
eu vira em relação à recompensa dos justos e à
condenação dos ímpios. Os apóstolos me ouviram e ficaram
tomados de mui grande alegria, pelo que louvaram a Deus,
e eles mesmos concordaram em que Marcos e Timóteo,
meus auxiliares anotassem em um livro as palavras desta
revelação para edificação e consolo de todos quantos o
lerem ou ouvirem.
E aconteceu que estando os apóstolos a falar conosco,
apareceu o Salvador em uma carruagem com querubins, e
Ele nos disse: Saudações, santos discípulos aos quais hei
escolhido e enviado ao mundo! Saudações, Pedro, coroa
dos apóstolos! Saudações, João, meu amado! Saudações a
vós, meus santos apóstolos! Que a paz de meu pai seja
convosco.

Depois disso, Ele firmou o olhar sobre os pais e disse-


lhes: Saudações, Paulo, honrado autor de tantas epístolas!
Saudações, Paulo, mediador do santo concerto! Saudações,
Paulo, teto e fundação da igreja. Desde agora estás cheio
de convicções a respeito de tudo o que te foi mostrado? Já
está convencido de tudo quanto escutaste?

E eu respondi: Sim, meu Senhor, porquanto a tua


graça e o teu amor me têm feito um mui grande bem. O
salvador então me falou: Ó Paulo, amado do Pai, Eu te digo
que tudo o que te foi mostrado nesta revelação deve ser
escrito em um livro e posto como testemunho para as
gerações que ainda virão, a fim de que os homens saibam o
que se passa no submundo com suas amarguras e
lágrimas. E há de ser que todo aquele que o ler com fé, Eu
o abençoarei em toda a sua casa. Porém, se alguém não o
crer e ainda escarnecer das palavras deste apocalipse, Eu
o castigarei. E os homens não o entenderão até que se
passem os dias, porquanto nele te foram revelados os
mistérios da minha divindade. Eis que Eu já os tenho
tornado conhecidos diante de ti. Portanto, agora vai, e
prega o Evangelho do meu Reino, pois em verdade se
aproxima o final do teu caminho. No entanto, tu mesmo,
meu escolhido, concluirás a carreira que te foi proposta e o
amado Pedro seguirá o mesmo caminho, ao dia cinco do
sexto mês e assim estarás no meu Reino para sempre. O
meu poder será sobre ti.

Logo em seguida, Ele ordenou às nuvens para que


tomassem os discípulos e lhes mostrassem como estariam
divididos os países do mundo de acordo com a missão
evangelizadora de cada um deles. Foi assim que eles
saíram a pregar o Evangelho do reino do Céu em toda
parte. Sim, eles saíram a pregar, movidos pelo amor que
Jesus Cristo, nosso Senhor, tem pelas almas dos homens. A
Ele seja a glória, e ao seu gracioso Pai, e ao Espírito Santo
para todo o sempre.

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