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Disciplina Astronomia Cultural na América Latina. Professores Rundsthen V. de Nader e Walmir T.
Cardoso. Mestrado em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (Universidade Federal do
Rio de Janeiro, 2022-2)
nos últimos anos de vida de Platão ou pouco antes. Atribui-se mesmo o pouco espaço
físico ocupado pelo personagem Crítias, muito menor que o volume de páginas
dedicadas a Timeu, ao fato de Platão ter morrido antes de concluir esse discurso.
É em Timeu que se configura o eixo temático do livro: “a constituição do mundo
sensível e posteriormente dos seres que o habitam com particular evidência para o
Homem”, como ressalta Lopes (2011), apontando para a contextualização do diálogo
num movimento que começara nos filósofos pré-socráticos e que Platão ora abraça, ora
rejeita. “ O exemplo mais claro desta dupla relação – adaptação e ruptura – é justamente
o caso do Intelecto; ... sua concepção enquanto princípio de racionalidade será um dos
elementos centrais da cosmologia platônica.”
O Intelecto, como dito antes, forma, pela boca de Timeu, um dos pares
opositivos do filósofo ateniense, no caso, com a Necessidade: a vertente inteligente X a
vertente mecânica e corpórea da criação; o princípio de racionalidade teleológica X uma
causa errante, sem finalidade (as partes mortais da alma e o próprio Homem).
Lopes ressalta a clara e absoluta distinção entre uma dimensão pré-cósmica e
outra pós-criação como um dos pressupostos mais importantes do diálogo de Timeu.
Mas o mundo visível, tangível e dotado de um corpo(sensível, pois) que Timeu
apresenta não teria sido exatamente criado, porém fabricado por uma divindade, o
demiurgo, a partir de um arquétipo.
Mas ainda quanto ao mundo, temos que apurar o seguinte: aquele que o
fabricou produziu-o a partir de qual dos dois arquétipos: daquele que é
imutável e inalterável ou do que devém. Ora, se o mundo é belo e o demiurgo
é bom, é evidente que pôs os olhos no que é eterno; se fosse ao contrário – o
que nem é correto supor –, teria posto os olhos no que devém. Portanto, é
evidente para todos que pôs os olhos no que é eterno, pois o mundo é a mais
bela das coisas devenientes e o demiurgo é a mais perfeita das causas.
(LOPES, 2011)
Platão via o mundo com sua mente brilhante, sua curiosidade efervescente diante
da natureza, mas o via também como um grego de Atenas do século V a.C; Pablo
Neruda via com sua alma poeta e seu engajamento político de um Chile de início e
meados do século XX; Antonio Skármeta, também chileno, autor do livro O Carteiro e
o Poeta (lançado em 1985) e Michael Radford, diretor e autor do roteiro adaptado dessa
mesma obra para o filme de 1994, criaram cada um, à maneira do seu olhar, texto,
ambiente e personagens que também mesclam realidade e ficção, na reinvenção da arte.
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Parte da Geometria que trata da medição do volume dos sólidos.
O olhar da filosofia clássica que, afinal, sedimentou o caminho rumo às
descobertas e avanços da Física, da Astrofísica e da Cosmologia, introduz este estudo da
Astronomia Cultural na América Latina e prepara nossa viagem ao encontro de outros
mundos e outros céus.
Referências:
PLATÃO. Platão: Timeu-Crítias. Tradução, Introdução, Notas e Índices:
Rodolfo Lopes. 1 ed. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos-
Universidade de Coimbra, 2011.
SKÁRMETA, Antonio. O carteiro e o poeta. Trad. BeATRIZ Sidou. 2 ed. Rio
de Janeiro: Record, 1996.