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“ Forme uniche della continuità nello spazio”, Umberto Boccioni, 1913. Doação Museu de
Arte Moderna de São Paulo
Técnica: Gesso
Dimensões:
119,7 cm x 89,9 cm x 39,9 cm
115,5 cm x 88,4 cm x 39,9 cm
4,2 cm x 78,2 cm x 27,7 cm
Tombo: 1963.3.81
I
As dinâmicas da técnica, impulsionada pelo avanço tecnológico moderno, mas que
remetem em suas raízes a metafísica e ao iluminismo, alcançam no final do séc XIX e
começodoséculoXXseuapogeu:oagenciamentodamatériapropulsionaeépropulsionado
pelo avanço intensivo das novas formas de organização e trabalho ditadas pelas inovações
industriais;oscenáriosdascidadesmudam,oscampossofremseuêxodoesecolocadacomo
normalidade,comonovaordem,arealidadedacidadeurbanaedomundofabril.Amatéria,o
solo, os instrumentos, tudo aquilo que compõem o trato humano no mundo é então
agenciado, isto é, colocado em umplanocausaleresumidoemsuasinstânciasenergéticas:
tudoviraouprodutor,ouarmazenadordeenergia.Sedispoeomundoaouso,masnãoaouso
humano,caracterizadopelotratodoartesão,massimdousoindustrial,dousotécnico-que,
diferente daquele, que se dava pela coexistência, exerce-se agora pela dominação da
natureza, cristalizando-se na configuração conhecida das ciências naturais orientadas a
produção.
Diante de tais mudanças, surge com o Manifesto Futurista de Filippo Tommaso
Marinetti(1876-1944),publicadoem1908pelarevistaLeFigaro,umanovaposiçãodianteà
condição e a produção da arte:umaapostatotalnodesenvolvimentismo,naobsessãopelas
novaspoéticasdomundoindustrial,desuanovarealidadetécnica.Amáquinaeraentãoseu
paradigmadecompreensão,suasrelaçõesparte-todoessencialmentedinâmicaseincessantes,
de um movimento tecnologicamente impulsionado, potencializado. Tomava-se o partidoda
novaera,condenandoopassadoaoesquecimentoimediato,asuasuperaçãoebanimento;sua
iconoclastia e museofobia - características essas que iriam influenciartodososoutrosditos
movimentos de vanguarda -, associado ao apelo industrial, elegiam a destruição, o
movimento violento e impulsivo, como força primária, essencial, sinónimo da vitalidade.
Precisava-se construir o novo que surgia violentamente diante de nós, que açoitava os
aparatosperceptivosdoshomensnascidadesemviasdeindustrialização,queditavamnovas
demandas e novas instâncias perceptivas - um outro mundo perceptivo se erguiaecomele
umanovamissãopictóricaparaosartistas:amissãoderepresentartalmodernidade,ondeos
limites e as diferenciações são abaladas por interdependências e estímulos excessivos. A
velocidade, o dinamismo constante, a energia elétrica, a bofetada e o murro são signos de
uma nova beleza, a beleza da velocidade (MARINETTI, 1988, p.290) O artista futurista
assumiaparasiumatarefaclássicadahistóriadapintura,porémreformadaemseualcancee
urgência, a saber, a questão darepresentação do movimento.
(...)cantaremosovibrantefervornoturnodosarsenaisedosestaleiros
incendiados por violentas luas elétricas; as estações insaciáveis,
devoradoras de serpentes fumegantes; as fábricas suspensas das
nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes
semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças,
cintilantes ao sol como um fulgor de facas; os navios a vapor
aventurosos quefarejamohorizonte,aslocomotivasdeamplopeito
que se empertigaram sobre os trilhoscomoenormescavalosdeaço
refreados por tubos e o vôo deslizante dos aeroplanos (...)
(MARINETTI, 1988, p. 291)
Não se pode perder de vista a forma desse nascimento: um manifesto. De fato, o
Futurismo tem seu parto no domínio literário, numa mescla de ficção e teoria que o
compõem. Seus frutos são elementos de agitação, de criação de um novo imaginário
partilhável, de um horizonte a ser ainda conquistado. Enquanto, a partir da literatura, esse
novo ideário artísticosedifundiapelasdemaislinguagens,surgiaanecessidadededarcabo
dapartefaltantenoManifestode1908,desenvolverdeformatécnica,prática,aprogramação
e os dogmas dessaditanovíssimaarte.Sesenegavaopassado,haviadeseconstruirnovas
leisderepresentação,essepapeléexercido,entreoutrospossíveisexemplos,peloManifesto
Técnico da Pintura Futurista(1910).
Assinado conjuntamente por vários novos integrantes do então grupo futurista: o
próprio Boccioni, Carlos Carrà(1881-1966),LuigiRussolo(1885-1947),GiacomoBalla
(1871 - 1958) e Gino Severini (1883 - 1966), o Manifesto Técnico de 1910destoaemsua
forma do primeiro, por mais que conserve em partes seu apelo literário e seu tom
propositalmente polémico. Nele encontramos de forma mais concisa e propriamente
programáticao“b-a-bá”dapropostafuturistanotocanteàsartesplásticascomotambémum
maiordesenvolvimentodavisãodemundo-emespecialdeumavisãosobreamatéria,uma
proto-ontologiaouentãoproto-metafísica-queviriadeformaconjuntaecomplementarcom
tal postura artística. Grosso modo, sua reivindicação “cósmico-artística” seria o
reconhecimento de uma realidade última da matéria, sua realidade energética,emotiva,seu
impulso vital de movimentação que deveria ser exploradopelasartesemsuarepresentação
plástica.“Oespaçonãoexistemais”,amaterialidadedoscorposforadissimuladapelogolpe
absoluto da forças que os constituem; se questiona a vigência de umasubstânciaeternada
matéria e em seu lugar se propõe o devir, a movimentação incessante de uma qualidade
ontológicaatéentãoignorada,adinâmica.Oimpulsomóveléosoprodoreal,aespessurada
materialidade: as coisas nos aparecem em seu correr próprio, apenas posteriormente
analisáveis de forma estática por um processodeabstração.Tantoointernoaoobjeto-seu
corpo - quanto o externo ao objeto - sua atmosfera - sofrem um imbricamento mútuo de
transferência de impulso; o movimentoseespalhaeaoseespalharfaz-seconcatenartodaa
matéria em uminfinito dinâmico.
Tudo se move, tudo corre, tudo se volta rapidamente. Uma figura
nunca se apresenta estável diante de nós,masapareceedesaparece
incessantemente.Pelapersistênciadaimagemnaretina,ascoisasem
movimento se multiplicam, se deformam, sucedendo-se, como
vibrações, no espaço que percorrem. Assim umcavaloacorrernão
tem quatro pernas, mas vinte, e seus movimentos são triangulares.
(BOCCIONI et al, 1988, p.295)
Consequênciadiretadetaiscolocaçõeséumareinterpretaçãodomovimento:setudo
corre, o movimento então não poderia mais ser entendido como a ida de um objeto em si
estático do ponto AaopontoB,onde,umavezemBeprecisamenteporisso,nãopoderia
mais estar em A. Uma teoria da motricidade que lidasse com os corpos que se movem
enquanto corpos movidos, isto é, corpos unitários, coesos e definidos, quesedeslocamem
suaunidadeporumaespaçoalheioaele,seriaradicalmentecontráriaareivindicaçãofuturista
de um “dinamismo universal” tal como expresso acima; a motricidade deveria ser, vista a
universalidade dadinâmicanoscorpos,umateoriadocorpomovente,ondeacapacidadede
locomoção lhe é interna,ondeseuprópriocorposóexisteenquantocoisaquesemoveena
medida em que se move. O gesto de minha mão não é a passagem do objeto-mão pelos
infinitos pontos da substância extensa; meu movimento nãoéparamimdivididoempartes
paradasqueseseguem,éumaúnicacoisadocomeçoaofim.Ele“jánãoseráummomento
parado do dinamismo universal: será, decididamente, a sensaçãodinâmicaeternizadacomo
tal” (BOCCIONI, et al, 1988, p.295).Damesmaformacomonosdisseraaescolástica,que
somos um com o objeto do conhecimento no ato do conhecer, ao me movimentar,souum
com o meu entorno. A representação dos corpos deveria se guiar, portanto, não por sua
definição analítica, seus contornos decalcados e estáticos,massimporsuaslinhasdeforça
que,ligandoointerioraoexterior,moldariaoscorposemsuaimbricaçãoambiental,emsua
tensãosintéticaqueempotênciaseevadeesetranscendeaoinfinito.Acarnedassuperfícies
deve, levado por tais linhas guias, apontar para “fora” da mesma forma que todo esse seu
entorno, este “fora”, deve apontar para ela, compactando-a em sua forma. Essateorização
sobre o real estatuto do plástico, do essencial da materialidade, ganha continuação em
publicaçõesdeBoccioni,emespecialoManifestoTécnicodaEsculturaFuturista(1912)eo
Fondamento Plastico Della Scultura e Pittura Futuriste (1913)osquaisiremosnosdetera
seguir.
(E
lasticidade, Umberto Boccioni. Óleo sobre Tela, 100 x 100 cm, 1912.Civica Galleria D’art, Milan, Italy)
II
Éaotratardaesculturaquepassossignificativossãopropriamentedadosnotocantea
sistematização da perspectiva futurista a respeito da materialidade e da plasticidade. As
consideraçõesfeitassobreapintura-alinha-força,acompenetraçãodosplanoseainstância
sintética da forma - ganham aqui seu maior brilho, são elevada em conjunto a uma
consideraçãomaisradicalarespeitodaspossibilidadesdarepresentaçãoplásticaemescultura
que, por sua vez, respondem a instâncias físicas - ou então extrafísicas - da composição
mesma do campo que se quer constituirenquantomaterialidade.Entretanto,tendoemvista
sua obra escultórica, não apenas seus textos que cobremoassunto,poderia-seapontarpara
algumas incongruências, ou então modificações e transformações, que o trabalhodoartista
sofre logo é publicado seu Manifesto Técnico: uma vez exposta a maneira pela qual a
escultura compõem as considerações já realizadas sobre a dinâmica universal da plástica,
podemosavançarparaonossoobjetocentralecircunscreverFormasÚnicas…dentrodeseu
campo de aparecimento devido.
A produção escultórica tem de se reviver, deve-se, segundo Boccioni, livrar-se do
“barroquismo da análise”. A intuição plástica - a fusão espaço-sujeito que propunha a
dinâmica universal - seria antídoto para os entraves da tradição no plano da escultura tal
como já havia sido para a pintura em 1910:
Naesculturacomonapintura,nãosepoderenovarsenãobuscandoo
ESTILODOMOVIMENTO,istoé,tornandosistemáticoedefinitivo
como síntese aquilo que o impressionismo deu como fragmentário,
acidental e, portanto, analítico. E essa sistematização das vibrações
das luzes e das compenetração dos planos produzirá a escultura
futurista, cujo fundamento será arquitetônico, não apenas como
construçãodemassasmasdemodoqueoblocoescultóricotenhaem
si os elementos arquitetónicosdoAMBIENTEESCULTÓRICOem
que vive o motivo. Naturalmente, daremos uma escultura DE
AMBIENTE (BOCCIONI, 1988, p.305)
Existiria uma interconexão fundamental entre as já antigas linhas-forças e o novo
conjunto escultórico: uma vez apostadas nossas fichas nas novas dinâmicas energéticas da
modernidade,aescultura,obrigadaarevero“repouso-em-si”damatériaedafiguraisolada,
expande-seemum“conjuntoescultórico”apartirdas“linhasdeforça”própriasasdinâmicas
que compõem sua corporalidade física; o absoluto do atravessamento energético - o
movimento interno e inerente às coisas- recoloca adiferenciaçãoentrefigurasdestacadase
seu “entorno invisível”. A figura mesma encontra-se, nessa nova atitudeperanteamatéria,
com necessariamente um caráter sintético: a linha-forçanapinturaounaesculturafuturista
nadamaisseriadoqueessemanejopróprioasíntese,essacópulaentreafacequantitativaea
qualitativa da estrutura física. Uma materialização que é em si mesma o símbolo de seus
atravessamentos e de sua relação essencial com a atmosfera que a circunda, ou seja, sua
não-materialidade. Essa nova relação entre figura e atmosfera mostra como toda forma é
sintética,sinterizadajustamentenessejogodeforçasdarealidadetécnica.Ainvestigaçãoda
possibilidade plástica dentro dessa nova “ontologia física” é aberta e o papel do escultor
futurista se ergue diante dele como uma nova possibilidade “moderníssima”, livrada da
idolatria imitativa e dos vícios da linguagem de sua tradição.
O conjunto escultórico por sua vez nada mais faz do que explicitar essa relaçãode
co mpenetração dos planos dentro do universo tridimensional - ou quadrimensional,
considerando que Boccioni elegia a energia vital do movimento como constitutiva de uma
quarta dimensionalidade para os objetosplásticos-,ondesuasdiferenciações,seusvaziose
suas cheios, se estabelecem pela condição de se aproximarem como partes de um mesmo
conjunto, de um mesmo maquinário - ou músculo - plástico de forças eimpulsostornados
palpáveis.
Em Formas únicas… torna-se visível tal relação: o corpo que se move e semescla
com seu ambiente em seu mover-se, o atravessamento do corpo no espaço fazcomqueos
limitessejamrasgadose,mesmoaotentarrecorta-lo(ocorpo),delimitá-lo,asdeformaçõese
as sugestões da atmosfera sobre a matéria não poderia deixar de deixar rastros. O entorno
atmosféricoinvisívelsustentaavisibilidadedovisível,eadiferenciaçãoentreacontinuidade
da linha de movimento sugerida, que continua para além do gesso e o conglomerado de
material do centro, do “miolo” desse corpo movente se dá apenas enquanto instâncias
diferentes de uma mesma linha-força - ou então linha-síntese - que condessa matéria e
movimento em um híbrido de corpo e ambiente, promovendo a continuidade do corpo no
espaçopelotrajetodeseudeslocamento.Essehíbridodecorpoeambiente,porsuavez,jáera
sugerido pelo conceito deconjunto escultórico.
Entretanto, qualquer aproximação da obra referida (Formas únicas…) com o
ManifestodaEsculturaFuturistadeve-seatentarparaodistanciamentodeBoccioniemseus
trabalhosmaistardiosemrelaçãoaoquadroderegrasgeraisqueapresentaemtalManifesto
Técnico,emespecialseuquartoponto,asaber,odanãoexclusividadedenenhummateriale
doincentivoaoassembledemateriaisdiversosdentrodeumamesmapeça(VERSARI,2022,
p.123).Formasúnicas…écompostaapenasporgessoerepresentaumafigura,namedidado
possível, isolada. Um corpo humanoidesembraçossemovimentodopontoAaopontoB-
marcados pelos quadriláteros maciços -, cristaliza-se nesse seu meio tempo, neste entre os
doispontos.Aformaúnicaéaquelajádita,queéaunidadedeumamultiplicidadedelinhas
de fuga, de um uno-múltiplo; ela representa justamente a continuidade do corpo no
movimento espacial, a completude do movimento enquanto coisa única que seestende.As
linhas retorcidas impulsionam as impressões de mobilidade, fazendo com que o gesso
estático tenda ao infinito, que transpareça tensão, espasmo, contração e relançamento
muscular.ElaremontaparaquestõesquevãoalémdosgrandesdesenvolvimentodeBoccioni
futurista - que entretanto determinaram seu tipo dentro do grupo - questão essas que
aparecem desde seus estudos acadêmicos,passandoporseusanosdeformaçãocomBallae
Previat, em Roma e Paris, respectivamente, e culminando em sua associação com os
futuristas em Milão, como jáforaexaustivamenteapresentado(cf.BERTOLUCCE,2000,p.
47-8). O foco com o dinamismo natural, o corpo humano e ocorpoanimalassimcomoas
dinâmicas de volume proporcionadas pela luz ditam todo seu desenvolvimento artístico,
estandopresentesemobrascomoLacittàchesale(1910),Materia(1912)eDinamismode
um Jogador de Futebol(1913).
(Materia, Umberto Boccioni. Óleo sobre tela, 150 x 220 cm, 1912)
(La città che sale, Umberto Boccioni. Óleo sobre tela, 119,3 x 301 cm. 1910. Museum of Modern Art, Nova
Iorque)
Diferentemente de outros adeptos ao futurista, Boccioni, ao invés de centrar suas
pinturas em maquinários e engenhocas industriais, dá atenção às movimentações do corpo
humano e dos meiosdetransporte-comoabicicletaeocavalo-,sempreassociadosaum
impulso humano em seu uso. Formas únicas…, portanto, apesar de não respeitar
fidedignamenteadoxadosprimeirosmanifestos,semostrainteressantepelogranderespaldo
ecomunicaçãoquetemcomováriasépocasdotrabalhodoartista:recolocaquestõesjávelhas
para Boccioni - a dinâmica natural de um corpo ao se mover pelo espaço e os volumes
causadospelailuminação-transformadaspelasconquistas-tantoteóricasquantopictóricas-
que haviam surgido em sua carreira desde sua época provincial enquanto estudante (cf.
BERTOLUCCE, 2000, p.16).
Ainda seria necessário fazer uma menção honrosa, que, infelizmente, permanece
breve, vista a necessidade de grande empenho para se aflorar todos os seus aspectos, a
respeito do débito dos autores futuristas com as correntes filosóficas que os precederam.
Como aponta a literatura de comentário, o método intuitivo de Bergson, vezes aludido de
forma indireta, vezes posto de forma explícita por Boccioni, é determinante para a sua
perspectivaestética,sendoutilizadoseusconceitosesuasconquistasargumentativas-mesmo
que, na maioria da vezes, elas não sejam colocadas - para construir seus discursos e suas
práticas. Da mesma forma,assemelha-seemuitoamaneiraéticaedesejosaqueBoccionie
os demais membros do grupo lidamcomomovimentodosobjetoseavontadedepotência
nietzschiana, que postula a vontade de persistência nodevircomoinstânciaúltimadoente.
(BERTOLUCCE, 2000, p.20).
A alusão, entretanto, não é inútil,vistoquesechega,comasinvestigaçõesplásticas
dofuturismo,emumanovacolocaçãodauniversalidadedamatériaedarelaçãoentreinterior
e exterior, entre alma e corpo. Essa nova universalidade futurista não é, entretanto, uma
espécie de monismo. Antes de propor uma equidade de substância do existente, a
preocupação se encontra em, uma vez diante da diferenciação dos corpos e dadesconexão
aparente entre eles, descobrir um elo - quase causal - de forças e influências mútuas que,
antes de desmentir sua diferença, a sustenta, dá seu lugar próprio onde pode fazer-se
diferenciação. Não se trata de propor uma igualdade homogênea - portanto atônita - da
matéria,massiminscrevê-laemummesmotecidoontológicocongênito,dinamizando-asde
forma universalmente complementar. A movimentação interna das massas e ondas
energéticas próprias a essa dinâmica da existência material é que faz surgir e delimitar as
diferenças: o impulso vital interno mesclado a influência e o atravessamento de seu meio
compacta a matéria (queéaofimenergia)emumcorpomovente,quetendeaoinfinitopor
meio de suas linhas-forças. A diferença entre o “interno” e o “externo” ao corpo -disputa
clássica dentro do pensamento ocidental - seria respondida, portanto, não de forma
qualitativa, como quiseram tanto os realistas quanto os idealistas, mas sim de forma
quantitativa; uma mera questão de balanceamento de um devir-sempre-dinâmico de
movimentoeimbricaçõesmútuasdaspartesdeummesmotodo,oinfinitoplástico.Ocorpo
isolado-mesmoqueporumaabstraçãodeseurelacionamentocomocampoatmosféricoeos
demais corpos-apenasoéporumamaneiraespecíficadessemesmojogoqueoconectaao
que ele não é - o seuentorno.Todacolocaçãodeumcorpoéarquitetónica,elasearquiteta
nesseagenciamentoeliga-se,aotratardovisível,dopalpáveledoconcretoemseuofício,à
sua estrutura plástica que é também invisível (força, energia, movimento). Toda unidade é
entãosintese.Todopedaçodeextensãoéumatensãosintetizadapelalinha-fechadaqueafaz
aparecer como forma.
"
Referências Bibliográficas
BOCCIONI, H.. Manifesto técnico da escultura futurista, 1912. In: CHIPP, Herschel
Browning. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988, pp. 302-308.
____________. Fondamento Plastico Della Scultura e Pinttura Futurista. Tradução de
Rafael Zamperetti Copetti. Uniletras, Ponta Grossa, v. 30, n. 2, p. 469-478, jul./dez. 2008
____________.La città che sale, 1910, óleo sobre tela.Museum of Modern Art, Nova Iorque
BOCCIONI, H. et al. Pintura futurista: manifesto técnico, 11 deabrilde1910.In:CHIPP,
Herschel Browning. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988, pp. 293-297.
BORTOLUCCE, V. B. Formas Únicas de continuidade no espaço: um estudo sobre a
escultura de Umberto Boccioni do Museu da Universidade de São Paulo. Monografia
(Mestrado em História) - Instituto de FilosofiaeCiênciasHumanas,UniversidadeEstadual
de Campinas. 2000
MARINETTI, F. T. Fundação e Manifesto do Futurismo, 1908. In: CHIPP, Herschel
Browning. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988, pp. 288-293.