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Trends in Psychology / Temas em Psicologia DOI: 10.9788/TP2018.

3-19Pt
ISSN 2358-1883 (edição online)

Artigo

Transição entre o Acolhimento e a Vida Adulta:


Uma Revisão Sistemática sobre Intervenções

Luciana Cassarino-Perez*, 1
Orcid.org/0000-0003-4075-2832
Vitória Ermel Córdova1
Orcid.org/0000-0003-1629-339X
Carme Montserrat2
Orcid.org/0000-0001-5062-1903
Jorge Castellà Sarriera1
Orcid.org/0000-0001-8297-4957
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
2
Universitat de Girona, Catalunha, Espanha

Resumo
O objetivo deste artigo foi mapear a produção científica dos últimos dez anos no que se refere a progra-
mas de intervenção para favorecer o processo de emancipação de adolescentes que deixam o sistema
de proteção por motivo de maioridade. Através de uma revisão sistemática da literatura, foram selecio-
nados 20 artigos indexados nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Litera-
tura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed, PsycINFO, Pro Quest
Psychology Journals e Web of Science. Prevaleceram os estudos norte-americanos, de delineamento
quantitativo tanto longitudinal quanto transversal. Os estudos avaliaram os programas de intervenção
através de análises do processo (15), efeito (15) e impacto (2). Os programas variaram em formato
(moradia, pontuais e contínuos); conteúdo oferecido (habilidades para a vida independente, educação,
trabalho) e método utilizado (participativo ou passivo). Além de analisar as fortalezas e fraquezas de
cada programa, o artigo discute a importância dos processos avaliativos para a prática e avanço científi-
co. Conclui-se que para favorecer o processo de transição os programas devem ter duração continuada;
aliar treinamento em habilidades para a vida independente com acompanhamento sócio emocional e
inserção comunitária; respeitar as diferenças individuais dos participantes e considerá-los como agentes
ativos na tomada de decisões.
Palavras-chave: Acolhimento institucional, acolhimento familiar, adolescentes, intervenção.

–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
* Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Grupo de Pesquisa em Psicologia
Comunitária, Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 122, Porto Alegre, RS, Brasil 90035-003. Fone: (51) 3308-
5239. E-mail: lucicaspe@gmail.com

Trends Psychol., Ribeirão Preto, vol. 26, nº 3, p. 1665-1681 - Setembro/2018


1666 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

Transition from Care to Adulthood:


A Systematic Review of Intervention Programs

Abstract
The objective of this study was to map the scientific production of the last decade on intervention
programs to favor the emancipation of youth leaving the protection system after turning 18 years old.
Twenty articles were selected through a systematic review of literature. These articles were indexed in
the following databases: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed, PsycINFO, Pro Quest Psychology Journals and
Web of Science. The majority of the articles were written in North America, using either longitudinal or
transversal quantitative design. The studies evaluated the interventions using three types of evaluation
design: process (15), effect (15) and impact (2). The programs differed in type (housing, short-term and
or long-term); content (independent life skills, education and work); and method (different degrees of
participation). Besides exploring the strengths and weaknesses of each intervention program, this article
discusses the relevance of the evaluation processes to scientific advance in this field. As a conclusion, it
is argued that to favor the transition process the intervention should have the following characteristics:
in long-term basis; combine independent life skills with emotional, social and community support; to
consider participants individual and cultural differences as well as their capability of making decisions.
Keywords: Residential care, foster care, adolescence, intervention.

Transición entre el Acogimiento y la Vida Adulta:


Una Revisión Sistemática sobre Programas de Intervención

Resumen
El objetivo de este artículo fue revisar la producción científica de los últimos diez años sobre programas
de intervención para favorecer la emancipación de adolescentes que dejan el sistema de protección por
mayoridad. A través de una revisión sistemática, fueron seleccionados 20 artículos en las bases de datos
Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana y del Caribe en Ciencias de
la Salud (LILACS), PubMed, PsycINFO, Pro Quest Psychology Journals y Web of Science. La mayoría
de los estudios fueron realizados en Norteamérica con diseño cuantitativo longitudinal o transversal.
Los estudios evaluaron programas a través de análisis del proceso (15), efecto (15) e impacto (2). Los
programas eran distintos en su forma (vivienda, de corto o largo plazo); contenido (habilidades para la
vida independiente, educación, trabajo) y método (con diferentes niveles de participación). Además de
analizar fortalezas y debilidades de cada programa, se discute la importancia de la evaluación para la
práctica profesional y avance científico. Se concluye que, para favorecer el proceso de transición, los
programas deben tener como características: duración continuada; combinar entrenamiento en habilida-
des de vida independiente con apoyo socioemocional e inserción comunitaria; considerar las diferencias
individuales y culturales de los participantes y reconocerlos como capaces de tomar sus decisiones.
Palabras clave: Acogimiento residencial, acogimiento familiar, adolescencia, intervención.

A emancipação de jovens com história de o interesse pelo tema no nosso país também se
acolhimento institucional e familiar tem se mos- observa, por meio de alguns artigos (Martinez &
trado tema de interesse no meio científico, com Soares-Silva, 2008; Rosa, Nascimento, Matos,
um número considerável de publicações nos úl- & Santos, 2012), teses e dissertações defendi-
timos dez anos. As publicações são expressiva- das recentemente (Costa, 2012; Medrado, 2010;
mente mais numerosas fora do Brasil, no entanto Moreira, 2013; Romanelli, 2013).

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Transição entre o Acolhimento e a Vida Adulta: Uma Revisão Sistemática sobre 1667
Intervenções.

Apesar de a lei brasileira prever a existência nos Estados Unidos, que identificaram diferen-
da modalidade de famílias acolhedoras, apenas tes perfis de adolescentes e jovens em transição
5% do total de crianças e adolescentes acolhidos entre o acolhimento e a vida adulta, dividindo-
no país estão em famílias, sendo as modalidades -os em grupos dos menos adaptados aos mais
de abrigo institucional ou casa-lar as mais co- resilientes (del Valle, Bravo, Alvarez, & Fer-
muns no Brasil (Conselho Nacional do Ministé- nanz, 2008; Yates & Grey, 2012). Estes estudos
rio Público [CNMP], 2013). Ao se acercarem da constataram que muitos adolescentes superam
maioridade, os adolescentes que vivem nessas as condições adversas, mas salientam que os jo-
instituições enfrentam a necessidade de se res- vens podem ser resilientes em alguns domínios e
ponsabilizarem pelas próprias vidas, estando ou em outros não, apontando para a importância de
não preparados para essa transição. Em levan- trabalhar com essa população aspectos globais
tamento realizado pelo CNMP entre março de (cognitivos, sociais, emocionais, físicos, etc.).
2012 e março de 2013, constatou-se que 1.141 Nesse sentido, o processo de emancipação
adolescentes acolhidos foram desligados dos dos jovens egressos do sistema de proteção é
serviços por completarem 18 anos. Esse núme- um trajeto único e pessoal determinado pelos la-
ro é maior nas regiões Sul e Sudeste, sendo São ços com a família de origem e a instituição de
Paulo e Rio Grande do Sul os estados que mais acolhimento, e também pelas características de
realizaram esse tipo de desligamento. personalidade de cada indivíduo. A influência
A literatura tem apontado que, de forma ge- do contexto na emancipação aponta para a ne-
ral, os jovens que completam a maioridade em cessidade de políticas e programas específicos
uma instituição de acolhimento apresentam des- que facilitem esse processo dinâmico e pesso-
vantagens quando comparados aos jovens que al, quando realizado fora do contexto familiar.
cresceram junto à família (Hudson & Nandy, O processo poderá ser bem sucedido, sempre e
2012; Mersky & Janczewski, 2013). O acolhi- quando forem organizados planos de ação que
mento institucional pressupõe fatores de risco considerem as características individuais dos jo-
para o desenvolvimento como negligência, aban- vens (FEPA, 2014).
dono, maus-tratos, abuso sexual, pobreza, entre Nas últimas décadas, organizações e insti-
outros (Siqueira & Dell’Aglio, 2006). Somada tuições do primeiro, segundo e terceiro setores
a história de vulnerabilidade, os jovens egressos de diversas nacionalidades, desenvolveram ini-
enfrentam a exigência de uma emancipação rá- ciativas com objetivo de facilitar a transição para
pida para a qual nem sempre foram preparados a vida adulta de jovens antes e após a saída do
(Federación de Entidades con Proyectos y Pisos sistema de proteção. São alguns exemplos destas
Asistidos [FEPA], 2014; Montserrat, Casas, & intervenções: o Foster Care Independence Act
Sisteró, 2015). (P.L. 106-169), nos Estados Unidos; a Área de
As experiências desses jovens colocam-os Apoyo a los Jóvenes Tutelados y Ex-Tutelados
numa posição de vulnerabilidade e maior risco (ASJTET), na região da Catalunha, na Espanha;
de desemprego (Stewart, Kum, Barth, & Dun- o Grupo Nós do Instituto Fazendo História, no
can, 2014), abuso de substâncias ilícitas (Hudson Brasil; o programa Punt de Referência, na Es-
& Nandy, 2012), problemas de saúde (Rahamim panha; o programa Strive da promovido pela
& Mendes, 2016), paternidade/maternidade pre- Young Women’s Christian Association (YWCA)
coce (Oshima, Narendorf, & McMillen, 2013), do Canadá; e o programa Corporate Parenting,
conflito com a lei (Mersky & Janczewski, 2013) no Reino Unido. Estas iniciativas possuem em
e situação de rua (Dworsky, Napolitano, & comum a meta de favorecer a transição para a
Courtney, 2013). Contudo, estudos têm aponta- vida adulta, abordando aspectos que vão desde
do as possibilidades de superação dos fatores de moradia, atividades de vida diária, estudo e pre-
risco a que estão submetidos esses jovens, inves- paração para o trabalho, a relacionamentos in-
tigando aspectos de resiliência nessa população. terpessoais, participação comunitária e projetos
São pesquisas como as realizadas na Espanha e de vida.

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1668 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

Intervenções são ações planejadas com Na etapa de identificação, realizada entre


objetivo de atingir determinada mudança a fim setembro e dezembro de 2016, realizaram-se as
de resolver um problema (European Union, buscas nas bases de dados Scientific Electronic
2014). Num contexto psicossocial, como o da Library Online (SciELO), Literatura Latino-
transição entre o acolhimento e a vida adulta, Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
a ação interventiva envolve uma complexidade (LILACS), PubMed, PsycINFO, ProQuest
importante, pois atravessa diversos níveis Psychology Journals e Web of Science. Os
(pessoal, relacional, comunitário...) para poder seguintes termos foram utilizados: “fostercare”;
promover as mudanças a que se propõe (Nelson “fosteryouth”; “young adult”; “young people”;
& Prilleltensky, 2005). Por esse motivo, “transitionfrom”; “aging out”; “leaving”; “inde-
intervenções psicossociais envolvem planeja- pendent living” e “autonomy”. A maioria deles
mento minucioso e execução precisa, para cuja não está indexada nos Descritores em Ciências
realização existem diretrizes específicas a serem da Saúde (DeCS), assim, para definir quais
seguidas. Os passos que orientam a formulação seriam os termos mais adequados, foi necessário
de programas de intervenção são basicamente realizar uma revisão das palavras-chave
os seguintes: levantamento de necessidades utilizadas em artigos sobre o tema, além de
e análise do contexto; desenho do programa; consultas a pesquisadores da área. A combinação
análise da viabilidade; aplicação do programa; dos termos seguiu o critério “a + b + c”, sendo:
disseminação e avaliação da intervenção (Blanco (a) contexto (foster care; residential care; out of
& Valera, 2007; European Union, 2014). home care; care system); (b) situação (transition
As etapas de avaliação e disseminação en- from; aging out; leaving; independent living;
volvem compreender em que medida o progra- autonomy); e (c) amostra (foster youth; young
ma impactou nas mudanças ocorridas, mas tam- adult; young people). Uma por vez as buscas
bém difundir os resultados à comunidade, num foram realizadas, gerando todas as combinações
movimento de retorno à pesquisa. Esta revisão possíveis, considerando todos os campos, sem
sistemática se desenvolveu com interesse nesse empregar filtros. Realizou-se também buscas em
formato de estudos em que se buscam respostas espanhol e em português. Em espanhol utilizou-
conectadas às reais necessidades de determinado se o termo geral “jovenesex-tutelados”. Em
grupo de pessoas. O objetivo geral foi mapear a português usou-se as combinações das palavras:
produção científica dos últimos dez anos no que “egressos” ou “jovens”, com “acolhimento
se refere a programas de intervenção para favo- institucional” ou “abrigo” ou “sistema de
recer o processo de emancipação de adolescen- proteção”. As buscas geraram ao todo 2163
tes que deixam o sistema de proteção por moti- artigos.
vo de maioridade. Sintetizaram-se os principais Na etapa de seleção, os 2163 registros foram
resultados dos estudos selecionados, a fim de submetidos a um rastreamento para eliminar
fornecer base científica para futuras pesquisas, duplicadas. Com um exemplar de cada artigo,
intervenções e políticas públicas direcionadas a totalizando 1585 registros, foi possível selecionar,
essa população. através dos resumos, aqueles que atenderam aos
objetivos do estudo. Para esse fim, os seguintes
Método critérios de inclusão foram utilizados: (1) artigos
empíricos; (2) publicados nos últimos 10 anos;
A condução dessa revisão sistemática (3) em inglês, português ou espanhol; (4) com
seguiu as diretrizes do protocolo PRISMA amostra de adolescentes e/ou jovens entre 15 e
(Preferred Reporting Items for Systematic 24 anos com história de acolhimento; (5) e que
Reviews and Meta-Analyses), que está orga- apresentassem e/ou avaliassem programas e/ou
nizado em quatro etapas: Identificação, Seleção, serviços para favorecer o processo de transição
Elegibilidade e Inclusão (Liberati et al., 2009). entre o acolhimento e a vida adulta. Os resumos

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Transição entre o Acolhimento e a Vida Adulta: Uma Revisão Sistemática sobre 1669
Intervenções.

foram analisados por dois pesquisadores, de A ampla variação deu-se pelo fato de que os es-
forma independente, e as discordâncias foram tudos se dividiram entre aqueles que incluíram:
resolvidas por consenso, restando 32 artigos que (a) somente adolescentes em preparação para a
atenderam a todos os critérios. saída do acolhimento, (b) participantes que esta-
Na etapa de elegibilidade, foram excluídos vam tanto no período pré quanto pós-saída e (c)
12 artigos, após a leitura do texto completo, pe- apenas jovens já desligados do acolhimento. Por
los seguintes motivos: (a) apresentavam resulta- fim, quanto aos anos de publicação, observa-se
dos de pesquisas exploratórias e não de progra- que os estudos se distribuem com certa unifor-
mas de intervenção; (b) apresentavam resultados midade até 2013, com uma ligeira concentração
de intervenções para favorecer a transição para de artigos entre os anos de 2014 e 2016 (40% do
a vida adulta com outro público que não ado- total da mostra).
lescentes e jovens em situação de acolhimento;
(c) apresentavam resultados de programas com Características dos Programas
outros objetivos que não favorecer a transição de Intervenção
para a vida adulta. Por fim, na etapa de inclusão, Todos os programas analisados ofereceram
restaram 20 artigos para a fase de extração dos serviços para facilitar o processo de transição,
dados e análise qualitativa. porém o foco e abrangência dos mesmos varia-
ram, como é possível observar na Tabela 2.
Resultados A maioria dos programas englobou três ou
mais aspectos gerais relacionados ao processo de
Características dos Estudos emancipação (trabalho; estudo; moradia; rela-
Do total da amostra, 14 artigos foram re- cionamentos interpessoais; habilidades para vida
alizados nos Estados Unidos e o restante na cotidiana; entre outros). Três estudos trataram de
África do Sul, Austrália, Canadá, Finlândia, programas com foco em favorecer a continuida-
Gana e Irlanda, conforme demonstra a Tabela 1. de dos estudos (2, 15 e 20). Mesmo tendo como
Alinhados aos seus objetivos, os estudos op- objetivo principal a melhora no desempenho
taram por diferentes delineamentos que variaram acadêmico, estes programas também contribuí-
entre: quantitativo transversal (2, 10, 13 e 18) ou ram com outros aspectos que favorecem a transi-
longitudinal (1, 5, 6, 8, 14 e 17), de métodos mis- ção, como apoio financeiro, social e emocional.
tos transversal (11, 16, 19 e 20) ou longitudinal A forma como os serviços foram oferecidos
(9), e qualitativo transversal (3, 4, 7, 12 e 15). aos participantes variou bastante. Foi possível
As pesquisas que acompanharam os participan- distinguir três principais grupos no que se refe-
tes em mais de um tempo (followup), o fizeram re à forma como o serviço foi disponibilizado:
duas, três ou até quatro vezes. O tempo entre a moradias; intervenções pontuais e intervenções
primeira e a última medida, realizadas nestes contínuas. Os programas que ofereceram mo-
estudos longitudinais, variou entre três meses e radia a seus usuários são instituições de acolhi-
cinco anos. mento com serviços específicos de preparação
No que se refere ao desenho, a maioria dos para a emancipação (3, 8, 10 e 19) ou repúblicas
estudos (65%) se caracterizou como observacio- de transição entre o acolhimento e a vida autô-
nal e o restante variou entre estudos de coorte, noma (1, 17 e 18). As repúblicas têm como ob-
estudos de caso e estudos experimentais ou qua- jetivo principal prevenir que os jovens se tornem
se experimentais. Estes últimos utilizaram gru- desabrigados, mas também oferecem serviços de
po controle na avaliação de suas intervenções e educação, saúde e treinamento de habilidades,
representaram apenas 15% do total de estudos além de suporte emocional e social.
analisados. No grupo das intervenções pontuais se en-
Embora as intervenções propostas estives- quadraram os programas que são oferecidos por
sem direcionadas para público semelhante, a ida- instituições diferentes daquela onde os adoles-
de dos participantes variou dos 12 aos 40 anos. centes moram, com funcionamento e duração

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1670 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

Tabela 1
Características dos Estudos

Autores/ano País Objetivo do Estudo Delineamento N Idade

Quantitativo
1. Brown & Wilderson Examinar diferenças entre dois 18.5
EUA longitudinal
(2010) grupos que receberam o serviço 291 média
(observacional)
Quantitativo
2. Dworsky & Pérez Examinar a implementação
EUA transversal 98 20 média
(2010) do programa
(observacional)
Examinar e descrever Qualitativo
3. Frimpong Manso
Gana a preparação para a saída transversal 27 23 a 40
(2012)
oferecida em Gana (estudo de caso)
4. Goyette, Examinar dois programas Qualitativo
Maan-Feder, Turcotte, Canadá de com objetivo de preparar transversal 31 16 a 18
& Grenier (2016) para transição (observacional)
5. Greeson, Garcia, Quantitativo
Avaliar a efetividade do programa 16.8
Kim, & Courtney EUA longitudinal 194
para o aumento do suporte social média
(2014) (experimental)
6. Greeson, Garcia, Quantitativo
Avaliar a efetividade do programa
Kim, Thompson, & EUA longitudinal 482 16 a 21
Life Skills Training Program
Courtney (2015) (experimental)
Qualitativo
7. Holt & Kirwan Examinar o papel do keyworking
Irlanda transversal 4 21 a 24
(2012) na preparação para a transição
(estudo de caso)
Quantitativo
8. Jones & Lansdverk Descrever um programa
EUA longitudinal 206 12 a 18
(2006) residencial para jovens acolhidos
(estudo de coorte)
Quanti/quali
Avaliar um acampamento de
9. Kirk & Day (2011) EUA longitudinal 38 15 a 19
verão para jovens acolhidos
(observacional)
10. Lawler, Sayfan, Quantitativo
15.6
Goodman, Narr, & EUA Avaliar o programa Academy transversal 478
média
Cordon (2014) (observacional)
Avaliar programa de Quanti/quali
11. Maposa & Louw-
África do Sul desenvolvimento para jovens transversal 30 18 a 25
Potgieter (2012)
acolhidos. (observacional)
Qualitativo
Verificar a efetividade do
12. Mendes (2011) Austrália longitudinal 19 NC
programa
(observacional)
Verificar correlações entre Quantitativo
13. Naccarato & Park 17.8
EUA os objetivos dos jovens e a transversal 365
(2009) média
participação (observacional)
Acessar a utilidade e efetividade Quantitativo
14. Nesmith & 15.3
EUA do acolhimento desenhado para longitudinal 88
Christophersen (2014) média
favorecer a transição (quase experimental)
Qualitativo
15. Nsonwu, Dennison, Descrever o uso de terapias para 16
EUA transversal 10
& Long (2015) auxiliar jovens na transição. média
(observacional)

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Intervenções.

Quanti/quali
16. Osterling & Hines Descrever experiências de jovens 16.3
EUA longitudinal 52
(2006) acolhidos no programa média
(observacional)
Avaliar se o programa oferece Quantitativo
17. Senteio, Marshall, 20.3
EUA oportunidade de vida adulta longitudinal 24
Ritzen, & Grant (2009) média
estável (observacional)
Investigar a experiência de Quantitativo
18. Sinkkonen &
Finlândia jovens no programa de suporte à transversal 39 17 a 26
Kyttälä (2015)
transição (observacional)
Examinar percepções dos jovens Quanti/quali
19. Uzoebo, Kioko, & 16
EUA sobre necessidades para a transversal 89
Jones (2008) média
transição (observacional)
Quanti/quali
20. Watt, Norton, & Descrever a perspectiva teórica e
EUA longitudinal 155 NC
Jones (2013) implantação do programa
(estudo de caso)

Notas. N=Número de participantes / NC=Não consta no artigo.

pré-determinados. São os casos de acampamen- alizam esse papel, a frequência e intensidade de


tos de férias (9), cursos e workshops (6, 13 e 14) contato entre os jovens e os mesmos. No entanto,
e encontros grupais ou de psicoterapia (4 e 15). o objetivo principal do uso de mentoria nestes
A duração deste tipo de intervenção variou entre programas é semelhante: favorecer a construção
quatro dias e oito meses. Dentro dos programas de vínculos significativos com adultos com os
de intervenção pontual foi possível identificar quais possam contar após a saída do sistema de
duas vertentes metodológicas, aqueles com sis- proteção.
temas de transmissão de conhecimento sem a
participação ativa dos jovens (6 e 13), e aqueles Avaliação e Resultados dos Programas
que, mesmo com formato fixo, utilizaram meto- de Intervenção
dologias participativas e atividades práticas ou O tipo de avaliação realizada por cada es-
vivenciais (4, 9, 14 e 15). tudo variou entre avaliações do processo, do
As intervenções contínuas são aquelas em impacto e do efeito. Os artigos que incluíram
que os programas, embora também fornecidos avaliações de processo (2, 3, 4, 7, 8, 9, 10, 11,
por instituições diferentes das de acolhimento, 12, 14, 15, 16, 18, 19 e 20), o fizeram para exa-
acompanham os adolescentes e/ou jovens de for- minar a execução dos programas, analisando os
ma sistemática, variando em frequência e inten- procedimentos e recursos utilizados, através de
sidade. Encaixam-se nesta categoria alguns dos entrevistas, observações, grupos focais e ques-
programas oferecidos pelas Universidades (2 e tionários ad hoc, conduzidos durante ou após a
20), especificamente aqueles que buscaram au- intervenção. Foi comum neste tipo de avaliação
mentar as oportunidades de estudo superior. O que os pesquisadores requisitassem a opinião
funcionamento desses programas variou de acor- dos participantes e coordenadores a respeito do
do com cada instituição, porém em todos eles os funcionamento dos programas e possibilidades
jovens são acompanhados durante toda a trajetó- de melhorias para edições futuras.
ria universitária. Avaliações do efeito da intervenção, a fim
As intervenções contínuas com objetivos de verificar se houve mudanças na direção dese-
que extrapolam o desempenho acadêmico (5, 7, jada, foram realizadas ao final de cada programa
11, 12 e 16) tem em comum a presença de men- por quinze estudos. Os instrumentos utilizados
tores. A função do mentor varia de acordo com o para essa finalidade foram entrevistas; documen-
programa, assim como variam as pessoas que re- tos (fichas cadastrais, registros das instituições,

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1672 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

Tabela 2
Características dos Programas de Intervenção

Programa Objetivo Funcionamento

Larkin Street Youth Fornecer moradia, treinamento, trabalho,


1. Moradias assistidas
Services serviços educacionais e de saúde.
Campus Support Aumentar aspirações educativas colaborar para Consultoria e tutoria dentro das
2.
Programmes a continuidade dos estudos Universidades
Youth homes from SOS
3. Preparar os residentes para autossuficiência Moradias assistidas
children´s village
Oferecer oportunidade de expressar emoções
Moving On Oito sessões em grupo
associadas à transição para a vida independente
4. Contribuir para o reconhecimento de relações
Friendship Group disfuncionais e para o desenvolvimento de Oito sessões em grupo
relacionamentos saudáveis
Contribuir para o desenvolvimento da rede
5. The Outreach Encontros semanais com mentores
apoio social
Contribuir para a aquisição das habilidades Curso de cinco semanas em
6. Life Skill Training
necessárias para a emancipação formato de sala de aula
Acompanhamento sistemático por
7. Keyworking NC
parte do mentor
Oferecer moradia estável e um programa
8. Academy Sistema de internato
educativo de preparação para a emancipação
Michigan Educational Favorecer o desenvolvimento da auto eficácia, Acampamento com quatro dias de
9.
Opportunities for Youth habilidades de vida diária e rede de apoio. duração
Oferecer moradia estável e um programa
10. Academy Sistema de internato
educativo de preparação para a emancipação
Preparar jovens acolhidos para tornaram-se Cursos, práticas e
11. The Mamelani Project
cidadãos independentes e responsáveis. acompanhamento sistemático
St Luke’s Anglicare Planejamento personalizado
Proporcionar assistência nas mais diversas
12. Leaving Care and After de acordo com necessidades e
áreas necessárias para a emancipação.
Care Support Service características do adolescente
Independent Living
Oferecer assistência na transição para a vida Curso de 17 semanas em formato
13. Programe of Nothern
adulta. de sala de aula
California
Creating Ongoing Contribuir para o desenvolvimento de relações Workshop com duração
14.
Relationships Effectively com adultos de referência. de 12 a 17 semanas
Aumentar as chances de estudos superiores e Sessões semanais de terapia em
15. Foster Care Chronicles
facilitar a adaptação ao contexto universitário. grupo durante 6 a 8 meses
Advocates to Successful
Contribuir para a aquisição das habilidades Encontros com mentores antes e
16. Transition to
necessárias para a emancipação. após a saída do acolhimento
Independence
Moradias assistidas (três tipos
Transition Resource
17. Favorecer a autossuficiência. distintos de acordo com o grau de
Action Center
autonomia).
Fortalecer as habilidades de vida independente,
18. Supportive Housing Moradia assistida
autocontrole e senso de responsabilidade.

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Transição entre o Acolhimento e a Vida Adulta: Uma Revisão Sistemática sobre 1673
Intervenções.

Ensinar habilidades básicas para o


19. VISIONS Moradia assistida
desenvolvimento de adultos produtivos.
Foster Care Alumni Incentivar a continuidade dos estudos Consultoria e tutoria dentro da
20.
Educational Success superiores e evitar a evasão. Universidade

Notas. NC = Não consta no artigo.

etc.); escalas psicométricas; questionários ad constatou-se que o objetivo da intervenção não


hoc; e grupos focais. se relacionou com a participação dos jovens na
Dois estudos (5 e 6) realizaram avaliação mesma. Dois dos programas com avaliação ne-
do impacto, destinada a verificar a influência da gativa (6 e 13) utilizam metodologia expositiva
intervenção nas mudanças ocorridas, através de em seus programas e apontaram o formato de
comparação com grupo controle. Os resultados “sala de aula” como uma das possíveis razões
demonstraram não haver relações significativas pelas quais os resultados não foram satisfatórios.
entre o tipo de tratamento oferecido pelo progra- Ainda sobre os resultados das avaliações, a
ma e a passagem do tempo. Por essa razão, estes Tabela 3 revela que, embora 85% dos estudos
foram os poucos artigos cujas avaliações gerais tenham obtido resultados gerais positivos, mui-
foram classificadas como negativas. Apenas um tos apontaram mudanças que poderiam implicar
outro programa (13) também foi avaliado nega- em melhoras nos resultados obtidos. Por outro
tivamente, pois através de avaliação do efeito, lado, os estudos também revelaram as principais
fortalezas das intervenções praticadas.
Tabela 3
Avaliação dos Programas de Intervenção

Programa Avaliação do Programa Resultados do Programa

Tipo Instrumento Análise Geral Pontos Fortes Pontos a melhorar

1. Larkin Street Planejamento Encaminhamento


Ef E, D Descritivas +
Youth Services da transição para o programa
Seleção
2. Campus Support Descritivas/
Po E, QA + Suporte Social participantes
Programmes Temática
e apoio financeiro
3. Youth Homes
Estabilidade no Aspectos culturais e
from SOS Po E, D, O Temática NC
cuidado moradia pós-saída
Children´s Village
4. Moving On/ Novo paradigma
Po, Ef E Temática + NC
Friendship Group de intervenção
Modelo Formação dos
5. The Outreach Ef, Im QA - NC
Multinível profissionais
6. Life Skill Modelo Metodologia
Ef, Im QA - NC
Training Multinível (expositiva)
7. Keyworking Acompanhamento Formação dos
Po GF, E Temática +
pós-saída mentores
Descritivas/ Estabilidade no Inserção social
8. Academy Po, Ef ES, D, QA +
Teste t cuidado e comunitária
9. Michigan
Educational Descritivas/ Metodologia e Interação com
Po, Ef E, GF, QA +
Opportunities Temática mentores outros programas
for Youth

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1674 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

Correlação /
Relacionamentos
10. Academy Po, Ef D, E, QA Regressão + NC
estáveis com adultos
Múltipla
11. The Mamelani Vínculos afetivos, Moradia pós-saída,
Po, Ef D, E, ES Sistemática +
Project menos risco desempenho escolar
12. St Luke’s
Anglicare Leaving Empregabilidade e Uso de recursos
Po E, GF Temática +
Care and After Care relação com mentores comunitários
Support Service
13. Independent Regressão
Ef D, QA + NC Metodologia
Living Programe Logística
14. Creating
Metodologia,
Ongoing T1 (D, QA); Teste t/
Po, Ef + formação mentores, NC
Relationships T2 (QA, E) Temática
suporte social
Effectively
15. Foster Care Metodologia
Po, Ef GF Narrativa + NC
Chronicles participativa
16. Advocates
Interação com
to Successful Descritivas/ Vínculo significativo
Po, Ef E, GF, QA + outros programas,
Transition to Temática com mentores
mentores
Independence
17. Transition Escolaridade/
Resource Action Ef QA Qui-quadrado + Empregabilidade interação com a
Center comunidade
18. Supportive Descritivas/ Manejo finanças,
Po QA + Suporte Social
Housing Test t emprego, saúde
Metodologia Desafios da vida
19. VISIONS Po, Ef ES, GF NC +
participativa independente
20. Foster Care
E, O, QA, Descritivas/ Metodologia Desempenho
Alumni Educational Po, Ef +
GF, D Temática participativa acadêmico
Success

Notas. Ef=Efeito / Im=Impacto / Po=Processo / GF=Grupo Focal / E=Entrevista / ES=Escala Validada / QA=Questionário ou
Escala Ad Hoc /O=Observação / D=Documentos / NC=Não consta no artigo.

No que se refere às fortalezas e fraquezas mando suas próprias decisões e construindo sua
(pontos a melhorar), foi possível identificar al- autonomia.
gumas características em comum entre os as- Embora o foco dos programas tenha sido a
pectos levantados pelos estudos. O primeiro conquista da autonomia, diversos estudos (2, 3,
deles diz respeito à importância da integração 7, 10, 14, 15, 16 e 18) destacaram como outro
dos participantes com a comunidade e adap- aspecto primordial para a obtenção de bons re-
tação do programa ao contexto sociocultural, sultados a vinculação com adultos de referência.
para que atingir bons resultados. Outro aspecto Seja como ponto forte do programa, ou aspec-
se refere à necessidade de utilização de meto- to a ser mais incentivado em edições futuras,
dologias participativas alinhadas aos interesses o suporte social e os relacionamentos estáveis
e necessidades dos jovens. A expressão “em- ocuparam lugar central nos resultados descritos
poderamento” (empowerment) foi amplamente pelos autores.
utilizada pelos autores para se referir ao lugar Um último aspecto comum a mais de um
de destaque que os jovens devem ocupar, to- estudo foi o paradoxo encontrado entre a cons-

Trends Psychol., Ribeirão Preto, vol. 26, nº 3, p. 1665-1681 - Setembro/2018


Transição entre o Acolhimento e a Vida Adulta: Uma Revisão Sistemática sobre 1675
Intervenções.

tatação da importância de empreender esforços da sociedade (Costa, 2012; Medrado, 2010); as


para a avaliação de programas de intervenção e a necessidades individuais dos jovens (Martinez
dificuldade encontrada para concretizá-la. Fato- & Soares-Silva, 2008). Esses dilemas também
res como escassez de recursos e pessoal, dificul- foram destacados pelos participantes dos estu-
dade de acesso aos participantes e componentes dos revisados. Muitas das fortalezas ou pontos a
éticos, foram apontados como entraves para os melhorar nos programas se referiam a conteúdos
processos avaliativos. que, incluídos nos objetivos das intervenções,
poderiam contribuir para a superação de dificul-
Discussão dades que extrapolam aspectos práticos do coti-
diano. O favorecimento de relações com adultos
Os resultados deste estudo revelaram as- de referência; a rede de apoio; o suporte sócio
pectos interessantes que permitem reflexões. emocional; e a satisfação com o relacionamen-
Primeiramente, no que se refere aos resultados to com educadores ou mães sociais, são alguns
dos programas e suas contribuições para pesqui- dos exemplos de aspectos destacados pelos par-
sas e intervenções futuras, mas também, sobre ticipantes como essenciais para um processo de
os diferentes tipos de avaliações conduzidas e a transição saudável.
importância destes processos para o avanço do Alguns dos programas analisados já apre-
conhecimento no tema. sentavam preocupação especial com aspectos
A maioria dos programas optou por centrar sociais e emocionais, como por exemplo, os pro-
seus objetivos nos temas da educação (escolari- gramas Foster Care Chronicles (Nsonwu et al.,
zação) e preparação para o mercado de trabalho, 2015), Moving On e Friendship Group (Goyette
assim como no treinamento de habilidades bási- et al., 2016). Estas propostas partiram do pressu-
cas para vida independente (encontrar um local posto de que a transição para a vida adulta está
para morar, fazer compras, administrar dinheiro, influenciada por uma série de fatores que extra-
pagar contas, localizar-se e usar meios de trans- polam a responsabilidade individual, para inter-
porte, cozinhar, etc.). Estas escolhas possivel- vir terapeuticamente na expressão de emoções
mente são reflexo de uma extensa gama de es- associadas à saída do acolhimento e na constru-
tudos e políticas desenvolvidas na década de 90, ção de relacionamentos saudáveis (Goyette et
início dos anos 2000, com foco no treinamento al., 2016). Por outro lado, propostas como The
de habilidades para viver de forma indepen- Outreach (Greeson et al., 2014) e Keyworking
dente – independent life skills – (Mallon, 1998; (Holt & Kirwan, 2012) apostaram no sistema de
McMillen, Rideout, Fisher, & Tucker, 1997). A mentoria para desenvolver a rede de apoio social
importância de que adolescentes em situação de ao mesmo tempo em que ofereceram treinamen-
acolhimento estejam preparados para realizar to de habilidades. O relacionamento com men-
tarefas cotidianas e conquistar bons postos de tores vem sendo apontado como uma estratégia
trabalho é incontestável. No entanto, nos resul- efetiva para promover resiliência e amenizar o
tados aqui encontrados, assim como nos de es- caminho normalmente árduo que enfrentam os
tudos exploratórios mais recentes, se destacam jovens com história de acolhimento (Greeson,
a importância de que outros conteúdos também 2013).
sejam contemplados nos programas de interven- Além do conteúdo, outro aspecto que se re-
ção que preparam para a vida adulta. velou fundamental para o êxito dos programas
Pesquisas conduzidas com adolescentes e foi a metodologia utilizada. Duas constatações
jovens brasileiros em processo de transição de- merecem destaque no que se refere à forma
monstram, além do despreparo para lidar com como as intervenções foram oferecidas: (1) os
as tarefas do dia a dia (Martinez & Soares- programas devem promover a participação ativa
-Silva, 2008), dilemas como: a ambiguidade dos jovens, (2) o formato da intervenção precisa
entre o medo de deixar a instituição e o dese- adaptar-se ao contexto e necessidades dos parti-
jo de liberdade (Medrado, 2010); o preconceito cipantes. Estas premissas estão relacionadas já

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1676 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

que, no contexto das intervenções psicossociais, Em termos práticos, no entanto, verifica-se


a conquista de uma participação ativa garante que essas políticas não estão sendo implanta-
o respeito às diferenças individuais e contextu- das. As repúblicas não são uma realidade para
ais (Montero, 2004). Os programas serão efica- muitos estados brasileiros, em 2014 existiam
zes sempre e quando os adolescentes e jovens oficialmente no país apenas 39 unidades de aco-
forem considerados agentes capazes de decidir lhimento voltadas especificamente para jovens,
sobre as questões que lhes dizem respeito, num a maioria (26 unidades) localizada na região Su-
movimento de empoderamento (Horochovski & deste (MDS, 2015). Também se observa ainda
Meirelles, 2007). um longo caminho a ser percorrido no que se
Nessa revisão sistemática a amostra este- refere à mudança de paradigma no atendimento
ve composta apenas de artigos internacionais, à população acolhida. Dentre as metas previstas
revelando a possível escassez de estudos sobre pelo PNCFC para 2015, estavam ações direta-
essa temática no Brasil. Porém, as políticas pú- mente relacionadas à preparação de jovens e
blicas destinadas ao acolhimento no contexto adolescentes para autonomia, envolvendo nesse
brasileiro, estão em consonância com diversos processo diferentes setores da sociedade civil.
aspectos apontados pelos resultados desta revi- No entanto, estudos recentes têm revelado o des-
são como eficazes no favorecimento da autono- preparo ainda enfrentado pelos jovens brasilei-
mia. É o que revelam documentos como o Esta- ros na saída do acolhimento, bem como a falta
tuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei n. de opções de moradia, educação e trabalho des-
8.069, 1990), o Plano Nacional de Convivência tinadas aos mesmos (Martinez & Soares-Silva,
Familiar e Comunitária – PNCFC (Conselho 2008; Moreira, 2013; Romanelli, 2013; Rosa et
Nacional dos Direitos da Criança e do Ado- al., 2012).
lescente [CONANDA], Conselho Nacional de A avaliação permanente dos programas e
Assistência Social [CNAS], Secretaria Espe- políticas públicas é uma das formas de garantir
cial dos Direitos Humanos [SEDH], & Minis- com que sejam implantadas de forma efetiva.
tério do Desenvolvimento Social e Combate à Avaliar permite estimar os resultados e julgar
Fome [MDS], 2006) e as Orientações Técnicas o valor, para que se possam tomar as decisões
para Serviços de Acolhimento para Crianças e sobre a continuidade das propostas (Cohen &
Adolescentes (CONANDA & CNAS, 2009). O Franco, 1993). Os estudos aqui analisados obti-
PNCFC tem como objetivo fundamental pro- veram resultados no que se referiu ao processo,
mover uma mudança no paradigma do atendi- aos efeitos e ao impacto das intervenções con-
mento às crianças e aos adolescentes. Dentre as duzidas. Um processo avaliativo completo de-
diretrizes que o compõe está o “fortalecimento veria incluir as três modalidades de avaliação,
da autonomia da criança, do adolescente e do em primeiro lugar a de processo, para compro-
jovem adulto na elaboração de seu projeto de var que as atividades estão ocorrendo correta-
vida” (CONANDA et al., 2006, p. 71), através mente e em consonância com o planejamento
de uma metodologia participativa que possibili- inicial. A avaliação de efeito determina se ocor-
te aos acolhidos o exercício de seu protagonis- reram as mudanças desejadas e em que medida
mo. Por sua vez, o documento de orientações estas se deram. A avaliação de impacto, por sua
técnicas para os serviços de acolhimento prevê vez, permite verificar se os resultados obtidos
a existência de repúblicas como opção de mora- podem ser atribuídos a intervenção em si (Blas-
dia subsidiada para egressos do sistema de pro- co & Casado, 2009; Cohen & Franco, 1993).
teção. Estas se caracterizariam como uma eta- Não há consenso na literatura sobre as di-
pa intermediária na construção da autonomia, ferentes formas de avaliação de intervenções
oferecendo oportunidade de autogestão, porém e qual o desenho, método e técnicas se devem
com acompanhamento e espaços de escuta e utilizar para cada tipo. Essa dificuldade provoca
construção de soluções e projetos de vida (CO- uma confusão que pode ser observada em alguns
NANDA & CNAS, 2009). estudos, há casos em que os autores informavam

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Transição entre o Acolhimento e a Vida Adulta: Uma Revisão Sistemática sobre 1677
Intervenções.

que haviam avaliado impacto, quando na reali- De acordo com Piccinini (1996) existe uma
dade verificavam o que se entende como efeito interação constante entre pesquisa e profissão
do programa. De acordo com as análises realiza- sendo que nenhuma delas é viável sem a outra.
das, apenas dois estudos conduziram avaliações Por um lado, os processos avaliativos são funda-
de impacto, comparando jovens acolhidos que mentais para melhor compreender um fenômeno
foram submetidos aos programas, a outros que e orientar de forma eficaz futuros programas de
não participaram. Esses dois estudos constata- intervenções (Ajuntament de Barcelona, 2017).
ram que as mudanças observadas não estiveram Por outro, os serviços destinados aos adoles-
relacionadas à participação ou não na interven- centes e jovens acolhidos, com suas equipes,
ção, revelando a importância de que este tipo ocupam um lugar privilegiado de superação dos
de avaliação seja retomada, para que se possa entraves e dificuldades envolvidos nas pesquisas
repensar os objetivos e redesenhar o programa. nesse contexto (Fernández, 2003). É imprescin-
Outro aspecto que merece destaque no que se dível que a distância entre os dois campos seja
refere à avaliação de programas de intervenção, cada vez menor, para que possamos contar com
foram os entraves e dificuldades relatados por publicações de amplo alcance para embasar prá-
alguns dos pesquisadores para conduzir os pro- ticas cada vez mais eficientes no contexto do
cessos avaliativos. De acordo com Blasco e Ca- acolhimento institucional.
sado (2009), alguns aspectos são especialmente
difíceis de mensurar, pois fazem referência a Conclusão
construtos pouco concretos, como, por exem-
plo, o aumento da autonomia. Nesses casos, a Através dessa revisão sistemática foi possí-
dificuldade reside principalmente em mensurar vel concluir que alguns aspectos são fundamen-
um fenômeno de natureza imensurável, selecio- tais para a eficácia de programas para favorecer
nando método, instrumentos e medidas capazes a transição entre o acolhimento e a vida adulta.
de dar conta dessa tarefa. Para além destes en- Primeiramente, se observou que o formato das
traves, estão ainda as dificuldades em acessar propostas deve respeitar as diferenças individu-
os participantes, os recursos financeiros neces- ais e contextuais dos participantes. Os progra-
sários para tal, e os aspectos éticos envolvidos mas de duração continuada, com acompanha-
ao se realizar uma pesquisa com pessoas cujas mento antes e após a saída do acolhimento são
histórias são permeadas por tanto risco. os melhores avaliados pelos participantes e que
Todos estes entraves e dificuldades não têm apresentam mudanças mais visíveis e duráveis.
impedido que diversos países e instituições le- É importante que o conteúdo das intervenções
vem a cabo avaliações de seus programas para inclua o treinamento em habilidades para a vida
egressos do sistema de proteção. Contudo, ob- independente, porém, sempre aliado ao acom-
serva-se que a maioria dos resultados vem sendo panhamento socioemocional e inserção comu-
divulgados em relatórios e publicações próprias, nitária. Por fim, constatou-se que a eficácia dos
divulgadas ou não em meio eletrônico. Isso ex- programas depende também da metodologia que
plicaria a ausência de programas amplamente se utiliza, sendo o método participativo, no qual
reconhecidos como o Grupo Nós (Brasil) e o os jovens têm papel central nas tomadas de deci-
Punt de Referéncia (Espanha) na amostra des- sões, o que apresenta melhores resultados.
ta revisão. A falta de resultados destes e outros Uma limitação desse estudo reside no fato
programas publicados em revistas indexadas, de ela está restrita a artigos científicos. Muitos
pode comprometer o avanço científico no que dos resultados de programas, como os que foram
se refere a propostas no contexto do acolhimen- aqui revisados, são divulgados através de relató-
to institucional, provocando uma cisão entre os rios, documentos oficiais ou, ainda, teses, disser-
profissionais que atuam na área e os pesquisado- tações e livros. Essa limitação restringe os resul-
res do tema. tados obtidos, porém não invalida a relevância

Trends Psychol., Ribeirão Preto, vol. 26, nº 3, p. 1665-1681 - Setembro/2018


1678 Cassarino-Perez, L., Córdova, V. E., Montserrat, C., Sarriera, J. C.

dos mesmos. Deve-se atentar para a necessidade of transitional housing programs. Children and
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promover sua qualidade de vida e resiliência. tos Sociais. Petrópolis, RJ: Vozes.
Sugere-se que os profissionais envolvidos em Costa, A. C. P. (2012). Trajetórias sociais de jovens
iniciativas direcionadas a esses jovens possam que vivenciaram o processo de desligamento
empregar esforços para avaliá-las e publicar por maioridade em abrigos institucionais (Dis-
seus resultados. Por outro lado, sugere-se que no sertação de mestrado, Universidade Federal do
meio científico se amplie espaço para publica- Mato Grosso do Sul, Pantanal, MTS, Brasil).
ções dessa natureza. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, Conselho Nacional de Assistência
Contribuições dos Autores Social, Secretaria Especial dos Direitos Huma-
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Os autores declaram não ter conflito de da resolução 71/2011. Brasília, DF. Recupera-
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