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Terceira edição

Jaime E. Villate
Exercícios Resolvidos de
Eletricidade, Magnetismo
e Circuitos

Jaime E. Villate
Faculdade de Engenharia
Universidade do Porto
Exercícios Resolvidos de Eletricidade, Magnetismo e Circuitos
Copyright © 2020, Jaime E. Villate
E-mail: villate@fe.up.pt

Este trabalho está licenciado sob a Licença Creative Commons


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Edição do autor.

ISBN: 978-972-752-271-2

DOI: 10.24840/978-972-752-271-2
(https://doi.org/10.24840/978-972-752-271-2)

Terceira edição
Setembro de 2020
Conteúdo
Prefácio v

1 Campo elétrico 1

2 Voltagem e corrente 9

3 Resistência 15

4 Capacidade 19

5 Circuitos de corrente contínua 25

6 Fluxo elétrico 33

7 Potencial eletrostático 39

8 Campo magnético 45

9 Indução eletromagnética 51

10 Processamento de sinais 57

11 Circuitos de corrente alternada 63

12 Ondas eletromagnéticas e luz 71

Bibliografia 75
Prefácio
Esta obra complementa o livro Eletricidade, Magnetismo e Circuitos (Vi-
llate, terceira edição, 2019). Em cada capítulo apresenta-se uma proposta
de resolução de alguns dos problemas no fim de cada capítulo desse livro.
Tal como nesse livro, em alguns casos usa-se o Sistema de Álgebra Com-
putacional (CAS) Maxima na resolução dos problemas. Espera-se que os
comandos de Maxima usados sejam também compreensíveis para quem
não use esse software, e sirvam como indicação dos passos a seguir na
resolução com outras ferramentas de cálculo.
O tema dos primerios quatro capítulos é eletrostática e eletricidade. O
capítulo 5 é sobre circuitos de corrente contínua. Nos capítulos 6 e 7
aprofunda-se mais nos temas do campo elétrico e teoria do potencial. Os
capítulos 8 e 9 são dedicados ao campo magnético e à indução eletromag-
nética. Os capítulos 10 e 11 são também sobre teoria de circuitos, mas
com tensões variáveis e alternadas. Finalmente, o capítulo 12 é sobre
ondas eletromagnéticas.
A resolução de problemas de eletricidade, magnetismo e circuitos é uma
forma importante de consolidar conhecimentos nessas áreas, mas deverá
ser acompanhada do estudo dos aspectos teóricos. Trata-se de um tema
muito rico em fenómenos físicos que é importante conhecer e compre-
ender para resolver problemas nessa área.
Todas as figuras são originais e são licenciadas sob a mesma licença do
livro: Creative Commons Atribuição-Partilha 4.0 Internacional.

Jaime E. Villate
E-mail: villate@fe.up.pt
Porto, setembro de 2020
1 Campo elétrico

Problema 1
Uma lâmina de acetato, eletrizada por fricção, coloca-se 1 cm acima
de uma mesa onde há vários quadrados de papel, cada um com 0.5
cm de lado. Observa-se que alguns pedaços de papel saltam, ficando
colados ao acetato. Faça uma estimativa da ordem de grandeza da
carga do acetato, admitindo que uma carga idêntica e de sinal oposto
é induzida em cada pedaço de papel e sabendo que o papel usado
tem 80 g/m2 .

A área de cada pedaço de papel, em metros quadrados, multiplicada por


80 dará o valor da sua massa em gramas. Converte-se essa massa para
quilogramas e multiplica-se pela aceleração da gravidade, em metros
sobre segundo quadrado (9.8), para obter o peso do pedaço de papel em
newton. Essas contas podem ser feitas no Maxima, armazenando o valor
obtido na variável P :

(%i1) P: 0.5e-2^2*80e-3*9.8;
(%o1) 1.96e-5

Admitindo que os valores absolutos das cargas no acetato e no papel são


q, obtém-se a expressão do módulo da força eletrostática entre eles, F ,
em função de q, quando a distância entre o acetato e o papel for de 1 cm,
usando a lei de Coulomb (unidades SI):

(%i2) F: 9e9*q*q/1e-2^2;
(%o2) 9.0e+13 q 2

~ , atrativa, é vertical e para cima e o peso é


A força elétrica sobre o papel, F
no sentido oposto. Se a distância fosse maior que 1 cm, essa força seria
menor. Como tal, quando o acetato está afastado do papel, F é menor
2 Campo elétrico

que P e a força resultante, para baixo, mantém o papel em contacto com


a mesa (há reação normal da mesa sobre o papel). Quando a distância
for menor que 1 cm, F é maior que P produzindo força resultante para
cima, que faz com que o papel salte colando-se ao acetato. Conclui-se
então que a 1 cm de distância é quando os módulos das duas forças
calculadas acima, F e P , são iguais. Basta então resolver a equação F = P
para encontrar o valor de q

(%i3) float (solve (F=P));


(%o3) [ q = - 4.667e-10, q = 4.667e-10]

Aqui interessa apenas a solução positiva, porque q representava ou valor


absoluto das cargas. A conclusão é que a ordem de grandeza da carga é
10−10 C.
Comentários: A lei de Coulomb é valida apenas para a força entre duas
cargas pontuais. A carga distribuída sobre o acetato, a 1 cm de distân-
cia do papel, não pode ser considerada uma carga pontual. E no papel,
com carga neutra, em vez de cargas pontuais temos pequenos dipolos
elétricos. No entanto, como pretendíamos apenas ter uma estimativa da
ordem de grandeza das cargas envolvidas, foram feitas essas aproxima-
ções tão rudimentares. Determinar de forma mais precisa a força entre o
acetato e o papel, em função da carga no acetato, é um problema muito
mais complicado.

Problema 2
A soma dos valores de duas cargas pontuais q 1 e q 2 é q 1 + q 2 = 10 µC.
Quando estão afastadas 3 m entre si, o módulo da força exercida por
cada uma delas sobre a outra é 24 mN. Determine os valores de q 1 e
q 2 , se: (a) Ambas cargas são positivas. (b) Uma das cargas é positiva
e a outra negativa.

Para poder usar os números simples do enunciado (10 e 3), optaremos


por resolver o problema com as mesmas unidades usadas no enunciado:
cargas em µC, distâncias em metros e forças em mN. Como tal, o valor
que deveremos usar para a constante de Coulomb será:
N · m2 3
9 10 mN · m
2
mN · m2
k = 9 × 109 = 9 × 10 = 9
C2 1012 µC2 µC2
3

A primeira condição, nas unidades escolhidas, é:

(%i4) c1: q1 + q2 = 10$

Observe-se que nessa equação as cargas q 1 e q 2 poderão ter valores


positivos ou negativos.
(a) Se as duas cargas são positivas, o produto entre elas, q 1 q 2 , também é
positivo. Como tal, na lei de Coulomb o produto dos valores absolutos
das cargas pode ser substituído pelo produto das cargas: |q 1 | |q 2 | = q 1 q 2 ,
e a condição para que o módulo da força seja 24 mN é:

(%i5) c2: 9*q1*q2/3^2 = 24$

Resolvendo as duas condições encontram-se os valores das cargas

(%i6) solve ([c1, c2]);


(%o6) [ [ q2 = 4, q1 = 6], [q2 = 6, q1 = 4 ] ]

(b) Quando os sinais das cargas são opostos, q 1 q 2 será negativo. Como
tal, o produto dos valores absolutos deverá ser substituído por: |q 1 | |q 2 | =
−q 1 q 2 , e a condição para a força é

(%i7) c3: -9*q1*q2/3^2 = 24$

os valores das cargas são então

(%i8) solve ([c1, c3]);


(%o8) [ [ q2 = - 2, q1 = 12], [q2 = 12, q1 = - 2 ] ]

As duas soluções são equivalentes, já que tanto faz dizer que q 1 é a carga
positiva ou a negativa.

Problema 5
Três cargas pontuais estão ligadas por dois fios isoladores de 2.65 cm
cada (ver figura). Calcule a tensão em cada fio.

3.2 nC 5.1 nC 7.4 nC


4 Campo elétrico

Sobre cada uma das partículas atuam forças elétricas e tensões nos fios
aos que estejam ligadas. Como este sistema está em equilíbrio, a força
resultante sobre cada uma das 3 partículas deverá ser nula. Como tal,
temos 3 condições de equilíbrio com apenas 2 incógnitas, que são as
tensões nos dois fios.
Basta então considerar apenas as condições de equilíbrio para duas das
partículas. Os diagramas de forças para as cargas de 3.2 nC e 7.4 nC
(designadas de q 1 e q 3 ) são os seguintes:

~31
F ~a
T ~b
T ~13
F
~21 q 1
F q3 F
~23

onde T a é a tensão no fio do lado esquerdo e Tb a tensão no fio do lado


direito. Observe-se que q 1 não está em contacto com o fio da direita
~b não atua sobre essa partícula. De forma análoga para
e, por isso, T
q 3 . No entanto, as forças elétricas atuam à distância, sem ter de existir
contacto entre as partículas; sobre cada uma das 3 partículas atuam as
forças elétricas produzidas pelas outras duas partículas.
A condição de equilíbrio para a carga q 1 é

T a = F 21 + F 31

Como tal, a tensão no fio do lado esquerdo é (unidades SI):

(%i9) Ta: 9e9*(3.2e-9*5.1e-9/2.65e-2^2+3.2e-9*7.4e-9/(2*2.65e-2)^2);


(%o9) 2.85e-4

A condição de equilíbrio para a carga q 3 é

Tb = F 13 + F 23

que conduz à tensão no fio do lado direito:

(%i10) Tb:9e9*(7.4e-9*5.1e-9/2.65e-2^2+7.4e-9*3.2e-9/(2*2.65e-2)^2);
(%o10) 5.595e-4

As unidades dessas duas forças são newton, porque foram usadas unida-
des SI.
5

Se tivéssemos optado por usar a condição de equilíbrio para a partícula


q 2 , no diagrama das forças há que ter em conta que atuam as tensões dos
dois fios, porque essa partícula está em contacto com os dois fios:

~a
T ~b
T
~32 q 2 F
F ~12

E a respetiva condição de equilíbrio é

T a + F 32 = Tb + F 12

equação essa que podia ter sido resolvida em simultâneo com alguma
das duas equações para q 1 ou q 3 , obtendo-se a mesma resposta, já que
esta terceira condição obtém-se subtraindo as duas primeiras condições,
e tendo em conta que para quaisquer índices i e j , F i j é igual a F j i .

Problema 8
Determine a força elétrica resultante sobre cada uma das cargas
representadas na figura e o campo elétrico produzido pelas 3 cargas
no ponto P.

7 nC
1 cm

1 cm
P 1 cm

p
−5 nC 3 cm 9 nC

Usando as unidades do problema (nC e cm), a constante k será:


¡ 2 ¢2
2
9 N·m 9 N · 10 cm mN · cm2
k = 9 × 10 = 9 × 10 ¢2 = 0.09
C2 109 nC nC2
¡

Ou seja, o valor da constante k será 0.09, as forças obtidas estarão em mN


e o campo em mN/nC, que é equivalente a N/µC.
6 Campo elétrico

(a) A figura seguinte mostra os três diagramas de forças para as três


partículas, admitindo que a carga q 1 é a de −5 nC, a carga q 2 é a de 9 nC
e q 3 é a de 7 nC.

q3
~23
F
~13
F

2
1

~31
F
θ q2
p
q1 F
~21 3 ~12
F
~32
F

Em cada vetor F ~i j o primeiro índice i indica o número da carga que


produz a força, e o segundo índice j é o número da carga na qual atua
~i j = −F
essa força. As forças elétricas verificam a lei de ação e reação: F ~j i ,
e em módulo, F i j = F j i .
A lei de Coulomb permite calcular os módulos das seis forças no diagrama;
usando as unidades escolhidas,

(%i11) F12: 0.09*5*9/3;


(%o11) 1.35
(%i12) F13: 0.09*5*7;
(%o12) 3.15
(%i13) F23: 0.09*9*7/4;
(%o13) 1.417

Observando a figura, conclui-se que o cosseno e o seno do ângulo θ são:

(%i14) [cosseno, seno]: float ( [sqrt(3), 1] /2);


(%o14) [0.866, 0.5]

Usando listas para representar as componentes dos vetores, com eixo dos
~i , sobre
x de q 1 para q 2 e eixo dos y de q 1 para q 3 , as forças resultantes, F
cada uma das três cargas obtêm-se observando o diagrama das forças:
7

(%i15) F1: [F12, F13];


(%o15) [ 1.35, 3.15 ]
(%i16) F2: [-F12 + F23*cosseno, -F23*seno];
(%o16) [ -0.1224, -0.7087 ]
(%i17) F3: [-F23*cosseno, F23*seno - F13];
(%o17) [ -1.228, -2.441 ]

Resumindo, as forças que atuam sobre as 3 cargas são, em mN,

~1 = 1.35 ı̂ + 3.15 ̂
F
~2 = −0.12 ı̂ − 0.71 ̂
F
~3 = −1.23 ı̂ − 2.44 ̂
F

(b) O módulo do campo produzido por cada carga pontual q i é

k |q i |
Ei =
d i2

onde d i é a distância desde a carga q i até o ponto onde se calcula o


campo. As cargas q 2 e q 3 , positivas, produzem campos repulsivos e a
carga q 1 , negativa, produz campo atrativo.
Os vetores dos campos produzidos pelas 3 cargas no ponto P são então
como mostra a figura seguinte.

q3

1
~2
E
θ P
1 ~3
E
~1
E 1
1
θ
p
q1 3 q2
8 Campo elétrico

Como o ponto P está no meio da hipotenusa, as distâncias desde P até às


cargas q 2 e q 3 são iguais a 1. E como a projeção da hipotenusa na base
do triângulo é o segmento entre q 1 e q 2 , a projeção do ponto P está no
meio desse segmento e a distância desde P até à carga q 1 também é igual
a 1: d 1 = d 2 = d 3 = 1 e, com as unidades escolhidas,

E 1 = k |q 1 | = 0.09 × 5 E 2 = k |q 2 | = 0.09 × 9 E 3 = k |q 3 | = 0.09 × 7

Observando o diagrama dos campos, as componentes vetoriais dos 3


campos são:

~1 = E 1 (− cos θ ı̂ − sin θ ̂)


E
~2 = E 2 (− cos θ ı̂ + sin θ ̂)
E
~3 = E 3 (cos θ ı̂ − sin θ ̂)
E

O campo total em P é a soma desses 3 vetores. Usando os valores de cos θ


e sin θ já armazenados na alínea anterior nas variáveis seno e cosseno do
Maxima, obtém-se:

(%i18) E: 0.09*5*[-cosseno, -seno] + 0.09*9*[-cosseno, seno]


+ 0.09*7*[cosseno, -seno];
(%o18) [ -0.5456, -0.135 ]

Isto é, o campo no ponto P, em unidades de N/µC, é:

~ = −0.546 ı̂ − 0.135 ̂
E
2 Voltagem e corrente

Problema 2
Num tubo de raios X são libertados eletrões, inicialmente em re-
pouso, que são logo acelerados no vácuo do tubo por meio de um
campo elétrico, atravessando uma região em que a diferença de po-
tencial é de 4 kV. Os eletrões logo colidem com um alvo metálico
produzindo radiação X. (a) Determine a energia cinética e a velo-
cidade com que os eletrões colidem com o alvo. (b) Se a variação
de potencial se estender por uma distância de 8 dm, determine a
intensidade do campo elétrico médio.

(a) A diminuição da energia potencial elétrica do eletrão é

∆Ue = |q ∆V | = 4000 eV

para passar de eletrão-volt para joule, multiplica-se pela carga elementar

(%i1) dU: 4000*1.602e-19;


(%o1) 6.408e-16

Na passagem pelo tubo de vácuo, não existem forças dissipativas sobre


os eletrões e, portanto, ao sua energia mecânica permanece constante.
A massa do eletrão, 9.109 × 10−31 kg, implica que para que a variação da
sua energia potencial gravítica fosse da ordem da variação da energia
potencial elétrica, 6.408 × 10−16 J, o eletrão teria de cair uma altura da
ordem dos 1013 metros; como tal, vamos ignorar a energia potencial
gravítica, admitindo que a energia potencial é apenas elétrica.
Por conservação da energia, a diminuição da energia potencial de cada
eletrão, ∆Ue , será igual ao aumento da sua energia cinética, m v 2 /2, onde
v é a velocidade final (a velocidade inicial é nula). Substituindo o valor
da massa do eletrão obtém-se o módulo da velocidade v:
10 Voltagem e corrente

(%i2) float (solve ((1/2)*9.109e-31*v^2 = dU));


(%o2) [v = - 3.751e+7, v = 3.751e+7]

Os eletrões colidem no alvo com energia cinética de 6.408 × 10−16 J e


velocidade de 3.751 × 107 m/s.
(b) O campo elétrico médio é igual à diferença de potencial, dividida pela
distância:

(%i3) E: 4000/8e-1;
(%o3) 5.0e+3

O valor médio do campo é Ē = 5000 V/m (V/m é equivalente a N/C).


Comentários: Na época de Newton não eram feitas experiências com
velocidades tao elevadas como a deste problema. Hoje em dia, este tipo
de experiência é feita diariamente, por exemplo, no consultório de um
dentista. A mecânica clássica, baseada nas leis de Newton, é apenas
válida quando a velocidade v dos objetos for muito menor do que a
velocidade da luz, c = 3 × 108 m/s. Para determinar se uma velocidade
está dentro do domínio em que a mecânica clássica é boa aproximação,
calcula-se a função: s
1
γ=
1 − (v/c)2

Se γ for muito maior do que 1, ou um número imaginário, a mecânica clás-


sica deixa de ser uma boa aproximação e há que usar os resultados mais
precisos da mecânica relativista. A velocidade obtida neste problema,
3.751 × 107 m/s, próxima da velocidade da luz, poe em causa a validade
do resultado; no entanto, com essa velocidade obtém-se γ = 1.008, que
não é muito maior que 1 e, portanto, o valor obtido para a velocidade é
aceitável.
A determinação do valor mais preciso de v, usando mecânica relativista,
é feito da forma seguite: em vez de usar a expressão clássica da energia
cinética, m v 2 /2, usa-se a expressão relativista:

E = m γ c2

Observe-se que quando a partícula estiver em repouso (v = 0) ainda terá


11

energia cinética, igual a E 0 = m c 2 . Como na prática conseguem-se medir


apenas diferenças de energia, essa energia em repouso só foi descoberta
na época de Einstein. A energia em repouso dum eletrão, dividida pela
carga elementar para passar para eletrão-volt, é igual a:

m c 2 9.109 × 10−31 × 9 × 1016


E0 = = = 5.117 × 105 eV
e 1.602 × 10−19

A expressão q ∆V da energia elétrica continúa válida na física relativista.


Como tal, a energia cinética final de cada eletrão será a sua energia em
repouso mais os 4000 eV fornecidos pelo campo elétrico no tubo. O fator
γ dos eletrões que chocam no alvo obtém-se dividindo a energia final
pela energia em repouso:

5.117 × 105 + 4000


γ= = 1.008
5.117 × 105

Finalmente resolve-se a equação γ2 = 1/(1 − (v/c)2 ) para determinar a


velocidade, obtendo-se o valor 3.73 × 107 m/s. O resultado obtido usando
mecânica clássica está correto nos dois primeiros algarismos significati-
vos, mas o terceiro algarismo já tem erro, devido ao efeito relativista.

Problema 3
Uma certa bateria de automóvel tem carga máxima de 250 Ah, que
corresponde à carga disponível quando está carregada a 100%. (a)
Depois de algum uso, a bateria descarrega até 60% da sua carga má-
xima. Qual é a carga, em coulombs, com que fica a bateria? (b) A
seguir, a bateria liga-se a um carregador de 12 V para a recarregar e
observa-se que inicialmente a corrente do carregador tem intensi-
dade de 7 A, mas 6 horas depois diminui a 3 A. Admitindo diminuição
linear da corrente em ordem ao tempo, com que percentagem da
sua carga máxima fica a bateria no fim das 6 horas?

(a) Após ter descarregado pelo uso, a carga, que é 60% da carga máxima
inicial de 250 A·h, que em coulomb é igual a:

(%i4) 0.6*250*3600;
(%o4) 5.4e+5
12 Voltagem e corrente

(b) Como a corrente diminui linearmente, a corrente média durante as 6


horas é a média entre a corrente inicial e final:

7+3
I¯ = =5A
2

Também podíamos ter encontrado a corrente média da forma seguinte: a


equação da reta que que dá 7 A em t = 0 e 3 A em t = 6 (tempo medido
em horas) é:
2
I (t ) = 7 − t
3

O valor médio é o integral dessa expressão, de 0 a 6, dividido pelo com-


primento do intervalo de integração (6 horas). No Maxima,

(%i5) integrate (7-2*t/3, t, 0, 6)/6;


(%o5) 5

A carga transferida para a bateria durante as 6 horas, é igual à corrente


média vezes o tempo: ∆q = (5 A) × (6 h) = 30 A·h. Como a bateria des-
carregada tinha carga de 0.6 × 250 A·h, a carga final dividida pela inicial
será:

(%i6) (0.6*250 + 30)/250;


(%o6) 0.72

Ou seja, a bateria fica com 72% da sua carga inicial.

Problema 7
A corrente num cabo varia de acordo com a função I = 20+3 t 2 , onde
I mede-se em miliampere e t em segundos. (a) Que carga transporta
o cabo desde t = 0 até t = 10 s? (b) Qual o valor da corrente constante
que transporta a mesma quantidade de carga no mesmo intervalo
de tempo?

(a) A carga transferida é igual ao integral da corrente, em ordem ao tempo,


no intervalo de tempo em questão:
13

(%i7) delq: integrate (20 + 3*t^2, t, 0, 10);


(%o7) 1200

As unidades de I eram mA e as unidades de dt segundos. Como tal, o


resultado está em mA·s que são mC. A carga transferida é então ∆q =
1.2 C.
(b) A corrente média nesse intervalo é ∆q/10, ou seja, seria necessária
uma corrente constante de 120 mA para transferir a mesma carga nos
mesmos 10 segundos.

Problema 8
Num condutor ligado a uma pilha com f.e.m. de 1.5 V, circulam
9.6 × 1021 eletrões de condução durante 2 horas. Determine:
(a) A intensidade da corrente média.
(b) A energia fornecida pela pilha durante esse intervalo.
(c) A potência média fornecida pela pilha.
(d) Se a carga inical da pilha era de 3 A·h, com que carga fica após as
2 horas?

(a) O valor absoluto da carga transferida é o número de eletrões transfe-


ridos vezes a carga elementar. A corrente média, em ampere, é a carga
transferida, em Coulomb, dividida pelo tempo, em segundos:

(%i8) I: 9.6e21*1.602e-19/7200;
(%o8) 0.2136

A corrente média é 214 mA.


(b) A energia fornecida é igual à carga transferida, vezes a força eletromo-
triz:

(%i9) U: 9.6e21*1.602e-19*1.5;
(%o9) 2.307e+3

São fornecidos 2307 J.


14 Voltagem e corrente

(c) A potência média fornecida é igual ao produto entre força eletromotriz


(constante) e a corrente média (ou, também, energia fornecida dividida
pelo intervalo de tempo):

(%i10) P: 1.5*I;
(%o10) 0.3204

A potência fornecida foi de 0.3204 W.


(d) A carga final é igual à carga inicial, menos a carga transferida durante
as 2 horas. Em unidades de A·h, a carga transferida é igual à corrente
média, em ampere, vezes o intervalo de tempo, em horas:

(%i11) 3 - I*2;
(%o11) 2.573

A pilha fica com 2.573 A·h.


3 Resistência

Problema 1
A temperatura num dado momento é 12 °C. Quanto deve aumentar
a temperatura para que a resistência de um fio de cobre aumente
10%?

Se R 12 for a resistência a 12 °C, a resistência à temperatura T procurada


será 1.1 R 12 . A expressão que relaciona a resistência a duas temperaturas
diferentes depende do coeficiente de temperatura, que é diferente a cada
temperatura. Como o coeficiente de temperatura do cobre que aparece
na tabela 3.2 do livro é para 20 °C, teremos que relacionar as resistências
a 12 °C e T com a resistência a 20 °C (R 20 , desconhecida), obtendo-se
duas equações:

(%i1) eq1: R12 = R20*(1 + 0.0039*(12 - 20))$


(%i2) eq2: 1.1*R12 = R20*(1 + 0.0039*(T - 20))$

Esse sistema tem uma variável livre, já que são duas equações com 3
variáveis: as resistências R 12 , R 20 e a temperatura T . Para usar o co-
mando solve do Maxima, teremos que selecionar duas das variáveis, por
exemplo T e R 12 , que serão resolvidas em função da terceira variável R 20 ,
considerada variável livre

(%i3) float (solve ([eq1,eq2], [T,R12]));


(%o3) [ [T = 36.84, R12 = 0.9688 R20] ]

T não depende da variável livre. A resposta é que a temperatura deve


aumentar 24.84 °C (aumenta de 12 °C para 36.84 °C).
16 Resistência

Problema 3
A diferença de potencial entre os elétrodos de uma bateria é 3 V
quando a bateria é percorrida por uma corrente de 4 A, no sentido
do elétrodo negativo para o positivo. Quando a corrente é de 2 A,
no sentido oposto, a diferença de potencial aumenta até 12 V. (a)
Calcule a resistência interna da bateria. (b) Qual é a f.e.m. da bateria?

No primeiro caso, quando a corrente passa do elétrodo negativo para


o positivo, as cargas de condução aumentam a sua energia elétrica na
passagem pela bateria. Como tal, a bateria está no modo gerador; subs-
tituindo os valores da voltagem e da corrente na equação do gerador,
obtem-se uma primeira condição:

(%i4) eq1: 3 = E - r*4$

No segundo caso, as cargas de condução perdem energia elétrica na sua


passagem pelo eletrólito da bateria. A bateria está a ser recarregada e,
como tal, a voltagem e corrente verificam a equação dum recetor:

(%i5) eq2: 12 = E + r*2$

A resolução dessas duas equações dá os valores da f.e.m. e da resistência


interna (unidades SI)

(%i6) float (solve ([eq1,eq2]));


(%o6) [ [E = 9.0, r = 1.5] ]

A bateria tem f.e.m. de 9 V e resistência interna de 1.5 Ω.


Comentários: A voltagem nos elétrodos de uma bateria quando estiver
a descarregar, no modo gerador, é sempre menor que o valor da sua
f.e.m.; quando a bateria estiver a ser recarregada, no modo recetor, a
voltagem entre os elétrodos deve ser maior do que a sua f.e.m. Como
tal, no enunciado do problema fica claro que no primeiro caso a bateria
está a descarregar, no segundo caso está a recarregar e a sua f.e.m. estará
entre 3 V e 12 V.
17

Problema 5
A resistência de uma lâmpada incandescente de 60 W e 230 V, à
temperatura ambiente de 20 °C, é R = 65 Ω. No entanto, as especi-
ficações do fabricante (60 W e 230 V) conduzem a um valor muito
mais elevado da resistência. Justifique, calculando a temperatura do
filamento de tungsténio quando a lâmpada se encontra acesa.

A potência e voltagem nominais, indicadas pelo fabricante, permitem de-


terminar o valor da resistência nominal, usando a expressão P = ∆V 2 /R

(%i7) Rn: float (230^2/60);


(%o7) 881.7

Essa será a resistência da lâmpada quando for ligada à voltagem de 230 V,


com uma temperatura elevada que faz com que ilumine. A resistência a
20 °C, R 20 = 65 Ω, é muito menor porque a essa temperatura a lâmpada
não aquece o suficiente para iluminar. A temperatura da lâmpada acessa
obtém-se a partir da equação 3.7 do livro, substituindo os valores de R n ,
R 20 e o coeficiente de temperatura do tungsténio (tabela 3.2):

(%i8) float (solve (Rn = 65*(1 + 0.0045*(T-20))));


(%o8) [T = 2.812e+3]

Quando a diferença de potencial na lâmpada for de 230 V, o filamento


aquecerá ate 2812 °C, produzindo luz.
Comentários: Esse resultado é uma aproximação, já que a relação entre
resistência e temperatura provavelmente já não será linear à tempera-
tura elevada da lâmpada. De qualquer forma, a temperatura deve ser
da ordem dos milhares de graus Celsius para que o filamento produza
luz visível. A lâmpada não queima porque dentro dela não há oxigênio.
O mecanismo de produção de luz usado nas lâmpadas incandescentes
(aquecer um filamento) é muito ineficiente, pois grande parte da energia
elétrica é dissipada em calor; as lâmpadas fluorescentes são muito mais
eficientes. Hoje em dia as lâmpadas de LEDs são ainda mais eficientes,
aproveitando quase toda a energia elétrica para produzir luz.
18 Resistência

Problema 6
No circuito representado na figura, foi medida a corrente na resistên-
cia de 8 kΩ e obteve-se o valor de 2 mA. Use esses dados para calcular
o valor da f.e.m. e a diferença de potencial em cada resistência.

6 kΩ
8 kΩ

2 mA

3 kΩ

A diferença de potencial na resistência de 8 kΩ é:

∆V8 = 8 × 103 × 2 × 10−3 = 16 V

A resistência equivalente às duas resistências de 6 kΩ e 3 kΩ em paralelo


é:

(%i9) Rp: 1/(1/3 + 1/6);


(%o9) 2

E a corrente através dessa resistência equivalente são os mesmos 2 mA


que passam pela resistência de 8 kΩ, que está em série com ela. A dife-
rença de potencial na resistência equivalente de 2 kΩ é:

∆V2 = 2 × 103 × 2 × 10−3 = 4 V

que será igual à diferença de potencial nas resistências de 3 kΩ e 6 kΩ


que estão em paralelo:
∆V3 = ∆V6 = 4 V

O valor da f.e.m. deverá ser igual à soma das diferenças de potencial nas
duas resistências de 2 kΩ e 8 kΩ, que estão em série:

ε = ∆V2 + ∆V8 = 20 V
4 Capacidade

Problema 2
(a) Determine a capacidade de uma esfera condutora isolada, com
raio de 4.0 cm e rodeada por ar. (b) A esfera da alínea anterior é
coberta com uma camada de vidro de 1 mm de espessura e constante
dielétrica de 5.6, deixando um orifício para ligar um cabo à esfera,
e a camada de vidro é coberta com uma segunda lâmina metálica
esférica de raio 4.1 cm, formando-se assim um condensador esférico.
Determine a capacidade desse condensador. (c) Qual a relação entre
a capacidade do condensador e a da esfera?

(a) Admitindo que a constante dielétrica do ar é K = 1, a capacidade da


esfera é:

K R 4 × 10−2
C= = = 4.44 × 10−12 F = 4.44 pF
k 9 × 109
(b) A capacidade do condensador esférico é:
K R1 R2 5.6 × 4 × 10−2 × 4.1 × 10−2
C= = ¢ = 1.02 nF
k (R 2 − R 1 ) 9 × 109 4.1 × 10−2 − 4 × 10−2
¡

(c) A relação entre as duas capacidades é igual a


1.02 × 10−9
= 230
4.44 × 10−12
Comentários: O resultado da alínea c mostra a utilidade dos condensa-
dores. A capacidade de armazenar carga do condensador é 230 maior
do que uma única esfera. Com um único condutor não é possível obter
capacidades elevadas; por exemplo, se a esfera condutora da alínea a
fosse do tamanho da Terra (raio de 6371 km), a sua capacidade seria de
7.08 × 10−4 F. Compare-se essa capacidade com os 3000 F do ultraconden-
sador na figura 4.8 do livro.
20 Capacidade

Problema 3
No sistema de três condensadores apresentado na figura, C 1 = 1.2 µF,
C 2 = 4.3 µF e C 3 = 2.5 µF. A voltagem entre os pontos A e B é de
9.0 V. (a) Determine a carga armazenada em cada condensador. (b)
Determine a energia total armazenada no sistema.

C1

C3
A B
C2

Para resolver este tipo de problema, simplifica-se o circuito até ficar


unicamente com um condensador. O primeiro passo é substituir os
condensadores de capacidades C 1 e C 2 , que estão em paralelo, por um
condensador equivalente com capacidade C 4 . No segundo passo, os
condensadores de capacidades C 4 e C 3 , que ficam ligados em série, são
substituídos por um único condensador com capacidade C 5 . A figura
seguinte mostra esses passos.

C4 C3 C5
A B
A C B

A capacidade do condensador equivalente em paralelo, entre os pontos A


e C, é:
C 4 = C 1 +C 2 = 5.5 µF

E a capacidade do condensador equivalente aos condensadores com


capacidades C 4 e C 3 , em série, é:

C4 C3
C5 = = 1.71875 µF
C 4 +C 3

(a) Como a diferença de potencial entre os pontos A e B é igual 9 V, a carga


armazenada no condensador de capacidade C 5 é:

Q 5 = C 5 ∆VAB = 1.71875 × 10−6 × 9 = 15.47 µC


21

Que é também a carga armazenada nos condensadores de capacidades


C 3 e C 4 , por estarem em série

Q 3 = Q 4 = 15.47 µC

A diferença de potencial entre os pontos A e C será:

Q 4 15.47 × 10−6
∆VAC = = = 2.8125 V
C4 5.5 × 10−6

As cargas nos condensadores de capacidades C 1 e C 2 , que estão ambos


ligados entre os pontos A e C, são:

Q 1 = C 1 ∆VAC = 1.2 × 10−6 × 2.8125 = 3.375 µC


Q 2 = C 2 ∆VAC = 4.3 × 10−6 × 2.8125 = 12.09 µC

(b) A energia total armazenada no sistema é a soma das energias nos três
condensadores, que será igual à energia total armazenada em qualquer
um dos outros dois circuitos equivalentes na figura acima. Será então
mais fácil determinar essa energia no circuito mais simples, com apenas
um condensador de capacidade C 5 entre A e B:

1 2 1.71875 × 10−6 × 92
Utotal = U5 = C 5 ∆VAB = = 69.61 µJ
2 2

Problema 4
Um condensador plano com armaduras de 12 cm2 distanciadas de
1 cm, está totalmente preenchido por dois dielétricos, cada um com
espessura igual a 0.5 cm e área igual à das placas. Calcule a capaci-
dade do condensador sabendo que as constantes dos dielétricos são
4.9 e 5.6 (sugestão: admita que o condensador é equivalente a dois
condensadores em série, cada um com um dielétrico diferente).

O condensador é equivalente a um condensador plano com armaduras


de 12 cm2 a 0.5 cm de distância, com dielétrico de constante 4.9, em série
com outro condensador plano com armaduras de 12 cm2 a 0.5 cm de
distância e com dielétrico de constante 5.6.
22 Capacidade

As capacidades desses dois condensadores são:

4.9 × 12 × 10−4
C1 = = 10.398 pF
4 π k × 0.5 × 10−2
5.6 × 12 × 10−4
C2 = = 11.884 pF
4 π k × 0.5 × 10−2

E a capacidade equivalente dos dois condensadores em série é:

C1 C2
C= = 5.546 pF
C 1 +C 2

Problema 7
No circuito da figura, calcule a capacidade equivalente: (a) Entre os
pontos B e D. (b) Entre os pontos A e B.

18 pF 6 pF
A B C

18 pF 4 pF 6 pF

D
18 pF 6 pF

(a) Para determinar a capacidade entre B e D, imagine-se que é ligado


entre esses dois pontos um medidor de capacidades, representado por F,
na figura seguinte:

18 pF 6 pF
B

18 pF 4 pF 6 pF F

D
18 pF 6 pF
23

O dispositivo de medição teria de inserir cargas de sinais opostos nos


pontos B e D e medir a voltagem devida a essas cargas. As cargas têm 3
percursos alternativos ao entrar nos ponto B e D. Um desses percursos é
passando pelos 3 condensadores de 18 pF, que estão em série, e outro dos
percursos passa pelos 3 condensadores de 6 pF, também em série. Esses
condensadores em série podem ser substituídos pelos condensadores
equivalentes com capacidades:
1 1 1 −1 1 1 1 −1
µ ¶ µ ¶
+ + =6 + + =2
18 18 18 6 6 6
e o circuito fica simplificado da forma seguinte:

6 pF 4 pF 2 pF F

Agora temos 3 condensadores em paralelo, entre os pontos B e D, e a


capacidade equivalente é a capacidade do circuito entre os pontos B e D:

C BD = 6 + 4 + 2 = 12 pF

(b) Se o medidor de capacidade for ligado entre os pontos A e B, o dia-


grama é o seguinte:

A B
18 pF
18 pF 4 pF 2 pF

D
18 pF

Os condensadores de 4 pF e 2 pF estão em paralelo, entre os pontos B e


D, podendo ser substituídos por um único condensador de capacidade
4 + 2 = 6 pF. O circuito obtido é o seguinte:
24 Capacidade

A B
18 pF
18 pF 6 pF

18 pF

O condensador de 6 pF está agora em série com dois dos condensadores


de 18 pF e a capacidade equivalente desse sistema em série é:
¶−1
1 1 1 18
µ
+ + = = 3.6 pF
6 18 18 5

e substituindo no diagrama anterior, obtém-se o seguinte circuito equi-


valente:

A B
18 pF

3.6 pF

Finalmente, a capacidade entre os pontos A e B e a capacidade equiva-


lente dos condensadores de 18 pF e 3.6 pF em paralelo:

C AB = 18 + 3.6 = 21.6 pF
5 Circuitos de corrente contínua

Problema 1
No circuito da figura, determine quais das fontes de força eletromo-
triz fornecem ou absorvem energia e calcule a potência fornecida,
ou absorvida, por cada uma.

4.2 kΩ

5V
6V 5.6 kΩ
7.0 kΩ

2.1 kΩ

Usando unidades de kΩ para as resistências e V para as voltagens, as


correntes obtidas estarão em mA. Definem-se duas correntes de malha i 1
e i 2 , que podem ser no sentido dos ponteiros do relógio:

4.2

5
6 i1 i2 5.6
7.0

2.1

Como tal, as equações das malhas são o seguinte sistema:

13.3 −7 i 1 11
· ¸· ¸ · ¸
=
−7 12.6 i 2 −5

Multiplicando os dois lados da equação pela inversa da matriz que apa-


26 Circuitos de corrente contínua

rece no lado esquerdo, obtêm-se as correntes de malha:


¸−1 · ¸
i1 13.3 −7 11
· ¸ ·
=
i2 −7 12.6 −5

No Maxima o resultado pode obter-se com o seguinte comando:

(%i1) I: invert( matrix ([13.3, -7],[-7, 12.6])).[11, -5];


 
0.8737
(%o1)
 
 
0.08855

Os dois valores positivos obtidos indicam que os sentidos das duas cor-
rentes de malha sim é o que foi arbitrado (dos ponterios do relógio).
A corrente que passa pela f.e.m. de 6 V é a própria corrente de malha
i 1 = 0.8737 mA, que atravessa a fonte de 6 V do elétrodo negativo para o
positivo; como tal, essa fonte fornece 6 × 0.8737 = 5.24 mW.
Na fonte de 5 V, a corrente é de cima para baixo, porque i 1 > i 2 , e tem
intensidade i 1 − i 2 = 0.8737 − 0.08855 = 0.78515 mA. Essa fonte também
fornece potência (a corrente atravessa do elétrodo negativo para o posi-
tivo) de valor 5 × 0.78515 = 3.93 mW.

Problema 4
Determine a potência dissipada em cada resistência no circuito e
a potência fornecida pela f.e.m. Verifique que a potência fornecida
pela f.e.m. é igual à soma das potências dissipadas em todas as
resistências.

150 Ω 6V
100 Ω
80 Ω

20 Ω 60 Ω

Há três correntes de malha, i 1 , i 2 e i 3 , que podem ser definidas no sentido


dos ponteiros do relógio (unidades SI):
27

I1
I6
i1
150 6
I 4 100
i2 80

20 i3 60
I5
I3 I2

As equações das três malhas são:


250 0 −100 i 1 −6
    
 0 140 −60  i2 = 6 
 
−100 −60 180 i3 0

E a solução desse sistema linear é:


−1  
i1 250 0 −100 −6
  
i 2  =  0 140 −60   6 
i3 −100 −60 180 0

No Maxima o sistema pode ser resolvido armazenando as 3 correntes de


malha numa lista, por meio do seguinte comando:

(%i2) i: list_matrix_entries( invert(


matrix( [250,0,-100], [0,140,-60], [-100,-60,180])).[-6,6,0]);
117 87 3
· ¸
(%o2) − , ,
5000 2000 2000

O produto da matriz inversa pela lista das voltagens, que dá uma matriz
com as correntes de malha, foi convertida em lista usando a função
list_matrix_entries.
Observando o diagrama acima, conclui-se que a lista das correntes no
6 ramos, I 1 . . . I 6 , nos sentidos escolhidos, têm a seguinte relação com as
correntes das malhas:

(%i3) I: float([i[1], i[2], i[3], i[3]-i[1], i[2]-i[3], i[2]-i[1]]);


(%o3) [ −0.0234, 0.0435, 0.0015, 0.0249, 0.042, 0.0669 ]
28 Circuitos de corrente contínua

O sinal negativo de I 1 indica que é no sentido oposto ao que foi indicado


no diagrama. As respetivas resistências nos seis ramos são:

(%i4) R: [150, 80, 20, 100, 60, 0]$

A potência dissipada em calor em cada uma dessas resitências é P i = R i I i2 .


Como tal, a lista das seis potências dissipadas em calor nos seis ramos é:

(%i5) P: R*I^2;
(%o5) 0.08213, 0.1514, 4.5 × 10−5 , 0.062, 0.1058, 0
£ ¤

No ramo 6 não há potência dissipada em calor porque não há resistência.


A resistência de 150 Ω dissipa 82.13 mW, a resistência de 80 Ω dissipa
151.4 mW, a resistência de 20 Ω dissipa 45 µW, a resistência de 100 Ω
dissipa 62 mW e a resistência de 60 Ω dissipa 105.8 mW.
A potência fornecida pela fonte é 6 I 6 = 0.4014 W. Para conferir que é
igual à potência total dissipada nas resistências, somam-se as potências
dissipadas nos seis ramos, ou seja, somam-se os elementos da lista P no
Maxima, que pode ser feito aplicando o operador “+” à lista:

(%i6) apply ("+", P);


(%o6) 0.4014

Problema 5
No circuito representado no diagrama, os dois condensadores estão
inicialmente descarregados. Determine: (a) As correntes iniciais nas
resistências e condensadores. (b) As cargas finais nos condensadores,
indicando as suas polaridades.

150 Ω 1.5 V
6V 1.2 kΩ 68 nF
200 Ω

82 nF
29

(a) No instante inicial, em que os condensadores descarregados atuam


como curto-circuitos, o circuito equivalente é o seguinte

+6 150 Ω 0

1.5 V
6V +1.5
200 Ω

A resistência de 1.2 kΩ não foi representada, porque o equivalente dessa


resistência em paralelo com o condensador de 68 nF (curto-circuito com
resistência nula) é uma resistência nula (curto-circuito).
Arbitrando potencial nulo no ponto onde o elétrodo negativo da f.e.m. de
1.5 V está em contacto com a resistência de 150 Ω, o elétrodo negativo da
f.e.m. de 6 V também terá potencial nulo, porque o potencial em todos
os pontos no curto-circuito à direita do circuito é o mesmo. Como tal, o
potencial no elétrodo positivo da f.e.m. de 1.5 V será 1.5 V, e o potencial
do elétrodo positivo da f.e.m. de 6 V será 6 V, tal como mostra o diagrama
acima.
Na resistência de 150 Ω a diferença de potencial é 6 V e a corrente será
6/150 = 0.04 A (de esquerda para direita), que é a mesma corrente no
condensador de 82 nF (de direita para esquerda). Na resistência de 200 Ω,
a diferença de potencial é 1.5 V e a corrente 1.5/200 = 0.0075 A (de cima
para baixo). Pela regra dos nós, a corrente no condensador de 68 nF é
então, 0.04 − 0.0075 = 0.0325 A (de cima para baixo). Na resistência de
1.2 kΩ a corrente é nula, porque a diferença de potencial é nula.
(b) No estado final, quando os condensadores completamente carrega-
dos são equivalentes a interruptores abertos, o circuito equivalente é o
seguinte

0 150 Ω 0 0
1.5 V
6V +1.5 1.2 kΩ
200 Ω

-6 V
30 Circuitos de corrente contínua

Observe-se que a corrente na resistência de 150 Ω é nula, porque não


tem percurso por onde circular. Como tal, o potencial nos dois extremos
dessa resistência é o mesmo e pode arbitrar-se que é nulo, como mostra
o diagrama anterior. O potencial no elétrodo negativo da f.e.m. de 6 V
será então igual a −6 V e o potencial no elétrodo positivo da f.e.m. de
1.5 V será igual a 1.5 V.
No ponto comum às resistências de 200 Ω e 1.2 kΩ o valor do potencial, V
no diagrama, deverá ser obtido pela lei de Ohm. Essas duas resistências,
que estão em série, são equivalentes a uma única resistência de 1400 Ω
entre os pontos onde o potencial é 0 e 1.5 V; como tal, a corrente através
dessas duas resistências é I = 1.5/1400 A, e o valor de V é:

1200 × 1.5
V = 1200 I = = 1.286 V
1400

Observa-se então que no condensador de 82 nF a carga é positiva na


armadura do lado direito (maior potencial), no condensador de 68 nF a
carga é negativa na armadura de cima (menor potencial) e os valores das
cargas nesses dois condensadores são os seguintes:

Q 1 = 82 × (1.286 − (−6)) = 597 nC


Q 2 = 68 × 1.286 = 87.4 nC

Problema 6
(a) Determine a intensidade e sentido da corrente no condensador,
no instante inicial em que está descarregado.. (b) Determine a carga
final do condensador, indicando a sua polaridade.

3V 270 Ω
180 Ω
1.2 µF
470 Ω 330 Ω

560 Ω
31

(a) O circuito equivalente no estado inicial, com o condensador em curto-


circuito, é o seguinte

3V 270 Ω

180 Ω

470 Ω 330 Ω

560 Ω

Usando o método das malhas, com três correntes de malha no sentido


contrário aos ponteiros do relógio, o sistema de equações do circuito é
então,
650 −180 −470 3 i1
    
−180 780 −330 0 = i 2 
−470 −330 1360 0 i3

A solução desse sistema é i 1 = 0.00824, i 2 = 0.00346 e i 3 = 0.00369. A


corrente através do condensador é i 1 − i 2 , para cima, ou seja, 0.00478 A,
para cima.
(b) O circuito equivalente no estado final, com o condensador como
interruptor aberto, é o seguinte

A
3V 270 Ω

C D

470 Ω B 330 Ω

560 Ω

Onde as resistências de 470 Ω e 330 Ω estão em série entre C e D, e a


resistência equivalente ficará em paralelo com a resistência de 560 Ω,
conduzindo aos seguintes circuitos equivalentes mais simples:
32 Circuitos de corrente contínua

3V 270 Ω 3V 270 Ω
A A
800 Ω 329.4 Ω
C D C D

560 Ω

No circuito do lado direito, a corrente é igual a

3
I= = 0.005005 A
270 + 329.4
e a voltagem entre os pontos D e C é:

∆VDC = 329.4 × 0.005005 = 1.649 V

No circuito do lado esquerdo, a corrente através da resistência de 800 Ω,


(de esquerda para direita) é:

1.649
I 800 = = 0.002061 A
800

Que é a mesma corrente I 470 que passa de C para D no circuito original.


Nesse circuito original, a diferença de potencial entre os dois pontos onde
está ligado o condensador é igual a,

∆VAB = ∆VAC + ∆VCB = 3 − 470 × 0.002061 = 2.031 V

O resultado positivo indica que a carga é positiva na armadura de baixo


(maior potencial em B do que em A) e negativa na armadura de cima.
Finalmente, a carga no condensador calcula-se a partir da sua voltagem

Q = C ∆V = 1.2 × 2.031 = 2.438 µC


6 Fluxo elétrico
Problema 1
Na atmosfera existe um campo eléctrico que aponta na vertical, para
baixo. A nível do mar, o módulo desse campo, é aproximadamente
120 N/C e diminui em função da altura; 2 km acima do nível do mar
o campo é aproximadamente 66 N/C. Que pode concluir acerca do
sinal das cargas livres nos dois primeiros quilómetros da atmosfera?
Calcule a carga volúmica média nessa região.

A lei de Gauss relaciona as cargas livres numa região com o fluxo elétrico
através da fronteira dessa região. Como tal, para determinar a carga li-
vre que existe na atmosfera, devemos encontrar uma superfície fechada
onde seja possível calcular o fluxo elétrico. Com os dados do problema,
podemos calcular facilmente o fluxo numa superfície horizontal (perpen-
dicular ao campo) que esteja a uma altura do nível do mar ou 2 km por
cima. Usaremos uma superfície fechada com duas tampas horizontais
iguais de área A, uma ao nível do mar e a outra 2 km por cima, com
paredes laterais verticais, tal como mostra a figura seguinte:

~2
E

2 km

~0
E
34 Fluxo elétrico

~2 , tem módulo 66 N/C e aponta para


Na tampa de cima o campo elétrico, E
dentro da superfície fechada. Como tal, nessa tampa há fluxo negativo
igual a (unidades SI):
Φ2 = −66 A

~0 , produz fluxo positivo porque


Na tampa de baixo, o o campo elétrico, E
aponta para fora da superfície fechada e o valor do fluxo nessa tampa é:

Φ0 = 120 A

Nas paredes laterais não há fluxo, porque as linhas de campo são tangen-
tes a essa superfície. O fluxo total na superfície fechada é então:

Φ = Φ0 + Φ2 = 54 A

O resultado positivo permite concluir que na atmosfera (dentro da super-


fície fechada escolhida) existem cargas livres positivas.
Aplicando a lei de Gauss obtém-se a carga no interior da superfície fe-
chada:

54 A
Φ = 54 A = 4 π k q int =⇒ q int = = 4.775 × 10−10 A
36 × 109 π

Como o volume da superfície fechada, em unidades SI, é igual a 2000 A,


então a carga volúmica média é:

4.775 × 10−10 A
ρ= = 2.387 × 10−13 C/m3
2000 A

Comentários: Foi admitido que as linhas de campo, verticais, são parale-


las entre si. Realmente as linhas verticais em dois pontos diferentes da
Terra não são paralelas, porque são perpendiculares à superfície da Terra
que é curva. Para obter maior precisão, a superfície fechada usada para
aplicar a lei de Gauss poderia estar formada por duas esferas concên-
tricas: a própria superfície esférica da Terra, com raio de R 0 = 6371 km,
e a segunda superfície esférica com centro no centro da Terra e raio
R 2 = 6373 km, tal como mostra a figura seguinte.
35

R2
R0
Terra

O fluxo elétrico que sai do volume entre essas duas esferas é (unidades
SI):
Φ = 120 × 4 π R 02 − 66 × 4 π R 22

E a carga volúmica média será:

Φ
4 π k 360 R 02 − 198 R 22
ρ= 3 3
= 3 3
= 2.385 × 10−13 C/m3
4 π (R 2 − R 0 ) 4 π k (R 2 − R 0 )
3

Este resultado, mais correto, é muito semelhante ao resultado obtido


admitindo linhas de campo paralelas, devido a que as curvaturas das
duas esferas (inverso do raio) são muito semelhantes.

Problema 2
Uma carga pontual de 5 nC encontra-se a 6 cm de um fio retilíneo
muito comprido, com carga linear constante de 7 nC/cm. Calcule
a força elétrica sobre o fio (sugestão: calcule melhor a força do fio
sobre a carga pontual, que é mais fácil de calcular, e pela lei de ação
e reação deverá ter o mesmo módulo).

Como foi demonstrado no livro, o campo elétrico de um fio retilíneo


infinito, com carga linear λ constante é na direção radial desde o fio e
com módulo
2k λ
E=
d
onde d é a distância desde o fio.
36 Fluxo elétrico

O módulo da força do fio sobre a carga pontual é (unidades SI):

2 k λ q 2 × 9 × 109 × 7 × 10−7 × 5 × 10−9


F =qE = = = 1.05 mN
d 6 × 10−2

Problema 5
Uma esfera de raio R tem uma carga elétrica Q distribuída unifor-
memente dentro do seu volume. Usando a lei de Gauss, calcule o
módulo do campo elétrico num ponto a uma distância r do centro
da esfera. Considere os casos r ≥ R e r < R.

Devido à simetria da esfera carregada uniformemente, o campo elétrico


deverá ser na direção radial, passando pelo centro da esfera, para fora se
Q for positiva, ou para dentro se Q for negativa. E o módulo do campo, E ,
dependerá apenas da distância r até centro da esfera. A figura seguinte
mostra as linhas de campo no caso de carga positiva.

S1
S2

Para obter a expressão do campo fora da esfera (r ≥ R) e dentro da esfera


(r < R), aplicaremos a lei de Gauss nas duas superfícies S1 e S2 apresen-
tadas na figura anterior. Cada uma dessas superfícies esféricas, de raio
r , tem área A = 4 π r 2 e é perpendicular às linhas de campo. Como tal,
o fluxo através dessas esferas é Φ = 4 π r 2 E e, aplicando a lei de Gauss,
obtém-se a expressão para E :

k q int
Φ = 4 π k q int =⇒ E=
r2
37

No caso de S1 , com r ≥ R, a carga interna dentro de S1 é a carga total da


esfera, Q, e a expressão do módulo do campo é:
kQ
E= (r ≥ R)
r2
No caso de S2 , com r < R, a carga interna dentro de S2 é proporcional ao
volume da esfera S2 :
volume S2 r3
q int = Q =Q 3
volume esfera de raio R R
e o módulo do campo é:
kQr
E= (r < R)
R3

Problema 6
Uma partícula pontual com massa igual a 25 g e carga de 50 nC
encontra-se pendurada de um fio de 7 cm que está colado a um
plano vertical. O plano vertical tem uma carga superficial constante
σ = 17 nC/cm2 e pode ser considerado infinito. Calcule o ângulo θ
que o fio faz com o plano vertical.
m
7c

θ σ

O campo elétrico produzido pelo plano é horizontal, com módulo cons-


tante E = 2 π k σ. A força elétrica sobre a carga pontual positiva é horizon-
tal, para a esquerda, e com módulo (unidades SI):

F e = 2 π k σ q = π × 18 × 109 × 17 × 10−5 × 50 × 10−9 = 0.4807 N

Sobre a carga pontual atuam três forças externas: a força elétrica, a tensão
no fio, e o peso. O lado esquerdo da figura seguinte mostra essas forças.
38 Fluxo elétrico

θ
T
Fe T mg
θ
mg
Fe

Como a carga pontual fica em equilíbrio, a soma dessas 3 forças deverá


ser nula. O problema podia ser resolvido definindo um sistema de dois
eixos e resolvendo as duas equações das somas das componentes das
forças nos dois eixos iguais a zero. No entanto, é mais fácil observar
que para que a soma dos 3 vetores seja nula, se forem colocados um a
seguir ao outro, como no lado direito da figura acima, deverão formar
um triângulo, que neste caso é retângulo com catetos de comprimento
mg e F e . Como tal, a tangente do ângulo θ deverá ser igual a F e /(mg ), e
o ângulo θ será:

Fe 0.4807
µ ¶ µ ¶
θ = arctg = arctg = 62.99◦
mg 0.025 × 9.8
7 Potencial eletrostático

Problema 4
Duas superfícies condutoras esféricas e concêntricas têm raios de
5 cm e 7 cm. A superfície menor tem uma carga total de 3 nC e a
carga total na superfície maior é de −2 nC. Calcule a diferença de
potencial entre as duas superfícies.

A expressão do potencial produzido por uma superfície condutora esfé-


rica, de raio R e carga total Q, num ponto a uma distância r da esfera,
é:
kQ


 r ≥ R (fora da esfera)
r

V (r ) =
 k Q r < R (constante dentro)


R
Na superfície menor, de raio R 1 = 5 cm o potencial é a soma dos potenci-
ais produzidos pelas duas esferas, em r = R 1 = 5 cm. Como esses pontos
encontram-se todos no interior da esfera de raio R 2 = 7 cm, no caso da
segunda esfera há que usar a expressão de V (r ) dentro da esfera (k Q 2 /R 2 ,
em vez de k Q 2 /r ). O potencial total nos pontos na superfície da esfera 1
é (unidades SI):

k Q1 k Q2 27 18
V (R 1 ) = + = −
R1 R2 0.05 0.07

Na superfície de raio R 2 = 7 cm, o potencial total é:

k Q1 k Q2 27 18
V (R 2 ) = + = −
R2 R2 0.07 0.07

Como tal, a diferença de potencial é

27 18 27 18
V (R 1 ) − V (R 2 ) = − − + = 154.3 V
0.05 0.07 0.07 0.07
40 Potencial eletrostático

Comentários: Outra forma de resolver este problema consiste em in-


tegrar o campo elétrico desde uma esfera até a outra. O percurso de
integração pode ser qualquer, por exemplo, na direção radial r . Na região
de integração, o campo é devido unicamente à esfera menor, porque essa
região está dentro da esfera maior. Como tal,

ZR2 0.07
k Q1 27 27 27
Z
V (R 1 ) − V (R 2 ) = dr = dr = − = 154.3
r2 r 2 0.05 0.07
R1 0.05

Problema 5
A figura representa as linhas de campo elétrico devido a duas car-
gas pontuais separadas de 7 cm. A razão entre os valores das duas
cargas é 4/9. (a) Calcule a distância do ponto P às partículas. (b)
Sabendo que a carga da partícula no lado direito é de −8 nC, calcule
o potencial no ponto P (admita V = 0 no infinito).

(a) No ponto P o campo total é nulo, ou seja, os campos das duas cargas
são vetores opostos e com o mesmo módulo. Se d 1 e d 2 são as distâncias
desde cada uma das cargas até P, a condição para que os módulos dos
dois campos sejam iguais é:
s
k |q 1 | k |q 2 | d1 q1 2
2
= 2
=⇒ = =
d1 d2 d 2 q2 3
41

e como d 1 + d 2 = 7 cm, então, com as distâncias em cm:


d1 2 14
= =⇒ d1 = = 2.8 cm
7 − d1 3 5
e d 2 = 4.2 cm. A carga mais próxima de P (q 1 à esquerda) é menor que a
outra (q 2 à direita).
(b) A carga q 1 da partícula no lado esquerdo obtém-se a partir da outra
carga q 2 = −8 nC, usando a relação entre as cargas dada no enunciado:
q1 4 4 q 2 32
= =⇒ q1 = = nC
q2 9 9 9
e o potencial total no ponto P é (unidades SI):
k q1 k q2 9 × (32/9) 9 × 8
V= + =− − = −2857 V
d1 d2 0.028 0.042

Problema 7
O potencial no plano Ox y é (unidades SI):

2x 3
V= +
(x 2 + y 2 )3/2 (x 2 + y 2 )1/2

Calcule o campo elétrico em qualquer ponto do plano Ox y. Usando


o Maxima, represente as superfícies equipotenciais e as linhas de
campo. Existe algum ponto de campo elétrico nulo?

As componentes x e y do campo elétrico são as derivadas parciais do


potencial, multiplicadas por -1.

(%i1) V: 2*x/(x^2+y^2)^(3/2) + 3/(x^2+y^2)^(1/2)$


(%i2) E: [-diff(V,x), -diff(V,y)];
 
3x 2 6 x2 3y 6x y
(%o2)  ¡ ¢3 − ¡ ¢3 + ¡ ¢5 , ¡ ¢3 + ¡ ¢5

y 2 + x2 2 y 2 + x2 2 y 2 + x2 2 y 2 + x2 2 y 2 + x2 2

A expressão das componentes do campo pode escrever-se duma forma


mais compacta, fatorizando cada uma delas por meio da função factor
do Maxima:
42 Potencial eletrostático

(%i3) E: factor (E);


 ¢
2 − 2 y 2 + 3 x3 + 4 x2 3 y y 2 + x2 + 2 x
¡
3 x y
(%o3)  ¢5 , ¢5

y 2 + x2 2 y 2 + x2 2
¡ ¡

As curvas equipotenciais e linhas de campo elétrico traçam-se usando o


programa ploteq.

(%i4) ploteq(V,[x, -2,2], [y,-2,2]);

Após clicar em alguns pontos para traçar curvas equipotenciais (a verme-


lho), entra-se no menu de configuração, apaga-se a cor “red” no campo
“curves” e seleciona-se uma cor diferente, neste caso “blue”, no campo
“fieldlines”. Depois de fechar esse menu, cada vez que se clicar no gráfico,
será traçada uma das linhas de campo elétrico representadas em azul no
gráfico:

y 0

−1

−2
−2 −1 0 1 2
x

Para determinar os pontos onde o campo é nulo, encontram-se os pontos


onde os numeradores das componentes x e y do campo são nulas:

(%i5) solve([num(E[1]), num(E[2])]);


4
·· ¸ ¸
(%o5) y = 0, x = − , y = 0, x = 0
£ ¤
3
43

No primeiro ponto, (x, y) = (-4/3, 0), os denominadores das componentes


do campo são diferentes de zero e, portanto, o campo é nulo nesse ponto.
No segundo ponto, na origem, os denominadores das componentes do
campo também são nulos e, como tal, o campo não é necessariamente
nulo nesse ponto. Observando as linhas de campo na vizinhança da
origem, comprova-se que de facto o campo não é nulo na origem, mas
aponta na direção positiva do eixo dos x.

Problema 8
A figura mostra as superfícies equipotenciais devidas a uma carga
pontual e a um campo elétrico uniforme E ~ext . A grandes distâncias
da carga pontual, as superfícies são planos paralelos e a distancia
entre dois planos com diferença de potencial de 15 V é de 8 cm. (a)
Calcule o módulo e a direção do campo externo E ~ext . (b) Diga se a
carga pontual é positiva ou negativa e justifique a sua resposta. (c)
Qual a direção da força sobre a carga pontual? (d) Se a distância
entre a carga pontual e o ponto P é 9 cm, determine o valor da carga
pontual.

90 V

75 V

60 V

45 V

30 V P

8 cm
15 V

(a) O campo externo aponta para baixo (direção em que diminui o poten-
cial) e tem módulo:
15 V
E ext = = 187.5
0.08 m
(b) A carga é negativa, porque há uma linha de campo que atravessa as
superfícies equipotenciais de 90 V, 75 V, 60 V, 45 V e 30 V entrando logo
na carga. Também, se não existisse a carga, o potencial no ponto onde
44 Potencial eletrostático

se encontra teria um valor entre 45 V e 60 V, mas com a carga pontual o


potencial nesse ponto passa a ser menor que 30 V, ou seja, o potencial da
carga pontual é negativo e a carga também.
(c) Como a carga é negativa, a força é na direção oposta ao campo externo,
ou seja, para cima.
(d) No ponto P o campo total é nulo e, como tal, o módulo do campo
produzido pela carga pontual deverá ser igual ao módulo do campo
externo:
k |q|
E= = E ext = 187.5
d2
187.5 × 0.092
=⇒ |q| = = 1.687 × 10−10
9 × 109

O valor da carga pontual é q = −0.1687 nC.


8 Campo magnético

Problema 2
Considere dois fios de cobre, retilíneos e paralelos, de 60 cm de
comprimento, distanciados de 9 cm e com raios de 2 mm e 3 mm.
Calcule o valor da força magnética entre os fios quando cada um
deles for ligado a uma f.e.m. de 1.5 V. (Use o valor da resistividade do
cobre à temperatura ambiente: 17 nΩ·m.)

As resistências dos fios, R 1 e R 2 , calculam-se multiplicando a resistivi-


dade do cobre pelo comprimento do fio, dividido pela área da secção
transversal do fio (unidades SI):

ρ L1 17 × 10−9 × 0.6
R1 = = = 8.117 × 10−4 Ω
π r 12 π × 0.0022
ρ L2 17 × 10−9 × 0.6
R2 = = = 3.608 × 10−4 Ω
π r 22 π × 0.0032

A corrente em cada fio é igual à diferença de potencial sobre a resistência


do fio:
∆V 1.5
I1 = == = 1848 A
R1 8.117 × 10−4
∆V 1.5
I2 = = = 4158 A
R2 3.608 × 10−4

O módulo da força magnética entre os dois fios é:

k m I 1 I 2 L 2 × 10−7 × 0.6 × 1848 × 4158


F= = = 10.25 N
d 0.09

Comentários: A diferença de potencial de 1.5 V em cada fio conduz a


correntes de milhares de ampere, que queimavam um fio de apenas uns
poucos milímetros de raio. Se fosse usada uma pilha de 1.5 V, a resistência
46 Campo magnético

interna provavelmente seria maior do que a resistência de cada fio; como


tal, a diferença de potencial no fio seria muito menor do que 1.5 V e a
própria pilha aqueceria com o fio. Para realizar esse tipo de experiências
para medir a força magnética entre dois fios de cobre, costuma ligar-se
uma resistência em série para reduzir a intensidade da corrente, e a força
magnética a medir será muito menor.

Problema 3
A figura mostra dois fios compridos e paralelos, no plano perpen-
dicular a eles. A intensidade da corrente em cada fio é a mesma, I ,
mas com sentidos opostos, como indicam o ponto e o x nos dois fios.
(a) Represente graficamente os vetores de campo magnético devido
a cada fio e o campo magnético resultante no ponto P. (b) Encontre
a expressão do módulo do campo magnético em qualquer ponto P
sobre o eixo x, em função da distância x de P à origem.

a
P
x x
a

(a) No plano x y, as linhas do campo B~1 devido a fio de cima são circunfe-
rências com centro no fio, no sentido contrário aos ponteiros do relógio.
No ponto P, o vetor B ~1 é perpendicular ao segmento entre P e o fio, no
sentido indicado na figura seguinte. As linhas do campo devido ao fio de
baixo rodam no sentido dos ponteiros do relógio e no ponto P o campo
~2 é perpendicular ao segmento entre P e esse fio, como mostra a figura:
B

1
d ~1
B
θ
~
θ B
θ x
θ ~2
d B
2
47

Como os dois fios estão à mesma distância do ponto P, e transportam


correntes com a mesma intensidade, os módulos de B ~1 e B
~2 são iguais.
E como o ângulo que cada um desses vetores faz com o eixo dos x é o
mesmo, o campo resultante em P, B ~=B ~1 + B
~2 , será no sentido positivo
do eixo dos x, tal como mostra a figura acima.
(b) Os módulos dos dois campos no ponto P são:

2 km I
B1 = B2 =
d

~ = B ı̂, no sentido positivo do eixo dos x, tem


O campo resultante, B
módulo B igual à soma das componentes x de B~1 e B
~2

4 km I 4 km I a 4 km I a
B = 2 B 1 cos θ = cos θ = = 2
d d2 x + a2

Problema 4
Um feixe de protões desloca-se com velocidade constante ~ v , se-
gundo o eixo dos x, atravessando duas regiões, I e II, caraterizadas
do seguinte modo: em I, existe um campo magnético, B ~1 e em II,
~
coexistem um campo magnético, B 2 , e um campo elétrico, E ~ = E ̂.
Todos os campos são uniformes nas regiões em que foram definidos
e anulam-se fora delas. O peso dos protões não é significativo. Quais
as condições a que devem obedecer os campos B ~1 e B~2 para que o
feixe não sofra qualquer perturbação no seu movimento, enquanto
atravessa duas regiões? Se em vez de protões, fosse um feixe de
eletrões, as condições estabelecidas manter-se-iam?

I II

x
48 Campo magnético

A velocidade de cada protão é igual a,

v = v ı̂
~

Na região I, a força magnética que atua sobre cada protão é,

~1 = q ~
F v ×B~1 = q v ı̂ × B x ı̂ + B y ̂ + B z k̂
¡ ¢

= q v B y k̂ − B z ̂
¡ ¢

Para que o feixe não seja desviado, a duas componentes ̂ e k̂ da força


devem ser nulas, ou seja, B y = B z = 0. O campo na região I tem então
a forma geral B~1 = B 1 ı̂, onde B 1 pode ter qualquer valor, positivo ou
negativo. Como tal, basta com que o campo magnético na região I seja na
mesma direção da velocidade dos protões para que não sejam desviados.
Na região II é necessário acrescentar a força elétrica:

F~2 = q E
~+q~v ×B~2 = q E ̂ + v B y k̂ − v B z ̂
¡ ¢

Para que a componente k̂ seja nula, é necessário B y = 0, e para que a


componente ̂ seja nula, é necessário E = v B z . Como tal, a forma geral
do campo magnético na região II é a seguinte

E
~2 = B x ı̂ +
B k̂
v
onde B x pode ter qualquer valor, positivo ou negativo. Ou seja, o campo
magnético na região II deverá ter uma componente perpendicular à
velocidade e ao campo elétrico, com módulo igual ao módulo do campo
elétrico dividido pela velocidade, e pode ter também uma componente
paralela à velocidade.
Se o feixe fosse composto por eletrões, ou qualquer outro tipo de par-
tículas com carga, as condições obtidas seriam as mesmas, já que os
resultados não dependem do valor de q nem da massa das partículas.
Comentários: Observe-se que na região II o campo magnético necessá-
rio para que as partículas não sejam desviadas depende da velocidade
v das partículas. Como tal, na região II há um filtro de velocidades, em
que as partículas com velocidade v = B z /E passam sem serem desviadas,
mas as partículas com velocidades diferentes desse valor serão desviadas.
49

Problema 7
A figura mostra as linhas de campo magnético de um fio com cor-
rente, dentro de um campo magnético uniforme B ~ext ; o fio é per-
pendicular à folha e os eixos y e z foram escolhidos sobre o plano
da folha. (a) Escreva o versor na direção do campo externo, usando
o sistema de eixos dado.(b) Escreva o vetor unitário na direção da
corrente no fio. (c) Calcule e represente o vetor unitário na direção
da força sobre o fio. (d) Considerando que I = 0.5 A e se o valor
da força sobre o fio, por unidade de comprimento, é 2 × 10−5 N/m,
calcule a distância até o ponto P.

z
y

30°

(a) O campo externo aponta da direita para a esquerda, que no sistema


de eixos y z é:
1³ p ´
B̂ ext = − cos 30◦ ̂ + sin 30◦ k̂ = − 3 ̂ + k̂
2

(b) Na vizinhança do fio, as linhas de campo rodam no sentido contrário


dos ponteiros do relógio, indicando que a corrente do fio é para cá da
folha, ou seja, na direção de ̂ × k̂ que é o versor ı̂.
(c) A direção e sentido da força é a mesma de ~ ~ext , ou seja,
I ×B
1 ³ p ´ 1³ p ´
ı̂ × B̂ ext = ı̂ × − 3 ̂ + k̂ = − ̂ − 3 k̂
2 2

Não é necessário dividir pelo módulo do vetor, porque este vetor já tem
módulo unitário. Observe-se que a direção e sentido da força é de cima
para baixo na figura.
50 Campo magnético

(d) A força magnética sobre o fio é produzida pelo campo externo B ext .
Usando a expressão para a força magnética sobre o fio por unidade de
comprimento, F /L, obtém-se o módulo do campo externo (unidades SI):

F
= I B ext =⇒ 2 × 10−5 = 0.5 B ext =⇒ B ext = 4 × 10−5
L

No ponto P, o campo produzido pelo fio tem o mesmo módulo do campo


externo. Igualando à expressão para o módulo do campo produzido pelo
fio no ponto P ao módulo do campo externo, encontra-se a distância d
(unidades SI):

2 km I 2 km I 10−7
= B ext =⇒ d= = = 2.5 × 10−3
d B ext 4 × 10−5

O ponto P encontra-se a 2.5 mm do fio.


9 Indução eletromagnética

Problema 3
O comprimento total entre as pontas das asas de um avião Boeing
747 é 60 m . O avião voa a 800 km/h e com altura constante, na
direção sul-norte, numa região onde o campo magnético terrestre
faz um ângulo de 60◦ com a vertical e a sua intensidade é 0.5 G.
Calcule a diferença de potencial induzida entre as pontas da asas.

Escolhendo o eixo x na direção de oeste para leste, o eixo y na direção de


sul para norte e o eixo z na vertical, de baixo para cima, a velocidade do
avião e o campo magnético são (unidades SI):
Ãp !
800 3 k̂
v=
~ ̂ B~ = 5 × 10−5 ̂ +
3.6 2 2

O campo elétrico induzido é igual a


Ãp !
800 × 5 × 10−5 3 k̂
~i = ~
E ~=
v ×B ̂ × ̂ + = 5.556 × 10−3 ı̂
3.6 2 2

O deslocamento infinitesimal ao longo das assas do avião é:

d~
r = ı̂ dx

E a f.e.m. induzida nas assas é o integral de linha do campo elétrico


induzido, ao longo das assas:

Z Z60 Z60
εi = ~i · d~
E r= 5.556 × 10−3 (ı̂ · ı̂) dx = 5.556 × 10−3 dx = 0.333 V
0 0
52 Indução eletromagnética

Problema 5
A figura mostra uma barra condutora de comprimento d e massa
m que desliza sobre dois trilhos metálicos verticais, dentro de um
campo magnético B ~ uniforme. A resistência elétrica dos trilhos e
da barra são desprezáveis comparadas com R. A barra mantém
sempre o contato com os trilhos, permitindo que circule corrente
pela resistência R, mas o atrito é desprezável, assim como o efeito da
resistência do ar na barra. Quando a barra começa a cair livremente,
o seu movimento é inicialmente acelerado mas rapidamente atinge
uma velocidade constante v. Calcule o valor dessa velocidade limite
v.

~
B
d

Isolador

Quando a barra já desceu uma distância y em relação à resistência R, a


área da espira retangular formada pela barra, os trilhos e a resistência é
A = y d e o fluxo magnético através dela é Ψ = B y d .
A f.e.m. e a corrente induzidas na espira são:
dy |εi | B v d
εi = −B d = −B v d Ii = =
dt R R
A variação do fluxo aponta para lá da folha e, pela lei de Lenz, a corrente
induzida passa pela barra de esquerda para direita, dando origem a força
magnética para cima, com módulo:
B2 v d2
Fm = I i B d =
R
Inicialmente (no repouso) essa força é nula e a barra desce com a acelera-
ção da gravidade. Enquanto a velocidade v aumenta, a força magnética
53

também aumenta, fazendo diminuir a força resultante. No instante em


que a força resultante é nula, a velocidade atinge o valor limite e os mó-
dulos da força magnética e do peso são iguais:

B2 v d2 mgR
mg = =⇒ v=
R B2 d2

Problema 7
Uma espira condutora retangular, paralela ao plano Oy z, desloca-se
com velocidade constante ~ v = 3 ̂ (m/s) dentro de uma região onde
existe um campo magnético com componentes: B x = (6 − y) (SI) e
B y = B z = 0. Calcule a f.e.m. induzida na espira, em função do tempo
t , a partir do instante t = 0 em que a espira se encontra na posição
da figura, com um lado ao longo do eixo dos z.

z
20 cm

30 cm
3 m/s

x y

A componente do campo perpendicular à espira é (unidades SI):

~ · n̂ = B
B ~ · ı̂ = B x = 6 − y

A aresta que se encontra no eixo dos z em t = 0, estará na posição 3 t


num instante t , e a outra aresta, paralela ao eixo dos z, estará em 3 t + 0.2.
As duas arestas paralelas ao eixo dos y estão sempre nas posições z 0 e
z 0 + 0.3.
O fluxo magnético através da espira é então:

3 tZ+0.2 z 0Z+0.3

Ψ= (6 − y) dz dy = 0.354 − 0.18 t
3t z0
54 Indução eletromagnética

E a f.e.m. induzida é igual a



εi = − = 0.18 V
dt
O sinal positivo indica que é no sentido da regra da mão direita em re-
lação ao versor n̂ usado, ou seja, ı̂. Como tal, a f.e.m. induzida produz
corrente induzida no sentido da rotação do eixo dos y para o eixo dos z.

Problema 8
No circuito da figura, calcule as correntes iniciais no indutor e no
condensador, a corrente final no indutor e a carga final no conden-
sador.

3.6 µF

2.5 kΩ 7.2 H

50 Ω 5V

Os circuitos equivalentes inicial e final são os seguintes:

2.5 kΩ

50 Ω 5V 50 Ω 5V

No instante inicial, a corrente no indutor é nula e a corrente no conden-


sador é:
5
I0 = = 0.1 A
50
No instante final, a corrente no indutor é:
5
I∞ = = 1.961 mA
50 + 2500
55

A diferença de potencial no condensador é:

∆V = 2500 I ∞ = 4.902 V

e a carga nele é:

Q = 3.6 × 10−6 × 4.902 = 17.65 µC

Problema 11
No circuito representado no diagrama, a fonte foi ligada no instante
t = 0, quando não havia corrente no indutor. (a) Determine a vol-
tagem na resistência de 3.4 kΩ em t = 0. (b) Determine o valor da
derivada voltagem na resistência de 3.4 kΩ, em t = 0. (c) Determine a
voltagem na resistência de 3.4 kΩ, quando o circuito atingir o estado
estacionário.

412 mH 2.1 kΩ

3.4 kΩ 5V

(a) O circuito equivalente em t = 0 é o seguinte:

2.1 kΩ

3.4 kΩ 5V

Como a corrente na resistência de 3.4 kΩ é nula, a voltagem nela também


é igual a zero.
(b) Se V (t ) e I (t ) são a voltagem e a intensidade da corrente na resistência
de 3.4 kΩ, em função do tempo, a lei de Ohm implica (unidades SI):

V̇ (t ) = 3400 I˙(t )
56 Indução eletromagnética

E como em qualquer instante a corrente na resistência de 3.4 kΩ é igual à


corrente no indutor, usando a relação entre voltagem no indutor, VL (t ), e
a corrente nele, obtém-se:

VL (t ) VL (t )
I˙(t ) = =
L 0.412

Em t = 0, o circuito equivalente da alínea a mostra que a voltagem no


indutor é VL (0) = 5 V. Como tal, a derivada da voltagem na resistência, em
t = 0, é:
5 kV
µ ¶
V̇ (0) = 3400 = 41.26
0.412 s

É positiva, porque a corrente no indutor, nula em t = 0, está a aumentar e,


portanto, a corrente e voltagem na resistência também estão a aumentar.
(c) O circuito equivalente em t → ∞ é o seguinte:

2.1 kΩ

3.4 kΩ 5V

Ou seja, a voltagem na resistência de 3.4 kΩ é igual a 5 V.


10 Processamento de sinais
Problema 3
Uma resistência de 3 kΩ e um condensador de 5 nF estão ligados
em série a uma fonte com tensão Ve (t ) = 2 − 2 t , entre t = 0 e t = 4, e
Ve (t ) = 0 nos outros instantes (t medido em µs e Ve em V). Calcule a
corrente no circuito em t > 0.

Convém primeiro definir o sistema de unidades a usar:


1 1
1Ω= =⇒ 1 kΩ =
F · Hz nF · MHz

Como tal, pode usar-se kΩ para a resistência, nF para a capacidade e a


frequência s estará em MHz. A impedância equivalente da resistência em
série com o condensador é:

(%i1) z: 3 + 1/(5*s)$

A unidade para o tempo será a inversa da unidade da frequência, ou seja,


µs e não é necessário alterar a expressão da tensão. A tensão da fonte, em
função do tempo, pode escrever-se da forma seguinte:

Ve (t ) = (2 − 2 t ) (1 − u(t − 4)) = 2 − 2 t + u(t − 4) (6 + 2(t − 4))

Ou seja, é a sobreposição de uma tensão V1 = 2 − 2 t mais outra tensão


V2 = 6 + 2 t deslocada 4 unidades em t . Calculam-se as correntes I 1 e I 2
produzidas por cada uma dessas tensões:

(%i2) V1: 2 - 2*t$


(%i3) i1: ratsimp(laplace (V1,t,s)/z);
10 s − 10
(%o3)
15 s 2 + s
(%i4) I1: ilt(i1,s,t);
t

32 e 15
(%o4) − 10
3
58 Processamento de sinais

(%i5) V2: 6 + 2*t$


(%i6) i2: ratsimp(laplace(V2,t,s)/z);
30 s + 10
(%o6)
15 s 2 + s
(%i7) I2: ilt(i2,s,t);
t

(%o7) 10 − 8 e 15

A corrente (em mA, t em µs) é I 1 (t ) mais I 2 (t ) deslocada 4 unidades em t :


32
I (t ) = I 1 (t ) + u(t − 4) I 2 (t − 4) = e−t /15 − 10 + u(t − 4) 10 − 8e−(t −4)/15
¡ ¢
3

Problema 6
No circuito da figura: (a) Calcule a impedância total, em função de s.
(b) Calcule a transformada da corrente que passa pelo indutor. (c)
Encontre a função de transferência, se a tensão de saída for medida
no condensador. (d) Determine a equação diferencial para a tensão
de saída.
L

− −
V C R Ve
+ +

(a) O condensador e a resistência estão em paralelo e esse sistema está


em série com o indutor; como tal, a impedância total é:

(%i8) z: ratsimp (L*s + R/(C*s)/(R + 1/(C*s)));


¡ 2
s C L +1 R +sL
¢
(%o8)
sC R +1

(b) Representando a transformada de Laplace Vee da tensão de entrada


com a variável ve, a transformada da corrente total (no indutor) é:

(%i9) i: ve/z;
ve (s C R + 1)
(%o9)
s2 C L + 1 R +sL
¡ ¢
59

(c) A tensão no condensador é a mesma do que no sistema do condensa-


dor em paralelo com a resistência; como tal, a transformada da tensão no
condensador é:

(%i10) v: ratsimp (i*R/(C*s)/(R + 1/(C*s)));


ve R
(%o10)
s2 C L + 1 R + s L
¡ ¢

E a função de transferência é:

(%i11) h: v/ve;
R
(%o11)
s2 C L + 1 R + s L
¡ ¢

(d) O resultado %o10 escreve-se com polinómios, em vez de função racio-


nal:
R L C s 2 + L s + R Ve = R Vee
¡ ¢

A equação diferencial do sistema é a transformada inversa dessa equação,


que por simples inspeção é:

R L C V̈ + L V̇ + R V = R Ve

Problema 7
O circuito na figura é denominado filtro passa-baixo. Escreva a
equação que relaciona o sinal de saída com o sinal de entrada. En-
contre a função de transferência do sistema e determine o sinal de
saída quando o sinal de entrada é o indicado no lado direito da figura.
Explique porque se designa este circuito de filtro passa-baixo.

R Ve
V0

V C
+

+ Ve − t0 t
60 Processamento de sinais

A impedância total é a soma das impedâncias da resistência e do con-


densador e a transformada da tensão de saída é igual à corrente vezes a
impedância do condensador:

1
z =R+
Cs
Vee C s Vee
I˜ = =
z RC s +1
˜
I Vee
Ve = =
C s RC s +1

Ou seja, a equação diferencial do filtro é:

R C V̇ + V = Ve

E a função de transferência é:

1
H=
RC s +1

Denomina-se passa-baixo, porque H (s) é máxima a baixas frequências


(s → 0) e nula a altas frequências (s → ∞).
A expressão do sinal de entrada representado no gráfico, em t ≥ 0 é:

Ve (t ) = V0 (1 − u(t − t 0 ) = V0 − V0 u(t − t 0 )

ou seja, a sobreposição linear de um sinal constante, V0 , mais o mesmo


sinal, multiplicado por −1 e deslocado no tempo em t 0 . Como tal, a
resposta do circuito será a resposta ao sinal constante V0 , menos a mesma
resposta deslocada no tempo em t 0 .
A resposta ao sinal constante V0 encontra-se multiplicando a sua trans-
formada de Laplace pela função de transferência e calculando a transfor-
mada inversa de Laplace:

(%i12) v: ratsimp (laplace (V0, t, s)/(R*C*s + 1));


V0
(%o12)
C R s2 + s
(%i13) U: ilt (v, s, t);
t
(%o13) V 0 − V 0 e− C R
61

O sinal de saída é então:


³ t
³ t −t 0 ´´
V (t ) = V0 1 − e− C R − u(t − t 0 ) 1 − e− C R

Problema 8
No circuito representado no diagrama, a fonte foi ligada no instante
t = 0, quando não havia corrente no indutor. Determine a expressão
da voltagem na resistência de 3.4 kΩ, em função do tempo t . Com a
expressão obtida, confirme as respostas dadas para o problema 11
no capítulo 9.

412 mH 2.1 kΩ

3.4 kΩ 5V

No domínio da frequência s, o circuito é o seguinte (unidades SI):

0.412 s 2100

5
3400
s

O indutor e a resistência de 3.4 kΩ estão em série, podendo ser subs-


tituidos por um único dispositivo com impedância 3400 + 0.412 s. A
transformada da corrente nesse dispositivo será:

(%i14) i: ratsimp(5/s/(3400+0.412*s));
1250
(%o14)
103 s 2 + 850000 s

E a transformada da voltagem na resistência de 3.4 kΩ é:


62 Processamento de sinais

(%i15) v: 3400*i$

A voltagem na resistência, em função do tempo, é a transformada inversa


de Laplace:

(%i16) V: ilt(v,s,t);
850000 t
(%o16) 5 − 5 e− 103

A voltagem na resistência de 3.4 kΩ, em função do tempo é:


850000
t
V (t ) = 5 − 5 e− 103

Finalmente, os resultados do problema 11 do capítulo 9 confirmam-se da


forma seguinte:

(%i17) dV: diff(V,t)$


(%i18) subst(t=0,V);
(%o18) 0
(%i19) float(subst(t=0,dV));
(%o19) 4.126e+4
(%i20) limit(V,t,inf);
(%o20) 5
11 Circuitos de corrente
alternada

Problema 2
A resistência de uma bobina é 150 Ω e a sua indutância é 1.4 H. A
bobina é ligada à rede elétrica com tensão máxima 325 V e frequência
de 50 Hz. Encontre a expressão para a corrente na bobina em função
do tempo t .

Usaremos unidades SI. A frequência angular da tensão e da corrente é

ω = 2 π f = 100 π ≈ 314.16

A bobina é considerada como uma resitência em série com um indutor.


Como tal, a sua impedância é a soma das impedâncias da resistência e
do indutor:

Z = 150 + i 1.4 × 314.16


−1 439.824
p µ ¶
2
= 150 + 439.824 ∠ tan2 = 464.7 ∠ 1.242
150

Admitindo que a tensão da rede elétrica em função do tempo seja 325 cos(ω t ),
a voltagem máxima na bobina será 325 V, com fase ϕV = 0. A corrente
máxima e o desfasamento da corrente na bobina são:
Vmáx 325
I máx = = = 0.6694 ϕI = ϕV − ϕ Z = −1.242
|Z | 464.7

E a expressão para a corrente é

I (t ) = 0.6694 cos(314.16 t − 1.242)


64 Circuitos de corrente alternada

Problema 6
Nos dois circuitos representados na figura, calcule a corrente e a
tensão em todos os elementos do circuito.
(a) (b)

1 µF
170 V 3 kΩ 325 V
2H 3 kΩ
60 Hz 50 Hz 2H
1 µF

(a) Usando unidades de kΩ para as impedâncias, H para as indutâncias,


µF para as capacidades, V para as voltagens e kHz para as frequências, a
frequência angular da fonte e as impedâncias dos 3 elementos no circuito
são as seguintes:

(%i1) w: 2*%pi*60/1000;

(%o1)
25
(%i2) [z1,z2,z3]: float([3, 1/%i/w, %i*2*w])$

A voltagem no sistema da resistência em série com o condensador é igual


à voltagem da fonte; como tal, o fasor da corrente através desses dois
elementos é

(%i3) I1: 170/(z1+z2)$


(%i4) [cabs(I1), carg(I1)];
(%o4) [42.45, 0.724]

Ou seja, se t for dado em ms, a expressão da corrente é:



µ ¶
I 1 = I 2 = 42.45 cos t + 0.724
25

As voltagens na resistência e no condensador são então

(%i5) V1: z1*I1$


(%i6) [cabs(V1), carg(V1)];
65

(%o6) [127.4, 0.724]


(%i7) V2: z2*I1$
(%i8) float([cabs(V2), carg(V2)]);
(%o8) [112.6, -0.8468]

3π 3π
µ ¶ µ ¶
V1 = 127.4 cos t + 0.724 V2 = 112.6 cos t − 0.8468
25 25

No indutor, a voltagem é a mesma voltagem da fonte:


µ ¶
V3 = 170 cos t
25

E a corrente é

(%i9) I3: 170/z3$


(%i10) [cabs(I3), carg(I3)];
h πi
(%o10) 225.5, −
2

3π π
µ ¶
I 3 = 225.5 cos t−
25 2

(b) Segue-se o mesmo procedimento da alínea (a), mas com os novos


valores de frequência e voltagem máxima da fonte e tendo em conta que
agora z 1 é a impedância do condensador, z 2 a impedância do indutor e
z 3 a impedância da resistência.

(%i11) w: 2*%pi*50/1000;
π
(%o11)
10
(%i12) [z3,z1,z2]: float([3, 1/%i/w, %i*2*w])$
(%i13) I1: 325/(z1+z2)$
(%i14) [cabs(I1), carg(I1)];
h πi
(%o14) 127.2,
2
(%i15) V1: z1*I1$
(%i16) [cabs(V1), carg(V1)];
66 Circuitos de corrente alternada

(%o16) [404.9, 0]
(%i17) V2: z2*I1$
(%i18) [cabs(V2), carg(V2)];
(%o18) [79.93, π]

(%i19) I3: 325/z3$


(%i20) [cabs(I3), carg(I3)];
(%o20) [108.3, 0]

Como tal, a corrente e a voltagem no condensador são:


³π π´ ³π ´
I 1 = 127.2 cos t+ V1 = 404.9 cos t
10 2 10

No indutor:
³π π´ ³π ´
I 2 = 127.2 cos t+ V2 = 79.93 cos t +π
10 2 10

E na resistência:
³π ´ ³π ´
I 3 = 108.3 cos t V3 = 325 cos t
10 10

Problema 7
A figura mostra um filtro rejeita-banda que atenua as frequências
angulares próximas de 1 kHz. (a) Determine a função de resposta em
frequência, H (i ω), do circuito. (b) Mostre que para ω = 1 kHz, H (i ω)
é igual a zero. (c) Calcule o módulo de H (i ω) e trace o seu gráfico
para ω entre 0 e 2 kHz.
10 µF

100 mH
Ve 1 kΩ V
67

(a) Usando unidades de kΩ para as impedâncias, H para a indutância,


µF para a capacidade e kHz para a frequência ω, as impedâncias do
condensador, o indutor e a resistência são:

(%i21) [z1, z2, z3]: [1/(%i*w*10), %i*w/10, 1]$

A impedância equivalente é igual a

(%i22) z: z1*z2/(z1+z2) + z3$

E os fasores da corrente e da voltagem na resistência são então:

(%i23) I: Ve/z$
(%i24) V: I$

A função de resposta em frequência é,

(%i25) H: ratsimp (V/Ve);


10 i w 2 − 10 i
(%o25)
10 i w 2 + w − 10 i

Pode eliminar-se o fator comum i no numerador e denominador, ficando:

10 ω2 − 10
H (i ω) =
10 ω2 − 10 − i ω

(b) O valor da função de resposta em frequência, para ω = 1 kHz, é então,

(%i26) subst (w=1, H);


(%o26) 0

(c) O módulo da função de resposta, |H (i ω)|, obtém-se usando a função


cabs do Maxima:

(%i27) modH: ratsimp (cabs(H));


¯ 10 w 2 − 10¯
¯ ¯
(%o27) p
100 w 4 − 199 w 2 + 100
68 Circuitos de corrente alternada

¯10 ω2 − 10¯
¯ ¯
|H (i ω)| = p
100 ω4 − 199 ω2 + 100

O gráfico dessa função, entre 0 e 2 kHz, obtém-se com o seguinte co-


mando:

(%i28) plot2d (modH, [w,0,2], [y,0,1.2], [xlabel,"w (kHz)"],


[ylabel,"|H(iw)|"]);

1.2

0.8

|H (i ω)| 0.6

0.4

0.2

0
0 0.5 1 1.5 2
ω (kHz)

Comentários: Observe-se que em quase tudo o intervalo de frequências


|H (i ω)| é aproximadamente igual a 1, o que implica que o sinal de entrada
não é atenuado. No entanto, em ω = 1 kHz, |H | = 0, ou seja, o sinal de
saída é nulo. É por essa razão que o filtro chama-se rejeita-banda; as
frequências angulares próximas de uma frequência típica do filtro, neste
caso 1 kHz, são eliminadas no sinal de saída.
69

Problema 10
A figura mostra o ecrã de um osciloscópio onde aparecem a tensão e
a corrente num elemento de um circuito. As distâncias L e d foram
medidas diretamente no ecrã, obtendo-se os valores L = 6 cm, d =
1 cm. O osciloscópio também permite determinar que a tensão
máxima é Vmáx = 36 V e a corrente máxima é I máx = 12 mA. Com
esses dados, calcule a parte real e a parte imaginária da impedância
do elemento do circuito.

d
y
I
Vmáx
I máx

x
V

O ângulo da impedância é igual à constante de fase da tensão menos a


constante de fase da corrente:

ϕ Z = ϕV − ϕI

O gráfico mostra que a tensão está adiantada em relação à corrente (V


passa pelo seu valor máximo ou mínimo um pouco antes que I ); a dife-
rença das fases, ϕV − ϕI , é então positiva e corresponde à distância d no
gráfico. Como a distância L corresponde a um ângulo de 2 π, então a o
ângulo da impedância é:
d π
ϕ Z = ϕV − ϕI = 2π =
L 3
O módulo da impedância é, em kΩ, é igual à tensão máxima em volts
dividida pela corrente máxima em miliampere.
Vmáx 36
|Z | = = =3
I máx 12

A impedância, em kΩ, é o número complexo:


π
Z = 3∠
3
70 Circuitos de corrente alternada

E as partes real e imaginária da impedância são:


π π
Z = 3 cos + i 3 sin = (1.5 + i 2.598) kΩ
3 3
12 Ondas eletromagnéticas e luz

Problema 1
Uma onda eletromagnética propaga-se no vácuo, no sentido positivo
do eixo dos x. No instante t = 0, o campo elétrico em função de x é
dado pela função (unidades SI)

50
E=
x2 + 2
Calcule o campo no ponto x = 50 m, no instante t = 0.2 µs.

Como a onda propaga-se no sentido positivo do eixo dos x, a função de


onda do campo elétrico deverá ser da forma E = f (x − c t ), onde c é a
velocidade da luz no vácuo.
No instante t = 0 a expressão do campo em função de x é E = f (x) e,
comparando com a função dada no enunciado, conclui-se que

50
f (x) =
x2 + 2

Como tal, a função de onda do campo elétrico é:

50
E = f (x − c t ) =
(x − c t )2 + 2

Substituindo os valores dados de x e t e o valor de c, em unidades SI, na


equação de onda. obtém-se o valor do campo:

50 V
E= = 0.4902
(50 − 3 × 108 × 0.2 × 10−6 )2 + 2 m
72 Ondas eletromagnéticas e luz

Problema 5
Uma lâmina metálica muito extensa encontra-se sobre o plano Ox y.
A lâmina é ligada a uma fonte variável que produz um campo elétrico
uniforme no plano Ox y, mas variável no tempo segundo a equação:
~ = E máx sin(ω t )ı̂, onde E máx e ω são constantes. O campo elétrico
E
na lâmina origina uma onda eletromagnética plana. Escreva as
funções que representam os campos elétrico e magnético dessa
onda, em função do tempo e da posição.

A onda plana produzida estará a sair do plano Ox y para os dois lados. Ou


seja, propagar-se-á no sentido positivo do eixo dos z na região z > 0, e
no sentido negativo do eixo dos z na região z < 0. Como tal, a função de
onda para o campo elétrico terá a forma:
(
g (z − c t ), z ≥ 0
E=
f (z + c t ), z ≤ 0

Em z = 0 obtém-se E = g (−c t ) = f (c t ), que deverá ser igual ao valor do


campo elétrico na lâmina:

g (−c t ) = f (c t ) = E máx sin(ω t )

Substituindo r = c t e s = −c t , as expressões das funções f e g são:


³ ω ´ ³ω ´
g (s) = E máx sin − s f (r ) = E máx sin r
c c

Em z 6= 0, s = z − c t , r = z + c t e a função de onda do campo elétrico será


então:  ³ ω ´
E máx sin ω t − z , z ≥ 0

c
E=
E máx sin ω t + ω z , z ≤ 0
³ ´

c
A função de onda do campo magnético deverá ser igual à do campo
elétrico, dividida pela velocidade da luz; como tal,

E máx ω ´
 ³

 sin ω t − z , z ≥ 0
c c

B=
E máx
³ ω ´
sin ω t + z , z ≤ 0



c c
73

O campo elétrico será na direção de ı̂ em todo o espaço. Na região z > 0,


como a velocidade é segundo k̂, o campo magnético deverá estar na
direção e sentido de ̂ (o produto vetorial do campo elétrico pelo campo
magnético deverá ser na direção e sentido da velocidade). Na região z < 0,
como a velocidade é segundo −k̂, o campo magnético deverá estar na
direção de − ̂. As expressões vetoriais dos campos são então:
 ³ ω ´
E máx sin ω t − z ı̂, z ≥ 0

~= c
E ³ ω ´
E máx sin ω t + z ı̂, z ≤ 0

c
E máx ω ´
 ³

 sin ω t − z ̂, z ≥0
c c

~=
B
E ω
− máx sin ω t + z ̂, z ≤ 0
 ³ ´

c c

Problema 7
A figura representa o campo eletromagnético de uma onda plana de
420 MHz, no instante t = 0. As linhas de campo verticais representam
o campo elétrico e as linhas perpendiculares à figura são as linhas do
campo magnético. Calcule a distância d e escreva o vetor do campo
magnético em função do tempo e da coordenada x.

Num ponto qualquer, por exemplo na origem, o produto vetorial do


campo elétrico com o campo magnético é na direção de propagação da
onda; com os dados da figura, esse produto fica na direção do eixo dos x,
no sentido negativo.
74 Ondas eletromagnéticas e luz

O facto de ter uma frequência específica, indica que a onda é harmónica.


Como tal, a equação da onda de cada campo deverá ter a forma da ex-
pressão 12.31 mas trocando o sinal negativo por positivo, já que a onda
progaga-se no sentido negativo do eixo dos x:

x t
µ µ ¶ ¶
B = B máx sin 2 π + +ϕ
λ T

Em t = 0 e x = 0, B = B máx sin(ϕ). Como o gráfico mostra que em t =


0 e x = 0 o valor de B é mínimo, conclui-se que ϕ = 3 π/2; usando a
identidade sin(θ + 3 π/2) = − cos(θ), temos:

x t
µ µ ¶¶
~ = −B máx cos 2 π
B + k̂
λ T

Em unidades SI, o período é,

1
T= = 2.381 × 10−9
420 × 106
e o comprimento de onda é:

λ = c T = 3 × 108 × 2.381 × 10−9 = 0.7143

A distância d é metade do comprimento de onda:

λ
d= = 0.3571 = 75.71 cm
2

Substituindo os valores do período e o comprimento de onda, a expressão


do campo magnético é (unidades SI):

x t
µ µ ¶¶
~
B = −B máx cos 2 π + k̂
0.7143 2.381 × 10−9
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tugal: Edição do autor.
DOI: https://doi.org/10.24840/978-972-99396-6-2
Esta obra complementa o livro
Eletricidade, Magnetismo e Circuitos.
Apresenta-se a resolução de alguns dos
problemas desse livro.
Em alguns casos usa-se o software de
computação algébrica Maxima na
resolução, mas os comandos usados
servem também como sumário dos
passos a seguir sem usar esse software.

Este livro pode ser consultado e


descarregado livremente no sítio:

http://def.fe.up.pt/eletricidade/problemas.html

© 2020. Jaime E. Villate


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