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A TERAPIA ARTICULATÓRIA E A - AUTOMATIZAÇÃO - DE NOVOS FONEMAS Jaime Luiz Zorzi CEFAC - Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica 2002
A TERAPIA ARTICULATÓRIA E A - AUTOMATIZAÇÃO - DE NOVOS FONEMAS Jaime Luiz Zorzi CEFAC - Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica 2002
Assim colocado o problema, este capítulo tem por objetivo desenvolver uma
análise fundamentada em explicações de natureza lingüística e cognitiva, tendo como
base outras capacidades, além das já apontadas, que são requeridas nesta tarefa de
aprendizagem de novos fonemas a partir de situações planejadas. Neste sentido, parece
ser necessário, antes de se falar em automatização, lançar mão da noção de consciência
da estrutura sonora das palavras, mais especificamente, da noção de consciência
fonológica. Isto quer dizer que entre aprender a produzir os fonemas, articulando
palavras adequadamente em situação de controle e chegar a automatizar tais
conhecimentos, deve haver um processo de tomada de consciência da estrutura sonora
das palavras e de controle consciente, em oposição a automático, da produção da fala.
O CONHECIMENTO FONOLÓGICO
Muito tem sido pesquisado a respeito das relações entre consciência fonológica e
alfabetização. A habilidade para segmentar palavras em sílabas e fonemas tem sido
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Este processo contínuo de ajuste deve requerer, por sua vez, mecanismos
eficazes de controle. Isto quer dizer que, de alguma forma, a criança deve estar
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Quando recebemos uma criança com este tipo de distúrbio articulatório e nos
propomos a ensiná-la a produzir os sons que estão alterados, estamos criando situações
diferentes daquelas nas quais as crianças, espontaneamente, adquirem a fala. As
propostas terapêuticas, quaisquer que sejam, têm como objetivo criar uma condição de
levar a criança a realizar os fonemas e generalizá-los a todas as palavras, inicialmente de
uma forma controlada para chegar, finalmente a uma produção espontânea e
generalizada. Temos, desta forma, uma situação diferente, que pode ser até mesmo
considerada compensatória e na qual a atenção da criança será dirigida basicamente
para as características sonoras das palavras, e não para seus significados. Em outras
palavras, independentemente de sua idade, a criança estará frente a situações que
envolvem a noção abstrata de fonema.
Apesar de estar lidando com uma elemento lingüístico complexo, vemos que,
muitas destas crianças, a partir de pistas ou de abordagens diversas para a "colocação"
dos fonemas, podem vir a produzi-los em condições variadas: isoladamente, em sílabas,
em palavras e até mesmo em algumas frases, mas desde que haja um controle dirigido e
consciente. Pode-se afirmar que, chegando a este ponto, a criança mostra-se capaz de
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mais cedo, que lidem, de forma consciente, com a noção de fonemas, o que pode
representar um grande desafio e, até mesmo o não conseguir, principalmente em se
tratando de crianças de quatro ou cinco anos.
O que se pretendeu com este capítulo foi mostrar que, entre ser capaz de produzir
corretamente novos sons e palavras numa situação terapêutica controlada e a
automatização destes novos padrões articulatórios existe uma longa distância cujo
percurso dependerá de uma atividade de análise e controle muito intensos da criança em
relação à sua própria fala. Como já foi apontado, ela deverá ser capaz, por exemplo, de
detectar a presença de fonemas em palavras, segmentar palavras, excluir fonemas para
substituí-los por outros, inibir automatismos já bem consolidados considerando se a
palavra estará sendo pronunciada da forma correta ou não, e tudo de uma forma que
demandará ações conscientes. Como pode ser visto, há uma grande exigência de
habilidades em níveis fonológicos nem sempre acessíveis para a criança.
Na medida em que padrões antigos possam ser substituídos por padrões novos
tenderá a ocorrer uma estabilização destes novos padrões assim como uma
generalização a novas palavras. A partir deste momento é que se pode falar em
automatização. Considerando-se que este processo envolve habilidades fonológicas
complexas, que vão muito mais além da habilidade motora de produzir fonemas, muitas
crianças podem vir a ter dificuldades para completar este ciclo. Portanto, dificuldades
relativas à "automatização" podem ser esperadas e não devem surpreender o
fonoaudiólogo quando ocorrerem, principalmente quando se trata de crianças pequenas.
Situações que levem a criança a detectar palavras com os fonemas trabalhados, a fazer
julgamentos sobre o modo de pronunciar as palavras, a fazer substituições erradas
propositais, podem ajudá-la no sentido de desenvolver uma atenção e um controle mais
conscientes sobre a fala.
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