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Texto de autoria identificada, postado no Grupo São Francisco e Suas Histórias pelo

André Luis Cercal tempinhos atrás.

Os Paulas
De: Antônio Roberto Nascimento, do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina

Aos 11/3/1806, em S. Francisco do Sul, foi batizado Antônio, filho legítimo de


Francisco de Paula dos Reis, batizado na Sé Catedral do Rio de Janeiro, e da
francisquense Maria Úrsula de Freitas, neto paterno de Gabriel Alves da Silva, natural
da freguesia de S. João da Foz da Cidade do Porto, e de Ana Maria do Pilar, batizada na
Sé da Cidade de S. Paulo, e materno do Tenente Francisco José de Freitas Castro,
natural do Arcebispado de Braga, e de D. Úrsula Francisca da Silva, natural de S.
Francisco do Sul, sendo padrinhos o Dr. Ouvidor Antônio de Carvalho Fontes Henrique
Pereira e D. Ana Angélica Pereira da Cunha, por procuração que apresentaram o
Capitão Comandante Manoel Zeferino de Sousa Coutinho e o Reverendo Vigário da
Vara Bento Gonçalves Cordeiro. (livro nº 5 da Matriz de N. Sª da Graça do Rio de S.
Francisco Xavier). Dito Antônio era irmão germano de Reginaldo, batizado aos
13/12/1801, bem como de Ana, batizada aos 28/5/1803 (fl. 168, livro nº 5), sendo
padrinhos o Vigário da Vara Bento Gonçalves Cordeiro e D. Úrsula Francisca da Silva.

Francisco de Paula dos Reis e José Correia tinham 101 braças de terras no Rio Parati,
lado sul, e as venderam a Januário de Oliveira Cercal, que, ao depois, recebeu uma
sesmaria no Cubatão, onde deixou expressiva descendência. As terras no Rio Parati
foram objeto de disputa com Manoel Correia. O dito Januário, por sua feita, parece ter
deixado as terras compradas aos filhos do primeiro casamento dele. A mais disso,
Francisco de Paula dos Reis teve casa na Rua da Praia, em S. Francisco do Sul, com
caixeiro para vendas, bem como um sobrado na Rua Direita da Graça com loja e
armazém, mais uma casa na Travessa de S. José, em S. Francisco, que estava sem
morador em 1808. Francisco de Paula dos Reis e sua mulher Maria Úrsula de Freitas
foram padrinhos, aos 12/3/1803, de Rita, filha de Julião José de Oliveira, natural de S.
Sebastião, comerciante, cujos bens foram inventariados em 1855 por Alexandrina
Teresa de Jesus, e de Maria Clara do Rosário, natural de Paranaguá, neta paterna de
Domingos de Oliveira Patram ou Patrão, natural de Gênova, e de Ana Pires dos Santos,
natural de S. Sebatião, e materna do Alferes João Silveira de Miranda, natural de
Paranaguá, morto aos 16/2/1795, com 55 anos,

Francisco José de Freitas Castro e Salvador Dias de Siqueira demandaram judicialmente


contra os descendentes de Inês, do gentio da Guiné, que disseram ser livres e não o
eram, porquanto a descendência pela mãe era a regra de então.

Os descendentes de Francisco de Paula dos Reis foram chamados de Os Paulas no


arquivo judiciário de S. Francisco do Sul, mas, ao depois, passaram a usar o sobrenome
Freitas que herdaram da mãe.
No bairro dos Paulas há um outro equívoco de denominação. A Praia dos Ingleses é em
Florianópolis, a Praia do Inglês é lá e o epônimo foi o britânico Roland O’Neill Addison
que comprou a chácara do Machadinho, o João Policarpo Machado da Paixão, sobrinho
carnal do Tenente-Coronel Francisco de Oliveira Camacho, o moço, filho de pai de
igual nome. É provável que a antes o local fora denominado Praia do Machadinho. A
Ilha do Machadinho ficava mais próxima da costa do que a do sobredito Coronel
Camacho, que foi o líder do Partido Conservador até sua morte. A viúva de Camacho
deixou a Ilha da Vaca a um filho do Major Chrispim Gomes de Oliveira, homem de
confiança de seu então finado marido.

Vejamos a origem desses Freitas.


Aos 16/8/1707, foi batizado em S. Francisco do Sul, na Matriz de N. Sª da Graça,
Evaristo, que foi o Evaristo da Silva Freitas, solteiro ainda em 1837, filho de Julião
Vieira da Silva, natural do Desterro, e da francisquense Margarida da Silva Freitas, neto
paterno dos açorienses Raimundo Vieira e de Rosa Ignácia, ambos naturais da Ilha
Terceira dos Açores, e materno do Tenente Francisco José de Freitas, natural da Vila de
Guimarães em Portugal, Arcebispado de Braga, - em 1788 ainda estava vivo, e de
Úrsula Francisca da Silva, natural de S. Francisco do Sul, ali morta em 1809, já viúva,
com cerca de 60 anos, sendo padrinhos Alexandre José de Freitas Castro, morto em
Guaratuba em 1864, no posto de capitão, com testamento, e Maria Úrsula de Freitas, a
madrinha. Evaristo era irmão germano de Ricardo batizado aos 16/2/1797. O
comandante de S. Francisco do Sul era então o Ajudante Antônio de Campos Rocha,
como se vê no assento eclesiástico seguinte do livro nº 5. A esse tempo também estava
na dita Matriz o Rev. Pe. Lourenço Manoel de Lima, mas não sabemos qual sua função
lá, mas era primo irmão do Alferes José Gomes de Oliveira, descendente do primeiro
Manoel Gomes Galhardo, luso, porquanto o Padre Bento Gonçalves de Morais era o
vigário da vara ainda em 1801. A seguir, o Pe. José Dias de Siqueira foi o coadjutor. A
título de curiosidade, registramos o batismo de Salvador, aos 28/8/1801, nascido aos
vinte daquele mês, filho de Luiz Colaço e Maria Lopes, efetuado pelo Frei Antônio do
Sacramento, religioso do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, com licença do
Vigário da Vara Bento Gonçalves Cordeiro, com anotação à margem de ser filho de
Luiz Lopes e de Maria Lopes, esta filha de Gregório Lopes, morto de apoplexia aos
12/5,1798, já viúvo de Maria Francisca. Padrinhos foram o Alferes Manoel Antunes de
Meneses e sua mulher Bárbara Maria Joaquina da Silva. Era sacristão da paróquia a esse
tempo Antônio Gomes Pereira. O Vigário João José Monteiro, com licença do vigário,
batizou Joaquim, filho de pai incógnito, aos 26/1/1800, exposto em casa de Francisco
Gonçalves Rodrigues, sendo padrinhos José Rodrigues dos Passos e Maria Rodrigues,
sua mulher. Quem criasse crianças expostas, isto é, abandonadas, recebia uma
subvenção da Câmara local. Na Ilha de Santa Catarina eram tantas as crianças
abandonadas que a Câmara chegou a reclamar.

Valemo-nos, a seguir, de pesquisa do professor Ricardo Costa de Oliveira da


Universidade Federal do Paraná, nosso parente e amigo, a quem não cansamos de
agradecer por duas valiosas pesquisas.

Francisco José de Freitas, ou Francisco José de Freitas Castro, passou de Guimarães,


Portugal, para a vila de São Francisco do Sul (SFS), atual Estado de Santa Catarina, no
Brasil. No processo de genere do Padre Manoel Lourenço de Lima, do ano de 1788,
declarou ter cerca de 50/55 anos e que morava há mais de 20 anos em São Francisco do
Sul. Consta no Rol dos "homens bons" da vila, uma lista das pessoas que servem na
República da vila do Rio de São Francisco, em 1/1/1781. Era o "demarcador de terras".
Francisco José de Freitas Castro casou com D. Úrsula Francisca da Silva, filha de João
Francisco da Silva e de Ana da Silva. Provedoria dos Resíduos da Comarca de
Paranaguá. Ano de 1810. Vila do Rio de São Francisco. Autos Cíveis de Conta
Testamento. Margarida da Silva Freitas como testamenteira de sua falecida mãe Dona
Ursula da Silva.
Documento nº 4466. Arquivo do 1º Cível, Curitiba. Testamento datado de 25/10/1809
de Ursula Francisca da Silva. Testamenteiros : a minha filha Margarida da Silva Freitas,
a meu genro João Correa Fernandes e a meu filho Alexandre José de Freitas. Consta
uma neta e afilhada Maria, filha da minha filha Margarida da Silva Freitas. Sou natural
desta vila e casada com o senhor Tenente Francisco José de Freitas Castro, já falecido.
Tivemos 11 filhos, dos quais três falecidos e oito vivos. Felipe - casado nos Campos de
Iguatacazes (Goitacazes ?), Maria Ursula de Freitas - casada com o Senhor Francisco de
Paula dos Reis morador nesta vila (de SFS). Margarida da Silva Freitas - viúva de Julião
Vieira da Silva. Ana - casada com o Senhor João de Miranda Coutinho, morador na
Guaratuba (ramo com grande descendência em Guaratuba). Maria - casada com o
senhor João Correa Fernandes, morador desta vila. Alexandre José de Freitas - casado
na vila de Guaratuba. Joaquina - casada com o Senhor José Cardoso Franco, morador na
vila de Iguape. Francisco José de Freitas - Todos são meus legítimos filhos e universais
herdeiros. Declaro que deixando meu irmão o Alferes José Francisco da Silva por seu
falecimento a minha filha Maria Úrsula de Freitas de esmola 25$600 ela os recebeu e
empregou em fazendas. Declaro que quando casei minha filha com o senhor Francisco
de Paula dos Reis levou um par de brincos e laços de ouro com pedras de topazes digo
de prata e assim mais uma escrava de nome Antônia com uma cria de nome Januária a
qual levou em preço de 9 doblas abatendo daí a sua legítima. Casando Ana com o
senhor João de Miranda Coutinho lhe dei de dote além do que tocou por falecimento do
seu pai uma escrava de nome Silvana com cria nos braços em preço de 115$200 cuja
quantia caso haja de repor alguma cousa por não vir a caber-lhe tanto. A meu filho
Alferes José de Freitas casado na vila de Guaratuba lhe tocou de seu pai um escravo de
nome José. Declaro em minha vontade se dê de legítima a meu filho Francisco o
escravo de nome Antônio. Declaro que devo ao Tenente Manoel Pereira da Costa
54$000. Declaro que devo ao Alferes Domingos Correa 31$520 Ao cofre dos órfãos
100$000 e os seus juros houverem vencidos Declaro eu os bens que possuo são bem
manifestos aos meus herdeiros os quais confio neles. Aprovação : Francisco de Miranda
Coutinho, Manoel Dias do Rosário, Manoel Alves de Leão, João José Soares, Francisco
de Paula Vidal.
Foi sepultada aos 28/10/1809. Viúva com 60 anos. Terça 174$712.
O filho Francisco José de Freitas deve ser o casado com Rita Maria de Lima, pais de
Escolástica Maria de Freitas, na Genealogia Paranaense, por sua vez casada e matriarca
do tronco dos Miró do Paraná. Somos parentes por esse ramo, uma vez que meu
(Ricardo) 6º avô, o Ajudante Antônio Pereira da Silva declarou ser tio de Úrsula
Francisca da Silva. O Ajudante Antônio Pereira da Silva era natural de Paranaguá,
morador em São Francisco do Sul e faleceu em 29 de dezembro de 1790, com cerca de
90 anos, de modo que esse ramo estava em Paranaguá desde o final do século XVII.
Tenho outros elementos também.”.
O Ajudante Antônio Pereira da Silva foi casado com Paula Moreira. Em 1886, foi
processado o inventário dos bens deixados pela finada Úrsula Maria de Freitas, morta
aos 05/2/1886, sendo legatários, por testamento de 31/1/1864, Manoel Guilherme de
Freitas, de 50 anos, viúvo, inventariante, morador no Mato Alto, Laurindo Guilherme da
Silva, de 40 anos, casado, morador no dito lugar, e Carolina Maria Rosa, de 45 anos,
casada com Martinho Liberato de Freitas, moradores no Rocio Pequeno.
OAos 09/2/1888, em S. Francisco do Sul, morreu Francisco Alves de Leão, de
desinteria, no Hospital da Caridade, de 51anos, viúvo de Maria Rosa da Silva. Úrsula
Maria de Freitas declarou ser natural de S. Francisco do Sul, filha legítima de Julião
Vieira da Silva e de Margarida da Silva Freitas, já finados em 1864, e que se conservou
solteira. Pediu fossem seus testamenteiros Manoel Guilherme de Freitas, primo dela,
Antônio José de Sousa Lima e José Rodrigues Bacellar Capela, respectivamente.
Laurindo Guilherme de Freitas era filho de Manoel Guilherme de Freitas, o primo de
Úrsula Maria de Freitas. Deixou terras no Mato Alto.
O Capitão João Vicente Nóbrega Dutra e D Úrsula Maria de Jesus, esta filha do Cap.-
Mor Antônio de Carvalho Bueno, tiveram, dentre outros filhos, a filha Maria Carolina
Nóbrega, segunda mulher do Cap. José Nicolau Machado Jr., filho de pai de igual
nome, natural de Cascais, e de Rosa Maria de Oliveira, neto paterno de Manoel
Machado e de Luiza, ou Teresa de Jesus, portugueses, e materno de Felipe José de
Freitas Castro e de Maria Joaquina dos Santos, com quem teve o filho Virgílio Cristiano
Machado, a filha Elisa Serafina Machado, casada com o luso José Leite da Fonseca,
comerciante, e o filho Antônio Carlos Machado de Oliveira Sênior, segundo professor
de primeiras letras em S. Francisco do Sul. Elisa Serafina Machado é avó materna do
historiador e médico Dr. Luiz Antônio Luiz Ferreira Gualberto, natural da freguesia de
N. S.ª do Rosário da Província da Bahia. Dita Elisa tinha 14 anos em 1864 e era irmã
bilateral de Virgílio Machado, ambos filhos do luso José Leite da Fonseca, batizado na
freguesia de Moura, Concelho da Figueira, em Portugal, lugar Monte Oeste, negociante
estabelecido na Rua da Carioca, e do Capitão José Nicolau Machador Júnior e de D.
Maria Carolina Nóbrega, segunda mulher dele, esta filha do Cap. João Vicente Nóbrega
Dutra e de D. Úrsula Maria de Jesus. Virgílio Machado foi casado com Marieta
Monteiro Machado, com quem teve o filho Cristiano Machado, nascido em Sabará-MG
aos 05/111893, político, advogado, que foi candidato à Presidência da República em
1950.
Outra curiosidade encontramos no batismo de Maria, aos 8/2/1803, nascida aos 28/2
pelas mãos da parteira Margarida Fagundes, filha de Luiz Fagundes dos Reis e de
Antônia Pereira de Meneses, neta paterna de João Fagundes dos Reis e de Maria de
Chaves, e materna de Antônio Pereira de Meneses e de Maria Tavares de Meneses, esta
última sobrinha de D. Ana de Oliveira, mulher do Capitão-Mor Sebastião Fernandes
Camacho, descendente dos assim chamados segundos povoadores da Ilha de Santa
Catarina. Foi a primeira parteira que encontramos em nossas pesquisas.

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