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C APÍTULO 2

O Professor e sua Prática Docente:


Tendências Norteadoras

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os


seguintes objetivos de aprendizagem:

33Apontar as diferentes maneiras do professor relacionar-se com os


conteúdos/conhecimentos e com os estudantes.

33Estimular a necessidade de conhecer as diferentes tendências, destacando


os aspectos positivos e negativos.
Metodologia do Ensino Superior

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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

Contextualização
De acordo com o que você pôde observar na seção anterior, a universidade
é fruto de um processo que visou atender a múltiplas mudanças sociais,
políticas, econômicas e culturais ocorridas na Europa.

No Brasil, a universidade surgiu bem mais tarde.


Até os dias de hoje,
Os reflexos históricos das primeiras universidades, tanto na sua estrutura a maneira como o
professor encara o
de funcionamento administrativo quanto pedagógico ainda mostram seus
processo pedagógico
reflexos. Até os dias de hoje, a maneira como o professor encara o processo
está, muitas vezes,
pedagógico está, muitas vezes, relacionada a uma formação acadêmica que
relacionada a uma
apresenta fortes traços de uma época distante. Em outras palavras, a forma formação acadêmica
de um professor encarar a sala de aula, seus estudantes, seus conteúdos e, que apresenta fortes
até mesmo, seus colegas, encontra raízes na sua formação escolar. traços de uma época
distante.
Vamos entender melhor isso?

A relação de um professor com seus estudantes pode ocorrer de forma


unilateral (o professor fala e o(a) aluno(a) escuta) ou de forma multilateral
(professor e alunos se comunicam, refletem, discutem, formulam e reformulam
convicções, conceitos, conhecimentos etc.).

Bordenave e Pereira (2001) abordam que os educadores reconhecem


a oposição entre dois tipos de educação: a educação bancária, em que o
professor é um transmissor do saber, sendo conferida importância suprema aos
conteúdos (modelo muito presente nas escolas superiores que antecedem os
modelos calcados na investigação científica, mencionados na seção anterior) e
a educação problematizadora, em que o conteúdo programático não é a única
fonte de estudo (o diálogo permanente entre alunos e professores).

Então, viajou no tempo e se lembrou de algum professor em especial e da


forma de como ele se relacionava com você e seus colegas?

Para esclarecer o que observamos nos parágrafos anteriores, iremos, a


seguir, apresentar algumas das tendências pedagógicas que norteiam a prática
docente. São geralmente classificadas em 4 grandes grupos: tradicional,
tecnicista, libertadora e crítico-social.

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Metodologia do Ensino Superior

O Professor Tradicional
É possível dizer que essa tendência foi e é o alicerce para as demais.
Pois, trata-se de um modelo educacional que remonta às origens do ensino
escolar e que, certamente, deixou alguns de seus reflexos na nossa educação.
Rigidez, autoritarismo e ambiente austero são algumas das características
presentes.

Figura 3 – Atitude do professor tradicional

Fonte: Disponível em: <www.evo.bio.br/LAYOUT/PP04.GIF>. Acesso em: 15 jan. 2009.

É uma tendência fortemente marcada pelo método cartesiano. O


professor, é o dono do saber e cabe a ele a função de transmitir informações,
isto é, os conhecimentos já existentes, não se preocupando com a construção
de novos saberes.

Método cartesiano: É um método que segue o caminho da dúvida


e que tem como objetivo identificar a verdade. O caminho para a
identificação da verdade no método cartesiano consiste em seguir
quatro regras básicas:

a) Regra da evidência: só aceitar algo como verdadeiro desde


que seja claro e evidente por si mesmo. Caso contrário, aplicar as
outras regras que seguem.

b) Regra da análise: se algo não estiver claro e evidente por si


mesmo, faz-se necessário dividir cada uma das dificuldades em
partes menores para poder entendê-las.

c) Regra da ordem: conduzir meus pensamentos por ordem,


começando pelos objetos mais simples e fáceis de entender até o
conhecimento mais complexo.

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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

d) Regra da enumeração: juntar todas as partes analisadas nas


regras “b” e “c” e realizar verificações para que as dúvidas e os
problemas sejam compreendidos em sua totalidade.

Um livro que aborda essa questão é a obra de René Descartes, “O


Discurso do Método”.

Se você estabeleceu uma relação entre essa tendência e as primeiras


escolas de ensino superior, citadas na seção anterior, parabéns!

Os fundamentos básicos da tendência educacional são:

- Forma de trabalhar os conteúdos: a memorização é o foco do ensino,


portanto, o(a) aluno(a) não é levado a compreender os conteúdos
apresentados. A avaliação é um instrumento que serve para avaliar
exclusivamente o(a) aluno(a), o que foi possível memorizar, em que o
professor pergunta e o(a) aluno(a) responde. Os conteúdos possuem a
missão de difundir a cultura acumulada historicamente.

- A sala de aula como único espaço de ensino: a sala de aula é o único


espaço possível de aprendizado, pois não é concebido que outro espaço,
mesmo no interior da instituição, possa servir para esse fim. O professor
é autoridade máxima, isto é, o professor fala e o(a) aluno(a) ouve. O(a)
aluno(a) numa condição de inferioridade, é obrigado a se adaptar ao método
do professor. Freire (1979) se referia a essa educação como uma educação
bancária, pois o professor, nesse caso, “deposita” os conteúdos na “cabeça”
Sem dúvida que a
dos alunos.
pedagogia tradicional
se faz presente nos
- A avaliação: é utilizada com o objetivo de revelar se o(a) aluno(a) dias atuais, tanto nos
conseguiu reter o conteúdo repassado pelo professor. Geralmente, a prova colégios como nas
é o instrumento de avaliação mais utilizado. O(a) aluno(a) não é avaliado no faculdades. Muitas
processo, somente no momento das provas. instituições de ensino
ainda crêem que a
Sem dúvida que a pedagogia tradicional se faz presente nos dias atuais, aprendizagem só é
tanto nos colégios como nas faculdades. Muitas instituições de ensino ainda possível na sala de
crêem que a aprendizagem só é possível na sala de aula. aula.

Para Danton e Carlo (2008), “a palmatória se foi, mas a educação


tradicional ainda continua arraigada na prática escolar.” A palmatória com
certeza desapareceu, mas outras formas de reprimir e cercear a criatividade a
e participação dos estudantes existem.

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Metodologia do Ensino Superior

Atividade de Estudos:

A partir do que você compreendeu da tendência tradicional, faça


uma análise do seu tempo de colégio ou de faculdade e escreva
aqui algumas ações dos seus professores que se encaixariam
nessa tendência.
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O Professor Tecnicista
Essa tendência é mais recente, no Brasil ela remonta ao processo de
industrialização (século XX), período em que se fez necessário a formação de
profissionais para o mercado de trabalho. Você já deve estar imaginando que
características marcam essa tendência, afinal, as escolas técnicas são muito
presentes até hoje.

Figura 4 – Relação teoria e prática

Fonte: Disponível em: <www.amparo.sp.gov.br/>. Acesso em: 16 jan. 2009.

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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

A figura 4 procura ilustrar um exemplo de procedimento prático


que poderá ser utilizado no modelo tecnicista, isto é, o aprendiz
colocando em prática as informações dadas pelo professor.

Os fundamentos básicos dessa tendência educacional são:

- Forma de trabalhar os conteúdos: as informações são organizadas numa


sequência lógica, em que a preocupação é a transmissão de conteúdos que
ofereçam condições dos alunos ingressarem no mercado de trabalho. Os
conteúdos estão em consonância com as necessidades do mundo do trabalho.

- A sala de aula: é organizada de forma racional; os alunos são dispostos


de maneira que o professor possa atingir a todos. Necessariamente não
precisam estar organizadas como as salas tradicionais. Muitas vezes, as
aulas acontecem em laboratórios, oficinas mecânicas ou ateliês de costura.
A relação professor/aluno é objetiva, cabendo ao professor transmitir as
informações e ao(à) aluno(a), fixá-las.

- A avaliação: tem por objetivo avaliar o desempenho do(a) aluno(a). Os livros


As tendências
didáticos, apostilas ou manuais e as exposições orais do professor são as
tradicionais
únicas fontes de informações exigidas e disponíveis para os(as) alunos(as).
e tecnicistas.
Atendem uma carga
As tendências tradicionais e tecnicistas estão diretamente articuladas ideológica presente
às necessidades de mercado. Na verdade, completam-se, pois buscam dar em sociedades
respostas as demandas exigidas no mundo do trabalho. Nesse sentido, organizadas por uma
atendem uma carga ideológica presente em sociedades organizadas por uma política neoliberal, que
política neoliberal, que visa uma estruturação socioeconômica competitiva, e visa uma estruturação
não humanística. Em outras palavras, busca a manutenção da ordem a partir socioeconômica
dos interesses do capital. Sem intenções transformadoras. competitiva, e não
humanística.

O Professor Libertador
Trata-se de uma tendência mais recente, não aparece com frequência. Ela
exige muito preparo e compromisso do professor e do(a) aluno(a). O objetivo
é articular a sala de aula e tudo que acontece nela com a realidade vivida. Os
professores e alunos devem atingir um nível de consciência da realidade em
que busquem a transformação social.

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Metodologia do Ensino Superior

O grande educador brasileiro responsável pela difusão dessa tendência


foi Paulo Freire.

Figura 5 – Paulo Freire

Fonte: Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Institucional/


PauloFreire>. Acesso em: 16 jan. 2009.

Os fundamentos básicos dessa tendência educacional são:

- Forma de trabalhar os conteúdos: ao contrário dos modelos tradicionais,


em que o professor apresenta seu plano de trabalho aos alunos, a direção
se inverte nesse caso. Os conteúdos passam a ser enumerados/priorizados
naturalmente pelo cotidiano dos educandos em suas comunidades.

- A sala de aula: o espírito crítico deve estar sempre presente, pois o objetivo
é criticar/refletir sobre a realidade em que vivemos. O diálogo predomina
entre os professores e alunos. Aulas expositivas são pouco frequentes e os
grupos de discussão são mais presentes.

- A avaliação: é pouco presente uma avaliação formal, escrita. É comum a


autoavaliação, cabendo aos professores respeitarem os diversos ritmos de
desenvolvimento dos educandos.

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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

Atividade de Estudos:

A partir do que você compreendeu da tendência libertária, faça


uma análise do seu tempo de colégio ou de faculdade e escreva
aqui algumas ações dos seus professores que se encaixariam
nessa tendência.
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Você deve ter percebido que essa tendência é mais desafiadora tanto
para professores como para os alunos. Afinal, ela rompe com o tradicional.
O professor ultrapassa as fronteiras de um repassador de conteúdos e surge Você deve ter
percebido que essa
como alguém que instiga seus educandos à compreensão e à transformação.
tendência é mais
O diálogo se consolida!
desafiadora tanto para
professores como
Para Freire (1996, p. 135), “É no respeito às diferenças entre mim e eles para os alunos. Afinal,
ou elas, na coerência entre o que eu faço e o que eu digo, que me encontro ela rompe com o
com eles ou com elas”. tradicional. O professor
ultrapassa as fronteiras
Ou ainda: de um repassador
de conteúdos e
A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar mas surge como alguém
sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, que instiga seus
recriando-a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto
educandos à
do nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo
das plantas. (FREIRE, 1996, p. 68-69). compreensão e à
transformação. O
diálogo se consolida!
De acordo com o autor, a educação cumpre sua função na medida em que
promove a construção de um cidadão que, por intermédio de sua formação,
busca compreender a realidade e modificá-la em beneficio de si e dos outros. A
educação deve ir além de uma ação que vise a manutenção do que já existe.

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Metodologia do Ensino Superior

O Professor Crítico-Social
A tendência crítica, conhecida como crítico-social chegou ao Brasil no
início da década de 1970, sendo contemporânea ao modelo tecnicista.

Prezado estudante, tal tendência é muito semelhante a anterior, talvez a


diferença mais marcante seja o fato dessa preocupar-se em compreender o
mundo por intermédio da reflexão, enquanto a anterior busca, em conjunto
com a reflexão, a transformação desse mundo.

Figura 6 - Início de Conversa

Fonte: Disponível em: <mindmakers.files.wordpress.


com/2008/10/imagem>. Acesso em: 17 jan. 2009.

A figura 6 procura ilustrar a maneira como o professor pode


se colocar fisicamente diante de seu aluno. Observe que a postura
sugere uma situação em que o professor tranquilamente ouve com
o objetivo de debater uma determinada realidade ou problema.

Os fundamentos básicos da tendência educacional são:

- A forma de trabalhar os conteúdos: são baseados nos aspectos culturais


presentes na realidade escolar e visam articulá-los com os movimentos
concretos de transformação da sociedade. Logo, o mundo externo está
presente nos conteúdos e nos debates de sala de aula. A grande “sacada”
é dar sentido aos conteúdos, isto é, mostrar que eles apresentam relação
com as ações do presente.

- A sala de aula: tem como base um método que parte da experiência do(a)
aluno(a) e a confronta com a realidade. Esse(a) aparece como participador
e o professor, como mediador entre o saber e o(a) aluno(a).

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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

- A avaliação: não apresenta o objetivo de mensurar o conhecimento


do(a) aluno(a), ao contrário, não existem notas, exames nem castigos. A
aprendizagem é centrada nas capacidades cognitivas já estruturadas nos
alunos. Talvez você tenha
percebido que as
É interessante observar que, de acordo com essa tendência, o mundo não tendências crítico-
é estático, mas dinâmico. Sendo assim, está em constante transformação, em social e libertária
reconstrução, sendo necessário compreendê-lo, aspecto comum à tendência estão na contramão
libertária. das tendências
tecnicista e tradicional.
Talvez você tenha percebido que as tendências crítico-social e libertária Na verdade, a
estão na contramão das tendências tecnicista e tradicional. Na verdade, a criticosocial e libertária
possuem um sentido
criticosocial e libertária possuem um sentido transformador, ação mais próxima
transformador, ação
e comprometida com as ideologias socialistas.
mais próxima e
comprometida com as
Você já ouviu falar em disciplinaridade, interdisciplinaridade e ideologias socialistas.
transversalidade?

Pois é, essas concepções que norteiam algumas práticas pedagógicas


encontram suas origens nessas tendências.

Para que você possa compreender melhor as diferenças entre


as tendências que propõem a manutenção ou transformação da
ordem social e econômica estabelecida, sugerimos assistir aos
seguintes filmes:
- The Wall (1982).
- O sorriso de Monalisa (2003).

A Disciplinaridade, a Interdisciplinaridade
e a Transversalidade e as Tendências
Pedagógicas
Antes de partirmos para as considerações finais desse capítulo,
entendemos que seja interessante apresentar a você algumas noções de
disciplinaridade, interdisciplinaridade e trasnsversalidade e, ao mesmo tempo,
identificar as raízes dessas concepções de organização didática nas tendências
tradicional, tecnicista, crítico-social e libertária.

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Metodologia do Ensino Superior

Nesse sentido, pedimos à você que leia com atenção os textos a seguir.

DISCIPLINARIDADE

A origem das disciplinas nos remete ao início da Idade


Moderna, com o filósofo francês René Descartes, que desenvolveu
uma nova forma de investigação da realidade e estabeleceu um
novo paradigma de ciência, conhecido como “método cartesiano”,
diferente daquele presente na Idade Média [...]

Para Descartes, todas as coisas do universo e da natureza


funcionam como um relógio, pois são regidas por leis eternas e
imutáveis, podendo ser identificadas através da utilização de um
método, que mais tarde ficou conhecido como método científico.
Para exemplificar o funcionamento do método cartesiano,
apresento a metáfora do relógio, desenvolvida por Araújo (2003, p.
8), para explicar como se desenvolve este método:

O relógio e suas engrenagens compõem a metáfora


que foi empregada para explicar a natureza. Da
mesma forma que o tempo passou a ser contido
dentro do relógio, permitindo sua matematização,
a natureza pôde ser dividida em inúmeras partes,
mais simples. O relógio podia ser analisado
desmontando-o em pequenas peças, as quais, sendo
mais simples, tornavam mais fácil a compreensão do
seu funcionamento e, inclusive, seu conserto, quando
necessário. A natureza e o ser humano começaram
a ser analisados também dessa maneira, sendo
divididos em pequenas partes, mais fáceis de estudar.
O pressuposto adotado foi o de que, se entendendo
as partes entender-se-ia o todo.

A partir deste método de investigação desenvolvido por


Descartes, a natureza e toda a realidade social passaram a ser
divididas em partes ou campos de conhecimento, surgindo as
ciências ou as disciplinas como são conhecidas na escola [...].

Percebe-se que o modelo cartesiano de investigação levou à


descontextualização e à fragmentação da realidade. Na educação,
este modelo se faz presente nas “grades curriculares”, onde é
estruturado o todo educativo, aparecendo, em seus diversos
quadros, as disciplinas e seus respectivos conteúdos a serem
trabalhados de forma fragmentada e descontextualizada. Como
conseqüência deste modelo cartesiano no campo da educação,
observa-se que os conteúdos das disciplinas são dissociados da
realidade, não ajudam o homem a conhecer e compreender o
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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

mundo, sua realidade e a posicionar-se diante de seus problemas


vitais e sociais. Outra questão que resulta deste processo
disciplinar é a ausência da crítica, ficando o ensino restrito à mera
reprodução. Conseqüentemente, deixa-se de formar cidadãos
participativos, capazes de elaborar novas ideias e conceitos, com
os quais poderiam interferir e influenciar na sociedade moderna,
onde tanto se valoriza o conhecimento.
Fonte: texto parcialmente extraído SIEGEL, 2005, p. 14 a 16.

De acordo com o texto, é possível perceber que as práticas pedagógicas


existentes no interior das instituições de ensino são frutos do seu tempo. Por
isso, não podemos olhar com preconceito as pedagogias tradicionais, pois,
por intermédio de uma estrutura disciplinar, fragmentada, buscava-se dar
explicações para o mundo daquele momento.

TRANSVERSALIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

A transversalidade e a interdisciplinaridade são expressões


utilizadas com muita freqüência no contexto educativo, principalmente
nas novas práticas pedagógicas. Nota-se que estas expressões,
apesar de fazerem parte do cotidiano de muitas escolas, acabam
por ser confundidas em seus sentidos e significados. Procurando
esclarecer o que vem a ser cada um destes termos, os PCNs
apresentam as suas semelhanças e as suas diferenças. [...].

Ambas — transversalidade e interdisciplinaridade — se


fundamentam na crítica de uma concepção de conhecimento que
toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos
a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam a
complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de
relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas,
diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade se refere
a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento,
enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à
dimensão da didática [...].

A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os


diferentes campos de conhecimento produzida por uma abordagem
que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles —

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Metodologia do Ensino Superior

questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre


a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu.
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer,
na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos
teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
questões da vida real (aprender na realidade e da realidade).

Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade


alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões
trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-relações entre
os objetos de conhecimento, de forma que não é possível fazer
um trabalho pautado na transversalidade, tomando-se uma
perspectiva disciplinar rígida. A transversalidade promove uma
compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento,
bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento
na sua produção, superando a dicotomia entre ambos. Por essa
mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de
saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas
de significado construídos na realidade dos alunos. Os Temas
Transversais, portanto, dão sentido social a procedimentos e a
conceitos próprios das áreas convencionais, superando assim o
aprender apenas pela necessidade escolar.

Fonte: texto parcialmente extraído SIEGEL, 2005, p. 16 -17.


Na verdade,
interdisciplinaridade
e transversalidade
possuem ações Bem, certamente você deve ter relacionado a interdisciplinaridade e a
intrinsecamente transversalidade com as tendências crítico-social e libertadora. Se o fez,
transformadoras, parabéns! Caso não tenha conseguido, não se preocupe: cada um tem seu
pois na medida em ritmo próprio de aprendizagem, já você consegue fazer esse exercício.
que rompem com a
fragmentação e se Na verdade, interdisciplinaridade e transversalidade possuem ações
propõem a discutir intrinsecamente transformadoras, pois na medida em que rompem com a
temas do cotidiano, fragmentação e se propõem a discutir temas do cotidiano, rompem com as
rompem com as grades curriculares tradicionais, aspirando mudanças e não manutenção da
grades curriculares
realidade.
tradicionais, aspirando
mudanças e não
Bem, chegou mais um momento para desafiarmos você!
manutenção da
realidade.

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O Professor e sua Prática Docente:
Capítulo 2
Tendências Norteadoras

Atividade de Estudos:

Que tal você colocar em prática os conhecimentos construídos até


aqui e planejar uma aula com uma proposta de interdisciplinaridade
e transversalidade? Bem, escolha um tema tradicional, presente na
grade curricular de seu curso, e associe a um tema do cotidiano.
O objetivo é você dar sentido a um conteúdo tradicionalmente
presente nos currículos por intermédio da associação de um tema
cotidiano.

Bom trabalho!
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Algumas Considerações
Você deve estar se perguntando: Qual dessas tendências é a mais
adequada para a prática docente? Qual delas devemos seguir?

Quanto à primeira pergunta, gostaríamos de afirmar que não existem


receitas prontas na maneira de um professor se relacionar com seus
alunos, com os seus conteúdos ou com as avaliações a serem realizadas. A
atividade docente não é tão precisa assim! Uma sala de aula nunca é igual
a outra e tampouco os alunos são iguais. Cada um tem seu próprio ritmo de
aprendizagem.

É claro que nossa prática deve ser norteada por uma fundamentação
teórica, mas nada impede que você se utilize de características que
contemplem todas as tendências aqui apresentadas. Ninguém é obrigado a
seguir uma tendência exclusiva. Nem seria possível, pois as realidades são
muito diversas.

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Metodologia do Ensino Superior

Na verdade entendemos que a educação escolar não é uma ação que


visa preparar para a vida, até porque, ela é formada por diferentes classes
sociais, com diferentes objetivos de construção social. Por isso, entendemos
que a compreensão dessa vida é missão fundamental das escolas, sejam de
Ensino fundamental ou Médio ou de níveis superiores. Na necessidade de
compreender tal realidade, todas as tendências podem aparecer na figura de
um só professor.

Para Aranha (1989), a educação, de forma geral, não deve estar separada
da vida, nem preparar para a vida, mas deve ser a própria vida.

Esperamos que tenha gostado dessa seção!

Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo:
Moderna, 1989.

BORDENAVE, Juan Diaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-


aprendizagem. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

DANTON, Gian; CARLO, Ivan. A pedagogia tradicional. Disponível em:


<http:// ivancarlo.blogspot.com/2008/07/pedagogia-tradicional.html>. Acesso
em: 09 abr. 2008.
FREIRE. Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

______. Educação e mudança. Tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes


Martin. 2.ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1979.

SIEGEL, Norberto. Fundamentos da educação: Temas Transversais e Ética.


Indaial: Ed. ASSELVI, 2005.

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