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PARECER TÉCNICO COREN-DF Nº 032/CTA/2022

EMENTA: Manipulação de paciente para realização de


exames no leito.

DESCRITORES: Raio-X, exame, paciente acamado.

1. DO FATO

Solicitação de Parecer Técnico pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia –


1ª Região, acerca das atribuições dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem durante a
realização de exames de imagens por outros profissionais.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO E ANÁLISE

A profissão de Enfermagem está regulamentada na Lei n.º 7.498 de 25 de junho de 1986


e pelo Decreto n.º 94.406, de oito de junho de 1987 (BRASIL, 1986, 1987).

O Décimo primeiro artigo da Lei estabeleceu ao Enfermeiro, exercer todas as atividades


de enfermagem, e ressalta como atividades privativas, dentre outras:

[...]
c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços
da assistência de enfermagem;
[...]
j) prescrição da assistência de enfermagem;
l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;
m) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas;

No art. 12 foi estabelecido que o Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível


médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar,
e participação no planejamento da assistência de enfermagem, cabendo-lhe especialmente:
a) participar da programação da assistência de enfermagem;
b) executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as privativas do
Enfermeiro [...];

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c) participar da orientação e supervisão do trabalho de enfermagem em grau
auxiliar;
d) participar da equipe de saúde.

Enquanto o art. 13 diz que ao Auxiliar de Enfermagem cabe exercer atividades de nível
médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervisão,
bem como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-
lhe especialmente:

a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;


b) executar ações de tratamento simples;
c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente;
d) participar da equipe de saúde. (nosso grifo)

Ressalta-se que as atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta lei, quando exercidas em
instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser
desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro. (BRASIL, 1986)
Adicionalmente, o Decreto 94.406 de 08 de junho de 1987 regulamenta que:
Art. 8. Ao Enfermeiro incumbe, dentre outras atividades:

I - privativamente:
[...]
c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços
da assistência de enfermagem;
[...]
f) prescrição da assistência de enfermagem;
g) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;
h) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões
imediatas;

Art. 10. O Técnico de Enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nível médio técnico,
atribuídas à equipe de enfermagem, cabendo-lhe dentre outras atividades:

I - assistir ao Enfermeiro:
[...]
b) na prestação de cuidados diretos de enfermagem a pacientes em estado
grave;
II - executar atividades de assistência de enfermagem, excetuadas as privativas
do enfermeiro [...];

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Art. 11. O Auxiliar de Enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível médio, atribuídas
à equipe de enfermagem, cabendo-lhe:

I - preparar o paciente para consultas, exames e tratamentos; (nosso grifo)

Observa-se que ficou estabelecido nas leis do exercício profissional a hierarquização no


serviço de enfermagem, onde há o acúmulo de competências à medida que o grau de
conhecimento avança.
“in eo quod plus est semper inest et minus”
(quem pode o mais, pode o menos).

No Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, segundo a Resolução COFEN


n.º 564/2017 a Enfermagem está definida como:

[...] uma ciência, arte e uma prática social, indispensável à organização e ao


funcionamento dos serviços de saúde; tem como responsabilidades a
promoção e a restauração da saúde, a prevenção de agravos e doenças e o
alívio do sofrimento; proporciona cuidados à pessoa, à família e à
coletividade; organiza suas ações e intervenções de modo autônomo, ou em
colaboração com outros profissionais da área; [...] (BRASIL, 2017).]

Está pautada em princípios fundamentais como o comprometimento com a produção e


gestão do cuidado prestado nos diferentes contextos socioambientais e culturais em resposta às
necessidades da pessoa, família e coletividade, além do princípio da atuação profissional com
autonomia e em consonância com os preceitos éticos, bioéticos, legais, técnico-científico e
teórico-filosófico (BRASIL, 2017).
Foi estabelecido como direito a participação da prática multiprofissional,
interdisciplinar e transdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liberdade, observado os
preceitos éticos e legais da profissão e como dever do profissional, prestar assistência livre de
danos decorrentes de imperícia, negligência ou impudência (artigos 4 e 45).
O trabalho em equipe multiprofissional ou multidisciplinar consiste em uma
modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre as múltiplas
intervenções técnicas, ou seja, quando existem vários profissionais atendendo o mesmo

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paciente de maneira independente (PEDUZZI, 1998; RODRIGUES, 2008).
A assistência interdisciplinar em saúde é formada por vários profissionais de diversas
áreas da saúde, onde se busca integrar diferentes disciplinas, compreendidas como campos
específicos do conhecimento científico, visando o atendimento integral de acordo com as
necessidades dos pacientes (FERIOTTI, 2009).
A assistência transdisciplinar é formada por um coletivo de pessoas de distintas
especialidades que atuam e desenvolvem atividades de diferentes naturezas. Consideram a
formação, a experiência profissional e os conhecimentos formais e informais dos profissionais
que as compõem como conhecimento complementar. A assistência transdisciplinar possui
saberes que transitam entre todos os profissionais que compõe a equipe interdisciplinar e os
transcendem, uma vez que o todo é maior que a somatória das partes, base epistemológica da
somática, onde se procura resolver a fragmentação entre as diferentes formas e área do saber,
entre prática e teoria, a estética e cura etc. (VILELA, 2003; RODRIGUES, 2008; RAMOS;
2009; SEVERO, 2010; FERNANDES, 2015).
O Decreto 94.406/87 regulamenta ainda, no inciso IV do art. 11, que compete aos
profissionais de Enfermagem zelar pela segurança do paciente.
De acordo com o Ministério da Saúde (2020), a Cultura de Segurança do Paciente é
considerada um importante componente estrutural dos serviços que favorece a implantação de
práticas seguras e a diminuição da ocorrência de eventos adversos (danos aos pacientes
causados por falhas durante a assistência prestada). Pode ser definida como o produto de
valores, atitudes, percepções, competências e padrões de comportamento de grupos e de
indivíduos que determina o compromisso, o estilo e a proficiência no manejo da segurança dos
pacientes nos serviços de saúde.
Nesta ótica, a RDC Anvisa nº 036/2013, estabelece no art. 8º, inciso XI, a prevenção
de quedas dos pacientes como estratégia de gestão de risco a ser implantado pelos serviços de
saúde. Sabe-se que os sistemas de serviços de saúde são complexos e têm cada vez mais
incorporado tecnologias e técnicas elaboradas, acompanhados de riscos adicionais na prestação
de assistência aos pacientes (ANVISA, 2013).
A equipe de enfermagem tem um papel importante na vigilância dos pacientes e na
identificação de fatores de risco dos pacientes e do ambiente que contribuem para a ocorrência
de quedas. A adoção de medidas preventivas, por meio de protocolos assistenciais, estímulo e

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busca ativa visando o aumento da notificação, assim como programas de educação continuada
para a equipe e para os pacientes e acompanhantes são consideradas estratégias efetivas para a
redução dos índices de quedas nos serviços de saúde. (ANVISA, 2013)
Em consulta acerca da competência dos Técnicos de Enfermagem em posicionar o
paciente acamado para realização exame de radiografia no leito o Conselho Regional de
Enfermagem de Pernambuco opinou através do Parecer COREN-PE Nº 033/2017.

“[...] entendemos que os profissionais de Enfermagem têm a competência


Técnica e Legal de manusear pacientes no leito, internados nas diversas
clínicas, quando da realização de atividades de Enfermagem ou como
integrantes da equipe de saúde, não sendo esta, uma atividade privativa
destes. Para minimizar riscos de negligência, imprudência e imperícia aos
pacientes, entendemos que as instituições de saúde deverão dispor de
Normas, Rotinas e Procedimentos Operacional Padrão – POP para a
realização de procedimentos e exames, em consonância a legislação vigente
de cada categoria profissional envolvida.”

3. CONCLUSÃO

Observada a fundamentação deste parecer, a Câmara Técnica de Assistência do


Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal – COREN-DF conclui que:

O preparo do paciente para realização de consultas, exames e tratamentos faz parte


do rol de atribuições de todos os profissionais de Enfermagem. Esta atribuição, conferida pela
lei do exercício profissional, compreende todas as etapas para a sua realização (antes, durante
e após), uma vez que compete aos mesmos o cuidado quanto ao conforto e a segurança do
paciente, independentemente do tipo de atenção à saúde (primaria, secundária ou terciária).
Prestar uma assistência centrada nas necessidades dos pacientes pode parecer simples e óbvia.
Entretanto, dentro de um sistema tão complexo como os dos serviços de saúde, este trabalho
torna-se um grande desafio a ser conquistado e sustentado ao longo do tempo.

Considerando o quesito segurança do paciente, fica claro que a responsabilidade pelo


posicionamento de pacientes para realização de exames e procedimentos amplia-se a todos
profissionais de saúde. Devendo o serviço de saúde (primário, secundário ou terciário)
estabelecer protocolo assistencial multidisciplinar para o monitoramento e implementação de
medidas para prevenção de queda dos pacientes.
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Do mesmo modo, é direito dos profissionais de enfermagem exercerem suas
atividades livre de riscos e danos à saúde. E o posicionamento de pacientes para a realização
de exames ou procedimentos, observado o caráter da assistência a ser prestada, deve ser
realizado de forma compartilhada, com a finalidade de preservar a saúde do trabalhador (uma
vez que essa atividade possui risco ergonômico) e a segurança do paciente. A assistência
interdisciplinar deve abranger as questões relativas à saúde do trabalhador, consolidando
estratégias para o desenvolvimento de uma cultura de segurança nos processos de trabalho.

Em Centros ou Serviços de Diagnóstico por Imagem, de acordo com o PARECER


TÉCNICO COREN-DF nº 017/2022, o preparo do paciente compete ao profissional desta
unidade.

É o parecer.

Revoga-se o PARECER COREN-DF N° 006/2012.

Relator:
Igor Ribeiro Oliveira
Conselheiro CTA
COREN-DF nº 391.833-ENF

Manuela Costa Melo Lincoln Vitor Santos Fernando Carlos da Silva


Membro da CTA/COREN-DF Membro da CTA/COREN-DF Conselheiro CTA/COREN-DF
COREN-DF nº 147165-ENF COREN-DF nº 147165-ENF COREN-DF nº 241.652 -ENF

Luciana Melo de Moura Tiago Silva Vaz Polyanne A. Alves Moita Vieira
Membro da CTA/COREN-DF Membro da CTA/COREN-DF Conselheira CTA/COREN-DF
COREN-DF nº 87305-ENF COREN-DF nº 170.315-ENF COREN-DF nº 163.738 –ENF

Rinaldo de Souza Neves


Conselheiro Coordenador da CTA/COREN-DF
COREN-DF nº 54.747-ENF

Brasília, 24 de junho de 2022.

Aprovado no dia 08 de junho de 2022 na Reunião da Câmara Técnica de Assistência ao COREN-DF.

Homologado em 24 de junho de 2022 na 554ª Reunião Ordinária de Plenária (ROP) dos Conselheiros do
COREN-DF.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 94.406 de 08 de junho de 1987 que regulamenta a Lei nº 7.498 de 25 de junho de 1986, que
dispõe sobre o Exercício profissional da Enfermagem, e dá outras providências.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária Assistência Segura: Uma Reflexão Teórica Aplicada à Prática
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 036/2013 - Institui ações para
a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Disponível em <
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html>
_____. Lei n.º 7.498 de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o Exercício profissional da Enfermagem, e dá outras
providências.
_____. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). RESOLUÇÃO COFEN. nº 564, de 7 de novembro de 2017,
aprova o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Brasília, 2017. Disponível em <
http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html>.
_____. Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (COREN-PE). PARECER COREN-PE nº 033/2017.
Manipulação do paciente no exame de Radiografia no leito. Técnico em Enfermagem ou Técnico em Radiologia?.
Parecerista: Giovana Júlia Martins Mastrangeli de Melo. Pernambuco, 2017. Disponível em < http://www.coren-
pe.gov.br/novo/parecer-tecnico-coren-pe-no-0332017_12860.html>.
FERIOTTI, Maria de Lourdes. Equipe multiprofissional, transdisciplinaridade e saúde: desafios do nosso
tempo. Vínculo, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 179-190, dez. 2009. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-24902009000200007&lng=pt&nrm=iso>.
FERNANDES, Ciane, Quando o Todo é mais que a Soma das Partes: somática como campo epistemológico
contemporâneo. Revista Brasileira de Estudos da Presença. 2015, v. 5, n. 1, pp. 9-38. Disponível em:
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RAMOS, Daniela Cristina da Silva. Transdisciplinaridade em saúde: uma análise integrativa da literatura/Daniela
Cristina da Silva Ramos. – Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina de
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Setor de Rádio e TV Sul, Quadra 701, ed. Palácio da Imprensa, 5º Andar. Asa Sul, Brasília-DF. CEP: 70.340-905.
(61) 2102-3754
www.coren-df.gov.br

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