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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA


FACULDADE DE ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA
DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM II

Gerência em Enfermagem 1
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Dutra, Herica Silva
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Sanhudo, Nádia Fontoura

“Todo trabalho diretamente social ou coletivo, executado em grande escala, exige com maior ou menor intensidade uma
direção que harmonize as atividades individuais e preencha as funções gerais ligadas ao movimento de todo o
organismo produtivo, que difere do movimento de seus órgãos isoladamente considerados. Um violinista isolado
comanda a si mesmo; uma orquestra exige um maestro”. K. Marx

1. Objetivos
 Compreender a amplitude da gerência em enfermagem em suas diversas possibilidades de desenvolvimento.
 Entender o trabalho gerencial em enfermagem como uma dimensão do cuidar.
 Identificar competências gerenciais essenciais ao exercício da enfermagem.
 Discutir tendências e perspectivas da gerência do cuidado em enfermagem.

2. Introdução
A gerência é um assunto relevante para ser estudado uma vez esta atividade está presente nos mais variados
segmentos da Sociedade. A gerência pode se conceituada como a arte de pensar, julgar, decidir e agir para obter
resultados; porém, para ser gerente é preciso desenvolver a capacidade na arte de pensar e julgar para melhor decidir e
agir considerando a imprevisibilidades das interações humanas, o que lhes confere uma dimensão do intuitivo, do
emocional e do espontâneo (MOTTA, 2004).
Para iniciar nossas discussões sobre a Gerência em Enfermagem é importante lembrar que o enfermeiro tem
assumido cada vez mais responsabilidades e enfrentado diversos desafios no cenário da saúde, a fim de promover o
cuidado à saúde dos indivíduos desenvolvendo atividades de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação. Nessa
perspectiva, cabe destacar que o aumento de responsabilidades reflete a importância do profissional de enfermagem e
do produto de seu trabalho no complexo contexto da saúde em nosso país.
Reforçam as afirmações acima a Lei 7498/86, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do
exercício profissional em enfermagem e dá outras providências. Em seu Art. 11, inciso I, destaca as atividades privativas
do enfermeiro, dentre elas: “a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde,

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Este texto foi preparado como material instrucional para a Disciplina Administração da Assistência de Enfermagem II, para os
acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Pedimos que caso haja o interesse em utilizar este material para outro fim seja citada a referência, outras informações podem
ser solicitadas pelo seguinte e-mail: herica.dutra@ufjf.edu.br ou nadiasanhudo@gmail.com
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Enfermeira, Doutorado em Enfermagem, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Básica da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora.
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Enfermeira, Doutorado em Enfermagem, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Básica da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora.
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pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem; b) organização e direção dos serviços de
Enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; c) planejamento,
organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de Enfermagem”. Além disso, como
integrante do serviço de saúde aponta que ao enfermeiro compete dentre outras funções: “a) participação no
planejamento, execução e avaliação da programação de saúde; b) participação na elaboração, execução e avaliação dos
planos assistenciais de saúde” (BRASIL, 1986).
O novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (Resolução COFEN Nº 564/2017) destaca em seu
preâmbulo: “A Enfermagem é comprometida com a produção e gestão do cuidado prestado nos diferentes contextos
socioambientais e culturais em resposta às necessidades da pessoa, família e coletividade”. Destacamos, ainda, o Art.
15 “ Exercer cargos de direção, gestão e coordenação, no âmbito da saúde ou de qualquer área direta ou indiretamente
relacionada ao exercício profissional da Enfermagem” (COFEN, 2017).
O profissional enfermeiro possui respaldo ético e legal para assumir um cargo em uma estrutura hierárquica
organizacional em diferentes posições de comando, na direção, coordenação, chefia ou gerência e supervisão. Para
tanto o enfermeiro precisa se apoderar e compreender a política institucional e situar-se nela para poder entender a
cadeia que acontece o processo de trabalho.
Nesse sentido destacamos a Resolução do COFEN Nº 0509/2016 que atualizou a norma técnica para
Anotação de Responsabilidade Técnica pelo Serviço de Enfermagem e apresenta as atribuições do Enfermeiro
Responsável Técnico, no Art. 2º define o Serviço de Enfermagem como:

“O Serviço de Enfermagem: parte integrante da estrutura organizacional,


formal ou informal, da instituição, dotado de recursos humanos de
Enfermagem e que tem por finalidade a realização de ações relacionadas
aos cuidados assistenciais diretos de enfermagem ao indivíduo, família
ou comunidade, seja na área hospitalar, ambulatorial ou da promoção e
prevenção de saúde, ou ainda, as ações de enfermagem de natureza em
outras áreas técnicas, tais como: Programas de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde, Programa de Limpeza e Higienização,
Auditoria, Equipamentos, Materiais e Insumos Médico-hospitalares,
Consultoria e Ensino”.

Ainda sobre a Resolução do COFEN Nº 0509/2016 no Art. 3º aponta que toda empresa/instituição onde houver
serviços/ensino de Enfermagem, deve apresentar Certidão de Responsabilidade Técnica (CRT), devendo a mesma ser
afixada em suas dependências, em local visível ao público. No Art. IV - Enfermeiro Responsável Técnico “tem sob sua
responsabilidade o planejamento, organização, direção, coordenação, execução e avaliação dos serviços de
Enfermagem, a quem é concedida, pelo Conselho Regional de Enfermagem”.
E por fim as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) no que se refere aos cursos de graduação em
Enfermagem, publicadas oficialmente na Resolução CNE/CES Nº 03 de 7/11/2001, onde em seu Art. 4, inciso V aponta
como competência ou habilidade exigida dos enfermeiros a “Administração e gerenciamento: os profissionais devem
estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho quanto dos recursos
físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores,
empregadores ou lideranças na equipe de saúde” (BRASIL, 2001).
A Resolução do COFEN Nº 564/2017 destaca que “o cuidado de enfermagem se fundamenta no conhecimento
próprio da profissão e nas ciências humanas, sociais e aplicadas e é executado pelos profissionais na prática social e
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cotidiana de assistir, gerenciar, ensinar, educar e pesquisar”. Assim podemos compreender a importância e necessidade
de discutir a Gerência em Enfermagem nas suas diversas possibilidades de desenvolvimento.

3. Inserção da Enfermagem no processo de trabalho em saúde e na gerência em serviços de saúde

A inserção da enfermagem no mundo do trabalho e na atenção à saúde tem sido marcada por determinantes
históricos, sociais, econômicos e políticos (FELLI; PEDUZZI, 2005). Historicamente, a enfermagem moderna se
consolida a partir dos trabalhos de Florence Nightingale na Guerra da Criméia na segunda metade do século XIX. Devido
à necessidade de organização do atendimento aos soldados em hospitais militares em um primeiro momento, porém
atendendo às demandas sociais de manutenção das forças de trabalho de um projeto capitalista, a enfermagem atendeu
às demandas político-sociais da época e inseriu-se no processo de trabalho em saúde.
O trabalho em enfermagem foi organizado em três vertentes: organização do cuidado aos pacientes (através da
sistematização das técnicas de enfermagem); organização do ambiente terapêutico (aplicação de mecanismos de
purificação do ar, limpeza, higiene, e outros); e organização dos agentes de enfermagem (por meio de treinamento e
disciplina) (GOMES, 1997 apud FELLI; PEDUZZI, 2005). “O processo de trabalho em enfermagem particulariza-se em
uma rede ou subprocessos que são denominados cuidar ou assistir, administrar ou gerenciar, pesquisar e ensinar”
(FELLI; PEDUZZI, 2005: p.6).
Portanto, pode-se entender que a enfermagem moderna iniciou suas atividades pautadas no gerenciamento, pois
incluía em suas atividades a organização da unidade e da equipe de trabalho. Além disso, as atividades de enfermagem
incluíam também a organização do cuidado mostrando que tais atividades não podem ser dissociadas (GOMES, 1997
apud FELLI; PEDUZZI, 2005). Ao longo do tempo, o papel administrativo desempenhado pelo enfermeiro tem ganhado
destaque, devido a fatores políticos, sociais e culturais vigentes nas instituições de saúde e na sociedade (SPAGNOL,
2002).
No processo de trabalho gerencial, os objetos de trabalho do enfermeiro são a organização do
trabalho e os recursos humanos de enfermagem. Para a execução desse processo é utilizado
um conjunto de instrumentos técnicos próprios da gerência, ou seja, o planejamento, o
dimensionamento de pessoal de enfermagem, o recrutamento e seleção de pessoal, a
educação continuada e/ou permanente, a supervisão, a avaliação de desempenho e outros.
Também se utilizam outros meios ou instrumentos, como a força de trabalho, os materiais,
equipamentos e instalações, além dos diferentes saberes administrativos (FELLI; PEDUZZI,
2005: p. 6).

A gerência em enfermagem pode ser discutida a partir de dois grandes modelos. O modelo racional apresenta a
gerência fundamentada pela Teoria Geral da Administração, tendo enfoque Taylorista voltado para produção em massa.
Têm-se como meta atender aos objetivos da organização, para isso utilizando-se de ferramentas administrativas
(planejamento, organização, direção, coordenação, controle). Ocorre o controle de tempos e movimentos, trabalho
fragmentado por funções, divisão entre concepção e execução do trabalho e alienação do trabalho coletivo (FELLI;
PEDUZZI, 2005).
Esse modelo gerencial pauta-se basicamente no controle de tarefas e comportamento dos trabalhadores e pode
ser observado em diversos serviços de enfermagem, especialmente em grandes hospitais. Nessas instituições é comum
um modelo clássico de gestão, caracterizado por poder centralizado, hierarquia rígida, relações impessoais, decisões
lentas, comunicação vertical, dentre outras (SPAGNOL, 2002). Entre outras críticas a esse modelo pontua-se a ênfase
em tarefas e técnicas, uso de manuais normalizadores, assistência fragmentada e supervisão controladora e disciplinar.
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A ação do enfermeiro em geral é limitada no que se refere à tomada de decisão e mudanças que realmente interferem na
assistência prestada aos pacientes.
Mais recentemente, têm ocorrido mudanças nesse modelo, com maior ênfase no trabalho em equipe,
organização do trabalho flexível e agilidade na adaptação dos instrumentos. Isso se deve às rápidas mudanças impostas
pelos avanços tecnológicos e pela globalização. Houve também destaque à inserção de ferramentas de qualidade nos
serviços de saúde, porém a intensificação do ritmo de trabalho da enfermagem destaca-se como uma consequência
dessas políticas que tem como real intenção a lucratividade das organizações (FELLI, 2002 apud FELLI; PEDUZZI,
2005). Outros fatores relacionados a essas mudanças incluem os crescentes custos da atenção à saúde, a necessidade
de ampliação da cobertura dos serviços e o aumento das exigências dos consumidores (BRITO; MONTENEGRO;
ALVES, 2010).
A gerência com base no modelo histórico-social foca o atendimento das necessidades de saúde da população,
promovendo a democratização das instituições de saúde e ampliação da autonomia dos usuários e trabalhadores
envolvidos no processo de cuidado além de preocupar-se com as demandas da organização e com o controle do
processo de trabalho (FELLI; PEDUZZI, 2015).

4. Gerência do cuidado em enfermagem

Administrar a assistência de enfermagem implica em conhecer os problemas mais comuns do setor de trabalho,
levantar as necessidades da clientela atendida, gerenciar os conflitos da equipe de enfermagem, além de desenvolver
habilidades técnico-científicas e de liderança, para desempenhar um papel de articuladora entre os demais profissionais
que atuam nas unidades, tendo como objetivo principal a assistência prestada aos usuários que necessitam desses
serviços (SPAGNOL, 2002; p. 127).
O enfermeiro gerente é o profissional encarregado pela coordenação e supervisão do trabalho da equipe de
enfermagem. Assim no exercício profissional abrange condutas de cuidado direto e indireto, isto é, direciona-se para a
gerência do cuidado de enfermagem, propiciando a evolução de uma prática profissional de enfermagem diversificada e
inovadora.

Na Enfermagem uma vez que nosso trabalho é desenvolvido por mais de uma categoria
profissional, e ocorre através de ações hierarquizadas que são distribuídas segundo graus de
complexidade, pressupõe-se que se tenha um trabalhador – o enfermeiro – melhor preparado
que garanta a unidade e organização desse trabalho coletivo e que seja capaz também de
planejar e desenvolver novos processos, métodos e instrumentos. Além disso, o mercado
profissional espera do enfermeiro uma capacidade para trabalhar com conflitos, enfrentar
problemas, negociar, dialogar, argumentar, propor e alcançar mudanças, com estratégias que o
aproximem da equipe e do cliente, contribuindo para a qualidade do cuidado, ou seja, espera-
se do enfermeiro uma capacidade para gerenciar (GRECO, 2004: p.505).

Um conceito formulado por Christovam, Porto e Oliveira (2012) aponta que a gerência do cuidado de
enfermagem é composta por significados que se opõem e, ao mesmo tempo, aproximam-se e se complementam. Para
Christovam (2009), a gerência do cuidado consiste em ações relacionadas ao administrar e ao cuidar em enfermagem
em um nexo dialético e não dicotômico.
A gerência do cuidado de enfermagem busca viabilizar as condições adequadas tanto para a oferta do cuidado
ao paciente como para a atuação da equipe de enfermagem. Dessa forma, o enfermeiro para gerenciar desenvolve
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ações e atividades que garantam o melhor funcionamento possível do local onde os cuidados são produzidos, incluindo o
gerenciamento de recursos físicos, materiais, humanos, financeiros, políticos e de informação com vistas à prestação da
assistência a saúde.
Assim, podemos perceber que tanto o gerenciamento do cuidado como a gerência de unidade tem como objetivo
promover a assistência ao paciente, na prática são indissociáveis e interdependentes, buscando agregar as dimensões
gerenciar e cuidar. Gerenciar o cuidado é gerenciar a unidade em suas políticas organizativas ou em suas múltiplas
dimensões (ERDMANN; BACKES, MINUZZI, 2008).
Kurcgant (2010) explica, ainda, que no processo da gerência de enfermagem, a organização da assistência e
dos recursos humanos de enfermagem são os objetos de trabalho do enfermeiro. Para a aplicação desse processo é
empregada uma série de instrumentos como o dimensionamento de pessoal, o planejamento, a seleção e o
recrutamento de pessoal, a educação permanente e/ou continuada, a avaliação, a supervisão e outros.
A respeito dos meios para a gerência de enfermagem, estes se encontram na forma de instrumentos – inerentes ao
trabalho, por exemplo, no ambiente hospitalar têm-se as prescrições, planilhas de controle, escalas de trabalho e de
mensuração de carga de trabalho, evoluções de enfermagem, indicadores entre outros (VASCONCELOS et al., 2016).
Na gerência do cuidado de enfermagem, o uso do Processo de Enfermagem é apontado pela Resolução COFEN
358/09 que Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de
Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Este
documento destaca que “o processo de Enfermagem é um instrumento metodológico que orienta o cuidado profissional
de Enfermagem e a documentação da prática profissional” bem como “evidencia a contribuição da Enfermagem na
atenção à saúde da população, aumentando a visibilidade e o reconhecimento profissional”. Portanto, o processo de
Enfermagem é a ferramenta de gerenciamento do cuidado direto ao paciente que o enfermeiro dispõe para proporcionar
uma assistência de qualidade e com menor risco.
Santos et al. (2013), de modo mais específico, esclarecem que a gerência do cuidado representa um processo
amplo, que envolve ações administrativas, de cuidado, de pesquisa e educativas, que convergem para o benefício do
paciente.

5. Perfil de competências para gerência em Enfermagem


A velocidade com que as mudanças ocorrem no mundo globalizado tem imposto uma exigência ao perfil dos
profissionais que desempenham funções gerenciais, inclusive em serviços de saúde, buscando aqueles capazes de
atender prontamente a essas mudanças. “Assim, adaptar-se a novas situações, ser flexível e ter capacidade de
relacionamentos, assumir desafios, entre outras, parecem ser requisitos imprescindíveis ao gestor neste novo milênio”
(CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 480).
A cada dia aumentam as responsabilidades dos enfermeiros na função gerencial. Isso se deve ao “enxugamento”
hierárquico das organizações e à incorporação de tarefas por profissionais que fazem parte do quadro de gerência
(BRITO; MONTENEGRO; ALVES, 2010).
Dessa forma, passam a valorizarem-se as competências de um indivíduo, as quais o tornam qualificado para
realizar determinada atividade (CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 480). Pode-se definir competência como um “saber
agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que
agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” (FLEURY; FLEURY, 2004 apud CUNHA; XIMENES
NETO, 2006: p. 480).
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Do enfermeiro é exigido conhecimento (que conheça o que faz), habilidades (que faça
corretamente) e tenha atitudes adequadas para desempenhar seu papel objetivando resultados
positivos. É, portanto, exigido que ele seja competente naquilo que faz, bem como garanta que
os membros da sua equipe tenham competência para executarem as tarefas que lhes são
destinadas (MARQUIS; HUSTON, 1999 apud CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 481).

No exercício da gerência em enfermagem são destacadas algumas competências, habilidades e atitudes, tais
como: disponibilidade; capacidade de mediar conflitos e estabelecer relações; buscar o autodesenvolvimento e de sua
equipe; trabalhar em equipe; atender às demandas da organização; exercer liderança; planejamento; organização; tomar
de decisões com base no pensamento crítico e reflexivo; persuasão; criatividade, atração pelo novo e capacidade de
enfrentar desafios; assumir responsabilidades e ter visão estratégica.
Existem três tipos de habilidades fundamentais para o gerente:
- Habilidade técnica: baseia-se em utilizar conhecimentos, métodos, técnicas e equipamentos
para execução de tarefas, através da experiência profissional. Relaciona-se com o fazer, por
meio de sua instrução, experiência e educação.
- Habilidade humana: caracteriza-se pela capacidade e pelo discernimento de trabalhar com
pessoas em equipe. Lida com a interação entre pessoas e envolve a capacidade de se
comunicar, motivar, coordenar, liderar e solucionar conflitos pessoais ou grupais, visando
cooperação, participação e envolvimento das pessoas.
- Habilidade conceitual: constitui-se na capacidade para lidar com ideias e conceitos abstratos,
e está ligada a pensar, raciocinar, diagnosticar situações e formular alternativas de solução
para os problemas. É perceber oportunidades onde ninguém enxerga coisa alguma.
Essas três habilidades requerem competências pessoais distintas, as quais traduzem
qualidades de quem é capaz de analisar uma situação, apresentar soluções e resolver os
assuntos ou problemas, constituindo, assim, o maior patrimônio pessoal do administrador: seu
capital intelectual (CHIAVENATO, 2004 apud SANCHES; CHRISTOVAM; SILVINO, 2006).

Para melhor discutir esse tema, sugere-se a leitura dos textos “O processo de construção do perfil de
competências gerenciais para enfermeiros coordenadores de área hospitalar” (MANENTI et al, 2012) e “Perfil e
competências de gerentes de enfermagem de hospitais acreditados” (FURUKAWA; CUNHA, 2011).

6. Tendências e perspectivas na gerência em enfermagem


A gerência clássica não atende mais as demandas do mundo moderno, pois trabalhadores e usuários estão
mais cientes de seus direitos e o acesso a informações tornou-se uma arma poderosa de reivindicações e mudanças. Os
profissionais de enfermagem desejam participar democraticamente das decisões que afetam o rumo das organizações
onde estão inseridos e buscam melhor qualidade de vida no ambiente de trabalho. Portanto, torna-se imprescindível
pensar numa forma mais flexível, humanizada e compartilhada de se organizar o trabalho na enfermagem (SPAGNOL,
2002). Aos trabalhadores tem sido oferecida oportunidade de participação efetiva nas discussões e aperfeiçoamento
constante do processo de trabalho, com autonomia para desenvolvimento de projetos e novos métodos de trabalho
(FERNANDES et al, 2003).
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Algumas propostas para mudanças nos modelos de gestão apontam para uso de processos estratégicos na
empresa, estrutura organizacional organizada em células gerenciais, atividades estruturadas por processos, pessoas
organizadas em equipes de trabalho, interação constante com o mercado e com os clientes, uso de recursos
tecnológicos da informação e preocupação permanente com referenciais de excelência (TACHIZAWA; SCAICO,
1997apud SPAGNOL, 2002).
As ações gerenciais do enfermeiro são impulsionadas se suas competências profissionais forem alinhadas com o
uso racional de instrumentos de gestão (VASCONCELOS et al., 2016). Com todo esse movimento dinâmico as ações
padronizadas com a adoção de instrumentos gerenciais rígidos, que não consideram o comportamento da equipe de
enfermagem, trazem implicações negativas para gerência do cuidado de enfermagem. É imprescindível gerenciar as
pessoas enquanto um sistema de organização vivo, aberto, auto-organizador em seus contextos de trabalho, na busca
de seu melhor desempenho e evolução para os profissionais e profissão (MARIOTTI, 2007).

7. Considerações finais
Ao final de nossas discussões sobre gerência, resta questionar se estamos realmente preparados para novas
formas de gestão, visto que temos um passado sólido de práticas clássicas adotadas por muitos anos dentro dos
serviços de enfermagem. Assim, enquanto futuros enfermeiros, somos desafiados a construir mudanças que beneficiem
os pacientes, a equipe de enfermagem, as instituições onde atuamos e nossa profissão.
É fundamental acreditar que ao compartilhar a gestão não estaremos “perdendo” poder, e sim, ganhando
oportunidades de crescimento e renovação de nossas práticas. Para isso, é essencial agir de maneira diferente para que
as mudanças realmente possam acontecer. Assim, trabalho em equipe tende a substituir estruturas engessadas,
emergindo uma gerência democrática e compartilhada, e por isso, mais eficaz e eficiente, pois considera a perspectiva
de todos os envolvidos.

Referências

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Exercícios de fixação
1. Cite e comente três competências para o desenvolvimento da gerência em enfermagem.
2. Comente sobre a gerência do cuidado e a gerência do serviço de enfermagem como atividade do enfermeiro.
3. Quais são as perspectivas para o futuro da gerência em Enfermagem? Comente.

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