Você está na página 1de 8

2.

NORMAS DE EMC
2.1.1 TERMINOLOGIA
Compatibilidade Eletromagnética (EMC) – Capacidade de um dispositivo, equipamento ou
sistema funcionar satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético, sem produzir perturbação
eletromagnética intolerável para outros materiais, equipamentos ou sistemas contidos nesse
ambiente.
Interferência Eletromagnética (EMI) – Degradação do desempenho de um equipamento, canal
de transmissão ou de um sistema, causado por uma perturbação eletromagnética.
2.1.2 REQUISITOS DE EMC
Governamentais: são mandatórios dentro da respectiva área de atuação.
Impostos pelas indústrias: criados para garantir a a satisfação do consumidor.
Exemplos:
• Estados Unidos – FCC
• Europa – IEC (CISPR). CISPR é um comitê do IEC.
• Alemanha – VDE
• Japão – VCCI
• Brasil: ABNT – normas NBR/COBEI: Comitê Brasileiro de Eletricidade, Eletrônica,
Iluminação e Telecomunicações
O Brasil é associado à IEC (International Electrotechnical Commission), que tem uma
comissão específica sobre problemas de interferência eletromagnética, o CISPR (Comité
International Spécial des Perturbations Radioélectriques - International Special Committee on Radio
Interference). As normas brasileiras nessa área, elaboradas pelo COBEI (Comitê Brasileiro de
Eletricidade, Eletrônica, Iluminação e Telecomunicações), são baseadas nas normas do IEC. Na
ausência de normas brasileiras específicas nacionais, valem as normas do IEC.
O CISPR é composto, atualmente, por 6 subcomitês:
A – medidas de rádio interferência e métodos estatísticos
B – Medidas de interferência relacionadas a equipamentos industriais, científicos e médicos
(ISM), equipamentos de alta voltagem e linhas de transmissão.
D – Interferência relacionada a veículos automotores (elétricos e a combustão)
F – Interferência relacionada a eletrodomésticos, ferramentas elétricas e equipamentos de
iluminação.
H – Limites de proteção de serviços de radiofrequência.

13
I – Compatibilidade eletromagnética de equipamentos de tecnologia de informação (TI),
dispositivos multimídia e receptores, rádios e TV (foi criado pela junção dos antigos comitês E e
G).
A CISPR redigiu inúmeras publicações, as mais importantes são:
• CISPR 10 – Organization, Rules and Procedure of the CISPR.
• CISPR 11 – Industrial, scientific and medical equipment – Radio-frequency disturbance
characteristics – Limits and methods of measurement.
• CISPR 12 – Vehicles, boats and internal combustion engines – Radio disturbance
characteristics – Limits and methods of measurement for the protection of off-board
receivers.
• CISPR 13 – Sound and television broadcast receivers and associated equipment – Radio
disturbance characteristics - Limits and methods of measurement.
• CISPR 14 (Parts 1-2) – Electromagnetic compatibility – Requirements for household
appliances, electric tools and similar apparatus (emission and immunity).
• CISPR 15 – Limits and methods of measurement of radio disturbance characteristics of
electrical lighting and similar equipment.
• CISPR 16 (Parts 1-4) – Specification for radio disturbance and immunity measuring
apparatus and methods.
• CISPR 20 – Sound and television broadcast receivers and associated equipment – Immunity
characteristics – Limits and methods of measurement.
• CISPR 22 – Information technology equipment – Radio disturbance characteristics – Limits
and methods of measurement.
• CISPR 24 – Information technology equipment – Immunity characteristics – Limits and
methods of measurement.
Essas publicações podem ser adquiridas (mediante pagamento) no site do IEC
(http://www.iec.ch) ou podem ser consultadas em algumas bibliotecas (a biblioteca do IPT, por
exemplo).
2.2 VISÃO GERAL DA NORMATIZAÇÃO EM EMC
Frequência de rádio [1]: 9 kHz – 3000 GHz (FCC)
Dispositivo de radiofrequência: qualquer dispositivo capaz de emitir energia na forma de
ondas de rádio (radiada ou conduzida).
Transmissores em faixas de frequência licenciadas são cobertos por outras normas.

14
Padrões do CISPR cobrem faixa de frequência de 9 kHZ – 400 GHz, porém, cada subcomitê
determina a faixa de frequência na qual deverão ser estabelecidos os limites:
• ISM (CISPR 11) : 9 kHz – 18 GHz; aparelhos que geram e usam, localmente,
radiofrequência para aplicações industriais, médicas e científicas.
• Equipamentos de TI (CISPR 22 e 24): 150 kHz – 6 GHz, radiadores não intencionais.
2.2.1 NORMAS PARA EQUIPAMENTOS TI
Classificação dos equipamentos:
• Classe A – equipamentos digitais para uso em ambiente comercial ou industrial.
• Classe B – equipamentos digitais para uso em ambientes domésticos (aqui os limites de
emissão são mais restritivos).
Equipamentos classe B podem ser utilizados em ambientes comerciais e industriais, mas não o
contrário.
Faixa de frequência:
• emissões conduzidas: 150 kHz – 30 MHz;
• emissões radiadas: 30 MHz – 6 GHz (CISPR) ou 40 GHz (FCC)
2.2.2 NORMAS PARA EMISSÃO CONDUZIDA
As medidas de emissão conduzida são realizadas utilizando-se uma LISN (Line Impedance
Stabilization Network), como mostrado na Figura 4. Os detalhes sobre o funcionamento da LISN
serão vistos mais tarde, mas podemos adiantar que ela funciona como um filtro, que deixa passar
apenas as frequências baixas (60 Hz) da rede de alimentação para o aparelho sob teste, e direciona
para o medidor apenas as componentes de alta frequência emitidas pelo aparelho sob teste,
proporcionando, ainda, uma impedância constante (50 Ω) para esses sinais.

15
Rede de
alimentação

LISN aparelho
sob teste

medidor

Figura 4: Medida de emissão conduzida utilizando uma LISN.


O aparelho medidor, usualmente um analisador de espectro, deve efetuar uma varredura em
frequência dentro da faixa de 0,15 MHz a 30 MHz, medindo o sinal emitido, em cada frequência
com uma banda de, no mínimo, 9 kHz, e utilizando um detector de quasi-pico e de média.
Falaremos mais sobre esses detectores na seção sobre analisadores de espectro.
Os limites especificados pelo CISPR e pelo FCC constam da Tabela 2 para equipamentos
classe B e da Tabela 3 para equipamentos classe A. Nessas tabelas QP indica detector de quasi-pico
e AV o detector de média, que são tipos de detetores utilizados em receptores ou em analisadores de
espectro. A diferença entre esses detetores será explicada na seção sobre o funcionamento do
analisador de espectro. Os gráficos da Figura 5 mostram esses limites de forma comparativa.
f (MHz) Tensão μV QP (AV) Tensão (log) dBμV QP (AV)
0,15 1995 (631) 66 (56)
0,5 631 (199,5) 56 (46)
0,5-5 631 (199,5) 56 (46)
5-30 1000 (316) 60 (50)
Tabela 2: Limite de emissão conduzida para aparelhos classe B, FCC ou CISPR.
f (MHz) Tensão μV QP (AV) Tensão (log) dBμV QP (AV)
0,15-0,5 8913 (1995) 79 (66)
0,5-30 4467 (1000) 73 (60)
Tabela 3: Limites de emissão conduzida para aparelhos classe A, FCC ou CISPR.

16
80

75

70

65

60 Classe B (QP)
dBuV

Classe B (AV)
55 Classe A (QP)
Classe A (AV)
50

45

40
0,1 1 10 100
f (MHz)

Figura 5: Limites de emissão conduzida segundo FCC ou CISPR.

2.2.3 NORMAS PARA EMISSÃO RADIADA


As medidas de emissão radiada devem ser realizadas em campo aberto (Open Area Test Site –
OATS), ou em câmaras anecoicas, seguindo procedimentos estabelecidos pelas respectivas normas.
As antenas a serem utilizadas nessas medidas também são especificadas nas respectivas normas, e
usualmente são dipolos, bicônicas, log-periódicas ou cornetas. Mais detalhes sobre esses tipos de
antenas serão fornecidos no capítulo sobre antenas. A faixa de frequência especificada para essas
medições é de 30 MHz – 40 GHz segundo o FCC, e 30 MHz – 6 GHz segundo o CISPR, e as
medições devem ser realizadas com uma banda de 120 kHz para frequências até 1 GHz e de 1 MHz
acima de 1 GHz (FCC [1]). Ainda de acordo com as normas do FCC, a frequência máxima de
medida deve ser escolhida de acordo com a máxima frequência (clock) de operação do dispositivo
sob teste, de acordo com a Tabela 4. As medições devem ser feitas para ambas as polarizações
(vertical e horizontal), e o dispositivo deve ser rotacionado para se obter a máxima radiação.
Já de acordo com as normas do CISPR, a frequência máxima de medida deve ser escolhida de
acordo com a máxima frequência (clock) de operação do dispositivo sob teste, de acordo com a
Tabela 5.

17
fmax do dispositivo (MHz) fmax de medida (MHz)
< 1,705 30
1,705-108 1000
108-500 2000
500-1000 5000
> 1000 min(5a. Harmônica, 40 GHz)
Tabela 4: Máxima frequência de medida segundo o FCC.
fmax do dispositivo (MHz) fmax de medida (MHz)
<108 1000
108-500 2000
500-1000 5000
> 1000 min(5a. Harmônica, 6 GHz)
Tabela 5: Máxima frequência de medida segundo o CISPR.
Os níveis máximos de emissão permitidos para os dispositivos sob teste, segundo o CISPR,
estão especificados na Tabela 6 e na Tabela 7, e são mostrados graficamente na Figura 6 (apenas
abaixo de 1 GHz). Esses valores são especificados para medidas realizadas a 10 m de distância do
equipamento, para frequências abaixo de 1 GHz e a 3 m acima dessa frequência. Abaixo de 1 GHz,
caso não seja possível realizar a medida a 10 m, a medida pode ser realizada a 3 m, aumentado-se
os valores de um fator de 10/3 ou 10,5 dB.
Classe B Classe A
f (MHz) μV/m dbμV/m μV/m dbμV/m
30-230 31,6 30 100 40
230-1000 70,8 37 224 47
Tabela 6: Limites máximos de emissão de campo elétrico, medidos a 10 m de distância, com
detector de quasi-pico, segundo o CISPR.

Classe B Classe A
f (GHz) dBμV/m (médio) dBμV/m (pico) dBμV/m (médio) dBμV/m (pico)
1-3 50 70 56 76
3-6 54 74 60 80
Tabela 7: Limites máximos de emissão de campo elétrico, medidos a 3 m de distância, com detector
de pico e de média, segundo o CISPR.

18
50
45
40
35
30
dbuV/m

25
Classe B
20
Series4
15
10
5
0
10 100 1000
f (MHz)

Figura 6: Limites máximos de emissão de campo elétrico, medidos a 10 m de distância, com


detector de quasi-pico, segundo o CISPR.

Os níveis máximos de emissão permitidos para os dispositivos sob teste, segundo o FCC, estão
especificados na Tabela 8. Note que os valores estão especificados para distâncias de medida
diferentes, dependendo da categoria do equipamento, porém, vale a mesma observação sobre a
correção da distância de 10 m para 3 m, caso necessário. Os gráficos da Figura 7 comparam os
limites para as duas classes, convertendo os limites da classe B para a distância de 10 m.
Classe B – 3 m Classe A – 10 m
f (MHz) μV/m dbμV/m μV/m dbμV/m
30-88 100 40 90 39
88-216 150 43,5 150 43,5
216-960 200 46 210 46,4
>960 500 54 300 49,5
> 1 GHz 500 (AV)/5000(PK) 54 (AV)/74(PK) 300 (AV)/3000 (PK) 49,5 (AV)/69,5(PK)
Tabela 8: Limites máximos de emissão de campo elétrico, medidos a 3 m de distância (classe B) e a
10 m de distância (classe A), com detector de quasi-pico, segundo o FCC. Para frequências acima
de 1 GHz, medidas com detetores de média (AV) e pico (PK) são também exigidas.

19
80

70

60

50
dbuV/m

40 Classe B
Classe B (PK)
30 Classe A
Classe A (PK)
20

10

0
10 100 1000 10000 100000
f (MHz)

Figura 7: Limites máximos de emissão de campo elétrico, referidos a 10 m de distância (os


dados para classe B foram convertidos de 3 m), com detector de quasi-pico (até 1 GHz) e de
média (acima de 1 GHz), segundo o FCC. Para frequências acima de 1 GHz, limites para
medidas com detetores de pico (PK) são também mostrados.

Apenas para se ter uma ideia da magnitude desses números, considerando, por exemplo, o
valor de radiação máxima, segundo o FCC, para um dispositivo classe B, em 300 MHz, ou seja,
200 μV/m a 3 m de distância, o vetor de Poynting correspondente seria de 1,06 x 10 –10 W/m2, o que
corresponderia a uma antena radiando isotropicamente uma potência de apenas 12 nW.

20

Você também pode gostar