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Revista Diálogos Interdisciplinares

2019 VOL. 8 N° 2 - ISSN 2317-3793

INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA CAUSADA POR EMISSÕES


CONDUZIDAS EM ELETROMÉDICO
ELECTROMAGNETIC INTERFERENCE CAUSED BY CONDUCTED EMISSIONS ON
ELECTROMEDICAL DEVICE
André Amancio Almeida¹; Danillo Fernandes dos Santos Padin¹; Antônio Carlos da Cunha
Migliano²; Fernanda Talhati3
RESUMO
A eficiência e efetividade do atendimento em clínicas e hospitais dependem dos equipamentos disponíveis para
colaborar no diagnóstico, tratamento ou monitoramento de seus pacientes. Assim, espera-se que esses estabelecimentos
de saúde tenham todos seus equipamentos em conformidade com as normas de segurança e registrados junto a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Neste sentido, tais exigências são previstas na NBR IEC 60601-2, que
estabelece os níveis máximos de tensão para as emissões conduzidas, geradas pelos equipamentos eletromédicos. A
avaliação de conformidade desses equipamentos torna-se necessária para garantir sua comercialização e, neste sentido,
este trabalho tem por objetivo analisar um Cardiotocógrafo a partir de ensaios de emissões conduzidas, seguindo as
normas FCC part 15(Federal Communications Commission), considerando os níveis máximos exigidos para
equipamentos de classe B, trabalhando em faixas de frequências com níveis de tensões reduzidas, comparadas aos
eletromédicos classificados na classe A. Desta forma, este estudo se restringiu a faixa de frequência de 0,15 a 30 MHz,
com limite máximo de tensão de 46 dBuV. O ensaio foi realizado com um arranjo experimental constituído de um
analisador de espectro, redes de impedâncias (LISN) e um microcomputador para o controle e automação do ensaio via
interface IEE488, com o software de EMC/EMI E7415A. Foram obtidos valores de picos de tensão entre 46 e 56 dBuV,
o que atestou a não conformidade do equipamento, principalmente nas regiões limítrofes de frequência. A proposta de
saneamento dessas não conformidades envolveu a inserção de filtros de linha no cabo de alimentação do eletromédico.
No entanto, essa solução não se tornou satisfatória para frequências menores que 1 MHz, por utilizar transdutores dos
filtros com absorção em mais altas frequência.
Palavras chave: Cardiotocógrafo, Conformidade, Eletromédico, Emissões conduzidas.

ABSTRACT
The efficiency and effectiveness of care in clinics and hospitals depend on the equipment available to collaborate in the
diagnosis, treatment or monitoring of their patients. Thus, it is expected that these health facilities will have all their
equipment in compliance with safety standards and registered with the National Agency of Sanitary Surveillance
(ANVISA). In this sense, such requirements are foreseen in NBR IEC 60601-2, which establishes the maximum voltage
levels for the conducted emissions, generated by electromedical equipment. The conformity assessment of these
equipments becomes necessary to guarantee their commercialization and, in this sense, this work has the objective to
analyze a Actocardiotocograph from the tests of conducted emissions, following the rules FCC part 15 (Federal
Communications Commission), considering the levels class B equipment, working in frequency bands with reduced
voltage levels, compared to electromedicals classified in Class A. In this way, this study restricted the frequency range
of 0.15 to 30 MHz, with a maximum limit of voltage of 46 dBuV. The assay was performed with an experimental
arrangement consisting of a spectrum analyzer, impedance networks (LISN) and a microcomputer for the control and
automation of the IEE488 interface test with the EMC / EMI software E7415A. Voltage peak values were obtained
between 46 and 56 dBuV, which demonstrated the nonconformity of the equipment, especially in the frequency
boundary regions. The proposal to sanitize these nonconformities involved the insertion of line filters in the
electromedical power cable. However, this solution did not become satisfactory for frequencies lower than 1 MHz,
because it uses transducers of the filters with absorption at higher frequency.
Keywords: Actocardiotocograph, conducted emissions, electromedical equipment, frequency.

1 Graduandos em Engenharia Elétrica da Braz Cubas Educação.


2 ProfessorTitular Doutor da Braz Cubas Educação e Pesquisador Titular Doutor do Instituto de Estudo Avançados, São
José dos Campos, SP.
3 Professora Assistente Titular, Braz Cubas Educação.
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1 INTRODUÇÃO

O acompanhamento médico no desenvolvimento fetal ocupa um papel fundamental de


prevenção e detecção precoce de patologias além de prováveis complicações maternas,
possibilitando um crescimento saudável do bebê e uma diminuição nos riscos relacionados à
gestante [1].

A cardiotocografia (CTG) pode ser definida como o registro simultâneo e contínuo da


frequência cardíaca fetal (USD), contração uterina (UC) e movimentação fetal (ACT). Podendo ser
classificada como anteparto (quando ocorre antes do parto), e intraparto (durante o trabalho de
parto). Ainda admite-se a denominação basal quando o exame ocorre sem interferência externa e é
estimulado ao utilizar recursos vibro-acústico ou mecânicos para verificação das condições vitais,
como acelerações, taquicardia, bradicardia, perda de oscilação e desaceleração (precoce, tardia e
variável) [3].

O mapeamento permite o conhecimento detalhado da fisiologia, de maneira que o feto se


torna o segundo paciente a ser monitorado. Por esse motivo, a CTG tem sido há mais de três
décadas um dos métodos mais empregados no monitoramento fetal [2].

O Cardiotocógrafo possibilita por meio de um registro gráfico obter parâmetros básicos


relacionado ao bem-estar gestacional [3].

2 INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA

Interferência Eletromagnética (EMI – Electromagnetic Interference) é caracterizada como


um distúrbio eletromagnético, que pode gerar perda no desempenho de equipamentos, canais de
transmissão ou sistema. Em síntese, trata-se da empregabilidade de energia eletromagnética entre
um equipamento “emissor” com o “receptor” [6].

A EMI pode ser reconhecida em duas situações: conduzida e radiada. A primeira que norteia
o objetivo desse trabalho, ocorre por transmissão do cabo conectado à rede de energia elétrica, da
qual o equipamento está alimentado. A segunda é pertinente a um circuito elétrico transmitindo
ondas eletromagnéticas. Por estarem inter-relacionadas, é possível que uma seja acoplada a outra
[5].
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A blindagem eletromagnética dos equipamentos eletrônicos (eletromédicos neste caso)


torna-se eficaz quando o equipamento é imune à emissão de energia e a interferências
eletromagnéticas, não gerando distúrbios eletromagnéticos a si e aos demais equipamentos
presentes no ambiente [6].

Os requisitos básicos de segurança e desempenho de equipamentos e sistemas eletromédicos


são regidos pela norma da ABNT NBR IEC 60601-1-2: 2017 [4].

As instalações hospitalares apresentam diversos equipamentos eletroeletrônicos emissores


de energia eletromagnética, além da própria rede de energia elétrica que podem originar problemas
de interferência, oriundos da compatibilidade eletromagnética com a rede de energia elétrica,
condição essa conhecida como interferência conduzida.

Interferências em hospitais geram impactos dos mais sutis aos mais agressivos, podendo
agravar o estado de saúde do paciente e até levá-lo a óbito. Pode-se exemplificar esta situação nos
seguintes exemplos: ocorrência de sinais de ruídos em um monitor multiparâmetro (dificultando a
leitura e precisão na coleta de dados); o mau funcionamento de ventiladores pulmonares e bombas
de infusão, que são aparelhos imprescindíveis no suporte à vida; distúrbios de frequência em
desfibriladores [6].

Os locais onde se deve ter o maior cuidado e atenção são as Unidades de Terapia Intensiva
(UTI) e os centros cirúrgicos. Nesses locais, observa-se uma quantidade considerável de
equipamentos eletrônicos e a pouca distância com a qual os mesmos trabalham. Ainda, deve-se
considerar que os processos clínicos são determinantes para a elevação da intensidade de potência
dos níveis de campos eletromagnéticos no ambiente [6,7]. Assim, um bom planejamento na
elaboração da instalação elétrica e métodos adequados de utilização do espaço são essenciais para
um bom funcionamento da unidade de saúde [6].

3 ANÁLISE DE EMISSÃO CONDUZIDA

De acordo com a Comissão Federal das Comunicações (FCC n° 15.107/2002), existem dois
grupos de equipamentos que podem serem expostos a EMI, os de classe A e os de classe B, onde
são projetados para serem conectados à linha de energia de utilidade pública (AC). Os níveis de
tensão de radiofrequência (RF) que é conduzida de volta à linha de energia AC deve estar dentro
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dos limites estabelecidos na norma, para a faixa de frequência de 0,15 a 30 MHz, conforme Tabelas
1 e 2 [8].

Tabela 1 - Equipamentos Classe B [8] devem respeitar os limites máximos para equipamentos
operacionais em ambiente públicos, considerando os métodos de detecção dos níveis de tensão:
Média, fornece a amplitude média num determinado período; Quase-pico, atribui um peso para cada
amplitude em função de sua taxa de repetição.

Limite conduzido (dBμV)


Frequência de emissão (MHz) Quase-pico Média
0,15-0,5 66 a 56 * 56 a 46 *
0,5-5 56 46
5-30 60 50

* Diminui com o logaritmo da frequência

Tabela 2- Equipamentos Classe A [8] devem respeitar os limites máximos para equipamentos
operacionais em ambiente industriais e controlados, considerando os métodos de detecção dos
níveis de tensão: Média, fornece a amplitude média num determinado período; Quase-pico, atribui
um peso para cada amplitude em função de sua taxa de repetição.

Limite conduzido (dBμV)

Frequência de emissão (MHz) Quase-pico Média

0,15-0,5 79 66

0,5-30 73 60

A medição dos valores de tensão foi obtida com o uso de uma Rede de Estabilização de
Impedância na Linha de Alimentação (LISN) de 50 μH / 50 ohms. Os limites de emissões
conduzidas se aplicam por toda a faixa de frequência, conforme apresentados na tabela [8].

O ensaio de análise de emissão conduzida foi realizado em um laboratório de conformidade,


no Instituto de Estudos Avançados (IEAv), em São José dos Campos/SP, com todos os
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equipamentos e tecnologia necessários para atender aos requisitos de compatibilidade


eletromagnética, com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento de novos produtos.

O Arranjo Experimental Básico empregado no Ensaio de Emissões Conduzidas (Figura 1)


foi constituído de microcomputador operacional em ambiente Win10, responsável pelo controle e
automação do ensaio, via interface IEE488, com o auxílio do software de EMC/EMI E7415A.
Neste arranjo foram utilizados 2 LISNs (modelo 3210/2) alimentados por rede estabilizada AC.
Dessa forma, esses filtros (LISNs) impedem que o ruído medido no teste não seja conduzido de
volta na linha, quando ligado ao Cardiotocógrafo (modelo MT-516), componente principal do
projeto, nominalmente declarado pelo fabricante como pertencente a equipamentos da classe A.

Com o analisador de espectro HP7405A foram definidos os componentes harmônicos de


sinais elétricos gerados pelo equipamento sob teste, extraindo-se dados de tensão em função da
frequência. O eletromédico foi submetido a testes para equipamentos de classe B, com a finalidade
de avaliar seu desempenho e comportamento quando exposto a parâmetros regulatórios mais
exigentes, se comparado ao seu registro atual de Classe A, de acordo com a FCC 15/2002.
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Figura 1 – Arranjo Experimental Básico de Ensaio de Emissão Conduzida, seguindo as Normas


FCC PART 15.
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4 RESULTADOS

Os ensaios com eletromédicos de classe B, se comparados aos de classe A da FCC


15.107/2002 são mais rigorosos, trabalhando com faixas mais estreitas. No entanto o
Cardiotocógrafo já é um equipamento certificado e registrado juntamente aos órgãos certificadores
nacionais como classe A. Dessa forma, neste trabalho todos os ensaios foram realizados com o
objetivo de obter um maior desempenho do equipamento.

Aplicando-se os limites de ruído para equipamentos da classe B, o primeiro teste com o


Cardiotocógrafo apresentou alguns pontos de não conformidade. Um pico significativo, que
ultrapassou 60 dBuV de tensão de ruído em baixas frequências, entre 0,45 e 1,5 MHz. Para a faixa
de 1,5 a 15 MHz o espectro se manteve dentro dos limites de tensão e acima de 15 MHz até 25
MHz o espectro sinalizou a não conformidade do equipamento.

dBuV
60
cardiotocografo

50 FCC Part 15; Class B Conducted

FUNDO
40

30

20

10
1 10

2/26/2019 10:51:54 AM (Start = 0.45, Stop = 30.00) MHz

Figura 2 – Resultado do Ensaio de Emissão Conduzida sem filtro de linha.


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O primeiro gráfico (Figura 2), mostrou resultados insatisfatórios, principalmente nas regiões
de frequências inferiores a 1,5MHz e também nas regiões de maior frequência, entre 15 e 25MHz.
Mostrando assim a sua incompatibilidade para eletromédico de classe B.

Por se tratar de um equipamento eletromédico e a linha de pesquisa estar voltada a


segurança do Cardiotocógrafo e, consequentemente, a qualidade de vida do paciente e do operador
do equipamento (médicos e enfermeiros), foi obtido como proposta de saneamento dessas não
conformidades, a inserção de filtros de linha no cabo de alimentação do eletromédico, gerando
dados apresentados na Figura 3.

dBuV
60
cardiotocografo com filtro

50 FCC Part 15; Class B Conducted

FUNDO
40

30

20

10
1 10

2/26/2019 10:25:45 AM (Start = 0.45, Stop = 30.00) MHz

Figura 3 – Resultado de Ensaio de Emissão Conduzida com filtro de linha.


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A figura 3 mostrou informações relevantes sobre a efetividade dos filtros de linha


introduzido no cabo de alimentação, indicando que em faixas de alta frequência, acima de 15MHz,
o Cardiotocógrafo apresentou ruídos abaixo da faixa dos 50dBuV, dentro do valor exigido pela
norma internacional FCC part 15 classe B.

5 DISCUSSÕES

A interferência eletromagnética tem uma presença significativa dentro dos hospitais e


clínicas, devido ao grande volume de equipamentos que direta ou indiretamente são conduzidos
e/ou irradiam ruídos na a linha de alimentação, comprometendo dessa forma o funcionamento de
todos os outros equipamentos ligados à rede, colocando em risco a segurança dos equipamentos e
das pessoas. O Cardiotocógrafo é um equipamento que trabalha com captação de sinais e pulsos,
tornando-o altamente suscetível a esses sinais indesejados. Por esses motivos, os ambientes
hospitalares e clínicos, merecem um maior cuidado e investigação, seja na instalação elétrica,
infraestrutura, disposição de outros equipamentos e principalmente na aquisição de equipamentos
de qualidade, certificados e periodicamente calibrados.

O equipamento estudado se mostrou inadequado para sua classificação como eletromédico


da classe B. Sem o uso de filtro de linha, o Cardiotográfo apresentou não conformidade para
frequências menores que 1,5MHz e maiores que 15MHz. Ainda, empregando-se o filtro de linha o
equipamento ultrapassou os limites estabelecidos pela norma FCC parte 15 classe B e com isso para
frequências inferiores a 1,5MHz reproduziu os níveis de ruídos sem filtro de linha.
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REFERÊNCIAS

[1] Boletim de prática do ACOG. Vigilância fetal anteparto. Número 9, outubro de 1999 (substitui
o Boletim Técnico Número 188, janeiro de 1994). Diretrizes de tratamento clínico para
obstetras-ginecologista. Disponível: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10717828htm.
Acessado em 26 de Fevereiro de 2019.
[2] NOMURA Roseli Mieko Yamamoto, FRANSCISCO Rossana Pulcineli Vieira, STEINMAN
Débora Simıes, MIYADAHIRA Seizo, ZUGAIB Marcelo. Analise Computadorizada da
Cardiotocografia Anteparto em Gestações de Alto Risco, 24 (1): 29 - 36, 2002. Disponível:
https://www.scielo.br/pdf/%0D/rbgo/v24n1/8505.pdf. Acessado em 26 de Fevereiro de 2019.
[3] MAEDA Kazuo, 9 Computerized analysis of cardiotocograms and fetal movements.
Baillière's Clinical Obstetrics and Gynaecology Volume 4, Issue 4, December 1990, Pages 797-813.
Disponível: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0950355205803451. Acessado em
26 de Fevereiro de 2019.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR IEC 60601-1-2:2017:
Equipamento Eletromédico, parte 1-2: Requisitos gerais para segurança básica e desempenho
essencial - Norma colateral: Perturbações eletromagnéticas - Requisitos ensaios. Rio de Janeiro,
2017.
[5] DE MORAES, Fábio Brignol. Avaliação das emissões conduzidas e radiadas geradas por
unidade eletrocirúrgica e sistema de iluminação com lâmpadas fluorescente em equipamentos
médicos. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica e Informática Industrial) - Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba – PR, 2013.
[6] ZEVZIKOVAS, Marcos. Efeitos da interferência eletromagnética conduzida em
equipamentos eletromédicos no ambiente hospitalar. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Estadual de Campinas, Campinas. 2004.
[7] NELSON, Robert; JI, Hualiang. Electric field strengths created by electrosurgical units.
IEEE International Symposium on Compatibility in the Loop, Chicago, IL. p. 366-370, 1994.
[8] Electronic Code of Federal Regulations. e-CFR data is current as of February 8, 2019. FCC
PART 15—RADIO FREQUENCY DEVICES. Disponivel: https://www.ecfr.gov/cgi-bin/text
idx?
SID=f13bc814203aa93ec45c54604ddf5544&mc=true&node=pt47.1.15&rgn=div5#se47.1.15_115.
Acessado em 26 de Fevereiro de 2019.

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