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MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

UNIVERSIDADE ROVUMA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉCTRICA

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 0


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Capítulo 1: Introdução a Técnicas de Alta Tensão

1.1. Revisão de Conceitos básicos

O Regulamento de Segurança das Linhas Eléctricas de Alta (Decreto Regulamentar nº 1/92 de 18


de Fevereiro), faz menção da seguinte classificação dos sistemas de alta tensão, quanto a tensão
nominal:

• Baixa Tensão: é aquela cujo valor eficaz ou valor constante da tensão não excede os
seguintes valores: 1000V em corrente alternada; 1500V em corrente contínua. Tensões
padronizadas mais comuns: 110V, 127 V, 220V, 380V, 660V
• Alta tensão: é aquela cujo valor eficaz ou valor constante da tensão excede os seguintes
valores: 1000V (1KV) em corrente alternada; 1500V (1,5KV) em corrente contínua.

A lei de electricidade de Moçambique(Decreto no 21/97 de 1 de Outubro), divide os sistemas


eléctricos em:

• Transporte de energia eléctrica: é a transmissão de energia eléctrica de tensão igual a


ou acima de 66KV, abrangendo o estágio que vai desde os bancos de transformadores das
subestações elevadoras ligados às centrais geradoras até às subestações abaixadoras
ligadas à distribuição;
• Distrubuição de energia eléctrica: é a transmissão de energia eléctrica com uma tensão
abaixo de 66 KV, a partir das subestações abaixadoras, dos postos de transformação ou
dos postos de seccionamento às instalações que recebem e transmitem a corrente eléctrica
aos consumidores;

Portanto, a a distribuição pode ser feita em média tensão ou baixa tensão:


• A distribuição primária ou em média tensão é feita em níveis acima de 1KV, sendo os
mais comuns: 11 kV, 22kV e 33kV e termina nos postos de transformação (PT).
• A distribuição secundária ou em baixa tensão, para níveis menores ou iguais à 1KV, inicia
no posto de transformação e termina no contador ou quadro eléctrico do consumidor
(residencial, industriail, comercial, público, privado. Os níveis de tensão podem ser 220V
(monofásico), 380 V trifásico, 660 V trifásico, etc.

Conceitos importantes a reter:

• Carga Eléctrica;
• Campos Eléctricos;
• Tensão;
• Capacitância;
• Efeitos da corrente eléctrica e sua importância na engenharia eléctrica.
• Classificação de materiais eléctricos e suas características: condutores, semi-condutores,
isoladores e magnéticos.

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1.2. Aplicações da alta tensão

Existem várias aplicações de altas tensões que resumem em: Geração e transmissão de energia
eléctrica; Ensaios de equipamentos de alta tensão e Aplicações não energéticas.

As aplicações não energéticas são basicamente: Equipamento de raio-x; Aceleradores de partículas;


Radar; Tubos de televisão; Electric fences; Spark plug e Equipamentos de Electromedicina.

1.2.1. Geração e Transmissão de Energia Eléctrica

Frequentemente, os recursos energéticos primários necessários para diversas actividades


económicas de um país situam-se muito longe das regiões industriais. É o caso de Moçambique
em que grandes reservas energéticas estão situadas na província de Tete, enquanto os potenciais
consumidores estão nas províncias de Maputo, Tete, Nampula e Sofala. Portanto, a energia
necessária deve ser transportada para grandes distâncias. O problema que se coloca é encontrar
a melhor forma de transporte. Existem várias possibilidades. Pode-se por exemplo, transportar os
combustíveis (petróleo, carvão) por via férrea. Certos tipos de combustíveis (gás, petróleo) podem
ser transportados por condutas (“pipelines”) ou grandes navios (petroleiros). Embora o transporte
dos combustíveis a grandes distâncias já seja enconomicamente viável, o transporte da maioria
dos recursos energéticos primários não o é. A solução encontrada é a conversão da energia
contida nesses recursos em energia eléctrica e o transporte dessa nova forma de energia
(eléctrica) em altas tensões até aos centros de consumo. Em seguida esta alta tensão é reduzida
de forma sucessiva até aos níveis de baixa tensão, adequando assim aos consumidores finais.

Figura 1 – Ilunstração de um sistema eléctrico

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A transmissão em alta tensão pode ser em corrente contínua ou em corrente alternada.

Na maioria dos casos, as redes de transmissão de energia eléctrica são sistemas trifásicos de
corrente alternada, a maioria de receptores são de corrente alternada e neste caso há vantagem
de facilidade de ramificação da rede. As linhas de corrente contínua são utilizadas actualmente
para o transporte de potências elevadas a grandes distâncias (normalmente acima de 800km, como
é o caso da linha Songo-Apolo em Moçambique, de 535kV à uma distância aproximada de 1410km).
Utiliza-se também a corrente continua em redes de utilização especiais como no caso de tracção
eléctrica ou para interligação de sistemas eléctricos com frequências diferentes.

A figura 2 ilustra o esquema das linhas eléctricas que partem da HCB, onde se verifica a interligação
entre as subestações de Matambo e Chibata (em Moçambique), de Bindura (no Zimbábwe), de
Apollo (na àfrica do Sul) e da EDM em Maputo.

Figura 2: Interligação das linhas que partem da HCB

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1.2.2. Tensões de teste ou ensaio de equipamentos

Os testes de alta tensão consistem basicamente na aplicação deliberada a um equipamento, de


uma tensão superior à sua tensão de operação normal por um período de tempo especifico para
determinar se o seu isolamento é capaz de suportar ou não tal tensão. É importante que tais ensaios
sejam feitos para garantir que os equipamentos tenham maior confiabilidade e disponibilidade
quando colocados em serviço. Alguns eventos que podem causar baixa confiabilidade:
sobretensões de manobra, sobretensões atmosféricas, curto-circuitos, etc.

a) b)
Figura 3: Laboratório de ensaio de Isolador de alta tensão (figura b)

Transformadores:
de potencia
de Corrente
de Tensao
isoladores
capacitores
GIS
Cabos
bushings

Fonte de
Alimentaçäo
em AT:
AC
DC Objecto
Tensäo
de
Impulsiva Mediçao
Ensaio

Sphere Surge Voltage


Gap Arrester Divider

Figura 4: Ilustração de ensaio transformador de alta tensão

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Capítulo 2: Geração de altas tensões

2.1. Geração de alta tensão contínua

Altas tensões em corrente contínua são usualmente produzidas para pesquisas científicas, na física
aplicada e equipamentos médicos como raios-x. Tem também aplicação em testes de cabos para
transmissão de energia em corrente alternada devido a grande capacitância que estes apresentam
o que levaria ao consumo de grandes quantidades de corrente, se o teste fosse feito em corrente
alternanda.

De acordo com as normas IEC 60-1 e IEEE 4-1995, o valor da tensão gerada é igual ao seu valor
aritmético médio, ou seja, a integral da tensão durante um período, dividida pelo próprio período, e
isso se aplica pelo fato de que os sinais DC de altas tensões possuírem um ripple (ondulação).

Onde T é o período, f=1/T é a frequência de oscilação.

O ripple por definição, é igual a média entre o valor de pico e o menor valor, de acordo com a
equação a seguir.

O factor de ondulação é a relação entre a amplitude de ondulação e a média aritmética, ou


δV/Vmed. Para tensões de teste este factor de ondulação não deve exceder 3%.

As tensões DC são geralmente obtidas por meio de circuitos de rectificação aplicada a tensão
alternada AC (que veremos a seguir) ou por meio de geradores electrostáticos. A retificação pode
ser feita através de simples retificadores semicondutores, sempre construídos em silício, que
normalmente não suportam tensões reversas maiores que 2500[V], porém, sem apresentar
problemas em relação a conexão destes dispositivos em série até atender a condição desejada.

2.1.1. Circuitos rectificadores simples de meia onda (Half wave rectifier circuit)

Para uma melhor compreensão dos circuitos monofásicos de conversão AC/DC serão vistos a seguir
os sistemas de rectificação de meia onda com suavização de tensão. Será desprezada a reactância
do transformador e a impedância dos díodos durante a condução. O Capacitor C será carregado até
a tensão máxima Vmáx, ou seja sempre que V < Vt (Vt tensão no transformador).

Se I = 0, isto é; RL = ∞ (infinito) a tensão DC no Capacitor C permanecerá constante Vmáx, e a Vt


oscilará entre o ±Vmáx. Se uma carga for ligada, nos terminais a tensão no Capacitor não
permanecerá constante.

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Figura 5: Elementos de Circuito de rectificação de meia onda

Figura 6: Forma de onda de tensão e corrente

Durante um período T=1/f , uma carga Q é transferida para a carga RL representada por

Onde I é o valor médio da corrente de carga iL(t) e V(t) a tensão DC que inclui o factor de ondulação.
Se da equação δV = 0,5(Vmáx - Vmin) introduzirmos o factor de ondulação, teremos que a tensão
V(t) terá a seguinte variação

A carga Q também é fornecida pelo transformador num tempo de condução tc=άT durante cada
ciclo, assim também teremos Q

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Sendo άT<T, as correntes no transformador e no díodo terão a forma representada na figura acima
cujas amplitudes serão maiores que a da corrente contínua iL≈I.

O factor de ondulação poderá ser calculado exactamente para este circuito baseando-se na rampa
exponencial de V(t) durante o período de descarga T(1 - ά). No entanto, para circuitos práticos as
quedas de tensão dentro do transformador e rectificadores devem ser tomadas em conta.
Assumiremos que ά = 0. Assim δV será facilmente calculado a partir da carga Q transferida para a
carga, ou seja,

Levando-se em consideração que a carga é então função do valor máximo da tensão da fonte e da
carga, e, mostra que “f.C” é um importante parâmetro de fabricação.

Deve-se, durante o projeto, levar em consideração um rompimento da carga, ocasionando um curto-


circuito, para dimensionar os componentes, de forma que os semicondutores devem resistir a essa
corrente de curto.

Usualmente, esses geradores produzem tensões na ordem de Megavolts (e.g gerador de Prinz, de
1,2 MV, 60 mA).

Retificadores bifásicos também são construídos a partir de transformadores com tap central, e a
principal consideração de projeto que deve ser feita, é de que os diodos devem resistir também a
duas vezes a tensão de pico da fonte senoidal.

2.1.2. Circuitos rectificadores de onda completa (Full wave rectifier circuit)

No circuito rectificador de onda completa mostrado na figura 7. No meio ciclo positivo, o rectificador
A conduz e carrega o capacitor com Vmáx, no meio ciclo negativo rectificador B conduz e carrega o
capacitor com 2Vmáx. Existem também circuitos de rectificação de onda completa em ponte (não
serão aqui aborados, por uma questão de simplificação).

Figura 7: Circuito rectificador de onda completa

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2.1.3. Circuito duplicador de tensão tipo Greinacher (Voltage doublers Circuit)

Tanto o rectificador de onda completa como o de meia onda produzem a saída uma tensão DC
menor que a máxima tensão AC de entrada (alimentação). Asiim, circuitos multiplicadores de tensão
foram projetados para se obter uma tensão muito mais alta que a dos retificadores de meia onda e
e de onda completa citados anteriormente. O primeiro deles foi projetado por Greinacher, físico, em
1920, sendo melhorado por vários pesquisadores como Latour, Schenkel, Cockcroft Walton ao longo
do tempo.

No Circuito duplicador de tensão tipo Greinacher da figura 8, o condensador C1 é carregado


através de rectificador R a uma tensão de polaridade conforme mostrado na figura durante a fase
negativa de meio ciclo. A tensão no transformador ao atingir o valor máximo, no semi-ciclo positivo
subsequente, o potencial no terminal do condensador C1 passa a 2Vmáx. Tanto os rectificadores
como os condensadores são dimensionados de tal forma que suportem a Tensão de 2Vmáx.

Figura 8: Duplicador de tensão simples de Greinacher

2.1.4. Circuitos multiplicador em Cascata tipo Cockroft Walton (Voltage multiplier circuit)

Observando a figura 9 a), percebe-se que a ideia é utilizar Capacitores como dobradores de tensão
a fim de se obter uma tensão de saída DC maior que a amplitude da fonte sinodal de entrada.

Figura 9: Circuito duplicador de n estágios de Cockroft Walton

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As formas de onda podem ser observadas de forma lógica, de acordo com a figura 9 b).

O procedimento é o seguinte: se os terminais do circuito estão inicialmente abertos, no primeiro


semi-ciclo positivo C’n carrega a Vmax, e no semi-ciclo seguinte negativo atinge 2Vmax, se,
inicialmente o ponto n está aterrado, o capacitor Cn é também carregado com 2Vmax, no próximo
semi-ciclo positivo o ponto n’ atinge novamente Vmax e então o Capacitor C’n-s é carregado com
Vmax e assim sucessivamente até o estágio desejado.

Deve-se observar que os potenciais dos nós à esquerda oscilam de forma senoidal, respondendo a
tensão da fonte de alimentação, os potenciais dos capacitores da direita se mantêm constantes em
relação ao terra, e com magnitude de “2Vmax” cada – observe que somente se soma “2Vmax” por
estágio - com excepção de “C’n” que é submetido a no máximo “Vmax”, os diodos devem ser
projectados para suportar no mínimo “2Vmax” - tensão a qual estão submetidos - e, a tensão obtida
na saída, na condição de idealidade, é “2.n.Vmax”. Quando uma carga é colocada nos terminais do
gerador, no entanto, essa tensão sempre menor que “2nVmax”, pela queda de tensão causada pela
corrente que percorre a carga – “DV0” - e pelo ripple existente – “2.d.V”. Para o cálculo do ripple,
supõe-se que uma quantidade de electrões “q” é transmitida à carga pelos capacitores, igual a “q =
I/f = IT”, assim, o ripple deve ser igual à somatória da energia transferida por todos os Capacitores
a carga, porém, como Capacitores menores seriam submetidos a tensões muito elevadas se a carga
fosse rompida, os Capacitores são projectados para serem todos iguais. A queda de tensão “DV0”
pode ser analisada considerando a queda do primeiro estágio, “n”. Supondo que os elementos de
circuito são idéias, “Cn’ carregará com “Vmax”, mas devido a descarga desse Capacitor Cn será
carregado com

Onde “n.q” é a descarga do capacitor. Da mesma forma, “Cn” carrega “Cn-1”, que está sujeito ao
mesmo efeito de descarregamento. E assim sucessivamente, de forma que, se os Capacitores
tiverem a mesma Capacitância as quedas de tensão através de cada estágio será
aproximadamente:

Apesar de os menores Capacitores serem responsáveis por todo o “DV0” como no caso do ripple,
Capacitores no valor de “Cn’” são usados por conveniência, diminuindo “DVn” numa quantidade de
“0.5.nq/c” por estágio resultando finalmente em

De onde para casos onde “n” for maior ou igual a “4”, o termo “n/6” pode ser desprezado.

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Os circuitos multiplicadores de tensão em cascata do tipo Cockcroft–Walton abordados em 2.1.4,


demonstraram limitações na tensão de saída DC. Esta desvantagem pode ser suprida com a
colocação de sistemas de rectificação de onda simples ou completa, cada um tendo a sua própria
fonte de alimentação AC, designados circuitos com transformador em cascata tipo Cockcroft–
Walton

Figura 10: Duplicador com transformadores em cascata tipo o Cockcroft–Walton

Todos os transformadores por estágio são constituídos de um enrolamento primário de baixa


tensão, um enrolamento secundário de alta tensão e um enrolamento terciário de baixa tensão onde
o último dos quais excita o enrolamento primário do próximo estágio superior.

Como nenhum dos enrolamentos secundários de alta tensão tem o potencial referenciado á terra, é
necessário que se estabeleça um isolamento da tensão DC dentro de cada transformador (T1, T2,
etc.). Cada enrolamento de alta tensão alimenta dois rectificadores de meia onda.

Embora existam limitações quanto ao número de estágios e como os transformadores dos níveis
inferiores tem de fornecer energia para os transformadores dos níveis superiores, este tipo de
sistema, fornece uma fonte de geração de tensões de ensaios DC económica apresentado factores
de ondulação com valores moderados.

2.2. Geração de alta tensão alternada

Nos dias que correm, a transmissão e distribuição de energia eléctrica é predominantemente em


corrente alternada, a forma mais prática de testas equipamentos envolvidos nestes sistemas é por
meio de alta tensão alternada. Tornando-se óbvio que a pesquisa de materiais isolantes para redes
AC deverá ser feita sob este tipo de tensão. Em geral, pode-se obter alta tensão usando um
transformador de elevador, porém em tensões mais elevadas, vários métodos foram desenvolvidos.

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2.2.1. Circuitos com transformadores em cascata

Para tensões de teste inferiores a 300kV, um único transformador é suficiente para este propósito.
Entretanto para tensões superiores a 300kV este modelo mostra-se inadequado pois apresenta
custos elevados de instalação e de isolamento. A solução passa por ligar vários transformadores
idênticos em série ou em cascata conforme a figura a seguir.

Figura 11: Transformadores em cascata

Legenda: V1 – Tensão de alimentação; V2 – Tensão de saída; aa´ - L.V. enrolamento primário; bb´- H.V.
enrolamento secundário; cc´- enrolamento de excitação; bd – enrolamento de medição (200 to 500); g –
suporte isolador;V - Voltímetro

O primeiro transformador encontra-se aterrado, o Segundo transformador encontra-se suspenso


em isoladores e ao potencial V2 (saída do primeiro estágio), o enrolamento de alta tensão do
primeiro estágio está ligado ao tanque do segundo transformador.

A principal desvantagem de utilizar transformadores para geração de altas tensões é a potência


consumida pelo conjunto, que pode se relevar muito elevada. A fonte poderia ficar muito carregada,
pois deve fornecer a potência consumida por todos os estágios. Podem ser necessários ainda,
reatores a ser utilizados em paralelo com o aparelho a ser testado e, filtros para reduzir a quantidade
de harmônicos, equipamentos auxiliares, que normalmente não são baratos. A sobrecarga dos
estágios iniciais dos transformadores em cascata pode resultar uma alta impedância de entrada
aos transformadores em cascata. Se desconsideramos as perdas devido as reatâncias de
dispersão e magnetização, a impedância equivalente pode ser calculada de acordo com a Equação

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Onde “Xhv” é a impedância de alta tensão, “Xpv” a do primário e “Xev” as de excitação. Como os
equipamentos que são testados são estritamente representados por capacitâncias, o circuito
equivalente pode ser representado por um circuito simples formado através do equivalente de um
transformador ligado a uma capacitância. Os transformadores em cascata são o método mais
utilizado pelo mundo na geração de altas tensões de teste, e quanto ao circuito ressonante desses,
se a carga nominal estiver presente, uma tensão com freqüência bem abaixo da ressonante deve
aparecer na saída do último estágio, se, no entanto, pouco mais de meia tensão nominal for
colocada sob o primeiro estágio, a tensão de saída oscilará sobre a freqüência de ressonância e
tensões maiores que a nominal são facilmente geradas, se tornando assim, a impedância do
transformador em cascata e do equipamento a ser testado, parâmetros importantes.

2.2.2. Circuitos Ressonantes

Enquanto nos transformadores em cascata, ressonâncias teriam conseqüências desastrosas,


alguns circuitos podem ser construídos com a intenção de se obter uma ressonância. Dessa forma,
produz-se uma ressonância que é controlada para resultar na frequência fundamental para que não
ocorra nenhuma ressonância não desejada.

A Figura 12 mostra o esquema básico dos circuitos séries ressonantes utilizados para gerar altas
tensões, sintonizados na frequência desejada. Nessa figura, “Ct” é a capacitância pura da carga, e
a freqüência da fonte é conhecida, se um transformador de elevação é utilizado, e a condição de
ressonância for encontrada em relação a impedância do secundário do transformador, a energia
armazenada inicialmente na carga é totalmente compensada, no entanto, o transformador carrega
toda a corrente da carga, o que é uma grande desvantagem.

Figura 12: Circuitos ressonantes

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Os indutores são ajustados de acordo a se obter um alto fator de qualidade – de acordo com a
Equação abaixo, dentro, é claro, dos limites de variação das indutâncias.

A corrente nominal de projeto do transformador de acoplamento pode ser tão baixa quanto “V/Q”,
onde “Q” é o pior fator de qualidade do circuito, enquanto que a tensão pode ser encontrada a partir
da condição de ressonância do circuito, não discutida aqui.

Esses circuitos apresentam algumas vantagens, enumeradas a seguir: A forma de onda de saída
é melhorada, pela eliminação de tensões em freqüências diferentes da fundamental e também pela
atenuação das harmônicas que existem na fonte.

Normalmente esses equipamentos não consomem mais do que 5% da potência consumida por
outros equipamentos de teste com fator de potência igual a um, e, analogamente, os kVA
consumidos, são então muito menores. Se ocorrer uma falha na isolação do espécime de teste, o
arco é formado apenas pela potência armazenada na capacitância, não apresentando, muitas
vezes potência suficiente para danificar o equipamento, e o arco existente é logo extinguido.

Os transformadores de acoplamento podem ser utilizados sem os problemas das altas impedâncias
de entrada dos circuitos com transformadores em série. Circuitos de auto-sintonização podem ser
facilmente desenvolvidos, para cargas onde a capacitância varia ao longo do tempo. O peso dos
circuitos ressonantes em série normalmente chegam de 3 a 6 kg/kVA, enquanto nos
transformadores em série estão em torno de 10 a 20 kg/kVA (não incluindo o equipamento
necessário de controle e regulação).

Quando a capacitância da carga estiver fora dos limites de ressonância para freqüência da rede,
um inversor de freqüência pode ser utilizado para ajustar a freqüência da fonte à freqüência de
ressonância, de acordo com a Figura 13, onde a indutância “Ln” representa todas as indutâncias
dos reatores em série ou paralelo.

Figura 13: Conversor de frequência utilizado junto ao lado de alta tensão

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Um critério de projeto é a máxima corrente através do circuito, de forma que o transformador não
fique saturado ou cause sobre-aquecimento nas bobinas, e está de acordo com a equação a seguir:

Onde a resistência é muito menor que a impedância indutiva, de forma que pode ser
desconsiderada. A indutância deve, se ajustada de acordo com a freqüência de ressonância dada
pela equação abaixo

resultando na equação a seguir, onde “Cn” é igual à capacitância equivalente do espécime a ser
testado.

Pode-se prever a corrente e a freqüência de funcionamento do circuito quando a capacitância da


espécime a ser testada é modificada, de acordo com as a seguir que demonstram as relações de
freqüência, corrente e tensão.

Onde o índice “n” representa os valores nominais de funcionamento do circuito série ressonante e
o índice t representa os valores a serem testados. Circuitos série ressonantes ainda apresentam
uma quantidade menor de circuitos de teste nos laboratórios mundiais, porém vêm dando terreno
e têm se mostrados muito importantes para testes na faixa de MV ou unidos a conjuntos de testes
com raios-X.

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2.3. Geração de alta tensão de impulso

2.3.1. Geração de alta tensão de impulso com circuito simples

Dois circuitos básicos de geração de alta tensão de impulso são mostrados na figura (abaixo) onde
o capacitor C1 é lentamente carregado até ao rompimento da fenda de centelhamento G. Esta
fenda de centelhamento age como um limitador de tensão em que o tempo da frente de onda é
muito baixo e determinado pelo valor da resistência R1, o valor de R2 determinará a meia amplitude
ou o tempo de cauda. O capacitor C2 representa a carga ou objecto de teste.

Figura 14: Circuito de alta tensão de impulso

Antes de se proceder a análise faz-se referência ao parâmetro mais significativo no que respeita a
geração de alta tensão de impulso, ou seja, a energia máxima armazenada na Capacitância C1.
Dado que o capacitor C1 é maior que C2 este determina de certa forma o custo do gerador.

A tensão no objecto de teste, para ambos circuitos, no domínio de tempo será dada por

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Assim, a tensão de saída será o resultado da sobreposição de duas funções exponenciais de sinais
contrários. De acordo com a equação (α1 e α2), a raiz negativa resulta na maior constante de tempo
1/α1, comparativamente a raiz positiva 1/α2. O gráfico resultante é mostrado na figura 15.

Figura 15: Ondas do circuito de alta tensão de impulso

Fica evidente a possibilidade de geração de ambos tipos de alta tensão de impulso com base
nestes circuitos. Todavia pode-se assumir que estes circuitos são similares, podendo diferir no
rendimento, ou seja

Onde Vp valor de pico da tensão de saída, como indicado na figura acima. O mesmo pode ser
calculado começando por definir o tempo máximo para que V(t) atinja o seu valor de pico tmáx a
partir de dV(t)/dt=0. V0 tensão na fonte.

Substituindo em (η) teremos

Para ambos circuitos as diferenças dos respectivos rendimentos provem do valor de k=R1C2.
Para a figura (b) teremos

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Para C2≤C1 e α2≥α1 vem que

Substituindo em (η) vem que

Esta equação evidencia o facto de C1 ter que ser maior que C2 Para a figura (a) teremos,
substituindo α1 e α2 partindo e da relação R1/R2 = f(C2/C1)

Geralmente os valores de C1 e C2 são conhecidos de fábrica, sendo necessário o cálculo das


resistências R1 e R2, para circuito da figura (a)

Para o circuito da figura (b)

Note que em todas as equações está presente a constante de tempo 1/α1 e 1/α2, dependem da
forma de onda. Para determinadas formas de onda é válida a tabela

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Devido a dificuldades construtivas os circuitos são simplificados de tal forma que têm-se em
consideração uma combinação de uma indutância total com as Capacitâncias C1-C2 (figura
abaixo) ignorando a posição da resistência de cauda, pois esta tem pouca influência. Assim

Onde

Figura 17: Circuito simplificado de alta tensão de impulso

2.3.2. Geração de alta tensão com circuito em cascata.

A obtenção de alta tensão de impulso com recurso a um único estágio mostra-se economicamente
inviável, daí o recurso aos circuitos multiestágios sugeridos por MARX que consiste num arranjo de
condensadores em paralelo submetidos a uma carga através de resistências óhmicas e
posteriormente descarregados em série através de fendas de centelhamento.

Figura 18: Circuito em cascata de alta tensão de impulso

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Na figura os condensadores C’1 são carregados através de resistências de carga R’ e de descarga


R’2 (onde R’>>R’2). Após findo o período de carga os pontos A, B, … F estarão ao potencial da
fonte de alimentação ou seja (-V) e os pontos G, H, …N estarão ao potencial da terra (a queda de
tensão em R´2 durante o processo de carga é desprezado). O processo de centelhamento do
gerador tem início em G1 ao que se seguem todas as restantes fendas de centelhamento. Ou seja,
quando a primeira fenda conduz o potencial no ponto A passa de -V para 0 e por conseguinte o
potencial em H passa para +V. Uma vez que o potencial em B permanece -V, uma tensão 2V
aparecerá no ponto G2 causando a condução desta fenda elevando o potencial do ponto I para +2V
criando uma diferença de potencial de 3V na fenda G3 se mais uma vez assumir-se que o potencial
em C permanecerá em -V o que na prática é pouco provável. O processo de centelhamento
continua até que o ponto N atinja a tensão 6V ou nV, onde n é o número de estágios. Este facto
ultrapassa-se assumindo a existência de Capacitâncias C´, C´´, C´´´ onde C´ (capacitância entre o
1º e 2º estágio), C´´ (capacitância da fenda de centelhamento), C´´´ (capacitância entre 1º e o 3º
estágio). Depois de algumas simplificações teremos

Assim a tensão na fenda G2 será

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Capítulo 3: Meios isolantes gasosos, líquidos e sólidos nas tecnologias de alta tensão

3.1. Conceitos gerais sobre materiais isolantes

A maioria de falhas em sistemas eléctricos acontecem normalmente devido ao rompimento dos


dielétricos, total ou parcialmente. Dois motivos acarretam esse tipo de acontecimento: o mau
condicionamento do dielétrico ou o excessivo campo elétrico sob o isolante num determinado ponto.
O rompimento dos dielétricos é uma grande preocupação no caso de equipamentos de alta tensão.
Eles são responsáveis pelo desgaste dos isolantes, e indicadores de possíveis defeitos futuros, não
deixando de se levar em conta um defeito mais grave. Por isso, se tornam parte importante do
estudo de equipamentos de alta tensão.

Dieléctrico: É o meio no qual é possível produzir e manter um campo eléctrico com pequeno ou
nenhum fornecimento de energia de fontes externas. A energia requerida para produzir o campo
eléctrico pode ser recuperada, no total ou em parte, quando o campo eléctrico é removido.

Isolamento é a separação de dois potenciais.

Capacitância: É a propriedade de um capacitor ou de um sistema de condutores e dieléctricos que


permite armazenar cargas separadas electricamente, quando existem diferenças de potencial entre
os condutores.

Capacitor: É um dispositivo constituído por dois condutores, cada um tendo uma determinada
superfície exposta ao outro, separados por um meio isolante. Uma diferença de potencial entre os
dois condutores acarreta em armazenamento de cargas iguais em intensidade e de polaridades
opostas. Os dois condutores são chamados de eléctrodos.

Dieléctrico perfeito: É um dieléctrico no qual toda a energia requerida para estabelecer um campo
eléctrico no mesmo é recuperada quando o campo ou a tensão aplicada é removida. Desta forma,
possui condutibilidade nula.

Dieléctrico imperfeito: É aquele no qual uma parte da energia requerida para estabelecer um
campo eléctrico no dieléctrico não retorna ao sistema eléctrico quando o campo é removido. A
energia é dissipada no dieléctrico, em forma de calor.

Absorção dieléctrica: É o fenómeno que ocorre em dieléctricos imperfeitos pelo qual cargas
positivas e negativas são separadas e acumuladas em certas regiões dentro do volume do
dieléctrico. Este fenómeno se manifesta, por si próprio, como uma corrente que decresce
gradualmente com o tempo, após a aplicação de uma corrente contínua e constante.

Corrente de condução: A corrente de condução através de uma superfície num dieléctrico


imperfeito é aquela proporcional ao gradiente de potencial. Ela não depende do tempo durante o
qual o campo eléctrico é aplicado ao dieléctrico.

Constante dieléctrica: A constante dieléctrica (relativa) de qualquer meio é a razão entre a


capacitância de uma dada configuração de eléctrodos, tendo tal meio como dieléctrico, para a
capacitância da mesma configuração, considerando-se o vácuo como dieléctrico.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 20


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Comportamento dos materiais isolantes: Como mencionado, um material dieléctrico é


electricamente isolante e apresenta, ou pode ser feito para apresentar, uma estrutura de dípolo
eléctrico, ou seja, há uma separação de entidades electricamente carregadas positiva e
negativamente, num nível atómico ou molecular. Como resultado destas interacções entre o dípolo
e campo eléctrico, os materiais dieléctricos são utilizados em capacitores. Um capacitor é um
dispositivo largamente utilizado em circuitos electrónicos capazes de armazenar cargas eléctricas

Quando uma voltagem é aplicada através de um capacitor (tipo placa), constituído de duas placas
condutoras paralelas de área A, separadas por uma distância onde existe o vácuo, uma das placas
torna-se positivamente carregada, e a outra negativamente, com o correspondente campo eléctrico
aplicado dirigido do terminal positivo para o negativo. Uma carga Q0 é acumulada em cada placa
do capacitor e é directamente proporcional à tensão aplicada e a área das placas e inversamente
proporcional á distância entre elas

Aqui o parâmetro ε0 é chamado de permissividade do vácuo (ou constante dieléctrica do vácuo)


é uma constante universal tendo o valor 8,85x10-12F/m. C0 é a capacitância do sistema cujas
unidades são Coulomb por Volt, ou Faradays (F). Um material contendo cargas altamente
polarizáveis quando colocado entre as placas de um capacitor na presença de um campo eléctrico,
influenciará acentuadamente as cargas que estão entre as placas. Com este material dieléctrico
inserido na região entre as placas (como óleo mineral ou plástico) mantendo-se a mesma tensão
aplicada V, o que acontece então com a capacitância? Alguma polarização pode ocorrer no material
permitindo um adicional de cargas armazenadas no mesmo. A variação na capacitância C é o
reflexo directo da constante dieléctrica do material

Onde Q é a carga armazenada (em Coulomb) e V é a tensão através dos condutores (ou placas).
Assim com o material dieléctrico uma carga maior Q, é acumulada entre as placas, neste caso

Onde εd é a permissividade do meio dieléctrico e será maior em magnitude que ε0. A relação
entre as Capacitâncias do sistema com o vácuo e com o dieléctrico será

A relação εd/ε0 é a permissividade relativa εr, que frequentemente é chamada constante


dieléctrica k, é maior que a unidade, para qualquer dieléctrico εr >1, e representa o incremento na

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 21


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capacidade de armazenamento de carga pela inserção de um meio dieléctrico entre as placas. A


constante dieléctrica, k, é uma propriedade do material e, deve ser uma das primeiras
características a serem consideradas no projecto de um capacitor.

Factor de Dissipação, Factor de Potência e Permissividade Relativa:

Existe uma relação entre o factor de dissipação, o factor de potência e a permissividade ou


constante dieléctrica. Todos eles dizem respeito às perdas dieléctricas num meio isolante quando
sujeito a um campo eléctrico alternado. A permissividade é representada como uma quantidade
complexa da seguinte forma:

ε* = ε´ - jε´´

onde ε* é a permissividade complexa, ε´ a permissividade real ou medida e ε´´ é a permissividade


imaginária. Na presença de um campo eléctrico alternado surge uma corrente capacitiva e uma
corrente resistiva desfasadas a 90º, uma em relação a outra.

A soma vectorial destas duas correntes representa a corrente total do sistema e o ângulo entre o
vector da corrente capacitiva e a resultante é definido como o ângulo de perdas. Sendo a relação
entre a parte imaginária e a parte real da permissividade considerada de tangente de δ

(tgδ = ε´´/ ε´),

definido como factor de dissipação e representa a perda dieléctrica no meio isolante.

O factor de potência será obtido pela determinação do seno do ângulo de perdas (sen δ) O factor
de perda dieléctrica prende-se com a incapacidade das moléculas do material isolante de se
reorientar quando sujeitos a um campo eléctrico alternado. Esta capacidade é dependente da
temperatura, do tamanho das moléculas envolvidas, da respectiva polaridade e da frequência do
campo eléctrico

O factor de dissipação e a permissividade são afectados de algum modo pelo tamanho molecular,
composição e orientação relativa de grupos funcionais dentro das moléculas. Em geral dentro de
uma série de moléculas semelhantes, a permissividade aumentará á medida que o peso molecular
aumenta.

Os factores descritos acima, são características eléctricas de materiais isolantes e podem ser
usados para a monitorização da qualidade dos mesmos relativamente à deterioração por uso e
quanto à presença de contaminantes. As propriedades dieléctricas dos materiais isolantes também
podem ser medidas e quantificadas no domínio da frequência, ou seja, com tensões alternadas
como uma função da frequência. A transição do domínio do tempo para o domínio da frequência
pode ser obtida por meio da transformada de Laplace ou transformada de Fourier. De onde resulta
após várias transformações

Ou seja do ponto de vista da susceptibilidade

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 22


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A parte real representa a capacitância do objecto de teste sendo a parte imaginária representativa
das respectivas perdas. Assim o factor de dissipação será dado por

Ou, para uma condutividade σ0 =0

Na equação abaixo;

Assumindo nula a componente imaginária, teremos para a susceptibilidade

Intensidade de Campo Disruptiva Ed ou Eb :o valor da intensidade do campo em que o


isolamento perde as propriedades dielétricas. Ed é característica do material isolante, conforme
pode -se observar na tabela abaixo.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 23


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Os campos eléctricos podem ser:

• Homogéneos: a intensidade do campo é igual em toda a região do campo eléctrico: Por


ex: Campo entre placas.
• Heterogéneos: a intensidade de campo não é a mesma em toda a região do campo.

Tensão disruptiva: A tensão em que se dá a ruptura eléctrica do isolamento (descarga disruptiva


eléctrica). A intensidade de campo resultante ultrapassa a rigidez dieléctrica do isolamento. Em
outras palavras, a distância isolante é vencida.

Tensão inicial é a tensão em que ocorrem as descargas parciais num campo heterogéneo.

Descarga disruptiva: é a descarga que se dá ao longo do caminho mais curto num isolamento de
um material. Ao caminho da distância neste caso chama-se distância disruptiva (d)

Descarga superficial; é a que se dá ao longo da superfície de separação de entre dois isolantes


num isolamento combinado. A este caminho dá-se o nome de distância superficial ou caminho de
fuga (ds).

Material Isolante é o: material que pelas suas propriedades, é usado para isolar potenciais
diferentes. Por exemplo: Vácuo; Isolantes Gasosos (ar, SF6); Isolantes Líquidos (óleo isolante);
Isolantes Sólidos (resina sintética, porcelana, vidro, mica, polietileno, cerâmica, burracha sintética
papel);

O Vácuo por exemplo, tem como propriedades: elevada capacidade de regeneração; Possui
pequena permitividade (= 1); Não tem perdas dieléctricas (= 0); Não é inflamável;Tem o valor da
tensão de ruptura elevado (E = 20 a 30 kV/mm). Como desvantagens: o precisa de isoladores
sólidos para suportar e tem elevado custo para a sua produção.

Resumindo, um bom Isolamento deve atender as 2 regras seguintes:

Regra 1: Um isolamento com campo homogéneo ou heterogéneo só cumpre a sua tarefa técnica,
quando durante o serviço não sofre descargas disruptivas. Portanto, quer a tensão disruptiva, quer
a tensão disruptiva superficial devem ser sempre maiores que a tensão de serviço. Por outro lado,
um isolamento num campo fortemente heterogéneo deveria ser dimensionado de modo a que
durante o serviço não ocorressem descargas parciais. Então, a tensão inicial deveria ser sempre
maior do que a tensão de serviço, ou seja:

Ud>Un

Regra 2: As descargas disruptivas eléctricas são resultado da fadiga das propriedades isolantes
(decomposição de materiais isolantes) causado por: Efeitos térmicos, Efeitos eléctricos, Efeitos
mecânicos, Efeitos químicos, os quais devem ser observados no dimensionamentos e operação
dos isoladores.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 24


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3.2. Dieléctricos gasosos

São cacaraterísticas de isolantes gasosos:


▪ Elevada capacidade de auto-regeneração;
▪ Portadores de carga (recombinam facilmente)
▪ Produtos de decomposição química são recuperados ou difundem –se no gás
▪ A resistência dieléctica é restabelecida rapidamente depois da descarga

3.2.1 O Ar Atmosférico

As características isolantes do ar atmosférico variam com a humidade relativa. Quando seco suas,
propriedades se aproximam muito com as do vácuo. Nas proximidades de um condutor sujeito a
uma diferença de potencial o ar se ioniza, resultando em gás condutor. Se a renovação do ar não
se efectuar ou se a diferença de potencial crescer, rapidamente o poder dieléctrico do ar poderá
ser rompido, causando assim uma perfuração do isolamento. É o ar o isolante natural, entre os
condutores de uma linha aérea, fora dos apoios.

3.2.2. Nitrogénio

É um gás de elevada estabilidade química, bom poder dieléctrico. É utilizado para manter a pressão
interna dos tanques de transformadores, reactores e outros equipamentos, acima da pressão
atmosférica e dessa forma evitar a penetração de humidade. Dada sua elevada estabilidade
química é pouco reagente, não afectando, pois, os demais meios isolantes.

3.2.3. O Gás SF6

Sintetizado pela primeira vez no ano de 1900, em Paris, teve suas pesquisas para aplicação
industrial iniciadas em 1937. Em 1939, o uso em cabos e capacitores foi patenteado. Pesquisas
para sua utilização como meio interruptor são de 1950 e equipamentos blindados e isolados à SF6
surgiram a partir de 1970. O SF6 gás é um dos gases de maior densidade (6,16 kg/m³), quase 5
vezes maior que a do ar. É um gás incolor, inodoro, não tóxico, quimicamente inerte e estável e
não inflamável. O gás apresenta propriedades térmicas e eléctricas notáveis:

• Elevada rigidez dieléctrica: a 1 atmosfera, é mais que 2 vezes a do ar ou do nitrogénio, e a 3


atmosferas é igual ao do óleo isolante.
• Alta eficácia como supressor de arco: comparativamente ao ar é 10 vezes mais eficiente, num
tempo 100 vezes menor.
• Produz enorme redução do número de electrões livres (grande afinidade electrónica do flúor),
restabelecendo a rigidez dieléctrica. Quanto à decomposição do SF6, tem-se que: Após arco o gás
SF6 tem grande capacidade de recombinação: SF6 _ S + 6F No entanto ocorre decomposição
acima de 500ºC e principalmente sob arco eléctrico.
• Os principais subprodutos são gasosos e sólidos.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 25


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• A presença de humidade e os compostos ácidos (HF). A humidade no gás SF6 pode ser
proveniente de:
• Permeabilidade da água através de o’rings;
• Difusão através de vazamentos;
• Difusão através da micro-porosidade do alumínio;
• Absorção de água pelos materiais orgânicos (graxas, haste de accionamento, isoladores
poliméricos).

3.2.4. Ruptura dos gases

A ruptura dos gases é regida pelas leis elementares dos gases, entre elas a lei de Boyle e Mariotte
e a de Gay-Lussac, de onde é derivada a principal lei fundamental da teoria dos gases (pV = nRT).
Maxwell provou verdadeira tal teoria alguns séculos mais tarde.

A temperatura ambiente e pressões normais, os gases são ótimos isolantes elétricos, isso que
resulta da radiação cósmica e substâncias radioativas presentes na terra. Essas radiações podem
transformar sua energia cinética em energia potencial sob as moléculas dos gases, ionizando-os,
e esta, é a principal forma de ruptura elétrica dos gases. Por exemplo, se um gás estiver submetido
a uma diferença de potencial muito grande, e este for ionizado, há uma tendência natural e forte de
movimento de cargas de um eletrodo para o outro, causando o “rompimento” do dielétrico e a
condução de eletricidade através do isolante.

Um cientista chamado Townsend fez observações a respeito da ruptura dos gases: um dielétrico
sobre uma “ddp” tem um movimento de elétrons entre o catodo e o anodo que aumenta até uma
estabilização da corrente, denominada “corrente de ionização”. Essa corrente é mantida até que a
tensão alcance tal valor de tensão que a corrente aumenta exponencialmente com a tensão, e daí
se dá a ruptura do isolante ou condução através do dielétrico. Essa ionização acontece devida
fotoionização causada por radiação, interação entre átomos que tem sua vida decaída em frações
de segundo e os átomos do dielétrico e devido a fatores térmicos.

Onde (n0) é o número inicial de electrões gerados no cátodo. Se (I0) for a corrente inicial do cátodo
então teremos

O valor é designado avalanche de electrões e representa a quantidade de electrões


produzidos por um electrão que se desloca do cátodo ao ânodo

α- é o primeiro coeficiente de Towsend

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 26


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3.2.5. Transição da corrente de indução

Townsend propôs um mecanismo de ruptura que explica a condução através dos gases, que está
de acordo com a equação abaixo, de onde há um ponto em que se verifica a transição da corrente
de ionização ou “corrente escura” para uma descarga auto-sustentável.

onde I0 é a corrente inicial, I a corrente instantânea passando através do cátodo, “γ ” é o segundo


coeficiente de Townsend [em número de elétrons que liberados pelo cátodo devido a incidência
de íons positivos], “d” é o comprimento do dielétrico [m], e “α” é a inclinação da reta.

Esse ponto é onde A corrente I se torna indeterminada ou o denominador se torna igual a “0”, de
acordo com a Equação

3.2.6. A força de campo de rompimento (Eb)

Uma força de campo elétrico de rompimento pode ser definida a partir do estudo de Townsend, e
está de acordo com a equação

Onde “Eb” é o campo elétrico sobre o dielétrico, também denominado por força de campo de
rompimento, “p” é a pressão sobre o dielétrico, “d” é o comprimento do dielétrico “γ ” é o coeficiente
de Townsend já citado, e “A” e “B” são constantes de ionização dos gases, “A” em par de íons [cm-
1*Torr-1] e “B” em [V/cm*Torr].

A fórmula anterior mostra que essa força é diminuída com o aumento do comprimento do dielétrico
(d), com a pressão mantida constante, porém, é principalmente função do produto (p.d) e é
incrementada lentamente com o decréscimo da pressão e acréscimo do comprimento do dielétrico.

3.2.7. Descargas parciais

Quando estudamos vários fenômenos que ocorrem nos sistemas elétricos, começam a surgir
alguns problemas de unidades e nomenclaturas que podem acarretar alguma confusão. Assim,
antes de começarmos a falar sobre as descargas parciais (DP), é conveniente fazermos alguns
comentários gerais sobre a utilização dos termos técnicos que normalmente são encontrados na
literatura. Em alta tensão todos sabem que quando temos aplicado um determinado valor de tensão

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 27


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por sobre um arranjo qualquer, automaticamente teremos tensões induzidas em outros objetos
próximos, ionização das moléculas de ar nas superfícies condutoras, geram-se sinais
eletromagnéticos e forma-se uma distribuição de campo elétrico no espaço em volta do arranjo pois
este está diretamente relacionado com a tensão aplicada. Conforme a intensidades e o
mapeamento deste campo elétrico é que surgem os diversos fenômenos com os quais nos
preocupamos em determinar as influências e intensidade. Desse modo surgem os diversos
problemas nos sistemas de transmissão tais como perda de energia, interferência nas freqüências
auditivas, ondas curtas de rádio (SW – Short Wave) e TV, corona visual, descargas parciais, como
veremos agora, e até mesmo descargas disruptivas quando o campo elétrico é suficientemente alto
para promover ionização de todo um percurso até outro elemento porventura existente nas
proximidades. “O campo eletromagnético é o responsável inicial de todos os fenômenos e conforme
o problema que queiramos resolver, nomenclaturas adequadas e grandezas são utilizadas de modo
mais conveniente”.

Figura 19: Fenômeno de descarga em gases

Todos os fenômenos anteriormente descritos ocorrem devido à ''ionização'' das moléculas de ar em


regiões onde o campo elétrico torna-se crítico e por isto este termo não é empregado para retratar
nenhum dos itens acima. A ''ionização'' apenas representa a separação dos componentes de uma
molécula neutra, conforme o quadro representado pela Figura 20.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 28


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Figura 20: Descargas parciais

Observe que o termo ''descargas parciais'' é utilizado tanto para o caso de descargas nas cavidades
de um material isolante (sólido, gás (bolha), óleo), quanto nas superfícies condutoras. Assim, uma
descarga parcial (DP) é uma descarga elétrica localizada, ou seja, que não chega a percorrer o
caminho dentro de um material isolante colocado entre dois eletrodos. Quando temos uma
determinada tensão aplicada aos terminais de um dielétrico (ar, óleo, gás, fenolite, resinas, etc.)
podem ocorrer descargas em partes deste dielétrico nos pontos onde houver maior intensidade de
campo elétrico ou onde a constante dielétrica “ε” for menor, como no caso de pequenas bolhas de
ar no interior de um isolante sólido. No caso de dielétricos sólidos estas descargas são produzidas
pela ionização de pequenas cavidades de ar no interior do dielétrico; no caso dos líquidos, pela
ionização de bolhas de gás no seu interior; no caso do ar pela ionização das moléculas de ar que
se encontram nos pontos de maior gradiente de potencial. “As DPS podem ocorrer em qualquer
ponto do dielétrico; na junção de dois dielétricos diferentes ou adjacentes ao condutor; podem
também ocorrer seguidamente em várias pontos do dielétrico”. A necessidade do ensaio de DPS
vem do fato que estas descargas são uma fonte contínua de deterioração do material isolante, ou
seja, modificam suas propriedades dielétricas, além de poderem, dependendo de sua intensidade,
gerar interferências em recepção de rádio, TV e sistemas digitais em geral. Dependendo da
intensidade das DPS, a vida útil do material será reduzida. Inclusive, um dos itens a que se propões
o ensaio de DPS é o de determinar a relação existente entre as grandezas que regem as DPS e a
vida útil do dielétrico. Outro motivo é a utilização cada vez mais freqüente dos materiais poliméricos
que envelhecem mais rapidamente sob os efeitos da ionização, conjuntamente com razões
econômicas que tendem a minimizar as espessuras isolantes.

3.2.8 Descargas através do efeito Corona

Nos campos elétricos uniformes ou quase uniformes a ionização usualmente leva ao completo
rompimento do dielétrico. Nos campos não uniformes, no entanto, várias manifestações luminosas
e sonoras são observadas muito antes de ocorrer o completo rompimento do dielétrico.

Esses fenômenos são conhecidos como “Coronas”. Esses efeitos são responsáveis por
consideráveis perdas de energia nas linhas de transmissão e leva a deterioração da isolação pela
ação combinada das descargas elétricas a composição química de certos isolantes.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 29


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O campo elétrico crítico para o efeito do fenômeno visual corona, para tensões ac, é expresso pela
teoria desenvolvida por Peek, para aplicação sobre cabos cilíndricos suspensos no ar, de acordo
com a Equação

Onde “Ec” é o módulo do campo elétrico, “r” é o raio do cabo e “δ” é a densidade relativa do ar.
Estes fenômenos normalmente interferem nos sistemas de comunicação, porém são muito
utilizados industrialmente nos dispositivos de impressão de alta velocidade, precipitadores
eletrostáticos, contadores Gêiser, etc. Os fenômenos corona visuais apresentam diferença de
acordo com a polaridade onde acontecem, sendo branco-azulados e formando superfícies sobre o
cabo nas polaridades positivas e aparecendo sobre o formato de manchas brilhantes avermelhadas
distribuídos ao longo do cabo na polaridade negativa. No entanto, tanto tensões ac como dc’s
produzem os mesmos efeitos. Nos coronas positivos, as descargas se dão na forma de “fluxos de
corrente”, com a curiosa característica de nunca se cruzarem. Essas descargas vão diminuindo até
a extinção quando alcançam pontos no dielétrico de menor campo elétrico. Nos coronas negativos,
os fenômenos visuais ocorrem sob a forma de pulsos muito regulares que recebem o nome de
“pulsos de Trichel”, por terem sido minuciosamente estudados pelo cientista Trichel. Esses pulsos
tem sua freqüência aumentada com o aumento da tensão, e dependem também da pressão, do
comprimento do dielétrico e do raio do cátodo.

3.3. Dieléctricos sólidos

Os condutores das linhas aéreas de transmissão de alta tensão bem como demais partes de
sistemas eléctricos devem ser isolados electricamente de seus suportes e do solo, o que nas linhas
aéreas e feito basicamente pelo ar que lhes envolve, auxiliado pelos elementos feitos de material
dieléctrico, denominados isoladores; É também papel do siolador, sustentar mecanicamente os
cabos condutores. Para além disso, suas superfícies devem ter um acabamento capaz de resistir às
exposições de tempo, mesmo com a atmosfera apresentando elevado grau de poluição. Na prática
estes isoladores, de comportam como capacitores nas linhas eléctricas, como pode-se observar na
figura 21.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 30


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Figura 21: Circuito equivalente de isoladores em uma linha de alta tensão

A tabela a fornece a capacitância de diversos materiais equipamentos de alta tensão

Figura 22: Capacitância de vários componentes em alta tensão

Quando os isoladores falham na sua função de não permitir a passagem de corrente dos condutores
aos apoios, é geralmente devido aos seguintes fenómenos:
a) Condutividade através da massa dos isoladores – com os materiais actualmente utilizados
no fabrico de isoladores, e acaba culminando com a quebra do material de vidro ou fissuras
no material de porcelana;
b) Condutividade superficial (Contornamento) – esta associada a acumulação de humidade,
poeiras e depósitos salinos (se perto do mar) a superfície dos isoladores. É possível atenuar
este fenómeno, conferindo aos isoladores formas e dimensões adequadas de modo a
aumentar os comprimentos das linhas de fuga, ou adicionando a propriedade de hidrofobia
nos isoladores.
c) Descarga disruptiva – resulta do estabelecimento de um arco eléctrico entre o condutor e o
apoio, através do ar que os separa, cuja rigidez dieléctrica, em determinadas situações não
é suficiente para evitá-lo. O afastamento conveniente dos condutores e apoios é um modo
de evitar este fenómeno.

O isoladores sólidos têm como propriedades:


▪ Os seus subprodutos acumulam-se formando um canal condutor permanente;
▪ A resistência dieléctrica é praticamente perdida depois de uma descarga;
▪ Não precisam de suporte
▪ Tem o valor da tensão de ruptura elevado;

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 31


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Como desvantagens, os isoladores sólidos:


▪ Não têm capacidade de auto-regeneração;
▪ Possuem valores elevados de permitividade  > 2.5 e perdas dieléctricas também elevadas
tan> 0.0001
▪ São muitas vezes combustível;
▪ A refrigeração é ineficiente

3.3.1. Porcelana

A fabricação de isoladores de porcelana exige uma tecnologia bastante avançada, a fim de se obter
corpos de composição homogénea, para não comprometer a sua rigidez dieléctrica. O seu
desempenho é bom, porém apresenta o inconveniente de dificultar a identificação de defeitos por
simples inspecção visual.

Composição da porcelana:

• Argila;
• Quartzo – componente que influi termicamente; quanto maior sua percentagem, maior é a
temperatura suportada pela porcelana;
• Feldspato – componente que define o comportamento isolante como rigidez dieléctrica, factor de
perdas, etc.
• O revestimento com verniz, cuja base é a mesma da porcelana, destina-se a vitrificar a superfície
externa da porcelana que, embora não porosa, apresenta certa rugosidade que pode ser
prejudicial durante o uso da porcelana em corpos isolantes, sujeitos à deposição de humidade,
poeira, etc. O verniz ao recobrir o corpo da porcelana o torna liso e brilhante, elevando a
resistência superficial do isolador.

Figura 23: Isoladores de porcelana


3.3.2. Vidro

Os isoladores de vidro temperado (figura 24) têm um custo de fabricação menor, tanto pelo custo de
matérias-primas, como também dos processos de fabricação. Após a sua formação eles sofrem um
tratamento térmico que os torna mais resistentes, que cria em seu interior um estado de tensão tal
que, sob acção de choques mecânicos mais fortes, estilhaçam-se, não admitindo trincas. Assim, os
defeitos destes isoladores são fáceis de identificar à distância e por simples inspecção visual. Têm
elevada rigidez dieléctrica, maior resistência mecânica e resistência a choques térmicos

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 32


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Figura 24: Isoladores de Vidro (Fonte: Arquivo e linhas da HCB)

3.3.3. Isoladores poliméricos

Os isoladores poliméricos (figura 25) são fabricados de borrachas de silicone (matéria orgânica).
Devido à característica especial de silicone, a hidrofobia, a superfície destes isoladores quando
poluída e sujeita à humidade, forma gotículas separadas (e não um caminho contínuo), minimizando
o surgimento de correntes de fuga. Apresentam, assim, bom desempenho em ambientes poluídos,
para além de serem mais resistência a sismos e a vândalos. Seu maior inconveniente reside no seu
alto custo.

Portanto, são características dos Polímeros:

• Excelente hidrofobicidade.
• Excelente resistência ao trilhamento eléctrico (tracking).
• Excelente desempenho sob poluição – o perfil e a maior distância de escoamento do isolador
permitem reduzir a corrente de fuga e, portanto as perdas de energia Resistente ao efeito de
erosão mesmo quando o isolador estiver submetido a uma forte poluição.
• Impenetrabilidade - podem ser lavados sob alta pressão.
• Resistência ao envelhecimento devido aos raios ultravioleta, temperatura, poluição, ozono, com
alta durabilidade.
• Resistente ao arco eléctrico.
• A maleabilidade das aletas de borracha, associada à elevada resistência do núcleo central e a
silhueta delgada garante incomparável desempenho destes isoladores em regiões de
vandalismo.
• Instalação rápida, simples e de menor custo.
• Pesa até 13 vezes menos que uma cadeia de isoladores convencionais

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 33


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Figura 25: isolador polimérico e fenômeno de hidrofobia (Fonte: Catalogo da LAPP)

3.3.4. Classificação dos isoladores quanto à forma de construção e quanto à montagem.

De acordo com RSLEAT, os isoladores são construídos de duas formas distintas: isoladores rígidos
e isoladores em cadeia.

Isolador rígido – é o conjunto isolador, constituído por componentes isolantes e metálicas e pelo
material ligante que as justapõe, destinado a ser fixado rigidamente a estrutura de apoio,
garantindo por si só as condições de isolamento ao condutor. Nas linhas de transporte, o material
isolante destes isoladores é feito de borracha de silicone (anti-poluição); O material ligante pode ser
o cimento, casquilho roscado, etc., enquanto os componentes metálicos podem ser o ferro de
suporte, inserção metálica, etc. Estes isoladores têm a vantagem de, para um mesmo nível de
tensão se comparados aos isoladores de cadeia, serem mais curtos e mais leves, reduzindo as
dimensões dos seus elementos de suportes, quando comparados com os isoladores em cadeia. A
sua desvantagem reside no facto de não serem articuláveis por exemplo, sob a acção do vento,
podendo facilmente partir-se. A figura 26 ilustra um isoladores rígidos.

Figura 26: Constituição de um isolador polimérico (Fonte: Catalogo da LAPP Insulators)

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 34


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Isolador de Cadeira – é conjunto iolador, constituído por componentes isolantes e metálicas e pelo
material ligante que as justapõe, destinado a ser fixado articuladamente a estruturas de apoio,
garantindo por si só, ou associado a outros idênticos, em forma de cadeia de isoladores, as
condições de isolamento docondutor. As componentes metálicas neste caso são a campânula e
espigão, enquanto o material ligante são os cimentos especiais. Estes isoladores apresentam a
vantagem de grande liberdade entre os isoladores individuais, além de permitir a fácil manutenção,
por exemplo, a troca de isoladores. As figuras 27 ilustra um isoladores de cadeia.

Figura 27: Cadeias de isoladores

O espigão é uma peça metálica, feita de aço e galvanizada com zinco, que permite a ligação com
um outro isolador ou com terminal metálico. A ligação entre o espigão e o material dieléctrico é
assegurada pela introdução de cimento na cavidade inferior da saia (o dieléctrico de propriamente
dito).

A campânula, também metálica e galvanizada, abraça a parte superior do dieléctrico, a qual é fixada
através do uso de cimento ao longo de toda a superfície. Assim, a campânula e o espigão não têm
um contacto físico. A galvanização oferece a estas peças uma protecção anti-corrosiva.

Quanto à forma de montagem, as cadeias de isoladores podem ser de dois tipos: cadeias de
suspensão e cadeias de amarração.

As cadeias de suspensão têm como função suportar os condutores e transmitir aos apoios, todos
os esforços recebidos destes. Como ilustra a figura 27, as cadeias de suspensão podem ser do tipo
I (ou tipo recto, disposta quase verticalmente) e do tipo V (dispostas à um ângulo de 45º). A cadeia

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 35


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tipo V tem a vantagem de impedir o efeito de balanço de isoladores, devido pressão lateral do vento
sobre os cabos. O Uso deste tipo de cadeia dá nome aos apoios de suspensão.

As cadeias de amarração (figura 28) têm maior capacidade de suportar esforços mecânicos, pois
devem suportar também todos os esforços transmitidos axialmente pelos cabos. Apresentam uma
configuração praticamente horizontal. Os cabos são presos às cadeias através de pinças de
amarração, dimensionados para resistir cerca de 110% à 150 % da máxima tracção de serviço.

Figura 28: Cadeia de amarração (Fonte: Arquivo Técnico da HCB)

3.3.5. Descargas por Avalanche e processo de ruptura nos sólidos

Os isolantes sólidos estão sempre presentes na alta tensão, seja como suporte mecânico ou
mesmo na separação dos condutores, porém, mesmo com o fato de que foram formuladas várias
teorias no século passado tentando explicar o rompimento dos isoladores sólidos; esses isoladores
sofrem a ação de correntes que, ao contrário dos gases, vêm de várias fontes de polarização,
iônica, eletrônica e por movimento de dipolos, que é muito lenta, e, essas correntes não apresentam
diferenças do ponto de vista de medição, dificultando o estudo de cada tipo separadamente.

Nas baixas temperaturas, se aceita que na maioria dos sólidos, a condução se dá de acordo com
a Equação

Onde “A” e “u” são constantes empíricas.

Se o material for homogêneo e as condições de temperatura forem rigorosamente controladas, são


observadas tensões elétricas muito elevadas, que surgem com tensões abaixo do limite de
isolamento do isolante, duram na ordem de 10-8[segundos], só são dependente da tensão aplicada
e da temperatura e são conhecidas como forças elétricas intrínsecas. Isso é explicado, supondo
que o stress que uma região determinada do dielétrico é muito maior que nas outras, de acordo
com a Figura 29. Essas tensões causam descargas e danificam o isolamento, sendo conhecidas
como rompimento intrínseco.

As descargas por avalanche seguem um processo similar as descargas por avalanche nos gases,
isto é, um elétron ou íon livre ganha energia através da ação do campo elétrico e perde energia na
colisão com elétrons dos demais átomos, se a energia absorvida for maior que a perdida nas

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colisões, e a energia das colisões for suficiente para retirar elétrons das bandas adjacentes de seus
átomos, este processo pode desencadear uma avalanche.

Figura 29: Processo de ruptura de dieléctricos sólidos

O rompimento mecânico é característico daqueles sólidos que podem se deformar


significantemente, de forma a alterar sua configuração mecânica, sem que haja uma fratura. Isso
acontece devido a que a pressão mecânica exercida sobre o isolante pode ser muito alta, devido a
atração dos elétrodos.

Segundo Stark e Garton, a espessura inicial, chamada módulo de Young “Y”, decresce para um
valor igual a “d” [m] quando uma tensão de módulo igual a “V” é aplicada, de acordo com a Equação

Onde o primeiro quociente representa as permissividades do ar e relativa respectivamente, “d0” é


a espessura inicial de uma espécime de material Young, que decresce a uma espessura “d” depois
da descarga.

Quando um isolante é percorrido por correntes de fuga, devido a polarização, calor está sendo
gerado continuamente no isolante, a condutividade (σ) normalmente aumenta com o aumento de
temperatura, podendo ocasionar descargas térmicas.

Estas descargas são representadas por uma certa instabilidade, ou seja, há uma tendência de
desencadear cada vez mais elétrons, pois a condução de um elétron aumenta um pouco mais a
temperatura formando uma reação em cadeia. A teoria das descargas elétricas é explicada sob a
teoria de condutividade calorífica dos materiais, a capacidade de dissipação e o sistema de
refrigeração de tais sistemas.

Quando um dielétrico sólido tem uma falha, como, por exemplo, uma bolha de ar em sua
construção, há uma tendência de que sobre essa bolha a intensidade de campo seja ainda maior
que no dielétrico em si, sendo uma fonte bastante grande de descargas, conhecidas por descargas
por erosão.

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3.3.6. Ruptura nas cavidades

Figura 30: Cavidade num isolante sólido e seu circuito equivalente

As respectivas Capacitâncias serão dadas por

A tensão de ruptura na cavidade será dada por

A tensão no dieléctrico que envolve a cavidade e que iniciará a ruptura na cavidade será dada por;

Na prática assume-se que a cavidade tem uma forma esférica, cuja intensidade dos campo eléctrico
será, para εr >> εrc

3.3.7. Formação de Arcos Em Isoladores Poluídos

A sequência de eventos a seguir mostra a influência da poluição na formação de arcos na superfície


de isoladores:

1. O isolador está coberto com uma camada de poluição seca, contendo sais solúveis ou ácidos
diluídos ou álcalis.

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2. A superfície do isolador poluído é humidificada, completamente ou parcialmente, por névoa,


chuva fina ou nevoeiro, fazendo com que a camada de poluição se torne condutora.

3. Assim que a camada poluente que cobre o isolador energizado se torna condutora, as correntes
de fuga superficiais aparecem e o aquecimento por elas provocado começa a secar parte da
camada poluente.

4. A secagem da camada poluente é sempre não uniforme, fazendo com que a camada poluente
húmida seja cortada por bandas secas que interrompem o fluxo da corrente de fuga.

5. A tensão aplicada nas bandas secas, as quais podem ter somente poucos centímetros de largura,
causa uma descarga no ar e a banda seca é atravessada por arcos que estão, electricamente, em
série com a resistência da parte não seca da camada de poluição.Se a resistência da parte seca
da camada de poluição for muito baixa, os arcos que ultrapassam as bandas secas não se
extinguem e, pelo contrário, aumentam sua extensão ao longo da superfície do isolador. Este facto,
por sua vez, diminui a resistência eléctrica em série com os arcos, aumentando a corrente e
permitindo aumentar, ainda mais sua extensão até que toda a superfície do isolador esteja coberta
ocasionando, assim, uma descarga disruptiva juntamente com o contronamento superficial.

Figura 31: Contornamento na superfície de isoladores e corrosão galvânica

Mesmo não causando uma descarga, uma das consequências mais importantes da formação dos
arcos é geração de ozono, que pode acelerar a corrosão atmosférica/galvânica e a ocorrência de
corrosão eléctrica em isoladores.

Figura 32: Problemas relacionados com a poluição de isoladores sólidos.

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3.4. Dieléctricos líquidos

Os líquidos isolantes têm como propriedades:


▪ Baixa capacidade de regeneração. São parcialmente regeneráveis;
▪ Possuem pequena permitividade,  = 2 a 2.5, e pequenas perdas dieléctricas, tan na ordem
de 0.0001;
▪ À pressão atmosférica possuem melhores propriedades dieléctricas que os gases.

Como desvantagens:
▪ Precisam de recepiente; Precisam de isoladores sólidos para suportar os eléctrodos;
▪ A maioria dos óleos minerais são inflamáveis

Os líquidos utilizados em equipamentos elétricos têm como principais funções o isolamento e a


refrigeração. Para um líquido cumprir a função de isolamento, este deve atuar como um dielétrico
ou extintor de arco entre partes de potencial elétrico diferente, para isso deve apresentar elevada
rigidez dielétrica. Para cumprir a função de refrigeração, é necessário que o fluido possua
viscosidade adequada, permitindo que o calor gerado pela parte ativa seja trocado com meio
ambiente. O oléo isolante, fabricado à base de minerais, é principalmente usado como
impregnante de condensadores de alta tensão, nos transformadores e de disjuntores,

A teoria explica a ruptura dos dielétricos líquidos como uma extensão da teoria dos gases, baseado
na avalanche de elétrons ocasionada através da ionização dos átomos causada pela colisão de
elétrons com muita energia nestes. Quando há, uma quantidade muito grande de impurezas, o
líquido tende a ter uma corrente crescente com o campo, que depois é estabilizada, e por final,
quando o campo aplicado é muito elevado, tende a uma instabilidade, ocorrendo daí a “avalanche”.
A ruptura térmica depende do campo elétrico aplicado “E”, do “caminho livre” do elétron “λ”, e do
quanta de energia “hν” perdido na ionização da molécula, “c” é uma constante arbitrária.

Impurezas sólidas, suspensas nos líquidos também ocasionam rupturas dielétricas. Isso porque
estas podem ter cargas líquidas, e ocasionar avalanches. Uma explicação plausível e aceita, é a
de que essa partícula carregada é levada ao lugar onde o campo elétrico é maior e “grad E” igual
a zero. Outras partículas sólidas carregadas são levadas a essa região, que por possuir o campo
mais elevado, têm um campo praticamente uniforme.

A ruptura de cavidade é causada por inclusões de gases dentro dos dielétricos líquidos, na forma
de bolhas. Essas bolhas causam mudanças na temperatura e na pressão do dielétrico, dissociação
de líquidos em sólidos devido à colisão dos elétrons e vaporização do líquido por efeito corona.

Onde “E0” é a “força de ruptura”, e o quociente é igual à permissividade do líquido somada de


dois. Da Equação anterior, quando “Eb” se torna igual ao campo de ionização do gás, descargas
vão ocorrer, podendo causar a decomposição d.

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Capítulo 4: Sobretensões em sistemas eléctricos de energia

Em regra geral, a tensão do regime normal de funcionamento (regime permanentente à frequência


industrial) não constitui perigo para os sistemas de isolamento dos equipamentos de potência mas
sim apenas em circunstâncias especiais, como por exemplo em condições de poluição, estas
tensões podem causar problemas para os sistemas de isolamento. No entanto, como o nível de
tensão de funcionamento determina as dimensões do sistema de isolamento que constitui parte dos
equipamentos de energia, a ocorrência de sobretensões, passa a constitui uma dificuldade acrescida
para o isolamento, podendo culminar em falhas significativas e interrupção de fornecimento de
energia.

As sobretensões, são fenómenos transitórios que podem ser originados por:

• Rejeição de carga ou geração, falhas (monofásicas, bifásicas ou trifásicas), fenômenos não


lineares como, por exemplo, ferrorressonância;
• Manobras como abertura e fecho de disjuntores e seccionadoras (energização de linhas de
transmissão, energização de transformadores, reatores e capacitores);
• Descargas atmosféricas.

Sobretensão atmosférica Sobretensão de Manobra Sobretensão Temporária


Figura 33: Diferentes tipos de sobretensões.

Para questões de simplificação, muitas literaturas dão ênfase à apenas 2 tipos de sobretensões:
• Sobretensão interna ou de manobra: surtos causados na operações do sistema eléctrico;
• Sobretensão externa ou atmosférica: surtos causadas por descargas atmósfericas

Conforme pode-se observar na figura 34:

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 41


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• Tempo de frente ou de pico T1 ou Tf ouTp – É um parâmetro virtual, definido como 1,67


x o intervalo de tempo T compreendido entre os instantes em que a tensão atinge 30% e
90% do valor de crista (ou efectivo).
• Tempo de cauda ou de descida T2– É um parametro virtual, definido como o intervalo de
tempo compreendido entre a origem convencional e o instante que a tensão atinge um
valor igual a metade do valor de crista, ou seja, tT é definido como sendo o tempo de
descida até meio valor (50%), a partir do tempo de frente.
• O valor 1,2/50 da sobretensão atmosférica, por exemplo, significa que a onda tem um tempo
de frente de 1,2 µs e um tempo de cauda de 50 µs.

Figura 34: Comparação entre sobretensão de manobra e atmosférica

Como cada sobretensão está aliada aos fenômenos que as causam bem como o seu
comportamento em termos de frequência e tempo (figura 35), IEEE (Working Group 15.08.09,
2009), classifica as sobretensões em quatro grupos:

• Sobretensões temporárias (Low-Frequency Oscillations);


• Sobretensões Transitórias de frente lenta (Slow Front Transients) ou surtos de manobra
(Switching Surges);
• SobretensTransitórias de frente rápida (Fast Front Transients) ou transitórios provenientes
de surtos atmosféricos (Lightning Surges);
• Sobretensões Transitórios de frente muito rápida (Very Fast Front Transients) ou transitórios
em sistemas isolados a gás (GIS – Gas Insulated Substations).

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Figura 35: Características das sobretensões.

4.1. Sobretensões temporárias (TOV – Temporary Overvoltage) ou Low-Frequency


Oscillations) – Oscilações de baixa frequência

Esta classe de sobretensões, é bastante semelhante à solicitação em regime permanente. Pois


possuem a mesma frequência da rede, ou são compostas por oscilações próximas da rede. Como
tal, as considerações são as mesmas que para o regime permanente. Estas sobretensões têm
origem em:

• Defeito à terra – Provoca uma sobretensão nas fases;


• Rejeição de carga ou eliminação de um defeito – Origina subida de tensão e eventual
aumento de frequência;
• Ferro-ressonância - Fenómeno não-linear complexo, originado por um circuito capacitivo
ressonante, com indutores não lineares presentes em transformadores e que provocam
sobretensões. Cuja forma de onda é irregular e possui elevado conteúdo harmónico –
Provocada pelos elementos não lineares tais como transformadores de potência e de
medição;
• Sobretensão longitudinal durante sincronização;

4.2. Sobretensões Transitórias de frente lenta (SFO - Slow Front Overvoltage or Transients)
– ou de Manobra

Esta classe de sobretensões tem origem em:

• Operações de manobra de disjuntores;


• Aparecimento e eliminação de defeitos;
• Não abertura simultânea de pólos de um disjuntor;
• Rejeição de carga;

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• Comutação de circuitos indutivos: quando se estabelecem ou interrompem circuitos


indutivos podem produzir-se impulsos de grande amplitude com tempos de subida muito
curtos. Assim, fontes típicas destas sobretensões são o comando de motores eléctricos e
transformadores, a energização de linhas de transmissão.capacitivas ou indutivas;

• Comutação de circuitos capacitivos: dado que as redes eléctricas são normalmente


indutivas, a presença de capacitâncias como condensadores ou simplesmente linhas em
vazio(efeito Ferranti), constitui um circuito ressonante LC. As manobras produzem então
sobretensões de tipo oscilatório que podem atingir cerca de 3 vezes o valor nominal. Fontes
típicas destas sobretensões são a comutação de bancos de condensadores utilizados na
regulação da tensão nas redes e correcção do factor de potência.

Normalmente, em redes com tensão abaixo dos 300 kV, as sobretensões de manobra não
representam uma solicitação determinante, no dimensionamento do isolamento. Nessas redes, as
sobretensões com origem atmosférica ultrapassam as necessidades que as sobretensões de
manobra impõem. Apesar disso, existem algumas exceções ligadas, essencialmente, com o corte
de correntes indutivas. Um exemplo, é o corte de corrente de arranque de motores elétricos. Sendo,
por vezes, necessário recorrer à instalação de descarregadores, mesmo tratando-se de redes
industriais isentas de sobretensões atmosféricas.

Os documentos, recorrem à mesma onda convencional para efeitos de ensaio. Essa onda, é a onda
normalizada de 250/2500 µs. Ou seja, com um tempo de pico de 250 µs e tempo de descida (50%)
de 2500 µs. Ambos, apresentam intervalos de valores das sobretensões de 2% (valores de
sobretensões com probabilidade de 2% de ser excedida), que podem ser esperados entre a fase e
terra, sem limitação de descarregadores de sobretensões. Esses valores são apresentados para
ligação e religação, de linhas em vazio, com fonte indutiva e mista.

A duração das sobretensões de manobra é limitada ao período de funcionamento do disjuntor e é,


em geral, inferior a 20ms. Tem um efeito mais constrangedor para o material (transformadores,
cabos) do que as sobretensões devidas às descargas atmosféricas. Os valores podem atingir 2 a 3
vezes a tensão nominal e, excepcionalmente, valores mais elevados.

4.3. Sobretensões Transitórias de frente rápida (FFO - Fast Front Transients) – ou


atmosféricas

As sobretensões atmosféricas são caracterizadas por uma corrente relativamente alta fluindo
durante um intervalo de tempo muito curto.

Portanto as sobretensões atmosféricas podem ser de 3 tipos:

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• Por indução: quando a descarga atinge o solo próximo da linha de transporte; (A carga
induzida na linha a quando da formação das nuvens é libertada causando ondas viajantes
de AT); Normalmente, as induções devidas a uma descarga atmosférica, causam
sobretensões abaixo dos 400 kV, nas linhas aéreas, tendo apenas significado para sistemas
com tensão mais baixa.
• Por falta de blindagem: quando a descarga atinge directamente o condutor de fase por falta
de cabo de guarda (ou para-raio) ou por falha da blindagem do cabo de guarda; Estas
descargas são mais drásticas;
• Por descarga de retorno: quando a descarga atinge a torre or o cabo de guarda. Devido à
elevada suportabilidade do isolamento, estas descargas são menos prováveis para as
tensões mais elevadas, sendo muito raros para sistemas com tensão igual, ou superior, a
500 kV.

As sobretensões possuem características muito peculiares, normalmente são de curta duração e


fortemente amortecidas. Os valores máximos dessas sobretensões podem chegar até seis vezes a
tensão nominal do sistema, dependendo dos parâmetros do próprio sistema, como impedância de
surto, resistência da torre, blindagem da linha de transmissão, dentre outros.

Os documentos, recorrem à mesma onda convencional para efeitos de ensaio. Essa onda, é a onda
normalizada de 1,2/50 µs.

4.3.1. Ondas viajantes em linhas de transmissão

Basicamente a descarga atmosférica caracteriza-se pela propagação de uma frente de onda de


corrente, em micro segundos, que provoca uma elevação de potencial na zona de descarga. O
fenômeno físico de propagação dessa energia de um ponto de geração até um determinado ponto
consumidor está relacionado com propagação de ondas ondas viajantes, ou ondas trafegantes.

Figura 36: Ondas viajantes

Para sistemas elétricos operando em regime permanente em torno de 60 Hz, essas ondas possuem
um comprimento maior que o comprimento físico da linha de transmissão. Isso pode ser observado
melhor pela equação

Onde:

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λ - comprimento de onda, em metros;


vp= velocidade de propagação da onda, em m/s;
f= frequência da onda, em Hz.

A velocidade de propagação pode ser determinada pela expressão:

E εr a permissividade relativa do meio onde passa a onda. Neste caso, εr =1 para o ar onde as ondas
vão passar.

para estudos da linhas em frequências mais altas que a 50 e 60 Hz, faz-se necessário o uso de
elementos R, L e C distribuídos ao longo da linha, como na verdade o são. A propagação da onda
em uma linha de transmissão, por sua vez, pode ser entendida pela conexão em cascata de circuitos
π, onde cada circuito representa uma divisão do comprimento da linha, como pode ser observado.

Figura 37: Circuito equivalente em Pi para linha de alta tensão

Quando a onga se propaga, as energias indutiva e capacitiva se tornam iguais, então a linha de
transmissão está operando com carregamento igual ao oferecido pela impedância de surto. A
impedância de surto, em Ω, pode então ser calculada igualando as equações de energia nos
elementos indutância e capacitância,

A velocidade de propagação em m/s e tempo de propagação em s, para uma linha sem perdas,
então podem ser obtidos com as fórmulas abaixo:

4.3.2. Formação de descargas atmosféricas

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Os estudos de descargas atmosféricas começaram a ser realizados em 1740 por Benjamin Franklin
após vários relatos de mortes em igrejas e estruturas altas. Os experimentos feitos por Franklin em
1746 a 1752 deram origem à haste de Franklin que foi concebida como o estado da arte da proteção
a descargas atmosféricas até meados do século 18 (começo de 1900) (HILEMAN, 1999).
O conhecimento sobre o mecanismo de desenvolvimento da descarga atmosférica é de fundamental
importância para entender os parâmetros que as caracterizam. As descargas atmosféricas provêm
de nuvens carregadas. Essas nuvens possuem cargas negativas na sua base e cargas positivas no
seu topo. A distribuição de cargas em uma nuvem pode ser vista na figura 38.

Figura 38: Distribuição de cargas em uma nuvem carregada

Pequenas porções de cargas positivas também ocorrem na base, provocando uma diferença de
potencial e ocasionando descargas internas na nuvem. Com o aumento de carga na nuvem, a
diferença de potencial da nuvem e da terra também aumenta, e isso faz com que se comece a
romper a isolação do ar (HILEMAN, 1999). O primeiro líder é formado em passo de 50μs (tempo de
propagação), em uma velocidade de 0,1% da velocidade da luz. Outros caminhos são formados por
outros líderes e rompem a isolação do ar.
Cada caminho ou passo dado pelo líder geram correntes em torno de 50 a 200 A (HILEMAN, 1999).
Um caminho adicional é criado também da terra em direção à nuvem, desse modo começa a se
formar o caminho para a descarga atmosférica propriamente dita. Quando esses caminhos se
encontram, então é gerado o líder principal que é a primeira descarga atmosférica que passa através
do canal que liga a nuvem carregada a terra. Essa primeira descarga viaja a uma velocidade de 10
a 30% da velocidade da luz e gera no canal uma variação de temperatura na ordem de 50000°F que
é em torno de cinco vezes a temperatura da superfície do sol (HILEMAN, 1999). Esse aquecimento
brusco gera ondas de choque que emitem um forte ruído, denominado de trovão. O comprimento
total do canal pode chegar, em média, a 5 ou 6 km. A primeira corrente de descarga pode exceder
200 kA, sendo que a média é 30 kA (segundo dados de Berger) (BERGER; ANDERSON;
KRONINGER, 1975). Esse processo de formação do primeiro líder e da primeira descarga
propriamente dita é apresentado na figura a seguir.

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Figura 39: Fenómeno da descarga atmosférica: (a) Primeiro passo do líder. (b) O primeiro líder
caminha em direção ao solo. (c) Formação do canal para a descarga
Após formação do primeiro canal, um novo líder começa a se formar pelo canal ionizado. Esse líder
viaja a uma velocidade em torno de 1% da velocidade da luz, que é 10 vezes maior que a velocidade
do líder principal (HILEMAN, 1999). Dessa forma quando a cabeça do líder se aproxima da terra,
um novo canal através do mesmo caminho ionizado anteriormente é formado e existe uma segunda
descarga atmosférica (subsequente) atingindo a terra com uma corrente menor que a descarga
principal (em torno de 40%) (HILEMAN, 1999). O fenômeno completo da descarga atmosférica
(flash) pode conter várias descargas subsequentes (strokes).

4.3.3. Corrente de Descarga

Normalmente, uma descarga atmosférica é modelizada por uma fonte de corrente com forma de
onda, polaridade e amplitude adequadas considerando, eventualmente, a colocação de uma
resistência de algumas centenas de Ohms em paralelo com a fonte de corrente para simular a
influência da impedância do canal de descarga. De entre inúmeras expressões matemáticas
representando funções com características de concavidade adequadas, a CIGRE propõe que a
corrente de descarga seja obtida pela adição de duas funções: uma relacionada com a frente da
onda, atingindo o máximo gradiente para 90% da amplitude, e outra relativa à cauda da onda, com
gradiente máximo no início, permitindo uma transição estável de uma curva para a outra e uma
representação correcta da cauda da onda. Na frente de onda a curva é descrita pela função I(t),
sendo as constantes A e B calculadas a partir da amplitude da corrente (IP), do tempo equivalente
de frente (Tf) e do gradiente máximo da onda (Gm), recorrendo à sequência de cálculo apresentada
nas expressões

Na zona de cauda a onda é descrita pela expressão I(t)

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4.4. Sobretensões Transitórias de frente muito rápida (VFFO -Very Fast Front Overvoltages or
Transients)

Esta classe de sobretensão, apontada apenas pela CEI, caracteriza-se por ter origem em operações
de abertura, ou defeitos, dentro de subestações isoladas a gás. Podem também, ocorrer em média
tensão, quando existem ligações curtas entre os transformadores secos e o equipamento de
manobra. A forma destas sobretensões, é caracterizada por um aumento rápido da tensão perto do
seu valor de pico, resultando num tempo de frente próximo de 0,1 µs. Para operações de abertura,
esta frente é normalmente seguida por uma oscilação com frequência acima de 1 MHZ. A duração
é inferior a 3 ms, mas pode ocorrer várias vezes. A amplitude depende da construção do
equipamento de manobra e da configuração da subestação, podendo ser limitada a 2,5 p.u. É
necessário ter a consciência que estas sobretensões podem criar outras, ainda maiores, em
equipamentos ligados diretamente, tais como transformadores.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 49


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Capítulo 5: Equipamentos de Protecção contra Sobretensões

As principais formas de proteção contra sobretensões são abaixo apresentadas:

a) Sobretensão temporária

Uma Sobretensão temporária excessiva normalmente evitada através da parametrização das


restrições operacionais; Através de critérios de planeamento e de exploração, é possível atenuar
estas sobretensões. Fatores como, os a seguir apresentados, têm influência sobre as mesmas:

• Gestão da ligação do neutro, dos transformadores: Tem influência na amplitude das


sobretensões temporárias; Recomenda-se sistemas com ligação do neutro à terra;
• Características do equipamento: Característica magnética dos transformadores de potência
e características da regulação dos grupos geradores;
• Características do sistema de proteções: Impacto na duração das sobretensões, deste tipo;
Utilização de reactâncias de compensação, condensadores série ou condensadores
estáticos;

b) Sobretensões de manobra

As sobretensões transitórias de frente lenta poderão ser controladas através da aplicação de


descarregadores de sobretensões ou outros dispositivos para a mitigação de transitórios de ligação;
A limitação destas solicitações pode ser alcançada através de processos como:

• Escolha de disjuntores isentos de disrupção de arco, no corte de correntes capacitivas;


• Escolha de disjuntores de religação (auto-recloser);
• Uso de resistências de pré-inserção nos disjuntores;
• Utilização de transformadores de medição de tensão indutivos, nas linhas, com capacidade
para descarregar a carga retida, durante o tempo de religação.

c) sobretensões atmosféricas

As sobretensões de frente rápida são controladas através de blindagem, descarregadores de


sobretensões e boas práticas na execução de ligações à terra, associadas à um bom projecto de
linhas e subestações, isto é:

• Através de um correto projeto das linhas; Dando-se especial relevo à correta aplicação de
cabos de guarda, para descargas diretas; dimensionamento adequado de isoladores (ou
cadeia de isoladores) e aplicação de hastes de descarga.
• Redução da impedância de terra dos apoios ou reforço do isolamento, para descargas
indiretas (por indução ou descarga de retorno).
• A CEI, faz ainda referência à utilização de descarregadores de sobretensão, como proteção
contra estas sobretensões.
• SPDA, Sistema de Protecção Contra Descargas Atmosféricas, tendo em conta o índice
ceráurico.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 50


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Em resumo, nas redes eléctricas actuais, são utilizados os seguintes dispositivos de protecção
contra sobretensões: 1. Hastes de guarda; Descarregadores de sobretensões; Malhas de terra;
Dimensionamento correcto de Isoladores; Cabos de guarda.

5.1. Hastes de guarda

As hastes de guarda têm uma tensão de disrupção previsível e protegem o equipamento da rede,
através do estabelecimento do arco provocado pela sobretensão transitória, criando um circuito para
escoar a corrente para a terra. Assim, o funcionamento das hastes de guarda implica um curto-
circuito e o consequente disparo da linha, o que se torna uma desvantagem na utilização deste
dispositivo de protecção contra sobretensões.

Em redes eléctricas em que o neutro não se encontra efectivamente ligado directamente à terra, a
corrente de seguimento à frequência industrial poderá extinguir-se automaticamente, sendo que em
redes eléctricas com o neutro ligado directamente à terra (correntes de defeitos mais elevadas) o
arco eléctrico só se irá extinguir se o circuito de alimentação do defeito for aberto.

Figura 40 – Hastes de descarga

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 51


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Por imposições regulamentares, as hastes de guarda só são utilizadas nas


seguintes situações:
• Até 15 kV, quando existirem mais de 4 apoios de reforço (travessias de estrada, linhas de
comunicação, linhas eléctricas, áreas públicas, etc), a cadeia de isoladores no 5º apoio deverá ser
obrigatoriamente equipada com hastes de guarda;
• De 15 Kv a 30 kV, em zonas de poluição muito forte e nas situações de reforço, bem como
nas mesmas circunstâncias do ponto anterior;
• A partir de 60 kV, em todos as situações.

.
5.2. Descarregadores de sobretensão

Os descarregadores escoam as correntes para a terra, quando são atingidos por uma sobretensão.
Para além disso, limitam a amplitude e a duração da corrente, que a rede continua a debitar, através
deles após a passagem da onda da sobretensão sem que os disjuntores tenham de atuar.
Construtivamente, os descarregadores, são constituídos por um ou vários explosores ligados em
série, com uma ou várias resistências de característica não linear, estando o conjunto no interior de
um invólucro isolante e estanque. De forma a garantir uma repartição correta da tensão aplicada,
entre os diversos elementos, recorre-se a divisores de tensão resistentes ou capacitivos.
Os descarregadores de sobretensões são aplicados nas redes de distribuição de energia eléctrica
sobretudo para proteger o isolamento não auto-regenerável dos equipamentos de uma avaria
permanente devido a uma sobretensão transitória, sendo normalmente instalados nos seguintes
locais: em transformadores de potência AT/MT; em transformadores de distribuição MT/BT;em
transições aéreo-subterrâneas; nas blindagens dos cabos isolados, quando uma das extremidade
da blindagem se encontre ligada à terra.

É possível que os descarregadores de sobretensões sejam submetidos a uma energia superior à


capacidade de dissipação do descarregador. Esta situação pode verificar-se quando uma descarga
atmosférica ocorre na proximidade do descarregador. Neste caso, toda a energia associada à
descarga é dissipada através do descarregador. Para fazer face a esta situação, os descarregadores
de sobretensões são projectados de modo a suportarem um defeito interno sem explodirem
violentamente.

Nos descarregadores com invólucro de porcelana, as extremidades metálicas do invólucro são


normalmente projectadas de modo a constituirem um dispositivo de alívio de pressão que concentra
e direcciona os gases quentes internos para um dos lados do descarregador. Um exemplo de um
dispositivo de alívio de pressão é apresentado na Figura 41. Os descarregadores deverão ser
instalados de modo a que os dispositivos de alivio de pressão sejam direccionados para um espaço
livre. Desta forma garante-se que os gases quentes são expelidos e afastados do equipamento a
proteger.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 52


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Figura 41: Descarregador com invólucro de porcelana e com indicação dos dispositivos de alívio
de pressão

Os descarregadores mais utilizados são os de carboneto de silício (SiC) – figura 42; e os de óxido
de zinco (ZnO) – figura 43.

5.2.1. Descarregadores de sobretensão de carboneto de silício

Os descarregadores de sobretensão de carboneto de silício (SiC) caracterizam-se por:

• Possuir uma ligação em série de resistência SiC e de explosores. Durante a sobretensão


ocorre uma disrupção nos explosores, que por sua vez liga os blocos de SiC à rede;
• Devido à sua característica não linear, os blocos de SiC estabelecem um circuito à terra de
baixa impedância para a sobretensão e limita a corrente de seguimento provocada pela
tensão da rede. Assim, o arco elétrico que se estabelece entre os explosores é extinto na
primeira passagem por zero, da tensão;

Figura 42 - Descarregadores de sobretensão de carboneto de silício

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 53


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5.2.2. Descarregadores de sobretensão de óxido de zinco

Os descarregadores de sobretensões de óxido de zinco (ZnO):

• São constituídos por uma coluna de pastilhas, de óxido de zinco. O seu comportamento
pode ser descrito em três regiões de condução das pastilhas (figura 43):
• Região 1: O descarregador apresenta uma característica de alta impedância para a tensão
à frequência industrial. A corrente é maioritariamente capacitiva com uma pequena
componente resistiva;
• Região 2: Inicio da condução, quando a tensão estipulada excede a tensão estipulada do
descarregador;
• Região 3: O descarregador apresenta uma característica tensão-corrente não linear. Na
figura 43, pode-se visualizar esse mesmo comportamento. Verifica-se que até à tensão
nominal (1 p.u.) o descarregador comporta-se como uma impedância elevada, quase
exclusivamente capacitiva. De 1 p.u. até 2 p.u. comporta-se como uma resistência em que
o seu valor é tanto menor quanto maior a tensão, a que está sujeito. A partir de 2 p.u. o
comportamento deixa de ser linear.
• Verifica-se que este tipo de descarregador é mais rápido na extinção do defeito, não se
notando corrente de seguimento. Este descarregador tem vindo a ser o mais utilizado,
colocando os descarregadores de carboneto de silício em desuso.

Figura 43 - Descarregadores de sobretensão de óxido de zinco

5.3. Malhas de Aterramento

Malhas de aterramento (MAs) desempenham um papel fundamental na continuidade e na operação


confiável de um sistema de energia elétrica. MAs devem fornecer um caminho de baixa impedância
para altas correntes causadas por defeitos à terra ou pelas descargas atmosféricas incidentes em
linhas de transmissão que devem ser escoadas para o solo.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 54


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MAs são projetadas para minimizar as tensões de passo e toque visando à segurança de pessoas
e a proteção dos equipamentos nas subestações elétricas e em plantas industriais.

As MAs são constituídas por um grande reticulado de eletrodos horizontais (EHs) enterrados a uma
dada profundidade e que são interligados por juntas mecânicas ou soldas em suas conexões
cruzadas (nós). Adicionalmente, diversos eletrodos verticais (VEs) (hastes) são inseridos nesses
nós ou ao longo do contorno da malha de modo a se obter a impedância mais baixa possível, o que
resulta em uma área considerável do terreno Diversos aspectos devem ser levados em consideração
para se calcular com precisão a impedância de aterramento das MAs, tais como:

• Solos estratificados;
• Variação dos parâmetros elétricos do solo (resistividade e permissividade) com a frequência,
• Acoplamento mútuo entre os condutores,
• Ionização do solo,
• o arranjo dos condutores na malha;
• Tipo de distúrbio que origina o transitório eletromagnético

Figura 44 – Tensão de passo e tensão de contacto

Tensão de passo: Máxima diferença de potencial entre os pés (adotando uma distância de 1 m) a
que uma pessoa está submetida quando se encotra na região do aterramento durante a passagem
de uma corrente elétrica.

Tensão de toque: Máxima diferença de potencial entre a mão e os pés a que uma pessoa está
submetida caso esteja em contato com uma parte métálica ligado aos eletrodos durante a passagem
de uma corrento eletrica (Considera-se ambos os pés afastados a 1 m da estrutura tocada).

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 55


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Figura 45: Diferentes formas de ligação à terra

5.4. Sistema de proteção contra descargas atmosféricas

Os SPDA (Sistema de proteção contra descargas atmosféricas) Servem para proteção de prédios,
instalações industriais, tanques, tubulações e pessoas contra as descargas atmosféricas e seus
efeitos;

Índice ceráunico – é a densidade de descargas atmosféricas ao solo ou número de trovões em uma


região por ano.

Os SPDA são compostos por para-raios e dispositivos instalados nos pontos mais altos das
instalações e estruturas, proporcionando um caminho para terra de menor resistência elétrica
possível. Assim, oferece um caminho para corrente criada pela descarga atmosférica fluir em direção
a terra, sem danificar equipamentos ou estruturas, além de proteger as pessoas dentro da
instalação.

O objetivo de uma blindagem contra descargas atmosféricas em uma instalação, sendo esta uma
linha de transmissão ou uma subestação, é evitar que descargas atmosféricas de alta intensidade
atinjam os seus condutores de fase. No caso de subestações, são comumente usados cabos de
blindagem em todos os pórticos da subestação, ao longo da extensão da subestação, de forma
longitudinal e transversal. Dessa forma, a região de atração da descarga atmosférica (explicado a
seguir) se torna quase zero para os cabos condutores da subestação. Por esse motivo, em estudos
de coordenação de isolamento não se considera a possibilidade de falha de blindagem em
subestações, pois a probabilidade de uma descarga atmosférica atingir um cabo condutor da
subestação é muito baixa. Somente são consideradas falhas de blindagem em linhas de
transmissão.

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Figura 46 - SPDA

5.5. Cabos de guarda

O cabo,é segundo o RSLEAT, um cabo nú colocado, em regra, acima dos condutores de uma linha
aérea e ligado à terra dos apoios..

Nas linhas de transporte, dependendo da disposição dos condutores, pode-se usar um ou 2 cabos
de guarda. Nas linhas de média tensão é comum substituir os cabos de guarda por para-raios.

A função principal dos cabos de guarda nas linhas aéreas de transmissão, é a de interceptar as
descargas atmosféricas e evitar que atinjam os condutores, reduzindo assim as possibilidades de
ocorrerem interrupções no fornecimento de energia. A existência destes cabos permite que as terras
dos diversos apoios estejam ligadas entre si, possibilitando um melhor escoamento das correntes
de defeito por todos os apoios da linha Além disso, contribuem na redução da indução (da ordem
dos 15% a 25%) em circuitos de telecomunicações estabelecidos nas vizinhanças da linha, fazem a
interligação dos circuitos de ligação a terra dos apoios e podem ainda incluir circuitos de
comunicação (voz, dados) com fibras ópticas.
Os cabos de guarda são executados com cabos de aço zincado ou inoxidável, ou de qualquer dos
materiais admitidos para os condutores. A sua secção é estabelecida para que a sua temperatura
não ultrapasse 170ºC quando atravessada, durante 0,5 s por uma corrente igual a 75% da corrente
de defeito fase-terra

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Os cabos de guarda são, geralmente, estabelecidos na parte mais alta dos apoios e ligados a terra
através desses apoios, de acordo com as seguintes recomendações:

a) Havendo um só cabo de guarda, é estabelecido por forma a que os pontos de fixação de


todos os condutores fiquem dentro de um ângulo de 20ºC com vértice no ponto de fixação
do cabo de guarda e a bissectriz na vertical.
b) Havendo dois cabos de guarda, são estabelecidos para que cada um dos condutores fique
relativamente equidistante a algum dos cabos de guarda, nas condições do ponto anterior.

Figura 47 – Posição de cabo de guarda

5.6. Mitigação de Poluição de Isoladores

Existem vários métodos empregues para mitigar ou eliminar por completo o efeito da poluição em
isoladores cerâmicos, onde se destacam:

Melhorar a Configuração: A distância de fuga de um isolador pode ser ajustada de forma a mitigar
os fenómenos ambientais. Geralmente as configurações são optimizadas aerodinamicamente para
facilitar a auto-limpeza através da acção do vento e da chuva.

Limpeza Periódica: Em muitas instalações são utilizados sistemas de jacto de água a alta pressão
para a limpeza da superfície de isoladores, sendo de longe o mais barato.

Aplicação de Gel/Graxa: O processo de revestimento das superfícies do isolador com gel ou graxas
é utilizado em áreas de contaminação severa. Na maior parte dos casos, a remoção e aplicação da
graxa é uma operação manual. Sendo um processo lento e que requer paralisações de circuito.

Aplicação de RTV: Revestimentos de silicone (RTV) são cada vez mais aplicados com maior
frequência em subestações e cadeias de isoladores. Estudos mostraram que este tipo de
revestimento é de grande eficácia no combate aos fenómenos de poluição.

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Esmalte Resistivo: Isoladores de esmalte resistivo são frequentemente utilizados para aliviar os
fenómenos de poluição em regiões com altos índices de poluição. A sua utilização resulta num
campo eléctrico de distribuição uniforme que leva ao aquecimento da respectiva superfície, inibindo
a formação de humidade.

5.6.1. Dimensionamento de cadeia de isoladores face à poluição

O Comprimento da linha de fuga (LCD) é a distância mínima ou a soma das distâncias mínimas
entre duas partes metálicas com diferentes potenciais ao longo da superfície de um isolador (figuras
33 e 34).

O comprimento específico de linha de fuga (SCD, do inglês Specific Creepage Distance) é o


comprimento de linha de fuga total dividido pela tensão máxima de isolamento do sistema, portanto

tem como unidade 𝑚𝑚/𝑘𝑉.

Figura 48: Comprimento da linha de fuga (linha vermelha) de um isolador

Figura 49: Comprimento da linha de fuga (linha vermelha) de uma saia de isolador de vidro

Pretende-se que a linha de fuga seja suficientemente longa de tal forma que dificulte a passagem
de correntes de fuga que se estabelecem entre os terminais dos isoladores, especialmente quando
a superfície fica sujeita a uma camada condutora devido à poluição envolvente.

O aumento de número de isoladores na cadeia, que consequentemente aumenta o comprimento da


cadeia, permite a extinção da corrente de fuga, antes que ocorra um contornamento. Esta solução
é mais adequada para cadeias de isoladores de vidro, pois no caso de os isoladores poliméricos
(rígidos), há necessidade de retirar todo o conjunto e montar um novo, com maior comprimento.

Estudos recentes, recomendam o dimensionamento da quantidade de isoladores a compor numa


cadeia utilizando a norma IEC 60815. Esta última norma estabelece a relação entre o nível de

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poluição da zona por onde passa a linha e o comprimento da linha depara tal, usa-se o seguinte
procedimento:

Passo 1: Atribui-se um nível de poluição para as linhas, após um estudo do campo, e baseando-se
na tabela apresentada na tabela abaixo;
Distância de fuga
Poluição
Nível de

específica (SCD)
𝒎𝒎
DESIGNAÇÃO [ ]
𝒌𝑽
AC (fase-
DC
fase)
• 10-50 km do mar, de um deserto, ou de uma zona seca aberta;
• 5-10 km a partir de zonas de poluição de origem humana;
Suave (I)

• Dentro de uma distância menor que mencionada acima mas 16 20


prevalecendo vento não directamente a partir dessas fontes de
poluição e/ou com chuvas mensais regulares;
• 3-10 km do mar, de um deserto, ou de uma zona seca aberta;
• 1-5 km a partir de zonas de poluição de origem humana;
Média (II)

• Dentro de uma distância menor que mencionada acima mas 20 24


prevalecendo vento não directamente a partir dessas fontes de
poluição e/ou com chuvas mensais regulares;
• Dentro de 3 km do mar, de um deserto, ou de uma zona seca
aberta;
Elevada (III)

• Dentro de 1 km a partir de zonas de poluição de origem humana;


• À uma distância maior em relação as acima referidas das fontes 25 31
de poluição mas com nevoeiro ocorrendo depois de uma longa
época de acumulação de poluição seca e/ou uma chuva
ocorrendo com alta condutividade.
• Com todas as distâncias referidas na poluição elevada e
Muito elevada

directamente sujeita à sopros do mar ou nevoeiro denso salino,


ou ainda directamente sujeito à poluentes de alta condutividade
como carvão, poeira de cimento de alta densidade associados à 31 38
frequentes humidades;
• Áreas desertas com rápida acumulação de areia e sal e
(IV)

condensação regular

Figura 50: Relação entre Nível de Poluição e Distância de fuga específica

Passo 2: Conhecendo o tipo de tensão (AC ou DC), obtém-se, da tabela 3 o comprimento específico
da linha de fuga (SCD)

• Conhecendo a tensão nominal da linha (Un ), calcula-se a tensão máxima eficaz de isolamento
(Um ), através da fórmula abaixo (10% acima da tensão nominal).
𝐔𝐦 = 𝟏, 𝟏. 𝐔𝐧 , [𝐤𝐕]
• Calcula-se o comprimento total da linha de fuga total da cadeia de isoladores (LCD), pela
fórmula abaixo.

𝐋𝐂𝐃 = 𝐒𝐂𝐃. 𝐔𝐦 , [𝐦𝐦]

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 60


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• Após ter escolhido o tipo de isolador a compor na cadeia, consulta-se o correspondente


catálogo do fabricante para obter o comprimento da linha de fuga do isolador (ou
simplesmente a linha de fuga do isolador, conforme ilustra a tabela 4 (fornecida pelasas linhas
da HCB), em seguida calcula-se o número de isoladores (N) na cadeia, pela abaixo,
arredondando sempre o resultado obtido.

LCD
N=
k
Onde:

N – é o número de isoladores necessários para compor a cadeia de isoladores;

k – é a linha de fuga de cada isolador; tem como unidade, o mm, fornecido em tabelas

Tensão nominal +/- 533 Kv (DC) 220 Kv (AC)


MONTAGEM Suspensão Amarração Suspensão/Amarração
U160F21 U70FN04
ISOLADOR U160 MIVA RODUFLEX
(F16P13) (1512L)
SEDIVER- SEDIVER- LAPP
FABRICANTE SEDIVER
ACQUIS DIELVE Insulators
Vidro Vidro
Vidro
(Longa antipoluição Polimérico
MODELO (Coberto de
linha de (Longa linha (de silicone)
Silicone)
fuga) de fuga)
DIÂMETRO 330 mm 320 mm 254 mm 200 mm
K – linha de fuga do
554 mm 510 mm 292 mm 4900 mm
isolador
CARGA DE
160 kN 160 kN 10000 kg 120 kN
RUPTURA
PESO APROX. 9,5 kg 7,4 kg 3,7 20 kg

Figura 51: Características de isoladores incluindo a linha de fuga

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 61


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Capítulo 6: Coordenação de Isolamento

Coordenação de isolamento é a seleção da rigidez dielétrica do equipamento relativamente à


tensão de operação e sobretensões a que os equipamentos podem ser expostos tendo em conta o
ambiente de serviço e características dos dispositivos de proteção;

A coordenação de isolamento constitui uma fase de projeto de importância capital em instalações


de transporte e distribuição de energia elétrica. Durante o período de funcionamento os
equipamentos do sistema são sujeitos a diversos tipos de sobretensões, com origem interna ou
externa ao sistema. Estas provocam solicitações dielétricas nos equipamentos de tal forma que
podem levar à disrupção dos mesmos ou até mesmo à sua destruição, o que coloca em causa a
fiabilidade e a continuidade de serviço do sistema. Assim sendo é importante conhecer o tipo de
solicitações dielétricas existentes no sistema, assim como as suas amplitudes expectáveis, com
vista à seleção dos níveis de isolamento que garantam a melhor relação técnico-económica.

O isolamento de um determinado equipamento é exposto às mais variadas solicitações dieléctricas


e ambientais, classificando-as de acordo com a sua duração temporal, e como foi visto no capítulo
4 (tipos de sobretensão).
No que diz respeito à proteção contra sobretensões, os equipamentos podem agrupar-se em
dispositivos de proteção activa e passiva. Em termos de proteção activa temos os explosores, hastes
de guarda, e descarregadores de sobretensões. No que diz respeito à proteção passiva temos os
isoladores e os cabos de guarda. No entanto, numa subestação, por exemplo, podem encontrar-se
diversos tipos de isolamento, nomeadamente:
• Distâncias no ar;
• Colunas e cadeias de isoladores;
• Isolamentos internos externo

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 62


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Isolamento externo – é a distância no ar, e da superfície do equipamento sólido em contacto com


o ar que está sujeita a solicitações dielétricas e condições ambientais do local, como poluição,
humidade, etc. A tabela a seguir ilustra níveis de isolamento externos.

Isolamento interno – é a distância do isolamento sólido, líquido ou gasoso do equipamento que


está protegido dos efeitos atmosféricos; A tabela abaixo fornece níveis de isolamento interno de
transformadores.

Isolamento auto-regenerativo – é o isolamento que, após um curto período de tempo, recupera


totalmente as propriedades dielétricas no seguimento de um contornamento durante um ensaio.

Isolamento não auto-regenerativo – é o isolamento que, após um contornamento, num ensaio,


não recupera total ou parcialmente as características dielétricas; observe que as definições
consideram contornamento causado por tensão de ensaio durante um ensaio dielétrico. Contudo,
contornamentos em serviço podem causar perdas de propriedades dielétricas em isolamento auto-
regenerativo.

Tensão nominal do sistema, UN – é o valor aproximado da tensão utilizada para designar ou


identificar o sistema;

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 63


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Tensão mais elevada de um sistema US – é o valor de tensão mais elevado de operação entre
fases (valor eficaz) que ocorrer sobre condições normais de operação, em qualquer instante ou
ponto do sistema;

Tensão mais elevada para equipamento Um – é o valor de tensão mais elevado entre fases (valor
eficaz) para o qual um equipamento é projetado com respeito ao seu nível de isolamento. Sobre
condições de serviço especificadas pelo fabricante, esta tensão pode ser aplicada continuamente
ao equipamento. Normalmente esta tensão corresponde à um incremento de 15% a 20% da tensão
de serviço.

Nível de proteção contra impulsos – é o valor máximo de pico de tensão permitido aos terminais
de um dispositivo de proteção sujeito a impulso de manobra ou descarga atmosférica sobre
determinadas condições.

Nível de isolamento normalizado – é o conjunto de tensões suportáveis estipuladas normalizadas


que estão associadas a Um (Um - Tensão mais elevada para equipamento). o nível de isolamento
é dado pela tensão suportável ao choque atmosférico e pela tensão suportável a 50 Hz, durante 1
minuto e é definido pelas tensões suportáveis ao choque atmosférico e ao choque de manobra.

A tabela abaixo fornece alguns níveis de isolamento normalizados.

Tensão nominal, Un Tensão mais elevada Tensão suportável à Tensão suportável


para o equipamento, frequência industrial ao choque
[KV eficaz) Um [KV eficaz] de curta duração [KV atmosférico [KV
eficaz] pico]

Tensão suportável de coordenação Ucw - para cada classe de tensão, valor suportável da
configuração de isolamento que, em serviço, garante o critério de desempenho. A sua determinação
consiste na seleção do mais baixo valor de tensão suportável do isolamento que garante o critério
de desempenho, quando sujeito à sobretensão representativa sobre condições de serviço. Tem a
mesma forma da sobretensão representativa, e é obtido multiplicando a última pelo fator de
coordenação. Este depende da precisão da avaliação das sobretensões representativas e na
avaliação da distribuição das mesmas. A tensão suportável de coordenação pode ser considerada
convencional ou estatística, dependendo do tipo de método utilizado

Tensão suportável requerida Urw – é a tensão de ensaio que o isolamento deve suportar num
ensaio de tensão suportável para assegurar que o isolamento garante o critério de desempenho
quando sujeito a uma dada classe de sobretensões em condições de serviço e durante todo o
período de serviço. A tensão suportável requerida tem a mesma forma da tensão suportável de
coordenação, e é especificada com referência a todas as condições do teste de tensão suportável
selecionadas para a verificar. A determinação da tensão suportável requerida Urw Consiste na

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 64


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conversão da tensão suportável de coordenação para as condições de ensaio normalizadas


apropriadas. Isto é cumprido multiplicando a tensão suportável de coordenação por fatores que
compensam as diferenças entre condições de serviço do isolamento e as dos ensaios de tensão
suportável normalizados. Os fatores a aplicar devem compensar condições atmosféricas, Kt , e mais
uma série de efeitos unidos num fator de segurança, Ks . Os efeitos considerados pelo fator de
segurança Ks são: diferenças na assemblagem do equipamento; dispersão na qualidade dos
produtos; qualidade da instalação; envelhecimento do isolamento durante o seu período de vida
expectável;

Sobretensões representativas Urp – é a sobretensão que se assume ter o mesmo efeito dielétrico
no isolamento que uma sobretensão de uma dada classe que ocorre em serviço de diversas origens;
Consistem em tensões com forma padrão de uma classe, e pode ser definida por um valor ou
conjunto deles, ou distribuição de ocorrência de valores que caracteriza as condições de serviço.

Tensão suportável estipulada normalizada Uw (withstand voltage) – é o valor normalizado da


tensão estipulada, ou seja - o valor da tensão de ensaio, aplicado num ensaio de tensão suportável
que prova que o isolamento cumpre com uma ou mais tensões suportáveis requeridas, ou seja valor
de tensão de ensaio durante o qual um determinado número de contornamentos (disruptive
discharge) é tolerado. É o valor estipulado de isolamento de um equipamento.

Fator de coordenação Kp ou Kc – é o valor pelo qual a sobretensão representativa é multiplicada


para obter a tensão suportável de coordenação;

Fator de correção atmosférica Kt – é o fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenamento


para compensar a diferença na rigidez dielétrica entre as condições atmosféricas médias em serviço
e as condições atmosféricas de referência padrão. Aplica-se apenas para isolamento externo.

Fator de correção de altitude Ka – é o fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenação


para compensar a diferença na rigidez dielétrica entre a pressão média correspondente à altitude
em serviço e a pressão de referência padrão.

O procedimento para a coordenação de isolamentos consiste na seleção da tensão mais elevada


para o equipamento juntamente com a um correspondente conjunto de tensões suportáveis
estipuladas normalizadas que caracterizam o isolamento do equipamento necessário à aplicação,
conforme mostra a figura. O conjunto de tensões normalizadas selecionadas constitui o nível de
isolamento estipulado.

Kp = 1,15

Kp - Considera-se uma margem de segurança de 15% para o equipamentos em média tensão,


podem chegar a 20% em muito alta tensão.

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Figura : Procedimento para coordenação de isolamento

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 66


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Gama de tensões mais elevadas para o equipamento

As tensões mais elevadas para o equipamento são divididas em duas gamas de valores:

Gama I: Entre 1kV e 245kV inclusive (figura abaixo). Esta gama cobre tanto sistemas de distribuição
como de transmissão. Os diferentes aspetos de operação devem ser tidos em consideração na
seleção do nível de isolamento estipulado para o equipamento.

Gama II: Acima de 245kV . Esta gama cobre, essencialmente, sistemas de transmissão.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 67


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Distância entre Condutores


Este isolamento, fase-fase, deverá ser realizado de forma a garantir que, em regime permanente,
não haja possibilidade de disrupção, entre fases, mesmo quando os condutores são deslocados pelo
vento. Deverá também assegurar que quando sob solicitações, de frente lenta ou de frente rápida,
não há disrupção.
Para obtenção destas distâncias é baseado nas recomendações do regulamento. Onde é sugerido
a utilização da seguinte expressão:

Onde:
f – Flecha máxima dos condutores, em metros;
d - Comprimento da cadeia de isoladores, em metros;
U – Tensão nominal da linha, em kV;
k– Coeficiente dependente da natureza dos condutores (K=0,6 para condutores de cobre, bronze,
aço e alumínio-aço; K=0,7 para condutores de alumínio e ligas de alumínio).
No entanto, para qualquer dos casos, a distância nunca deverá ser inferior a 1cm/kV, com um
mínimo de 0,50m.

Através da expressão, considerando k=0,6, apresenta-se as seguintes distâncias mínimas, entre


condutores.

Recomendações CEI para as distâncias de isolamento mínimas em linhas aéreas

Tensão nominal, Un Tensão mais elevada Tensão suportável Distância mínima de


para o equipamento, ao choque isolamento [mm]
[KV) Um [KV] atmosférico [KV]

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Recomendações CEI para as distâncias de isolamento mínimas em linhas aéreas

Tensão nominal, Un Tensão suportável Distância de Distância de


ao choque isolamento mínima isolamento mínima
[KV) atmosférico [KV] fase-terra [mm] fase-fase [mm]

Distância entre Condutores e Cabos de Guarda


Mais uma vez, a REN, segue as recomendações do RSLEAT. Onde é definido que a distância
mínima entre condutores e cabos de guarda, próximo da fixação dos apoios, não deverá ser inferior
à distância entre condutores. No entanto, nos casos onde a flecha dos cabos de guarda é inferior à
dos condutores, a distância poderá ser reduzida. Mas, com o cuidado de se verificar que a distância
entre condutores e cabos de guarda, a meio vão e nas condições de flecha mínima, é a calculada
anteriormente.

Distância de protecção dos descarregadores de sobretensões


As sobretensões transitórias de origem atmosférica, ou de manobra, propagam-se ao longo dos
condutores, de acordo com a teoria de propagação de ondas, ocorrendo reflexões quando ocorre
uma alteração de impedância característica. Tensões superiores à sobretensão incidente poderão
ocorrer devido a sobreposição das ondas. De acordo com a teoria de propagação de ondas, as
características de protecção dos descarregadores são apenas válidas no ponto onde estes são
instalados. A protecção contra sobretensões poderá ser insuficiente se a distância de protecção
entre o descarregador e o equipamento a proteger for excedida, sendo então necessário colocar o
descarregador mais próximo do equipamento.
A distância de protecção dos descarregadores pode ser definida de acordo com o esquema
apresentado e pela fórmula que se segue.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 69


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Onde:
d - distância máxima de de separação entre o ponto de ligação do descarregador à linha e o
equipamento a proteger [m];
dA - altura do descarregador [m];
d1 - comprimento do condutor de ligação do descarregador à linha [m];
d2 - comprimento total do condutor de terra do descarregador [m] (Nota: Em subestações este
comprimento poderá ser superior à altura da estrutura de suporte visto que os condutores de terra
são normalmente isolados para permitir a instalação de contadores de descargas);
Ures - tensão residual do descarregador [kV]. Este valor é obtido a partir do ensaio à onda de choque
atmosférico 8/20 μs, e uma amplitude de 10 kA;
Uw - tensão suportável ao choque atmosférico do transformador [kV];
Kp - factor de segurança [pu]
S - escarpamento da sobretensão incidente [kV/μs]. Um valor conservador entre 600 e 1500kV/μs
poderá ser tido em conta;
υ - velocidade de propagação da sobretensão incidente [m/μs]. Para condutores de linhas eléctricas
aéreas no ar – 300 m/μs, para cabos isolados subterrâneos – 150 m/μs.
A amplitude da tensão aos terminais do transformador (UT) é dependente das características do
descarregador e do comprimento das ligações entre este e o transformador. Esta distância é dada
pela soma dos comprimentos dos condutores de ligação do descarregador à linha e desse ponto
para o transformador, isto é, d1+d na figura

Distâncias de isolamento a outros equipamentos de Alta Tensão na mesma fase


Se um equipamento for instalado muito próximo de outro, pode dar-se a situação em que a
distribuição do campo eléctrico na superficio do invólucro isolante é perturbada, originando uma
degradação do desempenho eléctrico dos equipamentos. Os descarregadores de sobretensões são
especialmente vulneráveis a esta situação. Em condições normais de funcionamento, a distância
entre o descarregador e outro equipamento ligado à mesma fase, por exemplo, travessias de
transformadores ou isoladores de suporte, não é normalmente importante. No entanto, na presença
de poluição, a distribuição do potencial na superfície do isolador poderá tornar-se não uniforme,
criando tensões elevadas entre o invólucro do descarregador e o isolador do equipamento. A
distância mínima de isolamento entre o terminal de linha (parte activa, ou seja, em tensão) do
descarregador de sobretensões e o terminal de alta tensão do equipamento, deverá ser metade da
distância de isolamento fase-terra, de acordo com o apresentado na Figura

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 70


MANUAL DE TÉCNICAS DE ALTA TENSÃO

Distância entre Peças em Tensão e Apoio


É necessário assegurar que para cada apoio, de uma determinada linha, existe um afastamento
mínimo entre as peças em tensão, como cadeias de isoladores e condutores. Essa distância, deverá
ter em consideração os efeitos do vento, esforços eletrodinâmicos, etc. Ou seja, qualquer tipo de
efeito que possa provocar uma aproximação entre as peças em tensão e o apoio. A REN adota o
seguinte critério: • Sem vento, a distância entre peças e apoio deve garantir uma tensão suportável
ao impulso atmosférico 10% acima da cadeia; • Com vento, a distância entre peças, de uma cadeia
desviada pelo vento, e o apoio deve garantir uma tensão suportável, aos 50 Hz, 10% acima da
tensão suportável da cadeia sob chuva.

As expressões recomendadas são:

, para condutores nús em repouso

,para condutores nus, desviados pelo vento

D - representa a distância mínima a cumprir, em metros. U é a tensão nominal da linha, em Kv


De forma a facilitar, esses valores são fornecidos em tabelas, como se observa a seguir.

Eng. Fernandes Tacula, Unirovuma, 2022 71

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