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EVENTO: CULTO
DATA: 23/7/2017

TÍTULO: Precisamos sair do Egito!!


TEXTO BÍBLICO: Nm 14

Introdução:

Vamos fazer a Leitura do Cap 14 de Números. É uma leitura um pouco


longa, mas extremamente importante... Peço que fiquem sentados para
o conforto do corpo, mas agucem os ouvidos do seu coração para ouvir
o que o Espírito diz a igreja nesta noite!!

Números 14

1 Então toda a congregação levantou a sua voz; e o povo chorou


naquela noite.

2 E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão;


e toda a congregação lhes disse: Quem dera tivéssemos morrido na
terra do Egito! ou, mesmo neste deserto!

3 E por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada, e
para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos
seria melhor voltarmos ao Egito?

4 E diziam uns aos outros: Constituamos um líder, e voltemos ao Egito.

5 Então Moisés e Arão caíram sobre os seus rostos perante toda a


congregação dos filhos de Israel.

6 E Josué, filho de Num, e Calebe filho de Jefoné, dos que espiaram a


terra, rasgaram as suas vestes.

7 E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra


pela qual passamos a espiar é terra muito boa.

8 Se o Senhor se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la


dará; terra que mana leite e mel.
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9 Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o


povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu
amparo, e o Senhor é conosco; não os temais.

10 Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória


do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de
Israel.

11 E disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo? e


até quando não crerá em mim, apesar de todos os sinais que fiz no
meio dele?

12 Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei; e te farei a ti povo maior e


mais forte do que este.

13 E disse Moisés ao Senhor: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto


com a tua força fizeste subir este povo do meio deles.

14 E dirão aos moradores desta terra, os quais ouviram que tu, ó


Senhor, estás no meio deste povo, que face a face, ó Senhor, lhes
apareces, que tua nuvem está sobre ele e que vais adiante dele numa
coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite.

15 E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que


antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo:

16 Porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhe tinha
jurado; por isso os matou no deserto.

17 Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça;


como tens falado, dizendo:

18 O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a


iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e
visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta
geração.

19 Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua


misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do
Egito até aqui.

20 E disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei.

21 Porém, tão certamente como eu vivo, e como a glória do Senhor


encherá toda a terra,
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22 E que todos os homens que viram a minha glória e os meus sinais,


que fiz no Egito e no deserto, e me tentaram estas dez vezes, e não
obedeceram à minha voz,

23 Não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que
me provocaram a verá.

24 Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e


perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua
descendência a possuirá em herança.

25 Ora, os amalequitas e os cananeus habitam no vale; tornai-vos


amanhã e caminhai para o deserto pelo caminho do Mar Vermelho.

26 Depois falou o Senhor a Moisés e a Arão dizendo:

27 Até quando sofrerei esta má congregação, que murmura contra


mim? Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel, com que
murmuram contra mim.

28 Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor, que, como falastes aos meus
ouvidos, assim farei a vós outros.

29 Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os


que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos
para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes;

30 Não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria
habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.

31 Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, porei nela; e
eles conhecerão a terra que vós desprezastes.

32 Porém, quanto a vós, os vossos cadáveres cairão neste deserto.

33 E vossos filhos pastorearão neste deserto quarenta anos, e levarão


sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se
consumam neste deserto.

34 Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta


dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas
iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu afastamento.

35 Eu, o Senhor, falei; assim farei a toda esta má congregação, que se


levantou contra mim; neste deserto se consumirão, e aí falecerão.

36 E os homens que Moisés mandara a espiar a terra, e que, voltando,


fizeram murmurar toda a congregação contra ele, infamando a terra,
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37 Aqueles mesmos homens que infamaram a terra, morreram de praga


perante o Senhor.

38 Mas Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, que eram dos
homens que foram espiar a terra, ficaram com vida.

39 E falou Moisés estas palavras a todos os filhos de Israel; então o


povo se contristou muito.

40 E levantaram-se pela manhã de madrugada, e subiram ao cume do


monte, dizendo: Eis-nos aqui, e subiremos ao lugar que o Senhor tem
falado; porquanto havemos pecado.

41 Mas Moisés disse: Por que transgredis o mandado do Senhor? Pois


isso não prosperará.

42 Não subais, pois o Senhor não estará no meio de vós, para que não
sejais feridos diante dos vossos inimigos.

43 Porque os amalequitas e os cananeus estão ali diante da vossa face,


e caireis à espada; pois, porquanto vos desviastes do Senhor, o Senhor
não estará convosco.

44 Contudo, temerariamente, tentaram subir ao cume do monte; mas a


arca da aliança do Senhor e Moisés não se apartaram do meio do
arraial.

45 Então desceram os amalequitas e os cananeus, que habitavam na


montanha, e os feriram, derrotando-os até Hormá.

O texto que acabamos de ler retrata uma realidade que não ficou
apenas na simbologia histórica do povo de Israel ou em algumas
páginas perdidas entre as várias histórias da bíblia encontradas no AT
e, que muitas vezes, negligenciamos pelas inúmeras citações de nomes
e números, o que acaba tornando o texto enfadonho e nos impede de
proceder a leitura desta parte da bíblia. Porém, devemos lembrar a todo
tempo que:
Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar,
para repreender, para corrigir, para instruir em justiça;
para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente
preparado para toda boa obra.
2 Timóteo 3:16,17
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O Cap 14 do livro de Números é sobre vários aspectos um marco, o


início de uma nova fase para o povo que acabara de sair do Egito, que
é recorrentemente citado murmurando contra Deus e contra Moisés.
Esta prática, a bíblia relata, fez Deus se irar algumas vezes e também
fez Moisés pensar em desistir várias vezes.

Para contextualizar, o Cap 14 é o triste desfecho do Cap 13, em que


Deus ordena que os representantes das tribos de Israel subam para
espiar a terra que o Senhor havia prometido para Abraão, Isaque e
Jacó, a terra de Canãa. Ao cabo de 40 dias, voltam com um relato que
confirma tudo que Deus havia dito sobre a terra, porém, a maioria fica
acovardada diante da possiblidade de ter que enfrentar os povos que
dominavam aquela terra...
Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos
gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim
também éramos aos seus olhos. (Números 13:33)

Às vezes fazemos o mesmo: confiamos em Deus nos casos menos


importantes, mas duvidamos da sua habilidade em resolver as
situações mais difíceis, que nos dão medo, os grandes problemas, as
grandes decisões. Devemos continuar a confiar nEle, lembrando-nos do
que já fez em nossa vida. Quando nos vemos como gafanhotos entre
gigantes, aí é que precisamos reforçar a nossa confiança em Deus!

Faltou-lhes fé, mesmo estando sob a ordem de um Deus que havia,


até então, operado a maior sequencia de milagres e manifestações
registradas em toda a Bíblia. De Gênesis a Apocalipse, não se tem
nada semelhante em atuação, manifestação e ação direta de Deus em
nenhum outro momento da história da humanidade. Vamos falar um
pouco disso mais tarde.

Como punição pela falta de fé, a condenação de que vagariam por 40


anos pelo deserto e que aquela geração não receberia a benção, a
promessa feita para seus patriarcas de uma terra prometida. Mas
porque perambular por 40 anos pelo Deserto? O Senhor não poderia
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simplesmente ter enviado fogo e fulminado os descrentes como fez no


Cap 11 de Nm com aqueles que murmuravam com saudade do Egito?
Mas porque ter que passar pelo deserto? Quem tem que passar pelo
deserto é quem está indo para a Terra prometida. É quem está saindo
da terra do cativeiro, das situações que você tem clamado a Deus para
sair, e está indo rumo a uma nova vida, que você pediu para Deus. E
qual é o caminho para chegar lá? O Deserto!
O deserto tem um simbolismo, não é só punição, não é só areia e pedra
e nem um caminho tortuoso escolhido por Moisés. Deserto é lugar de
peneira, de sofrimento, de privação, mas é principalmente o lugar
onde a glória e os milagres de Deus se manifestam.
E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os
guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os
iluminar, para que caminhassem de dia e de noite.
Êxodo 13:21
O deserto tem uma importância fundamental para quem coloca a
confiança em Deus. É a esperança em Deus que garante a chegada até
a verdadeira pátria, como bem lembram dois textos importantes do livro
de Deuteronômio:
Pois o Senhor teu Deus te abençoou em toda a obra das tuas
mãos; ele sabe que andas por este grande deserto; estes quarenta
anos o Senhor teu Deus esteve contigo, coisa nenhuma te faltou.
Deuteronômio 2:7

E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te


guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te
provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os
seus mandamentos, ou não.
E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná,
que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a
entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que
sai da boca do Senhor viverá o homem.
Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé
nestes quarenta anos.
Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu
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filho, assim te castiga o Senhor teu Deus.


Deuteronômio 8:2-5
Enfatizando... em Dt 8.2 diz: o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto
estes quarenta anos, para te humilhar,…
Confere se na sua bíblia está escrito isso também? Porque se está,
precisamos entender quem Deus é, e não como você acha que Ele é,
como Deus age, pensa e como Ele quer se relacionar conosco. Talvez
esse seja o principal erro da maioria dos “crentes” que queremos
atribuir a Deus o que nós achamos que Ele é, ao invés de conhecê-lo
em espírito e em verdade. Não me espanta o fato de não termos
intimidade com Ele, pois não sabemos o que Ele pensa ou o que Ele
fala... As igrejas ditas evangélicas de hoje só se preocupam em falar da
graça e do amor e se esquecem da justiça e do juízo. Depois leia o Cap
6 de Romanos onde Paulo dá um belo puxão de orelha para quem acha
que a graça é salvo-conduto para o pecado...
Esta palavra humilhar tem vários significados, dentre eles: ser
oprimido, ser curvado, enfraquecer-se, etc. Ou seja, Ele está
quebrando a casca. Que casca? Essa casca que você inventou e finge
ser, ocultando o verdadeiro homem interior que está aí dentro. Sim, os
significados que temos para a palavra coração no mesmo versículo são
estes: homem interior, mente, vontade, coração (referindo ao caráter
moral e lugar dos desejos), alma, conhecimento, razão, inclinação.
Tenho meditado em toda essa estória há quase dois meses e no último
domingo fui dormir e perguntei ao Senhor o que Ele queria realmente
falar conosco hoje. Sobre o deserto, sobre murmuração, sobre as
dificuldades da vida, sobre alcançar um sonho ou objetivo? Deitei
por volta de 2h da manhã e o sono não me veio... Inexplicavelmente
acordei às 5h, contra a minha natureza como vcs sabem, com uma
frase martelando em minha mente como um letreiro luminoso dizendo:
O meu povo tem se comportado como se quisesse voltar para o
Egito e alguns, sequer saíram de lá!!!
Prontamente levantei, anotei e frase e tentei dormir... o que foi quase
impossível. O texto agora fazia sentido para o que o Senhor quer nos
dizer esta noite...
“Durante quarenta anos estive desgostado com esta geração, e
disse: É um povo de coração transviado, não conhecem os meus
caminhos.” Sl 95.10
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Na Bíblia, o Egito é uma tipologia do mundo, ou da vida anterior ao


encontro com Cristo na vida do cristão.

O Egito é tão simbólico, que até José, que foi Governador no Egito e
viveu em uma era de prosperidade e favores, deixou a orientação que
seus ossos não fossem deixados pra trás quando o povo partisse,
confiante na promessa de Deus que ele sabia que um dia chegaria!

A saga do povo de Deus no Egito e principalmente sua caminhada de


40 anos pelo deserto foi retratada por Moisés nos 5 primeiros livros da
bíblia, o Pentateuco. Em nenhum outro trecho da bíblia e nenhum outro
autor pôde retratar com tanta intensidade a presença e a manifestação
de Deus para o seu povo. O povo Hebreu teve o privilégio de ter vivido,
literalmente, sob a presença e o cuidado de Deus... e ainda assim, a
incredulidade, a murmuração, a idolatria foram uma constante naqueles
dias. Por isso, Deus os fez perambular em círculos por 40 anos no
deserto, mesmo após tê-los retirado de um cativeiro de 430 anos e
tendo o cuidado de evitar, de largada, que uma primeira dificuldade os
fizesse desistir:
E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os
levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto;
porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa,
vendo a guerra, e volte ao Egito.
Mas Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto do Mar
Vermelho; e armados, os filhos de Israel subiram da terra do Egito.
Êxodo 13:17,18

Deus sabia que o povo precisava se fortalecer espiritualmente para


confiar nele diante dos desafios que enfrentariam, então, ele conduziu
os israelitas ao monte Sinai, onde teriam 01 ano de preparo antes de
prosseguir para a terra prometida. Nesse tempo, eles receberam a lei
do Senhor, prepararam o tabernáculo como um tipo de templo móvel e
aprenderam sobre o papel dos sacerdotes e sobre sacrifícios e outros
ritos religiosos. Deus estabeleceu ordem entre esse povo, até
definindo a posição de acampamento de cada tribo e a sequência de
saída em caso de batalha. Mesmo todo esse cuidado e preparo da
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parte de Deus não foi suficiente para que as murmurações e


maledicências fossem uma constante durante a jornada. Infelizmente,
porém, repetiram-se as reclamações e rebeliões, embora o povo
recebesse provas constantes do poder e do cuidado de Deus.

A esmagadora maioria das pessoas que seguiam a Moisés, devido à


rudeza da escravidão, era brutalizada, fraca de espírito e, embora
mantivessem o ideal de liberdade, acabavam se rebelando. O povo
rebelou-se diversas vezes contra Moisés e contra o Senhor. A
incredulidade e a desobediência dos israelitas eram constantes,
obrigando Moisés a fazer uma legislação rigorosa, embora temporária,
que contivesse o povo. (EXEMPLO: "Um filho desobediente deve ser
apedrejado até que morra". Dt 21.21).

Depois de sair do monte Sinai, o povo poderia ter começado a invasão


da terra de Canaã em poucos dias. Mas sofreram atrasos no caminho
por causa das sua rebeldia e ingratidão. Quando chegaram mais
próximos ao destino, Moisés mandou 12 homens para espiar a terra e
voltar com relatórios da riqueza natural do lugar e informações que
ajudariam na campanha militar contra os povos da região condenados
por Deus. Os espiões foram, mas a maioria não foi fiel na sua missão.
Apesar de todas as demonstrações do poder e da grandeza de Deus,
fatos que ainda assustariam os povos pagãos 40 anos depois (Josué
2:8-11), os israelitas achavam os gigantes humanos maiores do que o
próprio Senhor.

O problema não foi reconhecer sua própria pequenez (se achavam


como gafanhotos diante dos homens enormes que habitavam em
Canaã – Nm 13:33). O problema dos espiões e das pessoas que os
seguiram foi a falta de confiança em Deus (Nm 14:5-9). Não
acreditavam que Deus fosse maior do que os gigantes. É o mesmo erro
que cometemos quando achamos os nossos problemas, provações e
tentações insuperáveis, pois achamos esses desafios maiores do que o
próprio Senhor! Podemos nos ver como gafanhotos insignificantes, mas
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não vejamos Deus como alguém pequeno, fraco ou limitado! Essa


atitude selou o destino do povo!
Disse-lhe o Senhor: Conforme a tua palavra lhe perdoei;
tão certo, porém, como eu vivo, e como a glória do Senhor encherá
toda a terra,
nenhum de todos os homens que viram a minha glória e os sinais
que fiz no Egito e no deserto, e todavia me tentaram estas dez
vezes, não obedecendo à minha voz,
nenhum deles verá a terra que com juramento prometi o seus pais;
nenhum daqueles que me desprezaram a verá.
Números 14:20-23

Soa inconcebível para nós hoje a falta de fé deste povo. Como, após
ver tantos sinais e a presença constante de Deus, poderiam duvidar?

Sob todos os aspectos, a saída do Egito fora um milagre de Deus, um


grandioso e pouco explorado milagre do Deus dos Deus, do Deus no
Céu, usando a referência de Daniel para diferenciar o seu Deus dos
deuses terrenos babilônicos. A jornada pelo deserto também só pode
ser explicada como tal por meio da intervenção pessoal de Deus, ou
seja, como milagre. O texto a seguir não deixa dúvidas a respeito da
magnitude deste milagre:
Falou mais o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da
congregação, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da
sua saída da terra do Egito, dizendo:
Tomai a soma de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo
as suas famílias, segundo a casa de seus pais, conforme o número
dos nomes de todo o homem, cabeça por cabeça;
Da idade de vinte anos para cima, todos os que em Israel podem
sair à guerra, a estes contareis segundo os seus exércitos, tu e
Arão.
Números 1:1-3
Estes são os que foram contados dos filhos de Israel, segundo a
casa de seus pais; todos os que foram contados dos exércitos
pelos seus esquadrões foram seiscentos e três mil e quinhentos e
cinquenta.
Mas os levitas não foram contados entre os filhos de Israel, como
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o Senhor ordenara a Moisés.


Números 2:32-33

Assumindo que apenas os homens com mais de 20 anos foram


recenseados, é bem razoável imaginar que cada um deles poderia ter
uma esposa e pelo menos 1 ou 2 filhos, fora os mais jovens, crianças,
mulheres e idosos... Não é absurdo imaginar uma população de cerca
de 3 milhões de pessoas... isso mesmo, aproximadamente a população
estimada de Brasília hoje, perambulou por 40 anos por um deserto e
precisavam ser alimentadas... Pare um momento e reflita neste
número... vc consegue imaginar essa população? Vc já foi para a
Esplanada em um dia de manifestação, com centenas ou talvez
milhares de pessoas? É capaz de avaliar essa quantidade de pessoas
murmurando e enchendo a cabeça do pobre Moisés??

Voltando... estas 3 milhões de pessoas precisaram ser alimentadas por


40 anos em um deserto árido e infrutífero. Teria sido impossível para
Moisés e todo o povo providenciar isso por conta própria. Só Deus era
capaz disso. Para apenas evitar que o povo morresse de fome, Moisés
teria precisado diariamente de cerca de 1500 toneladas de
mantimentos, assumindo que cada pessoa comeria o equivalente a
meio quilo de comida por dia... e eles tinham adolescentes com eles..
imagina!!! Porém a bíblia nos diz que o Senhor providenciou
diariamente o equivalente a 1 gômer, ou cerca de pouco mais de 2kg de
alimento por dia.

Para alimentá-los como nós estamos acostumados, ou seja, não


apenas para sobreviver, mas para se saciar, seria necessário
providenciar pelo menos de 3 a 4000 mil toneladas por dia. Isso
equivale a dois trens de carga, cada um com 1,5km de comprimento!
Para bebida e lavagem, havia necessidade de cerca de 45 milhões de
litros de água por dia. Imagine a imensidão da tarefa de providenciar
toda essa água em pleno deserto... Para um exemplo mais palpável, se
pegássemos a barragem do Descoberto, aqui de Brasília, assumindo
que uma pessoa precisaria para se manter de 1,5 litro de água por dia,
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a Barragem do Descoberto (102Mi m3) que abastece 50% da população


do DF, daria apenas para os primeiros 6 anos de jornada... mas Deus
conhecia a necessidade de sobrevivência do povo e providenciou
diariamente que eles pudessem comer, beber e dar para os seus
animais, e assim garantir-lhes a vida... que Deus é esse!!!
Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel; dize-lhes: À
tardinha comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão; e
sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus.
E aconteceu que à tarde subiram codornizes, e cobriram o arraial;
e pela manhã havia uma camada de orvalho ao redor do arraial.
Quando desapareceu a camada de orvalho, eis que sobre a
superfície do deserto estava uma coisa miúda, semelhante a
escamas, coisa miúda como a geada sobre a terra.
E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é
isto? porque não sabiam o que era. Então lhes disse Moisés: Este
é o pão que o Senhor vos deu para comer.
Êxodo 16:12-15

O SENHOR lhes deu toda a carne que queriam, e ainda muito mais.
Veio em forma de codornizes, voando a cerca de 90 cm de altura,
facilmente apanhadas, em uma nuvem de mais de 25 quilômetros de
comprimento e largura, que cobriu o acampamento por dois dias e uma
noite.

No advento seguinte, narrado em Números 11, novamente pediram


carne. Quando começaram a comer, sentiram-se mal e muitos
morreram, pois a ira do SENHOR se acendeu contra o povo. O mal não
foi tanto ter saudades de uma comida variada, mas sim de fixar seu
desejo nela acima de tudo mais, ao ponto de desprezar aquilo que
Deus lhes estava dando. Deus conhece nossos desejos, e somos
julgados por Ele, mesmo agora. Por isso a Palavra de Deus nos diz
que devemos nos julgar a nós mesmos, para não sermos julgados
- mas quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não
sermos condenados com o mundo (1Co 11:31-32). Os que morreram
foram enterrados, e o lugar passou a se chamar Quibrote-Hataavá
(Sepulturas do Desejo), porque foram mortos pelo seu próprio desejo.
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Além disso, Dt 8.4 nos informa que durante esses 40 anos as


vestimentas dos israelitas não se desgastaram e que seus pés não
incharam – e isso sem caros calçados para caminhada. Infelizmente,
porém, o povo nem sempre reconhecia esse milagre ou o esquecia, ou
então, nem sabia atribuir-lhe seu valor. Todavia, não seria a nossa
situação de hoje semelhante? Não agimos assim mesmo quando
percebemos que Deus nos provê o pão nosso de cada dia? Será
que ainda somos gratos e sabemos estimar os milagres diários de Deus
em nossa vida?

Quantos de nós, em situações de escassez ou por mero comodismo


não começamos a murmurar e muitas vezes nos colocamos em uma
postura de cobrar de Deus uma resposta imediata? Será que somos
melhores que os israelitas?

De qualquer forma, não foram apenas as reclamações que trouxeram a


desgraça a Israel, mas a sua falta de confiança em Deus, o medo dos
“gigantes” daquela terra e, finalmente, a rebelião contra Deus, a recuso
do povo em penetrar em Canãa quando Deus lhes deu essa ordem. O
povo não tinha confiança em Deus, no seu Deus que tinha cuidado
deles no deserto (Nm 13 e 14).

Além disso, a jornada pelo deserto revelou uma característica ainda pior
do que a falta de fé e a murmuração... A caminhada revelou que o povo
não havia sofrido uma transformação real... seu coração permanecia no
Egito, ou pelo menos, parafraseando o dito popular: “O povo saiu do
Egito, mas o Egito não saiu do povo!!!”

O meu povo tem se comportado como se quisesse voltar para o


Egito e alguns sequer jamais saíram de lá!!!

Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos


pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos.
Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este
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maná diante dos nossos olhos.


Números 11:5,6
Quem dera tivéssemos morrido por mão do Senhor na terra do
Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne,
quando comíamos pão até fartar! Porque nos tendes trazido a este
deserto, para matardes de fome a toda esta multidão.
Êxodo 16:3

CONCLUSÃO

O Senhor está nos fazendo um alerta, para aqueles que têm desejado
as “iguarias do Egito”, para aqueles que estão na igreja, mas não
conseguem tirar a cabeça do mundo. Disfarçam sua “saudade” com
“roupagem gospel”, mas na verdade estão querendo matar a sua
vontade de comer das cebolas e da carne do Egito... o Maná não tem
sido suficiente... Deus nos providenciou um milagre muito mais
sobrenatural que o Maná do deserto... Ele nos deus o Pão da Vida, o
Pão vivo que desceu do céu (Jo 6.51), o seu próprio filho, Jesus
Cristo. O maná é uma figura do Senhor Jesus, e da Palavra de Deus
que O revela para nós. Muitos, em nossas igrejas, infelizmente também
se cansam de aprender de Cristo e não têm mais muita vontade de
estudar a Sua Palavra: já se enjoaram dela! Procuram se alimentar com
outra coisa, desprezando o que Deus lhes deu.

Quantas vezes queremos que a glória do Senhor nos invada e que


preencha nossas reuniões, nossa igreja... mas analisando todo o
processo da preparação do tabernáculo, a Glória do Senhor só encheu
o lugar depois que ele foi totalmente montado segundo os estatutos de
Deus e foi UNGIDO e CONSAGRADO porque tudo que nele havia era
SANTO. É impossível termos relação real com um Deus Santo se
estamos ataviados com as mesmas peças do Egito. O tabernáculo foi
todo construído com peças vindas do Egito, mas elas foram fundidas e
por inspiração divina, Bezalel deu novas formas e utilidade para cada
uma delas. No cap 3.22 de Êxodo, o Senhor orienta que as mulheres
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pedissem para as egípcias ofertas de ouro, prata, bronze, tecidos e


pedras preciosas. Isso seria mais tarde usado para a construção do
tabernáculo, mas houve a necessidade de que fossem transformados,
pois tinha uma finalidade. Depois foram ungidos e consagrados, para
que atingisse esta finalidade, servir de local onde a presença do Deus
santo pudesse ser manifestada.

Temos mantido em nossa vida, em nossa prática cristã, em nossa


relação com Deus coisas impuras que deveriam ter ficado de fora?
Podemos entrar no Santo Lugar com a garantia de que estamos
consagrados e que tudo que oferecemos será recebido como sacrifício
agradável ao Senhor?

Quantas vezes nos portamos como os israelitas, que mesmo depois de


ter provado algo bem mais precioso que o maná, a Salvação em Cristo
Jesus (o pão vivo que desceu do céu), muitas vezes sentimos
saudade de coisas insignificantes como conversas torpes,
reuniões com amigos que me afastavam da comunhão com Deus,
vaidade, soberba, valorização do ego, arrogância, egoísmo,
intriga... é querido, todos nós temos nossas “cebolas”!

Antes de os condenarmos por isso, convém meditar sobre o que ocupa


a nossa atenção na maior parte do tempo: estamos gratos por aquilo
que Deus nos tem dado, e pelas maravilhosas coisas que Ele nos
tem preparado no céu, ou estamos sempre pensando sobre o que
estamos perdendo, e as coisas deste mundo que gostaríamos de
ter?

Temos agido como servos fieis, santos e irrepreensíveis ou nossas


atitudes não tem nos diferenciado no mundo? Refletimos o carácter de
Cristo e a santidade de Deus em nossas relações em casa e no
trabalho? E na Igreja, temos conseguido amar incondicionalmente ou
temos as mesmas atitudes mesquinhas e egoístas para com os irmãos.
Lembre-se, o mesmo Espírito que habita em você, habita nele
também... ou pelo menos deveria... Se nossas atitudes não nos
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diferenciam, a pergunta que fica é, fomos realmente transformados e


retirados o Egito ou o Egito permanece em nós?

A jornada até a terra prometida exige sacrifícios, exige abstinência,


exige obediência e santidade. Lembre-se que mesmo um pecado
perdoado, ele nem sempre apaga as consequências. O Senhor perdoou
Moisés, mas o resultado do seu pecado foi a proibição de entrar na
terra prometida... Ninguém tinha mais méritos para chegar nessa terra
do que Moisés. Sofreu tanto ao ponto de pedir que o Senhor o
matasse... e ainda sim, a consequência do seu pecado não foi
apagada.

Sabe queridos, talvez este texto soe muito antiquado ou caricato


demais para você. Mas como se diz no popular, Deus não dá ponto
sem nó... Tudo que Ele fez por este povo ao longo de 40 anos foi tentar
forja em seu povo, a Sua própria essência. Os ensinamentos a respeito
da Lei e dos sacrifícios se fizeram necessários para que o povo
ganhasse unidade e identidade, e assim, pudessem preparar as
gerações futuras para a vinda do seu filho, como Messias deste mesmo
povo. O sustento foi dado em forma de pão do céu, tal qual Jesus é o
Pão vivo que veio do céu para nos salvar. Sem a libertação da
escravidão, sem os ensinamentos do deserto, sem o pão de cada dia e
sem arrependimento, chegar à terra prometida teria sido impossível,
como foi para alguns.

Sem aceitar a Jesus, que nos liberta da escravidão do pecado e das


trevas, sem caminharmos naquilo que muitas vezes nos parece um
deserto, principalmente pela ausência das iguarias do mundo, tal qual
no Egito, nos será impossível alcançar a terra prometida. Não duvide,
não brinque com isso. Deus não poupou a geração pecadora, que,
diga-se de passagem, o conhecia de ver seus milagres e a sua
presença... Da mesma forma, Ele dirá para alguns que afirmarão que
andaram com Ele, às portas da terra prometida:
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniquidade. (Mateus 7:23)
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Por fim, deixo uma afirmação do apóstolo Paulo para os efésios:


“quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se
corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis
no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo
homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade.“ (Efésios 4: 22-24)

Agora eu quero orar por nós... Da mesma forma que Moisés e também
Daniel (quanta pretensão a minha...) oravam pelos pecados do povo,
incluindo-se como pecadores e dependentes da misericórdia de Deus,
quero aqui levantar um clamor ao Senhor por nós, pela nossa pequena
comunidade, povo de Deus da mesma forma que o povo hebreu.
Temos parte na promessa, desde que tenhamos uma atitude diária de
abandonar o Egito e olharmos apenas para a promessa.

Pr. Anderson Ferreira

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