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A Comuna de Paris (1871)
A Comuna de Paris (1871)
Robert Ponge
daquele evento. Os fatos: o que provocou o "assalto ao céu" (Karl Marx) do povo
A partir do final dos anos 50 e início dos anos 60, entre as bases de apoio de
plebiscito; como não podia deixar de ser, são maciçamente aprovadas (sim:
1870. Apoiada pela imprensa, cujo lema é "a Berlim!", a decisão recebe um
Sociedades Operárias define, como linha política, que "o governo provisório
um Comitê Municipal formado por delegados de cada uma das vinte regiões
administrativas (arrondissements) de Paris. No dia seguinte, para viabilizar
reivindicações que havia apresentado ao GDN. Este, por sua vez, no mesmo
dia, inicia negociações com a Prússia, com o intuito de obter o fim da guerra
permitir à capital subsistir 71 dias; ainda conta com trinta mil cabeças de
(inicialmente com cerca de noventa a cem mil homens, sobe para trezentos a
alistar, armar e equipar cerca de seiscentos mil homens, com 1.400 canhões.
que entregara, com a posição, em torno de 150 mil soldados, cerca de cinco
tropas de Gambetta a libertem. Desde Tours, este esforça-se para, não sem
final do mês (29/11/1870), Paris tenta uma saída maciça com uma tropa de
cem mil homens; sem sucesso. Persistente, Gambetta elabora novos planos,
GDN lança uma tropa de noventa mil homens na enésima tentativa de furo
Trochu devia esperar: servia como uma luva para justificar a tão desejada
jornais, prisões, etc.), o ministro Jules Favre desloca-se para Versalhes para
frentes, rendição de Paris, que ficará desarmada (com exceção de uma tropa
porém apenas "enquanto não for tomada uma decisão relativa às instituições
que prevê a ocupação de parte da cidade por trinta mil soldados alemães.
canhões das mãos da Guarda Nacional. Sem outro resultado que provocar a
governo decide-se por uma operação cirúrgica: no dia 17, afixa um apelo à
porém, lança um grito de alarme, toma conta das ruas, cerca a tropa;
um Guarda Nacional morto pela tropa governamental por ter dado o alarme
militares essenciais. No dia 19, fixa para o dia 22 as eleições para a Comuna,
depois postergadas para o dia 26, por pressão dos prefeitos. Por sua vez, o
votam 229.267 parisienses, o que não é nada mau. No dia 28, o Comitê
Executiva. Nesse meio tempo, Versalhes não ficara inativo. Trouxe para a
170 mil homens, dos quais cerca de cem mil serão prisioneiros gentilmente
libertados pelos alemães para este fim específico. No dia 30, o governo de
Versalhes começa a investir contra Paris, apoderando-se do município
executar três reféns por cada federado executado por Versalhes (o decreto
só será aplicado nos últimos dias da Comuna). A luta militar entra numa fase
quais os membros da AIT). O novo comitê não terá o efeito mágico esperado
maio; perda das fortificações de Issy no dia 8, dia em que Thiers lança um
sofre uma renovação, na esperança de melhorar sua ação efetiva. Por sua
uma porta; 130 mil homens começam a penetrar na cidade. O alerta é dado;
foram no mínimo vinte, talvez 25 mil. Uns dez mil federados conseguiram
fugir para o exílio. Houve ainda 43.522 presos, que foram processados
das opiniões vigentes naquela época, o escritor Émile Zola, no final de seu
mostra-o e comprova-o. Isto não pode levar a negar que, por outro lado, e ao
em 1870-1. Ou seja, a "velha toupeira" de que fala Marx, após vir à tona em
detenham apenas neste ou naquele ponto, por exemplo, como vimos, nas
século sobre a Comuna, Georges Bourgin define esta como "uma tentativa
"um dos símbolos [sic] mais típicos" do Estado tradicional); salienta ainda,
entre outros aspectos, a adoção de "uma política social ... apenas esboçada
limite que atribui a estas colocações. Por um lado, qualifica de "mito" a tese
reduz a Comuna apenas à expressão "da vontade do povo de Paris ... que
Comuna como "o modelo de uma República por vir", [a] República
formulação confirma que Rougerie não enxerga a Comuna como uma aurora
das revoluções proletárias. Posição que seu último livro, Paris insurgé: la
maior tarefa que foi incumbida à Comuna foi defender-se, investir homens,
tempo, energias, recursos, no esforço de defesa. Faltou, essencialmente,
bronze provinha de canhões tomados ao inimigo por Napoleão I), por ser "um
liberdades ... que o clero tem sido o cúmplice dos crimes da monarquia
falta de tempo impediu que seus planos fossem levados a cabo, mas, mesmo
Comuna agiu com maior "vigor e continuidade".32 Será que, em que pesem
as aparências político-administrativas, a Comuna já não estava entrando no
terreno social? Aliás, como que para confirmá-lo, cabe assinalar que a
Em suma, a Comuna esboçou "um governo do povo pelo povo" (K. Marx) e
operário e pelos historiadores afinados com este. Por outro lado, as correntes
que a Comuna deixou de fazer, mas poderia e deveria ter feito. Repassemos
e utilizadas contra Paris. E por quê a Comuna não perseguiu Thiers? Por
Thiers! De tal maneira, conclui ele, que "o decreto de morte da Comuna foi ...
poderiam desempenhar diretivas suas, que, por exemplo, ela poderia tentar
abandonado em sua ilhota urbana; mas, que, para ter sucesso, lhe é
necessário, no mínimo, contar com a benevolência, senão com a ajuda
político do termo, para aquelas que, mais cedo ou mais tarde, viriam
1870 (e, aliás, continuou a ensinar até hoje). Não se pode deixar de
capítulo de um de seus livros com uma citação de Marx: "A primeira obra da
considera uma "elipse fácil" por parte do "brilhante panfletário"; bastaria Marx
suas citações. O que realmente escreveu Marx? "A grande medida social da
Comuna de Paris foi sua própria existência e sua ação". Não é difícil
Para quem leu A guerra civil na França fica fácil (para quem leu alguns outros
textos dele, fica ainda mais fácil) entender o que quis dizer Marx. Tentemo-lo,
(relativas a tal ou qual questão) que a Comuna viria a tomar, não bastou para
como a antítese do II Império. Marx não é mais culpado de uma elipse, mas
tamanho do território, pela espessura da obra, ou ... Por sua vez, Marx não
Comuna é a ditadura do povo pelo povo sobre a burguesia; etc. Como se vê,
fato cuja simples existência constitui para Marx uma obra, um feito
àquilo que as classes dominantes taxam como impossível, como uma utopia
classe operária não pode limitar-se a tomar tal qual a máquina do Estado e
fazê-la funcionar em proveito próprio".47 Como a Comuna resolveu este
justamente, desta forma política enfim encontrada, que Marx descreve nos
seguintes termos: "A Comuna devia ser, não um órgão parlamentar, mas um
lado, através dessa ação a que se refere Marx como a "grande medida" da
Comuna (junto com sua própria existência). Em que consistiu essa ação? Em
funcionar tal qual. Marx destaca que "o primeiro decreto da Comuna foi ... a
era a ação necessariamente inicial para que a Comuna pudesse então tomar
as medidas particulares, específicas que concretizariam o governo do povo
pelo povo, mas que, por falta de tempo, puderam ser alcançadas apenas de
allemande. In: MARX. La guerre civile en France (1871). Paris: Ed. Sociales,
Quelques documents. In: Mouvement social, n.37, p.3. Citado por BOURGIN,
op. cit., p.16. Também ROUGERIE. Paris libre, 1871. Paris: Le Seuil, 1971.
p.31. (5) Citado por ROUGERIE, idem, ibid. (6) Segundo BOURGIN, G.
Paris: PUF, 1992. p.24; BOURGIN, 1971, op. cit., p.90 (segundo este, haveria
ainda uns 115 mil homens da Guarda Móvel, porém muito mal adestrados e
1975, op. cit., p.20. (10) ROUGERIE, 1992, op. cit., p.46. (11) Citado por
ROUGERIE, 1971, op. cit., p.93. (12) Trechos citados por ROUGERIE, 1992,
op. cit., p.50; por BOURGIN, 1971, op. cit., p.158; e por ROUGERIE, 1971,
op. cit., p.96. (13) Excertos citados por THOMAS, É. Commune de Paris. In:
1975, op. cit., p.30-1. (14) MARX, op. cit., p.44. (15) MARX, K.
(16) BOURGIN, 1975, op. cit., p.63-64 e 125. (17) WINOCK, M., AZEMA, J. P.
(19) MARX, 1871a, op. cit. (20) TROTSKY, L. Les leçons de la Commune. La
1971, op. cit., p.6. (22) ROUGERIE. Mil huit cent soixante et onze. In: ______.
et 23 mai 1971. Paris: Éditions Ouvrières, 1972. p.76-7; 83; 91; 93.
(23) ROUGERIE, 1992, op. cit., p.122; 124. Grifo meu. (24) RIHS, C. La
1973. p.16. (25) THOMAS, op. cit., p.192. (26) ROUGERIE, 1992, op.
cit., p.66. (27) Citado por LUQUET, P. et al. A Comuna de Paris. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1968. p.37. (28) Citado por ROUGERIE, 1992, op.
cit., p.67. (29) Idem, ibidem. (30) Citado por LUQUET, op. cit., p.36.
(31) Citado por BOURGIN, 1971, op. cit., p.259. (32) THOMAS, op. cit., p.192.
(33) Citado por BOURGIN, 1971, op. cit., p.259. (34) Citado por BOURGIN,
1975, op. cit., p.58. (35) Idem, p.55. (36) MARX, 1871a, op. cit., p.36.
(37) LUQUET, op. cit., p.24. (38) TALÈS, C. La Commune de 1871. Paris:
1871a, op. cit., p.50. (44) ROUGERIE, 1992, op. cit., p.5. (45) MARX,
1871a, op. cit., p.41. (46) Idem, p.45. Grifado por Marx. (47) Idem, p.38.
Neste, ver capítulo III. Ver também _____. La Comuna de Paris. Moscou: