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"A Bahia do começo do século XIX ficou marcada por um grande número de revoltas de escravos. Desses, os dois
principais grupos eram os nagôs (iorubás) e os haussás. A quantidade de revoltas de escravos está diretamente
relacionada com o alto número de escravos naquela província.
"Esse levante foi descoberto antes de ser iniciado, e sua descoberta aconteceu no mês de maio de 1807. Os escravos
que se organizavam tinham em seus planos a realização de ataques contra igrejas católicas e suas imagens e queriam
instalar uma autoridade muçulmana no poder de Salvador. Depois planejavam conquistar outros locais do Nordeste.
"Inúmeras revoltas aconteceram nos anos seguintes, mas a história da resistência e das revoltas escravas ficou
marcada pela Revolta do Malês, que aconteceu em Salvador, em 1835, e mobilizou 600 escravos em busca de sua
liberdade. O temor causado por essa insurreição ficou gravado no imaginário dos senhores que temiam que uma nova
ação desse tipo acontecesse no Brasil.
Participantes
"A Revolta do Malês aconteceu em Salvador e passou-se na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. Os
escravos africanos (e seus descendentes) eram 40% da população total da cidade que, na época, era de 65 mil
habitantes.
"Foi nesse cenário que se deu a maior revolta de escravos do Brasil. Os participantes da Revolta dos Malês
foram na sua maioria nagôs, mas sabe-se também que o levante contou com a participação de africanos
haussás e tapas (conhecidos também como nupes). A maioria dos envolvidos era muçulmana, mas muitos
também eram adeptos de religiões de matriz africana.
A importância dos muçulmanos foi tão grande que influenciou na forma como essa revolta foi chamada. A
palavra malês é oriunda de imalê, expressão que no idioma Iorubá significa muçulmano.
"A revolta contou com a participação de 600 africanos escravizados, e os líderes dela combinaram para que
ela acontecesse no final do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. A revolta ficou marcada exatamente
para o dia de Lailat al-Qadr.
"Os participantes da Revolta dos Malês eram todos africanos, e existem evidências que apontam que, se
vitoriosos, os rebeldes pretendiam voltar-se contra toda a população nascida no Brasil. Os envolvidos
também eram majoritariamente escravos urbanos, e pouquíssimos escravos da lavoura participaram dessa
revolta.
Líderes
"A Revolta dos Malês teve oito líderes, cuja maioria era nagô. Seus nomes eram
Ahuna; Pacífico Licutan; Sule ou Nicobé; Dassalu ou Damalu; Gustar; Manoel
Calafete (liberto); Luís Sanim; e Elesbão do Carmo ou Dandará. A listagem desses
nomes foi apresentada pelo historiador João José Reis.
Punições
"As punições contra os envolvidos foram severas e alcançaram até os libertos que
não se envolveram com a dita revolta. Os punidos sofreram com a prisão, o
açoite, a deportação e a execução. Ao todo, quatro dos envolvidos foram
condenados à morte, sendo eles: Jorge da Cruz Barbosa (Ajahi), Pedro, Gonçalo e
Joaquim. Esses quatro foram executados por fuzilamento. Existem estatísticas que
apontam que houve a deportação de milhares de negros para a África."
Desfecho
"A Revolta dos Malês eclodiu abruptamente na madrugada do dia 25 de janeiro, porque a
trama havia sido denunciada e todo o planejamento ruiu-se quando isso aconteceu. A
revolta tinha sido planejada pelos escravos urbanos, que se aproveitavam da maior
liberdade de locomoção que possuíam em relação aos escravos que trabalhavam na
lavoura.
Como mencionado, a revolta teve um forte envolvimento com o islamismo, e isso ficou
perceptível porque os africanos que se rebelaram estavam usando um abadá branco, traje
típico dos muçulmanos.
Os combates espalharam-se horas a fio pelas ruas de Salvador e resultaram na morte de 70
dos africanos envolvidos e em nove mortes nas forças que lutavam contra os rebeldes. A
última batalha deu-se em um local de Salvador chamado Água de Meninos. Muitos dos
africanos, encurralados, procuraram fugir pelo mar e acabaram afogados. A Revolta dos
Malês, portanto, fracassou."
Resumo
Os principais objetivos da revolta dos Malês eram: Confisco dos bens dos brancos
e mulatos. Conquista dos mesmos direitos que tinha os cidadãos brancos. Criação
de uma república islâmica.
Revolta dos Malês é conhecida por ter sido a maior revolta de escravos da história
brasileira, mobilizando 600 africanos escravizados que lutaram pela sua liberdade.
O acontecimento da Revolta dos Malês aumentou consideravelmente a repressão
sobre os escravos africanos na Bahia nos anos seguintes. Essa repressão afetou
tanto escravos como libertos e existem estudos que afirmam que dos 5 mil libertos
que habitavam em Salvador cerca de 20% foi forçada a retornar para a África