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Sofia Barcelos e Guilherme Teodoro

Revolta dos Malês


Revolta dos Malês é conhecida por ter sido a maior revolta de escravos da história brasileira, mobilizando
600 africanos escravizados que lutaram pela sua liberdade.

"Bahia escravista do século XIX


A Bahia do começo do século XIX ficou marcada por um grande número de revoltas de escravos. A Bahia
também foi um dos estados que mais recebeu africanos escravizados pelo tráfico negreiro. Desses, os dois
principais grupos eram os nagôs (iorubás) e os haussás. A quantidade de revoltas de escravos está
diretamente relacionada com o alto número de escravos naquela província."
"A Revolta do Malês aconteceu em Salvador e passou-se na madrugada
do dia 25 de janeiro de 1835. Naquela época, essa capital era uma das
principais cidades escravistas do Brasil e possuía apenas 22% de sua
população formada por brancos livres. Os escravos africanos (e seus
descendentes) eram 40% da população total da cidade que, na época,
era de 65 mil habitantes.

Foi nesse cenário que se deu a maior revolta de escravos do Brasil. Os


participantes da Revolta dos Malês foram na sua maioria nagôs, mas
sabe-se também que o levante contou com a participação de africanos
haussás e tapas (conhecidos também como nupes). A maioria dos
envolvidos era muçulmana, mas muitos também eram adeptos de
religiões de matriz africana.
O envolvimento dos muçulmanos foi algo marcante nesse
acontecimento e evidenciou o papel da religião na luta por
transformação social. A importância dos muçulmanos foi tão grande
que influenciou na forma como essa revolta foi chamada. A palavra
malês é oriunda de imalê, expressão que no idioma Iorubá significa
muçulmano.

A revolta contou com a participação de 600 africanos escravizados, e


os líderes dela combinaram para que ela acontecesse no final do
Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. A revolta ficou marcada
exatamente para o dia de Lailat al-Qadr, a festa da Noite da Glória —
momento em que o Corão foi revelado para Muhammad (Maomé), o
profeta do islamismo.
Líderes

A Revolta dos Malês teve oito líderes, cuja maioria era nagô. Seus
nomes eram Ahuna; Pacífico Licutan; Sule ou Nicobé; Dassalu ou
Damalu; Gustar; Manoel Calafete (liberto); Luís Sanim; e Elesbão do
Carmo ou Dandará. A listagem desses nomes foi apresentada pelo
historiador João José Reis.
Desfecho
A Revolta dos Malês eclodiu abruptamente na madrugada do dia 25 de janeiro, porque a trama havia sido
denunciada e todo o planejamento ruiu-se quando isso aconteceu. A revolta tinha sido planejada pelos
escravos urbanos, que se aproveitavam da maior liberdade de locomoção que possuíam em relação aos
escravos que trabalhavam na lavoura.

Como mencionado, a revolta teve um forte envolvimento com o islamismo, e isso ficou perceptível porque
os africanos que se rebelaram estavam usando um abadá branco, traje típico dos muçulmanos. Além disso,
muitos deles usavam amuletos com passagens do Corão escritas em árabe. Eles acreditavam que esses
amuletos protegeriam seus corpos.

Os combates espalharam-se horas a fio pelas ruas de Salvador e resultaram na morte de 70 dos africanos
envolvidos e em nove mortes nas forças que lutavam contra os rebeldes. A última batalha deu-se em um
local de Salvador chamado Água de Meninos. Muitos dos africanos, encurralados, procuraram fugir pelo
mar e acabaram afogados. A Revolta dos Malês, portanto, fracassou.
Punições
As punições contra os envolvidos foram severas e alcançaram até os libertos que não se
envolveram com a dita revolta. Os punidos sofreram com a prisão, o açoite, a deportação e a
execução. Ao todo, quatro dos envolvidos foram condenados à morte, sendo eles: Jorge da
Cruz Barbosa (Ajahi), Pedro, Gonçalo e Joaquim. Esses quatro foram executados por
fuzilamento.

Essa intentona contribuiu para aumentar a repressão sobre a população de escravos e libertos
em Salvador. Uma lei aprovada naquele ano determinava que todos os africanos e
descendentes suspeitos de envolverem-se com revoltas escravas seriam deportados para o
continente africano. Existem estatísticas que apontam que houve a deportação de milhares de
negros para a África.

Essa rigidez acontecia porque os escravocratas temiam que uma rebelião de escravos nos
moldes da Revolução Haitiana acontecesse no Brasil.

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