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A Revolta do Malês

A Revolta do Malês aconteceu em Salvador e passou-se na madrugada do dia 25 de janeiro de


1835. Naquela época, essa capital era uma das principais cidades escravistas do Brasil e
possuía apenas 22% de sua população formada por brancos livres. Os escravos africanos (e
seus descendentes) eram 40% da população total da cidade que, na época, era de 65 mil
habitantes.

Foi nesse cenário que se deu a maior revolta de escravos do Brasil. Os participantes da Revolta
dos Malês foram na sua maioria nagôs, mas sabe-se também que o levante contou com a
participação de africanos haussás e tapas (conhecidos também como nupes). A maioria dos
envolvidos era muçulmana, mas muitos também eram adeptos de religiões de matriz africana.
O envolvimento dos muçulmanos foi algo marcante nesse acontecimento e evidenciou o papel
da religião na luta por transformação social. A importância dos muçulmanos foi tão grande que
influenciou na forma como essa revolta foi chamada. A palavra malês é oriunda de imalê,
expressão que no idioma Iorubá significa muçulmano.

A revolta contou com a participação de 600 africanos escravizados, e os líderes dela


combinaram para que ela acontecesse no final do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos.
A revolta ficou marcada exatamente para o dia de Lailat al-Qadr, a festa da Noite da Glória —
momento em que o Corão foi revelado para Muhammad (Maomé), o profeta do islamismo.
Os participantes da Revolta dos Malês eram todos africanos, e existem evidências que
apontam que, se vitoriosos, os rebeldes pretendiam voltar-se contra toda a população nascida
no Brasil. Os envolvidos também eram majoritariamente escravos urbanos, e pouquíssimos
escravos da lavoura participaram dessa revolta. Os poucos escravos da lavoura que
participaram eram do Recôncavo Baiano (arredores de Salvador).

Líderes
A Revolta dos Malês teve oito líderes, cuja maioria era nagô. Seus nomes eram Ahuna; Pacífico
Licutan; Sule ou Nicobé; Dassalu ou Damalu; Gustar; Manoel Calafete (liberto); Luís Sanim; e
Elesbão do Carmo ou Dandará. A listagem desses nomes foi apresentada pelo historiador João
José Reis.

Desfecho
A Revolta dos Malês eclodiu abruptamente na madrugada do dia 25 de janeiro, porque
a trama havia sido denunciada e todo o planejamento ruiu-se quando isso aconteceu. A
revolta tinha sido planejada pelos escravos urbanos, que se aproveitavam da maior liberdade
de locomoção que possuíam em relação aos escravos que trabalhavam na lavoura.
Como mencionado, a revolta teve um forte envolvimento com o islamismo, e isso ficou
perceptível porque os africanos que se rebelaram estavam usando um abadá branco, traje
típico dos muçulmanos. Além disso, muitos deles usavam amuletos com passagens do Corão
escritas em árabe. Eles acreditavam que esses amuletos protegeriam seus corpos.
Os combates espalharam-se horas a fio pelas ruas de Salvador e resultaram na morte de 70
dos africanos envolvidos e em nove mortes nas forças que lutavam contra os rebeldes. A
última batalha deu-se em um local de Salvador chamado Água de Meninos. Muitos dos
africanos, encurralados, procuraram fugir pelo mar e acabaram afogados. A Revolta dos Malês,
portanto, fracassou.
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Punições
As punições contra os envolvidos foram severas e alcançaram até os libertos que não se
envolveram com a dita revolta. Os punidos sofreram com a prisão, o açoite, a deportação e
a execução. Ao todo, quatro dos envolvidos foram condenados à morte, sendo eles: Jorge da
Cruz Barbosa (Ajahi), Pedro, Gonçalo e Joaquim. Esses quatro foram executados por
fuzilamento.

Essa intentona contribuiu para aumentar a repressão sobre a população de escravos e libertos
em Salvador. Uma lei aprovada naquele ano determinava que todos os africanos e
descendentes suspeitos de envolverem-se com revoltas escravas seriam deportados para o
continente africano. Existem estatísticas que apontam que houve a deportação de milhares de
negros para a África.

Essa rigidez acontecia porque os escravocratas temiam que uma rebelião de escravos nos
moldes da Revolução Haitiana acontecesse no Brasil. Conforme pontuou João José Reis, “o
Haiti penetrou, como um pesadelo, as casas senhoriais, os palácios governamentais e mesmo
os clubs rebeldes brancos”.

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