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Após a inicial exploração do trabalho indígena e até com este, durante algum tempo,
convivendo, dar-se-ia, em maior e mais cruel escala, a exploração do trabalho negro,
fundamentado no modo de produção escravista, quando levas e levas de africanos aqui
aportaram e que, além de significarem valiosa mercadoria para os seus ambiciosos
senhores, se constituiriam na principal força de trabalho que então permitiu a Portugal
extrair, sem regras, todas as possíveis riquezas da sua imensa colônia, o Brasil. E a
implantação das lavouras de cana, objetivando-se a obtenção do açúcar – produto,
naqueles tempos, bastante cobiçado no chamado mundo europeu – foi a bola da vez!
A Rebelião dos Malês, transcorrida em 1835, foi aquela que mais surpresa, indignação,
medo e mesmo terror causou à sociedade baiana naquela conturbada primeira metade
do século XIX. Alguns fatos contribuíram decisivamente para tal estado de pânico ter se
instalado em Salvador, relativos, portanto, a esta rebelião. Eis alguns: a descoberta de
uma verdadeira rede conspiratória, pois que, na véspera da data agendada para a eclosão
do movimento rebelde – no amanhecer do dia 25 de janeiro - negros fugidos de alguns
engenhos do Recôncavo já se encontravam, inteligentemente escondidos, em veleiros e
pequenos barcos ancorados no cais do Porto, prontos para guerrearem quando do
alvorecer, momento em que muitos escravos da cidade saíam das casas de seus senhores
para pegar água nas fontes públicas e, aí, seriam convocados para a revolta. Isto sem
dúvida revelou às autoridades que uma preparação havia se dado, ou seja, que os líderes
da revolta a ser desencadeada mantiveram previamente contatos com seus parceiros
cativos nas fazendas do Recôncavo e os convocaram para a luta! Outro elemento
importante no processo foi a união de algumas etnias que então se dispuseram para o
combate, o que não era muito freqüente. Isso, é claro, trouxe muita preocupação e
desespero aos senhores escravistas e aos brancos em geral. Também o fato da liderança
rebelde está nas mãos dos chamados malês – negros islamizados – contribuiu para aquele
medo, uma vez que se sabia serem tais negros, em sua grande maioria, letrados e
competentes para traçarem planos perigosos contra a dita ordem escravista vigente.
Some-se a tais fatores a ousadia de se planejar e executar uma rebelião no coração da
capital, portanto no centro principal do poder escravista e sede do governo, naturalmente
a mais policiada e populosa cidade da Província Baiana!
R. Dantas
Historiador/Documentarista
UNEB / 2018