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Clipping do dia: 14/02/2006

Data de veiculação: 14/02/2006

Surto de abandono

A ABP disponibiliza gratuitamente aos seus


associados e visitantes o Clipping Diário de
Notícias On-line, com as principais matérias e “Política de desospitalização está desmantelando a rede p
reportagens publicadas nos veículos de presidente do Cremerj
comunicação de maior circulação do país,
sobre assuntos e temas relacionados à
psiquiatria, saúde mental e medicina.

De segunda a sexta a partir das 10h da Veículo: O Globo


manhã. Seção: Primeira Página
Data: 14/02/2006
Confira e mantenha-se atualizado! Estado: RJ

Pacientes amarrados, nus e com ferimentos. Sujeira, comida de p


qualidade, falta de profissionais e escassez de medicamentos. Estes foram
alguns dos problemas encontrados pelo presidente da Comissão de Sa
Câmara de Vereadores do Rio, Carlos Eduardo, ao vistoriar os quatro
Voltar psiquiátricos da rede municipal de saúde. O colapso do atendimento, constatad
também pelo Conselho Regional de Medicina (Cremerj), dificulta a
ressocialização dos doentes mentais, o objetivo principal da política psiqui
do país desde o advento da Lei Delgado, em 1989. No município do Rio, no ano
passado, foram registradas 39.321 internações por problemas mentais e
comportamentais.
O pior cenário foi encontrado no Instituto Psiquiátrico Philippe Pinel, em
Botafogo, que sempre foi referência no setor. Na unidade, vistoriada na noite d
quarta-feira passada, havia três pacientes amarrados: dois na enfermaria
masculina e uma na feminina, mantida presa pelas pernas e nua. Um leito
improvisado no chão da enfermaria masculina, o que é proibido, tamb
achado pela comissão. Na enfermaria feminina, a mistura de doentes em surto
com outros em melhor estado também preocupou o vereador. Carlos
conta que foi cercado por diversas mulheres que reclamavam da conviv
forçada:
- Elas reclamaram do medo constante de agressões por parte das doentes que
estão em crise e do barulho durante as noites. É simplesmente imposs
dormir devido aos gritos, gargalhadas e à agitação.

Só 2 psiquiatras para 83 pacientes


O déficit de profissionais também chamou a atenção. Com 83 pacientes
internados, o instituto contava no plantão de quarta-feira passada com apenas
dois psiquiatras, uma enfermeira, que acumulava a função de supervis
auxiliares de enfermagem. Uma delas contou já ter sido agredida em duas
ocasiões ao acompanhar sozinha pacientes pelo hospital, que tem corredores
com iluminação deficiente. O problema é agravado ainda pelo fato de
da enfermagem estar quebrado há três anos. Os doentes precisam ser
conduzidos por três andares pela escada.
O caso mais grave de maus-tratos foi encontrado no Hospital Álvaro Ramos, na
Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, que presta atendimento

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doentes mentais. Em vistoria realizada na terça-feira da semana passada, a


comissão se deparou com uma paciente com uma ferida profunda na perna, co
pontos de necrose, provocada pelos dias seguidos de contenção f
de Doença de Huntington ou Coréia, que causa movimentos involunt
está na unidade desde 6 de janeiro. No prontuário, os médicos pedem a sua
transferência.
- É provável que ela esteja amarrada desde que veio do Hospital Louren
onde foi internada em novembro com traumatismo craniano. As bandagens
estavam sujas de sangue, o que mostra que ela vem se debatendo e agravand
cada vez mais o ferimento. Do jeito que está, pode sofrer uma infec
generalizada e até morrer - disse Carlos Eduardo.
Além dela, havia outros dois doentes amarrados no Álvaro Ramos. A situa
repetiu no Hospital Jurandyr Manfredini, também na Colônia Juliano Moreira,
vistoriado no mesmo dia. A manutenção de pacientes amarrados gera riscos. E
junho passado, Robert Pereira Alencar, de 48 anos, morreu na Cl
Repouso Santa Edwiges, em Sepetiba, depois que o leito onde estava pegou
fogo. Ele estava contido e teve 61% do corpo queimado. Especialistas dizem q
o uso de amarras deve ser provisório.
- A contenção física, sempre acompanhada pelo uso de medicamentos, pode
necessária em certos momentos de delírios ou de agitação intensa. A dura
deve ser apenas enquanto o remédio não faz efeito - afirma o professor Ademi
Pacelli Ferreira, do Instituto de Psicologia da Uerj e supervisor da Unidade
Docente Assistencial de Psiquiatria do Hospital Pedro Ernesto.

Dos 300 leitos, 60 interditados


Durante as inspeções, o vereador constatou a escassez de medicamentos, o qu
pode estar estimulando o uso de amarras: sem os remédios, os doentes ficam
mais suscetíveis aos surtos. Na farmácia do Hospital Jurandyr Manfredini, os
principais anticonvulsivantes e antidepressivos, como carbamazepina, tegretol,
anafranil, diazepam e melleril, estavam em falta na terça-feira passada. No
Philippe Pinel, uma auxiliar de enfermagem confidenciou ao vereador que esta
sendo obrigada a amarrar pacientes porque não havia na enfermaria feminina
comprimidos de Dormonid. Já no Álvaro Ramos parte do fundo rotativo, de R$
36 mil anuais, que deveria ser usado com outras despesas, é usada na compra
de medicamentos.
Problemas estruturais também são uma constante. Os corredores do Instituto
Nise da Silveira - que teve a emergência transferida para um posto de sa
depois que uma central elétrica explodiu em outubro passado - parecem ru
com portas e paredes quebradas. Há até estalactites no banheiro de uma
enfermaria, devido a anos de infiltrações. O instituto foi vistoriado a 5 de janei
e estava com 60 dos 300 leitos interditados. Nos outros hospitais, a
manutenção, segundo o vereador, é prejudicada porque a prefeitura
pagando as empresas. O mesmo ocorre com alimentação e seguran
- No Jurandyr Manfredini, o cardápio de terça-feira era arroz boiando na
carne moída e creme de ervilha, tudo com um aspecto horroroso. Muitos
doentes rejeitaram a comida. Dos três portões da unidade, apenas um estava
aberto devido à falta de vigilantes - disse o vereador.
Para o presidente do Cremerj, Paulo Cesar Geraldes, que é psiquiatra, a situa
é caótica. Ele diz que está havendo uma interpretação errada da Lei Delgado:
- Foi instituída com essa lei uma política de “desospitalização”, que
Mas os gestores públicos estão se esquecendo que as pessoas esporadicament
precisam ser internadas quando têm crises. Estão desmantelando
completamente a rede pública sem atentar para isso.
Para a Secretaria municipal de Saúde, não há carência de pessoal no Philippe
Pinel e no Jurandyr Manfredini. Segundo a direção do Pinel, eventuais moment
de grande demanda na emergência são sanados com remanejamento de
profissionais de outras áreas do instituto. A secretaria divulgou nota alegando
que os doentes recebem tratamento adequado.
“Os pacientes que são levados em estado de emergência normalmente chegam
agitados e agressivos. Em alguns casos, é necessário imobilizá-los a fim de
aplicar medicamentos para acalmá-los. As medidas são moment
garantir a integridade física do próprio, de outros pacientes e de
diz a nota.

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