Você está na página 1de 15

- Modelos Assistenciais em

Saúde Mental.
- A reforma do modelo.
Dr. Carlos Eduardo Kerbeg Zacharias

Médico formado pela Faculdade de Medicina de Sorocaba - PUC - São
Paulo no ano de 1985.
 Bacharel em Direito – formado pela Universidade de Sorocaba no ano
de 2001.
 Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de
Psiquiatria.
 Supervisor de Psiquiatria do Conjunto Hospitalar de Sorocaba –
Serviço de Psiquiatria e Unidade Psiquiátrica de Emergência em
Hospital Geral da Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São
Paulo.
Mudança de Modelo:
Em 1990 o Governo, apoiado por profissionais e militantes
políticos, determinou a desativação dos grandes hospitais
Psiquiátricos.

O tratamento e reabilitação dos pacientes psiquiátricos


deveriam ocorrer na comunidade, promovendo sua
reintegração no meio comunitário.

Grupos de pesquisadores publicaram estudos sobre as


vantagens da psiquiatria na comunidade ao mesmo tempo
em que ofereceram diretrizes para a sua implementação.
Mudança:

O número de leitos psiquiátricos foi reduzido de 150.000 para cerca de


40.000.

Com a economia gerada pelo fechamento dos leitos os serviços de Saúde


Mental comunitários seriam amplamente financiados.

Uma versão, supostamente melhor de assistência em Saúde Mental, que


acabou sendo uma forma do governo de reduzir despesas com Saúde
e responsabilidades sociais.

O governo economizou, mas os serviços de Saúde Mental na comunidade


não receberam o financiamento adequado, tendo como resultado o
estrangulamento financeiro do sistema como um todo.
Para onde foram os pacientes?
Não houve uma preocupação, por parte dos entusiastas da
“reforma”, em verificar o tipo de acolhida que esperava os
pacientes “desinstitucionalizados”.

O número de doentes mentais nas ruas se multiplicou.

Abandonados pelas famílias, sem trabalho, sem vínculo social,


fora dos serviços públicos e, sobretudo, sem qualquer
cuidado ou tratamento psiquiátrico.

Foram parar em abrigos sem estrutura adequada para seu


tratamento ou, infelizmente, nas cadeias
Serviços oferecidos:
Atendimento Comunitário: serviços de Saúde Mental lotados e
inconsistentes, atônitos face à dimensão do encargo que
receberam.

Unidades Hospitalares: superlotadas, leitos disputados “a


tapas”, tensão, pressões de todos os lados e profissionais
no limite da exaustão.

Para os pacientes “desinstitucionalizados”: abrigos, albergues


de curta permanência, instituições de caridade e centros
comunitários. Sem o necessário atendimento e lotados.
Como ficaram as unidades de atendimento?
As unidades de Saúde Mental estavam permanentemente superlotadas, sem
pessoal qualificado em número suficiente para atender a demanda e,
desprovidas dos recursos necessários. Deterioraram a ponto de serem
descritas como ineficazes, ineficientes e desorganizadas.

Por iniciativa própria, levados pela polícia ou assistentes sociais, os pacientes


passaram a ocupar os poucos leitos psiquiátricos restantes, operando com
taxas de ocupação acima de 120%.

Houve uma crise em cadeia que atingiu praticamente todas as unidades de


atendimento em Saúde Mental.

As equipes multiprofissionais sofreram com a erosão de sua moral e queda


dos padrões de serviço.

Reflexo da frustração tiveram sérias dificuldades em recrutar psiquiatras e


outros profissionais componentes das equipes.
Saúde Mental “classe econômica”:

Política oficial de Saúde Mental sem os recursos necessários.

Unidades de atendimento sobrecarregadas deixando de


oferecer assistência a inúmeros doentes, que tiveram de
recorrer a serviços particulares “alternativos”.

Na medida que as exigências absorviam os recursos, serviços


considerados “subsidiários” eram extintos.

A introdução da “reforma” foi hábil em esvaziar os protestos


contrários pois tinha como aliados “militantes
progressistas”.
Mesmo com a “perfeição” ...

Mesmo com serviços comunitários


operantes e atendimento em todos os
níveis de complexidade, usufruindo do
privilégio da “versão perfeita do tratamento
comunitário”, um terço dos pacientes
tiveram que ser reinternados.
Conclusões:
Os serviços de Saúde Mental na comunidade se tornam
inoperantes quando não podem contar com serviços
hospitalares efetivos, bem estruturados e de fácil acesso.

Para que os serviços de Saúde Mental funcionem


necessita-se de atendimento em todos os níveis de
complexidade; pois um dos principais motivos dos
serviços comunitários tornarem-se pouco produtivos
reside justamente no fato de que os serviços hospitalares
foram negligenciados.
Estávamos falando da
“Reforma Psiquiátrica”
no Brasil?
Falávamos da reforma do modelo
assistencial em Saúde Mental
na INGLATERRA e de seus
erros, muito parecidos com
os que estamos repetindo
aqui.
Comparativo do Modelo Assistencial em Saúde
Mental no Brasil e em outros países
Canadá Inglaterra USA Brasil
Gastos com 11% 10% 6% 2,3%
S. Mental

Atenção Muito bem Bem estruturada Bem estruturada À estruturar


Primária estruturada Sobrecarregada Sobrecarregada Insuficiente
Suficiente
Atenção Muito bem Muito bem Bem estruturada Mal estruturada
estruturada estruturada Sobrecarregada Sobrecarregada
Secundária
Suficiente Sobrecarregada

Atenção Muito bem Bem estruturada Bem estruturada Sucateada e


Terciária estruturada Insuficiente
Suficiente Insuficiente Insuficiente
0,23 leitos
1,92 leitos 0,58 leitos 0,95 leitos psiquiátricos por
psiquiátricos psiquiátricos por mil psiquiátricos por mil habitantes
por mil habitantes mil habitantes
habitantes
Qual caminho escolher?
Uma Saúde Mental Integral, com fontes adequadas
de financiamento e qualidade de servicos em
todos os niveis de complexidade. Tentando
caminhar cada vez mais para modelos melhores
como os do Canadá?

Ou escolheremos aqueles que “realmente aboliram


os servicos em Saúde Mental”, e os leitos
psiquiatricos, como o Camboja ou Afeganistao?
Fim.

Você também pode gostar