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TERAPIA AYURVEDA

AULA 2

Prof.ª Fabiana Rodrigues Mandryk


CONVERSA INICIAL

O Ayurveda é considerado um conhecimento eterno, que sobreviveu e


sobreviverá a todas as transformações que o mundo passar

Iniciamos a compreensão dos cinco grandes elementos e suas conexões


com os órgãos dos sentidos, características, funções e as maravilhosas
combinações com os doshas. A plataforma dinâmica de observação do corpo e
da mente dos seres humanos.

TEMA 1 – VATA: A SUPREMA AUTORIDADE

Na literatura clássica de Ayurveda, Vata dosha é considerado o “todo


poderoso”, pois ele tem responsabilidades especiais. É o dosha responsável por
monitorar e controlar a maioria das funções corporais. E ele é ainda altamente
eficaz e eficiente.
É muito “astuto”, pois pode desencadear a desestabilização de Pitta e
Kapha, o que o transforma no maior produtor de desequilíbrios e doenças.
Caraka afirma, “nenhum outro dosha, além de Vata é responsável pela causa de
todas as doenças que se manifestam no corpo” (Ca.Su. 1/38). Vata permeia
tudo, pois é diminuto e sutil.
Quando perturbado, desvia Pitta e Kapha de seus cursos normais, o que
acarreta inúmeros desequilíbrios, dos mais leves aos mais graves. Ele ocupa e
bloqueia canais e todos os tecidos do corpo. Além de controlar a mente, os
sentidos, coordenar diferentes atividades dentro do corpo, integra e alinha essas
funções, trazendo sincronia e o ritmo adequados para as funções do corpo.
Mesmo permeando o corpo todo, o local preferido de Vata é o intestino grosso.

1.1 Os cinco ventos de Vata

Os doshas contam com cinco auxiliares, no caso de Vata, temos os


seguintes:

• Prana vata
• Apana vata
• Vyana vata
• Samana vata
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• Udana vata

Cada um deles é responsável por uma função única e muito


especializada. Prana está localizado na cabeça, udana no peito, samana no
estômago, viana nos canais de circulação sanguínea e apana no baixo ventre.
Essa distribuição de Vata pelo corpo designa deveres e tarefas, mas que não se
limitam exclusivamente a essas localizações, pois precisamos da ação desses
Vatas reverberando pelo corpo todo, então podemos exemplificar prana vata que
se localiza na cabeça, todavia, permeia o tórax e a garganta. Os subdoshas de
vata devem trabalhar em sincronia com os subdoshas de Pitta e Kapha.

1.2 Prana Vata

As áreas de circulação de prana vata são: peito incluindo coração e


pulmões, garganta, traqueia e pescoço, ouvidos, língua e cavidade oral e nariz.
Ele é obrigado a controlar todas as funções cerebrais. Além disso, ele comanda
o intelecto, a mente, o coração, os órgãos dos sentidos e o cérebro.
Também auxilia o alimento a descer pelo tubo digestivo e no processo de
deglutição, pois organiza a salivação e isso permite que a identificação de
sabores ocorra. Promove os espirros, que são um reflexo importante na limpeza
e proteção da cavidade nasal.
Também executa as funções e movimentos da respiração suave, pois cria
o espaço adequado para a inspiração e para a expiração, isso faz com o ar vital
sature as células do corpo com nutrição.

1.3 Apana Vata

As áreas de circulação de apana são: baixo ventre e pelve, região anal e


intestino grosso e delgado. Quando falamos baixo ventre, é preciso entender que
essa área compreende todas as estruturas anatômicas e suas respectivas
cavidades. Então a abrangência desse vata engloba também estrutura
reprodutora masculina e feminina, bexiga e sistema urinário, umbigo.
É responsável pela excitação sexual e ejaculação, assim como pela
liberação de menstruação, parto, fertilidade, ovulação, evacuações e micções.
No intestino grosso, é responsável pela absorção de água e dos conteúdos úteis
dos alimentos digeridos, auxiliando na formação de fezes adequadas, controla

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as funções de bexiga. Traz as contrações na hora do parto e ele mantém o bebê
no útero até que seja a hora do nascimento.

1.4 Vyana Vata

Literalmente o corpo todo, ele perpassa todos os canais. As áreas de


circulação de vyana vata são:

• Rasavaha srotas: canais que transportam nutrientes


• Raktavaha srotas: canais que transportam sangue e oxigênio
• Swedavaha srotas: canais que eliminam o suor
• Atharvavaha srotas: sistema genital feminino
• Sukravaha srotas: canais que transportam sêmen
• Doshavaha srotas: canais que distribuem os doshas pelo corpo
• Malavaha srotas: canais responsáveis pelas eliminações e evacuações
do corpo
• Udakavaha srotas: canais que transportam água por várias parte do corpo
• Antaragni: onde estimula os órgãos de digestão de comida

Por majjavaha ele circula com extrema rapidez, possibilitando todas as


sinapses e sensações. Todo processo de circulação depende da contração e
expansão do coração e aí vyana vata se manifesta esplendorosamente.
Outra grande responsabilidade deste vata é a flexão e extensão dos
membros nas articulações, também auxilia na manutenção da condução
neuromuscular, o que nos permite executar nosso dia a dia com perfeição e sem
esforço e aqui Prana e Vyana trabalha juntos.

1.5 Samana Vata

As áreas de circulação de samana vata são: proximidades de Agni, o fogo


metabólico e também interage em swedavaha srotas, doshavaha srotas,
udakavaha srotas, malavaha srotas, sukravaha srotas, atarvavaha srotas,
pakwashaya, intestino grosso, khosta, espaço onde as vísceras se alojam, nabhi,
logo abaixo do umbigo.
Ele recebe qualquer tipo de alimento sem rejeitar absolutamente nada, ele
mantém esse alimento no estômago até que a digestão ocorra. E nesse processo
digestório ele separa o que é digerível do que é indigesto. Portanto, ele também

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é o que mantém e apoia a capacidade digestiva equalizada, conferindo nutrição
aos tecidos e ao corpo de maneira geral, transformando isso em imunidade.

1.6 Udana Vata

As áreas de circulação de udana vata são: peito, pulmões e coração,


nariz, umbigo, diafragma, garganta, traqueia e pescoço. Sua força é para cima.
É responsável pela produção de sons e pela fala, ele favorece os esforços, pois
confere força e energia, imunidade, boa compleição e boa memória.

TEMA 2 – OS SENHORES DO FOGO

Desde a descoberta do fogo, é impossível imaginar nossa vida sem ele.


Calor e eletricidade são nossas principais energias na vida moderna. Em nosso
corpo, esse “fogo” é o principal indicador de presença de vida, pois sentimos o
calor no corpo humano se manifestando de várias maneiras, no Ayurveda,
chamamos esse calor de Pitta.
Pitta é um dos três doshas que estudamos anteriormente e ele tem muitas
reponsabilidades, todos os processos metabólicos dependem da ação dele,
além dessa função, temos outras que podem ser consideradas o efeito colateral
de metabolização, como a tez, temperatura corporal, visão, processos de
pensamento que, quando metabolizados, se transformam em ideias, raiva,
energia etc.
Pitta também conta com cinco subdoshas auxiliares, são inter-
relacionados e interdependentes:

• Pachaka pitta
• Ranjaka pitta
• Bhrajaka pitta
• Alochaka pitta
• Sadhaka pitta

2.1 Pachaka pitta

Pachaka significa aquilo que digere. No contexto de subdosha, dizemos


que ele é o responsável pela digestão da comida. Ele se localiza no duodeno,
esse local é chamado de grahani em sânscrito.

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Ele digere a comida adequadamente tornando-a compatível para a correta
nutrição do corpo. Embora pitta seja composto por água, pachaka pitta é a forma
mais seca de pitta, pois ele precisar utilizar a água que recebe das alimentações.
Nesse processo de digestão, pachaka pitta é auxiliado por samana vata e
kledaka Kapha.
A hiperatividade de pachaka pitta aumenta o calor dos outros subdoshas
de pitta, gerando queimações e inflamações pelo corpo. “Todos os objetos vivos
e não vivos no universo são feitos de panchamahabhuta.” (Sutra Sthana).

2.2 Ranjaka pitta

Ranjaka significa aquilo que colore. Na formação dos sete tecidos, que
veremos com detalhe na sequência deste estudo, o segundo tecido que é
formado que é o sangue, recebe a coloração de ranjaka pitta.
Sushruta afirma que o local deste pitta é o fígado e também diretamente
relacionado às células sanguíneas, por isso, ele confere força e impulso para
que o sangue flua pelos vasos e artérias de forma ininterrupta.
Só é possível sentir a pulsação devido à potência desse subdosha, ele e
vyana vata trabalham juntos para manter esse estado harmonioso da circulação
sanguínea ao longo do corpo.

2.3 Bhrajaka pitta

Bhrajaka significa aquilo que torna as coisas brilhantes. Ele manifesta a


tez saudável, a pele brilhante. A pele é considerada a residência desse pitta, por
isso, é responsável por conferir cor, textura e tez a ela.
No Ayurveda, os medicamentos também são aplicados na pele em forma
de óleos medicados com ervas, pastas de ervas, frutas e outros alimentos, usa-
se também sudação e banhos etc.
Todavia, a ação desses medicamentos não se limita à pele, pois tudo é
absorvido pelos poros e é conduzido para o sangue e, por conseguinte, para
todos os órgãos do corpo e toda essa responsabilidade é de bhrajaka pitta, ele
processa as medicinas e também auxilia a condução delas até o sangue. Além
de tudo isso, regula a temperatura corporal, confere variação de cor na pele em
diferentes partes do corpo.

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2.4 Alochaka Pitta

Alochaka significa aquele que auxilia a ver, ou aquele que auxilia a pensar,
lochana, que é parte dessa palavra, é um sinônimo para olho, ou seja, ele auxilia
também na percepção e análise.
A visão é a sede de alochaka pitta, visão é a palavra que designa nossa
capacidade de ver objetos ao nosso redor e percebê-las no sentido correto, essa
percepção acontece no olho. Ele reside na parte estrutural e anatômica do olho
assim como na parte funcional.
A acuidade visual depende de quatro componentes: os objetos que
vemos, a estrutura fisiológica e anatômica do olho, a mente que é capaz de
discriminar os objetos prejudiciais e benéficos de serem visualizados e o intelecto
que julga a percepção, e aceita ou rejeita o que foi percebido. Quando a mente
e a alma se associam aos olhos e aos objetos de visão, os objetos podem ser
percebidos e transportados para o intelecto.

2.5 Sadhaka Pitta

Um dos significados de sadhaka é a força, o poder do rito. Esse subdosha


é responsável pela motivação e finalização de tarefas, auxilia na tomada de
decisão e em chegar a conclusões, ele é habilidoso, eficiente, perfeito, pois ele
que nos impele a ser mais produtivos e comprometidos.
Ele está localizado no cérebro, todavia, no centro do cérebro, que, em
sânscrito, chamamos de shirogat hrudaya, traduzido, indica a cavidade na
cabeça que abriga o coração.

TEMA 3 – KAPHA: A DIVINA ÁGUA

A maior parte do planeta e do nosso corpo é composta por água. Ela está
presente em cada célula do corpo, nutrindo e protegendo cada uma delas. Em
nosso corpo, esse elemento recebe a associação direta da Lua e da energia fria
derivada da Lua no mundo externo e isso está diretamente ligado a Kapha dosha
e seus cinco auxiliares:

• Avalambaka Kapha
• Kledaka Kapha
• Bodhaka Kapha

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• Tarpaka Kapha
• Shleshaka Kapha

3.1 Avalambaka Kapha

Avalambaka significa suporte e dependência, no corpo, ele é aquilo que o


coração, os pulmões e os outros subdoshas de Kapha dependem. Está
localizado na parte superior do peito na altura das escápulas.
Ele suporta toda a região superior do peito, a região entre crânio e ombros,
conferindo vitalidade aos pulmões e à pleura. Garante a oxigenação do sangue.
O pericárdio e o coração também são beneficiados por esse subdosha, pois ele
nutre e favorece o movimento de expansão e contração do coração e do
pericárdio.

3.2 Kledaka Kapha

Kledaka significa úmido, ou aquele que causa umidade. Está localizado


no estômago, ele recebe e umedece o alimento preparando para a formação do
bolo, ele inicia seu processo de formação na mastigação. Além de trazer a
umidade e a untuosidade, é também responsável por quebrar as complexas
moléculas do alimento.

3.3 Bodhaka Kapha

Bodhaka significa saber, ou aquilo que ajuda a conhecer. Nesse contexto,


ele que nos auxilia na distinção dos sabores do que ingerimos. Logo que a
substância toca nossa língua, imediatamente, temos a liberação de bodhaka
Kapha, ele nos permite saborear um alimento. Está localizado na língua e na
garganta.

3.4 Tarpaka Kapha

Tarpaka significa nutrição ou refrigério, aquilo que sacia ou renova. Está


localizado na cabeça e nutre os órgãos dos sentidos, isso oferece a suavidade
da execução das funções dos órgãos dos sentidos, pois tarpaka nutre os canais
que carregam as informações sensórias do cérebro para o corpo e vice-versa.
Ele nutre e refresca os olhos, rejuvenesce os demais órgãos sensoriais e isso

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mantém a integridade da funcionalidade dos órgãos em sua estrutura física e
sutil.
Ele também está envolvido nos processos de decisão, estimula as
oscilações emocionais, quando em desequilíbrio, ele não consegue suportar o
estresse relacionado a essa situação o que pode resultar num colapso.
Prana vata, sadhaka pitta e tarpaka Kapha tem o funcionamento
integrado, pois o sítio principal deles é a cabeça, logo, eles, em harmonia, têm a
responsabilidade de manter o funcionamento do sistema nervoso e dos sentidos
no ritmo adequado.
A hiperatividade de prana traz secura, logo, degeneração cerebral,
sadhaka aumenta o calor do cérebro e tarpaka é o contraponto que nutre e
refrigera. Emoções descontroladas e exacerbadas, como ansiedade, raiva,
estresses em geral ofertam impactos nocivos a esse centro de controle.
Capacidades de perdão, tolerância, resistência, coragem e não avidez são
características atribuídas a esse subdosha.

3.5 Shleshaka Kapha

Shleshaka significa conectar ou anexar, ou, ainda, aquilo que liga ou


mantém duas ou mais estruturas juntas. Sua principal localização fica nas
articulações ósseas e ele mantém as extremidades ósseas encapsuladas dentro
da articulação, promovendo lubrificação e facilidade de movimentação.
A principal função dele é garantir a lubrificação e a integridade das
articulações. Essa unção ocorre de maneira frequente e isso evita o desgaste
das extremidades ósseas e dos ossos. Também está presente na membrana
sinovial que recobre todo o esqueleto e em todos os líquidos intersticiais do
corpo. Ele é o principal fator de coesão, pois tem a habilidade de manter unida
toda a estrutura corporal, garantido estabilidade, durabilidade e integridade do
corpo.

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TEMA 4 – OS DOSHAS PELO CORPO

Créditos: Zanna Art/Shutterstock

Os três doshas devem trabalhar de forma coordenada, um não deve


atrapalhar o outro, mas, sim, apoiar uma ao outro. Apesar de o corpo ser
permeado por todos os doshas, cada um deles tem seu local preferido para
permanecer. E esse local para Kapha é a parte superior do corpo, acima do
diafragma, especialmente o peito, e os órgãos da cavidade torácica.
A presença desse dosha favorece a sustentação, amortecimento e
umedecimento dessa região. Ao longo do corpo, percebemos Kapha no tórax,
garganta, cabeça, pulmões, articulações, estômago, líquidos intersticiais, tecido
adiposo, língua e nariz.
Pitta têm seu local favorito do diafragma até a altura das cristas ilíacas,
esta área é ocupada basicamente por órgãos da digestão. Esse dosha é
responsável pelas digestões, compleição e visão. Encontramos Pitta ao longo do
corpo todo e destacamos sua presença na região logo abaixo do umbigo,
estômago, glândulas de suor, sangue, plasma sanguíneo, olhos, pele etc.
Por fim, podemos nos ater ao dosha Vata e sua região favorita é o
intestino grosso, todavia, também se localiza na estrutura feminina e na
masculina além da bexiga. Ainda há a presença de vata de forma marcante, nas
ancas, membros inferiores, ouvidos e ossos.
Os doshas devem estar em equilíbrio e avaliar a saúde das regiões
favoritas de cada uma já nos conduz à percepção de algo errado com eles. Vata
dosha é a chave de reequilíbrio dos outros doshas e da manutenção da harmonia
de todas as funcionalidades do corpo. Vata desequilibrado aumenta Pitta e seca
Kapha e, nessa desarmonia, muitas doenças se instalam.
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TEMA 5 – OS TIPOS PUROS

Créditos: Zanna Art/Shutterstock.

Os doshas formam nossa estrutura corporal no exato momento da nossa


concepção, essa é nossa Prakrti, nossa identidade e composição corporal. Ao
longo de nosso desenvolvimento, as alterações em nossa matriz de formação
recebem o nome de Vikrti, que literalmente significa a forma patológica de Vata.
A Prakrti influencia no corpo e na mente, sendo que no corpo receberemos
as características associadas aos doshas e seus elementos, e, na mente, a
influência também será dos elementos, todavia, por meio de suas energias sutis
– satwa, rajas e tamas.

5.1 Pessoa Vata

São pessoas que trazem as características do elemento Espaço Vazio e


vento bem estabelecidas e evidentes. São magras, ossudas as artérias e veias,
especialmente nas mãos e braços são evidentes, têm pouco músculo, são leves,
tem a tez acinzentada.
Pele seca e áspera, não são bonitos. Facilmente apresentam rachaduras
e fissuras na pele. As protuberâncias ósseas são observadas com facilidade nas
extremidades do corpo, e os que não são protuberantes o parecem ser pela falta
de músculos e gordura.
Cabelo, barba, bigode, unhas, dentes, mãos e pernas parecem secos e
ásperos, crepitantes, sem brilho ou vigor. Os olhos são miúdos, secos e ásperos,
sem vitalidade, permanecem abertos mesmo durante o sono, apresentam

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sensibilidade e hipermobilidade tanto nos olhos quanto nos lábios, língua,
cabeça, ombros, pés e mãos.
Falam muito, mas não dizem nada, são malandros, se movem e
caminham rapidamente, a voz é seca, trêmula, baixa. São imprevisíveis,
confusos e inconsistentes. Começam as tarefas com entusiasmo, todavia se
distraem com a mesma intensidade, normalmente deixam as tarefas iniciadas
inacabadas e quando finalizam a fazem de forma desleixada.
Eles não toleram o frio e também alimentos frios, não gostam de confortos.
Quando expostas ao frio, são acometidas por rigidez corporal, tremores e
calafrios. Não tem constância de fome ou de necessidade de se alimentar ou se
hidratar.
Às vezes, digerem bem, outras vezes não, é comum sofrerem com
constipação. Preferem os sabores doces, azedos e salgados, sempre em
alimentos quentes. As pessoas tipo Vata não controlam seus sentidos e,
portanto, são escravizadas por eles.
Não têm fé e, por vezes, não são confiáveis, são prejudiciais, ingratos.
Mente e intelectos instáveis, são vítimas do medo e da ansiedade, oscilações
emocionais, rompantes emocionais, distúrbios mentais. Amam cantar, amam a
música, a dança e a diversão, o luxo, a caça e as encrencas. São rápidos de
raciocínio e entendem muito rápido, todavia, a memória é parca. Não são
corajosos. São instáveis em todos os quadrantes da vida, profissional, pessoal,
saúde e relacionamentos. Têm tendência a roubar coisas, roem unhas.

5.2 Pessoa Pitta

As pessoas com compleição Pitta apresentam muitas características dos


elementos fogo e água. Na mente, percebemos intensidade, inteligência, fluidez,
leveza, paixão, agressividade, tem brilhantismo, memórias excelentes, muito
responsáveis nas decisões, gostam de organização e, em geral, são muito
críticos. O corpo é atlético e ganham a definição da musculatura com muita
facilidade.
A tez é avermelhada ou dourada, quente ao toque, não são muito
atraentes, o corpo tem a aparência seca e delicada, com peso e estatura
mediana e moderado. Olhos, unhas, língua, lábios, palma da mão e sola do pé
são acobreadas.

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As articulações apresentam frouxidão, cabelos e pelos terão a base
avermelhada quando expostas ao sol, têm poucos pelos no corpo. Seus olhos
são instáveis, amarelos, marrom avermelhado, cílios pequenos e finos, possuem
sardas, acne e rugas prematuras.
Têm muito apetite e digestão rápida, sentem dor no estômago quando têm
fome, comem muita comida e sede intensa, não toleram o calor e não devem
trabalhar expostas ao sol, sentem exaustão em climas quentes e dias quentes.
Não são muito tolerantes às adversidades, são sensíveis, ternos.
Apresentam ulcerações na boca, suam muito e apresentam odores
corporais intensos. Fezes, suor e urina têm alta produção e eliminação.
Produzem menos sêmen e apresentam pouco interesse sexual, o que lhes
confere baixo desempenho e capacidade sexual.
Têm preferência por sabores doces, amargos e adstringentes, alimentos
frios, bebidas, confortos. Gostam de ficar em locais frios, andar à beira de lagos.
Ficam com raiva com facilidade e seus olhos se avermelham nessa situação,
após exposição ao sol ou ingestão de álcool.
São pessoas extremamente reativas e corajosas, são argumentativos, e
têm forte desejo de derrotar outros em debates argumentativos, pois gostam de
exibir seus talentos e determinar sua supremacia. São muito expressivos, e
amam contar histórias, são destemidos em combates e guerras, enfrentam seus
inimigos e os derrotam, portanto, são bons soldados e líderes.
São extremamente inteligentes, têm presença situacional e excelente uso
do intelecto e da mente. Tornam-se atraentes devido ao seu brilhantismo,
conhecimento e natureza franca, são altamente qualificados, ricos e
aventureiros.
Nunca se assustam, não sucumbem a pressões, não entram em pânico
nas dificuldades. Pessoas que se comportam mal com eles receberam o troco
na mesma moeda, pois são vingativos. Todavia, a bondade que recebem
também é retribuída com bondade. São amigáveis e extremamente prestativos
com seu círculo social, são corteses, elegantes, pacientes e carinhosos. Adoram
ser mimadas com presentes, perfumes, banhos frios, massagens, unções com
pasta de sândalo, joias e roupas novas.

5.3 Pessoa Kapha

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As pessoas com essa compleição têm o corpo forte e bem constituído,
têm aparência de maciez, são atraentes, agradáveis e são, em geral, pessoas
grandes na altura e na largura, braços longos, ombros largos, testa larga. É
considerado o tipo de corpo perfeito, pois, inclusive, tem simetria.
Cada parte do corpo é forte e bem formada, anatomicamente perfeita,
uniforme, pesada e proporcional. As articulações são robustas, estáveis. A
textura do corpo é untuosa e lisa, são de aparência clara, a pele é comparada
às pétalas do lótus azul.
O peso do corpo é naturalmente maior em comparação ao peso corporal
dos doshas anteriores. Cabelos são fortes, estáveis, com raízes profundas,
encaracolados, muito pretos. Os olhos são especialmente atraentes.
Com voz melodiosa e potente, Vagbhata afirma que “sua voz se
assemelha a um trovão num dia nublado, ao estrondo da onda do mar quebrando
na areia, rugido de um leão ou ainda às batidas de um tambor”, são pessoas que
se expressam muito bem, têm clareza no discurso, pois elaboram bem as frases.
Elas nunca falam mal de outras pessoas, não fomentam fofoca, não se envolvem
em discussões, sempre sabem o que falam de acordo com a situação em que
se encontram.
Andam e se movem de forma mais lenta e estável, lembram muito um
elefante, têm passos regulares e bem medidos. Sentem menos fome e menos
sede, não se incomodam com o calor ou o suor.
Eles não são vítimas de doenças mentais ou instabilidade emocional, pois
têm um controle exemplar de sua mente, sentidos e de suas emoções. São
pessoas serenas, não sentem medo, raiva, tristeza.
Não iniciam nada com pressa, são organizados, pensam muito e planejam
muito bem antes de iniciar qualquer trabalho, assim que iniciam qualquer
trabalho, eles o finalizarão com perfeição.
Não desistem, não se perturbam, todavia, sempre são mais lentos e
constantes. Corajosos, tolerantes, dedicados, virtuosos e justos. Raramente se
afligem ou choram. Preferem os alimentos doces, salgados e azedos. Têm muito
sêmen e competência sexual.

NA PRÁTICA

O conhecimento profundo da manifestação dos doshas possibilita a


avaliação concisa e coerente dos desequilíbrios que acometem o corpo, a mente
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e o espírito das pessoas. A avaliação e o entendimento dessas variáveis
possibilitam a sugestão pontual de ajuste, conduzindo o ser ao prumo.
Numa avaliação, buscamos entender o desequilíbrio, embora os três
doshas possam estar agravados, ao estabilizarmos Vata, Pitta e Kapha também
se organizam.

FINALIZANDO

A observação e o entendimento dos fluxos e das características dos


doshas no corpo são como nosso astrolábio. As considerações indicadas nesta
aula trazem as informações quase caricatas dos doshas em sua pureza e em
sua manifestação pura no corpo, na mente e no intelecto dos indivíduos.
Citamos o astrolábio, pois por meio do uso deste, na navegação antiga,
era possível determinar a posição dos astros, o que indicaria a direção correta a
se navegar. A ferramenta chamada dosha é quase um astrolábio que, por
enquanto, nos auxilia a navegar pela observação dos cinco grandes elementos
nos seres.

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REFERÊNCIAS

JOHARI, H. Dhanwantari: a complete guide to the Ayurvedic life. Rochester,


Healing Art Press, 1998.

NINIVAGGI, F. J. Saúde integral com medicina Ayurvédica. 1. ed. São Paulo:


Pensamento-Cultrix, 2015.

SHARMA, R. K. Caraka samhita, varanasi, chowkhamba krsnadas academy.


2016.

SRI SANKARACARYA, T. 2. ed. Rio de Janeiro: Vidya Mandir, 2014.

VAGBHATA, A. H. Tradução de K. R. Murthy. Srikantha, Varanasi,


Chaukhambha Orientalia, 2010.

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